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Jornalismo - teoria na pratica - Diana Damasceno



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Diana Damasceno Luis Carlos Bittencourt Vânia
Fortuna (org.)
 
JORNALISMO
Teoria na prática 
 
Rio de Janeiro 2019
 
 
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
PARTE I O PREÇO DE UMA VERDADE: TEORIAS DO
JORNALISMO NOS ESTUDOS DA SINCERIDADE
JORNALÍSTICA
Luana Vitória V. de M. Ucha e Priscilla Romana
BLOG NÃO ME KHALO
ANALISADO PELAS TEORIAS DO JORNALISMO
Beatriz Nunes de Souza, Larissa Rocha e Mariana Bernardo Mesquita
Gigante
O ABRAÇO CORPORATIVO - UMA ANÁLISE A RESPEITO DA
CONSTRUÇÃO DAS NOTÍCIAS
Camila da Silva Porto
FANSITES: UMA ANÁLISE DO SITE POTTERISH E DAS
TEORIAS DO JORNALISMO
Flávia Linhares Sandy e Nathalie Gonzalez Fonseca
 
PARTE II ANÁLISE DA PRÁTICA E PERCEPÇÃO
JORNALÍSTICA CONTEMPORÂNEA
Raísa Pires de Carvalho e Gabriel Pimentel
INTERNET E IMPRENSA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS
TEORIAS DO JORNALISMO NA ERA DIGITAL
Bruno De Blasi
VERACIDADE DAS TEORIAS
Marina Magalhães
AS TEORIAS DO JORNALISMO ESTÃO APENAS NO CAMPO
TEÓRICO OU SÃO APLICADAS NA PRÁTICA?
Felipe Borges e João Pedro Marques
REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO E SUAS TEORIAS
Arielle Oliveira Curti e Raphaela Quintans de Andrade Rodrigues
COMO PENSAR AS TEORIAS DO JORNALISMO NA
SOCIEDADE ATUAL
Ashelley Brenda e Pamella Castro
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO
Este é mais um livro nascido da proposta do coordenador do curso de
Jornalismo da Universidade Veiga de Almeida – Prof. Dr. Luís Carlos
Bittencourt - encampada pelo NDE (Núcleo Docente Estruturante), de
editar e books para oferecer à comunidade algumas produções acadêmicas
de interesse geral. Para o Núcleo de Estudos em Jornalismo da UVA –
associado ao grupo de pesquisa no CNPq denominado Qualidade em
Comunicação -, e responsável por esta nova publicação, o conhecimento
que se produz numa universidade deve retornar em benefício da sociedade.
Desde 2013, o Jornalismo deixou de ser uma habilitação no guarda-chuva
da Comunicação Social, graças ao esforço de jornalistas, professores e
pesquisadores, retomando a sua identidade e independência, marcas de uma
profissão inconformista a serviço da liberdade de expressão, da democracia
e da sociedade. O curso da UVA oferece desde 2015 o diploma de
Bacharelado em Jornalismo. Assim, este e-book dá visibilidade às reflexões
dos alunos sobre a permanência e validade no mundo contemporâneo , das
Teorias do Jornalismo, propostas, em grande maioria, por diversos
estudiosos, durante o século XX.
Por escolha editorial, o livro foi dividido em duas partes. A primeira
apresenta uma proposta mais acadêmica, na qual os autores aplicam
algumas das teorias em formatos de comunicação da atualidade. A segunda
parte traz o resultado de um desafio, lançado em sala de aula, de apuração
da viabilidade das teorias, por meio de entrevistas com profissionais da área
e com receptores de informação – leitores, ouvintes, espectadores e
internautas.
Dessa forma, nos artigos iniciais que propõem a aplicabilidade das Teorias
do Jornalismo, Luana Vitória V. de M. Ucha e Priscilla Romana analisaram
o filme Shattered Glass (O Preço de Uma Verdade); Beatriz Nunes de
Souza, Larissa Rocha e Mariana Bernardo Mesquita Gigante lançaram um
olhar sobre o blog Não Me Khalo; Camila da Silva Porto buscou relações
existentes entre algumas teorias e cenas do documentário O Abraço
Corporativo; Flávia Linhares Sandy e Nathalie Gonzalez Fonseca tentaram
essa aproximação com o site POTTERISH. Já nos artigos que compõem a
segunda parte, Raísa Pires de Carvalho e Gabriel Pimentel escolheram
entrevistar quatro profissionais da notícia da mesma empresa de
comunicação, regidos sob uma mesma linha editorial, para avaliar a
aplicabilidade ou não das teorias no dia a dia das redações, e quatro
receptores da informação, para observar a percepção do público sobre as
teorias; Bruno De Blasi optou por uma reflexão sobre as Teorias do
Jornalismo na era digital; Marina Magalhães angulou suas entrevistas para a
veracidade das teorias do jornalismo no século XXI; Felipe Borges e João
Pedro Marques decidiram perguntar se as teorias do jornalismo estão apenas
no campo teórico ou são aplicadas na prática; Arielle Oliveira Curti e
Raphaela Quintans de Andrade Rodrigues levaram aos entrevistados
reflexões sobre o jornalismo e suas teorias, com o objetivo de entender qual
é o pensamento da sociedade sobre a profissão e o que o profissional pensa
a respeito; Ashelley Brenda e Pamella Castro tiveram como objetivo
apontar onde as teorias se enquadram em diversas situações cotidianas
ligadas à informação.
Para concluir, queremos contar o quanto estamos orgulhosos de ver nossos
alunos pensando a nossa profissão, particularmente, em tempos de velozes e
profundas mudanças do fazer jornalístico.
 
Os organizadores
PARTE I
O PREÇO DE UMA VERDADE:
TEORIAS DO JORNALISMO NOS
ESTUDOS DA SINCERIDADE
JORNALÍSTICA
Luana Vitória V. de M. Ucha e Priscilla Romana
RESUMO
O presente artigo busca explicar, por meio da análise do filme Shattered Glass
(O Preço de Uma Verdade), a postura dos meios de comunicação perante o
desenvolvimento de matérias e como se dá a formulação de uma peça
jornalística quando esta está relacionada, ou não, com a ética da profissão. Além
disso, serão analisadas as seguintes teorias: Teoria Organizacional, Teoria do
Espelho, Teoria Instrumentalista, Teoria da Persuasão e a Escola Culturológica.
Palavras-chaves: teorias; jornalismo; comunicação; Shattered Glass; imprensa.
 
Introdução
O jornalismo, desde o seu estabelecimento a partir da liberdade de
imprensa, na Suécia, em 1766, tem como dever informar o que acontece
na sociedade e no mundo. Desde o seu entendimento como meio
principal de questionamento à postura política, social e cultural, ele é
imposto como mercado e mercadoria perante o que se deseja estipular
como sincero, ou como o objeto de estudo deve ser noticiado. O filme
analisado traz à tona as farsas do jornalismo, mesmo em veículos
importantes e influentes, informando que a necessidade de estabelecer
uma verdade real seja presente sempre que necessário.
Alguns repórteres acham que a política faz a história
memorável. Eu acho que são as pessoas, suas
idiossincrasias e defeitos que as tornam engraçadas e
humanas. O jornalismo é a arte de captar comportamentos.
Eu registro atos. Descubro o que provoca, o que assusta as
pessoas e escrevo isso. Assim, são elas que contam a
história (Shattered Glass, 2003).
 
A citação acima é referente ao filme estadunidense/canadense Shattered
Glass (O Preço de Uma Verdade). O filme é baseado em uma história
real, a respeito do recém-formado jornalista Stephen Glass. O jovem, de
24 anos, consegue uma vaga para trabalhar na revista política The New
Republic, a qual presidentes e legisladores usam como principal canal de
informação acerca dos temas políticos e sociais do país. Em 1998, época
em que se passa o filme, o jornalista é visto como um dos nomes
ascendentes do jornalismo americano, com suas histórias polêmicas,
entusiasmadas e interessantes.
A ideia de glamour em relação à profissão é apresentada desde o início
do filme, quando o personagem está em uma conferência e discursa
mental-mente sobre o que é fazer jornalismo, tendo noção das
dificuldades da profissão, mas sabendo que tudo é válido no meio,
principalmente quando há um prêmio Pulitzer como recompensa. O
pensamento do personagem não é tido como estranho ou até mesmo
infantil quando se fala de glamour jornalístico. Esse pensamento é um
reflexo do próprio achismo da sociedade quando se trata de repórteres e
âncoras de televisão. A ideia de que há um salário beirando a casa dos
200 mil reais (até como Stephen fala na abertura) é comprada pelo
público ao analisar exceções do meio. Pequenas e influentes exceções.
De acordo com o jornalista Eugênio Bucci (2000), “o jornalismo é um
lugar de conflito e caso não exista, um alarme deve soar, já que a ética só
existe porque a comunicação é lugar de conflito”. Diante da afirmação
de Bucci a respeito do que a ética na profissão tem como base, é possível
analisarmos o filme de uma forma mais centrada e direcionada tanto paraas teorias do jornalismo quanto para as teorias da comunicação.
As profissões possuem ética. Suas normas e conscientizações acerca do
que é plausível efetuar como empresa ou organização, além de ter como
dever organizar as posturas de seus empregados a fim de normalizar o
comportamento do grupo de forma funcional e respeitosa perante seus
clientes e público em geral. No jornalismo, a ética é apresentada no
Código de Ética dos Jornalistas, divulgada pela Abraji, explicando
exatamente a postura e condição que o mensageiro da notícia deve
adotar.
Alguns exemplos dessa ética estão presentes no site da Associação,
como “o acesso à informação pública é um direito inerente à condição de
vida em sociedade, que não pode ser impedido por nenhum tipo de
interesse”, e “a informação divulgada pelos meios de comunicação
pública se pautará pela real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o
interesse social e coletivo”.
Como pode-se notar, o sistema de disposição de ética no trabalho e como
ela deve ser aplicada está inferida não apenas no comportamento do
trabalhador consigo mesmo, mas como relação de responsabilidade com
a empresa em que exerce seu serviço e com o público que espera uma
troca sincera de informação. Diante dos exemplos de comportamento
que o jornalista deve seguir, podemos analisar mais fielmente como
Stephen Glass, personagem principal do filme, realiza o seu papel como
jornalista e como suas atitudes desleais perante a sociedade, tem como
explicação as Teorias do Jornalismo e da Comunicação em geral. Tais
teorias aplicadas ao filme serão apresentadas em tópicos.
       Shattered Glass e a Teoria Organizacional
A Teoria Organizacional foi pensada pelo sociólogo norte-americano
Warren Breed, em meados do século XX. A teoria é baseada no estudo
de mercado, marcando o jornalismo como um grande mercado e a
notícia como seu grande produto. A ideia da teoria é expressar os valores
e as normas que a organização informacional passa para os seus
jornalistas. Nela, entende-se que o funcionário adequa-se à postura
adotada no meio em que trabalha, pois o que passa a interessar a ele é a
política de boa vizinhança que preza em seu ambiente de trabalho.
Muitas vezes mais do que o comportamento diante do leitor.
Esse comportamento de disponibilidade, obrigação, estima e devoção
são evidenciados na teoria de Warren, pois é exatamente dessa forma que
o jornalista se prende ao veículo e usa a matéria que produz como
produto para os seus leitores. Pode-se pensar que não há comparação
entre as posturas adotadas dentro desse tipo de relacionamento, mas
deve-se entender que quando há pressão de uma fonte maior, no caso a
direção, sobre uma fonte menor, no caso o funcionário - jornalista,
estagiário, produtor - , ele se tornará comprometido a fim de poder
manter o emprego, a fim de estabelecer ligações simpáticas com os
colegas de trabalho, além de manter distante a ideia de algum tipo de
punição.
O filme Shattered Glass evidencia tal teoria no comportamento de
Stephen. Não que o jovem jornalista seja algum tipo de novato
subordinado, mas é mostrado, de forma até exagerada, o relacionamento
empático, gentil e sutil com seus colegas, a fim de se manter bem-visto e
mais propenso a receber bonificação pelo carisma. Devido à hierarquia
institucional aplicada na revista em que trabalha, o jovem determina o
padrão de elogios e assistência como marca de crescimento próprio
dentro do veículo. É possível perceber a liberdade do jornalista no filme
quando ele aparece andando pelo escritório usando apenas meias.
       Shattered Glass e a Teoria do Espelho
A Teoria do Espelho é a teoria do jornalismo mais antiga. Datada no ano
de 1850, ela é baseada no positivismo francês de Auguste Comte e
defende a objetividade no jornalismo, afirmando que as notícias são
como são porque a realidade assim as determina. A teoria entende o
jornalista como um mediador desinteressado com as normas padrões,
presente em uma luta sem fim pela verdade, não importando as
consequências desse ato. Podemos dizer que essa teoria é transformada
no ambiente social que analisa o jornalismo, o que torna a defesa dessa
corrente o modo de se fazer jornalismo até os dias atuais.
Porém, a ideia de que a realidade determina o jornalismo, ou seja, o
fazer notícia, pode ser refutada pela capacidade da fonte modificar
algum discurso. Mais do que isso, podemos analisar o próprio jornalista
na mudança de dados e informações a fim de transparecer alguma
vontade própria. No filme, essa vontade aparece nas atitudes do
personagem principal, reconfigurando a Teoria do Espelho e sua
ideologia frente a população americana.
O filme aborda a teoria de duas maneiras. Uma mostrando o modo certo,
que é de seguir com a verdade dos fatos, e outra que é a forma como o
personagem atua. Das 41 matérias que Stephen Glass produziu durante
1998 e 2003, 27 eram parcialmente ou totalmente inventadas, não
cumprindo com a ética jornalística e não seguindo a Teoria do Espelho, a
qual determina o cumprimento da verdade perante a sociedade. A teoria,
além dessa caça pelo real, faz por necessidade a separação de fatos e
opiniões.
No filme, podemos ver o lado correto nas ações tomadas pelo editor de
Stephen, Chuck Lane. Quando ele descobre os erros cometidos por
Glass, tenta identificá-los a partir da própria revelação do autor. Por meio
de perguntas, questionamentos e cobranças para a comprovação das fontes,
Chuck apresenta a figura idealizada pela Teoria do Espelho, que é
estabelecer com o público uma sincera relação de passagem de informação.
É possível, também, perceber que Chuck busca essa verdade para a própria
empresa, ao informar e, até mesmo, brigar, com outra jornalista a respeito
da farsa e da má contribuição do jornalista para a revista.
       Shattered Glass e a Teoria Instrumentalista
Com a Teoria do Espelho como base, pode-se seguir para a sua
ramificação, a Teoria Instrumentalista. Essa teoria é denominada como
um instrumento para os interesses públicos de certas organizações. A
partir de um estudo realizado sobre o quanto os meios de comunicação
são parciais, pode-se analisar se em suas publicações há algum tipo de
distorção ou omissão.
Mesmo com essa teoria abordando o lado mais político da sociedade,
havendo duas versões, sendo estas de esquerda e direita, na qual a
primeira as notícias são vistas como questionamentos a respeito do
sistema capitalista e a segunda como instrumentos para a manutenção do
sistema quo, podemos usá-la como mais uma identificação da mudança
de detalhes, omissão e invenção de fatos no jornalismo. Essa teoria é
apenas mais um adendo à Teoria do Espelho, mas de extrema
importância por abordar o tema de manipulação de forma mais direta.
No livro Padrões de Manipulação na Grande Imprensa (2003), o
sociólogo Perseu Abramo destaca cinco estratégias usadas para distorcer
as notícias vinculadas pela mídia. São elas: padrão de ocultação (omitir
fatos verdadeiros); padrão de fragmentação (o fato é “desmontado” e
colado de formas diferentes para que nossos sentidos sejam criados,
estes podendo, até, ser desconexos, apenas para evitar algum tipo de
conexão); padrão de inversão (troca de importância dos fatos trocados);
padrão de indução (combinação de diferentes níveis de distorções e
variações para induzir a população a pensar de uma forma) e padrão
global (representar a ilusão da nova realidade de forma completa e
limpa). Com essa demonstração de alienação e indução da sociedade,
podemos analisar mais fielmente a produção de fake news no jornalismo
de Stephen. Como o próprio jornalista afirma na abertura “descubro o
que provoca, o que assusta as pessoas e escrevo isso. Assim, são elas que
contam a história”, a arte de fazer a história pode partir da visão que o
próprio escritor tem sobre a sociedade, permitindo liberdade para a
produção e modificação dos fatos, cabendo escrever apenas o que o
público selecionado teria intenção e vontade de consumir.
       Shattered Glass e a Teoria da Persuasão
A Teoria da Persuasão está presente nas Teoriasda Comunicação. Ela é
baseada em aspectos psicológicos. Nela, as mensagens enviadas pela
mídia não são assimiladas imediatamente pelo indivíduo, dependendo de
várias perspectivas individuais. O indivíduo tende a se interessar por
informações que estejam inseridas em seu contexto social, cultural e
político, e com as quais ele esteja de acordo.
A teoria pode ser aplicada no filme mesmo com pouca evidência.
Diferente da Teoria Hipodérmica, que afirma que não há um filtro ou
qualquer tipo de impedimento na absorção de conteúdos pelos
receptores, a Teoria da Persuasão é focada na assimilação de diferença de
conhecimento e comportamento a cerca de temas abordados, seja
político, social ou econômico. A sociedade é dividida em grupos,
fazendo com que a capacidade de expressão de cada membro desse
grupo pense de uma forma diversa, gerando um mapa de opinião maior e
mais disperso em relação ao lançamento de notícias.
Podemos analisar o filme nos quatro passos adotados pela Teoria: 1)
Interesse em obter informação: quanto maior for o interesse de saber de
uma informação, mais interessante vai ser o produto final, além do
envolvimento do jornalista, que o faz querer desmembrar a história. No
filme, vemos isso quando Stephen, nas reuniões de pauta, conta como
suas apurações foram, ficando sempre animado ou triste por algum fato
que aconteceu.
2) Exposição seletiva: uma pessoa só terá curiosidade de saber
de uma informação caso ela esteja de acordo com a atitude
desse informação. Como a revista The New Republic é lida
por presidentes, deputados, advogados e intelectuais em
geral, é notória a idealização e desejo de seu consumo pelo
grupo determinante do conhecimento e organização da
sociedade. Se há textos interessantes e bem escritos para
ler, é clara a vontade de continuar a comprar os textos do
veículo, mesmo esses textos sendo, em desconhecimento
público, parcialmente ou totalmente falsos.
3) Percepção seletiva: essa percepção é sobre a forma como o
receptor recebe a mensagem. Ou melhor, o sentido que ele
recebe. A mensagem é passada de uma forma para as
pessoas em diversos meios espalhados pela rede. Com isso,
o direcionamento e compreensão dessa informação chega
em diversos tons para as pessoas. Nesse caso, os fatores
psicológicos que atuam para o relaxamento de tensões
(recebimento de notícias), influencia no processo de
percepção do que é conteúdo no meio de massa.
4) Memorização seletiva: normalmente, o que é lembrado por
alguém, seja essa pessoa um político, um médico, um
estudante ou dona de casa, é a mensagem interligada às
atitudes e opiniões próprias desse indivíduo. Logo, se uma
informação se parece com a política e estilo de vida que
uma pessoa segue, mais sentido aquela publicação vai ter e
mais consumido o veículo será.
 
Com a Teoria da Persuasão, pode-se entender o motivo pelo qual o
público e, principalmente, a equipe de trabalho de Stephen Glass não se
questionava dos fatos. Além do autor manipular até os contatos e seus
meios de acesso, ele pegava uma peça sincera e a transformava da forma
que queria a partir do estudo de comportamento de seus colegas e leitores.
A partir do entendimento de seus pensamentos e atitudes, o jornalista
conseguia tanto agradar com elogios e gentilezas quanto iludir os que
estavam em sua volta para algo de seu interesse (obter sucesso), mas
direcionando “ingenuamente” para o público, demonstrando que a opinião
deles é a única e principal responsável pelo aquele tipo de matéria
divulgada.
       Shattered Glass e a Teoria Culturológica
Dentro da escola francesa, a Teoria Culturológica surgiu nos anos 60
com a obra Cultura de Massas no Século XX, do francês Edgar Morin.
Apesar da Teoria Culturológica falar sobre a industrialização da cultura,
introduzindo o conceito de Indústria Cultural, ela aborda a “realidade
virtual” (hiper-realidade), com o sociólogo e filósofo Jean Baudrillard.
abordando as características da sociedade de consumo, desde o impacto
da comunicação na sociedade, que está inserida em uma realidade
construída, questionando, exatamente, a “realidade virtual”.
Baudrillard questionou a dominação imposta pelos signos, diretamente
pelo valor simbólico. Para ele, a estrutura dos signos está em expansão,
dominando e exigindo o estabelecimento das informações no sistema
tecnológico da sociedade, o que acaba por mudar a racionalidade da
população no agir contemporâneo. Apesar de Baudrillard defender suas
ideias a partir da economia, falando do valor do trabalho, do fetiche
beirando à crítica da economia política do signo, sendo descrito a
respeito do valor da troca, podemos usar a hiper-realidade no contexto
dos significados dos meio de comunicação de massa.
O filme aborda o fetiche da população pelo que é descrito na revista,
principalmente pelos textos de Stephen Glass. A partir da construção de
uma realidade, nesse caso, de uma realidade engraçada e instigante,
domina-se o mais fraco, tornando-o submisso aos atos do dominante.
Como Glass entendia o que os outros passavam e queriam ler, ele
construía o que achava que seria interesse e de fácil venda,
conquistando, primeiramente, seus colegas de trabalho a partir das
reuniões de pauta.
       Considerações finais
O filme O Preço de Uma Verdade representa cinco teorias importantes
para entender o funcionamento do jornalismo e como o seu
posicionamento pode afetar a realidade de quem lê, escuta ou vê as
informações passadas. O filme permite compreender que essas
informações podem ser manipuladas para um melhor entretenimento do
público. Não só isso, mas funciona como uma possibilidade de
crescimento do próprio jornalista dentro do veículo em que trabalha,
mantendo-o forte e presente no dia a dia profissional, tornando-o visível
perante seus colegas e chefe.
Ao entender as teorias e ao criticá-las de forma séria, podendo até
adequá-las de uma maneira que se encaixe ao que se deseja estudar,
pode-se partir de uma análise completa de entendimento de como a
mídia sempre agiu para agradar tanto à população quanto aos
governantes. Não devemos levar essa afirmação como completa, mas,
sim, como uma consideração, já que é marcada na história do jornalismo
e como é visto até hoje. O jornalismo tem seu papel fundamental que é
informar.
O direito básico de um cidadão é ter acesso à informação pública, de
segurança e verdadeira. Como dever dos jornalistas, o principal é
entender como as verdades devem ser passadas sem receio ou dúvida. A
partir do momento que há questionamentos ou omissão do que é
importante a ser passado, é necessário verificar a forma que a realidade
está sendo tratada. A partir desta análise, pode-se entender o motivo que
levou à omissão e à forma como foi feita. Isso tudo é a base de uma
reformulação do sistema de fazer jornalismo. Ou tentar, sem sucesso.
Referências
BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. Companhia das Letras, 2000.
MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX: o espírito do tempo.
Forense Universitária, 1977.
PERSEU, Abramo. Padrões de manipulação na grande imprensa.
Fundação Perseu Abramo, 2003.
BLOG NÃO ME KHALO
ANALISADO PELAS TEORIAS DO
JORNALISMO
Beatriz Nunes de Souza, Larissa Rocha e Mariana
Bernardo Mesquita Gigante
RESUMO
Desde o século XVIII, o movimento feminista vem crescendo e sendo cada vez
mais discutido. Blogs, como o Não Me Khalo, mantêm essa conversa em dia e
trazem empoderamento e força às mulheres, mostrando assuntos sobre este
universo da luta pela igualdade e respeito. A página do Facebook, do Twitter e o
próprio blog demostram um canal de comunicação forte e em ascensão. Com
base em pesquisa bibliográfica e análise de ambientes digitais, este artigo
analisa o blog Não Me Khalo, à luz de algumas Teorias do Jornalismo.
Palavras-chave: jornalismo; teorias do jornalismo; blog; redes sociais;
feminismo.
 
Introdução
Da metade do século XVIII para cá, a luta das mulheres pelo
crescimento do Movimento Feminista é algo invejável. Não só as
mulheres vêm crescendo e amadurecendo a ideia de igualdade dentro da
cabeça das pessoas, como mudandoa si próprias, para viver em um
mundo igualitário.
O feminismo, uma expressão criada pelo filósofo francês Charles Fourie,
em 1837, é uma luta política, em busca da igualdade de gênero e não
uma superação do homem, com um compartilhamento de vida pública e
privada.
Foi na França, através da Revolução Francesa, marco político e processo
revolucionário, que diversos paradigmas começam a ser quebrados e
questionados, não só pela luta das mulheres, mas para outras lutas de
minorias também. Mesmo que a luta feminista venha desde o século
XVIII, foi só em meados do século XX que a mesma foi vista como algo
de suma importância por parte da sociedade.
Para que o Movimento seguisse durante todos esses anos, as mulheres se
uniram em várias vertentes dentro dos movimentos feministas, assim, no
plural, porque são várias as reivindicações por suas causas e direitos.
Na tentativa de levar a todos os movimentos no século XXI, com a
ajuda das tecnologias, surgiram inúmeras páginas e sites que têm, como
foco, a luta das mulheres.
Um exemplo é Não me Kahlo, que conta com mais de um milhão de
curtidas na página do Facebook (https://www.facebook.com/NaoKahlo),
mais de noventa mil seguidores no Twitter (https://twitter.com/naokahlo)
e) com mais de cem mil visualizações por mês no blog
(http://www.naomekahlo.com/ sobre. A página, foi criada em julho de
2014, incialmente formada somente por um grupo de mulheres que
queriam criar um Coletivo Feminista para com-partilharem suas
histórias, medos e aprendizados, além de estudarem cada vez mais sobre
o Feminismo. As fundadoras do Coletivo são quatro mulheres que
colocam conteúdos, textos, perguntas e histórias sobre o movimento:
Bruna Leão Rangel, formada em Sociologia e Cultura; Thaysa
Malaquias, que tem graduação em Arquitetura e Urbanismo; Gabriela
Moura, escritora a desenhista e, por fim, Flávia Dias, Jornalista e Mestra
em Comunicação e Cultura. Além delas, várias colaboradoras ajudam
com o site e as redes sociais.
A rede não tem só o intuito de divulgar histórias, mas também ajudar
milhares de mulheres que sofrem com o machismo diariamente. Seja
postando, retuitando, ou apenas comentando. Atualmente, tentam
transformar o Não me Kahlo em uma ONG, para que possam fazer um
trabalho mais atuante na sociedade. Dessa forma, elas não só informam,
mas também fazem a diferença.
 
http://www.facebook.com/NaoKahlo)
http://www.facebook.com/NaoKahlo)
http://www.facebook.com/NaoKahlo)
http://www.naomekahlo.com/
http://www.naomekahlo.com/
Fonte da imagem: https://www.naomekahlo.com/home-blog/
 
Este artigo, de cunho teórico, deseja mostrar as Teorias do Jornalismo
aplicadas nas páginas e blog Não me Khalo que tem como premissa
principal o feminismo e o empoderamento das mulheres, começando
pelo entendimentos de algumas das referidas teorias.
O que é o Gatekeeper?
A Teoria do Gatekeeper – ou Teoria dos Guardiões do Portão - é uma das
mais conhecidas teses jornalísticas. Foi criada em 1947, pelo psicólogo
Kurt Lewin, e aplicada ao jornalismo três anos mais tarde por David
Meaning White. O Gatekeeping defende que a passagem de uma notícia
por um veículo selecionado depende dos guardiões das “porteiras”
(gates), que nada mais são que os jornalistas e editores (gatekeepers) que
decidem quais notícias serão aprovadas ou rejeitadas.
Carla D´Aiola observa em seu artigo “A função do Katekeeper na
Imprensa”, de 2003, “o gatekeeper é quem determina o que atravessa o
portão de entrada no jornal, o que será visto pelo leitor […] é aquele que
determina o que será notícia e o que não será”.
Como o gatekkeper está inserido na página Não me Kahlo
Neste estudo, percebeu-se que o jornalista baseia a seleção de notícias
em seu próprio conjunto de experiências e opiniões, não sendo assim,
http://www.naomekahlo.com/home-blog/
http://www.naomekahlo.com/home-blog/
http://www.naomekahlo.com/home-blog/
totalmente objetivo e imparcial. Apesar de ser uma teoria antiga, o
gatekeeper ainda pode ser visto, mesmo que de forma discreta, em
muitos veículos de comunicação, incluindo a página Não me Kahlo, que
é o objeto de estudo deste artigo.
Tal fato ocorre, pois, por ser uma página que contém milhares de
seguidores e grande influência nas redes sociais, tanto no Facebook
como no Twitter, é necessária a participação de um ou mais gatekeepers
que atuam como editores, vendo o caráter de noticiabilidade do conteúdo
e decidindo quais matérias serão ou não veiculadas, assim como as que
serão descartadas.
Após algumas análises, foi possível concluir que as páginas possuem
uma linha editorial bem definida: o feminismo e a luta diária de
mulheres ao redor do mundo. Portanto, seus editores, que no caso em
questão são as administradoras das redes sociais e do blog, selecionam
apenas notícias que reforcem e comprovem a importância do
movimento, rejeitando conteúdos que demonstram oposição ao ponto de
vista defendido pelo Não Me Kahlo, como por exemplo, conteúdos
machistas, que degradem a imagem feminina, preconceituosos e
contrários ao movimento feminista.
No entanto, com o advento da internet e da “era digital”, o jornalismo
precisou de uma readaptação, para que os leitores conseguissem interagir
e se conectar diretamente com o veículo, no caso, o Não me Khalo. Com
isso, o Gatekeeping abriu espaço à outra premissa famosa – e mais
“atualizada” - do jornalismo: o Gatewatching.
Teoria do Gatewatching
O Gatewatching é uma das Teorias do Jornalismo que é caracterizada
pelo desempenho ativo do público durante o consumo das notícias.
Através de comentários, compartilhamentos, críticas e recomendações, o
leitor passa a exercer um papel de curadoria, selecionando, dentre as
publicações disponíveis, aquilo que considera mais importante para si,
para sua rede de contatos e mesmo para uma situação específica, como a
causa de um movimento.
Há anos, os blogueiros e outros comentaristas on-line independentes
criticam, corrigem e até desafiam o jornalismo convencional, porém isso
ainda não foi plenamente aceito pelos jornalistas. As divergências entre
as empresas de mídia e a nova geração de jornalistas cidadãos
continuam. A antiga forma de jornalismo, ou melhor, o Gatekeeping
mantido pela mídia de massa tem sido desafiado pela nova prática de
Gatewatching. Isso ocorre, nos dias de hoje, com cada vez mais
frequência e rapidez, muitas vezes em tempo real, com as pessoas
usando as redes sociais, divulgando, compartilhando, comentando,
questionando e até desacreditando das matérias noticiosas em questão de
minutos.
O Gatewatching no Não me Khalo
Também é dessa forma que a comunicação acontece em Não me Kahlo.
Nas redes sociais, a Não me Kahlo mostra de inúmeras formas notícias
de interesse do feminismo, com posts das suas contribuintes, seja em
forma de texto, de tirinhas, “retwitters”, compartilhamentos, ou “prints”
de comentários. Usando a teoria, essas mulheres usam o jornalismo e a
internet a seu favor, já que assim têm voz, que se influenciam mais e
mais quem já sabre sobre o mesmo.
Teoria do Espelho
A Teoria do Espelho é a mais antiga, datada de 1758, e propõe tratar o
jornalismo como o espelho da realidade, ou seja, retrata o cotidiano do
jeito que ele é, sem mascarar e esconder nada. Por este motivo, usa a
objetividade como método, fazendo com que o jornalista conte a verdade
sem interferências, sendo assim um comunicador desinteressado, livre de
interesses que interfiram na sua imparcialidade.
Esta teoria foi refutada por acreditarem que o jornalista não pode ser
totalmente imparcial e objetivo, por levar consigo a experiência de vida,
opiniões e sentimentos em relação a diversas questões do cotidiano.
A Teoria do Espelho aplicada a Não me Khalo
Tanto no blog, quanto no Twitter e no Facebook, Não Me Khalo traz
notícias que muitas vezes são tratadas pela mídia ou de forma
tendenciosa ou mal esclarecida. Inúmeras matérias que degradam a
imagem da mulher e/ou apresentam uma imagem de culpa e difamação
são postadas e compartilhadas nas redes sociais, abrindo possibilidades
para esclarecimentos seja através decomentários das vítimas de
violências ou mesmo denúncias e contação de casos. Mesmo se
questionado o ponto de vista, esses relatos buscam a ideia da Teoria do
Espelho que é retratar a realidade. Nesse caso, a realidade de muitas
mulheres.
Teoria do Newsmaking
Segundo o sociólogo francês, Pierre Bordieu, o jornalismo acaba por ser
uma parte seletiva da realidade. A hipótese do Newsmaking fala sobre a
transformação dos acontecimentos em notícia e está focada na rotina
industrial, uma vez que inúmeros fatos chegam até a redação e é trabalho
do profissional verificar o que chega, selecionar e escolher os melhores
acontecimentos, sob a ótica da noticiabilidade. Basicamente, essa teoria
conclui que sem a organização do trabalho do jornalista, é impossível
produzir notícia.
O Newsmaking em Não Me Khalo
A notícia sofre uma série de influências no ecossistema jornalístico Não
Me Khalo a partir da atuação profissional, em particular, de uma das
quatro administradoras, a jornalista Flávia Dias, que além de jornalista é
Mestra em Comunicação e Cultura. Essa profissional atua na seleção das
notícias, na contextualização do assunto tratado e na organização
temporal e noticiosa das matérias, tanto nas páginas do Facebook, e do
Twitter, como no próprio blog.
Uma das características do newsmaking do Não Me Khalo é o
direcionamento do blog. Como é voltado para o movimento feminista e a
luta das mulheres pelos seus direitos, os assuntos e, consequentemente as
notícias, já têm um caráter de seleção pré-estabelecido. Uma vez que as
matérias publicadas e compartilhadas não podem fugir da linha editorial.
Assim, na rotina as matérias são divididas por grau de importância e
interesse. Além disso, notícias atuais ganham mais destaque e mais
discussão, gerando mais comentários, visualização, seguidores e curtidas
nas páginas.
Considerações finais
Com mais de um milhão de curtidas no Facebook, e noventa mil
seguidores no Twitter, o blog Não Me Khalo traz inúmeras discussões
para o seu público de leitores, estimulando assim, opiniões diferentes da
imposta pela mídia tradicional. Propositalmente, a relação desse segundo
olhar sobre as mulheres e a luta de cada uma delas foi deixada para estas
conclusões, uma vez que transgride a Teoria do Espiral do Silêncio, onde
os indivíduos concordam com uma opinião dominante ou, ao não
concordarem, se calam. A proposta do Não Me Khalo busca fazer o
possível para isso não acontecer, ao mostrar o outro lado dos fatos e
expõe uma outra imagem das mulheres, que foram noticiadas de uma só
forma. Dessa forma, mostra um ponto de vista distinto, nas matérias, o
que permite, aos seguidores, discordar da opinião dominante da grande
mídia.
Referências
D´AIOLA, Carla. A função do Gatekeeper na imprensa. (2003).
Disponível em: http://
www.iscafaculdades.com.br/estacaojornalismo/artigo_14.htm.
Acesso em 06 junho 2018.
GROHMANN, Rafael do Nascimento. As Teorias Sobre o Profissional
Jorna lista: três perspectivas. Universidade de São Paulo, Intercom,
2010. Disponível em:
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2010/resumos/ R5-
0715-1.pdf. Acesso em 01de maio de 2018.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: Vol.I - Porque as
notícias são como são. 3. ed. Florianópolis: Insular, 2012.
http://www.iscafaculdades.com.br/estacaojornalismo/artigo_14.htm
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2010/resumos/
O ABRAÇO CORPORATIVO - UMA
ANÁLISE A RESPEITO DA
CONSTRUÇÃO DAS NOTÍCIAS
Camila da Silva Porto
RESUMO
Este artigo traz uma análise crítica Do documentário O Abraço Corporativo,
dirigido pelo jornalista Ricardo Kauffman, lançado no Brasil em 2010, e busca
as relações existentes entre cenas do filme e alguns conceitos de Teorias do
Jornalismo, como a do Espelho, Gatekeeper, Gatewatching, Organizacional,
Sociedade do Espetáculo e Infotenimento.
Palavras-chave: jornalismo, mundo corporativo, documentário, teorias do
jornalismo
 
Introdução
No mundo atual, as discussões a respeito do papel do jornalismo nos
meios de comunicação de massa não são novas e em meio a uma era
cada vez mais tecnológica onde qualquer pessoa é capaz de ser
consumidora e produtora de conteúdo, temas que retratam o fazer
jornalístico são cada vez mais frequentes.
Com o objetivo de trazer algumas dessas discussões para dentro de uma
pauta, o jornalista Ricardo Kauffman decide lançar o documentário
chamado O Abraço Corporativo, que a partir de um único personagem
tantas mensagens são passadas e reveladas ao mesmo tempo. Será que
nós, jornalistas e futuros profissionais de comunicação, estamos
realmente vulneráveis a qualquer história transmitida nas mídias e nos
encontramos sem defesa perante essas informações?
Essas são algumas das várias perguntas que serão abordadas ao longo da
leitura do artigo e, que ao meu ver, ainda é cedo para serem respondidas
em meio há tantas questões que estão acontecendo ao mesmo tempo e
que nem conseguimos dar conta. Parece que a cada dia que passa e nos
deparamos com as notícias lidas em sites, jornais, revistas, TV, rádio e
em qualquer outro meio de comunicação, o jornalismo precisa se
reconstruir etapa por etapa e os profissionais precisam refletir e entender
qual é verdadeiramente o seu papel perante a sociedade em que vivemos.
O objetivo da realização deste artigo consiste em analisar a produção
cinematográfica, fazer a seleção dos pontos mais importantes e
relevantes nas cenas que foram transmitidas no documentário, dar
atenção a fala dos especialistas e por meio de todo esse processo fazer
uma comparação entre a mensagem transmitida no audiovisual e a
relação que possui com as teorias do jornalismo e da comunicação que já
foram trabalhadas e discutidas dentro da sala de aula .
A abordagem metodológica para fazer a análise do documentário foi
assisti a produção, e por meio do conteúdo que já havia sido
desenvolvido em sala e com a ajuda da pesquisas em sites da internet e
bibliografias construir o pensamento e a comparação com as teorias do
jornalismo e da comunicação.
Resumo do documentário: nem todo abraço é
corporativo
As discussões sobre o fazer jornalístico não acontecem de agora. O
Abraço Corporativo não é uma produção recente, mas traz temas que não
se encontram distantes da realidade em que vivemos atualmente e que
estão sendo cada vez mais discutidos entre os estudiosos da
comunicação.
Para entender os assuntos a serem debatidos na produção
cinematográfica, é importante saber qual foi a origem de toda essa
discussão. Tudo começou com a ideia do jornalista Ricardo Kauffman,
diretor do documentário, que decidiu construir a imagem de um
personagem fictício, lançá-lo na mídia de todas as maneiras possíveis e
convencer que identidade e a ideologia empregada pela figura fossem
vistas como verdade, tanto pela lógica dos profissionais de comunicação,
quanto pela visão do público.
O personagem, Ary Itnem, que lido de traz para frente forma a palavra
“mentiyra”, é um consultor de Rh, porta-voz de uma empresa chamada
Confraria Britânica do Abraço Corporativo (CBAC) no Brasil, que vai
até as empresas realizar palestras e apresentar a “teoria do abraço”.
Nessa tese, Ary Itnem afirma que a sociedade sofre de uma doença
chamada de “inércia do afastamento”, causada pela frieza do
desenvolvimento dos meios tecnológicos. As pessoas passavam muito
tempo diante da tela do computador, nos aparelhos celulares, no envio de
emails e estavam se tornando menos afetuosas, o que como resultado,
estava levando a diminuição do contato físico na hora de se relacionar
com as outras no cotidiano.
O personagem trazia uma série de números e pesquisas que mostravam
essa inércia como algo totalmente prejudicial à saúde, capaz de até mesmo
causar transtornos na mente, além da diminuição da produtividade dentro
do ambiente de trabalho. Ary afirma que a única ferramenta que poderia
resolver o problema dos funcionários da empresa e garantir a cura da
inércia do afastamento era o abraço.
 
 
Fonte da imagem: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-221950/
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-221950/É importante ressaltar que a teoria do abraço não foi simplesmente
desenvolvida pelo diretor, mas é uma tese criada, em 1983, por uma
psicóloga chamada Kathleen Keating sobre a importância do abraço no
dia a dia. Os produtores tiveram a ideia de utilizar a teoria de Keating e
adaptar para dentro do ambiente corporativo para a realização do
documentário.
Em meio a toda essa narrativa, a primeira pergunta que se deve fazer é
como o personagem Ary Itnem foi lançado na mídia. No próprio filme, é
revelado o uso da tática jornalística de pegar pessoas com histórias
prontas para a construção da reportagem, os chamados personagens. Ary
se aproveitou da situação, aceitou participar das matérias e, dessa forma
começou a se divulgar e a vender o “peixe” falso da Confraria. Chegou até
mesmo a fazer fotos para uma matéria sobre diastemas, uma espécie de
espaço entre os dentes da frente que deixa um buraco visível e que é
causado por vários motivos.
Dessa maneira, Ary se lançou na mídia e conseguiu convencer a muitas
pessoas sobre a teoria do abraço corporativo. Entre os diversos veículos
de comunicação que divulgaram o trabalho da Confraria Britânica estão
a Gazeta Mercantil, a Folha de São Paulo, a rádio CBN, o programa
Hoje Em Dia da Record, a TV Band, a Revista Um, entre outros.
Kauffman conta que fazer o acompanhamento das gravações não foi
difícil porque hoje é muito comum ver câmeras em todos os lugares e
registrar a tudo o que acontece.
Entre os jornalistas que caíram na armadilha criada pela produção
cinematográfica, estão Juca Kfouri e Heródoto Barbeiro, os únicos que
tiveram coragem de participar do documentário, pedir desculpas pela
falha na apuração e propor a discussão sobre a forma como o jornalismo
tem sido produzido.
Narrativas do documentário: o que o autor traz
para o centro da discussão
É importante deixar claro que para assistir ao documentário O Abraço
Corporativo, não é preciso ter grandes conhecimentos na área da
comunicação, porque a cada dia que passa estar cercado de notícias
falsas é cada vez mais comum e de fácil percepção, na verdade, as
chamadas fake news não são nenhuma novidade, elas sempre existiram,
mas com o avanço das tecnologias e o aumento das plataformas de
conhecimento e compartilhamento de conteúdo nas redes, isso tem se
tornando cada vez mais comum.
Criar Ary Itnem não foi uma tarefa tão fácil. Foi escolhido um
personagem de meia idade que precisou receber foto, site e cartão de
visitas, além da preparação do ator para fazer viver o papel de alguém
que atua com o discurso de um vendedor de ideias. A Confraria chegou a
ser registrada em cartório, para que todos os que desconfiassem fossem
até lá conferir e apurar as informações e descobri que tudo não se
passava apenas de um documentário.
Um fato importante e que deve ser citado é que a figura e a farsa por trás
de Ary não era tão difícil de ser descoberta. Ricardo Kauffman deixou
pistas para que os jornalistas olhassem com desconfiança para a história
do porta-voz da confraria. A primeira prova que levaria ao
questionamento é que ao dar as palestras nas empresas e nos diversos
veículos de comunicação, Ary Itnem não falava sobre nenhum cliente no
qual prestava serviços e essa mesma informação não estava presente no
site da organização, o que se torna um erro gravíssimo de apuração.
Outro ponto é que havia uma informação incomum no site da confraria
que não costuma estar presente em nenhuma instituição e principalmente
ao se tratar de uma empresa multinacional. O anúncio constava que
qualquer informação sobre a organização estava disponível em cartório.
Mesmo com todas essas pistas disponíveis, a preocupação maior dos
veículos era a de publicar a informação e cumprir o papel de fechar
colunas, manter os sites atualizados e ter matérias para passar na TV.
Uma observação interessante é que essa mesma discussão feita desde
2004, no início do projeto da produção cinematográfica, ainda é feita
hoje e está cada vez mais presente nas mesas de debate dos estudiosos da
comunicação.
Esses assuntos serão abordados de forma mais detalhada nas próximas
páginas, onde será proposta uma análise sobre essas narrativas e a
relação que elas possuem com as teorias do jornalismo e da
comunicação, com base na opinião dos próprios profissionais que
fizeram parte do documentário, suas vivências e olhares a cerca do fazer
jornalístico.
A relação entre as narrativas do documentário e
as teorias do jornalismo
Antes de embarcar na relação entre o documentário O Abraço
Corporativo e as teorias do jornalismo, é preciso fazer uma passagem
sobre alguns pontos importantes que vão auxiliar no caminho do
desdobramento para a reflexão de cada fato presente no filme.
O primeiro deles é a questão do desenvolvimento da globalização ao
redor do mundo e os impactos gerados por ela tanto no meio corporativo
quanto no jornalístico. Dentre os diversos conceitos de globalização,
procurei adotar a visão de Scholte (2002, 2005b), que afirma que a
“Globalização engloba a reconfiguração da geografia social a partir de
uma crescente conexão interplanetária entre as pessoas” (2005, p. 17).
Globalização é a difusão de conexões transplanetárias entre as pessoas, e
mais recentemente, de conexões supraterritoriais. A partir desta
perspectiva, a globalização envolve reduções de barreiras aos contatos
transmundiais. As pessoas tornaram-se mais aptas: física, legal, cultural
e psicologicamente a engajarem-se umas com as outras em um só mundo
(Scholte, 2002, p.14).
Ao partir para o lado corporativo, é possível refletir que esses conjuntos
de engajamentos e conexões entre as pessoas, gerou um estímulo ao
consumo e também ao aumento da produtividade nas empresas, o que
em diversos momentos, com a tamanha pressão, tornava os empresários
pessoas mais inseguras e ansiosas com relação ao negócio que estavam
desenvolvendo e, dessa maneira, surge a criação de uma série de
palestras e atividades motivacionais com o intuito de melhorar e levantar
a autoestima do empreendedor e dos colaboradores da instituição, assim
como é mostrado no documentário.
E não somente no meio corporativo, mas também dentro das redações é
possível ver claramente o aumento da competitividade, ou seja, a pressa
para lançar a matéria antes de todos os outros veículos da concorrência,
de fechar as colunas, de publicar reportagens e fazer o leitor ou
telespectador consumir notícias desenfreadamente. Essa ação, muitas
vezes se torna nociva com relação à veracidade dos fatos; a necessidade
de vender notícias e do pouquíssimo tempo para a apuração, faz com que
muitas vezes o jornalista não se questione sobre determinada informação
e não dê a relevância suficiente que um fato em muitas situações
necessita.
Entre os jornalistas que cometeram o erro de divulgar a falsa teoria do
abraço corporativo estão Herodoto Barbeiro e Juca Kfouri, os únicos que
aceitaram participar da entrevista e pedir desculpas pelos erros de
apuração. Barbeiro relata sobre os furos e admite a pressão que os
jornalistas sofrem para publicar a matéria rapidamente.
Durante o depoimento o jornalista afirma: “Muitos também não que-rem
publicar os furos, com medo da veracidade da informação, mas acho
importante balançar a cabeça e dizer que errou e não varrer tudo para
debaixo do tapete como tem acontecido com o jornalismo hoje”. Já
Kfouri lamenta o rumo das produções jornalísticas atuais: “Nada é
checado, mas também não é grave e não prejudica ninguém se o fato não
for exatamente assim como está sendo dito. Esse tipo de atitude jamais
pode acontecer”.
A desconstrução da teoria do espelho
 
A imagem mostra uma cena que apareceu em diversos momentos do
longa. O personagem Ary Itnem andou pelas ruas da Avenida Paulista
com a placa em que dizia “tudo não é verdade”, como uma forma de
despertar nas pessoas que transitavam às ruas uma reflexão. Ao se
deparar com a frase, muitos ficavam sem entender o que realmente
aquela mensagem queria dizer.
Não somente a imagem, mas desde o momento em que o documentário
inicia, eles acabam de vez com aideia da Teoria do Espelho, considerada
a mais antiga das teorias do jornalismo desenvolvida a partir dos anos
1850 em contraponto ao jornalismo literário, ideológico, partidário e
sensacionalista e, que vê a imprensa como um espelho do real, onde as
notícias são como são porque refletem a tudo o que acontece na
realidade. Nesse estudo, o jornalista é visto como um comunicador
desinteressado, ou seja, um observador imparcial de tudo o que acontece
a volta e cujo o papel é descrever todos os fatos de forma objetiva.
No ambiente do longa, essa teoria é completamente falsa, porque tudo
foi construído do início ao fim, ou seja, o documentário, as cenas, a
imagem do consultor de RH, a Confraria Britânica do Abraço
Corporativo, as matérias feitas pelos próprios jornalistas, tudo não
passou de uma montagem que em nenhum momento teve o intuito de
denegrir a imagem de algum profissional da comunicação, muito menos
criticar negativamente algum determinado veículo jornalístico, mas sim,
de propor uma reflexão a respeito do fazer jornalístico dentro das
emissoras de televisão e das redações, que tem tudo a ver com as teorias
do Newsmaking, Gatekeeping e Organizacional que serão mencionadas
nas próximas páginas.
Não podemos compreender porque as notícias são como
são sem compreender a cultura profissional da
comunidade jornalística. (TRAQUINA, 2005ª, p.26).
Teorias do Gatekeeper, Newsmaking e
Organizacional
É correto afirmar que há um diálogo muito próximo entre as Teorias do
Gatekeeper, Newsmaking e Organizacional, porque para que seja
possível observar a visão de cada uma, é preciso que haja uma conversa
entre elas. Por exemplo, para entender Newsmaking, é necessário pensar
na relação entre a teoria do Gatekeeper sobre o jornalista como
selecionador da notícia e também na teoria organizacional que tem a ver
com a sociologia das profissões que será mencionada nos próximos
parágrafos.
Uma das análises que desperta a atenção no documentário é a crítica
feita aos Manuais de Redação dos grandes veículos como a Folha de São
Paulo e O Globo. Em meio a tantas regras para a produção jornalística
para que uma matéria seja realizada de forma ética, como ouvir dois
lados da história, ir em busca de mais de uma fonte e entre outros
critérios, o que se observa é que tudo tem ocorrido de forma
contraditória ao que vem escrito nesses manuais, o que no final pode se
confirmar ainda mais o ditado de que “na prática, a teoria é outra”.
A todo momento, a mídia atual é questionada pela lógica da velocidade e
o jornalismo encontra-se muitas das vezes vulnerável em meio a tantos
canais existentes. Essa reflexão traz a tona a Teoria do Gatekeeping,
criada nos Estados Unidos, na década de 1950, e cujo principal estudioso
era David White. Esse estudo afirma um papel mais focado dentro da
figura do editor do jornal, que é considerado o “guardião do portão”,
responsável por fazer a seleção do que é e o que não é notícia, essa
escolha muitas vezes é realizada pelos próprios juízos de valor, seu
conjunto de experiências, atitudes e expectativas (Traquina, 2005).
Dessa maneira, cada meio de comunicação cobre um determinado fato
da sua própria forma, com interesse em chamar a atenção do público e
assim, fazer com que os telespectadores tenham apenas a visão dos
gatekeepers sobre alguma determinada notícia. Uma citação que
exemplifica muito bem a função do gatekeeper é a do autor D´Aiola
(2010), que diz: Aquele que determina o que será notícia e o que não
será. O que será divulgado no mainframe dos meios de comunicação e o
que não será. Essa ideia, no entanto, pressupõe que o leitor não possa ter
acesso à fonte do próprio gatekeeper, que ele apenas conheça a
informação do ponto de vista do gatekeeper.
Mas como será que a seleção e a apuração dessas notícias estão sendo
realizadas? Qual o papel do jornalista em meio a esse mundo de fechar
pautas rapidamente para a publicação sem ter total certeza na veracidade
das informações? “A mentira muitas vezes repetida torna-se verdade”.
“Os meios conseguem transformar qualquer idiota em um herói, ou até
mesmo destruir a imagem do herói”. Essas foram algumas das frases de
efeito do documentário que levam a pensar na Teoria Organizacional,
que contrapõem as ideias do Gatekeeper e traz o conceito de que as
notícias são como são porque muitas das vezes o jornalista é levado a ser
um profissional “socializado” dentro da política editorial, ou seja, é
subjugado ao conformismo dentro das empresas.
A ideia de que o jornalista é um autor do bem-estar social e que não visa
lucrar é deixada de lado na teoria organizacional, porque o jornalismo é
visto como um negócio, organizado como uma empresa que tem como
objetivo vender notícias para gerar capital. O jornalista precisa se
adaptar ao meio editorial porque deseja garantir o seu emprego e
construir carreira, ou seja, há em todo esse meio uma série de
recompensas e punições, que é capaz de fazer esse profissional, que
também é um cidadão, a deixar as próprias crenças pessoais e o papéis
sociais de lado para cumprir as regras da organização e fazer com que
chefes e colegas de redação se tornem as suas principais referências.
Em um dos depoimentos presentes no filme, o professor Manuel
Chaparro revela um fato que acontecia no jornalismo de meados do
século XX que confirma ainda mais a ideia da Teoria Organizacional. “O
repórter do governo, não pagava imposto de renda e tinha muitos
privilégios há alguns anos. Ele ganhava um salário para fazer cobertura
só de assuntos da política. Então, o que ele ia criticar?”
Como já foi mencionado anteriormente, O Abraço Corporativo tem
como objetivo propor uma discussão sobre a maneira de como as
notícias chegam e saem de dentro das redações e a Teoria do
Newsmaking aborda essa questão. Os estudos são bem atuais e iniciaram
na década de 1970, com a influência da análise sobre a sociologia das
profissões. Diferentemente das outras teorias, os estudiosos do
Newsmaking não estavam preocupados com os efeitos da comunicação,
mas sim, na forma da produção.
Mais uma vez, é importante afirmar que para essa visão, o jornalismo
está muito longe de ser o espelho do real e, se torna, na verdade a
construção de uma suposta realidade. Embora pareça uma tarefa simples,
a notícia precisa ser planejada dentro de uma lógica de rotina industrial.
Para que isso aconteça, é necessário que haja organização, porque muitos
fatos acontecem ao mesmo tempo, antes mesmo do boom das redes
sociais e, sem esse fator é impossível produzir e fazer com que o
trabalho siga a diante.
A grande questão da teoria do Newsmaking é pensar no dia a dia da
profissão. Para que o jornalismo possa ser feito é necessário refletir na
função dividida entre os repórteres, os redatores, os chefes de
reportagem e outros níveis dentro da redação e todos nessa relação são
os responsáveis por decidir o que é ou não notícia e, dessa maneira o
termo “manipulação” se torna um pouco mais minimizado.
Diferentemente do que se diz na Teoria do Gatekeeper e Organizacional,
as notícias dentro do Newsmaking são vistas como o resultado de
negociação entre várias pessoas na redação, e para que isso aconteça, são
elaborados vários critérios de noticiabilidade e do valor da notícia, como
grau de hierarquia e interesse, quantidade de tempo usado na veiculação,
impacto da notícia no meio, público alvo, competição para saber qual a
pauta do concorrente e muitos outros aspectos.
Sociedade do espetáculo e infotenimento
É impossível assistir ao documentário e não se lembrar da sociedade do
espetáculo. A Teoria do Abraço Corporativo é um verdadeiro teatro
como tudo o que acontece ao nosso redor é espetacularizado de alguma
maneira. A cada matéria, sessão de fotos e entrevistas realizadas com
Ary Itnem, a construção é o que prevalece. Em uma parte do
documentário, Juca Kfouri afirma que “a mídia tem sido cada vez mais
um palco onde coisas são colocadas, mas não necessariamente
debatidas”.
Na teoria da Sociedade do Espetáculo fundamentada por Guy Debord no
final da década de 1960, há uma fortecrítica à sociedade contemporânea,
que é mediada por imagens e onde a lógica capitalista atingiu toda a vida
cotidiana, e ainda nem havia a presença das redes sociais. Todos são
tocados por imagens, pelo imediatismo e nos tornamos espectadores de
tudo o que é colocado nesse palco, sem fazer questionamentos e na
maioria das vezes sem ter ideia de que é uma construção.
Assim acontece nas produções jornalísticas. Hoje, tudo é produzido para
acontecer e quem é o responsável por essas criações acaba acreditando
nas próprias histórias. O jornalismo, segundo a visão dos especialistas no
documentário , passa por uma fase de teatralidade onde se utiliza
técnicas de publicidade e marketing para produzir reportagens que mais
parecem filmes de ficção, peças de entretenimento que dialogam com
funções jornalísticas, todas industrialmente produzidas.
Mas é importante lembrar que a sociedade do espetáculo apesar de
criticar na maior parte das vezes a sociedade capitalista, não quer dizer
que só nesse meio existe a produção de espetáculos. O termo pode se
referir a muitas outros pontos como às relações interpessoais, à política e
às manifestações religiosas. Tudo está envolvido pelas imagens e o autor
deixa claro que é impossível fazer a separação entre as relações sociais
com as de consumo de mercadorias.
A alienação do espectador em favor do objeto
contemplado (o que resulta da sua própria atividade
inconsciente) se expressa assim: quanto mais ele
contempla, menos vive; quanto aceita reconhecer-se nas
imagens dominantes da necessidade, menos compreende
sua própria existência e seu próprio desejo. Em relação ao
homem que age, a exterioridade do espetáculo aparece no
fato de seus próprios gestos já não serem seus, mas de um
outro que os representa por ele. É por isso que o
espectador não se sente em casa em lugar algum, pois o
espetáculo está em toda parte (DEBORD, 1997: 24).
 
Sem deixar escapar o tema da sociedade do espetáculo, é importante
retratar a forma de como o infotenimento foi abordado em O Abraço
Corporativo. O termo foi criado na década de 1980, mas só ganhou força
em 1990, quando passou a realmente ser analisado pelos profissionais e
acadêmicos da comunicação. O jornalismo de infotenimento é visto
como uma forma de espaço destinado a conteúdos que visam informar e
entreter ao mesmo tempo, isso pode ser notícias em geral, assuntos sobre
estilo de vida, fofocas e o resumo das novelas.
Embora seja um campo de muita discussão até hoje entre vários teóricos,
até mesmo porque muitas das vezes o público deseja e se interessa por
esses tipos de conteúdos até mesmo com mais frequência do que as
notícias consideradas “sérias” como política e economia, se assim
podemos dizer, no documentário os especialistas veem de forma
negativa e não concordam com o rumo que o jornalismo está sendo
levado para o lado cor de rosa, ou seja, acreditam que o entretenimento
não é o melhor caminho e que a mídia muito em breve vai precisar
reelaborar o seu posicionamento e rever os códigos de ética porque a
própria sociedade irá fazer essa cobrança. Ao mesmo tempo, muitos
fatos ainda estão para acontecer e parece que nós não estamos vivendo a
desconstrução do jornalismo, mas sim, a construção dele.
Considerações finais
Em síntese, assim como Ary Itnem, a quantidade de falsos boatos já
publicados é incontável, na verdade, eles sempre existiram deste dos
tempos mais remotos, quando não havia nem mesmo a noção do que se
tratava a imprensa.
O artigo trouxe um pouco sobre a reflexão de como a lógica da produção
de notícias tem sido construída dento do ambiente das redações no
mundo moderno, sem em nenhum momento criticar a forma que o
veículo A ou B faz notícia, mas sim em pensar no papel de todas dentro
do jornalismo. Não foi possível chegar a uma conclusão imediata e não
há uma resposta fixa para o que ainda está sendo analisado. Agora, em
tempos de redes sociais, os boatos são lançados a todo o momento em
nossos feeds de notícias do Facebook, em mensagens pelo Whatsapp e
ainda assim na TV e no rádio, o que nos leva a pensar que esse tema
nunca deve ser uma pauta fria e muitos menos que possa cair e deixar
de ser discutida. Pelo contrário, é preciso que o fazer jornalístico esteja
sempre presente em todos os lugares possíveis.
Referências
D´AIOLA, Carla. A função do gatekeeper na imprensa. Disponível em:
http:// www.iscafaculdades.com.br/estaçãojornalismo/artigo_14.htm.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Contraponto, 1997.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo: porque as notícias são
como são. Florianópolis: Insular, 2005.
http://www.iscafaculdades.com.br/esta%C3%A7%C3%A3ojornalismo/artigo_14.htm
FANSITES: UMA ANÁLISE DO SITE
POTTERISH E DAS TEORIAS DO
JORNALISMO
Flávia Linhares Sandy e Nathalie Gonzalez Fonseca
RESUMO
A saga de livros Harry Potter da autora JK Rowling conquista fãs desde
1997, quando o primeiro livro Harry Potter e a pedra filosofal foi lançado
no Reino Unido. Seis anos depois nascia o Potterish, um fansite que leva
informação e conteúdo aos fãs da saga até hoje. Assim, tendo como objeto
de estudo os fansites, mais especificamente o Potterish, este trabalho estuda
as teorias e técnicas jornalísticas utilizadas na confecção de notícia sem
portais amadores, utilizando de conceitos teóricos – como as novas
tecnologias da comunicação, o newsmaking, o gatewatching e o
gatekeeping– como principais pilares para a confecção de uma análise do
conteúdo do site referido. Dessa forma, este artigo pretende explorar a
estrutura e características do jornalismo na era tecnológica, analisar as
postagens e cobertura de um site amador e abrir um debate sobre a
participação do público jovem na confecção de notícias online.
Palavras-chave: fansite, Potterish, Harry Potter, jornalismo digital, cultura
participativa.
 
Introdução
Há vinte anos, quando o primeiro livro Harry Potter e a Pedra Filosofal foi
lançado, não se imaginava o impacto que a narrativa de JK Rowling teria no
mundo. A obra que conta a história de Harry, um menino órfão que vive
com os tios na Inglaterra e descobre que é um bruxo muito famoso, foi
traduzida para mais de 70 línguas e vendeu 450 milhões de exemplares, de
acordo com a Veja.
Um ano depois da estreia do filme Harry Potter e a Pedra Filosofal, nascia o
Potterish, um fansite, que surgiu da reunião de fãs de Harry Potter com um
objetivo claro: levar informações e conteúdos aos fãs da saga no Brasil e no
mundo. Segundo o próprio site, em 2016 o portal atingiu mais de dois
milhões de visitas e possui reconhecimento da própria autora, que o
premiou em seu site oficial por meio do concurso criativo Fan Sites
Awards.
Por serem apaixonados pelo objeto da mensagem, os fãs se tornam um
receptor completamente diferente do público em massa, que recebe as
notícias diárias de um telejornal, por exemplo. Este processo envolve
relações e sentimentos, já que o público recebe melhor uma matéria que foi
escrita refletindo a mesma emoção que ele sente pela obra ou
personalidade, se interessando pelo conteúdo e desejando acompanhar,
participar e estabelecer uma conexão maior com o que é consumido.
 
Fãs de uma série de livros não apenas lêem os textos, como também
compartilham suas impressões, produzem fanfics, fanarts, trailers para
aqueles livros e qualquer coisa que manifeste sua criatividade inspirada por
aquela produção cultural. (...) O que a internet alterou na prática do fã foi a
facilidade – e a velocidade – com que ele pode acessar as informações sobre
o alvo de sua admiração e a possibilidade de compartilhar suas impressões,
de criar e de editar produções de seus ídolos. (OLIVEIRA, 2016, p. 13)
No entanto, o foco deste estudo está também no emissor, ou seja, na forma
como as notícias são confeccionadas para entregar informação para esse
tipo diferente de receptor. Ao mesmo tempo que o público de fansites se
comporta de forma diferente, o autor dos posts não se contenta em manter
uma posição passiva com relação ao objeto de adoração e abandona sua
posição de “apenas fã” ultrapassandoa linha de consumidor para um
produtor amador, fazendo com que o texto adquira características
especificas, muitas vezes envolvendo as teorias do jornalismo.
Assim, serão abordados alguns estudos como uma forma de contextualizar
essas teorias, como a Organizacional, o Newsmaking e o Gatekeeping, que
servem como referência para comprovar a presença do contexto jornalístico
dentro desses portais de notícia e têm grande influência e impacto no tema
proposto.
Como o próprio nome diz, um fansite é um portal feito inteiramente por fãs
e justamente por serem, em sua maioria, “amadores”, é observado como
funciona a apuração e confecção de notícias, a dinamicidade da equipe, a
periodicidade as postagens, os lucros ou gastos envolvidos entre outros
assuntos. Para isso, foi acompanhada toda a trajetória do Potterish desde a
sua criação e debatido se o conteúdo que produzem pode ser chamado de
jornalístico, uma vez que tem a finalidade de informar seu público como
qualquer outro veículo de comunicação.
Por fim, uma rápida análise dos posts do site Potterish busca a presença das
características do jornalismo, observa a forma textual da notícia e averigua
se há a presença das teorias citadas anteriormente no fansite, assim como
outros conceitos que servem de base para a comunicação digital
contemporânea.
Dessa forma, este trabalho pretende, além de explorar o trabalho do
Potterish e o universo da franquia Harry Potter, refletir sobre o papel dos
fansites no cenário midiático baseando-se nas teorias jornalísticas e nos
conceitos da comunicação. Assim, abrindo uma discussão que aborde
assuntos como a aprendizagem das técnicas acadêmicas de escrita
jornalística, o primeiro contato de jovens com a comunicação social, a ética,
o profissionalismo e a responsabilidade com as notícias postadas na web.
Problemática de pesquisa
Levando em consideração que este trabalho abordará o termo “portal de
notícias amador” como aqueles que tem a finalidade de informar seu
público sobre determinado tema mas sem fins lucrativos, é evidente que a
principal hipóteses seja referente ao papel desse tipo de sites na mídia atual.
Tais veículos se atualizam, a partir do empenho dos membros da equipe
que, acima de tudo, são fãs do objeto da notícia (no caso do Potterish, a
saga de Harry Potter) e trabalham voluntariamente pela paixão ao tema.
Outro assunto levado em conta é que, apesar de com poucos recursos, o site
mantém a dinamicidade entre os membros da equipe e a seriedade e ética,
inserindo um cunho jornalístico junto ao amor pelo objeto da notícia que da
veracidade ao fato narrado. Esses valores caracterizam bem os princípios da
teoria organizacional que, tem como um de seus pressupostos o de que o
jornalista se adapta ao meio de trabalho por conta do amor a profissão. No
caso do Potterish, a não remuneração dos membros é driblada com o amor
dos jovens pela obra e com a construção de vínculos entre si.
Além disso, a forma como as notícias são apuradas e estruturadas deve ser
avaliada de forma prioritária, segundo o newsmaking. Os posts possuem
estrutura jornalística, com elementos como lead, sublead, retranca entre
outras e características expressivas dessa teoria. Seu conteúdo muitas vezes
espelha a influência do público com as notícias, abrindo espaço para a
participação dos leitores via redes sociais no que é relevante ou não para o
site. Porém suas particularidades ainda se sobressaem, fazendo com que o
veículo oscile entre seu próprio estilo e as técnicas consagradas do
jornalismo.
Isso se deve principalmente à participação do público na interceptação de
notícias (gatewatching) e a universalização da escrita jornalística: como
uma receita de bolo que se observa, aprende e passa de um para o outro,
muitas vezes sem ter consciência das técnicas. A principal evidencia deste
fato é o manual do Potterish, que inclui tais técnicas numa forma de
doutrinar o newsposter e padronizar sua escrita, evidenciando também o
trabalho em equipe e os critérios de valor-noticia do conteúdo.
Fundamentos Teóricos
Dentre as inúmeras teorias criadas para explicar o jornalismo e seus
processos, três foram escolhidas para serem abordadas por serem
semelhantes entre si e terem grande relação com o tema. São elas: a teoria
do gatekeeping e gatewatching, a hipótese do newsmaking e a teoria
organizacional.
Criada por Kurt Lewin, em 1947, a teoria do gatekeeping estuda o processo
de seleção dos acontecimentos cotidianos e na transformação em notícia.
Em seus estudos sobre os hábitos alimentares das famílias americanas,
Lewin chegou a confirmação da hipótese de que eram as mulheres e mães
de família quem escolhiam e compravam os alimentos que seriam
consumidos em casa. Logo, dependeria dos costumes dela estruturar um
habito para que houvesse essa seleção dos alimentos, estabelecendo um
filtro.
Assim como no estudo de Lewin, o jornalista é influenciado por uma série
de fatores para selecionar quais as informações que irão se transformar em
notícia. Dentre estes fatores, chamados de zona-filtro, estão os princípios do
próprio jornalista, as políticas e tradições da empresa e o que ele observa do
entorno entre outros fatores. Esse foco torna a teoria do gatekeeping
centralizada no emissor da mensagem, ou seja, ele dá importância máxima e
limitada ao jornalista como indivíduo e ao trabalho jornalístico.
Os jornalistas, nesta visão, são os “guardiões da notícia”, definindo o que é
notícia e o que não é. Percebe-se, a partir de uma breve análise da
linguagem deste conceito, que os jornalistas ainda são vistos como
“guardiões”, ligados ao jornalismo da época das Luzes, em que o
profissional teria a função didática de ser o “guardião da sabedoria de um
povo”. (GROHMANN, 2010, p. 2)
No entanto, o gatekeeping é baseado nas práticas jornalísticas típicas dos
anos 40, quando os meios de comunicação eram poucos e engessados (na
época, só eram acessíveis jornais impressos, rádio e TV). Após os
acontecimentos do 11 de setembro, nos estados unidos, uma abundância de
novos portais de notícia e websites começaram a surgir afim de fornecer
uma cobertura alternativa do ocorrido na internet. Além disso, as novas
formas novas de se comunicar, graças a tecnologia, tem se provado um
agravante para confrontar e modificar esta noção de gatekeeping para uma
visão mais moderna. Com esses novos veículos de comunicação em
adjacente com o advento da internet – que permite a rápida e eficiente troca
de informações entre as pessoas - o público passou a ter uma importante
participação na escolha das notícias, o que hoje podemos chamar de
gatewatching.
Dessa forma, o jornalista deixaria de ser um “guardião do portal” para
conviver com um novo tipo de jornalismo de uma compreensão coletiva dos
eventos que estão se desdobrando; onde os usuários contribuem para este
processo pelo compartilhamento das informações de primeira mão
disponíveis para eles (BRUNS, 2011, p.132) transitando assim entre
consumidor o produtor do conteúdo.
Assim como o gatekeeping, o newsmaking é outra hipótese nascida dos
estudos de Kurt Lewin. No entanto, seu foco é na forma como o jornalista
seleciona as matérias que irão ao ar, ou seja, quais são os seus critérios de
importância dentre o intenso fluxo de acontecimentos cotidianos. O
newsmaking parte do princípio de que há informação demais para pouco
espaço dentro de um jornal – que também dá lugar para outros tipos de
conteúdo como a publicidade, por exemplo – logo, a curadoria e o filtro
utilizado nessa escolha são necessários para a formação de uma notícia.
Segundo esta perspectiva, “faz notícia” aquilo que, depois de tornado
pertinente pela cultura profissional dos jornalistas, é susceptível de ser
“trabalhado” pelo órgão informativo sem demasiadas alterações e
subversões do ciclo produtivo normal. É óbvio que, no caso de
acontecimentos excepcionais, o órgão de informação tem a flexibilidade
necessária para adaptar os seus procedimentos à contingência da situação.
Todavia, a noticiabilidade de um facto é, em geral, avaliada quanto ao graude integração que ele apresenta em relação ao curso, normal e rotineiro, das
fases de produção. (WOLF, 2009, p 83)
Esses filtros que determinam o que será transformado em noticia são
construídos a partir do que o autor italiano Mauro Wolf chama de valor-
notícia. Para ele, os valores-noticia são “regras práticas que abrangem um
corpus de conhecimentos profissionais que, implicitamente, e, muitas vezes,
explicitamente, explicam e guiam os procedimentos operativos
redatoriais”(WOLF, 2009, p 85) ou seja, além de funcionarem como critério
para o que será publicado/postado, também servem como uma linha base
para ser seguida na confecção do produto final.
Wolf agrupou os valores-noticia em 5 categorias: 1) As características
substantivas das notícias: referente ao fato em si. Medida de duas formas.
a) Quanto ao grau de importância - envolve o grau de poder dos indivíduos
envolvidos no fato, se o fato possui impacto nacional, a quantidade de
pessoas envolvidas no fato, a evolução do fato e suas consequências b)
Quanto ao grau interesse – envolve o potencial de entretenimento do fato, o
interesse individual do público e ao equilíbrio na apresentação desses fatos.
2) Critérios relativos ao produto: referente a futura notícia. Envolve o quão
acessível a matéria é para os jornalistas, a atualidade do tema, a qualidade
do material que será veiculado etc.
3) Quanto aos meios de comunicação: referente a forma como será
transmitida, já que cada matéria se comporta de formas diferentes em meios
de comunicação distintos (“meio é a mensagem” de McLuhan). Também
envolve a quantidade de tempo que será de-dicado a exibição da matéria e
os custos de produção.
4) Quanto ao público: referente ao que o emissor gostaria de consumir. Isso
envolve também conhecer mais o espectador, uma vez que os jornalistas
tendem a se dirigir a uma imagem do que ao público real, equilibrando a
necessidade de informar com a satis-fação. A formação de uma estrutura
narrativa clara e objetiva também entra nesta categoria 5) Quanto à
concorrência: referente a produção da notícia de forma automática, quase
industrial, sempre em busca do furo de reportagem para de manter-se à
frente dos outros veículos de informação. Esses fatores também conversam
com o aumento da agilidade de produção da notícia e a valorização da pauta
exclusiva.
Por fim, outra teoria que aborda assuntos referentes ao emissor da notícia é
a organizacional. A teoria criada por Warren Breed trata dos processos
organizacionais que os jornalistas necessitam passar dentro da empresa ou
da redação. Segundo o autor, o profissional a todo momento é forçado a se
adaptar dentro das normas da organização, que o desagrada seja por afrontar
seus ideais éticos ou por terem pouca liberdade dentro da redação.
Em termos sociológicos, isto significa que se socializam e aprendem as
regras como um neófito numa subcultura. Basicamente, a aprendizagem da
política editorial é um processo através do qual o novato descobre e
interioriza os direitos e as obrigações do seu estatuto, bem como as suas
normas e valores. Aprende a antever aquilo que se espera dele, a fim de
obter recompensas e evitar penalidades. (FIGUEIREDO, 2016, p. 2 apud
BREED, 1999, p. 154-155).
 
No entanto, esses profissionais acabam acatando com essas normas que são
impostas sobre eles de forma não explicitas e aprendidas por “osmose”.
Breed diz que esse fenômeno acontece pelos seguintes fatores: • Autoridade
institucional e sanções: os profissionais respeitam a hierarquia da instituição
e temem alguma punição caso não obedeçam às normas ou almejam algum
benefício caso esta seja cumprida.
• Sentimentos de obrigação e estima para com os superiores: os
profissionais se sentem responsáveis por corresponder às expectativas de
seus chefes coordenadores etc.
• Aspirações de mobilidade: os profissionais almejam subir de cargo, ter
reconhecimento na carreira ou ganhar algum tipo de benefício na profissão.
• Ausência de grupos de lealdade em conflito: existe escassez ou resistência
a formação de grupos e sindicatos que lutam pelos direitos dos profissionais
e enfrentam tais normas estabelecidas pelas empresas.
• O prazer da atividade: os profissionais amam a profissão e o cotidiano
dela, logo executa-la resulta em uma remuneração não financeira.
• A notícia torna-se um valor: tanto jornalistas quanto chefes têm a notícia e
a informação como foco principal do trabalho, isto é, todas as partes
possuem o mesmo olhar e por isso, os possíveis conflitos caem por terra.
Objetivos
O Potterish é o fansite mais antigo e ainda ativo de conteúdos sobre Harry
Potter no Brasil. O site lançado em 2002 contém - se não todos - a maioria
dos requisitos e temas abordados nos capítulos anteriores. Portanto, a sua
dinâmica, sua técnica de escrita, sua história e seu contexto dentro da
comunidade de fãs de Harry Potter serão alguns dos assuntos aprofundados
neste artigo.
Além de suas especificidades teóricas e técnicas de escrita, a escolha do
Potterish como objeto de estudo foi motivada também pela paixão dos fãs,
pela diversidade dos membros da equipe e pelo seu status dentro do
fandom[1], abrangendo também a sua reputação internacionalmente.
Se tratando de um portal amador, com trabalho voluntario da equipe e ainda
assim sério e de grande porte, este estudo busca abordar os recursos que
tornaram possível a existência do Potterish dentro do ambiente da web e sua
estruturação jornalística. Para isso é necessário falar das teorias do
jornalismo, mais especificamente da organizacional, gatekeeping e
newsmaking como patamar de referência para a confecção de notícias. Com
isso, dialogar sobre a confiabilidade da informação que vem desse tipo de
veículo e no seu status dentro da comunidade acadêmica.
Dessa forma, é necessário fazer uma análise de suas notícias, a fim de
perceber com mais clareza as características que tem ou não em comum
com a teoria jornalística mencionada, afim de entender melhor como
funciona a produtividade do referido site e a importância desse tipo de
portais de notícias na mídia.
Metodologia
Para uma análise profunda do site, e contextualizar todo o conteúdo teórico
abordado anteriormente, foram realizadas uma série de entrevistas com a
equipe do Potterish e com seu webmaster Pedro Martins, submergindo no
cotidiano desses fãs durante uma semana, para avaliar sua organização e
hábitos.
Além disso, foram escolhidas 4 postagens sobre diferentes assuntos, mas
que possuem algum elemento do caracterizado como “valor da notícia”,
citados anteriormente. Dentre estas, duas são datadas de julho de 2011, mês
de lançamento do último filme da saga, Harry Potter e as Relíquias da
Morte - Parte II, nos cinemas. Segundo os próprios membros da equipe do
Potterish, este foi um dos momentos de glória do site, quando as notícias
eram sempre ricas e frequentes.
Por outro lado, as outras duas são de outubro de 2017, ano de intervalo
entre dois filmes da nova franquia do universo Harry Potter, Animais
Fantásticos e Onde Habitam, quando a produtividade era regular porem em
bem menor escala do que nos anos anteriores. O impacto da escassez de
notícia e como o site se comporta dentro do processo de gatekeeping é o
primeiro ponto de ignição dentro desta análise.
 
 
O processo consistiu em comparar essas características de valores notícias –
já citados anteriormente neste trabalho – com as que estão presente nos
posts; observar o modelo de organização da equipe e a forma de produzir
notícias e fazer observações complementares caso seja necessário.
 
 
A maior parte da pesquisa destas postagens foi realizada no acervo do
Potterish na internet. Para evitar possíveis lacunas deixadas pela falta de
acesso a alguma informação, foram realizadas entrevistas via e-mail e
mensagens de texto com alguns membros da equipe e o gerente de
conteúdo, Pedro Martins. As perguntas foram aprofundadas nos temas de
interesse deste trabalho para conhecer o processo de produção da notícia, o
critério de apuração, do que vira notícia ou não, periodicidade