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Fibrose cística Conceito ➜ Doença genética autossômica recessiva mais frequente em populações brancas descendentes de caucasianos, como aquelas da Europa, América do Norte ➜ É uma doença mondogênica, cujo problema está localizado no cromossoma 7 ➜ Doença genética, grave, sem cura ➜ Afeta principalmente o sistema respiratório e digestivo ➜ Emergiu da obscuridade nos últimos 70 anos ↳ Reconhecimento como a mais importante doença hereditária, potencialmente letal, incidente na raça branca ➜ Nos últimos 15 anos, estudos com biologia molecular em genética, transporte iônico e imunologia ↳ C o n h e c i m e n t o d o s m e c a n i s m o s bioquímicos na fisiopatogenia da doença ➜ Novos horizontes para o aconselhamento genético e o tratamento de suas complicações ➜ Uma das menções mais antigas atribuídas a esta doença é folclórica e data dos séculos XVIII ou XIX ↳ Rezava a lenda que crianças que, quando beijadas na fronte, tivessem sabor salgado morreriam precocemente ↳ Elas eram consideradas amaldiçoadas ou enfeitiçadas. Na França, Alemanha, Inglaterra não podiam ser batizadas ➜ Quando os primeiros fibrocísticos foram reconhecidos, a quase totalidade falecia ainda no primeiro ano de vida ➜ Atualmente: ↳ Diagnóstico precoce ↳ Manejo multiprofissional em centros especializados ↳ Acesso à terapêutica adequada ↳ Cerca da metade dos pacientes sobrevive à terceira década de vida ➜ Nos últimos 30 anos, nenhuma outra doença mobilizou os familiares de forma tão organizada, a ponto de const i tuírem associações de pais na Europa, nas Américas e inclusive no Brasil Epidemiologia ➜ Incidência da FC variável de acordo com as etnias ↳ 1/2.000 a 1/5.000 caucasianos nascidos vivos na Europa, nos Estados unidos e no Canadá ↳ 1/15.000 negros americanos ↳ 1/40.000 na Finlândia ➜ Brasil: ↳ Incidência estimada na região sul: 1/5.000 em média ↳ Outras regiões: Cerca de 1/10.000 nascidos vivos Genética ➜ Doença hereditária autossômica recessiva ➜ IMPORTANTE ter em mente esses dados para orientar futuras gestações das mães dos pacientes ➜ Gene da FC localiza-se no braço longo do cromossomo 7, no lócus q31 ↳ Tem a propriedade de codificar um RNAm que transcreve uma proteína transmembrana, reguladora de transporte iônico ↳ CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator) → Também chamada de canal de cloro ↪ Localiza-se na membrana apical das células ↪ Estrutura da CFTR (canal de cloro) ➤ Pode estar: ➔ AUSENTE ➔ DEFICIENTE ➔ Ou em MENOR QUANTIDADE nas células de vários órgãos do corpo humano ↪ A CFTR é essencial para o transporte de íons através da membrana celular ➤ Regulação do fluxo de Cl, Na e água ↪ O gene defeituoso acarreta disfunção da proteína CFTR ➤ Resulta em uma doença sistêmica com grande variabilidade de sinais e sintomas ➜ Centenas de mutações foram descritas no gene da FC: mais de 1800 ↳ A mais frequente: Deleção de três pares de bases, acarretando a perda de um aminoácido (fenilalanina) na posição 508 da proteína CFTR: ∆F508 → Grave ➜ Aproximadamente 70% no norte da Europa ➜ No Brasil: 33 a 52% Fisiopatogenia ➜ Ausência de atividade ou funcionamento parcial da CFTR ➜ Redução na excreção do cloro e aumento da eletronegatividade intracelular ➜ Maior fluxo de Na e água para preservar o equilíbrio eletroquímico ➜ Desidratação das secreções mucosas e aumento da viscosidade ➜ Obstrução dos ductos ➜ Reação inflamatória posterior processo de fibrose Apresentação clínica ➜ O defeito básico acomete células de vários órgãos, e nem todos os indivíduos expressam respostas clínicas semelhantes ➜ As manifestações clínicas podem ser muito variáveis e ocorrer precocemente, ou na vida adulta ➜ Acomete preferencialmente: Sistemas respiratório e Gastrointestinal ➜ O acometimento do trato respiratório associa se com a maior morbidade e é causa de morte em mais de 90% dos pacientes ➜ Classicamente ↳ Doença sinopulmonar crônica e supurativa ↳ Má absorção intestinal- insuficiência pancreática ↳ Concentração de cloretos elevada no suor, por isso possuem um suor um pouco mais salgado ↳ No entanto, cada vez é maior o número de casos identificados com apresentações clínicas mais leves e oligossintomáticos ↳ Patologia pulmonar crônica, esteatorreia e desnutrição ➜ Os mucos ficam espessos e pegajosos. No pâncreas o excesso de muco bloqueia os ductos pancreáticos e biliares ➜ Órgãos afetados pela fibrose cística ↳ Seios da face ↪ Sinusite pode ocorrer com mais frequência ↳ Pulmões ↪ Apresentam muco espesso e viscoso; propensão a infecções bacterianas ↳ Pele ↪ Glândulas sudoríparas produzem um suor mais salgado do que normal ↳ Nariz ↪ Pólipos nasais ➜ Manifestações Respiratórias ↳ Progressivo e de intensidade variável ↳ Muco viscoso e clearance mucociliar diminuído ↪ Predispõe à sinusite, bronquite, pneumonia, bronquiectasia, fibrose e falência respiratória ↳ A traqueia tem um lúmen mais estreito, aumento da secreção, aumento da camada muscular sendo bem espesso ↳ Colonização bacteriana secundária à retenção de secreção ↪ Favorece metaplasia do epitélio brônquico, i m p a c t a ç ã o m u c ó i d e p e r i f é r i c a e desorganização da estrutura ciliar ↳ Rolhas mucopurulentas nos brônquios e bronquíolos, com infiltração linfocitária aguda e crônica, piorando ainda mais o quadro, gerando uma contribuição maior para o aspecto inflamatório ↳ Doença pulmonar caracteriza-se pela colonização e infecção respiratória por bactér ias que levam a dano t issular irreversível ↪ Microrganismos mais comuns: ➤ Staphilococus aureus, Haemophilus influenzae, Pseudomonas aeruginosa, P. aeruginosa mucóide, Pseudomonas cepacea e Burkholderia cepacia ➤ Geralmente, o S. aureus e o H. influenzae são encontrados precocemente, mesmo antes do aparecimento de sintomas ➤ A colonização por pseudomonas é muito difícil de ser erradicada, mesmo com o uso de antibióticos ↳ C o m a e v o l u ç ã o , f o r m a m - s e bronquiectasias ↪ Geralmente após o segundo ano de vida, preferencialmente nos lobos superiores ↪ Decorrentes da incapacidade do paciente esterilizar o trato respiratório e suprimir o processo inflamatório endobrônquico Bronquiectasias ↓ Colapsos das vias aéreas ↓ Aprisionamento de ar e áreas focais de pneumonia hemorrágica ↳ A manifestação respiratória mais comum é a tosse crônica persistente ↪ Pode ocorrer desde as primeiras semanas de vida ↪ História de bronquiolite de repetição, síndrome do lactente chiador, infecções recor rentes do t ra to resp i ra tór io ou pneumonias recidivantes ↪ Com a evolução da doença: Diminuição da tolerância ao exercício ↪ Alguns pacientes são oligossintomáticos por vários anos, o que não impede a progressão silenciosa para bronquiectasias ↳ Doença pulmonar evolui em praticamente 100% dos fibrocísticos para cor pulmonale ↪ Tórax enf isematoso, broncor ré ia purulenta,taquipneia, cianose periungueal e baquetea mento digital acentuado ↪ Falta de ar em repouso ➜ Manifestações Gastrointestinais ↳ Em sua maioria, secundárias à insuficiência pancreática: ↪ Obstrução dos canalículos pancreáticos por tampões mucosos impede a liberação das enzimas para o duodeno: Má digestão e má absorção de gorduras, proteínas e hidratos de carbono ↪ Diarreia crônica, com fezes volumosas, gordurosas, pálidas e de odor característico ↳ Insuficiência pancreática (IP) está presente em cerca de 75% ao nascimento, em 80-85% até o final do primeiro ano, e em 90% na idade adulta ↳ 1° manifestação da IP na FC: ↪ Íleo meconial (obstrução do íleo terminal por um mecônio espesso): 15-20% dos pacientes ↳ Maioria dos diagnósticos de íleo meconial (90%) é relativa à FC. ↳ Importância de tratar todo como FC até prova em contrário ↳ Pacientes que não desenvolvemIP têm melhor prognóstico - melhor estado nutricional ↳ Síndrome da obstrução intestinal distal ↪ Obstrução incompleta: Dor abdominal intermitente, náuseas e massa palpável no quadrante inferior direito ↪ Obstrução completa: Vômitos biliosos e d istensão abdominal (abdome agudo obstrutivo) ↳ Síndromes de má absorção, prolápso retal, íleo meconial, edema, icterícia prolongada no período neonatal , doença do ref luxo gastroesofágico ↳ O acometimento hepatobiliar: Mais de 50% das necropsias ↪ Secreção anormal de íons pelo epitélio das vias biliares leva ao aumento da viscosidade e diminuição do fluxo biliar que gera obstrução biliar e à reação inflamatória e por fim, fibrose biliar ↳ Aproximadamente 30% dos pacientes apresentam DRGE e 40% apresentam constipação intestinal ↳ Pancreatite aguda recorrente ↳ Prolapso retal ocorre em cerca de 20% dos pacientes, principalmente com idade de 1-2 anos ↪ Pacientes com prolapso retal e pancreatites agudas recorrentes devem ser investigados quanto à fibrose cística ➜ Manifestações nutricionais/metabólicas ↳ Ba i xo ganho pônde ro -es ta tu ra l , desnutrição, baixa estatura ↪ Atraso puberal ↪ Azoospermia ↪ Baqueteamento digital ↪ Hérnia inguinal ↪ Osteopatia hipertrófica ↪ Suor salgado ↪ Vasculite ↪ Diabetes mellitus (20% dos adolescentes e 40% dos adultos) Consequências do defeito básico, secundárias a sua evolução ou às complicações da doença e, até mesmo, do tratamento Diagnóstico ➜ Atualmente, o Brasil dispõe de um programa de ampla cobertura para a triagem que é o teste do pezinho ➜ Entretanto, ainda se observa uma grande heterogeneidade no acesso aos métodos diagnósticos e terapêuticos entre as diferentes regiões brasileiras ➜ Triagem neonatal para Fibrose Cística - Brasil ↳ Quantificação dos níveis de tripsinogênio imunorreativo em duas dosagens ↳ Frente a duas dosagens positivas: Teste do suor ↪ Confirmação ou exclusão de fibrose cística ↪ Dosagem de cloreto por métodos quantitativos no suor ≥ 60 mmol/l, em 2 amostras, confirma o diagnóstico ➜ Observações: ↳ A triagem neonatal para fibrose cística identifica os RN com risco de ter a doença, MAS NÃO confirma o diagnóstico ↪ O índice de testes falso-positivos pelo algoritmo baseado na quantificação de tripsinogênio imunorreativo é bastante alto ↳ E, também, a triagem neonatal negativa NÃO exclui o diagnóstico ➜ Fluxograma - condução dos casos com triagem neonatal positiva ↳ Confirmar insuficiência pancreática exócrina: ↪ Dosagem da elastase fecal: ↪ Confirmatório se < 200 µg/g ➜ Todos os pacientes com fibrose cística devem ser submetidos ao exame genético ➜ A identificação das mutações no gene CFTR tem implicações prognósticas e de planejamento familiar ➜ Além disso, existem drogas que atuam em mutações espec í f i cas ( co r re to res e potencializadores da proteína CFTR), sendo algumas aprovadas em diversos países e outras em desenvolvimento ↳ Painel de mutações Tratamento ➜ Centros de referência no cuidado de pacientes com fibrose cística ↳ A complexidade da fibrose cística e as peculiaridades do seu tratamento resultam na necessidade de centros de tratamento especializados ➜ Por suas peculiaridades de acometimento multissistêmico e crônico, exige um modelo de atendimento multidisciplinar ↳ Possibilita tratamentos mais abrangentes e ef icazes, resul tando em aumento da expectativa de vida dos pacientes ➜ Uma equipe multidisciplinar mínima para o atendimento a pacientes com fibrose cística deve conter os seguintes profissionais: ↳ Pediatras (quando houver atendimento a crianças e adolescentes) ↳ Pneumologistas ↳ Gastroenterologistas ↳ Fisioterapeutas ↳ Nutricionistas ↳ Enfermeiros ↳ Psicólogos ↳ Assistentes sociais ➜ Os centros de fibrose cística devem oferecer estrutura adequada e ter uma política clara de prevenção e controle de infecções ➜ O paciente deve ser referenciado imediatamente após o diagnóstico ↳ Manejo multidisciplinar precoce, para manter estado nutricional normal e tratar as infecções respiratórias em tempo oportuno ➜ Gestão Geral da Fibrose Cística ↳ Prevenir os distúrbios eletrolíticos ↳ Neonatos e lactentes em uso de leite materno ou de fórmulas infantis devem receber suplementação de cloreto de sódio (sal): 2,5 - 3,0 mEq/kg/dia ↪ A perda de sal pelo suor e a grande superfície corporal trazem risco para desidratação e distúrbios eletrolíticos nos lactentes que pode ser fatal para o bebê ↳ Todos os pacientes devem receber aconselhamento dietético para prevenção dos distúrbios nutricionais: ↪ Dieta hipercalórica e hiperproteica, suplementação vitamínica, terapia de reposição enzimática ↪ Forte associação entre função pulmonar e estado nutricional, então o paciente bem nutrido, apresenta melhor função pulmonar ➜ Alto risco de desenvolver deficiência de vitaminas lipossolúveis devido a insuficiência pancreática exócrina ➜ Insuficiência pancreática exócrina ↳ Reposição de enzimas pancreáticas ↪ Cápsulas de enzimas no início ou durante as refeições ↳ Adequação da terapia: Determinada clinicamente pelo estado nutricional ➜ Hepatopatia na fibrose cística: ↳ Melhorar o fluxo biliar, a viscosidade e a composição da bile ↪ Ácido ursodesoxicólico na dose de 15-20 mg/kg/dia - uso controverso na literatura médica ➜ Tratamento da doença pulmonar: ↳ Nebulizações de diversos medicamentos ↪ Fundamentais na manutenção da saúde pulmonar, sendo essencial um sistema de inalação para todo paciente com fibrose cística ➤ Salina hipertônica ➤ Antibióticos: Tobramicina, colistimetato, aztreonam ➤ Redutor de viscosidade das secreções: Dornase alfa e salina hipertônica ➤ S o l u ç ã o s a l i n a h i p e r t ô n i c a 7 % : mucocinética ➔ Hidratante da superfície das vias aéreas, alterando as propriedades reológicas do muco ➔ Reduz exacerbações respiratórias e promove melhoras na função pulmonar e na qualidade de vida ➤ Dornase alfa inalatória: ➔ Melhora função pulmonar e redução de exacerbações respiratórias ➔ A partir de 6 anos de idade (ou antes se necessário) ➔ Reduz a viscosidade da secreção ↳ Exacerbações pulmonares agudas ↪ Exacerbações leves (sem hipoxemia ou desconforto respiratório signif icat ivo): Antimicrobianos por via oral, de acordo com o resultado da última cultura de secreção respiratória ↪ Exacerbações graves: Antimicrobianos intravenosos, hospitalar ➤ Escolha das drogas depende das culturas prévias de secreção respiratória e do histórico do paciente ↳ Fisioterapia respiratória regular, para a remoção das secreções ↳ Exercício (aeróbico e anaeróbico): Auxiliar em desfechos funcionais e posturais ➜ Tratamentos moduladores da CFTR ↳ Potencializadores: aumentam a função da proteína CFTR que é expressa na membrana plasmática (classes III, IV e V) Ivacaftor ↳ Corretores: corrigem defeitos da proteína que não é expressa na membrana da célula (classes I e II) Ataluren ➜ Transplante pulmonar ↳ Deve ser considerado nos pacientes com expectativa de vida prevista menor do que 50% em 2 anos e que tenham limitações funcionais classe III ou IV segundo a New York Heart Association ↳ Queda do VEF1 abaixo de 30% é relacionada a uma mortalidade em 2 anos em torno de 40% no sexo masculino e de 55% no sexo feminino ➜ As terapias recomendadas fibrose cística, apesar de sua comprovada eficácia na sobrevida, causam uma sobrecarga ao paciente, interferem na sua qualidade de vida e tornam sua adesão problemática devido à complexidade dos regimes terapêuticos Cuidados especiais ➜ Diversas evidências de que a transmissão de patógenos pode ocorrer entre indivíduos com fibrose cística, especialmente por meio de gotículas e contato ↳ Pode envolver cepas virulentas, piorando a evolução da doença ➜ Medidas de prevenção de infecção ↳ Segregação dos pacientesdentro e fora do ambiente hospitalar Seguimento ➜ Acompanhamento periódico ➜ Antropometria - qualidade e quantidade da alimentação ➜ Função pulmonar ➜ Amostras de secreções respiratórias (cultura bacteriana) ➜ Espirometria - VEF1 fundamental para avaliar evolução e prognóstico ➜ Função gastrointestinal ➜ Avaliação bioquímica e de imagem ➜ Radiografia de tórax / TC de tórax
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