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Choque PATOLOGIA Graziela Gonzaga Santana CONCEITO O choque hemodinâmico uma quebra no equilíbrio hemodinâmico em que há uma falência circulatória associada a distúrbio grave da microcirculação se diminuição da perfusão sanguínea sistêmica, o que determina hipoxia tecidual. Bogliolo Choque é o distúrbio hemodinâmico agudo e sistêmico caracterizado pela incapacidade do sistema circulatório de manter a pressão arterial em nível suficiente para garantir a perfusão sanguínea ao organismo, o que resulta em hipóxia generalizada. É uma condição aguda e fatal. PRESSÃO ARTERIAL E PRESSÃO DE PERFUSÃO TECIDUAL A manutenção da pressão arterial e da pressão de perfusão tecidual depende de três componentes: 1. Bomba cardíaca, que impulsiona o sangue nos vasos. 2. Volume de sangue circulante. 3. Compartimento vascular. Em condições normais, a quantidade de sangue ejetado na circulação ocupa o compartimento vascular, exercendo tensão na parede dos vasos suficiente para manter a pressão arterial e a perfusão dos tecidos. TIPOS DE CHOQUE Em princípio, o choque pode ser provocado por: Falência da bomba cardíaca (choque cardiogênico). Redução da volemia (choque hipovolêmico). Aumento do compartimento vascular (choque distributivo). Falência no enchimento do ventrículo esquerdo (choque obstrutivo). CARDIOGÊNICO Surge por insuficiência cardíaca aguda, especialmente do ventrículo esquerdo, que resulta em incapacidade do coração em bombear o sangue para a circulação sistêmica. Para ocorrer choque cardiogênico, deve haver perda da massa miocárdica de pelo menos 40% e redução da capacidade de ejeção ventricular acima de 80%. As principais causas são infarto agudo do miocárdio e miocardites agudas; menos frequentemente, ruptura de valvas cardíacas (p. ex., endocardite infecciosa) ou de músculo papilar. O choque causado por tamponamento cardíaco e por tromboembolismo pulmonar de êmbolo grande, são hoje denominados de choques obstrutivos, sendo, portanto, uma subcategoria dos choques cardiogênicos. HIPOVOLÊMICO É causado por redução aguda e intensa do volume circulante, por perda de líquidos para o meio externo. Ocorre devido a: Hemorragia grave, vômitos e diarreia. Perda cutânea (p. ex., queimaduras). Passagem rápida de líquido do meio intravascular para a MEC (como na dengue, devido à perda de fluidos na microcirculação). 2 Causas menos frequentes, como retenção de grande quantidade de líquido na luz intestinal devido a íleo paralítico. Quando há perda considerável de líquido, caem a pressão arterial e a perfusão tecidual, levando ao choque. Com a hipóxia tecidual, aumentam ADP, adenosina e ácido lático, que induzem a liberação de mediadores que abrem a circulação terminal (arteríolas e capilares), reduzindo o retorno venoso e a perfusão tecidual, criando um círculo vicioso que agrava o choque. No lado direito da figura, estão representados os mecanismos de adaptação que são acionados na tentativa de compensar a perda de líquidos. DISTRIBUTIVO Bogliolo: deve-se a vasodilatação arteriolarperiférica que resulta em queda da resistência periférica, inundação de capilares e redução drástica do retorno venoso. A má perfusão tecidual é resultado de vasodilatação periférica global que leva a redução acentuada da pressão de enchimento capilar, comprometendo o fornecimento de oxigênio pelos capilares. Os choques sépticos e anafiláticos são classificados com distributivos, por causa do comprometimento da microcirculação, assim como os choques neurológicos. A vasodilatação periférica que leva ao choque distributivo pode ser causada por subtipos de choque: SÉPTICO Causado por resposta sistêmica que o organismo monta contra invasores biológicos (infecções) ou por lesões teciduais causadas por agentes físicos ou químicos, cuja patogênese é complexa e ainda mal compreendida. Resulta da vasodilatação e acúmulo de sangue na circulação periférica, como um componente de uma reação imunológica sistêmica a uma infecção bacteriana ou fúngica. Liberação de mediadores inflamatórios → vasodilatação arterial e extravasamento de sangue → hipoperfusão tecidual, hipóxia celular. Causas: infecções, queimaduras, trauma, pancreatite, etc; Clínica: Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS). Ativação de cascatas de citocinas. O choque séptico é incluído como choque distributivo porque ocorre vasodilatação na microcirculação induzida por resposta inflamatória sistêmica que inicia o distúrbio hemodinâmico. O choque séptico faz parte da evolução da síndrome da resposta inflamatória sistêmica de qualquer natureza, infecciosa ou não, cuja patogênese é a liberação sistêmica de mediadores inflamatórios. Os mediadores inflamatórios (citocinas, produtos da ativação do complemento, cininas, histamina, prostaglandinas e leucotrienos) causam vasodilatação arteriolar (que reduz a resistência periférica) e inundação do leito capilar (que reduz o retorno venoso, agravado pela perda de líquido para a MEC resultante do aumento da permeabilidade vascular). Além desse mecanismo periférico (mecanismo distributivo), as citocinas pró-inflamatórias (IL-1, TNF, IL-6) têm efeito depressor sobre o miocárdio, reduzindo a eficácia do coração em bombear o sangue para a periferia (mecanismo cardiogênico). Por essa razão, o choque séptico é considerado por alguns como choque misto. Principal causa de morte na UTI (mortalidade > 20%). Frequência/causa: bactérias gram- positivas > bactérias gram-negativas > fungos. ANAFILÁTICO 3 Episódio de hipersensibilidade mediada por IgE, resultando em vasodilatação sistêmica e aumento da permeabilidade vascular. O mecanismo básico é a vasodilatação periférica que se instala rapidamente, por causa da liberação de histamina quando mastócitos são estimulados por antígenos que se ligam a IgE na superfície deles. Histamina provoca vasodilatação e queda brusca da pressão arterial. Se não há intervenção rápida, o choque pode levar rapidamente à morte por hipoperfusão persistente do sistema nervoso central. NEUROGÊNICO Acidente anestésico ou lesão na medula espinhal acima do nível torácico superior, com perda do tônus vascular e acúmulo sanguíneo na circulação periférica. RESPOSTAS ADAPTATIVAS/PROGRESSÃO DO CHOQUE O choque. independentemente da sua etiologia, inicia o processo por um estágio inicial, geralmente reversível por intervenções nas causas básicas, mas que pode ser seguido de um estágio progressivo, frequentemente irreversível. Nas fases iniciais, a hipotensão arterial induz modificações circulatórias no sentido de reduzir o fluxo sanguíneo esplâncnico e de redistribuí-lo para garantir a perfusão de órgãos vitais, como o coração e o encéfalo. Tal mudança hemodinâmica faz-se por aumento da atividade simpática evocada por estimulação de receptores de volume e de pressão e de quimiorreceptores e por estímulo direto de núcleos autonômicos por causa da isquemia cerebral. Tais respostas adaptativas, mediante ativação do sistema nervoso simpático, são responsáveis por algumas das manifestações perceptíveis na fase inicial do choque (fase hiperdinâmica): aumento de frequência cardíaca (taquicardia) e pele úmida pela sudorese. No choque distributivo, essa fase de compensação é chamada fase “quente”, já que existe vasodilatação periférica. A frequência cardíaca aumenta progressivamente, mas a pressão sistólica continua baixa ou se reduz mais ainda. Além dos mecanismos compensadores nervosos (atividade simpática), há também ação de substâncias vasoconstritoras endógenas: adrenalina da medular da suprarrenal, vasopressina liberada da neuro-hipófise por estímulo aferente vindo de receptores de volume dos átrios e angiotensina I produzida por ação da renina, esta liberada de células justaglomerulares ativadas pela queda da pressão arterial. Retenção de sódio nos rins ocorre por redução na fração de filtração e por ação da aldosterona. Essa retenção aumenta a resposta vasoconstritora dasarteríolas e induz acúmulo de água porque estimula a liberação do hormônio antidiurético. Com isso, aumenta-se a volemia. Outro mecanismo compensador é a reabsorção de líquido do interstício para o compartimento vascular, facilitada pela diminuição da pressão hidrostática nos capilares, reduzida pela hipotensão arterial. A reabsorção de fluido pobre em proteínas reduz um 4 pouco a pressão coloidosmótica do plasma (ocorre hemodiluição). Nessa fase, a reposição de volume pode auxiliar os mecanismos de compensação, revertendo o processo. conceito pressão arterial e pressão de perfusão tecidual Tipos de choque Cardiogênico Hipovolêmico distributivo Séptico Anafilático Neurogênico Respostas adaptativas/Progressão do choque