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Saúde e Doenças no Brasil

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Apresentação 
 
Nádia Maria Weber Santos 
Zilda Maria Menezes Lima 
 
 
É com muita satisfação que apresentamos a coletânea que 
intitulamos "Saúde e doenças no Brasil – perspectivas entre a 
História e a Literatura". Esta obra teve seu nascedouro em Vitória 
(ES), no ano passado (2017), numa conversa informal entre nós, as 
organizadoras, quando participávamos do 7º. Colóquio História das 
Doenças. A inspiração veio-nos de uma mesa redonda em que 
discorríamos acerca das interlocuções entre História e Literatura, no 
citado evento. 
Poucos meses depois, entramos em contato com vários 
colegas pesquisadores do tema da Saúde e da Doença, no sentido de 
convidá-los a construir conosco a proposta que ora apresentamos. 
Desse modo é que, a partir da valiosa contribuição de pesquisadores 
de várias universidades e centros de pesquisa do Brasil, propomos 
aqui algumas reflexões acerca dos processos que envolvem o 
binômio saúde/doença numa perspectiva histórica. Porém, como o 
título do livro esclarece, tais reflexões ocorrem, a partir do aporte 
metodológico de narrativas literárias – romances, contos, novelas, 
diários, escrita de memorialistas e arquivo digital, entre outros. 
Esclarecemos que embora tenhamos clareza das diferenças ente 
literatura e história enquanto campos do saber e tenhamos a 
compreensão que a aproximação entre história e literatura, história 
e memória não se apresente como um diálogo entre categorias 
idênticas, não podemos desprezar a proximidade de ambas como 
manifestação do valor da transdisciplinaridade (DOSSE, 2003, 
10 | Saúde e Doenças no Brasil: Perspectivas entre a História e a Literatura 
 
p.403-414), quando a riqueza da narrativa histórica deixa 
transparecer algo mais do que o simples emprego da racionalidade, 
quando as sensibilidades se apresentam como manifestações de 
testemunhos históricos. 
Dividimos o livro em três partes, na tentativa de possibilitar 
uma melhor visibilidade às reflexões estabelecidas por cada autor e 
considerando algumas características específicas relativas às 
temáticas por eles abordadas. Assim, na primeira parte, intitulada A 
Lepra e narrativas literárias - Daniele Borges Bezerra e Juliane 
Serres bem como Simone Santos de Almeida e Sebastião 
Pimentel Franco apresentam duas obras de memória, produzidas 
por pessoas que foram acometidas pela lepra (hoje Hanseníase) e 
que utilizaram a literatura para narrar suas experiências no 
isolamento compulsório. Nos dois casos “discutem como as 
narrativas em primeira pessoa, materializadas em livros de cunho 
autobiográfico, constituem-se como ferramentas para a transmissão 
de memórias silenciadas, como lugares de memória da doença, e 
como instrumentos de resistência diante da invisibilidade 
programada pelos antigos hospitais-colônia”. No terceiro texto desta 
primeira parte, Francisca Gabriela Bandeira Pinheiro e Zilda 
Maria Menezes Lima lançam olhares sobre o Diário de um médico 
cearense, Antônio Alfredo da Justa, que nas primeiras décadas do 
século XX, dedicou boa parte das suas atividades profissionais ao 
trato com a endemia leprótica e seus acometidos no estado do Ceará. 
Essa escrita privada do médico – inédita até este momento, são 
escritos lacunares e tímidos em contraste com um profissional que 
forjou em toda sua vida uma imagem pública grandiosa. 
Na segunda parte do livro, que nomeamos Doença Mental, 
Religião, Memória e Sensibilidades, Artur Cesar Isaia analisa as 
práticas mediúnicas e a vivência de valores mágico-míticos 
presentes na obra de João do Rio, sobretudo em As religiões do Rio. 
Isaia advoga que nesta obra, principalmente, o autor estreitará os 
liames interdiscursivos com o discurso médico da época, 
construindo a patologização do transe: seja o transe acontecido nos

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