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Grupos Sociais na Psicologia

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PSICOLOGIA SOCIAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Conceituar grupo social no contexto da psicologia social.
 > Identificar principais estudos e abordagens teóricas sobre os grupos 
sociais.
 > Exemplificar os processos grupais em diferentes contextos de atuação.
Introdução
Grupo é a interação de três ou mais pessoas com propósitos em comum. Por 
ser um fenômeno múltiplo, no grupo cada pessoa tem a possibilidade de formar 
sua própria identidade e interagir com o outro e o mundo social, além de outros 
grupos já estabelecidos. Cada grupo social tem normas próprias, que regem o 
comportamento dos seus integrantes conforme a definição dos papéis e que 
estão sempre em construção coletiva, provendo formas de olhar para si e para 
o mundo e se entender nele.
Neste capítulo, você vai estudar os grupos sociais no contexto da psicologia 
social, com o objetivo de conhecer melhor os fenômenos grupais, sua organi-
zação e possibilidades de funcionamento. Vai conhecer também os principais 
estudos e abordagens teóricas sobre grupos sociais, além de acompanhar 
exemplos de processos grupais e as formas de atuação dos psicólogos sociais 
nesse campo de trabalho.
Estudo dos grupos e 
do processo grupal 
na psicologia social
Maria Carolina Rissoni Andery
Grupo social
Nosso primeiro desafio ao iniciar este debate é definir o que chamamos de 
grupo social. Na psicologia social, entendemos que grupo social é a interação 
de um conjunto de pessoas numa dinâmica psicossocial, em que a identidade é 
formada, e as normas sociais são aprendidas. Existem vários tipos e maneiras 
de organizar os grupos sociais. Apesar de já ter sido muito debatido, ainda 
é um tema atual.
Os grupos sociais, em sua maioria, têm como finalidade atingir um objetivo 
comum de curto ou longo prazo. Nele, há multiplicidade de elementos, mas 
com o desafio de construir um projeto coletivo. Para isso, seus participantes 
normalmente têm elementos em comum, e o grupo está sempre em processo, 
avaliando e produzindo sua história a partir da história individual dos parti-
cipantes e as implicações na história coletiva. Histórias e narrativas podem 
ser modificadas de acordo com a revisão das crenças e as mudanças na rede 
de relações entre os participantes e o mundo social (VIEIRA-SILVA; MIRANDA, 
2013). Além disso, em cada grupo, há papéis sociais definidos, que especificam 
como cada pessoa deve se comportar e ocupar determinada função. Isso ajuda 
as pessoas a saberem o que esperar uma das outras, assim como ocorre com 
as normas (ARONSON; WILSON; AKERT, 2018).
Apesar de o grupo social ser composto por um conjunto de pessoas, 
nem todo grupo é considerado um grupo social. Para ser um grupo 
social, os participantes compartilham determinadas características e um mesmo 
objetivo. 
A estrutura dos grupos normalmente está associada aos fenômenos de 
coesão interna e externa, liderança (LEWIN; LIPPITT; WHITE, 1939), comuni-
cação e facilitação social (CAMINO et al., 2013; TRIPLETT, 1897 apud ÁLVARO; 
GARRIDO, 2007). Deste último identificamos um estudo que concluiu que 
ciclistas competindo em grupo tinham melhor desempenho do que quando 
corriam sozinhos. Quando a presença de outra pessoa facilita ou melhora o 
desempenho pessoal, chamamos esse fenômeno de facilitação social.
Estudo dos grupos e do processo grupal na psicologia social2
Precisamos debater especialmente duas questões fundamentais para 
a formação e a manutenção do grupo. A primeira é a perspectiva histórica, 
que considera a inserção desse grupo na sociedade como um processo e que 
propicia o significado de sua existência e ação grupal com suas determinações 
econômicas, institucionais e ideológicas. A segunda é que o grupo só pode 
ser reconhecido como um processo histórico e, portanto, seria mais correto 
falar sobre processo grupal em vez de grupo (LANE, 1989). Para a formação 
de um processo grupal, são necessárias as condições a seguir (ALEXANDRE, 
2012; ARONSON; WILSON; AKERT, 2018).
 � Coesão: ajuda no alinhamento entre os integrantes, embora também 
possa ser um obstáculo para o desenvolvimento e a manutenção do 
grupo, ao propiciar o chamado pensamento grupal, que ocorre quando 
os membros concordam sempre, não havendo questionamentos que 
ajudem em desafios e descoberta de soluções.
 � Normas: diminuem a necessidade de usar o poder e, portanto, a pos-
sibilidade de tensão entre os integrantes.
 � Liderança: o líder surge na interação entre os participantes. Pode ser 
transacional, definindo objetivos claros, de curto prazo e com recom-
pensas, ou transformacional, inspirando as pessoas com objetivos 
comuns a longo prazo. A liderança pode ser autocrática (o poder é 
exercido por meio da coerção), democrática (as decisões são tomadas 
pela maioria do grupo, e o líder será o representante da decisão), ou 
permissiva (não há ação efetiva de liderança).
O líder deve ter a capacidade de superar barreiras e de usar sua 
influência positivamente para a execução dos objetivos do grupo. 
Entende-se que a liderança está relacionada não só à personalidade, mas também 
ao contexto social em que a pessoa está inserida, bem como se os seguidores 
estão dispostos a aceitar um líder com essas características.
 � Status: é o prestígio de um integrante, que pode ser subjetivo ou social, 
isto é, percebido pelo integrante, ou resultado consensual do grupo 
sobre determinada pessoa.
Estudo dos grupos e do processo grupal na psicologia social 3
 � Papel social: estabelecido para que os integrantes saibam como se 
comportar e para que haja um bom funcionamento do grupo. Diferentes 
aspectos influenciam a instauração dos papéis, como idade, sexo, nível 
educacional e desenvolvimento.
Portanto, é o encontro de diferentes pessoas com certa identificação e 
certa função que demarca o processo grupal. No funcionamento de um grupo 
social, no entanto, é importante que as normas sejam estabelecidas para que 
haja coesão e espaço de desenvolvimento dos papéis sociais e, consequente-
mente, do processo grupal em movimento. Também faz parte desse processo 
a formação de uma identidade grupal e a afetividade entre os integrantes. 
Quando há produção coletiva, construção do sentimento de pertencimento 
e vínculo entre integrantes de determinado grupo, há afetividade, e o grupo 
consegue se estruturar melhor (VIEIRA-SILVA; MIRANDA, 2013). 
No decorrer de sua vida, cada pessoa fará parte de diferentes grupos 
sociais, como a família, um grupo religioso, os grupos na escola, entre ou-
tros. A família e a escola são instituições que determinam a vida social das 
pessoas em nossa sociedade, pois há um conjunto de relações sociais que 
as definem. O grupo familiar, por exemplo, será observado pela psicologia 
social como o fator de socialização primária (LANE, 1994). No grupo familiar, 
ocorre o princípio da socialização e a primeira forma de hierarquia social. 
É importante demarcar a diferença entre instituição, organização 
e grupo, porque há níveis de realidade social que interagem e se 
determinam, compondo a realidade social. Numa instituição, há um “conjunto 
de normas que regem a padronização de um determinado hábito na sociedade 
e que garantem a sua reprodução”, como família, casamento, faculdade e clube 
esportivo (ALEXANDRE, 2012, p. 211). Já a organização é onde se reproduz o nível 
institucional e “onde o controle se apresenta de forma mais clara, como no caso 
do horário da entrada e saída do trabalho nas fábricas” (ALEXANDRE, 2012, p. 211).
Independentemente da instituição de que fazemos parte e do grupo a que nos 
referimos, é importante haver a identificação e a sensação de pertencimento, 
além de normas estabelecidas, para que o objetivo em comum seja cumprido. 
Além disso, é necessário haver espaço para opiniões diversas e um líder que 
conduza à coesão grupal, mas não ao pensamento grupal. Assim, o vínculo 
entre os participantes será fator positivo para desenvolvimento das ações.
Estudo dos grupos e do processo grupal na psicologia social4
Diferentes abordagensteóricas sobre os 
grupos sociais 
Os primeiros estudos sobre os grupos na psicologia surgiram na década 
de 1940 com Sherif (1936), que abordou a psicologia das normas sociais, 
a teoria do julgamento social e a teoria do conflito realista. Outros auto-
res também se detiveram sobre a questão dos grupos e das massas, como 
Sigmund Schlomo Freud (1856–1939); Gustave Le Bon (1841–1931); Solomon 
Eliot Asch (1907–1996) e Kurt Lewin (1890–1947), entre outros. Após a Segunda 
Guerra Mundial, o foco dos estudos dos grupos deslocou-se para o indivíduo 
(orientação individualista) e, gradativamente, o interesse pelos fenômenos 
grupais foi diminuindo no fim dos anos 1970 e 1980. Volta, porém, tornando-
-se dominante em meados da década de 1990 e se mantém até o momento 
(BROWN, 2000; FORSYTH; BURNETTE, 2010; HOGG, 2006; MARTÍN-BARÓ, 1989; 
MOURA et al., 2008).
Na psicologia social brasileira, que teve forte influência da psicologia 
norte-americana, o professor Otto Klineberg introduziu a psicologia social 
na Universidade de São Paulo na década de 1950. Seu primeiro livro sobre 
psicologia social publicado no Brasil foi a tradução de uma obra dele, em 
1959, que continha como tópicos: diferenças individuais e grupais, atitudes 
e opiniões, interação social e dinâmica de grupo, patologia social e política 
interna e internacional. Posteriormente, é possível perceber a influência de 
autores europeus e latino-americanos nesse campo.
O estudo dos grupos vem sendo desenvolvido por diferentes autores 
de várias perspectivas teóricas. George Elton Mayo (1880–1949), por 
exemplo, já estudava grupos formados em organizações e indústrias, como os 
trabalhadores da Western Eletric Company. Criou a Escola das Relações Humanas, 
onde estudava-se o fenômeno dos grupos. Neste capítulo, vamos estudar os mais 
representativos, de acordo com Calegare (2010) e Boechat, Vieira e Pizzi (2020).
Kurt Lewin (1890–1947), importante psicólogo alemão, elaborou um modelo 
explicativo das relações intergrupais e criou a teoria do campo. É reconhecido 
por todos no campo da psicologia de grupo. Foi um dos primeiros teóricos e 
experimentadores das leis dinâmicas que regem o comportamento dos indiví-
duos em grupo. Trabalhou com o conceito de dinâmica de grupo e inaugurou os 
Estudo dos grupos e do processo grupal na psicologia social 5
estudos sobre as relações entre os indivíduos dentro do grupo, a exemplo da 
coesão e da pressão do grupo, que influenciariam o sujeito em sentir mais ou 
menos pertencimento ao grupo e na força que do grupo para buscar o objetivo. 
Segundo Lewin, o principal elemento para definir um grupo é a reunião de duas 
ou mais pessoas com um objetivo comum por determinado período. Para ele, 
todos os grupos deveriam ser compreendidos como totalidade dinâmica que 
resulta das interações entre seus membros. Esses grupos adotam formas de 
equilíbrio no seio de um campo de forças e tensões pelo campo perceptivo 
dos indivíduos. Essas forças, como movimento, ação, interação, reação, etc., é 
que constituem o aspecto dinâmico do grupo e, consequentemente, afetam a 
sua conduta. A dinâmica de grupo estuda e analisa a conduta do grupo como 
um todo, as variações da conduta individual de seus membros e sua reação ao 
formular leis e princípios e ao introduzir técnicas que aumentem a eficácia. É 
muito utilizada nas empresas e nas organizações sociais (JACQUES et al., 2005). 
Destaca-se, também, a abordagem do psiquiatra Jacob Levy Moreno (1889–
1974), que juntou técnicas desenvolvidas pelos atores do teatro com elementos 
terapêuticos, criando o psicodrama e contribuindo muito para o trabalho 
na psicoterapia de grupo. Desenvolveu uma forma de medir as relações de 
afinidade dentro de pequenos grupos, o que ele denominou sociometria. 
Segundo ele, a estrutura de um grupo pode ser compreendida pelos sistemas 
sociais, que seriam baseados principalmente na preferência ou no sistema 
de atração-repulsão, experiências e desagrados dos membros em relação 
a outros membros. A pessoa mais escolhida seria uma estrela sociométrica, 
e a menos escolhida seria um isolado. Basicamente, a sociometria buscava 
compreender como as dinâmicas de personalidade acabam interferindo nas 
relações entre os indivíduos. Para isso, Moreno verificou de forma experi-
mental o desenvolvimento e o funcionamento de grupos de várias idades. 
Para ele, o homem é um ser em relação, e existe uma intersubjetividade entre 
os fenômenos individuais e coletivos. O intrapsíquico (temáticas subjetivas) 
está subordinado ao interpsíquico (os vínculos, as relações com o mundo). 
Mais tarde, a sociometria ficou conhecida como socionomia (MORENO, 2014). 
A teoria da comparação social, de Festinger (1954), propõe que as 
pessoas se reúnem formando grupos porque os grupos possibilitam 
uma avaliação do outro. É válido ressaltar que os grupos de pertença geram 
maior influência sobre nós. Aqueles grupos com que nos identificamos, mesmo 
sem pertencer a eles, podem influenciar nossas atitudes, nossos valores e 
comportamentos (CIALDINI et al., 1976).
Estudo dos grupos e do processo grupal na psicologia social6
Surgiram, também, estudos sobre os fenômenos grupais no contexto 
dos movimentos das minorias sociais em busca de direitos iguais. Ao discu-
tirmos as relações intergrupais encontramos diferentes elementos, como a 
discriminação social e mecanismos que poderiam categorizar determinados 
grupos em detrimento de outros. A importância dos movimentos sociais da 
Europa e dos Estados Unidos no início da década de 1970 contribuíram para 
a consolidação do interesse pelos estudos das relações intergrupos. Além 
disso, percebemos um deslocamento do interesse dos objetos de análise: do 
microssocial (interindividual/intragrupal) para o macrossocial (intergrupal/
relação entre grupos) (ÁLVARO; GARRIDO, 2007).
A Escola de Genebra estudou as relações intergrupais com uma análise 
situacional, estrutural e histórica, considerando principalmente as relações de 
poder. Considera-se que essa foi a primeira vez que foi realizada uma análise 
macrossocial da sociedade (ALLPORT, 1954; DOISE, 2002). Podemos perceber 
a evidência do surgimento do preconceito e da discriminação dos grupos 
em relação ao exogrupo. Um grupo social que tem grande aceitação social e 
poder (por exemplo, um grupo religioso) pode gerar reações de preconceito 
e discriminação a pessoas que não fazem parte desse grupo, como grupos 
minoritários ou pessoas que não se identificam com o grupo hegemônico. 
No Brasil, por exemplo, muitas pessoas católicas (grupo hegemônico) têm 
preconceito em relação a pessoas das religiões de matriz africana (grupo 
minoritário).
Já os autores da Escola de Bristol (FESTINGER, 1954; TAJFEL, 1981; TAJFEL; 
TURNER, 1986; TURNER et al., 1987) propõem como foco principal a categoriza-
ção entre endogrupo e exogrupo, o que provocaria uma valorização do endo-
grupo em detrimento do exogrupo (paradigma do grupo mínimo). O conflito 
intergrupal surge da superação das interações psicológicas e sociológicas 
no intragrupo. Portanto, o conflito entre diferentes grupos não depende das 
características individuais dos elementos dos grupos, mas sim do sentimento 
de pertença daquele grupo e da relação entre um grupo e outro. Já Tajfel (1981) 
propôs uma nova abordagem de diferenciação perceptiva e avaliativa entre 
os grupos sociais. A categorização constituiria um processo de organização e 
simplificação da realidade social. Isso significa que a identificação de cate-
gorias de pertença é facilitada pela visibilidade do critério que a define, em 
especial critérios físicos (como cor da pele, sexo, etc.), conteúdos categoriais 
sob a forma de estereótipos.
Estudo dos grupos e do processo grupal na psicologia social 7
Outros dois autores fundamentais para discutir os grupos sociais são 
Ignacio Martín-Baró (1942–1989), que discutiu criticamente sobre a dinâmica 
de grupos em Sistema, grupo y poder: psicología social desde Centroamérica, 
de 1989, e Silvia Lane (1933–2006),que estudou a relação indivíduo-sociedade 
considerando as categorias de análise e construção de identidade. Esses dois 
autores buscaram uma compreensão crítica e sócio-histórica dos sujeitos que 
compõem os grupos e dos grupos formados até então (JACQUES et al., 2005).
Considerando o contexto histórico e social da psicologia social contem-
porânea, o processo grupal pode ser um elemento para a transformação da 
sociedade, na medida em que possibilita a mediação entre o indivíduo e a 
sociedade estimulando sua liberdade (ROSS; LEPPER; WARD, 2010). O grupo 
pode funcionar como elemento de formação e empoderamento dos indiví-
duos, ajudando no processo de tomada de consciência. Segundo Lane (1989) 
isso acontece porque o atual sistema capitalista se baseia na exploração do 
homem pelo próprio homem, que não teria consciência de que estaria sendo 
explorado. A manutenção dessa sociedade capitalista e desigual perpetua 
também uma relação entre dominados e dominadores, que é influenciado 
pela história do sujeito e das instituições ou organizações onde esses gru-
pos sociais são gestados. É necessário também, portanto, compreender o 
surgimento do processo de grupo em diferentes instituições, como escolas, 
fábricas, empresas, família, entre outras (MARTINS, 2007). 
Como podemos perceber, o processo grupal estimula a reflexão individual 
e coletiva, possibilitando que seus membros tomem consciência de sua iden-
tidade psicossocial. É o espaço para a problematização do cotidiano, para o 
desencadeamento de novas relações e vínculos afetivos, para a expressão de 
opiniões e sentimentos. Com base no grupo, torna-se possível identificar as 
diferenças e as semelhanças nas experiências individuais (MARTÍN-BARÓ, 1989).
Segundo Lane (1989), só é possível compreender os diferentes gru-
pos com uma análise de sua constituição como fenômeno social 
considerando contexto histórico, espaço, tempo e sociedade. Não podemos, 
portanto, falar de grupo como um conceito abstrato; devemos analisá-lo com 
base em suas configurações históricas. Além disso, é importante evitar uma 
proposta de análise que homogeneíze os sujeitos, como se todos fossem iguais. 
Estudo dos grupos e do processo grupal na psicologia social8
Destaca-se nos estudos de processo grupais, além disso, Enrique Pichon-
-Rivière (1907–1977), conhecido por seu trabalho com grupo operativo e pela 
teoria do vínculo. Seu método de grupo operativo diz respeito a um conjunto 
de pessoas com objetivo em comum, uma vez que, por meio da experiência 
em grupo, “as pessoas têm a possibilidade de vivenciar novas experiências 
de aprendizagem e de vinculação, visando ao rompimento de estereótipos, 
que geram alienação” (MAIA, 2017, p. 4). Um dos conceitos centrais da obra de 
Pichon-Rivère é a visão dialética da realidade: “seus constructos, conceitos e 
reflexões são permeados pela ideia de movimento e transformação contínua 
dos sujeitos, de seus vínculos e de seu modo de operar na realidade” (PEREIRA, 
2013, p. 25). Sua principal contribuição é o olhar para os processos grupais e 
a compreensão da estrutura e do funcionamento dos grupos. 
Muitas vezes, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais 
usam o termo grupo operativo fora do contexto do método de Pichon-
-Rivère, contrapondo-se ao grupo psicoterapêutico, o que se aproxima de grupos 
de psicoeducação ou grupos de aprendizagem. Isso porque “a técnica de grupo 
operativo é uma técnica não diretiva, que transforma uma situação de grupo 
em um campo de instigação ativa”, e o coordenador tem como função facilitar 
a comunicação entre os integrantes “a fim de que o grupo seja operativo, isto 
é, que ultrapasse os obstáculos na resolução da tarefa” (PEREIRA, 2013, p. 26).
Como vimos, temos diferentes modelos teóricos para compreender e tra-
balhar com os grupos. A abordagem sobre os processos grupais surge a partir 
de uma visão crítica sobre essas teorias, demonstrando que o entendimento 
sobre os grupos é um fenômeno complexo, sendo inadequado definir o grupo 
como algo estático. O grupo é um processo a ser compreendido consideran-
do-se uma perspectiva sócio-histórica. 
Atuação profissional da psicologia em 
grupos sociais
As práticas de psicólogos em diferentes grupos sociais têm sido alvo de muitos 
debates, pesquisas e conflitos. Como profissional que estuda a subjetividade, 
o psicólogo, outrora, realizava atendimentos e atividades voltadas à promoção 
da saúde, mas compreendendo a subjetividade de forma estática e, portanto, 
Estudo dos grupos e do processo grupal na psicologia social 9
distante da realidade social. No entanto, como muitos problemas e demandas 
dos participantes dos grupos sociais são decorrentes das condições desiguais 
em que vive grande parte da população brasileira, é importante considerar o 
papel da psicologia social nas mudanças necessárias nessa sociedade, tendo 
o grupo uma importância fundamental nesse contexto. 
A psicologia social pode ajudar a superar as situações de opressão e a 
desigualdade social, contribuindo para uma transformação da sociedade. 
Isso seria possibilitado por uma formação profissional mais engajada politi-
camente e menos tecnicista. Essa proposta tem sido debatida em congressos 
e encontros no campo da psicologia comunitária e nas ideias de autores da 
psicologia social, como Martín-Baró (1989) e Silvia Lane (1989; 1994), como 
vimos na seção anterior. Segundo esta última, “A psicologia deveria se tornar 
uma ciência comprometida, política e eticamente, jamais neutra ou universal” 
(LANE, 1994, p. 61), principalmente ao identificarmos as iniquidades sociais, 
discriminação e violência que têm sofrido grupos minoritários e grande parte 
da população marginal da América Latina. 
Um dos campos em que a psicologia vem atuando em diferentes equipes 
e grupos em todo o Brasil são os CAPS (Centros de Atendimento Psicosso-
cial). Geralmente formados por equipes multiprofissionais, os CAPS, em suas 
diferentes modalidades, são um campo de atuação para os profissionais de 
psicologia desenvolvem trabalhos de grupos. Com isso, podemos perceber 
que a atuação do psicólogo social não se limita a cuidar da saúde mental dos 
participantes, nem apenas discutir problemas emergentes que se manifestam 
como queixas no grupo. A prática do psicólogo deve ser repensada, deve ser 
revista em seus pressupostos e ideais e deve ser convocada para atuar em 
processos de emancipação dos sujeitos e dos grupos sociais, na tentativa de 
contribuir ativamente para transformar as condições desiguais e segrega-
doras do país. Além disso, necessitamos não apenas de novas práticas, mas 
também de novos aportes teóricos e modelos para a construção de práticas 
mais articuladas com as demandas de toda a população.
Sendo os grupos sociais objetos de uma discussão ampla na produção de 
identidades, no aprendizado de normas e na construção da visão de mundo e 
de si, é muito importante observar seu funcionamento diante das diferentes 
realidades sociais em que estamos inseridos. A título de exemplo e análise, 
serão expostos aqui dois trabalhos de diferentes autores sobre grupos sociais.
Silva et al. (2007) apresentam o projeto Doce vida, que faz parte da extensão 
na área de psicologia social da Universidade Federal de São João Del-Rei, em 
Minas Gerais, para exemplificar o trabalho grupal com portadores de diabetes. 
Entre os objetivos do projeto, destacam-se: 
Estudo dos grupos e do processo grupal na psicologia social10
[…] conduzir os portadores de diabetes à reflexão e elaboração das implicações 
afetivo-emocionais da doença, à construção da identidade de portador de diabe-
tes, da afetividade e vínculo grupal, o que acarreta maior adesão ao tratamento e 
integração grupal. […] trabalhar os fenômenos grupais, a fim de alcançar o fortale-
cimento do grupo, o reconhecimento dos próprios membros enquanto parte deste 
e implicá-los na mobilização pela busca de melhorias no atendimento oferecido 
pelos órgãos públicos aos portadores de diabetes da cidade(SILVA et al., 2007, p. 1).
Como técnicas, os autores usaram o grupo operativo, o grupo de reflexão 
e oficinas de grupos, observando a reação e a participação dos integrantes do 
projeto como processo em desenvolvimento. Com o decorrer das observações, 
a equipe de psicologia compreendeu que o desenvolvimento do processo 
grupal propiciou a conscientização dos portadores de diabetes em relação 
à sua identidade e ao tratamento da doença: 
[…] os membros do grupo estão inseridos em um processo de construção individual 
e coletiva da identidade de portador de diabetes, ao refletirem e questionarem o 
seu papel no grupo, ampliarem suas formas de participação e aderirem cada vez 
mais às exigências do tratamento (SILVA et al., 2007, p. 3).
Outro exemplo de atuação com grupos é apresentado por Vieira-Silva e 
Miranda (2013) após um estudo em corporações musicais da região de Ver-
tentes, também em Minas Gerais. Os autores observaram diferentes grupos 
musicais, seus processos identitários e de pertencimento. Estudaram as 
diferentes formas de estabelecimento das relações de poder e as influências 
no processo grupal e na atividade musical. O objetivo dos autores foi “com-
preender a constituição histórica das formações identitárias e suas articu-
lações com as relações de poder, no desempenho das atividades cotidianas 
de três corporações musicais mineiras” (VIEIRA-SILVA; MIRANDA, 2013, p. 1). 
Entre os achados do estudo, destaca-se que os autores compreenderam que:
As diferenciações na produção de identidades individuais e coletivas podem exercer 
influências nas relações de poder inter e intragrupais. Também, as diversas formas 
de estabelecimento das relações de poder entre os agentes exercem influências 
no desenvolvimento do processo grupal e na atividade musical (VIEIRA-SILVA; 
MIRANDA, 2013, p. 1).
Estudo dos grupos e do processo grupal na psicologia social 11
O olhar psicossocial para os grupos e para a influência das normas 
na formação de nossa identidade é importante porque, por meio da 
interação nos diferentes grupos, são adquiridas a consciência de si, a consciência 
social e a consciência de classe, isto é, a construção dialética entre homem e 
sociedade, as relações de poder e o aprendizado sobre si mesmo e o mundo.
Como vimos, só podemos compreender o grupo social como um processo 
em construção. Por isso, ele deve ser estudado sempre de uma perspectiva 
sócio-histórica. O processo grupal é um fenômeno importante na construção 
não apenas da identidade do sujeito, mas também da própria sociedade. 
Compreender os grupos sociais, o processo grupal e seu funcionamento é de 
suma importância para a psicologia social, porque somos modificados pelas 
relações sociais, assim como as modificamos. Aprender sobre a formação de 
cada grupo amplia o olhar e o entendimento das diferentes relações sociais 
e o senso de pertencimento, além de auxiliar na construção da consciência 
de si e do mundo, possibilitando mudanças e movimentos dentro do grupo 
ou de novas relações. 
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