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1Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Empowed lives. Resilient nations. Responsabilidade Social Empresarial Situação Actual em Angola Versão Completa 2 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola O presente estudo foi promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e teve o apoio financeiro da Agência Espanhola para a Cooperação Internacional e Desenvolvimento (AECID). Foi elaborado pela KPMG Angola - Audit, Tax, Advisory S.A. para o Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social Empresarial de Angola. Luanda - Angola 11 de Abril de 2013 Fotos: UNDP, Unicef Angola e José Dias 3Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Empowed lives. Resilient nations. Responsabilidade Social Empresarial Situação Actual em Angola Versão Completa 4 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Conteúdo Sumário Executivo.....................................................................................................................................................4 1.1 Porquê o Estudo..........................................................................................................................................4 1.2 Abordagem metodológica......................................................................................................................7 1.3 Principais conclusões.................................................................................................................................9 1.4 Análise Sectorial.......................................................................................................................................11 2 Enquadramento.......................................................................................................................................16 2.1 O que é a Responsabilidade Social Empresarial..................................................................................6 2.2 O contexto Internacional.......................................................................................................................19 2.3 O contexto Angolano...............................................................................................................................21 3 Caracterização da situação actual de práticas de RSE em Angola.........................................46 3.1 O sector empresarial...............................................................................................................................46 3.2 O contributo de outros agentes nas acções de RSE.....................................................................65 4 Riscos, Desafios e Oportunidades associados à Responsabilidade Social Empresarial.72 4.1 As oportunidades chave.......................................................................................................................72 4.2 Os desafios..................................................................................................................................................73 5 O Caminho futuro – RSE ao serviço do desenvolvimento.........................................................77 5.1 A reposta aos desafios............................................................................................................................77 5.2 Linhas de acção........................................................................................................................................80 6 Glossário......................................................................................................................................................82 7 Abordagem Metodológica....................................................................................................................87 7.1 Consulta às Empresas..............................................................................................................................87 7.2 Consulta aos restantes stakeholders..................................................................................................89 8 Acrónimos utilizados................................................................................................................................91 9 Referências/Bibliografia..........................................................................................................................92 10 Casos de Estudo.......................................................................................................................................93 Índice de Figuras Figura 1 – Análise comparativa do IDH de Angola ........................................................................................5 Figura 2 – Evolução dos componentes dos índices do IDH em Angola................................................5 Figura 3 – Análise comparativa do Índice de Desenvolvimento de Angola........................................6 Figura 4 – Temas relevantes e vectores de análise........................................................................................8 Figura 5 – Posicionamento dos sectores analisados...................................................................................11 Figura 6 – Modelo do Programa Integrado de Combate à Pobreza e ao Desenvolvimento Ru- ral...................................................................................................................................................................................2 9 Figura 7 – Factores mais problemáticos para a realização de Negócios em Angola ....................33 Figura 8 – Fatalidades atribuíveis a questões ambientais .......................................................................42 Figura 9 – Matriz de risco e grau de preparação para o risco ................................................................43 Figura 10 – Percentagem média do orçamento anual de RSE por sector e por área de actuação 64 5Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola 1.1 Porquê o Estudo A estabilidade trazida pela paz colocou Angola num caminho claro de recuperação, de um país com dificuldades e limitações ao nível das con- dições sociais básicas, para uma das economias com crescimento mais acentuado em África. Quando comparada com outros países da Áfri- ca Subsaariana e com países com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Angola apresenta uma evolução progressiva. O IDH é uma medida sumária para avaliar o progresso de longo termo nas três dimensões básicas do desenvolvimento humano: uma vida longa e saudável, acesso ao conhecimento e um padrão de vida decente, e que tem como objectivo ofe- recer um contraponto a um indicador muito uti- lizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão económica do desenvolvimento. Apesar de todos estes sinais positivos, segundo o relatório Global de Desenvolvimento Huma- no de 2013 o País está ainda distante do valor médio do Índice de Desenvolvimento Humano, ocupando a posição 148 de um total de 187 pa- íses, com um IDH de 0,508. O IDH da África Sub- saariana como região aumentou de 0,366 em 1980, para 0,475 actualmente, colocando Ango- la acima da média regional, e acima dos países do grupo de baixo desenvolvimento humano, que apresentam um valor de 0,466. Na África Subsaariana, os países próximos a Angola em termos de classificação do IDH e população, são o Senegal e a Zâmbia, com a classificação IDHs de 154º e 163º respectivamente. As tendências do IDH mostram uma evolução importante, tanto a nível nacional como regional, destacan- do as enormes lacunas na qualidade de vida e oportunidades de desenvolvimento. Sumário Executivo O Relatório Global de Desenvolvimento Humano de 2013 apresenta os valores e as classificações do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para 187 países e territórios reconhecidos pelas Nações Unidas. Esta edição também apresenta o IDH- ajustado à Desigualdade (IDHD) para 132 países, o Índice de Desigual-dade de Género (IDG) para 148 países, e o Índice da Pobreza Multidimensional (IPM) para 104 países. Os valores e as classificações publicadas nos relatórios anteriores não são comparáveis com os valores publicados no Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013, devido à mudança dos dados de base e dos métodos de cálculo. Para permitir a avaliação do progresso nos IDHs, o Relatório de 2013 inclui IDHs recalculados desde 1980 a 2012. 6 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Análise comparativa do IDH de Angola Desde o ano 2000 que Angola regista uma me- lhoria no IDH, encontrando-se actualmente li- geiramente acima do IDH de menor valor a nível mundial e do IDH da região de África Subsaa- riana. Ainda assim, está longe do valor médio mundial. O gráfico seguinte é baseado em indicadores, metodologia e séries temporais consistentes, mostrando assim, mudanças reais nos valores e classificação ao longo do tempo, o que reflecte o progresso actual feito pelos países. Tendências nos componentes dos índices do IDH de Angola 2000-2012 Figura 1 – Análise comparativa do IDH de Angola (Fonte: hdr.undp.org) Figura 2 – Evolução dos componentes dos índices do IDH em Angola (2000- 2012, Fonte: hdr.undp.org) O valor do IDH de Angola para 2012 é 0,508 — na categoria de baixo desen- volvimento humano — posicionando o país no lugar 148 dos 187 países e territórios considerados. Entre 2000 e 2012, o valor do IDH de Angola aumen- tou de 0,375 para 0,508, registando um aumento de 35% (crescimento médio anual de cerca de 2,6%). Entre 1980 e 2012, a esperança de vida à nascença em Angola aumentou 11,3 anos, a média dos anos de escolaridade aumentou 0,3 anos e os anos esperados de escolaridade aumentaram 6,0 anos. O Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita de Angola aumentou 74% entre 1985 e 2012. Para além do papel desempenhado pelo Esta- do Angolano no contributo para o crescimento económico de Angola e para a melhoria no IDH, verifica-se ainda um forte contributo das empre- sas, Organizações Não Governamentais (ONG’s) e outras entidades. Todas estas entidades apre- sentam estratégias e abordagens próprias, para combater a pobreza, proteger o meio ambiente e promover um desenvolvimento sustentável. Neste sentido o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) com o apoio da Agência Espanhola para a Cooperação e Desen- volvimento (AECID) entendeu relevante realizar um estudo que permitisse fazer um balanço do estado da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) no País. Paralelamente, ao realizar o diagnóstico das práticas de RSE, pretende-se também alcançar o estabelecimento de uma base, que crie um ambiente favorável para a cooperação entre o Governo, Empresas, ONGs e outros parceiros, 7Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola em torno da Responsabilidade Social Empresa- rial em Angola. Apenas com um esforço conjun- to e unificado de todas as entidades é que será possível potenciar o Desenvolvimento Humano em Angola. Os gráficos seguintes apresentam diversas pers- pectivas de análise sobre diferentes dimensões que caracterizam o desenvolvimento das socie- dades e países, nomeadamente outros países da África subsaariana, como África do Sul, Nigé- ria, Zâmbia e Gana. PIB per Capita vs IDH Educação IDH vs. Depleção dos recursos Naturais PIB per Capita vs IDH Saúde Índice da Educação vs. Índice de Literacia Adulta Figura 3 – Análise comparativa do Índice de Desenvolvimento de Angola (Fonte: hdr.undp.org) 8 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Em todas as análises anteriores, Angola ocupa um lugar intermédio em termos de desenvolvi- mento comparativamente a outros países Afri- canos, seja ao nível da saúde, educação ou de- pleção dos recursos naturais. Contudo, Angola apresenta um valor positivo de PIB per capita, entre os países da África Subsaariana, fortemen- te potenciado pelo contributo do sector petro- lífero. Assim, apesar do baixo desenvolvimento espelhado pela análise destes indicadores, a ri- queza do país, materializada pelo PIB per capita coloca-o numa posição vantajosa face aos seus pares em termos de potencial de crescimento. Os índices de desenvolvimento macroeconómi- co de Angola permitiram ao Comité de Políticas de Desenvolvimento (CPD) do Conselho Econó- mico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) con- siderar Angola elegível para migrar da lista dos Países Menos Avançados (PMA) para a dos de rendimento médio a partir de 2015, confirman- do o potencial desenvolvimento e crescimento económico de Angola. 9Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Sector n.º Empresas Construção 12 Telecomunicações 8 Transporte 8 Energia e Águas 3 Mineração Industria 9 Bebidas 4 Retalho 8 Financeiro 31 Petróleo e Gás 16 Diversos 1 Total 100 Tabela 1 – N.º de empresas analisadas por sector Definição dos vectores de análise Os temas relevantes foram confirmados através da pesquisa bibliográfica realizada a documen- tos de referência em matéria de responsabilida- de social e a documentos que descrevem o con- texto social, ambiental e económico Angolano. O resultado destas pesquisas permitiu definir os vectores de análise sobre os quais incidiu o es- tudo e a auscultação aos diversos stakeholders. 1.2 Abordagem metodológica Análise de meca- do Para a realização do estudo de Responsabilida- de Social Empresarial, foi seleccionado um uni- verso de empresas públicas e privadas com ac- tividade representativa no mercado Angolano, em termos de volume de negócio, em nove sec- tores de actividade distintos, resultando numa amostra de 100 empresas. A elaboração do es- tudo iniciou-se com uma análise de benchmark à informação pública disponível relativamente às práticas de responsabilidade social destas empresas, em Angola. As fontes de informação foram os websites institucionais e os Relatórios públicos divulgados pelas organizações, em matéria de responsabilidade social empresarial ou contendo este tipo de informação. Da análise de benchmark realizada, foi possível identificar um conjunto de temas relevantes que reflectem as diferentes áreas de actuação empresarial em matéria de Responsabilidade Social Empresarial em Angola. Estas áreas de actuação foram agrupadas em três dimensões de análise: dimensão social, económica e am- biental. O agrupamento dos temas nestas três dimensões, tiveram por base o alinhamento com os pilares do desenvolvimento sustentável que privilegia o equilíbrio entre o crescimento económico, a promoção social e a preservação ambiental. 10 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Figura 4 – Temas relevantes e vectores de análise (Fonte: Análise KPMG) Consulta aos stakeholders e Questionário Com base nos vectores em análise, foi desenvol- vido um questionário sobre práticas de RSE que foi enviado a cerca de 77 empresas dos sectores mais representativos do mercado Angolano. A taxa de resposta foi de 30%, sendo que só foi possível ter representatividade para os sectores de Petróleo e Gás, Construção, Banca e Trans- portes. As restantes respostas foram agrupadas num agregador (“Outros Sectores”) que com- preende assim as respostas de empresas dos sectores Seguros, Telecomunicações, Minera- ção, Bebidas, Infra-estruturas e Agro-Indústria). Adicionalmente foram realizadas mais de 20 en- trevistas presenciais com empresas e 14 entre- vistas com ministérios e diferentes entidades da sociedade civil entre universidades, agências de desenvolvimento e ONGs. 1.3 Principais conclusões Níveis distintos de maturidade na actuação das em- presas Verifica-se que existe um grande desfasamen- to de maturidade entre as práticas de respon- sabilidade social empresarial das empresas de diferentes sectores e também dentro de cada sector. Em sectores como o do Petróleo e Gás,verifica-se a existência de uma elevada maturi- dade na gestão dos temas de responsabilidade social empresarial. No caso das empresas inter- nacionais deste sector a operar em Angola, ob- serva-se a delineação de uma estratégia local, alinhada com a estratégia internacional. Nesta amostra, é evidente a existência de um nível de entendimento elevado e experiência na imple- mentação dos projectos de âmbito social que é transversal à maioria das empresas deste sector. Por outro lado, nos restantes sectores analisa- dos, já não se regista esta homogeneidade, ve- rificando-se a existência de algumas empresas que lideram, sendo as restantes seguidoras, não 11Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola demonstrando o mesmo grau de envolvimento e maturidade de comunicação das práticas de RSE. Esta conclusão é, em parte, suportada pela baixa adesão demonstrada à participação no es- tudo em determinados sectores de actividade. Na globalidade, constata-se a evolução do pa- radigma da responsabilidade social, de uma lógica de assistencialismo e caridade, (como as iniciativas relacionadas com donativos e cons- trução de infra-estruturas) para uma lógica do desenvolvimento de projectos integrados que visam essencialmente, o desenvolvimento das pessoas e o crescimento económico, através da capacitação para identificação de oportunida- des para saírem do ciclo de pobreza. A comunicação externa realizada pelas empre- sas não é ainda suficientemente eficaz, sendo difícil aceder a informação pública disponível sobre grande parte das iniciativas desenvolvi- das pelas mesmas. Educação e Saúde são as áreas de actuação mais pri- vilegiadas pelas empresas Verificamos que existe um grande alinhamento das práticas de actuação com os temas identi- ficados como mais relevantes e que reflectem o contexto social, económico e ambiental de Angola. A Educação e a Saúde são as áreas em que são realizadas mais iniciativas, com desta- que para iniciativas no âmbito da alfabetização e escolaridade, retenção e sucesso escolar, e também, formação e promoção da saúde dos colaboradores. No âmbito social, a promoção da igualdade en- tre géneros e as iniciativas direccionadas espe- cificamente aos jovens são as áreas nas quais as empresas referem realizar um menor inves- timento. 39% dos investimentos sociais em RSE são na área da Educação A área ambiental representa somente 7% dos investi- mentos em RSE 3% dos investimentos sociais em RSE são em iniciativas especificamente direccionadas aos jovens As iniciativas menos desenvolvidas, menciona- das por menos de 40% das empresas consul- tadas com actividades de RSE, foram: a forma- ção de profissionais de saúde; a capacitação informática; a promoção do acesso dos jovens à cultura; a literacia financeira; a promoção das línguas nacionais; a promoção da cultura nas mulheres; o apoio a programas de desmina- gem; o desenvolvimento de infra-estruturas (habitação e energia); a sensibilização ambien- tal de parceiros e o apoio aos ex-combatentes. A existência destas áreas denota que, apesar do alinhamento das empresas com os temas rele- vantes, existem ainda vertentes menos explo- radas e apoiadas que poderão ser incentivadas numa lógica de promoção dos objectivos do Executivo e diferenciação das empresas através das suas estratégias de RSE. A responsabilidade ambiental essencialmente como resposta às exigências legais O enquadramento legal e regulamentar am- biental, recentemente criado em Angola, resul- ta numa pro-actividade reduzida das empresas no desenvolvimento de iniciativas que visem promover a protecção ambiental. As carências básicas da população ao nível so- cial, tornam secundários os investimentos a ní- vel ambiental, pelo que o actual desafio, no âm- bito da responsabilidade ambiental, prende-se essencialmente com o compromisso do cumpri- mento legal e regulamentar, como é exemplo o desenvolvimento de estudos de impacte am- biental para as indústrias mais poluidoras. 12 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Desafios…e caminho futuro Os principais desafios apontados pelas empre- sas estão relacionados com a falta de linhas de orientação estratégica, conhecimento e know- how para definição de projectos de RSE, bem como a identificação de parceiros de confiança para a realização das iniciativas, e de ferramen- tas para medir o impacto nas comunidades e o retorno dos investimentos sociais. O reforço da comunicação surge como um caminho para promover a partilha de boas práticas, experiên- cias, competências assim como o de possibilitar a identificação de sinergias entre parceiros e de actuar como mecanismo de promoção à actu- ação de todas as empresas e o alargamento do espectro dos parceiros para realização dos pro- jectos. Relativamente às áreas de actuação, apesar do alinhamento existente com as áreas mais ne- cessitadas da sociedade Angolana, deverá ser reforçado o enfoque estratégico das iniciativas para que estas estejam cada vez mais próximas do negócio, garantindo a sua sustentabilidade e a existência de competências internas para implementação e acompanhamento dos pro- jectos. Por outro lado, a posição do Executivo nestas matérias exige maior liderança e cooperação com as diferentes entidades envolvidas, de for- ma a gerar um clima de confiança e de capacita- ção mútua que se traduza na definição de uma agenda clara e transparente com os princípios base da RSE. • Número e relevância das áreas de actuação e; • Alinhamento com princípios internacionais de referência. Por outro lado foram também analisadas as prá- ticas de comunicação externa, nomeadamente a existência de informação relacionada com os temas de responsabilidade social empresarial, avaliado pela percentagem de empresas do sector que comunicam as suas práticas de res- ponsabilidade social empresarial publicamente. Figura 5 – Posicionamento dos sectores analisados (fonte: Análise KPMG) Sectores Líderes Os sectores líderes apresentam capacidade de capitalizar as suas práticas de RSE, através de uma comunicação activa e transparente. Apre- sentam um forte alinhamento com os temas relevantes no contexto da sociedade Angolana e com os princípios do Global Compact das Na- ções Unidas. O modelo de governo dos temas de RSE está normalmente centralizado em termos organizacionais, nos departamentos de Comu- nicação, Marketing e Responsabilidade Social. Estas direcções, já demonstram conhecimento e competências específicas para a definição de estratégias de RSE e, no que diz respeito à im- plementação, partilham esforços e suportam-se noutros parceiros com reconhecido know-how 1.4 Análise Sectorial A partir da informação recolhida, foram analisa- dos os sectores em termos da sua maturidade de práticas de RSE, analisando temas como: • Existência de uma estratégia de responsabi- lidade social empresarial estruturada; • Existência de competências internas especí- ficas para gerir estes temas; 13Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola nestas matérias, como as agências mundiais de desenvolvimento e ONGs. Em termos de comu- nicação, publicam relatórios específicos sobre as práticas de RSE para os diferentes stakehol- ders e são transparentes na comunicação ao ní- vel do seu website. Sectores Actuação Conservadora Apresentam um grau de maturidade conside- rável nas práticas que desenvolvem e definem áreas de actuação alinhadas com as expectati- vas dos stakeholders e com os temas materiais, assumindo uma postura conservadora no que toca à comunicação. Têm uma estratégia deline- ada com objectivos de RSE definida em função do contexto local. Focam-se essencialmente na construção de programas robustos, com objec- tivos específicos de criação de impacto social. Sectores Oportunistas As organizações que caem neste quadrante, são aquelas que correm maiores riscos de verem as suas estratégias e compromissos em RSE asso-ciadas maioritariamente a práticas de comuni- cação focadas na publicidade, notoriedade da marca e investimento em publicidade. Estas práticas de comunicação são comummente de- signadas como “Green Washing” ou “Social Wa- shing”, e provocam desconfiança na percepção das diferentes partes interessadas envolvidas nos projectos de RSE assim como da socieda- de em geral. Os temas endereçados poderão não ser significativos para a sociedade e não demonstram total alinhamento com os princí- pios do Global Compact. As empresas com perfil oportunista, focam-se na comunicação de resul- tados, aproveitando a oportunidade de chegar eficazmente aos seus stakeholders e posiciona- rem-se como empresas socialmente responsá- veis através da comunicação agressiva e persis- tente. Os riscos são acrescidos com o escrutínio cada vez maior dos investidores, clientes e em- presas concorrentes. Sectores Seguidores As empresas que representam este grupo de sectores, não apresentam um reporte e práticas de comunicação sistemáticas sobre as activida- des que desenvolvem no âmbito da RSE. A im- plementação das suas estratégias está suporta- da maioritariamente em estruturas autónomas, como fundações e associações não governa- mentais para desenvolver projectos de respon- sabilidade social. Existe um alinhamento parcial com os princípios do Global Compact e não são endereçados os temas materiais. Tipicamente, as empresas que representam estes sectores têm uma atitude reactiva ao desenvolvimento de projectos de RSE, desenvolvendo projectos menos integrados nas suas estratégias e objec- tivos de negócio. Os perfis de actuação em RSE dos sectores empresa- riais em Angola Sector Petróleo e Gás – Factos Chave • 100% das empresas analisadas declara co- nhecer e assegurar o cumprimento dos prin- cípios do Global Compact • 100% das empresas analisadas tem um de- partamento de Sustentabilidade ou de Res- ponsabilidade Social Empresarial para lide- rar estes temas • É o sector que mais investe em actividades de responsabilidade social empresarial, em parte também devido ao enquadramento legal e contratual • As áreas de maior investimento são a Edu- cação e a Saúde (em média 40% e 22%, do orçamento do RSE, respectivamente) • As iniciativas de RSE mais transversais às empresas deste sector são o combate ao HIV/SIDA e programas de formação para co- laboradores Verificamos que o sector do Petróleo e Gás é o sector onde estes temas apresentam maior ma- 14 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola turidade e onde o posicionamento é mais uni- forme no universo de empresas. Tipicamente, nas empresas deste sector, existe um departa- mento de responsabilidade social ou de susten- tabilidade que, em conjunto com outras áreas e com o Conselho de Administração define e implementa a estratégia de responsabilidade social empresarial. Estão globalmente alinhadas com os 10 princípios do Global Compact. As áre- as de actuação são abrangentes tanto em ter- mos dos temas relevantes como em termos ge- ográficos. Do ponto de vista de comunicação já existem práticas de comunicação e reporte, em- bora ainda não transversais a todas as empresas deste sector, pelo que existe ainda potencial a capitalizar. Sector Petróleo e Gás – Factos Chave • 100% das empresas analisadas declara conhecer e assegurar o cumprimento dos princí- pios do Global Compact • 100% das empresas analisadas tem um departamento de Sustentabilidade ou de Res- ponsabilidade Social Empresarial para liderar estes temas • É o sector que mais investe em actividades de responsabilidade social empresarial, em parte também devido ao enquadramento legal e contratual • As áreas de maior investimento são a Educação e a Saúde (em média 40% e 22%, do or- çamento do RSE, respectivamente) • As iniciativas de RSE mais transversais às empresas deste sector são o combate ao HIV/ SIDA e programas de formação para colaboradores Sector Construção – Factos Chave • 75% das empresas analisadas declara conhecer totalmente e estar alinhado com os princí- pios do Global Compact • 50% das empresas analisadas sector tem um departamento de Sustentabilidade ou de Res- ponsabilidade Social Empresarial para liderar estes temas • As áreas em que o investimento é maior são a Educação (em média 54% e 26% do Orça- mento em RSE, respectivamente). • O tipo de iniciativas de RSE mais transversais às empresas deste sector são programas de saúde para os colaboradores, programas de para formação, promoção do emprego jovem (desenvolvidas por 100% das empresas inquiridas), e também a dinamização da economia local O sector da Construção encontra-se num está- gio um pouco menos maduro que o do Petró- leo e Gás. Apesar de possuírem uma actuação abrangente em termos de áreas de actuação e de demonstrarem práticas de comunicação e alinhamento com os princípios do Global Com- pact, verifica-se uma elevada divergência entre empresas deste sector, reflectindo-se numa ava- liação geral pouco consistente. Por outro lado, a maior parte das empresas analisadas ainda não tem uma abordagem estratégica relativamente às iniciativas de responsabilidade social, facto que é reflectido na percentagem de empresas deste sector que declara ainda não ter uma es- tratégia de RSE. Por outro lado, estes temas es- tão ainda associados às áreas de comunicação e marketing, e consequentemente menos in- tegrados nas práticas de gestão e negócio das empresas. 15Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola No sector da Banca, que está alinhado em ter- mos de maturidade com o sector da construção, os temas de responsabilidade social empresarial são tipicamente da responsabilidade das Direc- ções de Comunicação, Marketing ou ainda asso- ciados a Fundações que implementam a estra- tégia delineada. Existe um alinhamento parcial com os princípios do Global Compact e quase total com as áreas de actuação definidas como materiais. Em termos de comunicação, o sector, na sua grande maioria demonstra pouca proac- tividade, demonstrado pela baixa percentagem de empresas deste sector que comunicam as suas práticas. Sector Banca – Factos Chave • 33% das empresas do sector declara conhecer totalmente e assegurar o cumprimento dos princípios do Global Compact, sendo que as restantes declaram conhecer parcialmente • 33% das empresas deste sector tem um departamento de Sustentabilidade ou de Respon- sabilidade Social Empresarial para liderar estes temas • As iniciativas de RSE mais transversais às empresas deste sector são iniciativas destinadas aos colaboradores, nomeadamente no âmbito da formação e saúde. Para a comunidade, revelam fazer um forte investimento na cultura. Todas as empresas analisadas referem ain- da promover a transparência e a ética na condução do negócio. Sector Transportes – Factos Chave • As empresas consultadas referem conhecer parcialmente os princípios do Global Compact; • As empresas consultadas não têm uma área ou departamento específico de responsabili- dade social empresarial ou de sustentabilidade; • As iniciativas desenvolvidas por todas as empresas da amostra prendem-se com escolarida- de, alfabetização e promoção da saúde materna. • As áreas de maior investimento são a Educação, Saúde, Cultura, Ambiente e Desenvolvi- mento económico (representam cerca de 14% do orçamento destinado a RSE das empresas do sector) O sector dos Transportes apresenta menos ma- turidade na definição de uma estratégia de RSE, não existindo ainda em muitos casos a atribui- ção formal destas competências na estrutura organizacional. As iniciativas desenvolvidas ain- da não cobrem a totalidade dos temas materiais nem reflectem totalmente as expectativas dos stakeholders. A comunicação que é feita das ini- ciativas é também ainda muito incipiente. De notar ainda que relativamente aos outros sectores, cuja análise não foi realizada de forma desagregada por ausência de representativida- de (eque é composto por empresas do sector das Telecomunicações, Bebidas, Seguros, Minei- ro, Infra-estruturas e Agro-Indústria), verifica-se que relativamente às empresas analisadas, em termos médios, já existe um nível de maturidade significativo assim como práticas de responsabi- lidade social empresarial bastante abrangentes. Nestes sectores existe uma grande disparidade entre as empresas e sectores que representam, no que diz respeito à maturidade dos temas de RSE. De forma geral, a comunicação nestas or- ganizações é também ainda incipiente. 16 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola 2 Enquadramento 2.1 O que é a esponsabilidade Social Empresarial Apesar do conceito estar a ser trabalhado des- de os anos 70, não existe uma definição única que seja universalmente aceite. No entanto é consensual que resulta de um equilíbrio e pre- ocupação equitativa entre as três dimensões fundamentais para o desenvolvimento econó- mico, promoção social e preservação ambiental. Neste sentido, o conceito assenta nos seguintes pressupostos: • Gestão responsável para com os colabo- radores - deve ser assegurado o adequado governo corporativo, com princípios éticos e de transparência, as condições e direitos laborais dos colaboradores e a sua formação e oportunidades de desenvolvimento; • Envolvimento com os stakeholders internos e externos – manter um diálogo próximo e cooperante com os principais grupos de stakeholders, auscultando as suas principais expectativas; • Desenvolvimento económico a nível local e nacional – promover o desenvolvimento económico através da contratação de mão- de-obra local, selecção de fornecedores lo- cais e geração de negócios de suporte; • Compromisso para com a sociedade onde se insere – desenvolver prioritariamente projectos com elevado retorno e impacto social. • Respeito na utilização dos recursos natu- rais e na minimização dos impactos – criar a consciência do impacto que os negócios causam na utilização dos recursos naturais, seja pela sua degradação ou uso insusten- tável. A perspectiva integrada destes aspectos torna necessariamente a gestão de empresas mais responsável, com uma visão holística dos princi- pais riscos e oportunidades ao nível social, eco- nómico e ambiental. O World Business Council for the Sustainable Development (WBCSD) (Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentá- vel) define responsabilidade social empresa- rial como: ”o compromisso das empresas para contribuir para o desenvolvimento económico sustentável, enquanto, aumentam a qualidade de vida dos seus colaboradores e suas famílias, bem como da comunidade e sociedade em ge- ral”. A Comissão Europeia define Responsabilidade Social Empresarial como “a responsabilidade das empresas pelos seus impactos na sociedade, e pelo desenvolvimento de um processo para integrar as considerações sociais, éticas, direitos humanos e preocupações dos consumidores na estratégia de negócio e nas operações”. Na perspectiva das Nações Unidas o conceito de RSE pode ser interpretado à luz dos princípios do Global Compact. (ver caixa) Entendido como um mecanismo para o pro- gresso social, a RSE ajuda as empresas a alcança- rem as suas responsabilidades como cidadãos globais e a adaptarem-se a um mundo em mu- dança, não devendo ser confundido com o de- ver ético moral, caridade ou simples filantropia. O que são os Princípios do Global Compact? Os princípios do Global Compact, defini- dos pelas nações unidas, desafiam as em- presas a aceitarem, apoiarem e aplicarem, dentro da sua esfera de influência, um conjunto de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, padrões de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. 17Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Na perspectiva das Nações Unidas o conceito de RSE pode ser interpretado à luz dos princípios do Global Compact. (ver caixa) Entendido como um mecanismo para o pro- gresso social, a RSE ajuda as empresas a alcança- rem as suas responsabilidades como cidadãos globais e a adaptarem-se a um mundo em mu- dança, não devendo ser confundido com o de- ver ético moral, caridade ou simples filantropia. O desafio da Responsabilidade Social Empre- sarial A RSE está na ordem do dia a nível nacional e internacional, e os desafios sociais, económicos e ambientais que afectam os países em desen- volvimento têm impacto directo na capacidade competitiva das empresas em se posicionarem num mercado global e sem fronteiras. Neste ca- pítulo, Angola e as empresas Angolanas, têm a oportunidade de reforçarem a sua imagem ao nível das questões dos direitos humanos, prá- ticas laborais e preservação ambiental. Simul- taneamente, as empresas Angolanas assumem cada vez mais uma posição activa enquanto in- vestidores nos mercados internacionais, contan- do já com participações relevantes em grupos empresariais fora de Angola. Este facto reforça a necessidade de Angola assumir o seu papel na responsabilidade social empresarial. Em Angola, as pressões para o desenvolvimen- to sustentado e sustentável colocam desafios para os quais as empresas necessitam cons- truir uma resposta, estruturada e consistente. A diversificação da economia, as necessidades de formação e especialização dos recursos hu- manos, o desenvolvimento e a construção de infra-estruturas, a evolução da legislação, a cres- cente pressão dos clientes, o acesso a recursos e matérias-primas ou a inclusão dos cidadãos na economia formal, são apenas alguns dos desa- fios, aos quais as empresas mais competitivas, conseguem hoje, dar uma resposta coerente e sofisticada. Alguns dos desafios que as empresas enfrentam na definição e implementação de uma estratégia de responsabilidade social, relacionam-se com os seguintes aspectos: • Identificação dos parceiros adequados; • Obtenção de linhas de orientação prioritárias; • Monitorização dos projectos; • Avaliação da viabilidade do projecto; • Sustentabilidade de longo prazo; • Aprovação dos órgãos governativos; • Inexistência de infra-estruturas de suporte. A proposta de valor da Responsabilidade So- cial Empresarial A origem da responsabilidade social empresarial nasce do sentimento de “obrigação moral” por parte das empresas, de devolver ou distribuir à comunidade parte dos resultados do negócio, como contrapartida da utilização dos recursos humanos, naturais, materiais e financeiros das regiões onde se inserem. Os desafios sociais que se vivem em Angola ao nível da pobreza, saúde, educação, infra-estruturas, igualdade do géne- ro, jovens, desenvolvimento económico, entre outros, fazem com que as organizações tenham cada vez mais consciência dessa responsabilida- de, alocando parte dos seus orçamentos anuais a estas questões. Nesta perspectiva, é de rele- var o compromisso das empresas em contribuir 18 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola para estas causas e, em muitos casos, já existe consciência que a RSE deve constituir não só um investimento social com retornos para o desen- volvimento da sociedade, mas também para as empresas a médio-longo prazo. Em que se materializa uma estratégia de Responsabilidade Social Empresa- rial? A agenda de RSE inicia-se com o compro- misso de incorporação dos aspectos am- bientais, sociais, económicos e éticos na estratégia de negócio. Estende-se à forma como estes aspectos podem influenciar o negócio e os stakeholders relevantes • Ganhos reputacionais e fortalecimento das relações com os stakeholders – Os ganhos reputacionais e de notoriedade da marca junto aos stakeholders chave, como as co- munidades locais, autoridades e clientes, e atribuir valores de responsabilidade social à marca. Por outro lado estas acções per- mitem também estreitar os laços com estas partes interessadas; • Inovação e desenvolvimento – A oportuni- dade de apostar em inovação, ao nível dos produtos e serviços prestados comcarac- terísticas de responsabilidade social (como por exemplo produtos financeiros de micro- crédito ou microseguro) e o desenvolvimen- to e procura de modelos de negócio que garantam a criação de valor nos diversos pilares; • Gestão de risco – A integração dos aspectos de responsabilidade ambiental e social na estratégia de gestão de risco é também uma oportunidade para considerar aspectos me- nos tradicionais na gestão de risco, como os riscos das alterações climáticas ou da dispo- nibilidade de recursos naturais; • Atracção e retenção dos colaboradores – Num mercado onde a competitividade pe- los recursos humanos é elevada, observa-se cada vez mais um interesse por empresas que partilham valores e uma cultura empre- sarial de responsabilidade social. • Potenciar o crescimento do mercado – No contexto económico e social de Angola, a responsabilidade social empresarial é tam- bém vista como um meio para potenciar o desenvolvimento económico, nomeada- mente nas regiões onde as organizações estão presentes por exemplo através da criação de emprego ou da contratação de fornecedores locais. 2.2 O contexto Internacional A nível internacional, as pressões em direcção ao desenvolvimento sustentável também se fazem sentir cada vez mais pelas organizações, governos e agências internacionais de promo- ção de desenvolvimento. Angola tem vindo a dar um conjunto de passos importantes, ao assumir perante estes agentes, o compromisso de promover o desenvolvimento social estabe- lecendo metas e objectivos concretos a médio prazo. Angola assinou, em Setembro do ano 2000, conjuntamente com outros 190 Estados de todo o mundo a declaração do Milénio das Na- ções Unidas, tendo adoptado os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. O documento resultante da avaliação do progresso dos esta- dos membros, publicado em Setembro de 2005, reafirmou o compromisso conjunto das Nações Unidas e dos seus estados membros em atingir os objectivos até 2015. Ao nível das condições do trabalho, é de destacar o facto de Angola ter ratificado as oito convenções fundamentais da Organização Internacional do Trabalho (OIT), enquanto compromisso assumido pelo Execu- tivo para a melhoria das questões dos Direitos Humanos, Trabalho Forçado, Trabalho Infantil e Condições Laborais. 19Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Objectivos de Desenvolvimento do Milénio 1. Erradicar a Pobreza Extrema e a Fome 2. Atingir o Ensino Universal 3. Promover a Igualdade entre os géne- ros e Autonomia das Mulheres 4. Reduzir a Mortalidade Infantil 5. Melhorar a Saúde Materna 6. Combater o HIV/SIDA, Malária e outras Doenças 7. Garantir a Sustentabilidade Ambiental 8. Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento À semelhança de outras agências (fundos e pro- gramas) das Nações Unidas, o Programa das Na- ções Unidades para o Desenvolvimento (PNUD) deriva o seu Plano de Acção (CPAP) do UNDAF, documento quadro de cooperação no qual as Nações Unidas espelham a sua contribuição para com o Governo e o Povo de Angola, atra- vés do seu contributo específico para a imple- mentação das prioridades nacionais (PND). O programa do UNDAF (2009-2013) foi construído em torno de seis prioridades do plano nacional a médio prazo: • Promover a união e coesão social, consolida- ção da democracia e das instituições nacio- nais; • Garantir um desenvolvimento económico saudável, com estabilidade ao nível macro- económico e a transformação e diversifica- ção das estruturas económicas; • Promover o bem-estar social e desenvolvi- mento humano; • Estimular o desenvolvimento do sector pri- vado e o empreendedorismo nacional; • Promover o desenvolvimento equitativo do território nacional; • Promover a competitividade para inserir An- gola no contexto dos mercados internacio- nais. As Nações Unidas procuram, igualmente, in- fluenciar os agentes privados, nomeadamente as empresas, a actuarem mais proactivamente nestes temas. Uma das principais ferramentas para o fazer, são os Princípios do Global Com- pact, um conjunto de 10 princípios que definem linhas orientadoras de acção e zonas “proibidas” para empresas que visam estar alinhadas com a contribuição para o desenvolvimento económi- co, social e ambiental onde operam. Na esfera das questões ambientais, Angola tem demonstrado vontade em seguir a agen- da global para o desenvolvimento sustentável, através da adesão a compromissos internacio- nais de sustentabilidade ambiental, entre eles a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas; a Convenção de Viena sobre a Protecção da Camada do Ozono; a Con- venção das Nações Unidas de Combate à Seca e Desertificação; a Convenção sobre a Biodiversi- dade (UNCBD), entre outras. No âmbito da agenda internacional para as Alte- rações Climáticas, permanece o desafio do pro- tocolo de Quioto, no entanto, num futuro próxi- mo a revisão do mesmo, ou pós-Quioto, poderá implicar a obrigatoriedade de cumprimento de metas de redução de emissões de CO2 para os países em desenvolvimento. Por outro lado, o resultado da discussão relativamente aos mo- delos de financiamento ao desenvolvimento de uma matriz energética mais limpa em países em vias desenvolvimento, poderá também ter um impacto significativo na economia Angolana, contribuindo para a resolução do deficit ener- gético ao nível da produção e da elevada de- pendência de combustíveis fósseis. Estes compromissos têm vindo a ser materiali- zados a nível interno através da criação de me- canismos legais que visam promover o desen- volvimento de políticas e a regulamentação de actividades com elevado impacte ambiental. A efectividade da aplicação da legislação é apon- tada como um dos principais desafios sentidos actualmente. 20 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola 2.3 O contexto Angolano 2.3.1 Estratégia Nacional para o desenvolvimen- to A estratégia do Executivo Angolano está espe- lhada no Plano Nacional de Desenvolvimento de Médio Prazo (2013-2017), que tem o enqua- dramento estratégico de longo prazo estabele- cido pela Estratégia Nacional “Angola 2025”, que fixa as grandes orientações para o Desenvolvi- mento de Angola. O Plano Nacional de Desen- volvimento (PND) para 2013-2017, que inicia um novo ciclo da história, é o primeiro plano de médio prazo elaborado no quadro da nova Constituição do País e após a aprovação da Lei de Bases Gerais do Sistema Nacional de Plane- amento. Vem complementar o esforço que foi realizado para reconstruir o País, para uma fase de Modernização e de Sustentabilidade do De- senvolvimento, centrada na estabilidade e cres- cimento e na valorização do Homem Angolano. Esta valorização assenta, em primeiro lugar, na alfabetização e escolarização de todo o Povo Angolano, que são a base para a formação e qualificação técnico-profissional e formação superior dos seus Quadros, essenciais ao Desen- volvimento Sustentável e Equitativo de Angola. Objectivos Nacionais a médio prazo constantes do PND: 1. Preservação da unidade e coesão nacional; 2. Garantia dos pressupostos básicos necessá- rios ao desenvolvimento; 3. Melhoria da qualidade de vida; 4. Inserção da juventude na vida activa; 5. Desenvolvimento do sector privado; 6. Inserção competitiva de Angola no contexto internacional. É de salientar que, em 2012, a despesa social or- çamentada cresceu 1,6%, representando 33,3% do montante global de investimento, o dobro do que será gasto em segurança, defesa e or- dem pública. Os orçamentos da educação e da saúde aumentaram cerca de 10%. Após 30 anos de menor atenção durante a guerra civil, a edu- cação tem visto o investimento público aumen- tar. O Governo também ampliou o ensino técni- co e profissional com vista a resolver a massiva escassez de competências. 2.3.2 Desenvolvimento Económico O início do período de paz permitiu consolidar a unidade Nacional, perspectivando oportunida- des de crescimentofuturo, fortemente alicerça- do pela reconstrução do país, pela exploração das riquezas naturais e pelo aumento das ex- portações. Angola registou nos últimos anos um cresci- mento médio de cerca de 12% (fonte: Plano Nacional de Desenvolvimento), sendo que as previsões apontam para que este crescimento se mantenha. No entanto, a base da economia Angolana mantém-se maioritariamente assen- te nos sectores petrolíferos, diamantífero e de gás (sectores de capital intensivo), permitindo gerar riqueza disponível para financiar outros sectores da economia mais intensivos em mão- de-obra, contribuindo assim para melhorar os níveis de emprego. Fonte – Análise KPMG (Dados do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013 – 2017) 21Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Tabela 2 – Taxas de crescimento do PIB por sector (fonte: Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017) Diversificação Económica Nos últimos 5 anos, a economia de Angola cres- ceu a uma taxa média de 9,2% ao ano. Quando consideramos apenas a economia não petrolífe- ra, observamos que, a taxa média de crescimen- to foi de 12,0% neste período, tendo duplicado nos últimos 5 anos. O período entre 2009-2010, caracterizou-se por um decréscimo da produção petrolífera fruto da diminuição da procura, acompanhado pela redução do ritmo de crescimento de outros sec- tores importantes na estrutura do PIB, como o da agricultura e o dos serviços mercantis. Esta redução do ritmo de crescimento da economia trouxe grandes desafios à política económica (diversificação da economia, reformas estru- turais, gestão da dívida pública, controlo dos preços, gestão cambial, melhoria dos índices de competitividade externa, etc.), visto que não se podia desperdiçar os significativos ganhos económicos e sociais conseguidos nos anos precedentes. O sucesso de um amplo progra- ma do Governo implementado entre 2009 e 2012 que visou aliviar as pressões de liquidez, restabelecer a confiança do mercado, restaurar a excelente posição macroeconómica anterior à crise financeira mundial e realizar reformas estruturais importantes, apoiado pelo Fundo Monetário Internacional com base num acordo Stand-By (através do qual o Governo de Ango- la beneficiou de um financiamento de USD 1,4 mil milhões), e, em particular, a finalização de importantes investimentos, deu lugar ao ter- ceiro momento (2011-2012), caracterizado pela estabilização do ritmo de crescimento do sector não-petrolífero em torno de 9,5%, o que consti- tuiu evidência de que a economia não-petrolífe- ra está a ganhar níveis de sustentabilidade que lhe permitem apresentar um desempenho cada vez menos dependente do sector petrolífero. As actividades económicas que estão concen- tradas essencialmente em Luanda ( que conta actualmente com um terço da população), di- zem respeito a empresas do sector de serviços, construção, e transformação, que representa- ram cerca de 40% do PIB em 2012. O diagnós- tico sócio-económico do IBEP de 2008/9, indica que 36,6% da população vive abaixo da linha de pobreza de 2 USD/dia. Este número sobe para 58,3% na população rural, em comparação com 18,7% em áreas urbanas. Outras disparidades entre as populações urbanas e rurais incluem: 22 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola 1. Acesso à energia eléctrica (66,3% contra 8,6%); 2. Acesso regular ao abastecimento de água (59,7% contra 22,8%); e, 3. Saneamento básico (84,6% contra 31,1%). O Governo colocou em prática políticas públi- cas para contrariar o êxodo rural e estimular o emprego, mobilidade e reequilíbrio geográfico da população - inaugurando centros de forma- ção profissional, muitos em áreas rurais, em li- gação com o sector privado para programas de formação e estágio, que visa capacitar a classe jovem e estudantes universitários a obterem experiência no mercado de trabalho. Por outro lado, um dos objectivos das políticas nacionais do PND 2013-2017 é promover o surgimento de novas empresas de base nacional e apoiar as empresas de capitais maioritariamente Angola- nos a ultrapassar o desnível competitivo que as separa das concorrentes de referências interna- cionais. Potencialidade e Debilidades por Sectores Agricultura + Potencialidades • Cluster agro-alimentar considerado prioritá- rio, solos de elevada aptidão agrária e eleva- da biodiversidade; • Abundantes recursos hídricos; • Elevada proporção da população cuja acti- vidade está directamente relacionada com a produção agrícola. - Debilidades • Produção agrícola de subsistência praticada por camponeses com baixo nível de forma- ção ou literacia; • Existência de minas em determinadas re- giões que desaceleram o desenvolvimento agrícola; • Baixa produtividade agrícola e falta de expe- riência no sector empresarial. Petróleo + Potencialidades • Grandes reservas de recursos petrolíferos por explorar e descoberta de novos campos de produção, incluindo no pré-sal; • Elevado potencial para a produção de for- mas alternativas de energias renováveis bem como de LNG; • Aumento da capacidade de refinação com a construção e operação da Refinaria do Lobi- to. - Debilidades • Ausência de integração do Plano Director da Rede de Distribuição do Sector Petrolífero (PDR); • Escassez de recursos financeiros para o de- senvolvimento da estratégia dos Biocom- bustíveis; • Ocorrências de avarias mecânicas e outras em algumas unidades de processamento bem como de paragens de emergência de algumas plataformas, deposição de con- 23Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola sectores pertinentes; • Problemas recorrentes nos desalfandega- mentos de equipamentos por falta de defi- nição dos respectivos processos; • Necessidade de concluir a Reforma Tributá- ria e de celebrar acordos para evitar a dupla tributação com os principais países fonte de investimento directo estrangeiro (IDE). Comércio + Potencialidades • Lançamento do Programa Nacional de Pla- taforma Logísticas; • Organização do Comércio Rural; • Programa “Train for Trade” para desenvolver a capacidade de negócios. - Debilidades • Escassez de quadros com formação acadé- mica qualificada, capacidade financeira, co- densados e hidratos em linhas de gás de elevação. Geologia e Minas + Potencialidades • Grande potencial diamantífero já descober- tos e ainda por descobrir; • Possibilidade de escoamento de minério pe- las vias marítimas e ferroviárias. - Debilidades • Insuficiente cobertura e conhecimento do parque geológico do País; • Escassez de infra-estruturas geológicas e de transporte (ramais ferroviários); • Insuficiência de meios técnicos, materiais e humanos para o cumprimento integral das tarefas relacionadas com a fiscalização mi- neira e ambiental. Indústria Transformadora - Potencialidade • Orientações do Executivo para o desenvol- vimento sustentado da indústria transfor- madora no período de 2013-2017 focado na inovação das competências e na coopera- ção intersectorial; • Condições adequadas para implementação de pólos de desenvolvimento industriais; • Reabilitação de infra-estruturas, com desta- que para estradas, caminhos-de-ferro, pon- tes e de fontes de fornecimento de energia eléctrica e água; • Lançamento de novos programas de finan- ciamento às MPME. - Debilidades • Insuficiência de escolas, centros de forma- ção, centros de competências e de inovação, incubadoras de empresas e outros instru- mentos de apoio ao desenvolvimento das empresas industriais nacionais; • Falta de um Plano e de Programas estratégi- cos para a industrialização de Angola, a mé- dio e longo prazo, em sintonia com outros 24 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola mercial, profissional, vocação e/ou cultural comercial na maioria dos comerciantes e de agentes económicos locais; • Ausência de um Fundo de Garantia de Cré- dito à Actividade Comercial; • Inexistência de Quadro Jurídico-Legalde alienação de Imóveis do sector do comércio, ainda propriedade do Estado para reforço da capacidade de negociação patrimonial dos comerciantes Angolanos Saúde + Potencialidades • Municipalização dos Serviços de Saúde, pro- movendo intervenções integradas e em arti- culação com as Políticas Públicas e financia- mento para os cuidados primários de saúde prestado directamente aos Municípios; • Existência em todas as Províncias de Mapas sanitários utilizadas como ferramenta para o desenvolvimento e gestão da rede sanitária. - Debilidades • Grande escassez e distribuição assimétrica de recursos humanos qualificados, a todos os níveis, insuficiente cobertura sanitária e dificuldade na manutenção das unidades de saúde existentes; • Elevadas taxas de mortalidade materna, in- fantil e infanto-juvenil, assim como elevado nível de malnutrição em menores de 5 anos; • Alta incidência de doenças crónicas não transmissíveis, infecciosas e parasitárias, com destaque para as grandes endemias, doenças respiratórias e diarreicas bem como a persistência de surtos de Cólera, Raiva e Sarampo. Educação + Potencialidades • Implementação da Iniciação Escolar e alar- gamento da Escolaridade obrigatória; • Forte aposta no desenvolvimento do ensino técnico profissional. - Debilidades • Elevada taxa de analfabetismo, em particu- lar nas zonas rurais; • Dificuldade em recrutar docentes nacionais para as disciplinas técnicas profissionais; • Falta de condições mínimas nos espaços educativos para o desenvolvimento no pro- cesso educativo. Água + Potencialidades • Existência de 47 bacias hidrográficas princi- pais; • Perspectiva de expansão do fornecimento de água potável a toda a população; • Existência do Programa “Água para Todos”. - Debilidades • Inadequado mecanismo de fixação de pre- ços; • Dependência do mercado externo para a aquisição de matérias e equipamentos, 25Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola acessórios e peças; • Insuficiência de quadros técnicos e recursos locais, dificultando a gestão e a sustentabili- dade dos sistemas instalados. Construção + Potencialidades • Melhoria substancial das infra-estruturas ro- doviárias na maior parte do território nacio- nal, permitindo o restabelecimento da circu- lação entre todas as capitais provinciais; • Cluster Habitação considerado prioritário e disponibilidade de reservas fundiárias; • Necessidade de completar a rede nacional de estradas, em particular das vias de liga- ção municipal e comunal. - Debilidades • Escassez de mão-de-obra nacional qualifica- da; • Existência de minas em regiões destinadas a projectos de construção; • Reduzida oferta nacional de materiais locais de construção, com forte repercussão nos custos das obras. Telecomunicação e Tecnologia de Informa- ção + Potencialidades • Rápida expansão da procura de TIC’s (Tecno- logia de Informação e Comunicação), a nível individual, empresarial ou institucional; • Implementação do Programa de Governo Electrónico; • Operacionalização dos conceitos de “Cor- reio de Proximidade” e de “Estações Multi- funcionais”, que poderão funcionar como importantes ferramentas para a fixação das populações nas suas áreas de origem. - Debilidades • Escassez de recursos humanos, em qualida- de e quantidade nas especialidades do Sec- tor; • Escassez de infra-estruturas postais em todo o País assim como insuficiência de meios rolantes tecnológicos para o transporte de malas postais e distribuição de correspon- dência; • Ausência de integração cooperativa com outras entidades que executam programas de infra-estruturas semelhantes às do sector e dificuldades na aquisição dos direitos de passagem e de superfície. Transportes + Potencialidades • Sector considerado prioritário com impor- tantes projectos estruturantes aos níveis de estrutura, sistema e logística; • Relançamento do sector marítimo nacional, para o transporte marítimo internacional e nacional; • Expansão de acordos políticos com a Comu- nidade de Desenvolvimento da África Aus- tral (SADC) e a Comunidade Económica dos 26 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Estados da África Central (SADCE). - Debilidades • Conservação precária nas infra-estrutu- ras; • Ausência de infra-estruturas e equipa- mentos de suporte aos transportes públicos co- lectivos de passageiros; • Situação deficitária das empresas do sector do transporte. Emprego Apesar de a economia estar ainda fortemen- te alavancada no sector petrolífero, este é um sector essencialmente de capital intensivo, ver- ticalizado e sem grandes ligações directas com a economia real, empregando menos de 1% da força de trabalho total. Tal facto não potencia a diversificação económica e a tão necessária cria- ção de emprego. A taxa de desemprego está es- timada em cerca de 26% em 2012 (Fonte: Africa Economic Outlook). Como resultado do nível de lacunas de compe- tências face aos requisitos do mercado de tra- balho, a maioria da mão-de-obra qualificada em Angola é proveniente de outros países, apesar do sistema de quotas para salvaguardar o em- prego de cidadãos nacionais. Angola ocupa um lugar baixo no Relatório Doing Business 2012, do Banco Mundial, o 178º lugar no item “empregar trabalhadores”, o mais baixo da África Subsaaria- na. O crescimento económico e a mudança da composição do PIB nacional, tem ocorrido pelo crescimento e desenvolvimento de sectores mais empregadores como o da construção ci- vil, agro-pecuário e serviços, afectando direc- tamente na expansão do emprego no período de 2000 a 2008, de acordo com o Relatório de Progresso dos Objectivos de Desenvolvimen- to do Milénio, de 2010. O crescimento paralelo das actividades do sector informal na economia Angolana agrega desde trabalhadores autóno- mos, a micro-empresas informais do comércio, pequenos serviços e vestuário. A proporção de desempregados regista contu- do grandes assimetrias espaciais, sendo que os números demonstram que é mais acentuado no meio urbano. Este facto pode ser explicado pelo êxodo rural da população das províncias para a capital, à procura de melhores oportunidades de vida. Por outro lado, também segundo o Inquérito In- tegrado sobre Bem-Estar da População (IBEP), a proporção de trabalhadores por conta própria e de trabalhadores não remunerados foi de 66%, dos quais 87% pertencem ao meio rural. Além disso, como seria esperado, o trabalho por con- ta própria e familiar é ainda mais acentuado nas mulheres e nos trabalhadores mais idosos. Nos dias actuais de paz, alguns cidadãos já come- çam a regressar às suas províncias de origem, porém algumas províncias ainda não possuem as mesmas estruturas e oportunidades como as da capital. Algumas empresas estão a criar condições de emprego e desenvolvimento no sector de agricultura, porém, a falta de mão-de- obra, a falta de meios de transporte de merca- dorias e o longo processo de desminagem em certas regiões, são os principais desafios para o desenvolvimento no sector agrícola. Combate à Pobreza e Fome Apesar dos progressos substanciais verificados na melhoria das condições sociais desde 2002, o país ainda enfrenta enormes desafios na redu- ção da pobreza e melhoria do desenvolvimento humano. Até 2015 o governo Angolano pretende di- minuir para 34%, a percentagem da popu- lação que vive abaixo da linha da pobreza, sendo que em 2001 essa percentagem foi de 68% e em 2009 de 36,6%. Fonte: IBEP (2008-2009) 27Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola A pobreza continua a ser um grande desafio para o Governo Angolano e sociedade em geral, mas dados recentes revelam um progresso sig- nificativo neste campo, no entanto, as regiões rurais apresentam piores índices de pobreza do que as regiões urbanas. Segundo os resultados do IBEP (2008-09), a proporção de pessoas com rendimento inferior a 2USD por dia, passou de 68% em 2001,para 37% em 2009. A percentagem de pessoas que comem menos de 3 refeições por dia na região urbana, é quase o dobro do que na região rural, sendo que 51% da população Angolana se en- contra nesta condição. A fome e a má nutrição infantil continuam a ser problemas críticos para o desenvolvimento eco- nómico e social de Angola que só são comba- tidos eficazmente através de uma abordagem multissectorial e multidisciplinar, como é o caso do Programa Integrado de Combate à Pobreza e Desenvolvimento Rural que visa combater três problemas nacionais inter-relacionados: Pobre- za, Subnutrição e Baixa Produtividade da agri- cultura. Temas como o acesso a alimentação e a servi- ços públicos essenciais no meio rural irão pro- mover a atracção da população que antes teria procurado melhores condições na capital ou em regiões urbanas, agora com condições de se manterem com as suas famílias na região rural e contribuírem para o seu desenvolvimento. Promover o empreendedorismo social e o crédi- to rural, possibilitará à população localizada em regiões rurais, desenvolver um negócio susten- tável para a sua família. O aumento da alfabeti- zação através da melhoria do acesso ao ensino primário e secundário, serão a base para que a população tenha capacidade de resposta e se- guimento aos projectos de desenvolvimento do país. Figura 6 – Modelo do Programa Integrado de Combate à Pobreza e ao Desenvolvimento Rural (fonte: Ministério do Planeamento) 28 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Segurança Alimentar e Agricultura O conflito em Angola, provocou a destruição física das infra-estruturas de apoio à produção agropecuária, bem como a desestruturação das famílias rurais e dos seus rendimentos, contri- buíram para a redução drástica dos níveis de produção agrícola. As práticas incorrectas de cuidados alimentares, o fraco conhecimento do valor nutritivo de alguns alimentos e o deficien- te acesso aos serviços de saúde são temas que afectam negativamente a saúde da população e, consequentemente, o desenvolvimento do sector alimentar nacional. O Governo tem em vista o aproveitamento do enorme potencial hídrico através do Plano Na- cional de Irrigação que visa a planificação e a gestão integrada desses recursos para a pro- dução agro-alimentar e industrial, para além do objectivo de implementar programas para facilitar o acesso dos produtores rurais a crédi- tos financeiros (contribuindo directamente para a melhoria das condições de vida das comu- nidades), através da extensão dos serviços de educação, da saúde, da promoção da habitação condigna, água potável, electricidade e sanea- mento básico. Angola desenvolveu a sua Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (ENSAN) que visa promover uma abordagem ampla e transversal da complexa questão de inseguran- ça alimentar. O objectivo comum do Governo, sociedade civil e do sector privado, é de alcançar a erradicação da fome e a redução significativa da pobreza em Angola. A ENSAN está articulada com programas como Estratégia de Combate à Pobreza e o Programa Integrado de Combate à Pobreza e Desenvolvimento Rural. Desenvolvimento Rural O Programa de Extensão e Desenvolvi- mento Rural (PEDR), que visa apoiar as explorações agrícolas familiares, per- mitiu aumentar as áreas cultivadas e as áreas em produção. Dados recentes mostram uma evolução na área cultiva- da de 3.054 mil hectares e de produção de 11.363 mil toneladas em 2005/2006, para 4.556 mil hectares de área cultivada e 20.394 mil toneladas de produção em 2010/2011. (in: Programa de Governação 2012-2017) 29Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Acesso a Água, Energia e Saneamento O acesso a água potável, a segurança do seu abastecimento e a energia eléctrica, são temas fulcrais em termos de desenvolvimento econó- mico, pelo impacto que têm ao nível da quali- dade de vida das comunidades e do funciona- mento e competitividade das empresas. Angola registou um avanço significativo no abasteci- mento de água potável às populações nos prin- cipais centros urbanos, suburbanos e rurais. É de se destacar a implementação do programa “Água Para Todos” que apresenta uma cobertura de 47,5% da população rural. O Plano Nacional do Desenvolvimento pretende assegurar a ges- tão integrada dos recursos hídricos com a cria- ção de entidades de gestão das bacias prioritá- rias com planos directores e a implementação de tarifas adequadas que permita a cobertura dos custos de operação para garantir a sus- tentabilidade do serviço público. O objectivo é promover o desenvolvimento e a gestão dos recursos hídricos, do uso do solo e afins, com o objectivo de maximizar o bem-estar económico e social sem comprometer a sustentabilidade dos ecossistemas e do meio ambiente, através de uma Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH). A disponibilidade e a qualidade de água potável são dos factores que mais contribuem para os elevados índices de doenças que ocorrem em Angola, e que são, na sua maioria, doenças mor- tais. A deficiência ou inexistência de infra-estru- turas de água e saneamento traduz-se na neces- sidade das populações acederem a este recurso de forma precária e sem condições mínimas de segurança e higiene. As empresas conscientes desta realidade precária, investem em projectos de cariz social, através da construção de redes de distribuição de água e saneamento comu- nitário, essencialmente em zonas suburbanas e rurais, onde as condições são piores. A segurança energética tem sido definida como o acesso a serviços de energia confiáveis e aces- síveis para garantir as actividades das famílias e empresas, tais como aquecimento, iluminação, comunicações e usos produtivos (Nações Uni- das), e como “a disponibilidade física ininterrup- ta de energia a um preço que é acessível, respei- tando as preocupações ambientais”. Entre 2002 e 2011, a produção de energia eléc- trica aumentou 3,2 vezes. Este aumento deveu- se à construção e início de funcionamento do Aproveitamento Hidroeléctrico de Capanda. Contudo, a percentagem de população com acesso a energia eléctrica continua baixo (cerca de 30%) e ainda muito concentrada na Provín- cia de Luanda. As prioridades traçadas no Pla- no Nacional do Desenvolvimento no sector da energia são: aumentar a capacidade de produ- ção, com o recurso à recuperação e construção de novas centrais hidroeléctricas e termoeléctri- cas; desenvolver a Rede Nacional de Transporte, com a reabilitação e construção de linhas e su- bestações, incluindo a interligação Norte – Cen- tro – Sul e promover a reabilitação e a constru- ção de redes de distribuição de energia eléctrica 30 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola nas áreas urbanas, suburbanas e rurais, com o recurso a soluções técnicas mais económicas. O objectivo é garantir o abastecimento de água e energia a 80% das cidades, até 2017. A disponibilidade e interrupção do forneci- mento de energia representam actualmente um desafio para os cidadãos e uma barreira ao crescimento e expansão das empresas a operar em Angola. O acesso à energia condiciona os padrões de qualidade de vida e bem-estar que os cidadãos e a sociedade construíram, uma vez que tudo depende de energia: as comunica- ções, as indústrias, os transportes, os produtos, os serviços e as empresas. A capacidade insta- lada para suprir a procura de energia, é actual- mente insuficiente para suprir as necessidades. Água e Energia O programa “Água para Todos” beneficiou cerca de 1.200.000 pessoas com água po- tável. O reforço na reabilitação das barragens do Gove, Mabubas, Lomaum e Cambam- be, permitiu um aumento da capacidade de energia eléctrica em Angola em 295,6 MW. (in: Programa de Governação 2012-2017) Acesso a novas tecnologias O acesso às novas tecnologias de comunicação é também crucial para o desenvolvimento de um país, contribuindo grandemente para a in- clusão sociale tecnológica. No caso de Angola, a taxa de acesso à rede fixa é praticamente nula. Das linhas telefónicas existentes, 79,4% encon- tram-se na área urbana 18,1% na área rural. (fonte: Relatório de Progresso dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, de 2010). De acordo com dados da International Telecom- munication Union (ITU), a taxa de penetração de dos serviços móveis em 2011, foi de aproxima- damente de 50% da população com acesso a telemóvel. É de salientar ainda a evolução das empresas que prestam serviços de internet que registou um aumento de 369% entre 2009 e 2011 (fonte: Ministério do Planeamento). A capacitação da população no sector da in- formática, como a inclusão digital, permite que ocorra o desenvolvimento para a introdução de novas tecnologias no país. O Plano Nacio- nal do Desenvolvimento tem como prioridades assegurar a expansão de qualidade às infra-es- truturas de suporte de serviços de informação e comunicação, em todas as regiões do país a preços acessíveis para a população, promover o desenvolvimento da sociedade por meio do combate à exclusão digital e à expansão dos projectos de governação electrónica e assegu- rar a formação de quadros com qualidade para que eles possam estar aptos para capacitar e da- rem sustentabilidade no programa nacional do Governo. Capacidade Institucional A capacidade institucional para assegurar a efectiva implementação das políticas de Exe- cutivo em todas as áreas, é frequentemente re- ferida como um dos riscos e desafios mais sig- nificativos no desenvolvimento sustentável de Angola. 31Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola A capacidade institucional, a formação e o nível de escolaridade são apontados como os maiores riscos ao êxito do desenvolvimento económico sustentável, e têm sido foco de preocupação crescente do Governo de Angola. A educação é a base para uma sociedade mais humana, sau- dável e capaz de enfrentar os desafios futuros nas suas diferentes dimensões. Figura 7 – Factores mais problemáticos para a realização de Negócios em Angola (Fonte: World Bank – The Competivness Development Report 2011-2012) Desenvolvimento Económico – Principais Desafios • Diversificação regional e sectorial de uma economia fundamentalmente dependente do petróleo e indústria extractiva, fomentando o desenvolvimento do 3º sector (para além da construção) • Capacitação e formação das pessoas a todos os níveis de escolaridade para que consigam responder aos desafios da sociedade • Desenvolvimento de um sector agrícola que promova o desenvolvimento rural, a fixação e desenvolvimento destas comunidades, lançando a base para o desenvolvimento de uma economia local que contribua para a redução dos níveis de pobreza e fome • Promoção de condições económicas para a empregabilidade, sobretudo, dos jovens atra- vés de programas de formação e capacitação, superior e tecnológica • Ajustamento do desenvolvimento de infra-estruturas como estradas, sistemas de trata- mento e distribuição de água, electricidade e saneamento básico às necessidades da eco- nomia crescente • Garantia da existência de processos de governação transparentes, eficazes que promo- vam a competitividade económica de Angola e a sua capacidade para atrair investimento e empresas estrangeiras Segundo um estudo do World Bank, a seguir à falta de mão-de-obra qualificada, a burocracia associada aos processos governativos é um dos principais entraves à competitividade económi- ca de Angola e à sua capacidade para atrair in- vestimento e empresas estrangeiras. 32 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Objectivos do PND 2013-2017 para o Desenvolvi- mento Económico: • Aumentar para 2.200 as empresas criadas com capital maioritariamente Angolano com programas de apoio aos empreende- dores, operacionalizar o fundo de fomento empresarial, reforçar o sistema de Microcré- dito, adoptar medidas especificas de apoio à criação e competitividade de empresas Angolanas, estruturar e apoiar a entrada em funcionamento de escolas do empreende- dor e introduzir mecanismos de apoio às empresas Angolanas e de controlo das im- portações; • Aumentar a taxa de crescimento do PIB não petrolífero para 10,4% até 2017. Serão ela- boradas estratégias para a diversificação da economia, assegurar a coordenação entre os investimentos públicos e privados, realizar estudos sectoriais sobre a cadeia de valor, em particular, para os clusters prioritários; • Aumentar a taxa geral de emprego para 75% até 2017, adoptando medidas legais que permitam o acesso predominante de Angolanos aos postos de trabalho que exi- jam altas qualificações, estabelecer meca- nismos de consulta e orientação vocacional e profissional e combater o desemprego de longa duração. 33Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola 2.3.3 Desenvolvimento Social Saúde O Governo tem um forte compromisso com o in- vestimento no sector de saúde, nomeadamente em infra-estruturas. No entanto, ainda é fragili- zado por graves carências de técnicos de saúde qualificados, se traduz num acesso reduzido da população a serviços de qualidade. Actualmen- te, apenas 30% da população tem acesso aos serviços de saúde. Dados recentes mostram um bom progresso nos últimos 10 anos em diversas áreas. A esperança de vida à nascença foi revista em alta para 52 anos contra 46 anos em 2000; a mortalidade materna diminuiu de 880 para 610 mortos por cada 100.000 nados vivos; a taxa de mortalidade infantil de menores de cinco anos decresceu de 21,2% para 16,1%; e prevalência de crianças com subnutrição em menores de 5 anos diminuiu de 37% para 27,5%. Estes indicadores, por serem multidimensionais e dependentes de inúmeros factores socioe- conómicos como nutrição materna e infantil, vacinação, habilitações literárias, condições de higiene e sanitárias, são chave na avaliação do nível de desenvolvimento de cada país. A luta contra a malária em Angola tem estado predominantemente centrada na prevenção, com significativas contribuições de ONG inter- nacionais. A malária é responsável por cerca O Governo Angolano tem delineado um programa de combate à mortalidade infantil que tem como principais eixos de actuação: Vacinação; Nutrição; Higie- ne e realização de campanhas de cons- ciencialização da população para com o tema, sendo que um dos objectivos do PND 2013-2017 é a redução significativa da mortalidade materna, infantil e infan- to-juvenil. de11% da mortalidade em crianças menores de cinco anos de idade, por 25% da mortalidade materna, e representa a principal causa de mor- talidade, doença e faltas ao trabalho e à escola. Os principais desafios para a redução de doen- ças entre as crianças são o esforço contínuo na vacinação das crianças que residem nas zonas rurais, na melhoria das condições de acesso à água potável e na ampliação dos investimentos das recolhas e tratamento de lixo melhorando o saneamento básico. Em termos de prevalência do HIV, Angola tem a menor taxa de prevalência da África Austral, com cerca de 2% da população adulta infecta- da, em parte explicado pela baixa mobilidade das populações nos últimos 30 anos. Embora existam Centros Médicos nas 18 capitais pro- vinciais de Angola, que fornecem terapias anti- retrovirais (ART), apenas 24% das pessoas infec- tadas pelo HIV estão actualmente a receber ART. Em 2011 estima-se que houve mais de 12 mil mortes relacionadas com a SIDA, e em relação às mulheres adolescentes estima-se que 120 mil mulheres com idade de 15 anos vivem com o vírus HIV. 34 Responsabilidade social empResaRial | Situação actual em angola Os programas de envolvimento das empresas na área da saúde estão essencialmente relacio- nados com a prestação de cuidados básicos de saúde e a programas de prevenção e combate à Malária e HIV-SIDA. A negligência inconsciente dos actos e comportamentos humanos, poten- ciam a proliferação de doenças graves