Buscar

Transmissão de Obrigações

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1  Transmissão da obrigação
Em uma mesma obrigação, é possível que ocorra alteração de seu elemento subjetivo, ou seja, de seus sujeitos. Quando isso acontece, tem-se a transmissão das obrigações, disciplinada nos artigos 286 a 303 do Código Civil. Existem dois tipos principais de transmissão da obrigação: 
· Cessão de crédito
· Assunção da dívida
· Cessão de contrato
Na transmissão, não ocorre a extinção da obrigação, pois, apesar da alteração dos sujeitos, há a preservação da substância da relação jurídica. Nas palavras de Carlos Gonçalves (2019, p. 217), 
A relação obrigacional é passível, portanto, de alteração na composição de seu elemento pessoal, sem que esse fato atinja sua individualidade, de tal sorte que o vínculo subsistirá na sua identidade, apesar das modificações operadas pela sucessão singular ativa ou passiva. Com a substituição de um dos sujeitos da relação obrigacional, não deixa de ser esta ela mesma, continuando, portanto, a existir como se não houvesse sofrido qualquer alteração. 
Assim, definido o conceito de transmissão da obrigação, passa-se para a análise de suas três espécies. A cessão de crédito e a assunção da dívida são previstas expressamente no Código Civil, enquanto a cessão de contrato trata-se de uma construção doutrinária.
1.1 Cessão de crédito
Cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral entre credor e um terceiro estranho ao negócio original, por meio do qual o credor transfere seu crédito a este. O credor que transfere seu crédito é denominado cedente, enquanto o terceiro que assume seu lugar na obrigação é denominado cessionário (GONÇALVES, 2019). A cessão de crédito pode ocorrer de forma gratuita ou onerosa, de forma total ou parcial. Abrange todos os acessórios do crédito, como juros e direitos de garantia (art. 287, CC). Em regra, ocorre independentemente da anuência do devedor, desde que as partes não tenham convencionado em sentido contrário (art. 286, CC). 
O artigo 286 do Código Civil contem hipóteses de impossibilidade de cessão de crédito: “O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser à natureza da obrigação, à lei, ou à convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação” (BRASIL, 2002). Analisando o referido artigo, tem-se hipóteses em que a própria natureza da obrigação impede a ocorrência de cessão de crédito. Primeiramente, tem-se o caso dos créditos de caráter personalíssimo e os de direito de família (como direito a nome e alimentos). Há também a proibição de cessão em decorrência de lei, citando-se como exemplo o exercício de usufruto (art. 1.393, CC) e o direito à herança de pessoa viva (art. 426, CC). Ainda, aponta-se que, na hipótese em que os cessionários sejam tutores, curadores ou pais do cedente, a cessão só poderá ocorrer se houver permissão judicial para tanto (art. 497, I e 1.691, CC) (GONÇALVES, 2019). Veja, a seguir, um resumo das hipóteses aqui citadas:
Clique para abrir a imagem no tamanho original
Figura 1 - Hipóteses de impossibilidade de cessão de créditoFonte: Elaborado pela autora
Quando ocorrer a cessão, é dever do credor notificar o devedor para que este possa solver a obrigação ao sujeito correto. Só assim a cessão de crédito terá eficácia em relação ao devedor (art. 290, CC). Caso o devedor pague ao credor primitivo (ou seja, ao credor antigo), a obrigação considera-se cumprida. Assim, diz-se que a cessão só é eficaz em relação ao devedor quando este for cientificado). Contudo, ressalta-se que mesmo que seja inoponível por ausência de notificação, não significa que a cessão de crédito seja nula, então, caso o devedor pague ao credor primitivo, cabe ao credor primitivo restituir ao cessionário tudo que recebeu do devedor indevidamente (art. 292 e 293, CC) (GONÇALVES, 2019).
Quanto à oponibilidade da cessão de crédito perante terceiros (pessoas estranhas tanto a obrigação, quanto a cessão), o artigo 288 do Código Civil exige forma especial para esta modalidade de transmissão de crédito: deve ser celebrada mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades previstas no artigo 654, §1º. Ainda quanto à forma, o artigo 289 preceitua que, tratando-se de cessão de crédito hipotecário, o cessionário tem o direito de averbá-la no registro do imóvel.  Quando o credor, que tem a pretensão de ser pago, exige o pagamento do devedor, este deve assim proceder, ou então opor uma exceção que o exime da prestação. O Código Civil, em seu artigo 294, além de esclarecer a possibilidade de opor exceções do devedor para com seu novo credor, preservou as exceções que o devedor tinha contra o cedente, então estas também poderão ser opostas contra o cessionário.  
Ressalta-se que as exceções que o devedor tinha com cedente devem ser opostas assim que for notificado na ocorrência da cessão de crédito. Caso não tenha sido notificado, o devedor poderá opor ao cessionário as exceções que tinha contra o cedente, a qualquer tempo, desde que antes do pagamento (GONÇALVES, 2019). 
O crédito cedido pode ser de difícil cobrança, tendo isso em vista, o artigo 295 do Código Civil estipula responsabilidade do cedente pelo crédito transferido, a depender se a cessão de crédito ocorreu de forma onerosa ou gratuita. Se ocorrer a título oneroso, o cedente fica responsável pela existência e titularidade do crédito no momento da transferência. Se ocorrer a título gratuito, não fica responsável, a menos que tenha agido em má fé.   Contudo, mister destacar que o artigo 295 não se refere à solvência do devedor, pela qual o cedente não é responsável e, assim, os riscos por esta são do cessionário, salvo estipulação em sentido contrário (art. 296, CC). 
Ainda quanto ao artigo 295, Caio Mário Pereira (2018) pontua que tal artigo se refere apenas aos casos de cessão convencional, ou seja, da cessão fruto da vontade das partes. Essa distinção é necessária, pois em caso de cessão de crédito por força da lei, o cedente não tem nenhuma responsabilidade pelo crédito. O artigo 297 do Código Civil, por sua vez, trata da hipótese em que as partes tenham convencionado que o cedente é responsável pela solvência do devedor. Se assim determinar-se, o cedente poderá responder pelo equivalente que tiver recebido do cessionário ao realizar a cessão de crédito, com os respectivos juros e eventuais despesas que o cessionário teve com a cessão. Então, o cedente responsável pela solvência do devedor se compromete não em gerar enriquecimento ao cessionário, mas em não deixar que este tenha prejuízos com a eventual inadimplência da prestação (PEREIRA, 2018).  O artigo 298 do mesmo diploma trata da hipótese em que o crédito que possa ser cedido seja objeto de penhora e, caso isso ocorra, determina que este não poderá ser cedido, afinal, a penhora faz com que o crédito deixe de fazer parte do patrimônio do credor. Então, caso o credor tenha feito transferência de crédito penhorado, esta será ineficaz. Na segunda parte do mesmo artigo, observa-se a consequência da penhora do crédito para o devedor. Caso este não seja notificado da penhora e faça o pagamento, fica exonerado da obrigação. Caso seja notificado e realize o pagamento mesmo assim, seja ao cedente, seja ao cessionário, responderá por novo pagamento perante o terceiro exequente. Dessa forma, o credor que cedeu o crédito que não podia ceder, responde perante o terceiro prejudicado (PEREIRA, 2018).
Por fim, trata-se da hipótese de múltiplas cessões do mesmo crédito. Caso isso ocorra e o devedor não seja notificado (PEREIRA, 2018), conforme o artigo 291 do Código Civil, basta que o devedor pague àquele cessionário que primeiro apresentar o título do crédito cedido.
1.2 Assunção de dívida
Assunção de dívida, também chamada de cessão de débito, ocorre quando o devedor transfere sua posição para um terceiro, estranho à relação jurídica. Trata-se de um negócio jurídico bilateral que requer anuência expressa do credor para acontecer. O terceiro que assume a posição do devedor é chamado assuntore se torna responsável pelos encargos obrigacionais, subsistindo também os acessórios (GONÇALVES, 2019).  Nesse seguimento, prescreve o Código Civil, em seu artigo 299: “É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava” (BRASIL, 2002).  A parte deste artigo que trata da exoneração do devedor primitivo, discorre sobre a possibilidade da assunção ocorrer de forma liberatória ou cumulativa. 
	Assunção de dívida liberatória
	
	Assunção de dívida cumulativa
	
Por esta definição, percebe-se que, uma grande diferença entre a assunção de dívida e a cessão de crédito reside no fato da necessidade obrigatória de consentimento da outra parte. Se na cessão de crédito a concordância do devedor é dispensável, na assunção da dívida a anuência do credor é requisito necessário, devendo, inclusive, se dar de modo expresso (art. 299, parágrafo único, CC).  
Existe apenas uma hipótese em que o Código Civil admite aceitação tácita do credor, qual seja, a do artigo 303, que determina: “O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento” (BRASIL, 2002).  Quanto ao objeto da assunção da dívida, Gonçalves (2019, p. 232) aponta que é possível transferir “todas as dívidas, presentes e futuras, salvo as que devem ser pessoalmente cumpridas pelo devedor.”  Apesar da redação do Código Civil não trazer essa distinção de forma expressa, existem duas espécies de assunção de dívida, segundo a doutrina. A primeira é denominada expromissão e ocorre quando o débito é cedido mediante contrato entre o credor e terceiro, sem necessidade de anuência do devedor. A segunda espécie chama-se delegação, que, por sua vez, ocorre quando o próprio devedor transfere seu débito, com a concordância do credor (DINIZ, 2007). 
Um dos efeitos da assunção de débito é a cessação dos privilégios e garantias pessoais do devedor primitivo, assim, não pode o assuntor opor exceções do antigo devedor contra o credor (art. 302, CC). No mesmo sentido, as garantias especiais dadas pelo credor ao antigo devedor não serão aproveitadas pelo novo devedor (art. 300, CC).   Por fim, analisa-se o conteúdo do artigo 301 do Código Civil, que trata da hipótese de ocorrer anulação da substituição do devedor, ou seja, da assunção da dívida. Se ocorrer, haverá restauração da dívida e a obrigação volta a ser exatamente como era antes da assunção acontecer. Da frustrada substituição do devedor, apenas subsistem eventuais garantias reais dadas pelo assuntor ao credor antes da assunção da dívida ser anulada. Diniz exemplifica (2007, p. 455):
“A” deve a “B”, sendo “C” e “D” seus fiadores. “A e “C” forçam “E” a assumir o débito. “B” e “D” desconhecem a coação sofrida por “E”. “B” aceita a cessão de débito feita a “E”, com isso “A”, “C” e “D” liberar-se-ão. “E” consegue anular a assunção de dívida, alegando vício de consentimento. Com isso revigorar-se-á o débito de “A” e todas as garantias, menos a fiança dada por “D”, já que não tinha ciência daquela coação.
1.3 Cessão de contrato
A cessão de contrato é a única modalidade de transmissão da obrigação não regulamentada pelo direito brasileiro. Contudo, segundo Diniz (2007, p. 457):
a cessão de contrato tem existência jurídica como negócio jurídico inominado por decorrer do princípio da autonomia negocial, pois, desde que os contraentes tenham capacidade, sendo lícito e possível o objeto e não recorrendo a forma proibida legalmente, as partes poderão estipular o que quiserem. Além disso, é preciso lembrar que, se a cessão de crédito e a de débito são permitidas, não há por que vedar a cessão do contrato, já que se do contrato defluem créditos e débitos para os interessados, que os podem transmitir separadamente, não há razão para que não tenham o direito de os transferir no todo. Portanto, na cessão de contrato transmitem-se ao cessionário não só os direitos, mas também as obrigações do cedente. 
Assim, define-se cessão de contrato como a transmissão de obrigação em que ocorre transferência da inteira posição ativa e passiva em um contrato. Em outras palavras, trata-se de um instituto que permite que um sujeito transfira de uma só vez seus débitos e créditos para terceiro. É o que a doutrina denomina de cessão de posição contratual, que Gonçalves define da seguinte maneira (2019, p. 241):
O contrato, como bem jurídico, possui valor material e integra o patrimônio dos contratantes, podendo por isso ser objeto de negócio. Esse valor não se limita ao bem da vida sobre o qual incide a manifestação de vontade das partes, mas abrange um conjunto de atividades representado por estudos preliminares, tratativas, expectativas, viagens, consultas a especialistas, desgaste psicológico, despesas etc., que não pode ser desconsiderado. Esse complexo, que inclui os direitos e as obrigações, os créditos e os débitos emergentes da avença, denomina-se posição contratual, de valor econômico autônomo, passível, portanto, de circular como qualquer outro bem econômico.
A cessão de contrato, então, possui natureza contratual e é composta por três sujeitos: o cedente (transfere sua posição contratual), o cessionário (assume a posição contratual do cedente) e o cedido (o contraente que consente com a realização da cessão) (GONÇALVES, 2019).
A doutrina brasileira estabeleceu três requisitos para que a cessão de contrato possa ocorrer, além das demais regras que se aplicam a qualquer negócio jurídico bilateral:
· deve haver celebração de contrato entre cedente e cessionário;
· a cessão deve ser integral;
· anuência expressa do cedido (PEREIRA, 2018).
Quanto aos efeitos da cessão de contrato entre cedente e contraente cedido, existem duas categorias de cessão de contrato, a cessão de contrato com liberação do cedente e a cessão de contrato sem liberação do cedente. Na primeira, o cedente se exime, completamente, da obrigação, enquanto na segunda, transfere sua posição contratual, mas permanece na obrigação como principal pagador. Trata-se de hipótese em que o cedido não autoriza que o cedente seja liberado (GONÇALVES, 2019). Quanto aos efeitos entre cedente e cessionário, tem-se a transferência ao cessionário de todos os direitos e obrigações do cedente. Por analogia, a doutrina defende que se apliquem aqui as disposições do Código Civil relativas à cessão de crédito, em destaque os artigos 295 e 296 (GONÇALVES, 2019).
Por fim, quanto aos efeitos da cessão de contrato entre cessionário e contraente cedido, a doutrina estabeleceu que as exceções que o cedente possuía não podem ser alegadas pelo cessionário contra o contraente cedido. Também não se transmitem ao cessionário os direitos potestativos do cedente. Para ilustrar, Gonçalves apresenta o seguinte exemplo (2019, p. 249):
Assim, quando o locatário, por exemplo, cede a locação a um terceiro, quem passa a ser locatório perante o proprietário é esse último. É dele que o locador passará a exigir alugueis que se venceram e contra quem poderá promover a resolução ou denúncia do contrato. Por outro lado, é o cessionário quem passa a ter todos os direitos que resultam da locação, podendo opô-los ao locador. Todavia, a aludia transmissão só se produz a partir da data da cessão, não respondendo o novo locatário pelos alugueis vencidos anteriormente. 
2 Cumprimento da obrigação
Ao se constituir uma obrigação, o seu principal objetivo, ou melhor, o efeito que se espera desta, é o cumprimento da obrigação, denominado pelo Código Civil de “adimplemento da obrigação”, também, por vezes, chamado apenas de “pagamento”, em sentindo amplo. As obrigações possuem um ciclo vital, composto por três etapas: seu nascimento, suas transformações e, finalmente, seu cumprimento. Além de etapa final da obrigação, o cumprimento trata-se do objetivo final das demais etapas, pois estas só existem para que ele ocorra, justamente.(FARIAS; ROSENVALD, 2017)
O Código Civil prevê o cumprimento da obrigação em seu Título III do Livro 1, intitulado “Do Adimplemento e Extinção das Obrigações”. Os termos “adimplemento das obrigações” e “extinção das obrigações” encontram-se diferenciados pelo ordenamento pátrio. Segundo Gonçalves (2019), o Código Civil utiliza “adimplemento” como sinônimo de cumprimento da obrigação, ou ainda de pagamento. Assim, define-se cumprimento de obrigação da seguinte maneira (GONÇALVES, 2019, p. 253):
realização voluntária da prestação debitória, tanto quando procede do devedor como quando provêm de terceiro, interessado ou não da extinção do vínculo obrigacional, pois “qualquer interessado da extinção da dívida pode pagá-la” (CC, art. 304) e “igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor” (parágrafo único).
Assim, o cumprimento da obrigação é um modo de extinção da obrigação, através do qual ocorre o cumprimento da prestação devida. Para fins didáticos, para que esta análise do cumprimento da obrigação se dê conforme a nomenclatura utilizada com o Código Civil de 2002, adotar-se-á aqui o termo “pagamento”. Segundo Pereira (2018), este vocábulo tem o sentido de cumprimento voluntário da obrigação, seja por iniciativa do próprio devedor, seja por solicitação do credor. Nesse sentido, mister destacar que o termo “pagamento” adotado pelo Código Civil não é sinônimo de pagamento em dinheiro. O pagamento aqui carrega o significado de forma de liberação do devedor, mediante o cumprimento da prestação. Tendo esta definição de “pagamento” em vista, Pereira (2018) divide as formas de cumprimento da obrigação em três grupos: 1) pagamento; 2) pagamentos especiais; e 3) extinção das obrigações sem pagamento.
O primeiro grupo, que também é chamado pela doutrina pátria de “pagamento direto” trata do conteúdo disciplinado no Código Civil em seus artigos 304 a 333. Por sua vez, o segundo grupo, engloba as seguintes espécies de pagamento: a sub-rogação (art. 346 a 351); consignação (art. 334 a 345); imputação (art. 352 a 355) e dação (art. 356 a 359). Por fim, o terceiro grupo, trata da novação (art. 360 a 367); compensação (art. 368 a 380); confusão (art. 381 a 384); e remissão (art. 385 a 388). 
Assim, nesta unidade, analisa-se o pagamento conforme disciplinado pelo Código Civil, examinando-se seus princípios, sujeitos aptos a participar do cumprimento da obrigação, lugar e tempo do pagamento, objeto do pagamento, pagamento em dinheiro e a prova do pagamento.   Em seguida, estudam-se os pagamentos especiais, ou seja, sub-rogação, consignação, imputação e dação.
Assista aí
Para melhor compreensão do estudo de direito das obrigações daqui para frente, destaca-se a estruturação do título III do Código Civil (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 413-414): o título III é fracionado em nove capítulos, que se resumem em dois grandes seguimentos: o pagamento (capítulo I) e os demais modos extintivos (capítulos II a IX). 
2.1 Cumprimento da obrigação: princípios gerais
O cumprimento das obrigações é presidido por dois princípios gerais: o princípio da pontualidade e o princípio da boa-fé.  O princípio da pontualidade trata da exigência que a prestação da obrigação seja cumprida em tempo, no momento ajustado, de forma integral, no lugar e modo devidos. Trata-se então da determinação que a prestação deve ser cumprida em sua integralidade, para que sempre se siga exatamente o que foi convencionado entre as partes. Farias e Rosenvald (2017) afirmam que o termo vem da noção de cumprimento “ponto por ponto” do estipulado, muito além do mero aspecto temporal.  De acordo com os mesmos doutrinadores, seguindo o entendimento da Jurista Judith Martins-Costa, este princípio pode ser decomposto nos princípios da correspondência, exatidão e integridade. 
Princípio da correspondência
Princípio da exatidão
Princípio da integridade
Analisando-se o princípio da boa-fé, também conhecido como princípio da diligência normal, este exige que as partes ajam de modo correto, desde as tratativas até a cumprimento da obrigação. Segundo Gonçalves (2019), este princípio guarda relação direta com a ideia de que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. Nesse sentido, o artigo 422 do Código Civil diz que “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002, on-line).
2.2 Condições subjetivas do pagamento: capacidade e legitimidade para cumprir ou receber a prestação
As condições subjetivas do pagamento são dividias pelo Código Civil em dois escopos: a de quem deve pagar (arts. 304 a 307, CC) e a daqueles a quem se deve pagar (arts. 308 a 312,CC).   Primeiro, analisa-se o escopo de quem deve pagar. Segundo Pereira (2018), existem três sujeitos que podem realizar o pagamento: 1) o próprio devedor; b) o terceiro interessado; e c) o terceiro não-interessado.  
Próprio devedor
Terceiro interessado
Terceiro não interessado
Ocorre em função do vínculo obrigacional. Em alguns casos, cabe apenas ao devedor o cumprimento da obrigação, como é o caso da obrigação de fazer infungível, por exemplo. 
Mesmo que ocorra oposição do devedor, o credor pode aceitar o pagamento e ter seu crédito satisfeito. Também pode negá-lo, pois trata-se de fundamento válido para recusa. Neste sentido, acrescenta Gonçalves (2019, p. 262):
é inoperante a oposição do devedor ao pagamento de sua dívida por terceiro não interessado, se o credor desejar receber. Só há um meio de evitar o pagamento: é o próprio devedor antecipar-se. Mas se o credor e devedor acordaram em não admitir pagamento por terceiro não interessado, não poderá este pretender fazer desaparecer a dívida, por sua iniciativa.
Por fim, quanto às condições subjetivas de pagamento de quem deve pagar, analisa-se o artigo 307 do Código Civil, que trata do pagamento efetuado mediante transmissão de propriedade. “Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la” (BRASIL, 2002).  Segundo o referido dispositivo, a propriedade de um bem só poderá ser transmitida por quem tinha capacidade de alienar, ou seja, pelo titular do direito real. Caso o pagamento seja efetuado por quem não tinha essa capacidade, este será considerado inválido. Por exemplo, Gabriela furta a bicicleta de Douglas para pagar Jonas, que aceita o pagamento. O pagamento é considerado inválido. Então, Jonas deverá devolver a bicicleta a Douglas, legítimo proprietário, devendo Gabriela responder por perdas e danos a Jonas.  
Contudo, o parágrafo único do artigo 307 excepciona essa regra: caso o pagamento seja através de bem fungível, que venha a ser consumido de boa-fé pelo credor, o pagamento será considerado válido, cabendo ao sujeito prejudicado exigir pagamento de quem efetuou pagamento mediante transmissão de propriedade sem ter capacidade de o fazer. Ilustra-se mediante o seguinte exemplo: Roberta furta dinheiro de Amanda para pagar Ana. Ana, de boa-fé, aceita o pagamento e gasta o dinheiro. O pagamento será considerado válido, Ana não se responsabiliza pelo feito de Roberta e restará à Amanda exigir perdas e danos de Roberta.  
Passa-se agora à análise das condições subjetivas do cumprimento da obrigação sob a esfera daqueles a quem se deve pagar. Conforme preceitua o artigo 308 do Código Civil, “O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito” (BRASIL, 2002). Pela redação deste dispositivo, é possível então identificar dois sujeitos capazes de receber pagamento:
1. o próprio credor; ou
2. a pessoa que o represente.  
No caso de pagamento realizado ao representante do credor, existem três possíveis representantes, segundo Gonçalves (2019):o legal, judicial ou convencional.
· O representante legal é o que decorre de lei (como pais, tutores e curadores).
· O representante judicial é o nomeado por juiz.
· O representante convencional é o nomeado pelo próprio credor, através de procuração outorgada ao credor, com poderes especiais específicos para a quitação da obrigação.  
Ainda segundo o mesmo doutrinador, frisa-se que, no caso do representante legal ou judicial, o pagamento da obrigação só poderá ser feito ao representante, a princípio. Já no caso do representante convencional, a obrigação poderá ser paga tanto ao próprio credor quanto ao seu representante (GONÇALVES, 2019).  
Há ainda, segundo o artigo 311 do Código Civil, a possibilidade de pagar à pessoa diversa do credor ou de seu representante, qual seja, a pessoa autorizada a receber. Aqui, assim como nas hipóteses supra elencadas, garante-se que o pagamento foi feito para a pessoa certa.  
Analisa-se agora o caso de pagamento ao credor putativo, expresso no artigo 309, in verbis: “O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor” (BRASIL, 2002). Credor putativo, é aquele que aparenta ser o verdadeiro credor, mas não o é. Mesmo não o sendo, a lei determina que o pagamento feito a este “credor aparente” será válido sob dois requisitos: deve o credor putativo ter aparência de credor, no sentido de o pagamento a ele ser um erro escusável, e estar o devedor de boa-fé (PEREIRA, 2018). Caso estes requisitos não estejam presentes, não há proteção para o erro do devedor (GONÇALVES, 2019).  Quanto ao pagamento feito ao credor incapaz, o artigo 310 do Código Civil preceitua que, se este for feito pelo devedor que tinha ciência da incapacidade do sujeito ativo, o pagamento será inválido, salvo se o devedor demonstrar que o pagamento foi revertido em proveito do incapaz. Ainda, se o credor for relativamente incapaz e sua incapacidade cessar, pode este quitar o pagamento, tornando-o válido (PEREIRA, 2018). 
Finalmente, analisa-se a redação do artigo 312 do Código Civil, que trata de duas hipóteses em que o pagamento é feito ao credor real e, mesmo assim, será ineficaz, quais sejam: o pagamento efetuado ao credor cujo crédito foi penhorado e também da hipótese de impugnação oposta por terceiro. Em ambos os casos o devedor foi, previamente, cientificado dos fatos. 
Quando a penhora recai sobre um crédito, o devedor não deve pagar ao credor, mas sim depositar em juízo o valor devido. Se mesmo assim pagar ao credor, o pagamento será considerado como inválido e o devedor pode ser constrangido a pagar novamente, de modo correto.  Exemplifica-se com o seguinte caso: 
1. 
 
2. 
 
3. 
 
4. 
Se, mesmo assim, “C” realizar o pagamento a “B”, o juiz poderá determinar que “C” pague “B” (pagando pela segunda vez, portanto).
Assim, “C” se torna responsável pela obrigação de “A” para com “B”, no limite do valor da penhora (R$ 10 mil). 
PreviousNext
Por fim, o artigo 312 ainda prevê a hipótese de impugnação feita por terceiro, que tem os mesmos efeitos do pagamento errôneo em caso de ciência de penhora de crédito. Ou seja, se, mesmo assim, o devedor proceder com o pagamento do credor originário, o pagamento será inválido, podendo o devedor ser constrangido a pagar de novo (GONÇALVES, 2019).
2.3 Condições objetivas do pagamento: do objeto do pagamento
Conforme preceitua o artigo 313 do Código Civil, “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa” (BRASIL, 2002). Por sua vez, o artigo 314 do mesmo diploma legal afirma que o credor não é obrigado a receber, nem o devedor a pagar a prestação por partes, se assim não convencionaram. Ambos artigos evidenciam a valorização do Código Civil do princípio da pontualidade, já explanado anteriormente.  
O artigo 315 do Código Civil trata especificamente das dívidas em dinheiro. São as dívidas em moeda considerando seu valor nominal, ou seja, seu valor econômico. O objeto da prestação, aqui, é o próprio dinheiro. Dívidas em dinheiro são diferentes das dívidas de valor, pois nessas últimas o dinheiro apenas representa o valor do objeto, não sendo o objeto propriamente dito (GONÇALVES, 2019). 
Na sequência, os artigos 316 e 317 do Código Civil, ainda se referindo às dívidas em dinheiro, determinam que é lícito convencionar aumento progressivo de prestações sucessivas, admitindo-se intervenção judicial para a correção do pagamento em casos em que, por motivos imprevisíveis, o valor da prestação se tornar manifestamente desproporcional no momento da execução. Nessa temática, faz-se remissão ao artigo 478 do mesmo diploma legal, que oferece outra saída para os casos em que a prestação se torna excessivamente onerosa.
Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação (BRASIL, 2002).
Conforme preceitua Pereira (2018), o artigo 318 demonstra a adoção pelo ordenamento pátrio do chamado regime nominalista do papel-moeda, no qual o devedor fica obrigado pela quantia em dinheiro que consta no título da dívida, vedando-se estipulação de pagamento em ouro ou moeda estrangeira, a menos no caso de exceções expressamente previstas em lei, como é o caso das importações de mercadorias do estrangeiro (Lei n. 28, 1935).  
Por fim, analisa-se o disposto no artigo 326 do Código Civil, que trata dos pesos e medidas do objeto do pagamento. Pesos e medidas podem variar geograficamente, então, podem ser convencionadas pelas partes e, se não o forem, adotar-se-ão as medidas do local da execução. Por exemplo, a medida agrária chamada “alqueire” varia conforme região do Brasil.
2.4 Modos de prova do cumprimento da obrigação
Segundo o artigo 319 do Código Civil, “O devedor que paga tem direito à quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada” (BRASIL, 2002). A quitação é uma declaração unilateral emitida pelo credor para liberar o devedor da obrigação. É o popular “recibo”. Se o credor recusar e emitir a quitação, o devedor pode, legitimamente, reter o objeto da obrigação e ainda consigná-lo (art. 335, I, CC). Assim, diz-se que a quitação muito mais que um meio de prova, é um direito do devedor (DINIZ, 2007). 
O artigo 320, em seu caput, apresenta os requisitos que a quitação deve ter para ser válida. Contudo, conforme preceitua o parágrafo único do referido artigo, ainda que a quitação não cumpra estes requisitos, poderá ser considerada válida se analisando-se o caso concreto, for possível concluir que de fato o pagamento ocorreu (DINIZ, 2007). 
Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.
Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.
Os artigos 321 a 325 do Código civil tratam de hipóteses em que a quitação tradicional não é suficiente para comprovar o pagamento da dívida. Muitas vezes, a dívida encontra-se incorporada em um título, que tradicionalmente deve ser entregue ao devedor quando ocorre o pagamento (art. 324, CC). Contudo, em certos casos pode ocorrer que o título se perca, situação em que o devedor poderá reter o pagamento e exigir que o título se torne inutilizável (art. 321, CC).   Em caso de uma obrigação que possui pagamento em parcelas, a quitação de uma delas faz com que ocorra a presunção que todas as parcelas anteriores a ela também foram quitadas. Se o credor quiser quitar apenas uma parcela de modo isolado, deve fazer uma ressalva expressa na própria quitação (art. 322, CC).  Por sua vez, o artigo 323 trata da questão dos juros, que são uma espécie de obrigação acessória.Se a obrigação principal for quitada, presume-se que os juros foram, igualmente, quitados. Caso não tenham sido, novamente, o devedor deve fazer uma ressalva expressa na própria quitação. 
Finalmente, o artigo 325 do Código Civil trata das despesas, que, em geral, correm por conta do devedor. Contudo, caso as despesas aumentem no cumprimento da obrigação, ou seja, nas despesas com o pagamento e com a quitação, o adicional será de responsabilidade do credor. 
2.5 Lugar do pagamento
Primeiramente, é necessário distinguir dois tipos de prestação: a prestação quesível e prestação portável. Prestação quesível é a que é paga no domicílio do devedor, enquanto prestação portável é a paga no domicílio do credor.  Em regra, tratando-se da tradição de um bem móvel, o pagamento ocorrerá no domicílio do devedor, salvo convenção das partes e previsão legal em sentido contrário, ou ainda em casos que a natureza da obrigação faça com que a tradição se dê um lugar diverso (art. 327, CC). Então, percebe-se que, em geral, as prestações são quesíveis.  
Quanto à possibilidade de as prestações serem pagas em local diverso do domicílio dos sujeitos da obrigação, são as chamadas dívidas mistas, pela doutrina (FARIAS; ROSENVALD, 2017). Primeiramente, observa-se a redação do artigo 329 do Código Civil: “Ocorrendo motivo grave para que não se efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor” (BRASIL, 2002).  O artigo 328 do Código Civil determina que, tratando-se de bens imóveis, as prestações serão pagas no local onde se encontra o bem.   Por fim, o artigo 330 do Código Civil trata das hipóteses em que o devedor, reiteradamente, efetua o pagamento em um dado local, sem que ocorra oposição do credor, o que faz o devedor acreditar que está realizando pagamento no local devido. Se isso ocorrer, presume-se que o credor renunciou à determinação que o pagamento deveria ocorrer em local diverso.
2.6 Tempo do pagamento
Primeiramente, o Código Civil trata do tempo do pagamento das obrigações sem termo, ou seja, das obrigações pagas sem uma data de vencimento determinada, que deverá ser paga quando o credor demandar, a qualquer momento (art. 331, CC). Aqui, faz-se remissão ao artigo 397, parágrafo único, do Código Civil, que determina que não havendo termo, a mora se constitui através de interpelação judicial ou extrajudicial.  Nas obrigações com termo, também chamadas de obrigações puras, a mora se constitui a partir da data do vencimento estipulada, não sendo necessário que haja interpelação judicial ou extrajudicial (art. 397, caput, CC). 
O Código Civil traz, de forma apartada, o tempo do pagamento das obrigações condicionais, que são aquelas que, como o próprio nome diz, possuem uma condição para seu implemento. Nestas, seu cumprimento se dá justamente na data do implemento da condição, cabendo ao credor provar que o devedor teve ciência da sua ocorrência (art. 332, CC).  Finalmente, o artigo 333 do Código Civil - cuja leitura deve ser realizada em conjunto com o artigo 1.425 do mesmo diploma legal - cuida das hipóteses de vencimento antecipado, em que o credor pode exigir o pagamento antes da data de vencimento estipulada (GONÇALVES, 2002). As hipóteses em que isso pode ocorrer estão previstas nos incisos deste artigo (BRASIL, 2002): 
I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;
III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
3 Modalidades de pagamento especial
Conforme aludido anteriormente, “pagamento” nada mais é do que uma forma de extinção das obrigações. Além do pagamento comum, existem as modalidades de pagamento especial, quais sejam: a consignação, pagamento com sub-rogação, imputação de pagamento e dação em pagamento, que serão aqui analisadas. 
3.1 Consignação de pagamento
O pagamento em consignação encontra-se previsto no Código Civil nos artigos 334 a 345 e é classificado pela doutrina como uma espécie de pagamento indireto. Para entender a consignação de pagamento, deve-se ter em vista que o pagamento da obrigação não interessa só o credor, mas também ao devedor, que se libera do vínculo obrigacional. Trata-se da compreensão que o devedor não tem apenas o dever de pagar, mas também direito de pagar (PEREIRA, 2018). 
Por vezes, pode o credor se negar a receber o pagamento, obstaculizando o cumprimento da obrigação e a sua devida quitação. É justamente pensando no cenário em que ocorre a recusa indevida do pagamento que o Código Civil prevê a consignação de pagamento, que nada mais é do que um modo de satisfazer o interesse de pagar do devedor, sem cooperação do credor, para liberar-se do vínculo obrigacional (PEREIRA, 2018). 
Quando o credor recusa-se a receber o pagamento sem justa causa, o devedor poderá optar pelo depósito extrajudicial, ou pode ajuizar uma ação de consignação em pagamento (art. 334, CC). Apesar do pagamento em consignação ser um direito do devedor, este só pode ocorrer nas hipóteses legais, previstas no artigo 335 do Código Civil, quais sejam (BRASIL, 2002):
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
Os incisos I e II do artigo 335 tratam de hipóteses de mora do credor, enquanto que os incisos III, IV e V tratam de circunstâncias inerentes ao credor que impedem o devedor de satisfazer sua pretensão e exonerar-se da obrigação. Os requisitos para a validade da consignação encontram-se previstos no artigo 336 do Código Civil, que determina que estes são os mesmos do pagamento comum, previstos nos artigos 304 a 333, analisados anteriormente. Ainda, além de preencher estes requisitos gerais, deve preencher os requisitos específicos disciplinados nos artigos 341 a 343 do mesmo diploma legal (GONÇALVES, 2019). 
Quanto ao objeto da consignação, este pode ser de dinheiro, bens móveis ou imóveis. Contudo, tratando-se de consignação extrajudicial, que é aquela que acontece via depósito em instituição bancária da coisa devida, observa-se que esta hipótese só é passível de utilização nas obrigações pecuniárias. Aqui, o devedor se dirige à instituição financeira, realiza o depósito do valor da dívida e, então, o banco expede uma carta ao credor, notificando-o do depósito.   Conforme previsão do artigo 539 do Código de Processo Civil, o credor terá 10 dias para responder, podendo proceder de três maneiras: 
· 
· 
· 
Caso o credor recuse o pagamento expressamente, o devedor poderá, no prazo de 1 mês, propor ação judicial de consignação, aproveitando o depósito já efetuado extrajudicialmente (art. 539, §3º, CPC). Também poderá aguardar o fim deste prazo e levantar o depósito, não obtendo quitação da dívida (art. 539, §4º, CPC).  
Por sua vez, no procedimento da consignação judicial, deve o devedor, em sua petição inicial da ação de consignação de pagamento, narrar uma das hipóteses prescritas no artigo 335 do Código Civil. Os requisitos da petição inicial encontram-se previstos no artigo 542 do Código de Processo Civil. 
Assim que ocorre o depósito, seja ela extrajudicial ou judicial, cessam para o devedor depositante os juros da dívida e os riscos, a menos que a ação de consignação de pagamento venha a ser julgada improcedente (art. 337, CC). 
Enquanto o credor não aceitar o depósito, este poderá ser levantado pelo devedor, que não terá sua dívida quitada. Contudo, quando for julgada procedente a eventual ação de consignação, cessa o poder do devedor de levantar o depósito (art. 338 e 339, CC). Observar-se ainda que as despesasdo processo correm por conta de quem não tem sua pretensão satisfeita na ação (art. 343, CC e art. 546, CPC).  
Quanto aos efeitos da consignação, cita-se a já mencionada suspensão da mora do artigo 337, observando-se que, caso o devedor tenha sua ação de consignação julgada improcedente, os efeitos da mora retroagirão até a data de vencimento da dívida. Por fim, pontua-se o previsto no artigo 340 do Código Civil, que determina que, caso o credor conteste o depósito ou o aceite, mas consentir expressamente com o levantamento do depósito pelo devedor, o credor perderá suas garantias em relação à coisa consignada, e os co-devedores serão perdoados (art. 340, CC).
Importante frisar que para estudar a modalidade de pagamento especial, denominada consignação, deve-se realizar um estudo interdisciplinar do instituto, atentando-se não apenas para as previsões do Código Civil, como para as disposições do Código de Processo Civil, que trata da ação de pagamento em consignação nos seus artigos 539 a 549. Tal ação possui procedimento especial de jurisdição contenciosa (FARIAS; ROSENVALD, 2017). A leitura de ambos os diplomas legais deve ser realizada concomitantemente.
3.2 Sub-rogação de pagamento
A sub-rogação se traduz tanto na substituição de uma pessoa na obrigação (sub-rogação pessoal), quanto na substituição de uma coisa (sub-rogação real). Na sub-rogação real, “a coisa que toma o lugar da outra fica com os mesmos ônus da primeira” (GONÇALVES, 2019, p. 307). Em outras palavras, o valor de uma coisa substitui o valor de outra, adquirindo a mesma condição e regime jurídico. Por exemplo, “no regime de comunhão parcial de bens entram na comunhão os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso (CC, art. 1.660, I).” (GONÇALVES, 2019, p. 307).  Por sua vez, na sub-rogação pessoal, os direitos do credor são transferidos para terceiro que solveu a obrigação. Por exemplo, no caso em que, havendo pluralidade de devedores em uma obrigação indivisível, apenas um paga sozinho a integralidade da prestação, sub-rogando-se no direito do credor em relação aos demais co-devedores (art. 259, CC).  Ainda, a sub-rogação é classificada em legal e convencional. A sub-rogação legal é aquela prevista no artigo 346 do Código Civil, que preceitua as seguintes hipóteses (BRASIL, 2002): 
Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:
I - do credor que paga a dívida do devedor comum;
II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.
O inciso II do referido artigo, engloba duas situações distintas. Na primeira, o adquirente de imóvel hipotecado, para evitar a execução deste bem, efetua o pagamento da hipoteca, sub-rogando-se no direito de cobrar do verdadeiro responsável pela hipoteca, ou seja, do antigo proprietário do imóvel. Ainda, existe a situação que o Código Civil protege do terceiro que também tenha interesse nas consequências da hipoteca por direito diverso, como, por exemplo, o locatório do imóvel hipotecado, visando à manutenção da sua posse. Como exemplo do inciso III, cita-se o caso de fiador, terceiro interessado, por poder sofrer com as consequências da dívida. Vale ressaltar aqui, que terceiro não interessado não se sub-roga nos direitos do credor, salvo hipótese de sub-rogação convencional (GONÇALVES, 2019). Por sua vez, o artigo 347 trata da sub-rogação convencional.
Art. 347. A sub-rogação é convencional:
I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos;
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.
Da redação do supra dispositivo, apreende-se que a sub-rogação convencional pode se dar tanto por declaração do devedor quanto por declaração do credor, não aplicando-se a sub-rogação legal em nenhuma dessas situações. 
O artigo 349 prevê os efeitos da sub-rogação, que “transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores” (BRASIL, 2002). A única exceção a estes efeitos é o caso da sub-rogação legal, onde sub-rogado exerce os direitos e ações do credor primitivo apenas proporcionalmente ao que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. Em outras palavras, o sub-rogado está limitado a cobrar o que ele pagou (art. 350, CC). 
Por fim, analisa-se a redação do artigo 351 do Código Civil que afirma que, em caso de sub-rogação parcial, onde o sub-rogado não assume completamente a posição do credor originário, permanecendo ambos na obrigação, o credor originário terá direito de preferência em relação ao sub-rogado na cobrança da dívida restante. 
O pagamento com sub-rogação possui proximidade com o instituto da cessão de crédito. Desta forma, o próprio artigo 348 do Código Civil dispõe que no caso de sub-rogação convencional, em que o credor recebe o pagamento de terceiro, expressamente, transferindo-lhe seus direitos, deve-se aplicar as regras da cessão de crédito. Contudo, os dois institutos não se confundem, pois possuem finalidades muito diversas: enquanto a cessão de crédito visa à circulação do crédito e eventual lucro, a sub-rogação objetiva, em regra, na exata proporção do pagamento, focando, normalmente, em proteger a situação de terceiro que paga dívida que não é sua (GONÇALVES, 2019).
3.3 Imputação de pagamento
A imputação de pagamento encontra-se prevista no Código Civil, nos artigos 352 a 355. Esta modalidade de cumprimento da obrigação através de pagamento especial se aplica aos casos em que, havendo multiplicidade de débitos da mesma natureza entre um devedor e um credor, o pagamento realizado pelo devedor é insuficiente para saldar a totalidade das dívidas deste para com o credor. Assim, quando surge a dúvida sobre a qual dívida se aplicará o pagamento, usa-se a imputação de pagamento, que levará a extinção de uma ou mais dívidas (GONÇALVES, 2019). 
Nesta perspectiva, observa-se a redação do artigo 352 do Código Civil: “A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos” (BRASIL, 2002).  
Reconhecida a imputação de pagamento ao devedor, o Código Civil confere algumas faculdades ao credor. O artigo 353 determina que, caso o devedor efetue o pagamento sem definir qual das dívidas está saldando, a escolha ficará imputada ao credor. Já o artigo 354 determina que, se o débito for de capital e juros, o pagamento será destinado, primeiramente, aos juros e, posteriormente, ao capital, salvo disposição em sentido contrário convencionada pelas partes, ou ainda se o credor passar a quitação por conta do capital (PEREIRA, 2018). 
Por fim, o Código Civil prevê, em seu artigo 355, a possibilidade em que o devedor efetua o pagamento e, além deste não indicar qual dívida será saldada, o credor também não o faz. Quando isso ocorrer, seguir-se-á a imputação em virtude de lei, que determina: “esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa” (BRASIL, 2002).
Assista aí
3.4 Dação em pagamento
O artigo 356 do Código Civil preceitua que na dação em pagamento, que também é uma forma de pagamento indireto, ocorre na hipótese em que “o credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida”. Em outras palavras, dação em pagamento é um acordo de vontades entre credor e devedor, por meio da qual o credor concorda em receber prestação diversa da que lhe é devida, para assim exonerar o devedor da dívida.  
Depreende-se deste conceito, os elementos constitutivos da dação. Nas palavras de Gonçalves (2019, p. 330-331), são estes: “a) existência de uma dívida, b) a concordânciado credor, verbal ou escrita, tácita ou expressa; c) a diversidade da prestação oferecida em relação à dívida originária.”  
Para que a obrigação se extinga na dação, basta que a prestação distinta da devida seja executada. Essa substituição de prestações, segundo Gonçalves (2019), pode ocorrer mediante acordo, com substituição de dinheiro por um bem, de coisa por outra, de uma coisa pela prestação de fato, de coisa por obrigação de fazer etc.  
Segundo Pereira (2018), o bem dado não precisa ter o mesmo valor da obrigação original, podendo ter tanto um valor superior quanto inferior, basta haver acordo entre as partes. Neste sentido, mister salientar que a estipulação de um valor na dação não é sequer um requisito obrigatório. Contudo, conforme preceitua o artigo 357 do Código Civil, no caso específico da valor da coisa dada em pagamento, valerão as normas de contrato de compra e venda para regular as relações.  
Observa-se que, caso a coisa dada em pagamento seja título de crédito, a transferência operar-se-á como cessão de crédito (art. 358, CC). Por fim, o artigo 359 preceitua que o alienante responde pela evicção. “Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros” (BRASIL, 2002, on-line). 
É ISSO AÍ!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
· conhecer que a cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral entre credor e um terceiro estranho ao negócio original, por meio do qual o credor transfere seu crédito a este;
· aprender que assunção de dívida, também chamada de cessão de débito, ocorre quando o devedor transfere sua posição para um terceiro, estranho à relação jurídica;
· compreender que o cumprimento das obrigações é presidido por dois princípios gerais: o princípio da pontualidade e o princípio da boa-fé;
· esclarecer que a sub-rogação se traduz tanto na substituição de uma pessoa na obrigação (sub-rogação pessoal) quanto na substituição de uma coisa (sub-rogação real);
· conhecer que a cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral entre credor e um terceiro estranho ao negócio original, por meio do qual o credor transfere seu crédito a este;
· estudar que a dação em pagamento é um acordo de vontades entre credor e devedor, por meio da qual o credor concorda em receber prestação diversa da que lhe é devida, para assim exonerar o devedor da dívida. 
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
BRASIL. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 01 dez. 2017.
BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 31 out. 2019.
COELHO, F. U. Curso de direito civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2.
DINIZ, M. H. Curso de direito civil brasileiro. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2.
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N. Curso de direito civil. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 2017. v. 2.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. v. 2.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de direito civil. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. v. 2.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.

Continue navegando