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Cultura e História do Café


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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE CARATINGA – FUNEC 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA – UNEC 
NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CULTURA DO CAFE 
Douglas Silva Parreira 
 
 
 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO 
UNEC / EAD DISCIPLINA: GRANDES CULTURAS II 
 
NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 2 
Professor: Douglas Silva Parreira – douglasparreira30@gmail.com 
CAPÍTULO 1: ORIGEM, HISTÓRICO E IMPORTÂNCIA ECONÔMICA 
 
1.1 ORIGEM E DIFUSÃO GEOGRÁFICA 
 
O cafeeiro é uma planta da família Rubiacea, que tem sua origem nas regiões 
montanhosas da Abissínia, compreendendo hoje a região Sudoeste da Etiópia, o Su-
deste do Sudão e o Norte do Quênia. Segundo a lenda, foi nessa região que o pastor 
Kaldir observou que suas cabras ficavam mais alegres e saltitantes quando comiam 
os pequenos frutos vermelhos de determinados arbustos. Observado o fenômeno, 
esse pastor buscou saber quais suas causas. Experimentando os frutos, ficou alegre 
e pôs-se a dançar. Não conseguindo levar seus estudos muito adiante, buscou a par-
ceria dos monges – sábios da época – de um mosteiro da região. 
Os monges, intrigados com o fenômeno descrito, começaram a experimentar 
aqueles frutos para ver se a sensação se repetia com eles. Ao ingerirem os frutos, os 
religiosos foram tomados de uma agitação semelhante à descrita pelo pastor. Come-
çaram então a utilizar o fruto durante suas vigílias noturnas com a finalidade de pror-
rogarem suas orações, resistindo ao sono. 
Parece que as tribos africanas, que conheciam o café desde a Antiguidade, 
moíam seus grãos e faziam uma pasta utilizada para alimentar os animais e aumentar 
as forças dos guerreiros. Seu cultivo se estendeu primeiro na Arábia, introduzido pro-
vavelmente por prisioneiros de guerra, onde se popularizou aproveitando a lei seca 
por parte do Islã. O Iêmen foi um centro de cultivo importante, de onde se propagou 
pelo resto do Mundo Árabe. O conhecimento dos efeitos da bebida disseminou-se e 
no século XVI o café era utilizado no oriente, sendo torrado pela primeira vez na Pér-
sia. Na Arábia, a infusão do café recebeu o nome de kahwah ou cahue (ou ainda 
qah'wa, do original em árabe ق ةهو ) que significava “vinho”. Enquanto na língua turco 
otomana era conhecido como kahve, cujo significado original também era "vinho". A 
classificação Coffea arabica foi dada pelo naturalista Lineu. 
Em 1475 surge em Constantinopla a primeira loja de café, produto que para se 
espalhar pelo mundo se beneficiou, primeiro, da expansão do Islamismo e, em uma 
segunda fase, do desenvolvimento dos negócios proporcionado pelos descobrimen-
tos. Café na Palestina em 1900 - cartão estereoscópico da Keystone View Company. 
Por volta de 1570, o café foi introduzido em Veneza, Itália, mas a bebida, considerada 
maometana, era proibida aos cristãos e somente foi liberada após o papa Clemente 
 
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VIII provar o café. Na Inglaterra, em 1652, foi aberta a primeira casa de café da Europa 
ocidental, seguindo-se a Itália dois anos depois. Em 1672 cabe a Paris inaugurar a 
sua primeira casa de café. Foi precisamente na França que, pela primeira vez, se 
adicionou açúcar ao café, o que aconteceu durante o reinado de Luís XIV, a quem 
haviam oferecido um cafeeiro em 1713. 
Na sua peregrinação pelo mundo o café chegou a Java, alcançando posterior-
mente os Países Baixos e, graças ao dinamismo do comércio marítimo holandês exe-
cutado pela Companhia das Índias Ocidentais, o café foi introduzido no Novo Mundo, 
espalhando-se nas Guianas, Martinica, São Domingos, Porto Rico e Cuba. Gabriel 
Mathien de Clieu, oficial francês, foi quem trouxe para a América os primeiros grãos. 
Ingleses e portugueses tentaram a sua sorte nas zonas tropicais da Ásia e da 
África. Em 1727, o sargento-mor Francisco de Melo Palheta, a pedido do governador 
do Estado do Grão-Pará, lançou-se numa missão para conseguir mudas de café, pro-
duto que já tinha grande valor comercial. Para isso, fez uma viagem à Guiana Fran-
cesa e lá se aproximou da esposa do governador da capital Caiena. 
Conquistada sua confiança, conseguiu dela uma muda de café-arábico, que foi 
trazida clandestinamente para o Brasil. Das primeiras plantações na Região Norte, 
mais especificamente em Belém, as mudas foram usadas para plantios no Maranhão 
e na Bahia, na Região Nordeste. 
As condições climáticas não eram as melhores nessa primeira escolha e, entre 
1800 e 1850, tentou-se o cultivo noutras regiões: o desembargador João Alberto Cas-
telo Branco trouxe mudas do Pará para a Região Sudeste e as cultivou no Rio de 
Janeiro, depois São Paulo e Minas Gerais, locais onde o sucesso foi total. O negócio 
do café começou, assim, a desenvolver-se de tal forma que se tornou a mais impor-
tante fonte de receitas do Brasil e de divisas externas durante muitas décadas a partir 
da década de 1850. Plantação próxima da cidade de São João do Manhuaçu - Minas 
Gerais - Brasil. O sucesso da lavoura cafeeira em São Paulo, durante a primeira parte 
do século XX, fez com que o Estado se tornasse um dos mais ricos do país, permitindo 
que vários fazendeiros indicassem ou se tornassem presidentes do Brasil (política co-
nhecida como café-com-leite, por se alternarem na presidência paulistas e mineiros), 
até que se enfraqueceram politicamente com a Revolução de 1930. 
A partir de meados do século 19, a lavoura de café concentrou toda a riqueza 
do país durante três quartos de século. Sua influência não foi só econômica, mas 
 
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também social e política. Os mais importantes fatos ocorridos no país desenvolveram-
se em função dessa lavoura, que formou a última aristocracia do país. Os fazendeiros 
de café tornaram-se a elite social brasileira. 
Em virtude de sua importância nas exportações brasileiras, foi criado, em 1933, 
o Departamento Nacional do Café, que controlou o setor até 1946, quando foi extinto. 
Em 1952 foi criado o Instituto Brasileiro do Café (IBC), com o objetivo de definir 
a política para o setor e controlar e coordenar a estratégia do sistema desde a produ-
ção até a comercialização interna e externa. Atuando no âmbito do Ministério da In-
dústria e do Comércio, o IBC dava assistência técnica e econômica à cafeicultura e 
ao seu beneficiamento, controlava a comercialização tanto para consumo interno 
como para exportação, elaborava estudos e pesquisas que favoreciam a cultura e a 
economia cafeeira e executava a política econômica traçada pelo Conselho Monetário 
Nacional, baseando suas decisões nos dados fornecidos pelo próprio IBC, principal-
mente quanto a custos de produção, expectativa de exportação, níveis de produção, 
abastecimento do consumo interno e industrialização do produto. 
O IBC atuava através de diversos departamentos e agências espalhados pelo 
interior do país e de escritórios no exterior – Estados Unidos, Itália, Japão e Inglaterra. 
Em março de 1990, foi extinto. 
Em julho de 1991 foi criado o Comitê Brasileirodo Café (CBC), que congregava 
os segmentos do sistema: a lavoura, a indústria de torrefação e moagem, a indústria 
de solúvel e a exportação. 
Em outubro de 1996 foi instituído o Conselho Deliberativo de Política Cafeeira 
(CDPC), considerado uma etapa evolutiva do CBC. Esse novo órgão ficou encarre-
gado de gerir o Funcafé e definir as políticas para todos os segmentos, ou seja, finan-
ciamento à lavoura e políticas para aumentar a participação no mercado e fornecer 
suporte técnico principalmente através de estatísticas e pesquisas. 
Atualmente, o Café é considerado "a bebida do sistema capitalista", devido às 
propriedades que a cafeína confere aos seus usuários, levando-os a obterem melhor 
rendimento e produtividade no meio profissional. 
 
 
 
 
 
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1.2 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA 
 
Em todo o mundo, há cerca de 80 países que cultivam café, sendo o Brasil, 
Vietnã, Colômbia, Indonésia, Etiópia, Honduras, Índia, Uganda, México, e o Peru, os 
dez principais produtores (Figura 1). 
 
Figura 1. Top 10 países que mais pro-
duzem café no mundo. 
 
 
O Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo responsável por 37% do 
mercado internacional. Porém, é apenas o 14º país consumidor por habitante, ranking 
liderado pela Finlândia (Figura 2). 
 
Figura 2. Top 15 países que mais consomem café. 
 
 
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As áreas de cultivo de café estão localizadas no centro sul do país, onde quatro 
estados se destacam entre os demais: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Pa-
raná. No nordeste brasileiro se destaca o estado da Bahia, e no norte o estado de 
Rondônia. Mas vale ressaltar que as espécies de café arábica e café robusta se dis-
tribuem de forma diferenciada nestas regiões, pois dependem das condições climáti-
cas locais e altitude (Figura 3). 
 
Figura 3. Plantios de café no Brasil. 
 
O café arábica se concentra nos estados: 
 Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Bahia e parte do Espírito Santo. 
E o café robusta: 
 É cultivado principalmente no Espírito Santo e no estado de Rondônia. 
O Paraná já possuiu um grande parque cafeeiro, cerca de 1,8 milhões de hec-
tares. Hoje, possui apenas 156 mil hectares, envolvendo 210 municípios no estado. 
Na Bahia, o café se instalou desde 1970 e teve uma participação muito grande 
no desenvolvimento econômico de certos municípios. 
Das regiões produtoras, a região de cerrado no oeste baiano se destaca pelo 
emprego de irrigação de alta tecnologia, o que tem contribuído para a expansão da 
cafeicultura para áreas não tradicionais e tem mantido o estado como o quinto maior 
produtor de café. Sendo 76% de café arábica (95% da variedade catuaí) e 24% de 
café robusta. 
 
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O Espírito Santo é referência na produção de café robusta no Brasil. A varie-
dade representa 73% do parque cafeeiro do estado e 64,8% da produção brasileira. 
O estado é responsável pela posição do Brasil como o segundo maior produtor mun-
dial de café Conillon. 
O estado de Rondônia apesar de estar em sexto lugar na produção de café no 
Brasil, ocupa a posição de segundo maior produtor de café Robusta, com uma produ-
ção de 2,1 milhões de sacas da variedade Conilon. 
A vantagem que nós temos em relação aos demais países é que, além de pro-
duzirmos em grande escala as duas espécies de café mais importantes, café arábica 
e o café robusta, temos aqui diversas cultivares de café, o que nos possibilita a com-
posição de variados blends, assim como variados tipos de bebidas, valorizando a qua-
lidade do café no momento da comercialização. 
Na realidade nem seria correto dizer café do Brasil, e sim cafés do Brasil, pois 
aqui temos diversos tipos de texturas, aromas e sabores em nossos cafés. 
Atrelada ao contexto histórico do Brasil, a atividade cafeeira pode ser conside-
rada "a primeira atividade mercantil não colonial", implantada no seio de um Estado 
nacional recém-criado. Essa atividade assistiu o processo de diversificação da estru-
tura social, acompanhada do surgimento da vida urbana em razão do desenvolvi-
mento, bem como as transições nas relações de trabalho e impetração de leis. 
 
REFERÊNCIAS 
 
FERRAZ, Á. Cultura do Café. Instituto Formação, Barra da Estiva, BA. 2013, 37 p. 
MEDEIROS, R. de V. V.; RODRIGUES, P. M. A. A economia cafeeira no Brasil e a 
importância das inovações para essa cadeia. A Economia em Revista, v. 25. n. 1, p. 
1-13, 2017. 
NAGAY, J. H. C. Café no Brasil: dois séculos de história. Formação Econômica, 
Campinas, v.3, p.17-23, jun. 1999. 
ORMOND, J. G. P.; PAULA, S. R. L. de; FAVERET FILHO, P. Café: (Re)conquista 
dos mercados. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 10, p. 3-56, set. 1999. 
RUFINO, J. L. dos S. Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do 
Café: Antecedes, Criação e Evolução. Embrapa Informação Tecnológica. Brasília, DF, 
2006, 352p.