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AULA 3 GESTÃO E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS Profª Rita Barchik 2 INTRODUÇÃO Nesta etapa veremos que alguns conflitos podem surgir quando existe uma cultura de dominação e que esse tipo de cultura pode fazer parte de uma sociedade ou até está no cerne das organizações. Também analisaremos como a tecnologia tem auxiliado na resolução deles e como a avaliação neutra colabora para administrar essas situações, no intuito de propiciar uma perspectiva rápida, eficaz e sensata. Discutiremos ainda a importância dos comitês de resolução de conflitos, bem como dos gestores mediadores, os quais, cada vez mais, fazem parte das organizações. TEMA 1 – O CONHECIMENTO E A CULTURA DA DOMINAÇÃO O conhecimento vem fascinando os seres humanos desde a Antiguidade, quando a filosofia começou a introduzir seus preceitos. A partir desse ponto, iniciou-se uma busca incessante por meio de estudos que trouxessem explicações sobre os fatos da vida, bem como acerca das atitudes tomadas pelo homem perante as diversas situações vivenciadas diariamente. Nesse sentido, é possível perceber que o fator conhecimento estabelece quem, dentro do processo cultural, possui o poder de dominar os principais aspectos que são, em sua maioria, determinantes para o funcionamento de uma sociedade. Dentro dessa dominação, é possível citar as normas sociais, as regras, a política, os meios de comunicação etc., que influenciam valores, comportamentos, linguagens e pensamentos utilizados pela comunidade em que estão inseridos (Weber, 2008). Ter o poder implica garantir o funcionamento do sistema, impondo regras que ditam o processo de socialização do indivíduo. Em algumas culturas, tais regras são mais explícitas, em outras isso é feito de forma mais velada. Confira alguns exemplos de culturas dominantes ao longo da história: • Países europeus que invadiram a América e a África, realizaram uma repressão cruel e brutal das culturas nativas tradicionais, impondo os próprios costumes e crenças; • O nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália, que lançaram as bases de seu poder nas fundações de um despertar nacional e na perseguição ao 3 resto das minorias, transformando outras culturas em inimigos que precisavam ser combatidos e exterminados; • A Wasp, grupo branco, anglo-saxão e protestante que detinha o poder político, social e econômico nos Estados Unidos. Essa cultura dominante rejeitava outras etnias, como judeus, católicos, afro-americanos e hispânicos. Nos termos de uma sociedade de trabalho em que as identidades são definidas em função dos interesses, as posições estruturais estabelecem claramente quem detém o poder e como ele é exercido. Sendo assim, a dominação é imposta por meio de ideias, valores e pontos de vista específicos, gerando também certa supremacia de uma classe sobre outra. Cabe ressaltar que existe uma diferença entre poder e dominação. Segundo Max Weber (1864-1920), poder é a capacidade de induzir ou influenciar o comportamento de outra pessoa, utilizando-se de coerção, de manipulação ou de normas estabelecidas. Já dominação (ou autoridade) é o direito adquirido de se fazer obedecido e exercer influência dentro de um grupo, podendo fundamentar-se, como motivo de submissão, em tradições e costumes institucionalizados, qualidades excepcionais de determinados indivíduos, afeto, interesses ou regras definidas racionalmente e aceitas por todos. Ainda de acordo com o autor, existem três tipos de autoridade: • Racional-legal: basicamente fundamentada em regras, estatutos e leis corroboradas pela sociedade/organização. Essas regras determinam a quem e até quando obedecer, o que torna possível aceitar um superior e assim reconhecer a autoridade existente no cargo ocupado. Como exemplo, citamos o Estado moderno e as empresas em geral. • Tradicional: tem como bases a tradição e os costumes de uma sociedade. O súdito obedece a seu senhor, que é considerado justo e raramente sofre uma contestação, pois o processo de dominação já está arraigado na sociedade. A monarquia, os indígenas etc. são alguns exemplos. • Carismática: é aquela apoiada na devoção a um senhor e a seu carisma. A influência só é possível devido às faculdades pessoais, suas qualidades e poderes; em geral, tem caráter despótico. Podemos citar heróis, profetas, demagogos, porém se este carisma desaparecer, a dominação se extingue. 4 Se pensarmos especificamente nas organizações, percebemos que também, em alguns casos, acabam sendo retratadas como estruturas de dominação, nas quais as pessoas ali inseridas são subjugadas e muitas vezes impedidas de ter acesso a recursos que possibilitem uma eventual transformação, tornando-as incapazes de perceber a dinâmica, muitas vezes oculta. De acordo com Maximiano (2000), no início da década de 1900, isso ficava extremamente evidente nas teorias clássica e científica. Já com os estudos realizados a partir das teorias das relações humanas, as pessoas começaram a ser vistas como indivíduos que possuem necessidades, o que significa que as organizações precisam entendê-las para que o clima e o relacionamento pessoal contribuam na capacidade de produção dessas instituições. Hoje, porém, ainda há alguns tipos de estruturas organizacionais em que o poder e a dominação estão enraizados na cultura. É o caso de uma empresa familiar, na qual o fundador exige que todo o processo ocorra como sempre foi desde o início, com o pensamento de que até agora funcionou bem, impedindo que as novas gerações de futuros sucessores desenvolvam ou introduzam tecnologias, gerando muitas vezes conflitos internos além do conflito de gerações. Havendo uma discrepância entre as partes, os conflitos gerados precisam ser solucionados com extrema delicadeza e, principalmente, com muita clareza. Isso é condição sine qua non (extremamente importante, essencial, indispensável) para que o processo todo flua sem afetar o relacionamento entre as partes (Moscovici, 2000). Utilizar um método que seja compatível com os interesses permite gerar bom fluxo de informações para uma solução que permita equilibrar as relações dentro do ambiente organizacional. TEMA 2 – TECNOLOGIA, SURGIMENTO DE NOVOS PARADIGMAS CONFLITUAIS E NOVAS FORMAS DE ACESSO À JUSTIÇA As relações sociais se intensificaram muito com a globalização e a integração dos mercados mundiais. Um novo tipo de organização social foi criado para atender a essa realidade, que exige democratização e constante valorização da informação e do conhecimento, o que faz a tecnologia ser parte do cotidiano da população. Diante da necessidade de uma solução para a lentidão judicial, cuja demanda não está sendo suprida por seres humanos, o Poder Judiciário passou a incorporar a seus procedimentos, de maneira gradual, todos os recursos da 5 tecnologia da informação. Essa inserção, se aprimorada, principalmente quando se trata de etapas burocráticas do processo, agilizará todo o sistema, tornando-o mais célere e eficiente (Brandão, 2019). O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), responsável pela aplicação de medidas tecnológicas para o acesso à justiça, criou o Processo Judicial Eletrônico (PJe). Esse instrumento possibilita a transformação dos autos físicos em digitais, o que permite acesso imediato e funcional, sem incluir, obviamente, as provas materiais, transformando-se num marco para a logística do sistema judiciário. Existem outras ações em andamento para implementar cada vez mais a tecnologia dentro do judiciário. O CNJ lançou em fevereiro de 2019 um laboratório de inovação, com um centro de inteligência artificial para reunir iniciativas que utilizem solução tecnológica voltada à pesquisa e à produção de serviços inteligentes visando auxiliar na construção e aprimoramento de módulos do processo judicial eletrônico. Podemos citar como exemplo o Sistema Radar,criado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) com capacidade de ler processos e ainda identificar se estes se repetem, bem como o entendimento aplicado. O programa dá uma sugestão de voto, o qual é revisado pelo relator. Só para exemplificar a velocidade do processo, em uma sessão-piloto, o colegiado da 8ª Câmara Cível julgou, em menos de um segundo, 280 processos similares (TJMG, 2020). Entretanto, o desafio é muito grande. Implantar um sistema inovador e confiável em um país com dimensões continentais, pobreza acentuada e realidades muito diferentes, respeitando ainda o devido processo legal, observando as peculiaridades referentes a ele, requer um cuidado acentuado para que os algoritmos não venham a prejudicar a população, uma vez que podem se tornar discriminatórios. Para os profissionais que atuam na área, o fato de diminuir o tempo gasto com deslocamento aos tribunais e a outros órgãos necessários ao andamento dos processos é um grande bônus. O acesso aos autos por via digital garante uma tramitação mais ágil e ainda possibilitará uma redução dos custos advocatícios, favorecendo todas as partes envolvidas. Outra redução de custos poderá ser sentida pelos advogados quando, ao delegar a especialistas atividades básicas (como a elaboração de petições e a análise de jurisprudências, o que pouparia um tempo precioso que normalmente 6 seria perdido com burocracias repetitivas), lhes proporcionará a prestação de um serviço de maior qualidade, bem como aumento do número de clientes. De acordo com a Organização dos Advogados do Brasil (OAB), a competência da inteligência artificial em lidar com a realidade dos bancos de dados totalmente desestruturados e desorganizados, fornecendo um mecanismo que acesse grande quantidade de informações e transformando tudo em um resultado plausível, permitirá que o advogado examine todo o trâmite, podendo prever uma possível falibilidade do processo, e assim criar estratégias cada vez mais elaboradas para a resolução do caso. Dentro dessa enorme possibilidade de recursos que a tecnologia traz, existe também certa preocupação pertinente aos cargos existentes dentro do judiciário. Faz-se necessário ponderar até que ponto a troca do profissional por máquinas intervirá na humanização, aspecto muito necessário à solução dos casos judiciais. É imperativo que essa tecnologia seja somente de auxílio, e nunca de substituição, pois há características humanas que são primordiais para o exercício do direito e que de modo algum poderão ser vislumbrados pelos softwares. Outro ponto a ser citado é o risco de esse processo tecnológico aumentar a desigualdade entre as partes, pois nem sempre o acesso às informações ocorre da mesma forma em virtude do poder econômico do litigante (OAB, 2020). É preciso perceber que o movimento em direção à tecnologia no que concerne ao Direito alcança não apenas o mecanismo em si, mas também e principalmente os profissionais da área, pois impulsiona um upgrade no modus operandi, requer adaptação de habilidades, formas de planificar e desenvolver as estratégias a serem utilizadas no processo. Juízes, advogados e afins que possuírem maior habilidade e perspicácia em se adaptar a toda essa sucessão de mudanças lograrão maior proeminência e méritos nessa profissão. A adequação do Direito dentro dessa fase tecnológica incita muitos advogados a se aprofundarem na área do Direito Digital. Esse ramo cresce a olhos vistos em forma e força, não apenas nas esferas normais, como também e substancialmente no âmbito do direito tecnológico, escorada na Lei n. 12.965, de 23 de abril de 2014, conhecida como Marco Civil da Internet, que trata sobre tudo o que concerne à internet, ou seja, direitos, deveres, princípios etc. Cabe ainda citar outras áreas do Direito que envolvem a tecnologia, como a criminal (crimes 7 contra a honra praticados na internet) e a tributária (incidência de tributos a equipamentos). Todavia, segundo Silva (2019), essa evolução tecnológica permitirá também um avanço no processo de resolução de divergências dentro das organizações. A utilização dela é essencial para reduzir o excesso de judicialização de conflitos de interesse, o número de reclamações e a imposição de sentenças, resguardando assim a natureza do negócio e o desempenho dos colaboradores. As organizações demandam formas eficientes e principalmente céleres, pois o fato de ficar numa extenuante delonga por uma sentença judicial influencia diretamente os custos do processo, o que pode afetar efetivamente o lucro delas. Portanto, buscar uma técnica de mediação, antes mesmo de iniciar um processo judicial, acaba sendo economicamente viável e permite uma solução, na grande maioria das vezes, satisfatória aos envolvidos, e é essencial à racionalidade econômica de uma empresa. TEMA 3 – A PRÁTICA DA AVALIAÇÃO NEUTRA (NEUTRAL EVALUATION) E FACILITAÇÃO DE DIÁLOGOS Originalmente criada nos Estados Unidos, devido à crescente demanda e complexidade dos processos, a avaliação neutra surgiu como um instrumento para administração de casos. O intuito é propiciar uma perspectiva rápida, eficaz e sensata de comunicar sobre o conflito, aconselhando uma reunião antecipada visando esclarecer questões e identificar áreas de acordo, observar os pontos fortes e fracos, propiciando desfechos antecipados. Embora possa incluir discussões sobre acordos, sua finalidade maior é contribuir tanto para o desenvolvimento do caso quanto para o processo de acordo (Salles et al., 2020). Novos mecanismos de resolução de disputas vêm ganhando espaço nos últimos anos. A exigência das partes por uma resolução célere e as crescentes reclamações sobre os processos de adjudicação justificam uma atenção especial ao assunto. A avaliação neutra (neutral evaluation) é uma técnica de resolução de conflitos que consiste em oferecer às partes litigiosas um especialista independente, que emite uma apreciação neutra, com o intuito de equilibrar as controvérsias mediante a análise dos pontos favoráveis e contrários às premissas. Essa avaliação pactua características de tomada de decisões e de não tomada de decisões. Também chamado de avaliador, o especialista emitirá sua opinião 8 após analisar todos os dados e sugerirá uma forma para que a disputa seja solucionada. Durante o processo, poderá ainda ser convidado a atuar como mediador ou facilitador (Abral, 2011). De acordo com Blackman (2011), essa avaliação pode ser independente ou ser inclusa a outros processos de resolução de disputas (por exemplo, a mediação). Contudo, sua apreciação sobre o caso não é vinculante, apesar de que as partes poderão utilizá-la como base para uma negociação ou até criando respaldo a uma solução consensual. O objetivo preliminar dessa análise é minorar as expensas do litígio para as partes envolvidas, por meio da redução dos custos atrelados ao julgamento, concomitantemente à possibilidade de refrear falhas de clientes e advogados quando da avaliação dos casos, como impetrar petições desnecessárias ou desfocadas que venham a elevar tais custos. A negociação é avaliada como um recurso independente de alto grau para elucidar essas disputas. Pode ocorrer na contenda de um processo judicial ou extrajudicialmente. Métodos alternativos como esse para a solução de conflitos não devem ser vistos como o elixir das soluções e somente são indicados para certas situações com condições específicas, uma vez que, em geral, a resolução de conflitos trabalhistas não é de monopólio estatal, pois há meios independentes para resolver os litígios que ocorrem nas relações entre o trabalho e o capital. A avaliação neutra exige uma consideração de avaliação informal, concisa, sigilosa e, principalmente, isenta. A disputa pode acontecer a qualquer momento, todavia o ideal é que se dê o mais breve possível, evitando maioresdanos às partes. Ao analisarmos as divergências que ocorrem dentro das empresas, podemos dizer que a priori as diferenças entre os indivíduos agregariam valor, pois trazem criatividade e dinamismo. Entretanto, sendo conflito inerente às relações humanas, também é possível que a energia se transforme em caos que em casos extremos, pode levar até à extinção da organização. Assim sendo, podemos deduzir que para uma empresa não é possível refrear a manifestação de conflitos, contudo observar o surgimento deles, confrontá-los e administrá-los de maneira eficaz e sobretudo com inteligência é um processo extremamente necessário e valoroso quando se trata de conduzir os rumos da instituição de maneira a possibilitar um bom núcleo de trabalho. 9 TEMA 4 – A IMPLEMENTAÇÃO DE COMITÊS INTERNOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS O objetivo dos Comitês de Resolução de Disputas (CRDs) – Dispute Boards – é propiciar que a resolução (e também a prevenção) de conflitos oriundos de determinadas relações contratuais seja realizada por meio de especialistas escolhidos e contratados pelas partes. Assim como a implantação de novas tecnologias e a prática da avaliação neutra, os comitês internos de resolução de conflitos têm o intuito de se mostrar uma alternativa ao modelo tradicional de solução de conflitos, especialmente a conciliação, a mediação e a arbitragem. Esses instrumentos possuem como justificativa a possibilidade de que, de modo mais célere, eficaz e menos custoso, as partes tenham acesso à produção de uma decisão que atenda à complexidade e especificidade de seu conflito, ou seja, que deles resulte uma decisão adequada (Braga, 2021). Vaz e Nicoli (2013) salientam que a origem dos CRDs se deu a partir de contratos relacionados a obras da construção civil. Tipicamente nessa relação surgem conflitos entre contratantes e construtor. Até meados do século XX, as controvérsias eram resolvidas pelo próprio contratante, que aprovava as alterações e restituições que entendesse pertinentes, impondo-as ao construtor que, em regra, não podia paralisar as obras. Para aperfeiçoar esse modelo, e considerando a modificação na complexidade dos contratos de obra, foram propostos mecanismos mais sensíveis de composição dos conflitos, como o engenheiro, que é o profissional técnico contratado geralmente pelo dono da obra (em regra, o poder público) para fiscalizar e acompanhar a execução, resolvendo os conflitos de natureza técnica. No entanto, os conflitos levados à justiça ocasionavam e ainda ocasionam custos indesejáveis, elevando assim o valor final das obras. Podemos dizer que: Os Dispute Boards são acordados em contratos de médio e longo prazo para resolver disputas que possam surgir na execução deste contrato. Esta é a característica que os distingue de outros métodos de resolução de disputas: os boards foram concebidos para atuar antes do fim do contrato, procurando evitar que as disputas prejudiquem o projeto e colaborando para que as partes mantenham um relacionamento salutar no decorrer do contrato. (Oliveira, 2017, p. 180) Em resumo, os CRDs são comitês técnicos especializados, idealmente formados por no mínimo três integrantes autônomos e independentes, escolhidos 10 pelas partes na forma e em atenção ao estabelecido no contrato (ou em outro instrumento de acordo de vontades), instalados em contratos de longo prazo e desde o início da relação contratual para acompanhamento de sua execução durante toda vigência deles. Atuam como um mecanismo extrajudicial célere para a prevenção e resolução de disputas com a finalidade de evitar a solução de continuidade da execução contratual mediante recomendações ou decisões vinculantes (Braga, 2017). Mesmo que usado ainda de forma incipiente, trata-se de um instrumento que deve ser levado em consideração no momento em que as negociações nas empresas são realizadas mediante contratos. TEMA 5 – FORMAÇÃO DE MEDIADORES E GESTORES MEDIADORES DE CONFLITOS CORPORATIVOS: A VISÃO DA ÁGUIA Em uma organização, a informação é o aspecto mais valioso que podemos ter, portanto faz sentido pensar que sua qualidade deve ser a melhor possível. Perceber detalhes pode ser crucial para identificar oportunidades escondidas, daí a expressão visão de águia, que vem dos indivíduos que conseguem observar atentamente tudo o que está ao redor. Significa estar atualizado com o que ocorre no mercado, na economia, na humanidade e fazer as correções dentro da empresa, embasado na realidade dela em termos de estrutura, conhecimento, tecnologias e principalmente nos recursos humanos; de nada adianta ser o melhor em um mercado que está nitidamente em extinção. Gestores com visão de águia possuem certas qualidades que permitem um posicionamento correto dentro da estrutura empresarial: estar atento e observar carências de algum setor, perfil de clientes; ter interesse em conhecer e explorar novidades; manter o foco também no longo prazo para perceber se a oportunidade de hoje será interessante também no futuro; ser focado na sua missão; e saber os pontos positivos e negativos da empresa. Tudo pode ser aprendido, é uma questão de prática e dedicação para criar o hábito de não deixar de visualizar os detalhes dentro do todo (Santos, 2019). Silva (2019) argumenta que grande parte dos conflitos aparecem quando o líder transmite informações de forma muitas vezes abreviada ou ainda omite detalhes importantes e crê que tudo está fazendo sentido aos funcionários. Por mais que exista muita intenção na ação, essa informação não produzirá os efeitos desejados por faltarem pormenores que especifiquem totalmente a tarefa a ser 11 realizada. O resultado acaba se transformando em frustrações, atrasos e prejuízos, devido ao fato de a interpretação individual não se adaptar ao comando recebido. Para que um conflito seja resolvido, é necessário que o mediador possua algumas características imprescindíveis: • Capacidade para ouvir: os dois lados precisam ser escutados antes de qualquer coisa; • Saber perguntar: criar uma dinâmica na comunicação para promover o diálogo; • Ser imparcial: possuir autonomia, não estar envolvido com nenhuma das partes; • Ter competência para a missão: conhecer conceitos, modelos e etapas de um processo de mediação. Para que o mediador alcance competência necessária à resolução das disputas, necessário se faz o conhecimento de uma variedade de ambientes e métodos que incluem psicologia, comunicação, sociologia, preceitos jurídicos, com base em ideias atuais e vigentes. Segundo o Instituto Holos, que promove suporte científico/pedagógico para o desenvolvimento de pessoas e organizações, existem algumas metodologias que podem ser utilizadas para preparar o mediador: • Ampliação de visão – permite uma superação constante das limitações de crenças, valores, tradições e um respeito às formas de pensar dos outros; • Entendimento isomórfico do ser humano – o que necessitamos saber para compreender as pessoas; • Relacionamentos focados e desfocados – como se manifestam as dificuldades de relacionamentos e onde se situam os focos para redirecioná-los; • Processos cíclicos das mudanças – nada é fixo, entender a transitoriedade e o probabilismo das decisões a serem revistas em busca de um novo ciclo mais adequado à realidade; • Dinâmica mental – buscar compreender a flutuação de nossa mente na busca de sua expressão mais apropriada à realidade vivencial; • Administração de conflitos – conflitos não se resolvem, se superam; • Clima e centramento – manter o interior em equilíbrio dinâmico; 12 • Processo decisório – ciclagem mental das decisões e administração no mundo factual. Para um mediador, a visão de águia permite olhar o conflito como um todo e, ao mesmo tempo, visualizar os pormenores, muitas vezes implícitos ou subentendidos. Essa percepçãodiversificada pode ser utilizada em um esquema de trabalho muito mais positivo, no qual enfoques pequenos são reconhecidos para se alcançarem eficiência e eficácia em todo o processo. 13 REFERÊNCIAS ABRAL, B. F. Alternative Dispute Resolution (ADR): as formas alternativas de solução de conflitos nos Estados Unidos. Revista Jus Navigandi, ano 16, n. 2935, jul. 2011. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/19574>. Acesso em: 7 abr. 2022. ANDRIGHI, F. N. Formas alternativas de solução de conflitos. Revista de Direito Administrativo, v. 251, p. 263-272, maio/ago. 2009. BLACKMAN, J. Neutral Evaluation. An ADR Technique Whose Time Has Come. FindLaw, 1 set. 1999. Disponível em: <http://library.findlaw.com/1999/Sep/1/128447.html>. Acesso em: 15 abr. 2022. BRANDÃO, C. D. Mediação empresarial: uma análise da aplicabilidade e efetividade do instituto nos conflitos entre empresas. 159 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Nove de Julho, São Paulo, 2019. MAXIMINIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração: da escola científica à competitividade na economia globalizada. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. OLIVEIRA, P. R. Formas e características dos dispute boards – considerações úteis na sua escolha. In: SION, A. O. (Coord.). Empreendimentos de infraestrutura e de capital intensivo: desafios jurídicos. Belo Horizonte: Del Rey, 2017. p. 179-191. SANTOS, G. A. Uma reflexão sobre a gestão de conflitos nas empresas. 109 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Empresariais) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2019. SILVA, R. M. A mediação na solução de conflitos empresariais. Polifonia, n. 5, p. 136-158, 2019. Disponível em: <https://apd.org.br/wp- content/uploads/2020/07/TEXTO-04.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2022. TJMG. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Processo Judicial Eletrônico (PJe). 2020. Disponível em: <https://www.tjmg.jus.br/pje/#.X6CKMotv_IU>. Acesso em: 20 mar. 2020. VAZ, G. J.; NICOLI, P. A. G. Os dispute boards e os contratos administrativos: são os DBS uma boa solução para as disputas sujeitas a normas de ordem pública? Revista de Arbitragem e Mediação, v. 10, n. 38, jul./set. 2013. 14 WEBER, M. A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais. In: COHN, G. (Org.). Max Weber: sociologia. 5. ed. Tradução de Amélia Cohn e Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 1991. _____. Os três tipos puros de dominação legítima. Tradução de Gabriel Cohen. Rio de Janeiro: Guedes Multimídia, 2008.
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