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175Múltiplas Significações Língua Portuguesa e Literatura No período acima, a palavra mar é tirada de seu lugar comum cujo significado é grande massa e extensão de água salgada para o sentido de grande ou extensa plantação de cana-de-açúcar. Esse tipo de mu- dança é possível porque existe, entre o significado próprio da palavra e o novo que se atribuiu a ela, um cruzamento onde ambos se encon- tram apresentando traços comuns. Canavial e mar possuem em co- mum os seguintes traços: posição horizontal e grande extensão, o mar, às vezes, passa a ter coloração esverdeada, exatamente como a visão de uma plantação de cana-de-açúcar do alto. A esta mudança de signi- ficado dá-se o nome de metáfora. Metáfora é uma operação lingüística baseada numa relação que o falante vê entre o significado habitual da palavra e o significado no- vo a ela atribuído. Essa relação permite dar a um termo o significado de outro. • No exemplo em que se analisou a presença da metáfora, há também uma outra figura de linguagem caracterizada pelo uso das palavras doce e amargo. Que figura é essa e que sentido ela permite atri- buir ao texto? ATIVIDADE Poesia e polissemia A poesia é um texto polissêmico por natureza. • Leia o poema “História” e faça o levantamento dos recursos geradores de polissemia. ATIVIDADE História Nossa história é assim: Vamos pras Índias! Dias e dias os horizontes se repetem – Olha! Melhor mesmo é buscar vento mais pro [ fundo Uma tarde um marujo disse: – Ué! Que terra é essa? 176 O Discurso como prática social: oralidade, leitura, escrita, Literatura Ensino Médio Velas baixaram e desembarcaram –Terra como é teu nome? Cortaram o pau. Saiu sangue – Isso é Brasil! No outro dia O sol do lado de fora assistiu missa Terra em que Deus anda de pés no chão! Outros chegaram depois Outros Mais outros –Queremos ouro! A floresta não respondeu Então Eles marcharam por uma geografia-do-sem-lhe-achar-fim Rios enigmáticos apontavam o Oeste A água obediente conduziu o homem Começou daí um Brasil sem-história-certa A terra acordou-se como alarido de caça De animais e de homens Mato-grande foi cúmplice nas novas plantações de [sangue Mulher foi espremer filho no escondido E veio o negro Trouxe o sol na pele E uma alma de nunca-mais carregada de vozes Foi desbeiçar terra Alargaram-se as lavouras Brasil encheu-se de queixas de monjolo Sol espalhou verão nos canaviais das fazendas O mato escondeu escravos Com inscrições de chicote no lombo