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TECTÓNICA DE PLACAS
UMA TEORIA COM RAíZES ANTIGAS
A. M. Galopim de Carvalho
Desde há meio século, a TECTÓNICA DE PLACAS, entendida como
uma visão da dinâmica interna da Terra, à escala global, é base de
toda a investigação geológica que se pratica nos dias de hoje.
Estratigrafia, paleontologia, mineralogia, 
petrologia, geoquímica, geofísica,
vulcanololgia, geomorfologia, prospecção... 
Se representarmos um ano por 
um degrau, tivemos de subir mais 
de 2260 para chegarmos ao 
conhecimento que hoje temos 
sobre a tectónica de placas.
Iniciada na Grécia antiga, foi longa a 
caminhada que conduziu aos admiráveis 
conhecimentos dos dias de hoje, contidos 
em milhares de contribuições que, em 
papel ou por via electrónica, circulam por 
todo o mundo.
Tudo começa com Eratóstenes de Cirene (285-
194 a.C.), o astrónomo, geógrafo e matemático 
grego que, entre outras ideias e obras, 
o mesmo que calculou 
o raio da Terra. Cirene, colónia grega na Líbia.
(Séc. II III a. C.) 
(1) defendeu o mobilismo terras-mares, e
(2) previu que o interior da terra era uma 
fonte de calor.
ousando contrariar o fixismo de Aristóteles
Eratóstenes constatou que 
havia conchas de moluscos 
marinhos no alto de algumas 
montanhas. Em terra, portanto
Cárpatos
E advogava a existência de um fogo central.
Ideia precursora 
do calor interno da 
Terra, essencial à 
movimentação das 
placas tectónicas.
Estrabão de Amásia (64 a.C.-24 d.C.), 
geógrafo e historiador grego, chamou a 
atenção para a existência de “pedras com a 
forma de conchas de moluscos marinhos” 
em regiões afastadas do litoral e também
concluiu pela presença do mar nessas 
terras em tempos passados. 
(Séc. I) 
Numa enciclopédia do século X, 
escrita colectivamente por uma 
fraternidade de filósofos ismaelitas que 
se admite terem vivido em Al Basrah
(actual Bassorá), no Iraque, conhecida 
pelos Irmãos da Pureza, lê-se: 
“As terras actuais foram antigos fundos 
marinhos e os mares do presente serão 
futuros continentes”..
(Séc. X)
anteciparam e influenciaram as de 
Alberto Magno (1206-1280), Jean 
Buridan (1300-1360), e Leonardo da 
Vinci (1452-1519). 
e aproximaram-se, por via da 
reflexão, de parte de uma ideia 
subjacente à visão tectónica 
global, do século XX.
Estes filósofos retomaram as ideias de 
Eratóstenes e Estrabão e…
Enciclopédia
Alberto Magno (1200-1280), 
Bispo e Doutor da Igreja, 
reconhecia a alternância das 
terras e dos mares, tendo 
exercido grande influência entre 
os filósofos e os naturalistas da 
Idade Média.
Doctor universalis
A parição da virgem a Santo Alberto (pintura de 
Vicente Salvador Goméz (1637-1678). 
(Séc. XIII)
Place Maubert, Paris.
“Onde hoje se encontra o mar, foi outrora 
terra e inversamente, onde a terra firme 
está no presente, esteve o mar e aí voltará”.
na transição para o
Renascimento, séc. XIV, Jean 
Buridan (1300-1360), filósofo 
francês e reitor da Universidade 
de Paris, recuperando a 
sabedoria deixada pelos 
“Irmãos da Pureza”, escreveu: 
(Séc. XIV)
Reafirmação do mobilismo
17 séculos, depois de 
Eratóstenes, Leonardo 
da Vinci (1452-1519) fez 
a mesma observação. 
Conchas de moluscos marinhos no alto de algumas montanhas. 
(Séc. XV)
Reafirmação do mobilismo
.Sensível à configuração do traçado das linhas de 
costa de África e da América do Sul, aparentando 
contornos justaponíveis, o geógrafo e cartógrafo 
flamengo Abraham Ortels (1527-1598) sugeriu que 
os continentes americanos se tinham desligado e 
afastado da África e da Europa. 
em consequência de eventos, à escala 
global, que imaginou catastróficos, mas 
cuja força motriz não soube explicar. 
1ª grande contribuição
(Séc. XVI)
Para René Descartes (1596-1650), o globo terrestre, arrefecido 
exteriormente, começara por ser liso em superfície. Segundo ele, a formação 
das montanhas resultara do arrefecimento do planeta e consequente redução do 
seu volume, uma ideia conhecida por Teoria da Contracção. 
A aproximação de dois ou mais pontos 
da superfície, criariam as forças 
tangenciais de compressão necessárias 
ao enrugamento e, consequentemente, 
à formação das montanhas. 
Esta teoria era ainda aceite sem contestação pela generalidade
dos geólogos de finais do século XIX e começos do XX.
(Séc. XVII)
Décadas mais tarde, o vulcanista veneziano 
Anton Lazzaro Moro (1687-1764), defendia que 
as montanhas se teriam elevado acima do oceano 
primordial pela força do vulcanismo que 
considerava alimentado pelo fogo central.
(Séc. XVIII)
Na Rússia, o cientista Vasilyevich Lomonosov
(1711-1765), avançou e deu relevo a ideias afins das
de Abraham Ortels, numa caminhada que ia
acrescentando força à concepção que viria fazer a
glória de Wegener, dois séculos mais tarde.
Ao admitir que os icebergs do oceano 
meridional implicavam a existência de uma 
massa continental coberta de gelo na 
região polar do Sul, este notável académico 
previu a existência da Antárctida.
(Séc. XVIII)
George-Louis Leclerc (1707-1788), mais 
conhecido por Buffon, propôs que se observasse 
e estudasse o fundo do mar actual para que se 
descobrisse o passado geológico.
Esta visão é uma notável antecipação da ideia da 
geologia marinha, que conduziu à moderníssima 
concepção da geologia à escala global, bem 
explanada na Teoria da Tectónica de Placas.
(Séc. XVIII)
O alemão Friedrich von Humboldt (1769-1859)
interessou-se pelos vulcões da margem ocidental das
Américas, tendo sido sensível ao seu alinhamento
nesta directriz dos dois continentes.
Procurou explicar esse facto pela existência de uma 
vasta fissura da crosta ao longo dessa margem. 
(Séc. XIX)
Antecipa concepções desenvolvidas, mais tarde, por Kiyoo
Wadati (1902-1995) e Hugo Benioff (1899-1968), 
conducentes à descoberta das zonas de subducção.
O geólogo e geógrafo francês Antoine Snider-Pellegrini 
(1802-1885) defendeu a fragmentação de uma grande massa 
continental e o afastamento (deriva) dos continentes de um e 
outro lado do Atlântico, inspirado na correspondência do traçado das 
respectivas costas, sugerida, três séculos antes, por Abraham 
Ortels, e na ocorrência de fósseis idênticos nesses continentes. 
Segundo ele, todas as terras tinham estado unidas num único continente (a que Wegener viria a 
chamar Pangea), ao longo do qual se instalou uma enormíssima fenda que o rompeu de Norte a 
Sul e que separou o Novo e o Velho Mundos.
Segundo ele, todas as terras tinham estado unidas num 
único continente (a que Wegener viria a chamar Pangea), 
ao longo do qual se instalou uma enormíssima fenda que 
o rompeu de Norte a Sul e que separou o Novo e o Velho 
Mundos.
. 
(Séc. XIX)
A ideia da deriva tinha, contudo, um travão poderoso, contido na 
visão solidista do matemático e físico francês, Siméon
Denis Poisson (1781-1840) que, sem negar uma possível 
fase inicial do planeta em estado de fusão, defendia que a Terra 
se comportava como um corpo já arrefecido e, portanto, rígido, 
na sua totalidade. 
Lembrado como um destacado 
solidista, Poisson opunha-se às 
ideias fluidistas, numa visão 
coincidente com a do matemático e 
filósofo alemão Gottfried Wilhelm 
von Leibniz (1646-1716), na centúria 
anterior, visão na qual se destacou, 
mais tarde, Lord Kelvin (1824-1907), 
o conhecido físico inglês, também 
lembrado como um acérrimo solidista.
O geólogo americano James Hall (1818-1898) estudou em pormenor 
a sequência estratigráfica do sector norte dos Montes Apalaches o que lhe 
permitiu, nos anos de 1850, reconstituir a paleogeografia daquela região 
durante grande parte dos tempos paleozóicos. 
Concluiu que, durante aquele intervalo de tempo, as camadas sedimentares se tinham
depositado numa vasta depressão muito alongada como um imenso sulco.
Segundo Hall, à medida que esta depressão se ia afundando 
lentamente, os sedimentos iam-se acumulando, atingindo 
espessuras de milhares de metros, ao longo de muitas dezenasde milhões de anos. Mais tarde, sujeita a compressões laterais, 
que não soube explicar, esta acumulação de sedimentos sofreu 
violentas deformações, de que resultam os enrugamentos que 
elevaram os ditos Montes Apalaches.
(Séc. XIX)
Montes Apalaches
Continuação, na América, da Orogenia Varisca.
O geólogo americano James Dwight Dana (1813-
1895), confirmou a interpretação de Hall e criou, em 
1873, o conceito de geossinclinal.
Para ele, o período de 
sedimentação numa 
depressão como esta, 
concebido como muito 
longo (centenas de 
Ma), termina sempre 
por uma orogenia 
(dezenas de Ma).
geossinclinal
(Séc. XIX)
Em 1900, o geólogo e paleontólogo
francês, Gustave-Émile Haug
(1861-1927), trouxe para a Europa o
interesse pelos geossinclinais.
(Séc. XIX)
Em 1853, o francês Jean-Baptiste Élie de Beaumont (1798-1874)
retomou e deu força às ideias de Descartes (Teoria da Contracção).
(Séc. XIX)
Eduard Suess (1831-1914), geólogo austríaco, levantou o 
problema da mobilidade dos blocos continentais, com base no 
estudo de Glossopteris, planta que viveu há cerca de 300 
milhões de anos, na América do Sul, na África, na Índia e da 
Antárctida.
3ª grande contribuição
(Séc. XIX)
Segundo Suess, estes 
territórios do Sul estiveram 
unidos num único 
supercontinente, a que deu o 
nome de Gonduana, em 
referência à região do mesmo 
nome, na Índia, onde 
Glossopteris foi encontrada 
pela primeira vez.
Gonduana
Suess reflectiu sobre a relação entre a África e a Europa e admitiu, e bem, que as 
camadas de rochas que constituem a Cadeia Alpina se tinham formado no fundo de um 
oceano, a que deu o nome de Thetys, e que os Mares Mediterrâneo, Negro e Cáspio são
o que resta desse oceano a caminho do seu fecho.
Thetys
Thetys
Placa africana
Placa euro-asiática
Thetys
Em Inglaterra, o eclesiástico Osmond
Fisher (1817-1914) ficou na história da
ciência mobilista as ao conceber, em1881, as
correntes de convecção três
décadas antes das translações continentais,
de Alfred Wegener (1915) e oito décadas
antes da expansão dos fundos oceânicos, de
Harry Hess (1962).
4ª grande contribuição
(Séc. XIX)
Essas correntes 
eram ascendentes
sob os oceanos e 
descendentes sob 
os continentes, 
numa notável 
antecipação 
à
Teoria da Tectónica de Placas. 
oceano
c
o
n
tin
e
n
te
As correntes de convecção térmica, apontadas como principais responsáveis 
pela tectónica de placas, são hoje motivo de intensa discussão entre os 
geocientistas. A conjugação destas correntes com a existência, cada vez mais 
comprovada, de plumas mantélicas, originárias da fronteira manto/núcleo e 
geradoras, à superfície, dos chamados “pontos quentes, está na agenda do dia 
destes especialistas.
Segundo Fisher, alguns continentes ter-se-iam
contraído, formando montanhas nas suas margens.
Os primeiros, como defensores do estado arrefecido e 
solidificado do interior da Terra; os segundos, como acérrimos 
seguidores de uma doutrina filosófica de base aristotélica, que 
sustentava que os continentes se teriam mantido, desde 
sempre, estáveis e fixos nas posições que hoje ocupam.
Não obstante os argumentos científicos do 
seu autor, em grande parte válidos, esta visão 
de Fisher foi ostensivamente rejeitada e, até, 
ridicularizada por solidistas e fixistas. 
Um conceito fundamental à moderna visão 
tectónica de placas é o de astenosfera, 
introduzido pelo geólogo americano Joseph 
Barrell (1869-1919) e definida como uma 
camada menos rígida, do manto superior, 
mantida num estado de plasticidade. 
5ª grande contribuição
(Séc. XIX)
PORRA
A astenosfera alimenta e promove parte 
importante do vulcanismo, permite a 
mobilidade das placas litosféricas, os 
reajustamentos isostáticos e toda a série 
de processos geodinâmicos daí 
decorrentes. 
Barrell desenvolveu 
ainda o conceito de 
litosfera, 
formada pela 
crosta e pela 
parte superior, 
rígida, do 
manto.
É com Alfred
Wegener (1880-
1930), 
meteorologista 
alemão,
que surge, em 
1912, a 
Teoria das
Translações 
Continentais. 
6ª grande contribuição
(Séc. XIX)
Conhecedor das ideias de Ortels e Snider-Pellegrini - as costas de
África e da América do Sul uniam-se como num puzzle - Wegener
reuniu elementos científicos que demostravam este encaixe.
Era o mobilismo a 
anunciar o fim do fixismo.
Em 1911, Wegener deparou com um artigo 
científico, no qual se afirmava que fósseis de 
antigos animais (Cynognatus e Lystrosaurus, 
répteis mamalianos do Triásico, e 
Mesosaurus, do Pérmico), e de plantas, 
como Glossopteris, do Pérmico, haviam sido 
encontrados em lados opostos do Atlântico. 
Wegener teve o mérito de a ter concebido e divulgado 
como tal, no seio de uma comunidade científica ortodoxa, 
marcada pelas ideias fixistas. 
Estimulado por este facto, iniciou uma 
série de estudos que conduziram à 
teoria que o celebrizou. 
Cynognatus
Lystrosaurus
Mesosaurus
Glossopteris
Fósseis de Cynognatus e Lystrosaurus, 
do Triásico, Mesosaurus, do Pérmico e de 
Glossopteris, da mesma idade, foram, 
ainda, encontrados nos continentes….
Para ser aceite como 
uma teoria, a ideia da 
deriva dos continentes 
necessitava de um 
conjunto suficiente de 
provas que a 
suportassem. 
Wegener descobriu então, entre 
outros argumentos geológicos, que 
antigos terrenos de África tinham 
continuidade na América do Sul. 
Wegener tomou ainda 
conhecimento de fósseis de plantas 
inequivocamente tropicais (fetos 
arbóreos) recolhidos em terrenos 
hoje sob climas frios, com é a ilha 
de Spitzberg, no Árctico.
Vestígios de antigos glaciares na África do Sul, 
América do Sul, Madagáscar, Índia e Austrália, 
levaram-no a admitir que, no passado, essas regiões 
teriam ocupado uma posição próxima do Pólo Sul. 
Wegener defendia então que, há cerca de
300 milhões de anos, os continentes teriam
estado unidos num único supercontinente, a
que deu o nome de Pangea,
rodeado pelo também 
único oceano, que referiu 
por Pantalassa.
PANTALASSA
mas foi o primeiro a reunir os dados científicos 
disponíveis e, com eles, elaborar uma hipótese com 
o potencial de uma teoria, utilizando argumentos 
geográficos, geológicos, paleontológicos e 
paleoclimáticos..
É certo que Wegener não foi o primeiro cientista a 
sugerir que os continentes estiveram ligados no 
passado e que, depois, se afastaram entre si, 
Incapaz de explicar as forças motoras da translação de tão grandes massas 
continentais, a concepção wegeneriana não resistiu às ideias fixistas e às 
objecções da comunidade científica da época, em especial, a norte-americana, 
ficando esquecida por cerca de meio século.
Um dos primeiros apoiantes da teoria de Alfred Wegener, foi Émile 
Argand (1879-1940). professor de Geologia na Universidade de 
Neuchatel e especialista em tectónica das regiões montanhosas. 
Na continuação do pensamento de Suess, este suíço 
admitia que a colisão continental era a que melhor 
explicava a formação dos Alpes, ideia que extrapolou 
para o continente asiático.
(Séc. XX)
colisão continental 
Um outro apoiante da
deriva dos continentes foi o
geólogo sul-africano Alexander
du Toit (1878-1948), que estudou
a estratigrafia e a geocronologia
dos terrenos da orla oriental da
América do Sul e as da orla
ocidental de África.
Com base nesta sua pesquisa 
apoiou as ideias de Wegener.
(Séc. XX)
Partindo do conceito de Pangea, 
Alexander Du Toit propôs que 
este supercontinente se separou 
em duas grandes massas 
continentais, a Laurásia, a norte, e 
a Gondwana, a sul, separadas 
pelo Oceano de Thetys
(nome da deusa grega das águas). 
Posteriormente estas duas massas ter-se-iam 
dividido em unidades menores e constituído os 
actuais continentes: América do Norte e 
Eurásia, a norte, e América do Sul, África, Índia, 
Austrália e Antárctida, a sul.
Em 1931, propôs uma explicação 
dinâmica de vanguarda, muito próxima 
do modelo actualmenteaceite. 
Para Arthur Holmes (1890-1965)
o vulcanismo não era suficiente para 
dissipar o calor interno da Terra, quer o 
remanescente da sua origem como planeta 
do sistema solar, quer o produzido pela 
desintegração de certos radionuclídeos, 
como o 235U, 238U, 232Th, 40K e outros. 
Deu ênfase às correntes de 
convecção térmica no manto terrestre, 
sugeridas por Fisher, em 1881, 
susceptíveis de mover a crosta à 
superfície, ideia que constituiu um dos 
pilares da tectónica de placas. 
7ª grande contribuição
(Séc. XX)
Holmes supunha que este calor 
seria suficiente para criar as ditas 
correntes de convecção e que 
estas, muito lentas (na ordem de 
escassos cm/ano), teriam sido a 
causa da rotura ao nível dos 
continentes, separação dos blocos 
continentais de um e outro lado 
desse acidente e subsequente 
deriva.
Físico de formação, Arthur 
Holmes trocou a física pela 
geologia, tendo sido professor 
desta disciplina na Universidade 
de Edimburgo.
Retomando as ideias de Fisher, Holmes concebeu que os materiais do manto, sobreaquecidos, 
ascendem, migram horizontalmente e, por fim, voltam a mergulhar para o interior da Terra. 
Numa antecipação notável, Holmes imagina os riftes e 
as zonas de Benioff.
Segundo ele, a referida rotura teria atingido a 
Pangeia e separado os continentes que hoje 
marginam, a Este e Oeste, o Oceano Atlântico.
Esta sua outra contribuição para o progresso do 
conhecimento do tempo geológico em termos 
absolutos, foi o outro pilar que, como se verá, deu 
corpo à referida Teoria da Tectónica de Placas.
Físico de formação, Holmes foi pioneiro da geocronologia isotópica e o primeiro
responsável pela revisão e aperfeiçoamento da escala cronostratigráfica.
Geocronologia isotópica 
Esta descoberta permitiu conceber o processo geodinâmico conhecido por 
subducção, uma porção da litosfera oceânica mergulha ao longo de um 
plano inclinado a que foi dado o nome de zona de Benioff-Wadati, uma 
das fronteiras de placas sobre as quais assenta a tectónica global.
Em 1927, o sismólogo japonês Kivoo Wadati (1902-1995) 
demonstrou que muitos sismos ocorriam em locais bastante 
profundos da crosta terrestre. Mais tarde, na década de 1950, 
o sismógrafo norte-americano Hugo Benioff (1899-1968), 
verificou que esses locais se situavam quase sempre na 
vizinhança das fossas oceânicas. Verificou, ainda, que os 
focos desses sismos se aprofundavam à medida que se 
afastavam da fossa, no sentido do continente.
(Séc. XX)
8ª grande contribuição
Em 1939, o geofísico americano 
David Tressel Griggs (1911-1974) 
explicava a formação das 
montanhas (orogénese) pela 
existência de correntes de 
convecção do manto tal como as 
definira Arthur Holmes, oito anos 
antes..
Segundo ele, a convecção criava a bacia de sedimentação e a 
isóstase, ao elevar os sedimentos ali acumulados, gerava a 
correspondente cadeia montanhosa. A resposta às grandes 
interrogações dos geólogos dos séculos XVIII e XIX - a elevação 
de uma cadeia de montanhas - estava finalmente dada. 
(Séc. XX)
9ª grande contribuição
Esta formulação de Griggs permitiu associar as dorsais oceânicas às 
directrizes coincidentes com faixas de encontro de correntes de convecção 
ascendentes, e as zonas de subducção, às faixas de encontro das 
correntes de convecção descendentes.
Terminada a convecção, esta massa tenderia a elevar-se
para alcançar o inevitável equilíbrio isostático, gerando a 
montanha.
Griggs admitia que, numa faixa de convergência, no lado descendente deste tipo de 
correntes se formava uma depressão alongada que se enchia de sedimentos 
oriundos das terras emersas de ambos os lados e, portanto, menos densa (na 
ordem de 2,7) do que o substrato oceânico (com uma densidade na ordem de 2,9) 
em que se afundava. 
Nos anos de 50 do século passado o 
geólogo norte-americano Bruce Charles 
Heezen (1924-1977) cartografou o 
alinhamento de relevos submarinos 
constituinte da dorsal meso-atlântica,
caracterizada por elevado fluxo térmico e 
actividade sísmica considerável.
(Séc. XX)
10ª grande contribuição
1
2
3
4
Em 1953, oceanógrafo e geofísico Robert Sinclair Dietz
(1914-1995), estudou a natureza do conjunto de relevos 
submarinos na vizinhança das ilhas havaianas, concluindo que 
estes montes vulcânicos se tinham deslocado, como que 
transportados num tapete rolante. 
(Séc. XX)
11ª grande contribuição
Baseando-se nos seus estudos sobre arcos insulares, anomalias 
gravíticas no substrato marinho e nos trabalhos de Holmes, Griggs, 
Heezen, Dietz e outros, Hess formulou, em 1960, a sua hipótese 
de expansão dos fundos oceânicos. 
Esta sua formulação fez renascer a velha 
teoria das translações continentais de 
Alfred Wegener
12ª grande contribuição
(Séc. XX)
Hess confirmou que as cristas ou dorsais 
meso-oceânicas, percorridas 
longitudinalmente por um rifte com vulcanismo 
activo, correspondem à expressão superficial 
de correntes de convecção térmica do manto 
nos seus troços ascendentes. 
Postulou, ainda, que a crosta oceânica nasce aí 
por ascensão de material ígneo diferenciado do 
manto, que arrefece, solidifica e, a partir daí, 
cresce e alastra lateralmente, afastando, entre si, 
os continentes de um e de outro lado do oceano 
assim formado. 
Por fim, sugeriu que a velocidade de expansão 
dos fundos oceânicos, para um e outro lado do 
rifte, é da ordem de 1 cm por ano.
Rifte na Islândia
Entretanto, o canadiano Lawrence Whitaker
Morley (1920-2013) propusera, de modo independente,
uma explicação similar, em Janeiro de 1960, mas o seu
trabalho foi rejeitado pelos periódicos científicos Nature
e Journal of Geophysical Research, permanecendo por
publicar até 1967, quando apareceu na revista literária
Saturday Review.
(Séc. XX)
Frederick Vine (1939 -) 
Drummond Matthews (1931-1997)
Em 1963 propuseram que as anomalias magnéticas referidas como 
positivas e negativas coincidem com as inversões de polaridade 
geomagnética que, periodicamente, tiveram lugar ao longo das 
últimas duas centenas de milhões de anos.
13ª grande contribuição(Séc. XX)
Esta conclusão dos dois 
geofísicos britânicos constitui 
um dos suportes mais sólidos 
do alastramento dos fundos 
oceânicos, sendo uma das 
bases fundamentais da Teoria 
da Tectónica de Placas.
Na mesma época, o geofísico inglês,
Edward Crisp Bullard (1907-1980),
usando técnicas de computação, tentou
encaixar, como num puzzle, os contornos
dos continentes. Em vez de usar as linhas
de costa, como outros tinham feito, Bullard
usou a isóbata dos 2000 metros. Obteve,
assim, uma quase perfeita justaposição
entre os ditos contornos o que confirmou as
conclusões de Hess, Vine e Matthews.
(Séc. XX)
14ª grande contribuição
Em 1965, o geólogo e geofísico 
canadiano, John Tuzo Wilson 
(1908-1993), deu a conhecer o 
conceito de falha transformante. 
15ª grande contribuição
(Séc. XX)
Anel de Fogo do Pacífico
A rede mundial de sismos e vulcões
e a definição das placas litosféricas
Em sua 
homenagem foi 
dado o nome de 
“Ciclo de Wilson” 
ao ciclo 
geotectónico 
completo, no âmbito 
da teoria da 
tectónica da placas, 
de que também foi 
um dos autores.
Continuando o trabalho de Dietz, Tuzo Wilson, em 1953, mostrou 
que o deslizamento das ilhas havaianas se faz sobre um hotspot
(ponto quente) responsável pelo vulcanismo que as gerou.
pontos quentes
As idades absolutas das rochas dos fundos oceânicos, que são 
tanto mais antigas quanto mais afastadas se encontram do rifte, 
comprovou o alastramento dos ditos fundos.
Um esquema síntese
Um geopoema em 1979
34 anos depois, João Duarte e a sua equipa, juntamente com António Ribeiro, Pedro Terrinha,
Filipe Rosas e Marc-André Gutcher dão conta da recente descoberta, ao largo da costa de
Portugal, de uma possível zona de subducção nas suas primeiríssimas fases de formação.
Tal significa que, daqui a uns 200 milhões de anos, o
Oceano Atlânticopoderá vir a desaparecer e que as
massas continentais da Eurásia e da Laurência se
voltarão a juntar num novo supercontinente.
No artigo que publicaram, online, na revista Geology, em 2013, são revelados os primeiros
indícios de transformação da margem sudoeste ibérica (uma margem passiva, do tipo
atlântico) numa margem activa, do tipo pacífico.
Agradeço ao Prof. Rui Dias, da Universidade de Évora, meu 
brilhante ex-aluno, a revisão crítica deste documento de ensino.

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