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CLÍNICA CIRÚRGICA II HEPATOCARCINOMA E NÓDULOS HEPÁTICOS BENIGNOS Gustavo Tambarotti Martins - 8º período A aula tem o objetivo de lembrar um pouco a anatomia, os segmentos hepáticos, que são divididos de 1 a 8, os tipos de ressecções para tumor primário que é basicamente o Hepatocarcinoma (HC) ou Carcinoma Hepatocelular (CHC). Falaremos também das lesões nodulares que são mais comuns, os recursos diagnósticos e a conduta frente a cada uma delas. Os tumores hepáticos mais comuns são metástases, principalmente de tumor de cólon e dos tumores hepático PRIMÁRIOS o CHC é o principal, com cerca de 85%. Os outros são menos comuns como colangiocarcinoma, hepatoblastoma, angiossarcoma. No brasil, por conta da vacinação o HBV é menos frequente que o HCV. No mundo a incidência de HCH por HBV é maior. Veremos que a associação de cirrose com CHC garante um prognóstico mais reservado, aumentando as recidivas do CA. INTRODUÇÃO O fígado é dividido anatomicamente pelo ligamento falciforme no qual teremos o lobo maior à direita e o lobo esquerdo, por isso que quando falamos por exemplo em hepatectomia esquerda vem na cabeça automaticamente uma ressecção tendo como referência o ligamento falciforme, mas veremos que na cirurgia, o fígado é dividido em segmentos que respeitam a funcionalidade do fígado e com íntima relação com a vascularização. A divisão correta do lobo direito e esquerdo é através da linha de Cantlie que vai da borda lateral da vesícula biliar até a veia cava supra-hepática. Com isso, entendemos que ele é um pouco maior e compreende dos segmentos I a IV. Podemos dizer também que o lobo esquerdo compreende o ligamento falciforme e também 1 o segmento IV. O lobo I é posterior e não da pra ver nessa figura mas é justamente o lobo caudado. Aqui conseguimos ver melhor os segmentos que são posteriores e o lobo direito hepático então é composto do segmento 5 ao 8. O segmento 6 e 7 são posteriores. O aporte sanguíneo hepático é tanto venoso quanto arterial, porém com predomínio da rede venosa através da veia porta (70 - 75%). A artéria hepática fornece apenas 25%. A mesentérica inferior reúne-se com a veia esplênica antes desta se anastomosar com a veia mesentérica superior para formar a veia porta. Por isso que grande parte das metástases de tumor de cólon ou delgado vai pro figado. Temos que lembrar também da tríade portal (também chamado de pedículo Glissoniano), composta por : artéria hepática, veia porta e ducto hepático comum. Na imagem podemos ver que acima do fígado temos as 3 cavas supra-hepáticas que são responsáveis pelo efluxo de sangue do fígado, importantes na cirurgia para conter sangramento e evitar embolias. Elas dividem o fígado em 3 cissuras. A cisura direita, média e esquerda (está exatamente no ligamento falciforme) e as veias levam o nome de supra-hepática direita, média e esquerda. O cirurgião basicamente vai interromper temporariamente o influxo (manobra de Pringle) e também o efluxo sanguíneo hepático pra poder ficar com o órgão ali 2 estável e poder operar. Veremos que as cirurgias são classificadas em regradas e não-regradas. Fala-se regrada justamente por respeitar os segmentos hepáticos, a vascularização e ressecções padronizadas. Isso implica no prognóstico do paciente posteriormente. A não-regrada é aquela em que o cirurgião faz uma ressecção atípica, em cunha. (geralmente utilizada em nódulos). NOMES DAS SEGMENTECTOMIAS - Hepatectomia Direita: 5 a 8 - Trissegmentectomia Direita: 4 a 8. Lembrando que o 4 faz parte do lobo esquerdo. Nessa ressecção fica somente do ligamento falciforme pra esquerda. - Hepatectomia Esquerda: 2 a 4. A ressecção do segmento 1 não é obrigatória, pode ter ou não. - Trissegmentectomia Esquerda: aqui vamos tirar do 2 ao 6. - Segmentectomia Esquerda: 2 e 3 (do ligamento falciforme pra esquerda). OBS: No slide dele fica melhor de ver e entender. As complicações da cirurgia são: sangramentos (intra e pós-operatórios), infecções, fístulas biliares, trombose venosa e insuficiência hepática. ESTADIAMENTO O problema das grandes ressecções é que o fígado remanescente também é doente. então temos que ter cuidado para não ressecar demais e o paciente evoluir com insuficiência hepática no pós-operatório. O hepatocarcinoma é decorrente de uma lesão crônica, em especial a cirrose de origem viral (hep.B e C). No Brasil, com a vacinação veremos que a incidência de CHC por Hep.B é baixa, diferente dos países Asiáticos. Então, antes de operar o paciente, precisamos saber se ele tolera a cirurgia e para isso utilizamos a escala clínica de Child-Pugh. Se é um paciente cirrótico Child C, ele não tolera cirurgia, está indicado tratamento paliativo. Se for A ou B, a cirurgia pode ser realizada. Temos também o 3 score MELD que avalia os pacientes terminais e o prognóstico provável em 3 meses. Leva em consideração valores de bilirrubina, creatinina sérica e INR (Índice Internacional Normalizado, tem relação com o tempo de protrombina). Só lembrar que quanto menor o Score, maior a sobrevida do paciente. Os critérios de Milão são utilizados para o transplante, no qual o paciente só pode ser colocado na fila de transplante se estiver de acordo com esses critérios. Sabemos que a melhor estratégia de tratamento de CHC são os transplantes, então esses critérios são muito utilizados e extremamentes importantes (TEM QUE SABER!). TRATAMENTO Na cirurgia hepática, faz-se um estudo bem detalhado da massa hepática que vai continuar no paciente, ou seja, a massa remanescente. Com isso, temos que o fígado direito (segmento 5 a 8) constitui 65% da massa hepática e lobo esquerdo (segmento 1 a 4) representa os outros 35%. Isso tem grande impacto nos pacientes cirróticos, esteatóticos ou de pós-quimioterapia porque deve-se preservar ao máximo a massa hepática para esses pacientes com o fígado já doente não 4 evoluírem mal no pós-operatório. Um paciente que necessita por exemplo de uma ressecção no lobo direito. Uma das maneiras de tratamento será a embolização da veia porta direita pro fluxo cessar ali, diminuindo o crescimento tumoral, mas também deslocando o sangue para a veia porta esquerda que irá fazer aquele segmento crescer, ou seja, aumenta a massa hepática remanescente. A embolização é realizada se a massa remanescente for limítrofe, ou seja, se pelo estudo tomográfico do paciente cirrótico a massa hepática após a cirurgia deixar o paciente em um quadro com risco de entrar em insuficiência hepática aí sim fazemos a embolização da veia porta no lobo acometido para o lobo contralateral aumentar de tamanho. Com essa técnica, as cirurgias de grandes ressecções se torna factível. Um meio diagnóstico muito eficaz do cirurgião hepático é o Ultrassom intra-operatório (UIO), no qual é realizado em contato direto com o parênquima hepático, apresentando uma acurácia, especificidade, sensibilidade muito maior. Esse exame muda a conduta cirúrgica em 23% dos casos, detectando lesões muito pequenas.Temos também a técnica de Ablação por Radiofrequência (ARF). Ela emite calor através de uma agulha e destrói lesões pequenas. É utilizada em situações em que o paciente possui um tumor grande em um lobo, mas no outro também possui uma lesão. Então o cirurgião vai fazer a ARF na lesão pequena de um lado, embolizar o ramo da veia porta que está nutrindo o tumor do outro lado e depois a ressecção. Geralmente é utilizada em tumores metastáticos porque o CHC costuma ser tumor único. OBS: A ARF só é realizada nessas situações do fígado remanescente apresentar alguma lesão também. Se tiver somente um nódulo em um local do fígado, a indicação é ressecção primária. Indicações da ARF: ● lesões até 3 cm ● menos que 4 nódulos ● distante dos grandes vasos. Exemplo: paciente apresenta CHC de lobo direito e um nódulo no lobo esquerdo, porém no segmento 1 (lobo caudado), ou seja, perto da aorta. Qual a estratégia? Hepatectomia Direita + ressecção atípica do nódulo, não vai fazer ARF nessa situação. HEPATOCARCINOMA O CHC é de duas a oito vezes mais frequente em homens do que em mulheres. A taxa de sobrevida em 5 anos em pacientes não tratados é de 5%. Em contrapartida, pacientes cirróticos com CHC pequenos (menores que 2 cm) submetidos ao transplante (melhor tratamento) apresentaram sobrevida em 5 anos de 80%. Com isso, a detecção precoce dos tumores é fundamental para garantir sobrevida e melhor saúde desses pacientes. É um tumor altamente maligno, que 5 dobra seu tamanho, em média, a cada 180 dias e quando descoberto em estágios avançados, a previsão média é de 3 semanas após o diagnóstico. MedCurso: A apresentação clínica do CHC se faz principalmente de quatro formas: (1) Tríade clássica: dor em Quadrante Superior Direito do Abdome (QSDA) + aumento do volume abdominal + perda de peso; (2) Identificação incidental por método de imagem em paciente assintomático, com ou sem massa palpável em QSDA; (3) Piora do estado clínico ou trombose de veia porta em paciente cirrótico previamente compensado; (4) Manifestações paraneoplásicas: febre, leucocitose, caquexia, eritrocitose, hipercalcemia, síndrome carcinóide, hipoglicemia, porfiria cutânea tarda etc. OBS: As aminotransferases, bilirrubinas, fosfatase alcalina e GGT e leucometria global podem estar elevados. 6 O CHC, quando pequeno, vai ser hipoecóica no USG. À medida que aumenta de tamanho, vai ficando hiperecóico e com margens mal definidas. O exame de confirmação diagnóstica utilizado é a TC helicoidal trifásica. Embora o fígado tenha 75% de sua vascularização proveniente do sangue porta e 25% do sangue da artéria hepática, o CHC é vascularizado quase que exclusivamente pela artéria hepática, o que na TC se apresenta como tumor sólido hipercaptante na fase arterial com “washout” nas fases tardias. O que é isso? Através do contraste, o tumor hipervascularizado vai captar esse contraste e o “esvaziamento” da lesão com o contraste é tardio, então fica bem marcado no exame. OBS: O melhor tratamento é o transplante e se o paciente tiver carga viral, pode comprometer o fígado recebido, então tem que tratar antes do transplante. OBS²: A hipertensão portal também interfere na sobrevida dos paciente. Isso ocorre porque com essa pressão aumentada no sistema, a ressecção pode complicar pois aumenta o fluxo e pode predispor a deiscências e sangramentos. OBS³: O tumor, quando invade a veia supra-hepática, causa trombose e aumenta a pressão porta, denominando-se síndrome de Budd-Chiari. CONTRAINDICAÇÔES PARA RESSECÇÔES CIRURGICAS Os pacientes Child C (não toleram a cirurgia) e também nas situações em que temos alto risco de recorrência tumoral: - tumor > 5 cm - presença de outras lesões intra-hepáticas - infiltração capsular ao redor do tumor - Invasão de vasos intra-hepáticos - acometimento de linfonodos regionais Aqui, alguns fatores que interferem no prognóstico do paciente. (só leu, mas é importante). 7 SEGUIMENTO TC de abdome, tórax e alfafetoproteína a cada 3 meses, no primeiro ano, a cada 4 meses no segundo ano e seguir repetição de exames a cada 6 meses. NÓDULOS HEPÁTICOS BENIGNOS A prevalência dos nódulos hepáticos benignos felizmente é muito maior que os tumores malignos. Muitas vezes esses nódulos são descobertos incidentalmente em uma USG de abdome por exemplo e vem no laudo a presença de um nódulo hepático. Quando a USG não consegue determinar qual o tipo de nódulo ai sim caminhamos para a TC. Os nódulos hepáticos são: - Hemangioma (MAIS COMUM) - Hiperplasia nodular focal (HNF) (2º mais comum) - hiperplasia regenerativa nodular - Adenoma (3º mais comum - Hemangioteliomas - Outros (lipoma, fibroma, leiomioma). OBS: Só vai focar os que estão em negrito. O hemangioma tem um halo hiperecóico na periferia. A hiperplasia nodular focal (HNF) o que chama atenção é a cicatriz central. Já o adenoma tem uma área 8 central de degeneração, como se fosse uma necrose. Normalmente o adenoma é diagnosticado por TC OBS: na TC a gordura é PRETA, então no exame quando vem com uma área hipodensa, lembrando a gordura, devemos pensar em adenoma, veremos mais à frente. HEMANGIOMA É o tumor benigno mais comum, são geralmente lesões solitárias, mas tumores múltiplos podem ocorrer em até 10% dos pacientes. São tumores sólidos, costumam ser pequenos, mas quando ultrapassam 5 cm (10% dos casos) são chamados de gigantes ou cavernosos. Essa tumoração na verdade é um enovelado de vasos e que quando maiores (cavernosos) podem gerar coágulos, trombose, fibrose e consumir os fatores de coagulação da paciente. Quanto maior o hemangioma, maior as possibilidade de sintomas. A dor em andar superior do abdome é o sintoma mais frequente, sendo resultado de infartos e necrose, pressão sobre estruturas adjacentes, distensão da cápsula hepática, ou alto fluxo sanguíneo. Sintomas compressivos podem ocorrer, tais como hiporexia, plenitude pós- prandial precoce, náuseas e vômitos, obviamente, nos HC gigantes. O hemangioma apresenta-se hiperecóico na USG e hipodenso na TC sem contraste. As indicações de tratamento são: - Sintomas - Dúvida diagnóstica - Anemia Hiperproliferativa e Síndrome de Kasabach-Merrit (consumo de hemácias, plaquetas e fatores de coagulação dentro do hemangioma) - Rotura ou crescimento rápido - lesões superficiais (perto da cápsula de glisson) > 6cm (risco de rompimento para cavidade, mas não é comum) O tamanho do hemangioma, como fator único, não é motivo de tratamento. Mas um exemplo de paciente que é jogador de futebol, sujeito à trauma na região, aí sim o tratamento vai ser empregado. 9 Os hemangiomas são lesões hipodensas na TC, sem cápsula, sólido e com edema perilesional. A presença de fibrose, calcificação ou hemorragia dificultam o diagnóstico porque pode confundir com a HNF que como foi falado apresenta uma cicatriz central. HIPERPLASIA NODULAR FOCAL É uma lesão não neoplásica, única, mais comum em mulheres (9:1) e não está associada à Anticoncepcionais Orais (ACO). Na maioria dos casos não necessita de tratamento. É uma lesão que surge de uma malformação vascular que leva a um aumento dofluxo sanguíneo local. Pode surgir dor se houver ruptura ou hemorragia no interior do nódulo e os exames laboratoriais são quase sempre normais. Na TC, evidencia massa Hiper ou Isodensa com CICATRIZ CENTRAL. ADENOMA É evidente a associação de ACO com o adenoma. Geralmente não há sintomas e são lesões encontradas incidentalmente. No entanto, quando apresentam sintomas são: (1) dor epigástrica ou em hipocôndrio direito (sintoma mais comum, em 52%, causado por sangramento ou infarto intratumoral), a qual pode ser súbita e intensa em 30% dos pacientes; (2) massa abdominal palpável (25 a 35%); (3) hepatomegalia; (4) dor abdominal crônica ou intermitente (20 a 25%), causada por compressão de estruturas próximas; ou (5) sinais e sintomas compatíveis com ruptura subcapsular ou para peritônio livre: dor abdominal súbita, 10 palidez cutânea, hipotensão arterial ou morte súbita. Os nódulos costumam ser grandes (>10cm) e únicos. Na biópsia pode ser difícil diferenciar o adenoma do fígado normal e do CHC bem diferenciado. Até ⅓ das pacientes pode se apresentar com hemoperitônio pela ruptura do adenoma necessitando de cirurgia de urgência. Apesar de rara, é possível a transformação para CHC.. É indistinguível da HNF quando esta não apresenta a cicatriz central. A presença de gordura ajuda no diagnóstico diferencial porque a gordura é hipodensa (preta) na TC. Medcurso: O risco estimado de desenvolvimento de AHC em mulheres que fazem uso contínuo de ACO por 5 a 7 anos é 5 vezes maior que na população geral e 25 vezes maior quando o uso é por período superior a 9 anos. (Essa parte foi extremamente difícil de entender, peço desculpas). 11 Tabela do MedCurso HEMANGIOMA HNF ADENOMA CLÍNICA Assintomáticos. Assintomáticos/inc identais (90%). Mulheres em uso ACO (90%). Dor abdominal/massa (66%). TAMANHO Maioria < 4 cm. < 5 cm (60%). > 5 cm (60%). USG Hiperecoicos inespecífico inespecífico TC Fase venosa retardada. Hipo ou isodensas; Captação arterial efêmera (1min); Cicatriz hipodensa (43- 60%); Eventualmente, cicatriz isodensa pós-contraste. Captação arterial periférica. Áreas hipo/hiperdensas (hemorragias antigas/recentes). Pré-contraste. 12
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