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Leonardo José Ostronoff
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Arte da Capa: Paula Zettel
Revisão Editorial: Thais Valentim
Revisão de Texto: Glória Barão
DOI: 10.31012/978-65-5861-587-3
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecária: Maria Isabel Schiavon Kinasz, CRB9 / 626
[1ª edição – Ano 2021]
www.aeditora.com.br
 Ostronoff , Leonardo José
O85n Não existe almoço grá� s / Leonardo José Ostronoff – 1.ed. - 
 Curi� ba: Brazil Publishing, 2021. 
 268p.: il.; 21cm 
 ISBN 978-65-5861-599-6
 1. Segurança pública. 2. Vigilância. 3. Monitoramento. I. Título.
 CDD 364.4 (22.ed) 
 CDU 351.78
Para Olga Rosa, minha mãe.
não seja considerado como um balinês 
(para isso é preciso ter nascido balinês), 
você é pelo menos visto como ser 
humano em vez de uma nuvem ou um 
sopro de vento. Todo aspecto de sua 
relação muda drasticamente, na maioria 
dos casos, para uma relação gentil, quase 
afetuosa – uma cordialidade branda, 
muito brincalhona, afetada e confusa” 
(Clifford Geertz).
Prefácio
Marcos César Alvarez
As tecnologias de vigilância e de monitoramento 
de comportamentos são praticamente onipresentes na 
vida contemporânea. Câmeras em espaços privados e 
públicos, sistemas de localização e de rastreamento de 
pessoas e de objetos, algoritmos que identificam padrões 
de gostos e de compras no mundo virtual, pulseiras ele-
trônicas que indicam sinais vitais para garantir a saúde 
e o bom desempenho esportivo ou ainda tornozeleiras 
eletrônicas que expandem os controles penais para além 
dos muros das instituições de confinamento. Enfim, é difí-
cil imaginar as condições de vida na atualidade sem essa 
profusão de sistemas técnicos que provocam entusiasmo, 
mas também apreensão.
As elaborações artísticas há muito desenham so-
ciedades distópicas, nas quais os mecanismos de vigilân-
cia e de controle submetem inexoravelmente os cidadãos. 
Ao mesmo tempo, a experiência histórica dos regimes 
autoritários e totalitários dos séculos XX e XXI confirmam 
que os piores pesadelos por vezes se concretizam e a 
sobreposição de ficção e de realidade tanto pode ter 
como efeito a multiplicação de teorias conspiratórias, que 
paradoxalmente se apoiam nos recursos tecnológicos 
para se propagarem, como estimular um efetivo debate 
público sobre as dinâmicas sociotécnicas em curso na 
contemporaneidade.
Se o papel da ficção — quer seja na literatura, quer 
nas artes plásticas ou no cinema — consiste, por vezes, 
em construir cenários limites que, ao sensibilizarem os 
contemporâneos, mobilizam corações e mentes contra 
as piores tendências de dominação já inscritas nas ex-
periências cotidianas, no campo das Ciências Sociais, a 
pesquisa segue caminho paralelo, mas independente, ao 
buscar descrever como os mecanismos de vigilância e 
de controle funcionam efetivamente na vida social e seus 
efeitos políticos, econômicos, culturais etc. 
Michel Foucault (1987)1 é um dos autores mais lem-
brados quando se aborda tal temática, a partir de suas 
análises sobre o papel das práticas de vigilância em insti-
tuições como hospitais e prisões e seus efeitos em termos 
de relações específicas de poder que ele nomeará, em 
determinado momento, de “disciplinares”. Sem técnicas 
que permitissem o “ver sem ser visto” e a multiplicação de 
registros diversos, obtidos por meio da observação, a cura 
de doentes em hospitais, o trabalho coletivo nas fábricas, 
a organização da educação nas escolas, o combate às 
epidemias que assolam as populações, o planejamento 
da circulação das massas nas cidades, a manutenção da 
ordem no sistema prisional, entre outros aspectos, não 
seriam viáveis. Em grande medida, Foucault demonstra 
como as técnicas de vigilância e controle são imanentes 
1 FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.
à experiência moderna da ordem social, em dimensões 
como a saúde, a educação, o urbano, a penalidade etc. 
Em sociedades disciplinares, passaríamos, ao longo da 
vida, por muitos espaços sociais permeados por práticas 
de vigilância, de registro e de monitoramento, do hospital 
à escola, do exército ao presídio, da fábrica aos espa-
ços urbanos permanentemente esquadrinhados. Gilles 
Deleuze (1992)2, por sua vez, ao observar as mudanças 
tecnológicas da segunda metade do século XX, indaga 
se já estaríamos para além das sociedades disciplinares, 
descritas por Foucault, ao empregarmos massivamente 
as novas tecnologias comunicacionais e interagirmos nos 
mundos virtuais, com suas novas formas de controle e 
monitoramento, como senhas, softwares e algoritmos que 
expandiriam a vigilância em novas fronteiras.
Tal debate só se intensifica nas Ciências Sociais 
contemporâneas. Frank Pasquale (2015)3, entre outros, 
emprega a metáfora da “black box society” para diag-
nosticar transformações políticas e sociais contemporâ-
neas que levariam à expansão da lógica do segredo em 
dimensões chave davida social — comunicação, ciência, 
finanças etc. — com o aprofundamento das assimetrias 
de conhecimento e de poder correspondentes. As formas 
de poder se atualizariam agora na autoridade expressa 
pelos algoritmos, com códigos e regras mais difíceis de 
serem decifrados pelo cidadão comum. Em reflexão pa-
ralela, a atual onipresença das tecnologias da informação 
2 DELEUZE, G. Conversações: 1972-1990. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
3 PASQUALE, F. The Black Box Society. The Secret Algorithms that Control 
Money and Information. Londres: Harvard University Press, 2015.
leva Shoshana Zuboff (2021)4 a caracterizar um verdadeiro 
“capitalismo de vigilância”, no qual os mecanismos de 
extração e de processamento das informações sobre 
os comportamentos sociais passaria a constituir uma 
dimensão fundamental da acumulação capitalista.
Independentemente das polêmicas inevitáveis em 
qualquer campo de estudo, essas diferentes análises — 
ao contrário dos posicionamentos mais vulgares, que ora 
observam as novas tecnologias apenas em suas dimen-
sões emancipatórias, ora observam apenas seus efeitos 
mais deletérios — indicam que os dispositivos sociotécni-
cos apresentam dupla face, ao aumentar as capacidades 
humanas em termos de intervenção no mundo social e 
natural, mas igualmente ao propiciar novas assimetrias e 
novas formas de poder entre os homens e também com 
relação à natureza. A crítica às tecnologias, então, não 
tem nada de banal, mas consiste sempre, em seu primeiro 
passo, em reinserir as tecnologias, dispositivos e aparatos, 
supostamente neutros e técnicos, no plano das intera-
ções, instituições e processos sociais e históricos.
A investigação realizada por Leonardo Ostronoff, 
aqui apresentada na forma de livro, cumpre exatamente 
esse papel de estimular o debate público, tendo em vista 
mecanismos e práticas de vigilância e de controle que, 
de tão presentes na vida cotidiana, acabam naturalizados 
ou passam completamente despercebidos. Realizada 
nas cidades de São Paulo e no Rio de Janeiro, a pesquisa 
inicialmente se volta para os aspectos de vigilância e de 
4 ZUBOFF, S. A era do capitalismo de vigilância. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021.
controle presentes em supermercados. Contudo, as prá-
ticas de vigilância, em princípio circunscritas ao controle 
da clientela desses estabelecimentos e sobretudo dos 
trabalhadores envolvidos nesse tipo de atividade eco-
nômica, logo revelam-se parte de um sistema muito mais 
amplo, que envolve da logística à segurança. O campo 
de investigação se desloca para a significativa atuação 
da segurança privada no setor, em atividades como de 
escolta armada, assim como para as potenciais formas 
de ilegalismos associadas, como o roubo de cargas, com 
seus operadores especializados e as respectivas ativida-
des de receptação. É enfim toda a dinâmica do dispo-
sitivo da “prevenção de perdas” que vai se desvelando, 
aqui apresentada em toda sua complexidade econômica, 
social e mesmo política, como será explorado no caso da 
intervenção federal no Rio de Janeiro, em 2018.
Desse modo, ao longo do livro, é mais uma “black 
box” que é decifrada em suas complexidades e nuan-
ces, tanto em termos de tecnologias de vigilância e de 
controle, quanto de condições de trabalho no setor su-
permercadista, de atuação das empresas de segurança 
privada e seguradoras, de redes de roubo de cargas e de 
receptadores, dos lobbies na área da segurança pública 
e mesmo das disputas políticas mais amplas. Fica, assim, 
o leitor convidado a percorrer essas múltiplas dimensões 
de um dispositivo que vai muito além das mercadorias 
atrativamente apresentadas nas gôndolas e do corre-
-corre diário de atendentes, de caixas e de repositores 
nos corredores dos supermercados.
Abstract
At its inception, the aim of the 
study was Closed Circuit Televi-
sion (CCTV) systems in Brazilian 
supermarkets. However, that 
was just the tip of the iceberg. 
During the field work period, the 
researcher discovered the Loss 
Prevention System — a device 
developed for supermarket 
companies by former military 
and former police officers — 
whose aim is to control the flow 
of people and goods in their 
distribution chain as a whole, in 
order to reduce the risk of loss. 
Cargo theft was identified as 
the main threat. Therefore, the 
analysis of the dynamics of this 
criminal activity was fundamen-
tal for the research. Considered 
a property crime, cargo theft is 
a high-incidence crime. Howe-
ver, from 2015 to 2017, there 
was a huge increase in cases 
in cities such as Rio de Janeiro 
and São Paulo. Public and private 
initiatives were taken to fight 
it, underscored by a Federal 
Intervention in Public Security 
in Rio de Janeiro. The study of 
such actions made it possible 
for the researcher to describe 
some of the gray areas between 
public and private sectors in the 
Brazilian safety system. In all, 
35 interviews were conducted 
with supermarket employees, 
executives of logistics and loss 
prevention of those companies, 
union members, military and 
civil police officers, officers and 
non-commissioned officers 
in the armed forces, armed 
escort and risk management 
companies employees and even 
three individuals arrested by 
the police for cargo theft. More 
than quantity, what stands out 
the most is the variety of this 
sample of interviews.
Sumário
Introdução 19
Capítulo 1
Observação direta das lojas 31
1.1 Loja A . . . . . . . . . . . . . . 31
1.2 Loja B . . . . . . . . . . . . . . 35
1.3 Loja C . . . . . . . . . . . . . 37
Capítulo 2
A Prevenção de Perdas 47
2.1 Vigilância, videovigilância e um caso de racismo . . . . 47
2.2 Um deslocamento na pesquisa . . . . . . . . 53
2.3 Vigilância do ramo supermercadista fora dos supermercados: 
os Centros de Distribuição . . . . . . . . . 58
Capítulo 3
O modus operandi do roubo de cargas em São Paulo 109
3.1 Dados quantitativos . . . . . . . . . 109
3.2 Análise qualitativa . . . . . . . . . . . 131
Capítulo 4
O mercado ilegal do roubo de cargas 149
Capítulo 5
Ações em São Paulo e a Intervenção Militar na Segurança Pública 
no Rio de Janeiro 201
Capítulo 6
O Trabalho de Campo quanto ao Roubo de Cargas 231
6.1 A Pauliceia Policial . . . . . . . . . . .231
6.2 Trinta dias e trinta noites em Copacabana . . . . 234
Conclusão 247
Referências 257
Posfácio 263
Índice remissivo 265
Sobre o autor 267
Introdução
Uma pesquisa nunca é apenas realizada durante 
seu período de vigência, mas resulta de inúmeras expe-
riências que tivemos até chegar ao seu planejamento e 
execução. Começar estudando supermercados e terminar 
analisando a Intervenção Militar na SegurançaPública do 
Rio de Janeiro é um caminho que pode parecer incoerente. 
Entretanto, fazer pesquisa em Ciências Sociais exige essa 
capacidade de enxergar conexões e estabelecer relações 
por meio de tessituras que a Teoria Social permite.5 De 
antemão, esse livro não pretende agradar às ortodoxias, 
contudo respeita o pensamento clássico e reivindica sua 
importância. Minha formação de sociólogo começa exata-
mente nesse ponto: no estudo de Marx, Weber e Durkheim, 
os chamados clássicos da Sociologia (ALEXANDER, 1999).
Era ano de 2000, estava no segundo ano da gra-
duação de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, 
filho de uma professora primária do estado, que era chefe 
de família e sustentava três filhos. Vindo de uma cidade 
do interior de São Paulo com 60 mil habitantes, viver em 
uma metrópole era um desafio e um exercício de sobre-
vivência. Já estava quase desistindo do curso, quando, 
na disciplina de Métodos II, ministrada pela profa. Heloísa 
Martins, tive meu primeiro contato com Florestan Fernan-
5 Este livro é um dos resultados de um projeto de pesquisa de pós-doutorado 
(processo Fapesp 2016/18464-1), desenvolvido de março de 2017 a março de 
2020, na Universidade de São Paulo.
20 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
des. Até então, o mundo sociológico era para mim “coisa 
de rico”, aparentemente a elitização das Ciências Sociais 
era intransponível. Então, foi no movimento estudantil que 
encontrei guarida, mais precisamente naquele setor da 
esquerda revolucionária, afinal, eu era uma expressão viva 
da luta de classes.
A história de Florestan destaca sua origem humilde 
e o fato de ele ter trabalhado como engraxate, garçom 
e ser filho de empregada; é parte do mito do maior so-
ciólogo brasileiro ele ter vencido as barreiras sociais tão 
presentes até hoje nas Ciências Sociais. Um paradoxo, 
mas real. Não preciso dizer que isso caiu como uma luva 
em minha mente e lembro que ganhei o livro de sua bio-
grafia de uma namorada que cursava graduação comigo 
e, felizmente, tinha boas condições de vida. Carregava o 
livro comigo, aonde quer que eu fosse e tivesse tempo, 
abria e continuava a ler. Certa noite, estava no ponto de 
ônibus das Ciências Sociais e nem percebi que o ônibus 
demorou uma hora para passar. 
Nas aulas, participava ativamente, o que me fez ga-
nhar a simpatia da professora e um convite posterior para 
fazer iniciação científica, claro, enviando um projeto que 
deveria ser avaliado pela Fapesp. Era uma ótima chance, 
na qual me agarrei e acabei por enviar o projeto. Contudo, 
no período de sua avaliação, meu pai faleceu (já estávamos 
em 2001). Não tranquei o curso, pois isso não permitiria a 
implementação da bolsa se ela fosse concedida, período 
de extrema superação. Meses depois a aprovação chegou, 
na época, enviavam por carta o resultado. Fiz um ano de 
iniciação estudando a construção da solidariedade nas 
21NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
cooperativas de produção, a qual conclui fazendo uma 
crítica ao cooperativismo. Certamente, para um jovem 
leninista revolucionário, a reforma da economia sem rup-
tura com o modo de produção capitalista não era viável. 
O tempo muda as pessoas.
Depois de formado na graduação, passei um ano 
trabalhando em um projeto de cooperação internacional 
do Dieese,6 o qual consistia na análise das relações de 
trabalho no Carrefour, uma comparação entre França, 
Brasil e Argentina, com base em uma metodologia qua-
litativa chamada de abordagem ergológica do trabalho. 
O projeto tinha como instituições envolvidas: o Dieese, a 
Universidade de Provence (França), o Centro de Estudos 
Sindicais e do Trabalho (Cesit/Unicamp) e os sindicatos 
de comerciários de São Paulo, Osasco e Buenos Aires. 
Nessa pesquisa, fiquei responsável por fazer o trabalho de 
campo nas lojas do Carrefour em São Paulo, onde comecei 
a ter contato com o setor supermercadista. Justamente 
dessa pesquisa que, anos mais tarde, veio a ideia de ana-
lisar supermercados no pós-doutorado.
No mestrado, investiguei as relações de gênero no 
sindicalismo brasileiro, cuja importância para o projeto 
de pós-doutorado foi meu contato com Foucault. Nesse 
momento, comecei meus estudos da obra desse autor, 
nos quais permaneço até hoje. Entre o mestrado e o 
doutorado, tive uma experiência na gestão pública, tra-
balhando na gestão municipal em Fortaleza durante dois 
anos e meio. Primeiro na Secretaria de Desenvolvimento 
6 Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.
22 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
Econômico e, depois, sendo assessor no Gabinete da 
Prefeita. Tal experiência somada à participação na coor-
denação de campanhas eleitorais e no mundo interno do 
Partido dos Trabalhadores me permitiu conhecer como o 
Estado e as políticas de nosso país funcionam, não como 
pesquisador, mas enquanto parte agente do processo. Tal 
experiência foi fundamental na discussão que traz esse 
livro, pois ela me permitiu “afinar” meu olhar de pesquisa-
dor para certos processos. 
No doutorado, estudei o sindicalismo bancário, 
sempre com Foucault. Fiz o doutorado sanduíche na 
Universidade de Coimbra, aprofundando minha com-
preensão desse autor. Durante o doutorado, também 
participei ativamente do seminário sobre Michel Foucault 
organizado pelo prof. dr. Marcos César Alvarez, que, anos 
mais tarde, convidou-me para elaborar o projeto de 
pós-doutoramento para Fapesp, cujos resultados de três 
anos de pesquisa formam o presente livro. 
No projeto, o tema desta pesquisa era a hipótese 
da formação de uma cultura de controle na sociedade 
contemporânea (DELEUZE, 1992) e seus desdobramentos 
no cotidiano de trabalho. A proposta era realizar uma 
pesquisa sobre os sistemas de controle e vigilância em 
relação ao setor de varejo, mais especificamente nos 
hipermercados. A questão que se buscava responder 
era como se organiza a vigilância nos espaços de traba-
lho, tendo como locais de observação às lojas dos três 
maiores grupos supermercadistas presentes no Brasil 
na cidade de São Paulo. Os critérios para escolha foram 
faturamento, número de lojas e trabalhadores.
23NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
Na década passada, essas três grandes empresas 
do setor varejista aumentaram seus investimentos em 
tecnologias de segurança e videovigilância. Um mercado 
lucrativo em torno dos sistemas de segurança se desen-
volveu, surgindo empresas especializadas que trouxeram 
inovações tecnológicas para o varejo. Algumas empresas 
importantes do ramo da vigilância tecnológica são a Arius 
e a Tyco Integrated Fire & Security, ambas funcionando 
no Brasil.
Por meio da observação direta dos sistemas de vi-
gilância, era pretendido investigar os sistemas de punição 
criados no interior das lojas. Assim, tanto o “vigiar” quanto 
o “punir” estavam contemplados. Também se pretendia 
realizar entrevistas semiestruturadas com clientes, traba-
lhadores das lojas e executivos dos níveis de gerência e 
logística. Os manuais de gestão e procedimentos de tra-
balho das três grandes empresas selecionadas também 
foram destacados como fontes de pesquisa. A utilização 
de dados quantitativos tinha o objetivo de realizar uma 
morfologia dos trabalhadores, clientes e setor, funcionan-
do de modo mais descritivo. 
O projeto inseriu-se no campo dos estudos sobre 
controle do trabalho, pois diz respeito à gestão de pesso-
as. Contudo, destaca-se a diferença dele em relação aos 
estudos já realizados: ele não se restringia às maneiras 
de aumentar a produtividade, mas versava sobre como 
o controle é exercido no espaço da loja sobre as pessoas 
em todas as suas expressões. Tratava-se então, mais pre-
cisamente, de investigar os sistemas de videovigilância, o 
24 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
que incluía os trabalhadores, mas também os clientes, os 
vigias e todos os sujeitos presentes no espaço das lojas.
É importante recapitular os dois primeiros anos 
de pesquisa, afinal, são três anos de um trabalho que 
estão imbricados uns aos outros. As atividades com-
preenderam a pesquisa e a participaçãoem congressos, 
seminários e palestras. O início foi em 2017, com uma 
revisão teórica do projeto. Nesse período, apresentei 
trabalho no Congresso Latino-Americano de Teoria 
Social na Universidad de Buenos Aires, discutindo com 
outros pesquisadores a questão da punição em meu 
trabalho. A próxima etapa foi a observação nas lojas 
dos supermercados, onde precisei fazer contatos com 
os sindicatos dos comerciários de São Paulo e Osasco. 
Realizei 20 entrevistas e, por meio delas, descobri a 
questão do loss prevention (prevenção de perdas). No 
objetivo de me aproximar do sindicato, participei de um 
programa na Rede Pública Televisiva de Osasco, em que 
o tema era minha pesquisa. Ao fim de 2017, apresentei 
trabalho no congresso da Rede Lavits7 em Santiago (Chi-
le), contribuindo para a discussão de vigilância em minha 
pesquisa. No mesmo ano, meu artigo “Videovigilância e 
punição no trabalho” foi publicado na Revista de Ciên-
cias do Trabalho do Dieese (OSTRONOFF, 2017).
Em 2018, intensifiquei o trabalho de campo para 
investigar o sistema de prevenção de perdas, uma des-
crição detalhada era o pretendido. Publiquei na Revista 
Mediações o artigo “Vigilância, controle e tecnologia: um 
estudo sobre o setor supermercadista em São Paulo” 
7 Rede Latino-Americana de Estudos Sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade.
25NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
(OSTRONOFF, 2018). Também apresentei trabalho em dois 
grupos de trabalho no XIX ISA World Congress of Socio-
logy em Toronto (Canadá), bem como, no Congresso da 
Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em 
Ciências Sociais (Anpocs). Apresentei minha pesquisa 
no Departamento de Ciências Sociais da Universidade 
Federal do Ceará a convite do Laboratório de Estudos de 
Violência (LEV) e no Núcleo de Estudos da Violência (NEV) 
na Universidade de São Paulo.
Em 2019, com a renovação da bolsa por mais 12 
meses, o foco da pesquisa foi no roubo de cargas. Para 
tanto, realizei trabalho de campo entrevistando policiais 
civis e militares, membros das forças armadas, trabalha-
dores das empresas de segurança e de gerenciamento de 
riscos. Fiz esse trabalho em São Paulo, baseado em con-
tatos de minha rede pessoal, o que era uma dificuldade 
inicial, mas que, ao decorrer da pesquisa, mostrou-se bem 
eficaz. Passei um mês no Rio de Janeiro, fazendo entrevis-
tas sobre a Intervenção Militar. Destaco entre elas a com 
o chefe de operações do Comando Militar Leste e com o 
diretor da Divisão de Homicídios. Também tive acesso a 
documentos utilizados na Intervenção, o que me permitiu 
entender com mais profundidade e detalhamento a es-
tratégia, planejamento e execução dela. Buscar os dados 
sobre roubo de cargas foi uma tarefa dessa etapa, algo 
que consegui com apoio da Divecar/Deic,8 do mandato 
de um vereador da esquerda paulistana e com ajuda da 
Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.
8 Delegacia da Divisão sobre Furtos, Roubos, Receptação de Veículos e Cargas/
Departamento Estadual de Investigações Criminais.
26 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
Ainda em 2019, participei de duas mesas em 
congressos discutindo o trabalho em andamento, contri-
buindo diretamente na elaboração da proposta de ambas. 
No congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), 
participei da mesa “Mundo do trabalho e pluralidade epis-
temológica: teorias e práticas” e no Congresso da Anpocs 
fiz parte da mesa sobre Mercados Ilegais. Apresentei 
trabalho no Governance, Crime and International Security: 
testing innovations in Policy, Practice and Research, reali-
zado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 
parceria com a London School. Tais atividades enriquece-
ram a pesquisa, pois colocaram em debate seus passos 
e dados, contando com a comunidade de pesquisadores 
para tanto. 
Nos primeiros dois anos, essa pesquisa de pós-
-doutorado integrou o quadro de pesquisas do projeto 
temático “A gestão do conflito na produção da cidade 
contemporânea: a experiência paulista”, cuja coordena-
dora responsável era a profa. dra. Vera da Silva Telles e o 
prof. dr. Marcos César Alvarez era o pesquisador principal. 
Com o encerramento desse projeto, continuei por mais 
12 meses minha pesquisa, com renovação aprovada pela 
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo 
(Fapesp). Com base no que foi proposto no projeto de 
pós-doutorado, este livro apresenta os resultados obtidos 
durante os três anos da minha pesquisa de pós-doutora-
do. É preciso destacar que o caminho percorrido durante 
a pesquisa de campo foi importante, trazendo questões 
inesperadas, que enriqueceram a investigação. Como 
apontado no relatório de renovação, existiu um desloca-
27NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
mento na minha pesquisa que a trouxe para discussão do 
crime, com a entrada do roubo de cargas. Entretanto, em 
nenhum momento a proposta inicial foi deixada para trás, 
ao contrário, foi o desenvolvimento da pesquisa que con-
duziu a tais questões. Era preciso pensar uma forma de 
conectar essas fases da investigação, o que me conduziu 
para o conceito de mercados ilegais.
Dessa maneira, no terceiro ano da investigação, o 
esforço foi descrever de modo detalhado o que chamei 
de “mercado ilegal do roubo de cargas”, fato que minha 
trajetória em trabalho e economia facilitou muito. O roubo 
de cargas é crime, portanto, está no campo de estudos da 
violência, mas somente se mantém porque se desenvolve 
em seu entorno um mercado estável. Como afirma Max 
Weber (2000), a sociologia procura nos fenômenos o que 
é regular, o que é constante. Mesmo após a renovação ter 
sido aceita, havia um problema nos primeiros dois anos: 
um campo bastante avançado, sem igual correspondente 
teórico. Era necessário, então, resolver um descompasso 
entre essas duas áreas da pesquisa. Para tanto, foi preci-
so compreender como funciona um mercado ilegal com 
base nas características de um mercado legal. Para seguir 
com objetividade nesta obra, seguirei o caminho feito no 
trabalho de campo como uma sequência racionalizada 
para facilitar a compreensão dos resultados da pesquisa.
No início da pesquisa, o tema central era a vigilân-
cia na sociedade contemporânea e seus desdobramentos 
no trabalho. Essa questão será explorada no capítulo 2. 
No projeto, apontei que prisões, hospitais e até mesmo 
bancos são locais onde normalmente esperamos ser 
28 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
vigiados, em que o olhar constante sobre os indivíduos 
é justificado por questões de segurança. Contudo, na 
sociedade contemporânea, esses sistemas teriam se 
espalhado pela vida cotidiana. “Em suas montagens, as 
imagens das câmeras-olho ou olhos-máquina põem em 
relação vários domínios: a prisão, o trabalho, a guerra, a 
administração, o consumo” (BRUNO, 2012, p. 59). 
Metodologicamente, seria inviável observar todos 
esses espaços, por isso, a observação direta dos hiper-
mercados foi escolhida desde a concepção do projeto e 
está descrita no capítulo 1. Três lojas foram selecionadas 
dentre as três empresas escolhidas9. Já durante a exe-
cução da pesquisa, foi solicitada às empresas permissão 
para realizar a observação no interior das lojas, porém, as 
três negaram. Segue o e-mail enviado pela empresa A:
Boa tarde, Leonardo
Gostaríamos de esclarecer que é com gran-
de satisfação que recebemos seu e-mail, 
demonstrando interesse em contemplar o 
[...] como uma das empresas/organizações/
estruturas a servir de referencial de estudo 
para seu magnífico tema de “Como o Uso 
de Novas Tecnologias Auxilia na Gestão do 
Espaço dos Hipermercados”! Sentimo-nos 
honrados por isso. Porém, como é do seu 
conhecimento e do público em geral, o [...] 
acaba de abrir o capital dos seus negócios 
no Brasil, o que faz aumentar a atenção, 
cuidados e restrições em geral.
9 O critério para a escolha das empresas foi o faturamento anual, número de 
trabalhadores e lojas.
29NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
Por conta justamente dessa nova realidade, 
fomos incumbidos de transmitir-lhe o posi-
cionamento por parte das áreas competen-
tes do [...], deque infelizmente “Não” pode-
remos atender vosso pedido de permissão 
para conhecer as instalações tecnológicas 
(CFTV) das unidades do Grupo.
Contamos com vossa compreensão e 
aproveitamos para lhe desejar muito su-
cesso no atual trabalho, vida acadêmica 
estudantil e profissional.
Grande Abraço! 
Como relatado anteriormente, em 2004 participei 
de uma pesquisa de comparação das relações de trabalho 
na empresa supermercadista Carrefour. Nessa pesquisa, a 
empresa também negou acesso aos pesquisadores nas 
unidades no Brasil, o que já fazia com que eu esperasse 
a mesma decisão dos supermercados escolhidos no 
pós-doutoramento. Confirmada a recusa, a solução era 
usar a mesma técnica empregada na pesquisa de 2004, 
realizando a observação na condição de cliente. Dentro 
dessa perspectiva, iniciei o campo nas três lojas.
Capítulo 1
Observação direta das lojas
1.1 Loja A
Localizada a apenas uma quadra da Avenida Pau-
lista, a Loja A da Avenida Brigadeiro Luís Antônio fica em 
uma área movimentada da cidade de São Paulo. O fluxo 
de pessoas por dia é enorme, fato reforçado pela proxi-
midade à Estação Brigadeiro da Linha Verde, bem como 
com um ponto de ônibus bem em frente à loja. Possui um 
grande estacionamento logo na entrada, com subsolo, 
atendendo tanto clientes da loja, como público em geral 
que queira estacionar o carro. Ao lado do estacionamento, 
existe um posto de gasolina, também aberto para público 
em geral. Ainda fora do espaço interior do hipermercado, 
existem lojas de serviço: flores, pastel, café, barbearia, 
massagens, turismo, lanchonete etc. Essa área toda já 
é cercada e pode-se notar a presença de câmeras de 
segurança. A entrada do hipermercado fica à direita do 
estacionamento no sentido de quem entra e existem duas 
câmeras, uma em cada lado do portão de entrada. Já no 
corredor interno da loja, do lado de fora da barreira dos 
caixas, ficam as vitrines de bebidas de valor mais elevado, 
como uísque. Caixas bancários também podem ser no-
32 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
tados, mas estão no fundo desse corredor, próximo aos 
banheiros. Em cima dos caixas, identifiquei a presença de 
câmeras, porém, seriam câmeras com alcance maior do 
que as da entrada, as chamadas “360 graus”. 
A loja A possui dois andares, realmente bastante 
extensa, com oferta de diversos produtos. O desenho é o 
padrão dos “hipermercados”, a divisão se dá por setores 
de mercadorias. Logo passando a barreira dos caixas da 
unidade, está o setor hortifruti, com grandes bancadas 
de frutas e verduras, algumas armazenadas em refrige-
radores. Nesse setor, existem repositores que controlam 
a quantidade de produtos nas bancadas, bem como o 
visual deles. Tratam de lustrar frutas e colocar os melho-
res produtos por cima. Esses funcionários eram jovens 
do sexo masculino, a maioria deles negros. Identifiquei a 
presença de equipamentos que exalam odor artificial de 
frutas maduras, colocados para gerar maior desejo.
Seguindo o caminho na loja, existe uma sala em 
separado, a adega, onde ficam os vinhos. A presença de 
câmeras é maior nessa área, havendo uma fileira especí-
fica em que ficam os vinhos de maior valor. Conversando 
com os trabalhadores, constatei que essa é realmente 
uma área de maior vigilância, pois apresenta maior risco 
de furtos.
Saindo da adega, volta-se para o corpo da loja 
em geral, onde logo está a padaria/confeitaria. Ela fica 
separada por vidros, através dos quais é possível ver os 
funcionários fazendo pães e os demais produtos de pani-
ficação e confeitaria, como bolos. Balcões ficam na frente 
desse espaço, e produtos ficam expostos aos clientes. Há 
33NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
um espaço com abertura pelo qual se atende o público. É 
possível ver tanto dentro do espaço de produção quanto 
no de atendimento a presença de câmeras. Nos dois lu-
gares, os clientes não têm acesso, portanto, as câmeras 
filmam somente os funcionários.
À direita da padaria, ficam gôndolas em que ficam 
os cosméticos. Nessa parte, além de uma câmera por 
gôndola, existem monitores que expõem em tempo real o 
que está sendo gravado e um cartaz amarelo com “Sorria, 
você está sendo filmado” escrito em letras vermelhas. 
Ou seja, a presença de câmeras não está disfarçada, ao 
contrário, é anunciada e pode-se testemunhar o que se 
filma. Portanto, a presença da videovigilância é usada 
para intimidar diretamente os clientes. De fato, pelas en-
trevistas, pude constatar que cosméticos estão entre os 
produtos com maior risco de furto, pois são fáceis de es-
conder por causa do tamanho. Passando os cosméticos, 
temos alimentos que compõem a cesta básica, seguidos 
de bebidas não alcoólicas de menor valor, como cervejas.
Exatamente no centro da loja, existe uma câmera 
no teto, que gira em 360 graus, tendo grande alcance. 
Segundo alguns entrevistados, essas câmeras teriam a 
capacidade de achar um alfinete nos extremos da loja, 
sendo fundamentais para ter uma visão geral do espaço. 
Segundo o entrevistado B, “Tinham câmeras que podiam 
ver de 30/40 metros um recibo na mão de um funcionário”.
Voltando para a parte do fundo do piso térreo, 
depois da padaria/confeitaria, está a peixaria. Esse setor 
segue o mesmo desenho do anterior, uma parte fechada 
com vidros pelos quais os clientes podem observar os 
34 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
cortes e limpeza dos peixes, bem como uma parte aberta 
para o atendimento dos clientes. Existem câmeras na 
parte interna com vidros e também na área de atendi-
mento ao público. Na frente desse setor, existem balcões 
em que ficam disponíveis cortes embalados de peixes, e 
há câmeras fixas acima deles. Passando pela peixaria, está 
o açougue. Mesmo sistema de organização: vidros e uma 
parte aberta para atender os clientes. A diferença é que, 
nesse setor, há utensílios para churrasco: facas, espetos, 
carvão, churrasqueiras. Nessa área, existe uma presença 
grande de câmeras, pois são produtos mais caros e fáceis 
de serem escondidos: cortes nobres de carne, como pi-
canha e filé mignon, apresentam risco muito alto de furto.
Continuando, ao fim do supermercado, já no ex-
tremo diametral à entrada, existe um café onde se pode 
descansar das compras comendo ou bebendo algo. Além 
de ser um espaço que gera lucro para a empresa com o 
que vende aos clientes, também permite que as pessoas 
passem mais tempo dentro da loja, surgindo tempo para 
compra de outros produtos que porventura venham à 
mente. No caminho de saída, antes de passar pela “barrei-
ra de caixas”, existe um corredor pelo qual se é obrigado 
a passar, repleto de pacotes de “salgadinhos”, amendoins, 
chocolates etc. A racionalização para o consumo é tão 
forte nas lojas que, nesse corredor, os produtos de apelo 
infantil ficam nas prateleiras mais baixas, ao alcance das 
mãos das crianças, portanto, sempre uma ou outra pega 
um produto e, ficando constrangidos, os pais acabam 
comprando. Nas entrevistas, pude constatar depois 
que tal estratégia é também pensada pela gestão dos 
35NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
supermercados para aumentar o consumo dos clientes. 
Segundo o entrevistado A:
[...] os produtos de maior sedução para crianças 
ficam nas prateleiras mais baixas, para estimular mesmo o 
consumo. Elas sempre pegam e, pelo menos, de 1 em cada 
10 pais ficam sem graça de dizerem não. Por quê? Porque 
criança chora, esperneia [...].
1.2 Loja B
A loja B é localizada na Avenida Jabaquara, bem 
próxima da estação São Judas da Linha Azul do Metrô. 
A região também fica próxima dos acessos às saídas da 
cidade de São Paulo para a Baixada Santista e Litoral Sul 
paulista. É uma loja grande, com três pavimentos. O pri-
meiro é estacionamento. O segundo piso é o que dá aces-
so da rua para a loja, por onde entram os pedestres. Nele, 
existem lojas de alimentação, turismo e uma farmácia, e 
outra parte é estacionamento também. Subindo a escada 
rolante para acesso à loja, já existe um monitor no fim da 
escada. O terceiro piso será abordado mais à frente.
Comecei o trajeto no interior da lojapelo setor de 
hortifruti. Nele, identifiquei duas câmeras dome10 bem à 
mostra para os clientes. Existe uma pequena parte em 
10 A câmera dome é bastante utilizada em locais públicos que precisam 
conciliar a segurança que uma câmera de vigilância apresenta com a discrição 
e um acabamento adequado, como shoppings, prédios e condomínios. Além 
da excelente qualidade de imagem, esse modelo apresenta uma estrutura com 
formato de domo, em que está acoplada a câmera. A maioria das câmeras 
dome são exclusivas para locais internos e algumas possuem até infravermelho.
36 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
meio ao respectivo setor e os caixas com produtos como 
papel higiênico, cerveja, sal, óleo, carvão, gêneros procu-
rados pelos consumidores que viajam para o litoral. Nesse 
local, existe um grande monitor mostrando aos clientes 
imagens em tempo real. Ao lado, está a adega, com uma 
câmera fixa justamente acima da prateleira de vidro fe-
chada em que ficam os produtos mais caros. Seguindo 
está a rotisseria, fatiados e padaria, todos no alcance de 
outra câmera dome que também é visível aos clientes. 
No meio, estão os congelados, com outra dome acima. 
Somente nessa parte da loja, são três câmeras de alcance 
de 360 graus.
Ao fundo, a peixaria — conforme o padrão dos 
hipermercados — possui uma parte de atendimento ao 
público e é possível ver uma parte entre vidros em que 
se fazem os cortes. O mesmo padrão segue para o açou-
gue. Ao lado deste, existe um setor chamado “salgados” 
(produtos para feijoada). Segue um corredor com gela-
deiras em que se oferecem carnes embaladas, fatiadas e 
pesadas, com a presença de duas câmeras dome e dois 
monitores. No meio da loja, em frente às carnes fatiadas, 
está o setor de laticínios, que apresenta uma câmera 
dome que também filma o setor de cosméticos, que, por 
sua vez, tem um monitor exclusivo. Mesmo caso acon-
tece na mercearia e setor para pets, que dividem uma 
câmera de alcance de 360° e um monitor. Ao lado, está o 
setor de limpeza com duas dome, seguido das bebidas, 
que possui uma câmera fixa com um monitor pequeno à 
vista dos clientes. 
37NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
Para subir ao terceiro piso, o cliente passa por uma 
escada rolante, na qual existe uma câmera no começo e 
outra no final. O primeiro setor é o vestuário masculino 
e, ao fundo, o de calçados, que também tem uma dome 
acima. Ao lado, no setor de produtos para bebês, existe 
uma câmera de igual modelo, que, por sua vez, alcança o 
setor de automotivos/ferramentas. Há, ainda, a presença 
de câmeras de alcance 360° no setor de brinquedos, 
papelaria e eletrodomésticos, sendo que este último 
possui, ainda, duas câmeras fixas e um monitor para 
cada uma delas.
Essa loja é, dentre as três, a que mais possui tecno-
logia de videovigilância, mesmo se comparada à nova Loja 
C, que faz jus à fama da empresa C nesse meio, conhecida 
como a empresa supermercadista que mais investe em 
tecnologias de câmeras para segurança. Com o que é 
perceptível na condição de cliente, o espaço da loja já fica 
totalmente “coberto” pelo alcance de vídeo.
1.3 Loja C
A loja C fica próxima à loja A, de forma que, durante 
o trabalho de campo, era possível ir caminhando de uma 
até a outra. Essa loja, de uma companhia estrangeira, está 
situada em um bairro de elite de São Paulo, Jardim Paulis-
tano, na região sul da Avenida Paulista, perto da Avenida 
Estados Unidos e próxima ao Parque do Ibirapuera. Em 
termos de distância, não é tão afastada do metrô, mas é 
38 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
preciso descer uma ladeira íngreme de seis quadras até 
lá, o que torna o entorno das duas lojas bem diferente. 
Conforme se vai descendo a Rua Pamplona, os 
condomínios de alto padrão dominam a paisagem. Prédios 
altos, com fachadas imponentes, em sua maioria com 
alguma referência à Europa e jardins muito bem cuidados 
na frente. É possível notar a videovigilância na entrada dos 
prédios e um corpo de funcionários vigias, em alguns casos 
vestidos de ternos pretos e óculos escuros, reforçando a 
diferenciação de status social dos condomínios de elite.
A loja C fica já no fim da ladeira e criou em seu 
entorno o aparecimento de alguns estabelecimentos 
comerciais. Existem restaurantes e bares para quem 
trabalha na região, sempre atendendo um público com 
trajes executivos, que os frequentam nos almoços e nos 
momentos de happy hour. O bairro onde fica localizada a 
loja é sempre destacado nas descrições da empresa.
A referida loja era antiga, possuindo um esta-
cionamento na frente e no subsolo. Como na Loja A, no 
estacionamento também havia uma parte de lojas: flori-
cultura, cafés, lavanderia etc. Eram dois andares também. 
Contudo, a presença de videovigilância não era tão efeti-
va, existiam mais funcionários cumprindo essa função do 
que câmeras. Por dentro, a aparência era de algo antigo, 
ultrapassado. O próprio desenho interno parecia adap-
tado de uma época anterior, em que a divisão de áreas 
internas não era tão clara. Na peixaria e açougue, não 
existiam vidros que separavam o atendimento ao público, 
o espaço era o mesmo. Na padaria, havia apenas uma 
pequena parte aberta para os pedidos dos clientes, não 
39NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
havendo vidros através dos quais os clientes poderiam 
ver os trabalhadores exercendo seu ofício.
A loja passou por uma grande mudança por ser o 
primeiro projeto loja/shopping dessa empresa no país. Em 
geral, no Brasil, nos grandes shopping centers, existe um 
hipermercado de alguma das bandeiras. A empresa A fez o 
caminho inverso, em vez de ser a loja dentro do shopping, 
fez da loja um shopping. A nova Loja C foi reformada no 
primeiro e segundo andares, onde continua funcionando 
o hipermercado, mas, a partir do segundo piso, existe um 
shopping que funciona em três pisos, inclusive com praça 
de alimentação e cinemas. No último andar, foi construído 
um terraço gourmet com visão panorâmica e restauran-
tes. Segundo descrição da empresa C em seu site:
Amplo terraço arborizado convivendo em 
sinergia com a região, com vista panorâ-
mica para a cidade, integrando o verde e o 
urbano. Nos seis restaurantes, os morado-
res e frequentadores poderão aproveitar o 
melhor estilo de viver o Jardins.
A mudança do espaço, segundo a própria empresa, 
foi realizada para atender melhor o público da região onde 
está localizada a loja. Ao entrar no primeiro piso, as portas 
são de abertura automática e o cliente não se depara com 
nenhum segurança. O teto, antes branco, é agora preto, 
mesma cor das câmeras, que ficam camufladas. Logo na 
entrada, existe uma boulangerie11, em que são ofertados 
11 Local especializado na produção de pães dos mais variados tipos.
40 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
produtos de origem estrangeira. Vidros estão presentes 
em toda parte que tem produção e é possível notar pare-
des brancas com câmeras sobre os trabalhadores; nesse 
espaço há uma área com cadeiras no meio, logo seguida 
de um balcão com comidas prontas para almoço ou para 
levar. Pratos de origem internacional marcam as opções, 
característica que é reforçada para ficar em destaque ao 
cliente. Logo ao lado esquerdo dessa área, fica o setor de 
hortifruti. Seguindo a mesma abordagem, as frutas de ori-
gem estrangeira ficam em destaque, havendo uma oferta 
que se caracteriza pela qualidade e variedade. Ao fundo, 
está uma parte apenas de frios, com queijos e embutidos.
Apesar do grande fluxo de pessoas, não se vê 
seguranças. As câmeras estão presentes no teto, mas 
todas pretas, camufladas no teto de mesma cor, como 
se fosse para não incomodar os clientes, bem diferente 
da Loja A. O público é visivelmente diferente entre as 
duas lojas: na Loja A, é notoriamente mais elitizado. Ao 
fundo, chega-se ao açougue, seguindo o padrão visto 
em outras lojas, com vidros na parte em que se fazem os 
cortes de carnes. A peixaria fica ao lado, e não no fundo 
da loja, totalmente cercada por vidros, somente havendo 
uma parte aberta para que os clientes façam pedidos. 
No açougue e na peixaria,produtos de preço maior ficam 
expostos nas gôndolas fora do espaço de vidros. Existem 
câmeras camufladas bem em cima de ambos os lugares. É 
possível aos clientes pegar os produtos e depois levá-los 
para pesagem, diferente da Loja A, na qual quem faz isso 
é o próprio funcionário da loja. Dentro dos espaços, a cor 
branca domina todas as paredes.
41NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
O desenho no restante é bem parecido com a 
Loja A, até mesmo a adega segue a mesma lógica. Nessa 
parte, é possível notar as câmeras: existem duas que se 
destacam na entrada da sala da adega. Ao longo da loja, 
a oferta de produtos de preços maiores, importados, é 
destacada em todo tempo. Existem poucos funcionários 
e eles estão em áreas específicas. Nos caixas, é possível 
notar uma forte presença de videovigilância. Cada caixa 
tem uma câmera e um monitor que mostra o respectivo 
caixa. Segundo o entrevistado F: “[...] nas baterias de caixa, 
nos checkouts, existe todo um sistema de câmeras ali 
focado olhando todo manuseio dos caixas operadores, 
para ver se não há desvios”.
Outra diferença é a presença dos caixas sem tra-
balhadores, os automáticos, nos quais o próprio cliente 
faz a passagem de produtos por meio de uma balança 
de peso que identifica o produto e seu preço, tecnologia 
usada na Europa em países como Portugal e Alemanha, 
porém, esse serviço é apenas para compras de quantida-
de pequena de produtos.
O segundo andar é reservado aos produtos eletro-
eletrônicos, o teto não é mais preto, mas branco. Existem 
luzes bem claras em todo piso e é possível ver câmeras. 
Mesmo assim, muito menos presentes do que o mesmo 
setor na Loja A. Segundo a empresa C:
Um novo conceito, alto padrão, diferente 
dos outros Hipermercados [...], com sorti-
mento e serviços premium, alinhados com 
o posicionamento do shopping. É uma loja 
precursora em recursos tecnológicos para 
42 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
proporcionar uma experiência de compra 
única, bem como, em iniciativas e melhores 
práticas de sustentabilidade.
Saindo desse espaço de eletroeletrônicos, os clien-
tes passam diretamente ao primeiro piso do shopping. Ali 
existem lojas de moda e beleza e, segundo a empresa A: “[...] 
possuirá um mix de lojas satélites e âncoras, composto por 
marcas nacionais e internacionais que trazem nos Jardins 
as tendências do mundo da moda” (site da empresa).
Na passagem interna, na escada rolante de acesso 
ao segundo piso, fica sempre uma segurança feminina, 
vestida de terno preto e com comunicação “via microfone 
portátil”. Essas vigilantes femininas observam e dão infor-
mações aos clientes, sempre de maneira muito simpática. 
Na saída da loja, no primeiro piso, os vigias também ficam 
vestidos de ternos pretos e são de ambos os sexos. Fica 
um na entrada e outro na saída do primeiro piso. Isso já 
se mostra diferente da Loja A, na qual o segurança da 
entrada/saída é sempre um homem de porte físico forte, 
com uniforme imitando um militar e usando um cassetete. 
Segundo o site da empresa C:
Mais de cinco mil metros quadrados e 34 mil 
produtos compõem o primeiro hipermerca-
do flagship do [...]. Localizada no Jardim Pam-
plona Shopping, em São Paulo, a loja reúne 
seleção de produtos, serviços especializados 
e tecnologia. Com o objetivo de transmitir a 
sensação de vários locais dentro de um só, o 
hipermercado tem áreas dedicadas a peixa-
ria, adega, padaria e açougue 
43NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
O objetivo, segundo o varejista, é oferecer uma ex-
periência de compra acolhedora, diferenciada e completa 
aos consumidores. A ambientação, identidade visual e 
gráfica do projeto, mobiliários, expositores e embalagens 
da nova Loja C foram pensados pela Market Value, agência 
de design e arquitetura de varejo da multinacional fran-
cesa Team Creátif. Além de estar à frente de todo projeto 
elétrico e hidráulico, a Interativa Engenharia cuidou da 
automação e sonorização da nova loja.
Entre as inovações estão self-checkouts, que 
permitem que o cliente escaneie os códigos de barras da 
mercadoria escolhida e efetue o pagamento via cartão de 
crédito ou débito. É uma grande tela para campanhas ins-
titucionais, totem de autoatendimento — para impressão 
de cupons, visualização de ofertas, mapa e horário de fun-
cionamento, carregadores de celular e wi-fi. A loja de dois 
pisos possui iluminação em LED e estrutura em madeira 
e azulejos. A unidade apresenta sistema de refrigeração 
a gás natural, sistema inteligente de gestão de energia e 
estação de reciclagem preparada para receber e destinar 
resíduos. Parceira do Banco Municipal de Alimentos de 
São Paulo, a loja faz doações regulares de alimentos.
A Loja C, que fica em um shopping que pertence 
à sua empresa, conta com 900 funcionários, sendo 560 
trabalhadores diretos. Cada setor possui atendimento es-
pecializado e a empresa investiu em mais de 24 mil horas 
de treinamento para a equipe.
Além disso, no segundo andar, é possível encontrar 
as categorias de casa e eletroeletrônicos. Ao todo, são 
mais de 800 tipos de eletrodomésticos e eletrônicos de 
44 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
diversas marcas, com destaque para a linha branca, tele-
fonia, informática e eletroportáteis. No setor casa, são mais 
de três mil produtos e 400 itens de cama, mesa e banho. 
A loja ainda possui produtos para pets e jardinagem. Os 
clientes têm a opção de serviço de entrega em domicílio 
para compras realizadas no hipermercado. Sobre a praça 
de alimentação, a empresa ainda afirma que:
[...] a iluminação natural oferecerá leveza 
à ampla praça de alimentação com capa-
cidade para mais de 400 lugares e onze 
opções de fast food, trazendo variedade 
sob medida para os frequentadores e mo-
radores dos Jardins.
Segundo site da própria empresa, a nova loja C 
procura não constranger, investindo em novas tecnologias 
de vigilância para proteger seus clientes e patrimônio de 
uma forma eficaz e sutil. Contudo, nas áreas onde estão 
os trabalhadores, as câmeras são bem aparentes, sobre-
tudo na barreira de caixas, em que cada trabalhador tem 
uma sobre si, mostrando um controle eficiente sobre o 
trabalho por parte da empresa. Nesse ponto, o controle 
do trabalho aparece como uma prerrogativa de bom ser-
viço oferecido aos clientes, o olhar sobre os funcionários 
de uma forma intensa é um fator que comprova a eficácia 
do funcionamento da loja e torna-se um símbolo de qua-
lidade. Fato é que a vigilância aparece como um elemento 
que oferece uma condição privilegiada aos clientes, para 
que se sintam à vontade, sem qualquer incômodo.
45NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
O “viver os Jardins” também é marcado por isso. 
Quando descrevi a descida na ladeira da Avenida Paulista 
até a loja C, destaquei a presença de videovigilância e vi-
gias nos condomínios. Ser morador dessa parte da cidade 
de São Paulo significa ter a condição, por meio das tecno-
logias de segurança, de se sentir protegido. Entretanto, tal 
fato não é uma exclusividade dos Jardins. A preocupação 
com vigilância é um traço marcante nas sociedades, sem-
pre relacionada ao controle12 da conduta dos indivíduos. 
12 Para entender melhor o conceito de controle usado nesta passagem, ver 
Alvarez (2004).
Capítulo 2
A Prevenção de Perdas
2.1 Vigilância, videovigilância e um caso de racismo
No projeto de pesquisa, havia uma discussão que 
é preciso retomar. Empresas de segurança passaram a 
desenvolver tecnologias para controlar pessoas nos mais 
diferentes ambientes da vida cotidiana, entre elas o cir-
cuito interno de TV. De acordo com Latour (2006), esse 
circuito consistiria em um sistema sociotécnico que visa 
à vigilância e controle dos corpos e comportamentos em 
espaços fechados das sociedades contemporâneas, não 
somente transmitindo as imagens, mas interpretando-as 
em uma cena. “A máquina de visão não simula o olho, mas 
as faculdades de seleção e análise do que se vê” (BRUNO, 
2012, p. 51). 
Em estudo sobre o videovigilância no Rio de Janei-
ro, Cardoso (2013) afirma que a Assembleia Legislativa do 
Estado,no período de 1998 até 2009, aprovou sete leis 
com respeito à instalação de câmeras de segurança em 
locais tais como berçários, unidades de terapia intensiva 
neonatal, casas noturnas, praças de pedágio, estabele-
cimentos financeiros, transporte metroviário, bailes funk 
ou eventos de música techno, caixas eletrônicos etc. 
48 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
Segundo o autor, cada local recebeu um sistema de vi-
deovigilância com objetivo de aumentar a segurança dos 
cidadãos. Um fato interessante relatado foi a solução de 
crimes com base em imagens de câmeras de shoppings 
centers, lojas de conveniência e supermercados. Como 
exemplo, o documentário alemão “Gefängnisbilder”13 — 
em inglês “Prison Images”, em português “Imagens da 
Prisão” — faz menção a um sistema que não mostra os 
corpos dos prisioneiros em detalhes nas telas, mas como 
pontos que são rastreados e identificados. Essa mesma 
tecnologia das prisões é também usada em supermerca-
dos, e os pontos na tela são clientes cujos movimentos 
são rastreados para auxiliar na logística (BRUNO, 2012).
Segundo Foucault (1998), na modernidade é que 
se desenvolve um sistema de controle ainda mais eficaz, 
baseado no micropoder sobre o corpo: vigilâncias infi-
nitesimais, controles constantes, ordenações espaciais 
de extrema meticulosidade, exames médicos ou psico-
lógicos diversos. Existem intervenções ao nível do corpo, 
das condutas da saúde e da vida cotidiana. Estaríamos na 
sociedade do dispositivo da sexualidade, em que:
[...] os mecanismos de poder se dirigem ao 
corpo, à vida, ao que faz proliferar, ao que 
reforça a espécie, seu vigor, sua capaci-
dade de dominar, ou sua aptidão para ser 
utilizada. Saúde, progenitura, raça, futuro 
da espécie, vitalidade do corpo social, o 
poder fala de sexualidade para sexualidade 
(FOUCAULT, 1998, p. 160-161).
13 GEFÄNGNISBILDER. Direção de Harun Farocki. Alemanha, 2001. 120 min.
49NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
Foucault (2010) afirma a existência de uma técnica 
de controle específica sobre os enclausurados, agindo 
sobre os corpos por meio de relações de poder. Essa téc-
nica verifica-se para além das prisões, mas também em 
hospitais, nas forças armadas, nas escolas e nas fábricas. 
É o que o autor conceitua como poder disciplinar, que se 
constitui em um mecanismo fundamental para o desen-
volvimento do capitalismo industrial e uma das grandes 
invenções da sociedade burguesa. A proteção se tornou 
integrante do negócio e mais até do que isso, ela transfor-
mou-se em um negócio em si, uma fonte de gerar lucros.14 
É o que fica aparente nos relatos das lojas, principalmente 
no tocante à nova Loja C. Há sem dúvida uma oferta de 
um lugar onde se pode consumir de forma segura, de 
acordo com o nível daqueles moradores da região. Um 
espaço onde podem usufruir da sua condição de renda, 
sem sofrerem riscos ou constrangimentos que ocorreriam 
pelas ruas da vizinhança. Um espaço controlado pela tec-
nologia, que proporciona segurança e bem-estar dignos 
dos cidadãos daquele bairro.
A vigilância torna-se, conforme afirma Garland 
(2005), condição necessária para garantir a segurança e 
o prazer dos consumidores e cidadão decentes, por isso, 
está presente, mas de forma a ficar pouco perceptível, 
pois seu alvo não são os clientes, e seu objetivo é, so-
bretudo, conferir essa possibilidade de segurança e um 
serviço de “melhor qualidade”, ou seja, com proteção e 
14 No fim da década de 1990, De Waard (1999) já observava um rápido desenvol-
vimento internacional da indústria de segurança privada.
50 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
sem constranger quem está ali para fazer valer seu po-
der de consumo elevado. No caso da Loja C, a vigilância 
tem outro perfil: ela serve para constranger aqueles que 
porventura queiram furtar algum produto, sejam clientes 
ou trabalhadores, furto externo ou interno. Ela visa expor 
diretamente as pessoas, havendo na comparação com a 
loja A nos Jardins, uma clara relação de classe. Na Loja C, 
a vigilância está mais para parte do aparelho de produção, 
sendo uma engrenagem específica de controle de furtos 
e, principalmente, dos trabalhadores.
Na observação, presenciei um caso de abordagem 
por suspeita de furto que é emblemático. Um jovem negro, 
aparentemente pobre, foi abordado por um funcionário da 
Loja A. O jovem afirmou que não tinha nada com ele e, por 
causa da insistência do vigia, justamente aquele que fica 
na entrada com uniforme imitando um policial, começou 
a falar em voz alta que não tinha “roubado” nada. O vigia 
então começou a agarrar o rapaz, na tentativa de revistá-
-lo sem autorização. Com a resistência do jovem, outros 
funcionários, todos vestidos de preto, chegaram para aju-
dar o vigia. Esses funcionários não estavam no interior da 
loja no espaço de clientes, não os havia identificado pelas 
vestimentas em nenhum setor que observei. O episódio 
chamou a atenção dos clientes, logo, então, chegou uma 
viatura da Polícia Militar. Um dos “homens de preto” falava 
pelo rádio portátil, e provavelmente foi ele que chamou a 
polícia. A chegada desta foi estranhamente rápida, uma 
questão de menos de dez minutos, talvez pela proximidade 
da loja da Avenida Paulista, local pelo qual passam muitas 
viaturas. Ao entrarem no estacionamento e observarem o 
51NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
rapaz já rendido pelos funcionários, os policiais tocaram a 
sirene da viatura por duas vezes, algo desnecessário, uma 
vez que não havia tráfego no estacionamento. Desceram 
e pegaram algemas, mostrando ao rapaz e dizendo algo 
que eu não pude escutar, mas pude ver que ele reagiu de 
forma negativa com a cabeça. Revistaram o rapaz no pró-
prio estacionamento, não encontrando nenhum produto 
com ele. Ao terminarem, fizeram um aceno de desculpas 
ao jovem, liberando-o. Os funcionários do hipermercado, 
visivelmente contrariados, evitaram sua volta à loja, indi-
cando com as mãos a saída para rua. O rapaz caminhou 
reclamando em voz alta, afirmando que aquilo tudo é 
racismo, dizia: “só porque sou pobre e negão, né? Sei 
onde ‘ceis moram, sei onde ‘ceis vivem”. Nesse momento, 
a viatura que ainda estava saindo do estacionamento 
voltou a tocar a sirene. O jovem se dirigiu ao ponto de 
ônibus na calçada da frente da loja. Era nítida a revolta em 
seu semblante, foi vítima de uma revista ilegal e havia sido 
exposto a uma humilhação pública.
Segundo estudo realizado no Walmart americano 
(TCMJ, 2013), as abordagens contra furtos são, em sua 
maioria, direcionadas a jovens negros do sexo masculino, 
em geral vestidos com roupas que indicam procedência 
de bairros de baixa renda: blusas de moletom com capuz 
e bonés. O mesmo estereótipo padrão de suspeitos que 
possui a polícia estadunidense se repete na segurança 
das lojas tanto nesse país, quanto no Brasil. Dessa manei-
ra, as lentes das câmeras não são neutras, toda tecnologia 
de videovigilância tem por trás um olho humano portador 
de preconceitos e estereótipos. Tal fato problematiza a 
52 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
afirmação de que todos são suspeitos, pois uns são mais 
suspeitos do que outros. Segundo a funcionária F: “Eu 
senti por ser mulher, por ser negra, uma suspeita maior”.
Ao entrar na loja novamente, procurei o vigia para 
conversar sobre o episódio. Ele me disse que o sensor 
havia tocado quando o rapaz passou e que dificilmente 
existe um erro quando isso acontece, que não sabia 
como, mas que o rapaz deu um jeito de se desfazer do 
produto que pegou. Perguntei quem eram os rapazes de 
preto, ao que ele me respondeu energicamente: “são os 
prevenção”. Insisti indagando: o que eles faziam? Então 
ele respondeu: “ficam no CFTV15, veem tudo que acontece 
pelas câmeras, não tem como ter erro nisso. Se alguém 
furta um produto, por menor que seja, eles sabem pelo 
olho da câmera”. Foi meu primeiro contato com o objeto 
da minha investigação. As câmeras que, na condição de 
cliente, apenas apareciam distantes de mim e que eram 
máquinas ao longe, começavam a ganhar um corpo, agen-
tes por trás da lente começavama ser revelados. Porém, 
a condição de cliente não me permitia ir além do que 
estava dentro do espaço restringido, não sendo possível 
chegar aonde estavam estes funcionários que observa-
vam as câmeras. Notei que já havia visto em algum lugar 
o termo “prevenção” relacionado aos assuntos referentes 
aos supermercados. Ao chegar em casa, abri o e-mail que 
recebi negando minha entrada como pesquisador na Loja 
A. Para minha surpresa, a assinatura do e-mail era do di-
retor de prevenção de perdas. Mas o que seria esse setor? 
15 Circuito Fechado de TV.
53NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
Eles controlavam as câmeras e o CFTV? Como funcionava 
o trabalho desses “homens de preto”? Novas questões 
surgiam na minha pesquisa.
2.2 Um deslocamento na pesquisa
Para entender a videovigilância, era necessário 
compreender como o CFTV funcionava, mas, para atingir 
esse objetivo da pesquisa, precisava ter acesso às infor-
mações dos trabalhadores responsáveis por ele. Diferente 
da pesquisa do Carrefour em 2004, a condição de cliente 
não era suficiente para responder minha questão de 
investigação agora. Era preciso recorrer às entrevistas 
com trabalhadores e, com elas, conseguir montar esse 
quebra-cabeça da videovigilância.
Para tanto, recorri ao Dieese, que me colocou em 
contato com o Sindicato dos Comerciários de São Paulo, 
pertencente à UGT16, cujo presidente é uma figura bastan-
te conhecida do meio sindical e que possui muita legiti-
midade com a categoria, Ricardo Pattah. Essa instituição 
deslocou seu diretor de mobilização para me auxiliar com 
a pesquisa, o que foi de muita utilidade. Com ele, percorri 
algumas lojas das três bandeiras, observando sempre a 
questão da tecnologia e, sobretudo, da videovigilância. 
Consegui entrevistar funcionários de diferentes setores, 
inclusive operadores do CFTV. Apesar disso tudo, algumas 
respostas ainda eram insatisfatórias. 
16 União Geral dos Trabalhadores.
54 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
Recorri também à CUT17, que também havia par-
ticipado da pesquisa Carrefour no Dieese. Marquei uma 
conversa com a ex-presidente da Contracs18, Lucilene 
Binsfeld, conhecida como Tudi. Ela me colocou em con-
tato com um diretor dessa confederação que, segundo 
ela, poderia me ajudar bastante, uma vez que acabara de 
voltar dos Estados Unidos de discussões com a direção 
do Walmart. Para minha sorte, o sindicalista estaria na se-
mana seguinte em São Paulo, para reuniões sindicais. Ele 
me contou um pouco da sua trajetória de trabalho no setor 
de varejo. Começou a trabalhar como empacotador em 
um supermercado de João Pessoa aos 14 anos de idade, o 
que contava com um sorriso orgulhoso no rosto. Acabou 
por ser trabalhador da empresa C, quando essa empresa 
chegou ao Brasil, o que lhe fez conhecer bem o funciona-
mento dessa empresa e do setor de varejo. Reconstituiu 
a história dos sistemas de segurança nos hipermercados 
no Brasil, como teria sido a passagem de uma segurança 
patrimonial caracterizado por vigias uniformizados, para 
um novo sistema que ele destacou como fundamental 
para a questão de investigação: loss prevention, ou em 
português, prevenção de perdas. Contou também que 
teve a oportunidade de conhecer o presidente americano 
do Walmart, ir até uma de suas casas, o que lhe facilitou 
o acesso aos planos da empresa para o futuro. Uma das 
coisas que destacou é a preocupação com segurança, o 
que faria investir em tecnologias nessa área. 
17 Central Única dos Trabalhadores.
18 Confederação Nacional dos Trabalhadores de Comércio e Serviços.
55NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
É importante dizer que o trabalho de campo revelou 
um objeto que não era conhecido no projeto, justamente 
porque não se sabia de sua existência. O objetivo era analisar 
a videovigilância no interior das lojas dos supermercados, 
principalmente o CFTV (Circuito Fechado de TV), porém, 
este é apenas parte de um sistema de logística chamado 
loss prevention, que visa diminuir ao máximo o risco de 
perdas financeiras para as empresas. Tal descoberta teve 
como consequência um deslocamento na pesquisa para 
além do espaço das lojas, expandindo o olhar do pesquisa-
dor para toda cadeia de distribuição dos supermercados. 
No projeto, a vigilância e punição no trabalho eram 
um foco importante e, com essa descoberta no campo, 
a ideia de prevenção ganhou força. Um intenso esforço 
de descrição do loss prevention foi realizado por meio da 
observação direta, o que teve por consequências mudan-
ças teóricas que serão discutidas ao longo deste livro.
No início da investigação, a análise não se restrin-
gia às maneiras de aumentar a produtividade, mas dizia 
respeito a como o controle é exercido no espaço da loja 
sobre as pessoas em todas as suas expressões. Trata-
va-se de investigar os sistemas de videovigilância, o que 
inclui também os clientes, os vigias e todos aqueles que 
estão no espaço das lojas. A conversa com o sindicalista 
foi um divisor de águas na pesquisa, pois ficou perceptível 
que a questão não dizia respeito somente ao universo 
interno das lojas, mas que se referia ao processo logístico 
como um todo. Era preciso transcender as fronteiras das 
unidades e investigar a cadeia das empresas de forma 
56 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
geral. Assim, a proposta inicial teve um desdobramento 
diferente do esperado.
O objeto, no início, era a videovigilância nos hi-
permercados. Descobri que esta é parte de um sistema 
chamado CFTV, o qual mostra que as empresas real-
mente mudaram sua concepção de segurança de um 
padrão presencial/físico de vigias para o circuito interno 
de câmeras, em que a prevenção é o objetivo e não a 
ação ostensiva. Esse sistema é, por sua vez, parte do loss 
prevention. Importava entender o funcionamento deste, 
como a prevenção é realizada de fato era o meu objeto 
de pesquisa que a observação de campo revelara. Para 
compreendê-lo, era o momento de fazer as entrevistas 
previstas no projeto, que seriam fundamentais para 
descrever como se desenvolve esse sistema e todas as 
questões envolvidas em seu entorno.
A Contracs então auxiliou acionando o Secretário 
Geral do Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região, 
que se colocou à disposição para ajudar nesta pesquisa. A 
surpresa foi ainda maior quando descobri que um antigo 
entrevistado meu na pesquisa Carrefour, agora, era asses-
sor da presidência no sindicato. Na época, era um dos che-
fes de logística do Carrefour, sendo responsável por instalar 
uma nova cultura na empresa, a entrevista dele foi chave 
daquela pesquisa de comparação internacional. Por essa 
experiência, ele conservou uma rede de relações muito 
forte no setor de varejo, além de seu vasto conhecimento 
sobre as operações do setor, inclusive sobre videovigilância 
e o CFTV, o que seria de grande ajuda para minha pesquisa. 
Em resumo, era necessário analisar dois pontos:
57NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
1. O processo de prevenção de perdas ou loss 
prevention.
2. As mudanças em torno do conceito de segu-
rança.
No projeto, afirmava que, por meio da observação 
dos sistemas de vigilância, seria possível também inves-
tigar os sistemas de punição criados no interior das lojas. 
Nesse caso, o foco se daria sobre os trabalhadores, pois 
estes passam mais tempo nas lojas. Para o controle do 
trabalho nos bancos, o desemprego é a maior ameaça 
de punição. É nele que toda pressão sobre o trabalhador 
está baseada, na utilização do medo de ficar em situação 
de desemprego. As exclusões e desmoralizações são as 
formas de assédio e as cobranças se dão em cima do 
sistema de metas de produtividade, com reuniões em 
que os resultados de cada trabalhador são expostos e 
eles são humilhados nesses espaços, sendo vítimas de 
assédio moral (OSTRONOFF, 2015).
Importaria, então, verificar como se desenvolve-
riam os sistemas de punição extraoficiais sobre os traba-
lhadores no interior dos supermercados. Contudo, com a 
discussão que fizemos anteriormente sobre o sistema de 
prevenção de perdas, o olhar se expandiu para além do 
interiorda loja.
A punição apresentada aos funcionários é parte 
do sistema de produção, ou melhor, no caso do setor 
supermercadista, faz parte do sistema de logística des-
sas empresas. Esse fator também acontece nos bancos, 
como verificado na minha pesquisa de doutorado com a 
58 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
questão do assédio moral. Tanto as formas de punição 
do trabalho nos bancos quanto as punições existentes 
nos supermercados são consequências do processo de 
organização do trabalho. Como a investigação também 
se deslocou do interior das lojas para a cadeia produtiva 
como um todo, prosseguir na investigação dos sistemas 
de punição no interior das lojas não era mais a única pre-
ocupação dessa pesquisa.
Todavia, a esfera do trabalho foi fundamental na in-
vestigação. Partir desse conceito permitiu compreender a 
questão dessa pesquisa e somente foi possível na relação 
com a discussão sobre o controle dos corpos no trabalho. 
O próximo item deste capítulo versa sobre esse assunto.
2.3 Vigilância do ramo supermercadista fora dos 
supermercados: os Centros de Distribuição
Neste capítulo, apresento resultados do primeiro 
ano de pesquisa de campo, principalmente das entrevis-
tas realizadas com trabalhadores de três grandes redes 
supermercadistas de São Paulo e região.
A utilização de tecnologias para controle do tra-
balho não é algo novo no modo de produção capitalista. 
Thompson (1998), analisando historicamente o início da 
indústria na Inglaterra, mostra como o controle do tem-
po era parte integrante da organização do trabalho na 
produção fabril. O autor traz as palavras do “velho oleiro”, 
um pregador metodista, quando afirma que as máquinas 
significam disciplina nas operações industriais. O autor 
59NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
segue afirmando que, “sem a ajuda das máquinas para 
regular o ritmo de trabalho nas olarias, esse disciplinador 
supostamente formidável [...] ficava reduzido a tentar 
impor a disciplina aos oleiros em termos surpreendente-
mente ineficientes” (THOMPSON, 1998, p. 291).
Dessa maneira, as máquinas eram fundamentais 
para consolidar o regime de trabalho de produção in-
dustrial, eram parte integrante do dispositivo de controle. 
Outro exemplo de inovação tecnológica do começo da 
era industrial: o relógio de pulso era proibido durante 
o ofício, somente os supervisores eram autorizados a 
utilizá-los. Aos operários de “chão de fábrica”, não era 
permitido seu uso. Em um espaço onde a racionalização 
do tempo era fundamental no controle dos trabalhadores, 
o acesso ao relógio de pulso era uma forma de poder. 
Certamente, fora da fábrica, essa relação não tinha mes-
ma intensidade, mas naquele espaço onde o objetivo dos 
meios de produção era retirar a máxima produtividade 
dos operários, portar o relógio de pulso dava poder aos 
operários nas relações de produção. O controle do tempo 
não era mais exclusividade dos superiores, mas se tornava 
acessível para todos. Tal fato não podia ser tolerado, pois 
desconstruía um eixo do dispositivo de controle sobre os 
trabalhadores. De acordo com Thompson (1998, p. 290): 
“O diretor da fábrica tinha ordens para manter o relógio de 
pulso trancado a sete chaves a fim de impedir que outra 
pessoa o alterasse”.
A discussão nos remete ao registro do que Mi-
chel Foucault chamou de Sociedade Disciplinar, na 
qual cada espaço rege uma norma para doutrinar os 
60 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
corpos circunscritos a um mesmo espaço. Essa técnica 
verifica-se além das prisões, também em hospitais, nas 
forças armadas, nas escolas e nas fábricas. Segundo 
Foucault (1998), esse poder disciplinar se constitui em 
um mecanismo fundamental para o desenvolvimento 
do capitalismo industrial e uma das grandes invenções 
da sociedade burguesa. O poder disciplinar tinha como 
objetivo “adestrar os corpos”, utilizando alguns mecanis-
mos simples: o olhar hierárquico, a sanção normalizadora 
e o exame. Fato é que as instituições disciplinares pro-
duziram um maquinário de controle que funciona com 
um microscópio dos comportamentos, um dispositivo 
que caracterizava as fábricas e o trabalho industrial:
Por meio de tudo isso — pela divisão de 
trabalho, supervisão do trabalho, multas, 
sinos e relógios, incentivos em dinheiro, 
pregações e ensino, supressão das feiras e 
dos esportes — formaram-se novos hábitos 
de trabalho e impôs-se uma nova disciplina 
de tempo (FOUCAULT, 1998, p. 297).
Ocorre que, com o avanço do capitalismo, surgiram 
outras formas de controle para além do registro da socie-
dade disciplinar. Uma afirmação importante que trouxe 
no projeto de pesquisa e que precisa ser discutida neste 
capítulo é que, segundo Deleuze (1992), não estaríamos 
mais no regime dessa sociedade, em que o paradigma 
que imperava era o do confinamento na fábrica. Com a 
passagem para a sociedade de controle, surgem formas 
de controlar diferenciadas, baseadas em um discurso 
61NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS
de maior participação e criatividade. Estas, por sua vez, 
faziam dos indivíduos um só corpo, havendo uma solida-
riedade entre eles gerada pela situação do trabalho. No 
projeto, assumi como hipótese a sociedade de controle 
de Deleuze, porém, tendo em mente que essa discussão 
no campo das Ciências Sociais é ampla e envolve diversas 
tradições sociológicas e diferentes autores.
Com a pesquisa realizada, a existência de um só 
corpo parece distante. De acordo com o trabalho de cam-
po, não há uma mesma situação de trabalho para todos os 
trabalhadores, cada setor da loja tem sua mecânica dife-
renciada, havendo pouco contato entre os trabalhadores 
dos diferentes setores dentro das unidades. O próprio 
conversar é inibido pela videovigilância, pois pode ser in-
terpretado como um tempo perdido. Os funcionários, ao 
chegarem, procuram fazer seu trabalho, falando o mínimo 
possível de questões pessoais e mais dos afazeres em si. 
A existência de diferentes turnos, ou seja, um fluxo grande 
de funcionários propicia essa condição mais individual 
dos trabalhadores no interior das lojas observadas. Outra 
questão relacionada à hipótese da sociedade de controle 
é a ideia de que, nesse período, todos se tornaram sus-
peitos (DELEUZE, 1992). Contudo, por meio da observação 
de campo que realizei nesta pesquisa, é possível perceber 
que existem alguns mais suspeitos do que outros. Dife-
renças como classe, renda, gênero e raça permanecem.
Segundo Cardoso (2013), os circuitos internos de 
TV (CFTV) teriam a capacidade de prevenção, ou seja, 
impedir que delitos fossem cometidos no interior dos 
ambientes observados. Realizando a observação nos 
62 LEONARDO JOSÉ OSTRONOFF
supermercados, essa afirmação se confirma. No início da 
pesquisa, o objeto eram as câmeras de vídeo instaladas 
nas unidades, o que mostrou apenas a ponta do iceberg. 
O trabalho de campo permitiu verificar que as câmeras 
são parte de um sistema planejado por um setor das 
empresas chamado de “prevenção de perdas”. Os CFTVs 
não estão isolados, são parte da estratégia para prevenir 
furtos nas lojas. Era preciso então, entender o que é e 
como funciona esse sistema.
O loss prevention ou prevenção de perdas é uma 
operação de logística que consiste no monitoramento 
constante das mercadorias tanto físico — conferência 
de etiquetas e inventários — quanto eletrônico (CFTV). 
Segundo o entrevistado A: “... o principal foco é evitar per-
das... qualquer prejuízo que possa vir causar à empresa e 
ao bolso do proprietário”.
Por meio dos depoimentos, foi possível reconstituir 
um breve histórico da segurança nos supermercados e 
do surgimento do loss prevention. Esse sistema surgiu 
nos Estados Unidos da América, em uma das maiores 
empresas supermercadistas do mundo. Ainda no ano de 
1984, era possível ver seguranças armados que ficavam 
na frente das lojas. Internamente, havia fiscais de loja, que 
tinham por função evitar furtos. Suspeitando de alguém, 
seguiam o indivíduo pela loja, o abordavam na saída da 
loja e levavam para revista. Segundo os depoimentos, 
nessa época

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