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Direito Desportivo Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Atleta Profissional • Introdução; • Espécies Contratuais; • O Contrato do Atleta Profissional no Direito Brasileiro; • Atleta Autônomo. • Refl etir sobre a proteção jurídica do atleta profi ssional e sua contratação. OBJETIVO DE APRENDIZADO Atleta Profi ssional Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Atleta Profissional Introdução Quando pensamos nos atletas profissionais, em geral, não os associamos com trabalhadores que se submetem a uma jornada estipulada de trabalho, que possuem registro em “carteira”, possuem FGTS etc. Por outro lado, temos em nossas relações cotidianas os chamados prestadores de serviços, pessoas físicas e jurídicas que realizam determinados trabalhos a outras pessoas, mas que não possuem com elas uma relação empregado-empregador. Com essas observações, precisamos entender qual é a natureza do vínculo que liga o atleta profissional com a entidade desportiva. Espécies Contratuais Antes mesmo de começar a tratar de aspectos e conteúdo do contrato firmado entre o atleta profissional e a entidade desportiva à qual está vinculado, convém mencionar um assunto importante: qual é a real natureza desse contrato? Existe alguma divergência na doutrina acerca da natureza do contrato estabele- cido entre o atleta profissional e a entidade desportiva: trata-se de um contrato de prestação de serviço (relação de trabalho de natureza civil) ou de um contrato de emprego (de natureza trabalhista). Essa falta de consenso é evidenciada, inclusive, quando se verifica um erro corriqueiro empregado pela doutrina especializada des- portiva, ao tratar como sinônimas as expressões “relação de trabalho” e “relação de emprego”. Dessa forma, antes mesmo de adentrar em natureza e conteúdo do contrato do atleta profissional propriamente dito, é imperioso conceituar e distinguir ambas as modalidades contratuais, objeto da divergência mencionada. Em primeiro lugar, cumpre conceituar os contratos de prestação de serviços e de trabalho, para que possamos saber que tipo de contrato é o que celebram os atletas com a entidade desportiva para que sejam incorporados às equipes dessas associações. Da prestação de serviços O contrato de prestação de serviços tem origem no direito romano (contrato de locação de serviços, locatio conductio operatum1), pelo qual um sujeito coloca à disposição de outrem, durante certo tempo, seus próprios serviços, em troca de retribuição (VENOSA, 2004, p.189). 1 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 611. O autor informa o erro no uso da expres- são “locação de serviços”, por agredir a dignidade da pessoa humana ao subentender uma forma de utilização da pessoa mediante pagamento. 8 9 Segundo Wellington Pacheco Barros, o contrato de prestação de serviços é aquele pelo qual alguém presta serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, a outrem, por prazo certo ou não, mediante retribuição (BARROS, 2004, p. 187). Já para César Fiúza, trata-se do contrato em que uma das partes se obriga, para com a outra, a fornecer-lhe a prestação de sua atividade, sem vínculo empregatício, mediante certa remuneração (FIÚZA, 2004, p. 508). O contrato de prestação de serviço possui um conceito amplo e geral, configura- do pela prestação de todo e qualquer serviço ou trabalho humano, não necessaria- mente de caráter subordinado, no qual podem estar inseridas diversas categorias de trabalho (o autônomo, o voluntário, o trabalho avulso, o eventual etc.) ou, em ou- tras palavras, refere-se a todas as relações jurídicas caracterizadas por terem, como objeto, uma obrigação de fazer, consubstanciada em labor humano, englobando todas as modalidades de contratação de trabalho modernamente admissíveis. Nele é estabelecida uma relação de trabalho, que não é regida pela legislação trabalhis- ta – em especial a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho. O Código Civil, em seu artigo 594, caracteriza a prestação de serviço como toda espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, podendo ou não ser contratada mediante retribuição. Código Civil Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imate- rial, pode ser contratada mediante retribuição. Assim, pode-se definir relação de trabalho (prestação de serviço lato sensu) como qualquer liame jurídico, cujo objeto seja a prestação de serviços a um deter- minado destinatário, abrangendo, inúmeras espécies (empreitada, artífice, profis- sional liberal, avulso, eventual, autônomo, representação comercial, e também a própria relação de emprego). Nos dizeres de Arnaldo Rizzardo, essa espécie contratual é sinalagmática (esta- belece obrigações para todas as partes do contrato), pela qual uma parte (presta- dor) obriga-se a prestar à outra certos serviços (obrigação de fazer), enquanto essa outra (tomador) obriga-se a remunerá-lo (obrigação de dar). Destaquem-se as características do Contrato de Prestação de Serviços, confor- me lições de Cezar Fiúza2 e Caio Mário da Silva Pereira:3 a) é típico (tipificado no Código Civil) e puro (não é produto da fusão de outras espécies contratuais); b) con- sensual; c) bilateral; d) pré-estimado (as prestações são conhecidas de antemão); e) sinalagmático (prevê obrigações para ambas as partes); f) pode ser oneroso ou não (desde que explicitamente pactuado pelas partes); g) pode ser de execução diferida (ao término da empreitada, finda o vínculo) ou sucessiva (se prolonga por tempo indeterminado); h) não possui obrigatoriedade de pessoalidade (pode, inclusive, ser pactuado entre pessoas jurídicas). 2 FIÚZA, Cezar. Op. cit., p. 510. 3 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1984, vol III, p. 261. 9 UNIDADE Atleta Profissional Outra característica do contrato de prestação de serviços, talvez uma das mais importantes, seja a ausência de subordinação, caracterizada pela independência hierárquica entre as partes contratantes, principalmente, no tocante ao modo de execução do serviço. Quanto às partes no contrato,elas recebem diversas denominações: de um lado, temos o solicitante, cliente, locatário, tomador, contratante, dentre outros e, do outro, temos o executor, fornecedor, locador, prestador de serviços, contratado, dentre outros. Não se pode esquecer de que o contrato de prestação de serviços, como espécie de contrato civil, deve obedecer a todos os pressupostos e requisitos necessários para os negócios jurídicos em geral, quais sejam: capacidade das partes, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei.4 No que concerne à duração do contrato de prestação de serviços, não poderá ultrapassar o período de quatro anos, ainda que a tarefa não esteja cumprida, conforme dispõe o artigo 598 do Código Civil. Código Civil Art. 598. A prestação de serviço não se poderá convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dí- vida de quem o presta, ou se destine à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não concluída a obra. Nesse contexto, várias são as formas de sua extinção, elencadas no artigo 607 do Código Civil, tais como: morte de uma das partes; o término do prazo deter- minado; a conclusão da obra; rescisão do contrato mediante aviso prévio; inadim- plemento de qualquer das partes; impossibilidade da continuação do contrato, por força maior. Da relação de emprego Sérgio Pinto Martins conceitua o contrato de emprego como “o negócio jurídi- co pelo qual uma pessoa física se obriga, mediante retribuição, a prestar serviços, não eventuais, a outra pessoa ou entidade, sob a direção de qualquer das últimas” (MARTINS, 2004, p. 114), enquanto que Aristeu de Oliveira o define como “o acor- do tácito ou expresso, verbal ou escrito, por prazo determinado ou indeterminado, que corresponde a uma relação de emprego” (OLIVEIRA, 1995. p. 23). Já Roberto Lisboa o considera como um “negócio jurídico bilateral, sinalagmático, consensual (independe de forma), oneroso, comutativo, de caráter contínuo e de subordinação hierárquica de uma das partes (o empregado)” (LISBOA, 2000, p. 438). 4 Acerca da capacidade, importa referir que, além da capacidade civil para contratar, impende que o prestador tenha habilidade técnica necessária para prestar o aludido serviço. 10 11 Nos dizeres de Délio Maranhão, contrato de emprego (stricto senso) é: “o negócio jurídico pelo qual uma pessoa física (empregado) se obriga, mediante o pagamento de uma contraprestação (salário), a prestar trabalho não eventual em proveito de outra pessoa, física ou jurídica (empregador), a quem fica juridicamente subordinado” (MARANHÃO, 1993). A relação de emprego (stricto sensu) é representada pelo próprio contrato de emprego, conforme previsto no artigo 442 da CLT, configurando-se como uma relação formal, de mútuo consentimento, subordinada, não eventual e pessoal de trabalho, definindo obrigações entre empregado e empregador, mediante uma re- muneração ao trabalhador. CLT Art. 442 - Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego. [...] Os elementos caracterizadores de uma relação de emprego são: a) natureza contratual consensual (derivada da vontade das partes); b) pessoalidade (através da pessoa física do empregado); c) prestação de forma contínua (trabalho eventual não é contrato de emprego); d) sucessivo (princípio da continuidade da relação laboral); e) sinalagmático; f) subordinação (ao jus variandi do empregador5); e g) onerosida- de obrigatória (através de contraprestação: salário - trabalho voluntário não traduz relação de emprego). O contrato de emprego é uma espécie sui generis de contrato, com peculiarida- des exclusivas, dentre elas, a possibilidade de sua estipulação ser expressa, tácita (não formalizada), verbal ou escrita, além de se tratar de um contrato sinalagmáti- co, sucessivo e oneroso. Convém ressaltar que, em matéria do contrato de emprego, é pacífico ser forte a limitação sofrida na autonomia da vontade das partes na estipulação de seu con- teúdo, em razão da intervenção forte e permanente de normas de ordem pública, oriundas da Constituição Federal, leis trabalhistas e/ou desportivas, convenções e acordos coletivos, que se inserem automaticamente no contrato. Dessa forma, não é possível que o empregado, mesmo que queira, possa abrir mão de diversos direitos, tais como as férias, o descanso semanal remunerado etc. Quanto às partes no contrato, recebem apenas a denominação empregado e empregador. 5 MARTINS, Sérgio Pinto. Op. cit., p. 115. Segundo o autor, na relação de emprego, o empregador exerce seu poder de direção sobre a atividade do trabalhador de prestar serviços 11 UNIDADE Atleta Profissional Prestação de Serviço x Emprego: Diferenciação Passadas essas breves considerações, é necessário diferenciar as espécies con- tratuais, para que se possa concluir que tipo de contrato é celebrado entre os atletas profissionais e as entidades desportivas. Antes de mais nada, já que ambas as espécies contratuais são próximas, com muitos pontos em comum, impende destacar as características que diferenciam o contrato de prestação de serviços e o contrato de emprego, notadamente quanto à onerosidade, à forma de execução, duração e subordinação, pois é através delas que se pode fazer o devido enquadramento do contrato do atleta. Na primeira espécie, não existe a necessidade da onerosidade do pacto, nem de pessoalidade, podendo até ser pactuado apenas entre pessoas jurídicas, enquanto que, na segunda, a onerosidade (salário) e a pessoalidade, através da pessoa física do empregado, são imprescindíveis para sua configuração. O contrato de prestação de serviços pode ser de execução diferida (findando o vínculo ao término da empreitada) e, conforme previsão legal, sua duração não pode exceder o período de quatro anos, enquanto que, na relação de emprego, a regra geral é a prestação sucessiva (por tempo indeterminado) e sempre de forma contínua, vedando-se o trabalho eventual. Por fim, mas não menos importante, a relação de prestação de serviços (latu senso) é caracterizada pela ausência de subordinação entre as partes contratantes (independência hierárquica) na forma de execução do serviço, enquanto que a rela- ção de emprego é, essencialmente, configurada pela subordinação do empregado ao poder diretivo do empregador. Após essas breves, mas pertinentes considerações, verifica-se a verdadeira natu- reza do contrato entre atleta e associação desportiva. Conforme Domingos Sávio Zainaghi, o contrato do atleta profissional é aquele pelo qual uma pessoa natural se obriga, mediante remuneração, a prestar serviços desportivos a outra pessoa (natural ou jurídica), sob a direção desta (ZAINAGHI, 1998, p. 111). Para Álvaro Melo Filho, trata-se de uma relação de emprego, ainda que sui ge- neris, sujeitando-se a um regime jurídico contratual resultante das especificidades e peculiaridades expressas na Lei 9.615/98, somadas às relativas ao contrato de emprego, recorrendo-se às normas gerais laborais e previdenciárias, de forma sub- sidiária (MELO FILHO, 1998, p. 99). Importante! Dessa forma, pode-se entender que a relação formada entre o atleta profissional e a entidade desportiva (clube), apesar de diferenciada, trata-se de uma relação de empre- go, devendo ser regida não apenas pela legislação desportiva específica, como também pela trabalhista e previdenciária, no que couber. Importante! 12 13 O fato de o atleta estrangeiro necessitar de visto temporário de trabalho, para atuar em equipes de clubes brasileiros,6 faz com que reforce ainda mais o entendi- mento de que se trata de uma relação de emprego. Embora a maior parte da doutrina e jurisprudência entenda se tratar esse con- trato de uma relação de emprego especial, regido por lei específica e, na lacuna da aludida especificidade, pela legislação trabalhista vigente,7 deve-se mencionar que há quem sustente sua natureza de prestaçãode serviço,8 na sua maior parte autores civilistas. De qualquer forma, convém mencionar que tal celeuma parece ter sido dirimida pela própria legislação aplicável à espécie, especialmente pelo §5° do artigo 28 da Lei 9.615/98, com redação dada pela Lei 12.395/11, segundo o qual o vínculo desportivo do atleta com a entidade contratante tem natureza acessória ao respec- tivo vínculo empregatício. Lei Pelé Art. 28 [...] § 5º O vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva contratante constitui-se com o registro do contrato especial de trabalho desportivo na entidade de administração do desporto, tendo natureza acessória ao respectivo vínculo empregatício, dissolvendo-se, para todos os efeitos legais: I - com o término da vigência do contrato ou o seu distrato; II - com o pagamento da cláusula indenizatória desportiva ou da cláusula compensatória desportiva; III - com a rescisão decorrente do inadimplemento salarial, de respon- sabilidade da entidade de prática desportiva empregadora, nos termos desta Lei; IV - com a rescisão indireta, nas demais hipóteses previstas na legislação trabalhista; e V - com a dispensa imotivada do atleta. Tendo visto os aspectos pontuais acerca de sua natureza e superada a divergên- cia, cabe discorrer sobre o contrato celebrado entre atleta e associação desportiva. 6 BARROS, A. M. Contratos e Regulamentações Especiais de Trabalho: peculiaridades, aspectos controvertidos e tendências. São Paulo: LTr, 2001, p. 66. 7 MACHADO, J. E. O novo contrato de trabalho desportivo e a extinção da lei do passe. Revista de jurisprudên- cia trabalhista do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000, V, 203, p. 8. 8 Autores civilistas como Maria Helena Diniz, Jônatas Milhomens e Geraldo Magela Alves acreditam que o contrato de atleta seja um contrato de prestação de serviços civil. 13 UNIDADE Atleta Profissional O Contrato do Atleta Profissional no Direito Brasileiro Conceito e Disciplina Legal Geraldo Magela Alves conceitua o contrato do atleta profissional como o ajuste de vontades, no qual uma das partes (o atleta) se obriga, sob subordinação e me- diante remuneração para com outra pessoa (a entidade desportiva), ao exercício temporário de atividade ligada ao desporto (ALVES, 1996, p. 216). Os sujeitos do contrato são o empregado (pessoa natural do atleta) e o empre- gador (entidade desportiva) e este é disciplinado, além da legislação trabalhista, pela Lei 9.615/98, alterada pela Lei 9.981/00 e mais recentemente pela Lei 12.395/11. Por isso merece ser destacado que atletas e entidades de prática desportiva são livres para organizar a atividade profissional, qualquer que seja sua modalidade, sendo considerada como competição profissional para os efeitos da legislação aci- ma mencionada, aquela promovida para obter renda e disputada por atletas profis- sionais cuja remuneração decorra de contrato de trabalho desportivo. Lei Pelé Art. 26. Atletas e entidades de prática desportiva são livres para organi- zar a atividade profissional, qualquer que seja sua modalidade, respeitados os termos desta Lei. Características As características básicas desta modalidade contratual são a bilateralidade, a onerosidade, a temporariedade e a formalidade. Nesse ínterim, tratemos das ques- tões referentes à temporariedade e formalidade, já que constituem características destoantes dos contratos de emprego tradicionais. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), através de seu artigo 443, §2º, limitou as situações em que é autorizada a celebração de contrato de emprego por tempo determinado, quais sejam: transitoriedade (do serviço ou da atividade do empregador) e os contratos de experiência. Nos contratos fundados na transitorie- dade, foi fixado o prazo máximo de 2 anos para sua duração, enquanto que, para os contratos de experiência, o prazo máximo fixado foi de 90 dias. Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais da legislação trabalhista e da Seguridade Social, ressalvadas as peculiaridades constantes em lei especial. No contrato do atleta profissional, a temporariedade é sua marca fundamental, não havendo limitação legal à quantidade de renovações, vigorando por prazo de- terminado, nunca inferior a três meses nem superior a cinco anos. 14 15 Lei Pelé Art. 30. O contrato de trabalho do atleta profissional terá prazo determi- nado, com vigência nunca inferior a três meses nem superior a cinco anos. Parágrafo único. Não se aplica ao contrato especial de trabalho desporti- vo do atleta profissional o disposto nos arts. 445 e 451 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Vale destacar que não se aplica ao contrato especial de trabalho desportivo do atleta profissional o disposto nos artigos 4459 e 45110 da Consolidação das Leis do Trabalho. (parágrafo único do artigo 30 da Lei 9.615/98, com redação dada pela Lei 12.395/11) Quanto à formalidade, é regra geral a informalidade dos contratos trabalhistas, enquanto que no contrato do atleta profissional é exigida a forma escrita. Sobre esse assunto, convém mencionar que o vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva contratante constitui-se com o registro do contrato especial de trabalho desportivo na entidade de administração do desporto, tendo natureza acessória ao respectivo vínculo empregatício (§ 5° do artigo 28 da Lei 9.615/98). No mais, a atividade do atleta profissional é caracterizada por remuneração pactuada em contrato especial de trabalho desportivo, firmado com entidade de prática desportiva, no qual deverão constar: a cláusula indenizatória desportiva, a cláusula compensatória desportiva, as disposições relativas à concentração, o pra- zo de vigência do contrato, a remuneração, entre outros. Por se tratar de relação de emprego, são de obrigação do empregador o reco- lhimento do INSS, a efetivação dos depósitos fundiários (FGTS), o pagamento das férias, do labor extraordinário, do décimo terceiro salário, além de assegurar ao atleta um seguro contra acidentes de trabalho. Sobre esse assunto, cumpre mencionar que as entidades de prática des- portiva são obrigadas a contratar seguro de vida e de acidentes pessoais, vinculado à atividade desportiva, para os atletas profissionais, com o objetivo de cobrir os riscos a que eles estão sujeitos, devendo a importância segurada garantir ao atleta profissional, ou ao beneficiário por ele indicado no contrato de seguro, o direito à indenização mínima correspondente ao valor anual da remuneração pactuada. É importante informar que a entidade de prática desportiva é responsável pelas despesas médico-hospitalares e de medicamentos necessários ao restabelecimento do atleta enquanto a seguradora não fizer o pagamento da indenização devida em razão do seguro contratado. 9 Artigo 445 - O contrato de trabalho por prazo determinado não poderá ser estipulado por mais de 2 (dois) anos, observada a regra do Art. 451. 10 Artigo 451 - O contrato de trabalho por prazo determinado que tácita ou expressamente, for prorrogado mais de uma vez. passará a vigorar sem determinação de prazo. 15 UNIDADE Atleta Profissional Lei Pelé Art. 45. As entidades de prática desportiva são obrigadas a contratar seguro de vida e de acidentes pessoais, vinculado à atividade desportiva, para os atletas profissionais, com o objetivo de cobrir os riscos a que eles estão sujeitos. § 1º A importância segurada deve garantir ao atleta profissional, ou ao be- neficiário por ele indicado no contrato de seguro, o direito a indenização mínima correspondente ao valor anual da remuneração pactuada. § 2º A entidade de prática desportiva é responsável pelas despesas mé- dico-hospitalares e de medicamentos necessários ao restabelecimento do atleta enquanto a seguradora não fizer o pagamento da indenização a que se refere o § 1º deste artigo. São, ainda, assegurados ao atleta profissional, o repouso semanal remunerado de 24 (vinte e quatro)horas ininterruptas, preferentemente em dia subsequente à participação do atleta na partida, prova ou equivalente, quando realizada no final de semana e férias anuais remuneradas de 30 (trinta) dias, acrescidas do abono de férias, coincidentes com o recesso das atividades desportivas. Continuidade da Relação e Quantidade de Apresentações Um dos deveres advindos do contrato é a permanência (ou não eventualidade), deri- vada do princípio da continuidade da relação laboral, aplicável aos assuntos desportivos. Rodrigues Pinto define o elemento da permanência (não eventualidade) como sendo o elemento essencial de caracterização da relação de emprego, seja por as- sociar-se ao princípio da continuidade, seja por ser a sucessividade um fundamento da utilização da energia pessoal do empregado (PINTO, 2000, p. 102). O autor afirma ser irrisório imaginar-se um contrato individual de emprego instantâneo ou conciliar a eventualidade dessa prestação. Dessa forma, a princípio, não importa a quantidade de partidas ou eventos que o atleta atue por uma entidade desportiva (clube) para a presença do elemento da não eventualidade na relação. O que importa é que fique caracterizada a disponi- bilidade do atleta, por tempo razoável, para o exercício de atividade laboral em agremiação esportiva. Ou seja, ainda que o atleta “não jogue” ou “não se apre- sente” pelo clube, o que importa é ele continuar à disposição da entidade para a manutenção da relação laboral. Nesse contexto, é importante esclarecer que os principais deveres da entidade de prática desportiva empregadora estão descritos no artigo 34 da Lei Pelé: Lei Pelé Art. 34. São deveres da entidade de prática desportiva empregadora, em especial: I - registrar o contrato especial de trabalho desportivo do atleta profissio- nal na entidade de administração da respectiva modalidade desportiva; 16 17 I I - proporcionar aos atletas profissionais as condições necessárias à par- ticipação nas competições desportivas, treinos e outras atividades prepa- ratórias ou instrumentais; I II - submeter os atletas profissionais aos exames médicos e clínicos neces- sários à prática desportiva. Já os principais deveres do atleta profissional estão dispostos no artigo 35 da lei. Lei Pelé Art. 35. São deveres do atleta profissional, em especial: I - participar dos jogos, treinos, estágios e outras sessões preparatórias de competições com a aplicação e dedicação correspondentes às suas condições psicofísicas e técnicas; I I - preservar as condições físicas que lhes permitam participar das com- petições desportivas, submetendo-se aos exames médicos e tratamentos clínicos necessários à prática desportiva; I II - exercitar a atividade desportiva profissional de acordo com as regras da respectiva modalidade desportiva e as normas que regem a disciplina e a ética desportivas. Jornada de Trabalho O artigo 7º, XIII, da Constituição Federal de 1988 é a principal norma de nosso sistema jurídico que trata da jornada de trabalho, sendo nela disposto que: Constituição Federal Art. 7º [...] XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; Nesse sentido, a legislação infraconstitucional, qual seja, a Lei 9.615/98 esta- belece que a jornada de trabalho desportiva normal é de 44 horas semanais (artigo 28, § 4°, inciso VI), bem como que o repouso semanal remunerado do atleta será de 24 horas ininterruptas, preferencialmente em dia subsequente à participação do atleta na partida, prova ou equivalente, quando realizada no final de semana. (artigo 28, § 4°, inciso IV). Em virtude das peculiaridades da profissão do atleta, tem-se entendido ser pos- sível a extrapolação desse limite através do instituto da compensação na jornada de trabalho, ou seja, permite-se a extensão da jornada, desde que devidamente compensada por redução em outros dias da semana. Tal colocação se faz necessária uma vez que, caso seja excedida a jornada de trabalho legal, sem a devida compensação, estaremos diante de trabalho extraordi- nário, sendo devido o adicional correspondente (horas extras). 17 UNIDADE Atleta Profissional Uma grande fonte de polêmica, relacionada à limitação ou não da jornada de trabalho semanal do atleta profissional, sempre decorreu do regime de concentra- ção. No entanto, tal controvérsia parece ter sido dirimida pelo inciso I do § 4°, do artigo 28 da Lei 9.615/98. Lei Pelé Art. 28 [...] § 4º Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais da legislação tra- balhista e da Seguridade Social, ressalvadas as peculiaridades constantes desta Lei, especialmente as seguintes: I - se conveniente à entidade de prática desportiva, a concentração não poderá ser superior a 3 (três) dias consecutivos por semana, desde que esteja programada qualquer partida, prova ou equivalente, amistosa ou oficial, devendo o atleta ficar à disposição do empregador por ocasião da realização de competição fora da localidade onde tenha sua sede; II - o prazo de concentração poderá ser ampliado, independentemente de qualquer pagamento adicional, quando o atleta estiver à disposição da entidade de administração do desporto; III - acréscimos remuneratórios em razão de períodos de concentração, viagens, pré-temporada e participação do atleta em partida, prova ou equivalente, conforme previsão contratual; É importante destacar que os acréscimos remuneratórios em razão da concen- tração, viagens, pré-temporada e participação em partidas e provas deve ser objeto de previsão contratual. Contudo, se o atleta estiver à disposição de entidade de administração do despor- to, a concentração poderá ocorrer sem o pagamento de qualquer tipo de adicional. Formas de Remuneração Conforme preleciona José Martins Catharino: A remuneração do atleta-empre- gado é, quase sempre, em dinheiro e complexa, composta pelo ordenado mensal, mais gratificações e prêmios (CATHARINO, 1969, p. 30). O autor ainda comple- menta, mencionando que a parte variável dessa remuneração assume formas es- pecíficas, de caráter aleatório, muitas vezes, importando na mudança da residência do atleta, sendo comum a estipulação de salário habitação. Deve-se salientar que os componentes salariais tradicionais, insertos no artigo 457, §§1ºe 2º da CLT, são plenamente aplicáveis, subsidiariamente, em relação ao contrato do atleta. CLT Art. 457 [...] § 1º Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações le- gais e de função e as comissões pagas pelo empregador. 18 19 § 2º As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de custo, limitadas a cinquenta por cento da remuneração mensal, o auxílio- -alimentação, vedado o seu pagamento em dinheiro, as diárias para via- gem e os prêmios não integram a remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de encargo trabalhista e previdenciário. Além do mais, o artigo 31, §1º, da Lei Pelé dispõe serem entendidos como salários o abono de férias, o 13º salário, as gratificações, prêmios e demais verbas inclusas no contrato de trabalho. Lei Pelé Art. 31 [...] § 1º São entendidos como salário, para efeitos do previsto no caput, o abono de férias, o décimo terceiro salário, as gratificações, os prêmios e demais verbas inclusas no contrato de trabalho. Uma importante prescrição para o atleta está no artigo 31, caput e no seu § 5º da Lei Pelé, que tratam da rescisão do contrato se não houver o pagamento de salário ou de seu contrato de direito de imagem, no todo ou em parte, por período igual ou superior a 3 meses. Nesse caso, o atleta pode transferir-se para outra enti- dade desportiva, mesmo que eventual disputa esteja em curso e sem se considerar o número de partidas que já realizou. Lei Pelé Art. 31. A entidade de prática desportiva empregadora que estiver com pagamento de salário ou decontrato de direito de imagem de atleta pro- fissional em atraso, no todo ou em parte, por período igual ou superior a três meses, terá o contrato especial de trabalho desportivo daquele atleta rescindido, ficando o atleta livre para transferir-se para qualquer outra en- tidade de prática desportiva de mesma modalidade, nacional ou interna- cional, e exigir a cláusula compensatória desportiva e os haveres devidos. [ ...] § 5º O atleta com contrato especial de trabalho desportivo rescindido na forma do caput fica autorizado a transferir-se para outra entidade de prática desportiva, inclusive da mesma divisão, independentemente do número de partidas das quais tenha participado na competição, bem como a disputar a competição que estiver em andamento por ocasião da rescisão contratual. Remuneração ligada à imagem do atleta profissional Sobre a remuneração, convém mencionar uma forma diferenciada de gratifica- ção paga ao atleta por sua agremiação, denominada de “contrato de imagem”, através do qual a entidade remunera seus atletas mais famosos e importantes. Ressalte-se que o “contrato de imagem” citado é modalidade diversa do chama- do direito de imagem. O direito de imagem, previsto constitucionalmente como 19 UNIDADE Atleta Profissional direito pessoal e exclusivo de todo cidadão em expor ou não sua própria imagem (art. 5º, X e XXVIII da CF). Também não se confunde com o direito de arena, cuja titularidade é da enti- dade de prática desportiva, mas que tem uma parte que deve ser distribuída aos atletas participantes do evento, por meio do respectivo sindicato. Lei Pelé Art. 42. Pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a re- produção de imagens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo des- portivo de que participem. § 1º Salvo convenção coletiva de trabalho em contrário, 5% (cinco por cento) da receita proveniente da exploração de direitos desportivos au- diovisuais serão repassados aos sindicatos de atletas profissionais, e estes distribuirão, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do espetáculo, como parcela de natureza civil. § 1º-A. (VETADO). § 2º O disposto neste artigo não se aplica à exibição de flagrantes de espetáculo ou evento desportivo para fins exclusivamente jornalísticos, desportivos ou educativos ou para a captação de apostas legalmente au- torizadas, respeitadas as seguintes condições: I - a captação das imagens para a exibição de flagrante de espetáculo ou evento desportivo dar-se-á em locais reservados, nos estádios e ginásios, para não detentores de direitos ou, caso não disponíveis, mediante o fornecimento das imagens pelo detentor de direitos locais para a res- pectiva mídia; II - a duração de todas as imagens do flagrante do espetáculo ou evento desportivo exibidas não poderá exceder 3% (três por cento) do total do tempo de espetáculo ou evento; III - é proibida a associação das imagens exibidas com base neste artigo a qualquer forma de patrocínio, propaganda ou promoção comercial. [...] O contrato de imagem, que se relaciona com a cessão do direito ao uso da ima- gem do atleta, pode ser por ele cedido ou explorado, mediante ajuste contratual de natureza civil e com fixação de direitos, deveres e condições inconfundíveis com o contrato especial de trabalho desportivo. O valor do contrato de imagem não poderá ultrapassar 40% da remuneração total paga ao atleta. Lei Pelé Art. 87-A. O direito ao uso da imagem do atleta pode ser por ele cedido ou explorado, mediante ajuste contratual de natureza civil e com fixação 20 21 de direitos, deveres e condições inconfundíveis com o contrato especial de trabalho desportivo. P arágrafo único. Quando houver, por parte do atleta, a cessão de direitos ao uso de sua imagem para a entidade de prática desportiva detentora do contrato especial de trabalho desportivo, o valor correspondente ao uso da imagem não poderá ultrapassar 40% (quarenta por cento) da remune- ração total paga ao atleta, composta pela soma do salário e dos valores pagos pelo direito ao uso da imagem. Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS O FGTS, instituído no Brasil como “poupança compulsória” formada pelo tra- balhador, na lição de José Augusto Rodrigues Pinto, é um conjunto de depósitos, de responsabilidade dos empregadores, em contas bancárias vinculadas a cada em- pregado, destinadas à formação de um patrimônio retributivo da energia investida, em favor das empresas, com movimentação igualmente vinculada às hipóteses previstas em lei. Mensalmente, o empregador é obrigado a depositar a quantia equivalente a 8% da remuneração paga ao empregado nessa conta vinculada, sendo esse re- colhimento compulsório devido, inclusive, durante as interrupções do contrato de trabalho. Por se tratar de uma relação de emprego, o atleta profissional é credor do FGTS, como qualquer outro trabalhador, nos termos do artigo 7º, inciso III, da CF, incidindo tal percentual sobre todos os itens que compõem sua remuneração, tais como “bichos”, “luvas” e quaisquer outros pagamentos. Constituição Federal Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] III - fundo de garantia do tempo de serviço; Extinção do Contrato O vínculo desportivo do atleta profissional se extingue nas hipóteses do § 5°, do artigo 28, da Lei Pelé, que compreende as seguintes situações: I. com o término da vigência do contrato ou o seu distrato - O contrato pode ser extinto pelo simples advento de seu termo fi nal (prazo fi nal) ou por distrato, que segundo Orlando Gomes, “[...] constitui uma espécie de resilição do negócio jurídico: de um lado, encerra o contrato para o futuro, ostentando natureza bilateral; de outro, também representa uma modalidade de revogação, expressando o contrarius consensus dos fi gurantes” (ASSIS, 2004, p. 58-61). 21 UNIDADE Atleta Profissional II. com o pagamento da cláusula indenizatória desportiva ou da cláusula compensatória desportiva: • A cláusula indenizatória desportiva é a verba devida exclusivamente à entidade de prática desportiva à qual está vinculado o atleta, em valor pactuado pelas partes e expressamente quantificado no instrumento contratual e será devida nas seguintes hipóteses: a) transferência do atleta para outra entidade desportiva, sendo o montante limitado ao valor máximo de 2.000 vezes o valor médio do salário contratual – para as transferências nacionais. No caso de transferência para outra entidade estrangeira, não estipula a lei qualquer limite para essa cláusula; b) por ocasião do retorno do atleta às atividades profissionais em outra entidade de prática desportiva, no prazo de até 30 (trinta) meses. • A cláusula compensatória desportiva é a verba devida pela entidade de prática desportiva, cujo valor será livremente pactuado entre as partes e formalizado no contrato especial de trabalho desportivo, observan- do-se, como limite máximo, 400 vezes o valor do salário mensal no momento da rescisão e, como limite mínimo, o valor total de salários mensais a que teria direito o atleta até o término do referido contrato e será devida nas seguintes hipóteses: a) rescisão decorrente do inadimplemento salarial, de responsabilidade da entidade de prática desportiva empregadora; b) rescisão indireta, nas hipóteses previstas na legislação trabalhista; e c) dispensa imotivada do atleta. III. com a rescisão decorrente do inadimplemento salarial, de responsabi- lidade da entidade de prática desportiva empregadora: É lícito ao atleta profissional recusar competir por entidade de prática desportiva quando seus salários, no todo ou em parte, estiverem atrasados em dois ou mais meses. Se esse atraso for igual ou superior a 3 meses, como vimos, ocorrerá a rescisão do contrato e se estabelece o seudireito de transfe- rência para outra entidade desportiva. IV. com a rescisão indireta, nas demais hipóteses previstas na legislação trabalhista; e V. com a dispensa imotivada do atleta. 22 23 Atleta Autônomo Rompendo com os preceitos de que o atleta profissional é aquele que possui uma relação de emprego com uma entidade desportiva, como vimos, a Lei n.º 12.395/11, que alterou a Lei Pelé em vários dispositivos, criou a figura do atleta autônomo. Lei Pelé Art. 28-A. Caracteriza-se como autônomo o atleta maior de 16 (dezes- seis) anos que não mantém relação empregatícia com entidade de prática desportiva, auferindo rendimentos por conta e por meio de contrato de natureza civil. [...] Esse atleta: • Deve ser praticante de esporte individual, uma vez que essa modalidade é ve- dada para esportes coletivos (§ 3º do artigo 28-A); • Deve ser maior de 16 anos; • Tem seu vínculo formado a partir de um contrato de prestação de serviços com a entidade esportiva, não sendo considerado um empregado (com todas as consequências legais que isso acarreta), mesmo quando participa de com- petição representando essa entidade; • Seu vínculo com a entidade esportiva se forma com a sua inscrição para par- ticipar de competição, onde irá representá-la; • Da mesma forma, não se caracteriza como vínculo empregatício a sua filiação ou a vinculação à entidade de administração ou a sua integração a delegações brasileiras partícipes de competições internacionais (§2º do artigo 28-A). 23 UNIDADE Atleta Profissional Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Código Brasileiro de Justiça Desportiva https://goo.gl/KjSmBy Código Brasileiro Antidopagem https://goo.gl/XqxNk1 Estatuto do Torcedor – Lei n.º 10.761/03 https://goo.gl/VeACmf Lei n.º 9.615/98 – Lei Pelé https://goo.gl/jvPvAV 24 25 Referências ALVES, G. M. Manual Prático dos Contratos: doutrina, legislação, jurisprudên- cia, formulários. Rio de Janeiro: Forense, 1996. BARROS, A. M. Contratos e Regulamentações Especiais de Trabalho: peculia- ridades, aspectos controvertidos e tendências. São Paulo: LTr, 2001. BARROS, W. P. Contratos, Estudos sobre a Moderna Teoria Geral. Porto Ale- gre: Livraria do Advogado, 2004. CANDIA, R. Comentários os Contratos Trabalhistas Especiais. 3. ed. São Pau- lo: LTr, 1995. CATHARINO, J. M. Contrato de Emprego Desportivo no Direito Brasileiro. São Paulo: LTr, 1969. FIÚZA, C. Direito Civil, Curso Completo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. LISBOA, R. S. Contratos difusos e coletivos: consumidor, meio ambiente, traba- lho, agrário, locação, autor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. LOPEZ. T. A. Comentários ao Código Civil-Parte Especial. Vol.7. São Paulo: Saraiva, 2003. MACHADO, J. E. O novo contrato de trabalho desportivo e a extinção da lei do passe. Revista de jurisprudência trabalhista do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000, V, 203. MARANHÃO, D. Instituições do Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: LTr, 1993. MARTINS, S. P. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2004. MELO FILHO, Á. Comentários à Lei 9.615/98. Brasília: Brasília Jurídica, 1998. MONTEIRO, W. B. Direito das Obrigações. São Paulo: Saraiva, 1962. OLIVEIRA, A. Rescisão do contraio de trabalho: manual prático. São Paulo: Atlas, 1995. PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. Vol. 3. Rio de Janeiro: Forense, 1984. PINTO, J. A. R. Curso de Direito Individual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2000. RIZZARDO, A. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2004. VENOSA, S. S. Direito Civil – Contratos em Espécie. Vol. 3. São Paulo: Atlas, 2004. ZAINAGHI, D. S. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1998. ______. Horas Extras no Contrato do Jogador de Futebol. JTB – Jornal Traba- lhista Consulex, Brasília, 2 de abril de 2001, ano XVIII, nº 857. 25
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