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Comportamento Organizacional Processos Relacionados ao Indivíduo (Aprendizado, Percepção, ersonalidade, Atitudes e Valores, Emoções e Sentimentos) Desenvolvimento do material Suely Motta 1ª Edição Copyright © 2022, Afya. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Afya. Sumário Processos Relacionados ao Indivíduo (Aprendizado, Percepção, ersonalidade, Atitudes e Valores, Emoções e Sentimentos) Para início de conversa... ................................................................................ 4 Objetivos ......................................................................................................... 5 1.Aprendizado e Percepção ........................................................................... 5 2. Personalidade, Atitudes e Valores .......................................................... 7 3. Emoções e Sentimentos: Aspectos Conceituais e Aplicações no Comportamento Organizacional ............................................................. 15 4. Diversidade nas Organizações ................................................................. 15 4.1 Características Pessoais ...................................................................... 15 4.2 Diversidade .............................................................................................. 18 4.3 Discriminação ......................................................................................... 19 4.4 Estratégia de Gestão da Diversidade .............................................. 19 4.4.1 Programas de Diversidade Eficazes ............................................. 20 5.Direitos Humanos e Trabalho .................................................................... 21 6. Educação das Relações Étnico-raciais para o Ensino de História e Culturas Afro-brasileira e Indígena ........................................................ 22 7. Pessoas com Deficiência ............................................................................. 24 8. Pessoas com Transtorno do Espectro Autista ..................................... 24 9. Motivação e Desempenho no Trabalho ................................................ 26 Referências ........................................................................................................ 27 Comportamento Organizacional 3 Para início de conversa... Estamos juntos, novamente, para mais alguns estudos sobre o Comportamento Organizacional. Depois de definir e subdividir o comportamento em micro, meso e macrorganizacional, nesta unidade, vamos iniciar a discussão sobre algumas questões fundamentais do comportamento microrganizacional, como a atitude no local de trabalho, personalidade e valores, bem como a necessidade de alinhamento destes aos valores e objetivos organizacionais. Antes de nos aprofundarmos nesses assuntos, gostaria de expor algumas questões sempre presentes nas organizações contemporâneas e que muitas vezes ninguém nos conta antes de sermos efetivamente contratados, mas que inevitavelmente perceberemos ao longo do tempo. O que, afinal de contas, as organizações esperam de você? Primeiramente, esperam que você suporte a pressão — lidar com prazos apertados, egos inflados e responsabilidades cada vez maiores vai fazer parte do dia a dia de trabalho na maioria das organizações em que você for trabalhar. Também se espera que você mantenha a serenidade em suas atitudes — por mais grave que seja a situação do momento, é importante ter sangue-frio e superar com profissionalismo o que precisar ser encarado. As empresas também esperam atitudes que demonstrem que ocê está preocupado e pronto, desejando aprender. Certamente uma atitude humilde fará toda a diferença nesta questão. O desenvolvimento da empatia para entender o que o outro precisa e conseguir transmitir ramo de atividade escolhido, qualquer gestor vai lidar com pessoas, que precisarão ser compreendidas e ter seus desejos interpretados. Além disso, falaremos sobre a importância da inteligência emocional e de detectar as emoções nos outros e saber administrar as nossas. Comportamento Organizacional 4 Objetivos Ao final desta unidade de apredizagem, você será capaz de: ▪ Compreender a importância do aprendizado para o desempenho nas organizações; ▪ Identificar o que é percepção e sua influência sobre as atitudes; ▪ Identificar os valores e a importância destes na satisfação ou insatisfação das pessoas no trabalho; ▪ Conhecer as principais Teorias de Motivação; ▪ Compreender a influência da diversidade nas organizações e sua contribuição para as empresas, bem como suas implicações nos aspectos do comportamento humano. 1.Aprendizado e Percepção Atualmente, o mundo corporativo exige um processo de aprendizagem contínua. E nenhuma disciplina é melhor do que comportamento organizacional para iniciar reflexões sobre aprendizado, afinal, no processo de aprendizagem, devemos observar que: ▪ O processo resulta em mudança de comportamento; ▪ A aprendizagem decorre da prática; ▪ A mudança de comportamento produzida é quase permanente; ▪ O processo de aprendizagem não é diretamente observável, mas certamente uma das variáveis que influenciam o desempenho do indivíduo no trabalho. Sabemos que a capacidade de aprender é maior ou menor, dependendo do aspecto analisado. De acordo com o indivíduo, a percepção também é um atributo que varia enormemente de acordo com cada um. E você, sabe o que é percepção? De acordo com Robbins (2010), a percepção pode ser definida como o processo pelo qual os indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais com a finalidade de dar sentido ao seu meio. Comportamento Organizacional 5 Obviamente, a percepção é um atributo essencialmente individual, ou seja, o que uma pessoa percebe pode ser substancialmente diferente da realidade objetiva. Mas, o mundo que importa para o comportamento é a forma em que é percebido. Algumas tendências a simplificar o processo de julgamento das outras pessoas influenciam bastante na percepção, e podem conduzir a erros e levar a distorções importantes. Primeiramente, existe uma tendência de todos nós a interpretar seletivamente o que vemos, com base em nossos interesses, experiências e atitudes. Dentro de uma empresa, essa tendência leva determinado grupo a focar nos interesses do grupo que representa. Todas essas tendências e suas distorções levam a consequências tanto nos processos de Recrutamento e Seleção quanto em processos de avaliação do desempenho individual. Afinal, essas distorções apresentadas que tanto influenciam a percepção certamente irão atuar sobre a tomada de decisão. Como isto ocorre? O tempo todo dentro das organizações os indivíduos tomam decisões, sempre fazendo escolhas entre duas ou mais alternativas. Claro que, para que as decisões sejam tomadas, buscando sempre a solução de problemas que se apresentam cotidianamente, diversas informações precisam ser interpretadas e avaliadas. Sendo assim, a percepção das pessoas que participam de cada processo decisório influencia na decisão final: contratar ou não uma mulher com quatro filhos? Se o responsável pelo processo seletivo cria um estereótipo de que “mulheres com muitos filhos têm muitos problemas de ordem pessoal que atrapalham na produtividade da organização”, provavelmente, a opção será por não contratar. E a empresa poderá perder uma excelente profissional. Outro exemplo: diante de uma oportunidade de promoção, a escolha entre profissionais com potencial para o cargo pode sofrer influência do efeito halo (apenas os funcionários mais bonitos terem esta chance) ou do efeito de contraste (em função de um desempenho superior em um determinado aspecto, acabam tendo uma avaliação superior e ganhando o “jogo”). Entretanto, para agircom justiça, o desempenho dessas pessoas deveria ser analisado de maneira independente de todas essas possíveis distorções. Se tomar decisões de maneira racional for a opção, os erros de percepção que acabamos de apresentar aqui, por exemplo, serão minimizados. E por quê? Porque o modelo racional da tomada de decisão prevê que a pessoa faz escolhas consistentes para maximizar o valor dentro de limitações especificadas. Os seis passos que compõem esse modelo indicam como o indivíduo deve se comportar para maximizar determinados resultados. Comportamento Organizacional 6 De acordo com Robbins (2010, p168), os passos do modelo racional de tomada de decisão são: ▪ Definir o problema ▪ Identificar os critérios para a decisão; ▪ Atribuir pesos específicos a cada um desses critérios; ▪ Desenvolver alternativas; ▪ Avaliar as alternativas; ▪ Escolher a melhor alternativa. 2. Personalidade, Atitudes e Valores Claro que os aspectos estudados até aqui têm relação com a personalidade do indivíduo. Mas, o que é personalidade? Segundo Robbins (2010), de acordo com a definição de Gordon Allport, há cerca de 70 anos atrás, ele afirmava que personalidade é “a organização dinâmica interna daqueles sistemas psicofísicos do indivíduo que determinam seu ajuste individual ao ambiente.” Em outras palavras, a personalidade é a soma total das maneiras como uma pessoa reage e interage com as demais. Ela é mais frequentemente descrita com base nos traços mensuráveis exibidos por um indivíduo. A personalidade tem alguns determinantes, podendo ser resultado tanto da hereditariedade quanto do ambiente. Entretanto, pesquisas apontam uma maior influência da hereditariedade do que do ambiente, ou seja, a genética tem enorme impacto sobre a personalidade das pessoas. Como podemos classificar as pessoas pela personalidade? Um dos modelos mais utilizados é o Myers-Briggs (MBTI). Esse teste de personalidade com 100 questões avalia como as pessoas agem ou se sentem em diversas situações. No Quadro 3, apresentamos de forma resumida a classificação deste modelo: Classificação dos indivíduos: Isso quer dizer: Extrovertidos ou introvertidos Os extrovertidos são expansivos, sociáveis e assertivos, enquanto os introvertidos são quietos e tímidos. Sensoriais ou intuitivos Os sensoriais são pragmáticos e preferem ordem e rotina, focando nos detalhes. Os intuitivos confiam em processos inconscientes, são mais criativos e têm uma visão ampliada das situações. Comportamento Organizacional 7 Racionais ou emocionais Os racionais usam a lógica e o raciocínio para lidar com problemas, tomando decisões objetivas, enquanto os emocionais tomam decisões baseadas em valores pessoais e sentimentos acerca do assunto. Julgadores ou perceptivos Os julgadores gostam de ter controle e querem ter seu mundo estruturado e organizado. Os perceptivos são flexíveis e espontâneos e tendem a sentirem-se ansiosos e inseguros ao tomar decisões. Quadro 3: Pessoas versus personalidades. Fonte: Do autor Outro modelo para a classificação da personalidade, conhecido como Big Five, engloba as cinco principais variações da personalidade humana: ▪ Extroversão: nível de conforto da pessoa com seus relacionamentos. Extrovertidos tendem a ser agregadores, assertivos e sociáveis, ao passo que os introvertidos são reservados, tímidos e quietos. ▪ Amabilidade: propensão de um indivíduo para acatar as ideias dos outros. Pessoas amáveis são cooperativas, receptivas e confiáveis. ▪ Abertura para experiências: demonstra o interesse das pessoas por novidades, podendo apontar o nível de criatividade, curiosidade e sensibilidade artística. ▪ Conscienciosidade: medida de confiabilidade. As pessoas conscienciosas são responsáveis, organizadas, confiáveis e persistentes. Quando falta ponto nesse quesito há distração, desorganização e pouca confiança. ▪ Estabilidade emocional: capacidade para lidar com o estresse. A estabilidade emocional traz calma, autoconfiança e segurança. O Quadro 4 apresenta alguns exemplos da aplicação desses traços de personalidade no comportamento organizacional: Traços do modelo Big Five Por que é importante? O que afeta? Estabilidade Emocional Menos pensamentos e emoções negativas; Menor hipervigilância. Maior satisfação pessoal e no trabalho; Menores níveis de estresse. Extroversão Melhores habilidades interpessoais; Maior dominância social; Mais expressão emocional. Desempenho melhor; Liderança aumentada; Maior satisfação na vida e no trabalho. Abertura para experiências Aumento do nível de aprendizagem; Mais criatividade; Maior flexibilidade e autonomia. Desempenho no treinamento; Liderança aumentada; Mais adaptável a mudanças. Comportamento Organizacional 8 Amabilidade Mais amado; Menos contestador e mais conformado. Melhor desempenho; Níveis menores de desvios de comportamento no trabalho. Conscienciosidade Maior esforço e persistência; Mais energia e disciplina; Mais organizado e planejador. Melhor desempenho; Liderança aumentada; Maior longevidade. Quadro 4: Influência dos traços de personalidade do Big Five no Comportamento Organizacional.Fonte: Adaptado de Timothy A. Judge; Stephen P. Robbins; Filipe Sobral (2010, p.132). Claro que existe estreita relação entre a personalidade de um indivíduo e seus valores, afinal, valores são as convicções básicas de que um modo específico de conduta ou uma condição de existência é individual ou socialmente preferível ao modo oposto. Esses valores podem ser terminais (relacionados às metas que uma pessoa pretende atingir na vida) ou instrumentais (representando os meios para se chegar a essas metas). Os quadros abaixo trazem exemplos de valores e os relacionam com diferentes atividades profissionais exercidas. Veja: Valores terminais Valores instrumentais Uma vida confortável (próspera) Ambição (esforço no trabalho, vontade) Uma vida emocionante (ativa e estimulante) Visão ampla (mente aberta) Um sentido de realização (contribuição duradoura) Capacidade (competência, eficácia) Um mundo em paz (livre de guerras ou conflitos) Animação (alegria, contentamento) Um mundo de beleza (beleza da natureza e das artes) Limpeza (asseio, arrumação) Igualdade (fraternidade, oportunidades iguais para todos) Coragem (defesa de seus ideais) Segurança familiar (cuidado com os entes queridos) Perdão (capacidade de perdoar os outros) Liberdade (independência, liberdade de escolha) Ser prestativo (trabalhar pelo bem-estar dos demais) Felicidade (contentamento) Honestidade (sinceridade, ser verdadeiro) Harmonia interior (libertação de conflitos interiores) Imaginação (ousadia, criatividade) Amor maduro (intimidade espiritual e sexual) Independência (autoconfiança, autossuficiência) Segurança nacional (proteção contra ataques) Intelectualidade (inteligência, capacidade de reflexão) Comportamento Organizacional 9 Prazer (uma vida com alegria e lazer) Lógica (coerência, racionalidade) Salvação (vida eterna) Afetividade (carinho, ternura) Respeito por si próprio (autoestima) Obediência (ser respeitável, cumpridor dos deveres) Reconhecimento social (respeito, admiração) Polidez (cortesia, boas maneiras) Amizade verdadeira (forte companheirismo) Responsabilidade (compromisso, ser confiável) Sabedoria (compreensão madura da vida) Autocontrole (limites, autodisciplina) Quadro 5: Valores terminais e instrumentais segundo o Levantamento de Valores de Rokeach. Fonte: Adaptado de Timothy A. Judge; Stephen P. Robbins; Filipe Sobral (2010, p. 140). Gestores Sindicalistas Ativistas Valores terminais Valores instrumentais Valores terminais Valores instrumentais Valores terminais Valores instrumentais 1. Respeito por si próprio (autoestima) 1. Honestidade 1. Segurança familiar 1. Esponsabilidade 1. Igualdade 1. Honestidade 2. Segurança familiar 2. Segurança familiar 2. Liberdade 2. Honestidade 2. Honestidade 2. Ser prestativo 3. Liberdade 3. Capacidade 3. Capacidade 3. Coragem3. Segurança familiar 3. Coragem 4. Sentido de realização 4. Ambição 4. Respeito por si próprio (autoestima) 4. Independência 4. Respeito por si próprio (autoestima) 4. Responsabilidade 5. Felicidade 5. Independência 5. Amor maduro 5. Capacidade 5. Liberdade 5. Capacidade Quadro 6: Valores relacionados a algumas atividades profissionais. Fonte: Adaptado de Timothy A. Judge; Stephen P. Robbins; Filipe Sobral (2010, p. 140). Geert Hofstede também liderou um estudo sobre diferenças culturais e suas influências no trabalho efetuado nas empresas, no início da década de 1970. O objetivo dessa pesquisa era identificar diferenças competitivas entre países, tendo sido realizada em mais de 70 nações. O modelo trabalha com cinco dimensões, são elas: Dimensões Escala Distância do Poder Resistência à Incerteza Individualismo e Coletivismo Masculinidade e Feminilidade Alta Diferencial social Relação formais (estrutura, rituais) Autodeterminação (crescimento pessoal) Relações de controle (comportamento competitivo) Baixa Integração social (status igual) Relações informais (menos controle) Coletividade (harmonia de grupo) Criação de relações (menos competitivo) Quadro 7: A mensuração e a escala das dimensões culturais de Hofstede. Fonte: Adaptado de scielo.br Comportamento Organizacional 10 Os valores mudam também de acordo com as diferentes gerações, background cultural e emocional de cada um, mas exercem bastante influência nas escolhas profissionais que o indivíduo faz durante a vida. E certamente, um gestor precisa conhecer esses valores fundamentais para encaixar as pessoas em atividades e tarefas compatíveis. Veja alguns exemplos no Quadro 8: Tipo Características da Personalidade Ocupação congruente Realista: prefere atividades físicas que exijam habilidade, força e coordenação Tímido, genuíno, persistente, estável, conformista, prático Mecânico, operador de máquinas, operário de linha de montagem, fazendeiro Investigativo: prefere atividades que envolvam raciocínio, organização e entendimento Analítico, original, curioso, independente Biólogo, pesquisador, economista, matemático, jornalista Social: prefere atividades que envolvam auxílio e o desenvolvimento de outras pessoas Sociável, amigável, coorporativo, compreensivo Assistente social, professor, conselheiro, psicólogo-clínico Convencional: prefere atividades normatizadas, ordenadas e sem ambiguidade Afável, eficiente, prático, sem imaginação, inflexível Contador, gestor de grande corporação, caixa de banco, funcionário administrativo Empreendedorismo: prefere atividades verbais que ofereçam oportunidade de influênciar outras pessoas e conquistar poder Autoconfiança, ambicioso, enérgico, dominador Advogado, corretor de imóveis, relações públicas, gestor de pequeno negócio Artístico: prefere atividades não sistemáticas e ambíguas que permitam a expressão criativa Imaginativo, desordenado, idealista, emocional, pouco prático Pintor, músico, escritor, decorador de interiores Quadro 8: Tipos de personalidade e ocupação de Holland. Fonte: Adaptado de Timothy A. Judge; Stephen P. Robbins; Filipe Sobral (2010, p. 145). Esses valores também estão intimamente relacionados com as atitudes de um indivíduo. Segundo Robbins (2010), atitudes são afirmações avaliatórias, favoráveis ou desfavoráveis com relação a objetos, pessoas e eventos. Ou seja, as atitudes refletem uma predisposição individual com relação a alguma situação, mas fundamentalmente envolvem julgamentos que foram feitos em relação a essa situação. As atitudes são compostas de três partes: ▪ Afetivo – Refere-se ao afeto e às emoções envolvidas em determinada situação ou direcionadas a uma pessoa; ▪ Cognitivo – Refere-se à crença ou opinião acerca de uma pessoa ou situação; ▪ Comportamento – Ação que move o comportamento em relação a uma pessoa ou situação. Comportamento Organizacional 11 A Figura 1 dá uma ideia melhor sobre a questão e traz exemplos concretos: Figura 1: Componentes de uma atitude. Fonte: Adaptado de Timothy A. Judge; Stephen P. Robbins; Filipe Sobral (2010, p. 67). Entretanto, nem sempre nosso comportamento reflete exatamente o que pensamos sobre determinado fato ou pessoa, assim como nem sempre encontramos coerência naquilo que certas pessoas dizem e o que efetivamente fazem. A essa discrepância damos o nome de dissonância cognitiva, ou seja, qualquer incompatibilidade entre duas ou mais atitudes ou entre comportamento e atitudes. Co gn iç ão , a fe iç ão e c om po rt am en to es tã o es tr ei ta m en te re la ci on ad os Cognitivo = avaliação Meu supervisor deu uma promoção a um colega que merecia menos que eu. Meu supervisor é injusto. Afetivo = sentimento Eu não gosto de meu supervisor. Comportamental = ação Estou procurando outro trabalho; eu reclamo de meu supervisor para qualquer um que quiser ouvir Atitude negativa com relação ao supervisor. Robbins (2010, p. 69) afirma que “as atitudes importantes são aquelas que refletem valores fundamentais, interesse próprio ou identificação com indivíduos ou grupos que valorizamos.” Ou seja, é fundamental fazer uma reflexão sobre os objetivos organizacionais e sua relação com os interesses individuais. Será que eles são compatíveis ou conflitantes? Discuta essa questão com o tutor e seus colegas. Stephen Covey, em entrevista concedida à revista HSM Management, afirmou que “há quatro regras importantes para que uma organização desenvolva e implemente uma estratégia que realmente leve em consideração as pessoas e seu alinhamento com os valores da empresa”: 1. As pessoas devem sentir-se envolvidas nas decisões importantes; 2. É preciso investir nelas, educando-as e treinando-as continuamente; 3. É preciso contemplá-las de forma financeira, social e psicológica para que realizem suas metas; 4. Os líderes não podem querer prejudicar seus funcionários. Ou seja, esse alinhamento vai proporcionar maior comprometimento do trabalhador com a organização, afinal, comprometimento é o grau de identificação do trabalhador com uma empresa e seus objetivos. Esse comprometimento possui três dimensões distintas: Comportamento Organizacional 12 ▪ Comprometimento afetivo – Representa uma ligação emocional com a empresa e a crença em seus valores; ▪ Comprometimento instrumental – É a percepção da importância da compensação econômica ou outras compensações que tenham peso significativo e, com isso, garantam o comprometimento desse funcionário com a organização; ▪ Comprometimento normativo – É um comprometimento por razões morais ou éticas, seja em função de apoio recebido no passado, seja porque sua falta comprometeria o desenvolvimento do trabalho de alguma maneira irreparável. Não podemos negar que existe uma relação direta entre as atitudes dos funcionários e a satisfação ou insatisfação destes com a organização. Mas, como medir a satisfação e conhecer os fatores que geram insatisfação nos colaboradores de uma organização? Para saber como anda a satisfação dos funcionários em uma organização é fundamental realizar uma prática organizacional denominada Pesquisa de Clima. Ela funciona como um diagnóstico que permite investigar o ambiente interno da organização, conhecer as pessoas, suas expectativas e percepção sobre a empresa, bem como os fatores de satisfação e insatisfação. Além disso, ela permite também conhecer perfil, potencialidades e como as pessoas convivem com as tensões. A pesquisa do clima interno é fundamental para implantação de qualquer processo de mudança na empresa ou de Programas de Qualidade de Vida. Você já passou por alguma pesquisa desse tipo na empresa em que trabalha? E o que aconteceu depois disso? O maior problema dessa pesquisa, e que infelizmente muitas vezes ocorre, é pesquisar e engavetar, ou seja, a empresa realiza a pesquisa, até por uma questão burocrática ou por obrigação, mas não parte para a ação efetivamente,seja por causa da exposição da gerência em função das respostas encontradas, ou seja por escassez de recursos. O fato é que essa falta de mudança real após a pesquisa de clima gera frustração, insegurança e perda da credibilidade por parte do setor que desenvolveu a pesquisa (que normalmente é a área de Gestão de Pessoas) e para a própria organização. Através da pesquisa de clima é possível mapear a relação do indivíduo com a empresa e suas expectativas em termos de salário, promoções, benefícios, treinamento, bem como detectar falhas na comunicação interna, conflitos (entre funcionários e suas gerência ou até mesmo dentro de equipes de trabalho). Comportamento Organizacional 13 Algumas questões detectadas na pesquisa de clima poderão ser atendidas pela empresa através do desenvolvimento de programas de treinamento e desenvolvimento gerencial e de equipes, programas de conscientização, alterações no sistema de cargos e salários, melhoria física dos locais de trabalho, recrutamento interno (alocação dos funcionários em outras áreas), horário flexível, revisão da estrutura e de processos, estímulos e participação em sistemas de recompensa, programas de qualidade de vida etc. Entretanto, não podemos esquecer que problemas identificados exigem mudanças, que podem gerar novos problemas, ou seja, a pesquisa de clima precisa ser feita periodicamente, buscando melhoria contínua para os problemas organizacionais e compreender novas realidades das diferentes equipes de trabalho. De um modo geral, pesquisas apontam que os trabalhadores brasileiros estão satisfeitos com seu trabalho. Em 2007, uma pesquisa realizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento sinalizou que esta satisfação com as atividades profissionais chegava a 90%. Mas é claro que a satisfação no trabalho não é uma unanimidade. Algumas pesquisas apontam que as maiores fontes de insatisfação dos trabalhadores são: as condições de trabalho – ambiente físico (como ruído, baixa iluminação, vibrações e psicossocial), o relacionamento com a chefia e com os colegas de trabalho, a remuneração pela atividade exercida, a jornada de trabalho (muitos buscam a tão sonhada flexibilidade de horário, por exemplo). E o que pode gerar insatisfação do funcionário com o trabalho? Quais são as consequências dessa insatisfação, considerando o fato de que o trabalho tem grande significado e representatividade para o ser humano? Um dos principais sintomas do desenvolvimento dessa insatisfação é o estresse. Outro indicador que pode sinalizar que existe insatisfação com o trabalho e, consequentemente, falta de interesse no desempenho deste, é o absenteísmo – que é a ausência ao trabalho, gerada por falta ou por atraso. Suas principais causas são a insatisfação com o ambiente de trabalho, de um modo geral (físico ou psicossocial), bem como falta de identidade com a função ou até mesmo falta de comprometimento. Outro grande problema para as organizações, que têm causas similares, é o presenteísmo, quando o trabalhador comparece ao trabalho, mas não consegue produzir como deveria ou o tanto que se esperaria dele. Comportamento Organizacional 14 3. Emoções e Sentimentos: Aspectos Conceituais e Aplicações no Comportamento Organizacional Para lidar com todas essas questões, é fundamental desenvolver a Inteligência Emocional. Mas, o que é isso? Você já ouviu falar nesse conceito? Inteligência emocional, segundo Robbins (2010), “é a capacidade da pessoa de ser autoconsciente do seu estado afetivo (reconhecer suas próprias emoções, quando as sente), detectar as emoções nos outros e administrar as pistas e informações transmitidas pelas emoções”. 4. Diversidade nas Organizações 4.1 Características Pessoais Antes de definir o que vem a ser diversidade, vamos conhecer as características pessoais que podem impactar diretamente no desempenho da organização. Idade Gênero Raça → Desempenho Etnia Habilidade ▪ Idade: as características podem ser positivas ou negativas e devem ser ponderadas. Exemplo: Uma pessoa mais experiente tem muito a contribuir dentro do ambiente organizacional, pois vem realizando as mesmas atividades há algum tempo, o que faz crer que ela possui um conhecimento significativo a respeito de suas atribuições. No entanto, pode não dispor da mesma força de trabalho que uma pessoa jovem. O jovem, por sua vez, pode vir cheio de energia, de vontade de trabalhar, com as ideias conceituais frescas na cabeça, mas por outro lado, pode não estar disposto a assumir uma escala de trabalho em que tenha de sacrificar o final de semana, pois ele está em busca de aproveitar a vida. Sendo assim, cabe à organização alocar da melhor maneira os colaboradores – os jovens e os experientes – para que possam desempenhar melhor suas funções dentro do ambiente organizacional. Comportamento Organizacional 15 É importante levar em consideração as contribuições de ambos, e no que se refere ao fator idade, o ideal é mesclar a disposição dos jovens com a experiência dos mais velhos, para que possam trocar e compartilhar competências e aprendizados. ▪ Gênero: há segmentos em que é predominante a presença de mulheres ou homens. Exemplo: Na área de educação básica, temos predomínio do gênero feminino; na construção civil, há predomínio do público masculino. No Brasil as mulheres representam 41% da força de trabalho, mas ocupando 24% dos cargos de gerência. Pesquisas recentes, como o balanço anual da Gazeta Mercantil, demonstram que a quantidade de mulheres em altas posições executivas das 300 maiores empresas brasileiras subiu de 8%, em 1990, para 13%, em 2000. De forma geral, as mulheres brasileiras recebem em média bem menos que o salário dos homens, cerca de 71%. Essa diferença é mais acentuada nas funções menos qualificadas, e diminuem em funções de primeiro escalão, tais como diretoria e gerência. ▪ Raça: fator estritamente relacionado ao que é visível, como cor de pele, constituição física, estatura etc. Nosso país possui uma variada composição racial: temos os nativos (índios), os portugueses (colonizadores), os negros (vindos da África a partir do século XVI), imigrantes europeus (colonizaram principalmente o sul do país) e imigrantes de outras origens (Ásia e Oriente Médio). Essa composição resultou no que conhecemos hoje como brancos, negros, índios, pardos, mulatos, caboclos e cafuzos. ▪ Etnia: o conceito de etnia é diferente do conceito de raça e corresponde a fatores culturais, como nacionalidade, religião, língua e as tradições. É importante frisar que grupos étnicos de origem comum costumam se projetar como povo, mantendo vivas suas tradições e a cultura de seu país. Quando abordamos a questão de imigração, também observamos este comportamento. Temos, como exemplo, as colônias germânicas presentes no sul do país. Existe um esforço muito grande das organizações em promover equilíbrio com relação à remuneração e a oportunidades profissionais quando é abordada a questão de genêro, raça ou etnia. Tudo isso porque desta forma, a equidade (senso de justiça) e meritocracia (modelo de distribuição de recursos, prêmios ou vantagens, cujo critério único a ser considerado é o desempenho e as aptidões individuais de cada pessoa) tornam-se uma realidade presente. Comportamento Organizacional 16 ▪ Habilidade: Capacidade de um indivíduo para desempenhar as diversas tarefas de uma função. Podemos observar dois tipos de habilidades: as intelectuais e físicas. ▪ Habilidades intelectuais – Capacidade para desempenhar atividades mentais, tais como refletir, raciocinar e resolver problemas. ▪ Aptidão numérica – Habilidade para fazer cálculos aritméticos rápidos e precisos – contador; ▪ Compreensão verbal – Habilidade para entender o que é lido ou ouvido e como é a relação entre as palavras – gerente da fábrica; ▪ Rapidez percentual – Habilidade para identificar semelhanças e diferenças visuais de maneira rápidae precisa – perito de incêndios; ▪ Raciocínio indutivo – Habilidade para identificar uma sequência lógica em um problema e, em seguida, resolvê-lo – pesquisador de mercado; ▪ Raciocínio dedutivo – Habilidade para usar a lógica e avaliar as implicações de um argumento – supervisor; ▪ Visualização espacial – Habilidade para imaginar como um objeto ficaria se sua posição no espaço fosse modificada – arquiteto de interiores; ▪ Memória – Habilidade para reter e evocar experiências passadas – vendedor. ▪ Habilidades físicas – Capacidade de desempenhar atividades que demandam resistência, destreza, coordenação motora, força e flexibilidade. Podemos citar alguns fatores de força: ▪ Força dinâmica – É o tipo de qualidade no qual a força muscular se diferencia da resistência, produzindo movimento. É a força em movimento. ▪ Força na estática – É a força muscular que pode ativar um músculo ou um grupo de músculos contra uma resistência fixa. ▪ Força explosiva – É toda forma de força que se torna atuante no menor tempo possível. Com relação aos fatores de flexibilidade, podemos citar: ▪ Flexibilidade de extensão – Refere-se à capacidade de usar uma amplitude de movimento articular no desempenho de uma atividade física em velocidade normal ou acelerada. ▪ Flexibilidade dinâmica – Diz respeito à amplitude de movimento ao redor de uma articulação. Os administradores devem reconhecer as diferenças e manejá-las em favor do ambiente organizacional. De que forma? Comportamento Organizacional 17 Mesclando as diferentes aptidões, prestando mais atenção aos processos de seleção, contratação e retenção desses funcionários. É importante entender que as diferenças devem ser observadas como oportunidades que a organização tem ao trabalhar com a diversidade. Devemos fugir da prática comum de criar estereótipos, observando nos indivíduos as suas características, atributos que proporcionam percepções e resultados que enriquecem a equipe e o ambiente organizacional. Sua valorização acaba conferindo uma “vantagem competitiva”. Podemos citar como exemplos desta vantagem: retenção dos funcionários, aumento de produtividade e, ainda, um ambiente de trabalho livre de discriminação. 4.2 Diversidade Podemos conceituar a diversidade como a diferença relacionada à variedade de opiniões, pensamentos, ideias e objetivos que um indivíduo tem. Como vimos anteriormente, as características individuais acabam tornando os indivíduos singulares. São atributos que se refletem no comportamento do indivíduo e em sua conduta e postura na organização. A diversidade, porém, é um processo que deve ser compreendido, e não um fenômeno que deve ser somente identificado. A compreensão oferece uma nova abordagem, cujo foco não é somente a sua característica pessoal, mas sim, como esta característica pode contribuir para o desenvolvimento de competências e resultados para o indivíduo e a organização. Desenvolvemos o trabalho com a diversidade nas empresas, a fim de incentivar o trabalho coletivo e a valorização mútua, oferecendo um ambiente onde todos tenham suas opiniões respeitadas para que se sintam motivados a contribuir com o seu potencial. De uma forma geral, observamos que a diversidade pode ocorrer em vários níveis: a. Diversidade em nível superficial Diferenças em características facilmente identificáveis como idade, gênero, etnia, religião e deficiência ou necessidades especiais. Não refletem como as pessoas pensam ou sentem, mas podem ativar imagens preconcebidas de determinada pessoa, coisa ou situação. b. Diversidade em nível profundo Diferenças de valores, personalidades e preferências de trabalho. Tornam-se progressivamente mais importantes à medida que as pessoas vão conhecendo umas às outras. Comportamento Organizacional 18 4.3 Discriminação A diversidade pode trazer resultados negativos para a organização (e à sociedade de uma maneira geral) quando não é adequadamente administrada. Podemos citar como exemplo quando ocorre a discriminação. A discriminação ocorre quando reconhecemos uma diferença e deixamos que nosso comportamento seja influenciado por estereótipos sobre grupos ou determinada pessoa. As formas mais comuns de discriminação são: ▪ Políticas – Práticas discriminatórias tomadas por representantes da organização que negam as mesmas oportunidades profissionais ou oferecem recompensas desiguais. Exemplo: diferença de salários entre homens e mulheres. ▪ Assédio sexual – Investidas sexuais não desejadas e outras condutas físicas ou verbais de natureza sexual, criando um ambiente de trabalho hostil ou ofensivo. ▪ Assédio moral – Exposição a situações constrangedoras e humilhantes, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho, impostas por uma relação hierárquica negativa. ▪ Intimidação – Ameaças explícitas ou intimidações dirigidas a membros de grupos específicos de funcionários (asiáticos, negros, índios, grupos/pessoas religiosas). ▪ Gozação ou insultos – Comentário perverso/desrespeitoso, brincadeiras ou piadas que vão longe demais. ▪ Exclusão – Exclusão de determinadas pessoas das oportunidades de trabalho, de eventos sociais, de discussões ou de orientação informal; pode não ocorrer intencionalmente. ▪ Incivilidade – Tratamento desrespeitoso, que inclui comportar-se agressivamente, interromper a pessoa ou ignorar suas opiniões. ▪ Características biográficas – Discriminação em relação a características pessoais óbvias, facilmente obtidas nos registros pessoais dos funcionários, tais como gênero, idade, raça e etnia, portadores de deficiência (diversidade em nível superficial). Outras características são estabilidade no emprego, religião e orientação sexual. As diferenças devem ser contempladas com tratamento adequado, sem fingir que não existem. O Departamento de Recursos Humanos deve estar incumbido de trabalhar com essas diferenças. 4.4 Estratégia de Gestão da Diversidade A gestão da diversidade torna todos mais conscientes e sensíveis às necessidades e diferenças dos outros. Contempla ações e práticas organizacionais que são desenvolvidas com o objetivo de valorizar e/ou dissolver as diferenças. Comportamento Organizacional 19 Quando dá-se o enfoque na valorização, as características individuais são reconhecidas, e os talentos individuais são reforçados e colocados a serviço de objetivos comuns. Já na questão de dissolver as diferenças, não são levadas em conta somente as características individuais, mas sim, o desempenho atrelado ao conceito de meritocracia. Podemos realizar este processo de diversas maneiras, mas independentemente da forma que se irá trabalhar, deve-se ter como ponto inicial a contratação do colaborador. É bom estar atento a este processo, pois envolve as dimensões de Atrair / Selecionar / Desenvolver / Reter, e funciona como um ciclo de PDCA. Perder pessoas é sempre mais caro do que manter políticas de desenvolvimento e carreira. Mas, afinal, a diversidade nos grupos ajuda ou atrapalha o desempenho? Veremos isso no item a seguir: 4.4.1 Programas de Diversidade Eficazes As organizações devem implementar programas eficazes e abrangentes que incentivem a diversidade na força de trabalho. Estes programas geralmente abordam questões de valorização dos talentos individuais, melhoram na qualidade do ambiente e nas relações organizacionais. Além disso, esses programas enriquecem os indivíduos de conhecimentos da empresa por meio das experiências pessoais compartilhadas. A aplicação destes programas proporciona para os gestores a oportunidade de desenvolver processos nos quais devem colocar em prática a habilidade de liderar suas equipes. Vejamos a seguir alguns processos desenvolvidos pelos gestores: a. Influenciar diretamente no nível de desempenho do funcionário; b. Conduzir de forma eficaz o processo de seleção, tendo como foco as habilidades requeridas para melhor desempenho; c. Garantir que os candidatos sejam testados, entrevistadose avaliados quanto ao grau de habilidades requeridas ao cargo; d. Proporcionar um sistema de promoções ou transferências de acordo com as habilidades requeridas; e. Modificar as tarefas para que se adaptem melhor às habilidades do funcionário. Na prática desses programas, há componentes distintos que ensinam aos gestores a estrutura legal para oferecer oportunidades iguais de emprego e encorajam o tratamento justo de todos. Além disso, tais componentes explicam como uma força de trabalho diversificada poderá servir melhor a um mercado de clientes com essa mesma característica, e criam práticas de desenvolvimento pessoal que despertam os talentos e habilidades de todos os trabalhadores. Comportamento Organizacional 20 5.Direitos Humanos e Trabalho Em 1948 foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esta data é considerada um marco para a civilização, pois através deste documento universal, temos o entendimento de como deveria ser constituída uma sociedade democrática. A declaração descreve em 30 artigos um conjunto de direitos fundamentais, individuais e coletivos, de que todas as pessoas devem usufruir, independentemente de qual povo ou nação, classe social, etnia, gênero, nacionalidade ou posicionamento político. A declaração não tem a força de uma lei, mas oferece uma orientação, e a partir dela se fundamentam constituições, leis e tratados internacionais que abordam temas desenvolvidos em seus artigos. No contexto organizacional, a questão dos direitos humanos deve ser observada com atenção, pois algumas organizações acabaram ocupando o espaço do Estado por conta de seu poder econômico. Isto pode ser comprovado por levantamento de demonstrações financeiras divulgadas na mídia, que apontam empresas multinacionais com receita maior do que o PIB de muitos países. Cabe destacar ainda que mais da metade das 100 maiores economias do mundo são corporações. Lamentavelmente, dentro deste contexto abordado, existem algumas empresas que não respeitam os Direitos Humanos, cometendo na sociedade em que está inserida práticas como: ▪ Discriminação: mulheres são discriminadas dentro das empresas, preteridas em promoções e têm remuneração inferior ao homem, apesar de exercerem as mesmas funções. ▪ Tortura, trabalho escravo e ausência de direitos trabalhistas: operários são colocados em condições degradantes de trabalho, sendo submetidos a jornadas maiores que 16 horas diárias, mantidos em cárcere e torturados, caso se neguem a trabalhar, sem nenhuma garantia trabalhista. ▪ Racismo: ataques que visam a inferiorização de pessoas de diferentes raças, como no caso dos índios, que constantemente têm suas terras invadidas para exploração mineral e vegetal, além dos negros que são colocados à parte na ocupação de melhores posições nas empresas. É dever do Estado proteger os direitos humanos, e as empresas têm a responsabilidade de respeitá-los em suas operações. O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou os Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos em 2011. Os Princípios Orientadores comunicam que: “Empresas devem respeitar os direitos humanos. Isso significa que elas devem evitar infringir os direitos humanos dos outros e devem abordar os impactos adversos dos direitos humanos com os quais estão envolvidos.” Comportamento Organizacional 21 Apesar de não ser um tratado, os princípios são um grande passo em direção ao estabelecimento de normas e procedimentos e contam com a participação de Estados, comunidades, organizações e ONGs, com o objetivo de evitar violações de direitos humanos e punir quando necessário. 6. Educação das Relações Étnico-raciais para o Ensino de História e Culturas Afro-brasileira e Indígena A formação da população brasileira obedece a contribuições de diversos grupos étnico-raciais, entre eles os africanos e indígenas. Estes dois merecem atenção especial, pois refletem um passado que compreende escravização e resistência. As leis 11645/08 e 10639/03, que fazem referência à Lei 9394/96, bem como a resolução CNE/CP nº 1/04 fundamentada no Parecer CNE/CP nº 3/04, instituem a temática obrigatória do ensino de história e culturas afro-brasileira e indígena nas escolas. Foi uma forma de eliminar estereótipos e abordar de forma construtiva as temáticas de construção histórica da imagem e cultura do negro e dos povos indígenas, no lugar da sua segregação. O estudo da história/cultura indígena e afro-brasileira pretende assim resgatar o débito que a sociedade tem para com estes povos, pois conhecer sua história ajuda na conscientização e também diminui o preconceito. Segundo o Parecer CNE/CP nº 03/04, estas políticas educacionais fazem parte de ações afirmativas, ou seja, ações políticas dirigidas às correções de desigualdades raciais e sociais, orientadas para oferta de tratamento diferenciado, com vista a corrigir desvantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura social excludente e discriminatória. O resultado desta ação seria a reflexão sobre as relações étnico-raciais, troca de conhecimentos, quebra de desconfianças e construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É importante reconhecer a complexidade que envolve o processo de construção da identidade étnico-racial do nosso país, que nos desafia a superar o imaginário social de sociedade sem discriminação, uma vez que somos um país multiétnico e pluricultural. Dentro deste contexto, existem alguns princípios que ajudam a nortear essas ações e devem conduzir a: ▪ Igualdade da pessoa humana como sujeito de direitos; ▪ Compreensão de que a sociedade é formada por diversos grupos étnico-raciais, com histórias e culturas próprias, e que seu conjunto constrói a nação brasileira; Comportamento Organizacional 22 ▪ O conhecimento e valorização da história e cultura destes grupos; ▪ Superação de indiferença, injustiça e desqualificação destes grupos; ▪ Desconstrução, por meio de análise crítica e questionamentos, dos conceitos, ideias e comportamentos vinculados à ideologia do “branqueamento” e do mito da democracia racial; ▪ Diálogo, em busca de uma sociedade mais justa. É importante reconhecermos as diversas contribuições e reflexos desses grupos para a formação da nossa sociedade, que perduram até hoje. Podemos citar alguns exemplos: ▪ Culinária: comidas de milho, alimentos cozidos e assados em folhas de bananeira (contribuições indígenas); angu, banana, azeite de dendê e feijoada (contribuições africanas); ▪ Linguagem: palavras como xará, tijuca, carioca, pororoca, jacaré (contribuições indígenas); caçula, cafuné, moleque, maxixe, samba (contribuições africanas); ▪ Folclore: lendas locais como boto cor de rosa e curupira (contribuições indígenas); religiões afro-brasileiras como Umbanda e Candomblé, capoeira, frevo (contribuições africanas); ▪ Economia: exploração de mão de obra escrava utilizada na lavoura; após este período de escravidão, a mão de obra ficou com o estereótipo de pouco qualificada e consequentemente mal remunerada; ▪ Pense bem: o comportamento das pessoas em relação ao outro na sua vida em sociedade, envolvendo inclusive as questões étnico-raciais, será refletido no âmbito organizacional. A escola pode proporcionar formação de opinião, ou seja, a conquista da racionalidade que rege as relações. É também pela escola que conquistaremos o desenvolvimento das competências humanas, técnicas e comportamentais, que refletirão na sociedade através dos espaços democráticos e igualitários e, por conseguinte, nas organizações. Mas como devemos lidar com esta questão no mundo corporativo? As organizações devem mudar a abordagem tradicional de situações que envolvem desvalorização de segmentos da população. Esta prática geralmente ocorre por questões sociais ou raciais. Nas empresas temos a chance de fugir deste lugar-comum com relação ao comportamento no aspecto étnico-racial, que prega a ideia de igualdade sem que seja colocada em prática;na organização devemos enxergar o indivíduo, independentemente da sua origem, como um sujeito com competências e habilidades que podem ser inseridas e desenvolvidas dentro de um contexto de diversidade organizacional. Comportamento Organizacional 23 7. Pessoas com Deficiência Para todas os efeitos, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento em longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, e que acaba influenciando sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Segundo dados do IBGE, o Brasil possui mais de 24 milhões de pessoas com deficiência. São pessoas comuns, com características, contradições e singularidades. Elas exigem seus direitos, respeito pela dignidade e autonomia, e querem acima de tudo, participação e inclusão na sociedade, além de igualdade de oportunidades, mostrando que a deficiência é apenas mais uma característica do indivíduo e não um limitador. O governo brasileiro, em 2008, ratificou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela ONU, bem como seu Protocolo Facultativo. Outro ponto importante também foi considerar que o fator limitador é o meio que a pessoa está inserida e não a deficiência em si, pois deficiência não se trata de uma doença. Podemos destacar como pontos relevantes deste documento os princípios que o constituem e que seguem destacados na íntegra abaixo: a. O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas; b. A não discriminação; c. A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade; d. O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade; e. A igualdade de oportunidades; f. A acessibilidade; g. A igualdade entre o homem e a mulher; h. O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade. 8. Pessoas com Transtorno do Espectro Autista A Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, institui a Política Nacional de Proteção da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e estabelece diretrizes para sua execução. Neste contexto, é considerada pessoa com transtorno do espectro autista aquela portadora da síndrome clínica caracterizada da seguinte forma: Comportamento Organizacional 24 ▪ Deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da interação social, marcada por deficiência na comunicação verbal e não verbal; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento; ▪ Padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva aderência a rotinas e comportamentos ritualizados; interesses restritos e fixos. Vale lembrar ainda que a pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais, e desta forma, tem todos os seus direitos assegurados dentro deste âmbito. Cabe ao poder público garantir e assegurar estes direitos, que envolvem: ▪ Informação pública relativa ao transtorno e suas implicações, a fim de assegurar que não ocorra discriminação; ▪ Incentivo à formação e à capacitação de profissionais especializados para o atendimento de pessoas com espectro autista; ▪ Incentivo à pesquisa científica para dimensionar e caracterizar o espectro autista no país. ▪ Vida digna, integridade física e moral, livre desenvolvimento de personalidade, segurança e lazer; ▪ Proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; ▪ Acesso a ações e serviços de saúde, tais como: 1. Diagnóstico precoce; 2. Atendimento multiprofissional; 3. Nutrição adequada e terapia nutricional; 4. Medicamentos; 5. Informações que auxiliem no diagnóstico e tratamento. Outros acessos, tais como: 1. Educação e ensino profissionalizante; 2. Moradia; 3. Mercado de trabalho; 4. Previdência e assistência social. A Lei 12764/12 no seu artigo 4º propõe que a pessoa com espectro autista não pode ser submetida a tratamento desumano ou degradante. Além disso, tal pessoa não será privada da liberdade ou convívio familiar e nem sofrerá discriminação por motivo de deficiência. Mas como lidar e contratar pessoas com espectro autista nas organizações? Comportamento Organizacional 25 Esta questão pode ser respondida levando em consideração alguns pontos: Capacitar as organizações para entender e se adaptar às necessidades de uma pessoa com espectro autista; Fornecer um mentor para auxiliar a pessoa com espectro autista para tirar dúvidas, e compreender seu papel na empresa. 9. Motivação e Desempenho no Trabalho Finalmente, vamos falar sobre motivação. Antes de conceituarmos o termo e conhecermos as principais teorias, vamos entender como tudo começou. Elton Mayo, entre 1924 e 1927, como já visto detalhadamente na primeira unidade, realizou a chamada Experiência de Hawthorne: uma série de estudos que pretendia conhecer os efeitos da iluminação na produtividade do trabalhador (movimentos dispendiosos, fadiga e deficiências do ambiente físico). Entretanto, os resultados dessa experiência concluíram outros aspectos completamente diferentes: demonstraram a influência de “fatores desconhecidos” (mais tarde denominados como fatores psicológicos) sobre a produtividade. Por exemplo, ao longo da pesquisa, os funcionários da fábrica pesquisada tiveram a oportunidade de serem ouvidos, de se integrarem com os colegas de trabalho etc. Ou seja, a partir daqueles estudos, começou-se a identificar que o homem não era estimulado apenas por dinheiro, como os teóricos da escola clássica haviam declarado, mas sim, por fatores sociais e emocionais. Outros fatores, que foram sendo identificados aos poucos e por diversos pesquisadores, também influenciam, de maneira considerável, na motivação dos indivíduos e no esforço que as pessoas começaram a dedicar e que refletem no aumento da produtividade. Nessa unidade vimos a definição de percepção, que é o processo pelo qual os indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais com a finalidade de dar sentido ao seu meio. Aprendemos também que a personalidade é a soma total das maneiras como uma pessoa reage e interage com as demais. E vimos ainda que as atitudes são compostas de três partes: ▪ Cognitivo – Refere-se à crença ou opinião acerca de uma pessoa ou situação; ▪ Afetivo – Refere-se ao afeto e às emoções envolvidas em determinada situação ou direcionadas a uma pessoa; ▪ Comportamento – Ação que move o comportamento em relação a uma pessoa ou situação. Comportamento Organizacional 26 E por fim vimos que, saber como anda a satisfação dos funcionários em uma organização, é fundamental realizar uma prática organizacional denominada Pesquisa de Clima. Ela funciona como um diagnóstico que permite investigar o ambiente interno da organização, conhecer as pessoas, suas expectativas e percepção sobre a empresa, bem como os fatores de satisfação e insatisfação. Além disso, ela permite também, conhecer perfil, potencialidades e como as pessoas convivem com as tensões. Referências BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2008. GOULART, Iris Barbosa. Psicologia organizacional e do trabalho. 3 ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. HOLLENBECK, John R; WAGNER, John A. Comportamento organizacional: criando vantagem competitiva. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina. Psicologia do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2008. ROBBINS, Stephen P. A verdade sobre gerenciar pessoas. São Paulo: Pearson Education, 2003. ROBBINS, Stephen; SOBRAL, Filipe. Comportamento organizacional. 14 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2010. Comportamento Organizacional 27 ProcessosRelacionados ao Indivíduo (Aprendizado, Percepção, ersonalidade, Atitudes e Valores, Emoções e Sentimentos) Para início de conversa... Objetivos 1.Aprendizado e Percepção 2. Personalidade, Atitudes e Valores 3. Emoções e Sentimentos: Aspectos Conceituais e Aplicações no Comportamento Organizacional 4. Diversidade nas Organizações 4.1 Características Pessoais 4.2 Diversidade 4.3 Discriminação 4.4 Estratégia de Gestão da Diversidade 4.4.1 Programas de Diversidade Eficazes 5.Direitos Humanos e Trabalho 6. Educação das Relações Étnico-raciais para o Ensino de História e Culturas Afro-brasileira e Indígena 7. Pessoas com Deficiência 8. Pessoas com Transtorno do Espectro Autista 9. Motivação e Desempenho no Trabalho Referências
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