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Anais_do_II_Encontro_de_Musicologia_Hist


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ÍNDICE 
Apresentação 
Festival 
Revitalização do Acervo de Partituras da Socidade Musical 
Euterpe Itabirana 
Andre nero: COMA pas poianço aaa SEO da a 11 
Algumas Informações sobre a Música na Bahia no Período 
Colonial 
Harry Lanatt CrowiL csanasiaas esngineasinasina ines dunas adiadas 23 
A Confraria de Santa Cecília no Século XIX 
Martelo MONTEIRO ca asma pa ar O a 29 
Gabriel Fernandes da Trindade: Os Duetos Concertantes 
Pano COS siianDes da nonds single ias 64 
Uma Tablatura para Saltério do Século XIX 
Rogério BUS us inccasiei ines ion ind ass ea dl cepa 112 
|! ENCONTRO DE MUSICOLOGIA 
HISTÓRICA 
O patrocínio da PETROBRÁS para o VII FESTIVAL 
INTERNACIONAL DE MÚSICA COLONIAL BRASILEIRA 
E MUSICA ANTIGA e o Il ENCONTRO DE 
MUSICOLOGIA HISTÓRICA, realização do Centro 
Cultural Pró-Música de Juiz de Fora, comprova o 
interesse dessa importante empresa para evento cultural 
que registra pesquisa e divulgação do trabalho artístico 
musical do Brasil no século XVIII. 
|| ENCONTRO DE MUSICOLOGIA 
HISTÓRICA 
Mais uma contribuição do Centro Cultural 
Pró-Música de Juiz de Fora 
Desde a primeira edição do Festival Internacional 
de Música Colonial Brasileira e Música Antiga 
percebemos a necessidade de um espaço inteiramente 
dedicado àqueles que se ocupam com a pesquisa em 
música. À idéia de um encontro de musicologia surgiu do 
interesse crescente dos organizadores do Festival e dos 
estudiosos em criar um ambiente propício à troca de 
informações e à discussão de assuntos de interesse 
comum. 
O | encontro de Musicologia Histórica aconteceu 
em 94 e reuniu no Seminário da Floresta, em Juiz de 
Fora, alguns dos mais representativos estudiosos em 
música do Brasil e do exterior. O evento, paralelo ao 
Festival e transformado em bianual, teve nova edição em 
96. 
As comunicações apresentadas durante o Il 
Encontro chegam agora ao público. O objetivo da 
iniciativa é registrar e intercambiar informações, numa 
tentativa de minimizar o isolamento dos musicólogos em 
seus estudos. Esperamos que esta publicação seja 
seguida de muitas outras — a próxima em 98, com as 
pesquisas do terceiro encontro. 
A Direção 
Centro Cultural Pró-Música 
Festival 
Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música 
Antiga é um trabalho de resgate de parte da memória do Brasil, 
particularmente de Minas Gerais. A realização anual do Centro 
Cultural Pró-Música faz do estudo e divulgação da produção musical 
do século XVIII a oportunidade de traçar o panorama dos principais 
aspectos da época com destaque para os mestres, os instrumentos e 
a conjuntura social. 
Aos 500 alunos, número limitado pela coordenação do 
evento, são oferecidos cursos voltados à teoria e à prática do ensino 
de canto, instrumentos modernos e antigos, ministrados por músicos 
de projeção nacional e internacional. A troca de experiências entre 
estudantes e professores de diferentes formações se concentra nas 
oficinas de orquestra, espaço ideal para o trabalho de conjunto. Estas 
atividades vão resultar na gravação do CD. 
Os cinco Cds já editados, a partir de 92, registram peças dos 
compositores Emerico Lobo de Mesquita, João de Deus de Castro 
Lobo, Manuel Dias de Oliveira, Joaquim de Paula Souza, Ignácio 
Parreira Neves, Francisco Gomes da Rocha, José Maurício Nunes 
Garcia, José Joaquim de Souza Negrão e Theodoro Cyro de Souza. 
Nesta oitava edição, o Festival destaca peças de André da Silva 
Gomes e do Imperador D. Pedro 1. 
A pesquisa é outro segmento do Festival. Desde 1990, foram 
restauradas e divulgadas cerca de 30 obras, algumas inéditas. 
Musicólogos como Curt Lange (alemão que dedicou a vida à pesquisa 
da música colonial), Ivan Moody (inglês radicado em Portugal), 
Manuel Carlos de Brito (Portugal), Sérgio Dias (RJ), Maurício 
Monteiro e Paulo Castagna (SP) apresentaram estudos em anos 
anteriores. Em 94 e 96 aconteceram as duas primeiras edições do 
Encontro de Musicologia Histórica e entre as atividades do 8º Festival 
está o lançamento do livro que traz as comunicações feitas no Il 
Encontro. 
A programação cultural muda a rotina da cidade com a 
realização de concertos diários, em teatros e igrejas, e das audições 
públicas, em ruas e agências bancárias do centro. Grupos e 
orquestras de várias partes do país e do mundo participam da 
programação oficial, sempre com entrada franca. No palco, montado 
no calçadão da rua Halfeld, os alunos do Festival mostram suas 
experiências. As atividades culturais despertam a atenção de mais de 
150 mil pessoas a cada ano. 
REVITALIZAÇÃO DO ACERVO DE PARTITURAS 
DA SOCIEDADE MUSICAL EUTERPE ITABIRANA 
André Guerra Cotta”. 
Boa tarde a todos. Meu nome é André Guerra 
Cotta. Venho realizando, junto à Fundação Cultural 
Carlos Drummond de Andrade, em Itabira, o Projeto de 
Revitalização do Acervo da Sociedade Musical Euterpe 
Itabirana, que eu gostaria de apresentar-lhes hoje. 
Antes, porém, de falar do projeto e do acervo 
propriamente ditos, gostaria de fazer um pequeno 
preambulo. Trata-se do fato de que foi encontrado este 
documento", esta única página, nos restos da casa de 
uma fazenda próxima a Itambé do Matto Dentro. 
Itambé, como se sabe, foi um dos primeiros 
arraiais formados naquela região, ainda nos princípios do 
século XVIII. Segundo a história oral corrente naquele 
lugarejo, próximo ao qual ainda se encontram as ruínas 
desta fazenda, da qual não se sabe sequer o nome, 
morava a família de um fazendeiro riquíssimo, dizem, que 
* André Guerra Cotta é violonista e regente, formado pela Escola de Música 
da UFMG, onde atualmente é aluno do Curso de Especialização em 
Musicologia Histórica Brasileira. É regente do Coral da Fundação Cultural 
Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), em Itabira, MG, e do Coral do 
Jaraguá C. Clube, em Belo Horizonte. É pesquisador contratado pela FCCDA 
e participa, também como pesquisador, no projeto Recuperação do Acervo 
Musical dos Séculos XVIII e XIX em Diamantina, iniciativa da Escola de 
Música da UFMG, com o projeto integrado de pesquisa Criação do Acervo 
Digital de Documentos Musicais dos Séculos XVII e XIX. 
! Neste momento foi apresentada ao público uma imitação de manuscrito, 
através de um retroprojetor, de modo que pudesse ser vista por todos. 
11 
tinha uma intensa atividade econômica e social na região, 
mantendo inclusive uma orquestra de mulatos, na qual 
ele por vezes tocava. É possível imaginar, próximo a 
cachoeira do Jardim, de 50 metros de altura, cujas águas 
transformam-se em neblina antes mesmo de tocar o solo, 
os passeios, as festas campestres, com música de boa 
qualidade. Esta parte de tenor pode mostrar indícios de 
um serviço religioso requintado, talvez na capela da 
fazenda, pois trata-se de um Te Deum, como os 
senhores podem ver, 
Observem no verso: “Hé do Mel. P.Prado, que a 
copiou / Itambé do Matto Dentro / 31 de dezembro de 
1788” - são duzentos e oito anos de idade. Trata-se, 
seguramente, de uma parte de coro a quatro vozes, pois 
o título diz “Tenor a 4”. Observem os compassos iniciais 
de espera: 38 compassos, aos quais segue 
provavelmente um tutti vocal, seguido, no compasso 53 
por um solo do tenor. Que proporções são estas? Este Te 
Deum poderia ter um solo inicial de outra voz do coro... 
Deveria ter pelo menos duas trompas e talvez um belo 
acompanhamento de orquestra de cordas. Observem que 
o copista tinha algum talento. O latim é quase perfeito. 
Podemos encontrar algumas expressões 
“aportuguesadas”, como “Sabao”. À obra está escrita em 
sol maior, abusando da região aguda do tenor, como o 
la4 em semibreve, no compasso 57. Parece realmente 
tratar-se, na maior parte da obra, de uma escrita 
homofônica a quatro vozes, em estilo silábico, tão 
característico dos contemporâneos conhecidos deste 
autor anônimo”, 
2 Passado o documento ao público, protegido por um invólucro 
transparente, pedi que examinassem rapidamente e observei como 
as pessoas reagiam (em geral, com muito cuidado e espanto), como 
pegavam o manuscrito, etc.Depois de mostrar os pontos contidos neste parágrafo, pedi de volta 
o manuscrito, sob o protesto de alguns dos presentes, que disseram 
12 
Talvez os senhores considerem a possibilidade de 
minhas conjeturas estarem completamente erradas. Eu 
também. Estou, na verdade, vendo frustrarem-se minhas 
lutas contra toda a sorte de dificuldades, depois de 
encontrar indícios da existência do manuscrito, de 
contatar seu proprietário, de convencê-lo a emprestar seu 
tesouro a mim, vencer sua desconfiança, provar a ele que 
eu não estaria surrupiando-lhe uma peça de valor 
financeiro inestimável, tentar mostrar-lhe o valor histórico 
e cultural da peça - o qual definitivamente não parece tê- 
lo animado. Confesso que, depois de tudo, estou 
frustrado: não tenho mais ilusões, este documento não 
significa tanto. Significa muito historicamente? É possível, 
com ele, elucidar a identidade musical daquela 
comunidade? Representa ele uma possibilidade de 
resgatar a prática musical da Comarca do Serro Frio? 
Não, senhores, não acredito que seja possível. 
Este documento, isolado, não tem valor nenhum. Não 
significa, a rigor, nada!. Não é possível, mais, resgatar o 
conjunto de ofícios, hábitos, conjunturas e práticas 
culturais que o produziram. E inútil tentar recriar, 
reconstruir, restaurar a música da qual ele foi parte”. 
ser insuficiente o tempo dado para a apreciação do documento, etc. 
Depois de pedir sua compreensão, continuei falando e, muito sério, 
retirei o documento do invólucro de plástico e passei a manuseá-lo 
nervosamente, dobrando suas bordas, agitando-o desleixadamente 
ao gesticular, o que provocou visível incômodo em muitas pessoas, 
como era de se esperar. 
Neste momento, depois de falar cada vez mais enfática e 
ansiosamente, rasguei o documento! Houve uma estupefação geral, 
um grande silêncio (mas parece que ouvi alguém dizendo num susto: 
“Ele é louco”. Esperei por alguns segundos, tentando provocar 
reações, com frases de efeito do tipo “Basta: vamos destruir de uma 
vez por todas o passado para que nossa contemporaneidade possa 
manifestar-se totalmente.” ou ainda “Se eu não posso fazer nada com 
13 
Bem, amigos, não se assustem, aqui está outra 
primeira página do tenor do Te Deum de Itambé do Matto 
Dentro. Desculpem-me, mas isto foi, naturalmente, uma 
performance, um jogo teatral. Este, como aquele outro, 
não é, nunca foi um documento histórico, é apenas uma 
imitação. Apenas gostaria que os senhores me ouvissem 
motivados por esta emoção - como se a catarse tivesse 
concentrado o sentimento doloroso que cada um de nós 
tem em relação à paulatina destruição do acervo musical 
brasileiro, como se pudéssemos vivenciar de uma só vez 
toda a angústia que sentimos anteriormente, digamos, em 
“câmera lenta”. 
Não tenham dúvida de que atos como este 
acontecem ainda hoje, quotidianamente, e há muitos 
anos, como se sabe, justamente quando nós - músicos, 
pesquisadores, etc. - não estamos presentes. E muito 
provável que continuem a acontecer amanhã, caso 
permaneça inalterado o quadro atual. Centenas de 
documentos de toda sorte, não apenas manuscritos 
musicais, são deliberadamente destruídos, apesar do 
valor inestimável que tem: basta uma mudança para uma 
casa menor, ou uma faxina voluntariosa, qualquer 
pretexto, e mais páginas de nossa história são 
literalmente riscadas do mapa. Entretanto, muitas vezes o 
agente da destruição não é o personagem estereotipado 
do matuto ignorante, mas pessoas de certa formação, 
pertencentes a famílias tradicionais, profissionais liberais, 
etc. Cabe a nós, que reconhecemos o valor de tal 
material, mudar esta atitude irresponsável, 
ele, para que eu vou deixá-lo af? Para um outro chegar e fazer o que 
eu não fiz?” ou mesmo “Papel velho, mofado, cheio de bactérias - 
isso é até anti-higiênico!”. Aos poucos começaram a surgir 
manifestações, algumas bastante irritadas, eu diria, outras bem- 
humoradas, quando interrompi, mostrando outra parte de tenor do Te 
Deum, e prossegui com as explicações acima. 
14 
incompreensível e - O pior - irreparável, que infelizmente é 
tão comum. 
A indiferença pesada que leva um manuscrito ao 
fogo parece coexistir com uma quase sublime reverência 
ao mistério do saber, do passado, da tradição. Trata-se, 
ao que parece, de uma reverência distante, estéril, 
preconceituosa. Conhecemos histórias de coleções de 
manuscritos musicais antigos guardados a sete chaves 
por ter valor afetivo, ou porque ficaram esquecidas, mas 
que são intocavelmente trancadas com uma aura de 
respeito, com um tabu de misteriosa inacessibilidade. 
Imagino até que alguém pense alguma coisa como: “Isto 
deve ter algum valor, que eu não sei qual é; mas não vou 
deixar qualquer um chegar aqui e tirá-lo de mim, pois 
senão eu não vou usufruir dele”. Está claro para vocês o 
quanto é equivocado este sentimento? Quem age assim 
dificimente verá algum fruto de seu tesouro - 
provavelmente não saberá quem compôs aquela música, 
quem a copiou, muito menos poderá ouvi-la. E arrisca-se, 
sobretudo, a estar colocando o futuro de seu tesouro nas 
mãos de um faxineiro incendiário. 
Nós podemos agir para modificar esta situação, no 
que diz respeito ao conjunto de documentos musicais 
ainda existente. Na minha opinião, a promoção destes 
pequenos atentados contra a identidade cultural brasileira 
não motiva-se apenas pela falta de espaço ou 
necessidade de limpeza. Há um fator crucial: a falta de 
consciência dos indivíduos quanto ao real valor destes 
objetos. Mas creio, antes, que é a falta de uma política 
sistemática de difusão dos acervos que reflete-se nesta 
falta de consciência. Quem destrói um documento antigo 
sabe que não se trata apenas de “papel velho”. Algo mais 
existe ali. O quê? Isto é o que deve-se buscar e mostrar 
às pessoas. Qual o estudante de música no Brasil não 
gostaria de poder estudar uma parte composta para o 
seu instrumento por um brasileiro do passado? A grande 
15 
maioria nem conta com a possibilidade disso, porque 
essa música é ainda inacessível. Acreditamos que a 
memória musical brasileira ainda viva, apesar dos 
esforços, num estado inercial: a inacessibilidade das 
fontes primárias faz com que não se produza o 
necessário conhecimento acerca da música do passado, 
que por sua vez não desdobra-se em produtos finais para 
o público, que não sabe o que fazer com documentos 
históricos que detém (esta é, evidentemente, uma 
descrição ligeira do referido quadro). 
É preciso mudar a atitude das pessoas, 3 
acreditamos que isto seja possível através de um 
caminho fundamental (entre outros também necessários): 
a circulação, a acessibilidade dos documentos. O projeto 
de Revitalização do Acervo da Sociedade Musical 
Euterpe Itabirana vem incentivar esta mudança, pois 
trata-se de tornar plenamente acessível, através de fac- 
símiles, uma coleção de documentos musicais” - 
acreditamos que isto signifique revitalizá-lo. Este acervo 
foi guardado pelos diretores da Sociedade Musical 
Euterpe Itabirana, como é atualmente chamada, nos seus 
133 anos de existência. Contando com cerca de duzentas 
obras”, muitas delas infelizmente incompletas, o acervo é 
uma pequena preciosidade. O documento datado mais 
antigo refere-se a 1825, mas é provável que algumas 
º Esta coleção de documentos sofreu, pelo que se sabe, duas 
intervenções anteriores. A primeira parece ter-se limitado a uma 
breve visita, por equipe coordenada pelo prof. Olivier Toni, no 
princípio da década de 80. Em 1994, foi objeto de um trabalho de 
levantamento e organização sumária, realizado por uma equipe 
composta pelos profs. Carlos Kater, Eduardo Ribeiro, Fanuel Lima Jr. 
e por mim, através de convênio entre a Escola de Música da UFMG e 
a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade. 
Nesta fase ocupamo-nos somente do material para coro e 
orquestra. Futuramente, pretendemos realizar os mesmos passos 
com as partituras para banda, que constituem cerca de 350 obras. 
16 
obras sejam anteriores, devido ao tipode papel e à 
caligrafia. Há algumas obras de autores conhecidos do 
período colonial como Emerico, João de Deus Castro 
Lobo, Manoel Dias de Oliveira, etc. Também existem no 
acervo peças de autores itabiranos, como Emílio Soares 
de Gouvea Horta, e de estrangeiros como Marcos 
Portugal e David Peres. 
Nosso trabalho constitui-se na criação de uma 
versão digital do acervo. Estamos realizando sua 
catalogação detalhada, elaborando de um banco de 
dados, realizando a digitalização dos documentos e 
pretendemos com estes passos viabilizar o elemento 
fundamental do projeto: sua disponibilização pública. O 
banco de dados será transformado em um catálogo do 
acervo e poderá, futuramente, quando dispusermos de 
meios para tanto, ser utilizado pelos consulentes 
diretamente em um terminal. Gostaria de mostrar aos 
senhores uma página já digitalizada, assim como seu 
registro correspondente no Banco de Dados (exemplos 
em anexo). 
A partir de novembro de 1997”, conforme nossas 
intenções, este acervo estará totalmente digitalizado e 
armazenado em CD-ROM, garantindo assim a 
conservação dos originais, pelo fato de permitir o acesso 
sem a necessidade de contato direto eles, e propiciando 
o acesso através de um meio durável e extremamente 
flexível quanto à reprodutibilidade. Uma vez que todo o 
á Originalmente, nossa intenção era inaugurar o banco de dados em 
setembro de 1996. Devido a uma série de fatores que não seria 
conveniente enumerar aqui, mas principalmente pela ausência de 
recursos financeiros e do equipamento necessário, os trabalhos 
sofreram um grande atraso. Ao que tudo indica, concluiremos os 
trabalhos no primeiro semestre de 1997. Julgamos mais conveniente 
fixar a data de lançamento do Acervo Digital no 134º aniversário da 
Banda Euterpe, que ocorrerá no dia 22 de novembro. 
17 
acervo esteja digitalizado, procuraremos viabilizar o 
tratamento químico dos originais, de maneira a 
interromper os processos de deterioração causados por 
fungos, umidade e outros agentes. 
O Acervo Digital será objeto de uma política 
sistemática de acesso. Mediante um simples 
cadastramento, qualquer pessoa - do leigo meramente 
interessado ao pesquisador ou músico profissional - 
poderá adquirir por um preço módico cópias a laser de 
qualquer documento constante do Acervo da Sociedade 
Musical Euterpe lItabirana. As exigências, para tanto, 
resumem-se ao compromisso de: 
a) citar a fonte do(s) documento(s), isto é, o 
acervo, em qualquer trabalho realizado; 
b) fornecer dois exemplares dos trabalhos 
publicados para a Fundação Cultural Carlos 
Drummond de Andrade (um destinar-se-á à 
consulta pública, outro ao centro de 
documentação do projeto); 
c) assumir o compromisso de não passar cópias 
do(s) fac-símile(s) a terceiros (posto que essa é 
a função do acervo digital!). 
Deixarei à disposição dos senhores algumas fichas 
cadastrais, caso tenham desde já interesse em consultar 
o acervo, que volto a dizer, planejamos abrir para 
consultas a partir de novembro de 1997. 
Gostaria de abordar, finalmente, uma questão 
levantada pela pesquisadora Odette Emest Dias, que há 
muitos dedica-se ao acervo do Pão de Santo Antônio, em 
Diamantina. Trata-se da preocupação de trabalhar de 
maneira integrada a outros centros de documentação, 
buscando uma forma padronizada para o trabalho de 
catalogação de documentos musicais. Acreditamos que, 
à medida que as discussões acerca desta problemática 
18 
evoluam, teremos flexibilidade de meios para integrarmo- 
nos à sistemática de procedimentos futuramente adotada, 
e gostaríamos de contribuir neste sentido. 
Quaisquer manifestações de interesse e apoio ao 
serão muitíssimo bem-vindas, assim como críticas ou 
sugestões, podendo ser encaminhadas ao endereço 
abaixo. Caso alguém tenha desde já interesse em 
consultar o acervo, que volto a dizer, planejamos abrir 
para consultas a partir de novembro de 1997, poderemos 
receber sua carta, contendo seus dados pessoais e sua 
área de interesse, para: 
Projeto de Revitalização do Acervo da Sociedade 
Musical Euterpe Itabirana 
Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade 
Aos cuidados de André Guerra Cotta 
Av. Carlos Drummond de Andrade, 666 - Itabira / 
Minas Gerais 
CEP 39500-025 
Nossa preocupação, enfim, é a de fazer circular 
este conjunto de documentos musicais, incentivando o 
estudo e a execução desta música, e buscando contribuir 
para a recuperação de nossa memória musical, para a 
construção de nossa identidade cultural. Isto significa tirar 
esta coleção de documentos da condição de um arquivo 
morto, reinserindo-a em nossa vida cultural. Talvez isto 
também signifique que, no futuro, o público brasileiro 
possa comprar discos e ouvir música deste acervo, possa 
admirar fac-símiles de manuscritos setecentistas nas 
paredes de suas salas, possa, enfim, estar em contato 
com o que foi quase perdido. E talvez nós possamos 
tranquilamente surpreendermo-nos com o fato de alguém 
19 
não saber quem foi Lobo de Mesquita ou Manoel Dias. 
Isto dependerá, entretanto, da nossa capacidade de 
generosamente abrir aos olhos do mundo o material 
primário, sobre o qual possam trabalhar os espíritos 
conectados com a possibilidade de reavivar a memória 
musical brasileira. 
20 
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data: 
partés 
xietântes: 
No Ofertório consta pausa de 5 compassos para todo o coro, sugerindo um acompanhamento. 
No Missal Quot. pág, 353, encontrei o ofertório e sua tradução. 
Na pág. 337, está o Glória Laus, que é chamado de HINO AO CRISTO REI. 
; Seções internas: E 
i Ca [Númerá d ncip E [ andamento: | tom: | 
Improperium expectavit E malor 
, Gloria Laus - Solmalor | 
“EB Israel es tu Rex - so! malor mê 
22 
THEODORO CYRO DE SOUZA E 
JOSE JOAQUIM DE SOUZA NEGRAÃO : 
ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE A MÚSICA NA 
BAHIA NO PERÍODO COLONIAL 
Harry Lamott Crowl 
As notícias sobre a atividade musical na Bahia são 
as mais antigas que temos no Brasil. Oficialmente 
denominada São Salvador da Bahia de Todos os Santos, 
a primeira capital do Brasil teve a sua catedral fundada 
ainda no séc. XVI, encontramos o nome do chantre 
Francisco de Vaccas como o do responsável pelas 
funções litúrgico-musicais da catedral. Em 1559, um certo 
Bartolomeu Pires foi nomeado o primeiro mestre de 
capela que se tem notícia no Brasil. Ele exerceu esta 
função até 1586. Muito pouco se sabe sobre as práticas 
musicais nestes dois primeiros séculos da colonização 
portuguesa. O cargo de mestre de capela foi 
desempenhado, em Salvador, intermitentemente, até o 
séc. XIX, pelos seguintes músicos: 
e Francisco Borges da Cunha (de ca. 1608 a ca. 
1660) 
e Joaquim Corrêa (de 1661 a ca. 1665) 
e Antônio de Lima Cárseres (de ca. 1666 a ca. 
1669) 
e João de Lima (década de 1670) 
e Frei Agostinho de Santa Mônica ( de ca. 1680 a 
ca. 1703) 
e Caetano Melo de Jesus (de ca. 1740 a ca. 1760) 
e Theodoro Cyro de Souza (a partir de 1781) 
23 
De todos estes nomes, conhecemos algumas 
informações apenas dos três últimos. De acordo com 
uma biografia em 1737, por-um irmão da Ordem de São 
Paulo, o frei Agostinho de Santa Mônica (Portugal, 1633- 
1713) pertenceu à referida Ordem, tendo estudado em 
Lisboa, com João Fogaça, o principal discípulo de Duarte 
Lobo. Nesta mesma biografia, consta que frei Agostinho 
teria escrito “40 missas (várias das quais policorais), 
Salmos, Lamentações e vários Ofícios de Defuntos. 
Embora seu biógrafo afirme que várias destas 
composições ainda pudessem ser encontradas no 
arquivo da Catedral de Salvador, todas encontram-se 
perdidas até o momento. 
A respeito de Caetano Melo de Jesus sabemos 
através do historiógrafo português do séc. XVIII, José 
Mazza, quefoi um importante músico pedagogo, tendo 
escrito a maior obra que se tem notícia em língua 
portuguesa, de cunho didático. Trata-se da “Arte do canto 
de Órgão” em quatro partes, das quais apenas as duas 
primeiras chegaram até os nossos dias. O musicólogo 
americano Robert Stevenson atribuiu, com base na data 
de composição, a autoria do “Recitativo e Ária”, de 1759, 
a Caetano Melo de Jesus. Esta obra é a mais antiga 
composta no Brasil que foi encontrada até o momento. 
Porém tal atribuição jamais poderá passar do plano 
conjectural a não ser que encontremos no futuro, um 
outro manuscrito da obra com autógrafo do compositor. 
Desconhecemos até o momento, qualquer dado sobre a 
sua vida. 
Dentro deste fragmentado panorama da música na 
Bahia colonial, encontramos o nome de Theodoro Cyro 
de Souza, que é o primeiro compositor que atuou na 
região, de quem encontramos exemplos musicais 
concretos. Nascido em Caldas da Rainha, Portugal, em 
1766, Theodoro Cyro recebeu a sua formação musical no 
Seminário Patriarcal, em Lisboa, provavelmente sob a 
24 
orientação de José Joaquim dos Santos, que era o 
mestre mais importante da época. Em 26 de novembro 
de 1781, partiu de Lisboa para Salvador, onde assumiria 
a função de mestre de capela, com o patrocínio de D. 
Pedro Ill, de forma semelhante como ocorrera alguns 
anos antes, em 1774, com André da Silva Gomes (1752- 
1844), também egresso do Seminário Patriarcal, que 
assumiu a mesma função na Sé de São Paulo. A obra de 
Theodoro Cyro de Souza parece ter gozado de 
considerável reputação em toda a região, pois a sua 
única composição encontrada no Brasil até o momento, 
os “Monetos para os Passos da Procissão do Senhor”, é 
uma cópia de final de séc. XIX realizada em Alagoinhas 
(BA), que foi localizada numa coleção de música para a 
Semana Santa, anônima, proveniente de Propriá (SE), 
divulgada numa primeira transcrição pelo musicólogo 
Antônio Alexandre Bispo, no Boletim nº 2 da Sociedade 
Brasileira de Musicologia. Em um levantamento realizado 
pelo musicólogo Rogério Budasz, na Sé de Lisboa, em 
1995, foram localizadas as seguintes obras do 
compositor: 
Antífona “Regina Coeli A 4º Concertatta” 
“Magnificat a 4º Concertatto” 
“Moteto a 5º Concertatto” (Para a solemnidade da 
Ascensão de Christo Sr. Nosso 1780); partes e 
partitura. 
“Motetto a 5º Concertatto” (Ascencionis Domoni); 
partitura. 
Na versão aqui apresentada dos “Motetos para os 
Passos da Procissão do Senhor”, baseada na cópia 
realizada por A.A.Bispo, revisada e reinstrumentada por 
Sérgio Dias, os títulos dos Motetos são os seguintes: 
1. Cor Meum 
2. O vos Omnes 
3. Domine Jesu 
25 
4. Ego in Flagella 
5. Filiae Jerusalem 
6. Miserere 
7. Amplius 
8. Tibi Soli 
Estes títulos não deixam dúvida de que trata-se de 
uma obra para a liturgia de semana santa. Quanto aos 
aspectos musicais, podemos dizer que trata-se de uma 
música bem característica daquela praticada pelos 
compositores portugueses do final do séc. XVIII, ou seja, 
de acordo com os modelos homofônicos vigentes na 
época com raros arcaísmos imitativo-polifônicos e, no 
caso específico da obra em questão, os solos vocais que 
também são raros, estão dentro de um estilo 
predominantemente coral, portanto anterior à prática 
operística rossiniana vigente nas primeiras décadas do 
séc. XIX. No que diz respeito à parte vocal, a obra está 
próxima de práticas comuns no Brasil da época, pois tais 
procedimentos podem ser observados na obra de vários 
compositores mineiros. Com relação à instrumentação, a 
edição de A.A.Bispo apresenta uma série de problemas. 
O primeiro deles é a quantidade de erros de harmonia 
provenientes da cópia de Alagoinhas que o musicólogo 
tenta corrigir numa errata publicada posteriormente. Mas, 
o problema mais complexo é a definição da 
instrumentação uma vez que adaptações para 
instrumentos de banda foram feitas na ocasião. Diante da 
questão, foi realizada, por Sérgio Dias, uma 
instrumentação baseada no conhecimento de outras 
obras religiosas portuguesas da época. Pelas obras 
conhecidas até o momento, sabe-se que os compositores 
portugueses, ao contrário dos mineiros, tinham uma 
escrita bastante refinada para os instrumentos de sopro, 
concentrando muitas vezes o interesse melódico nas 
flautas e oboés em vez das cordas, como era o hábito no 
Brasil da época. Portanto, a partitura apresentada para 
esta gravação consta de flautas | e Il, oboés | e Il, fagotes 
26 
| e Il, trompas | e Il, violinos |, violinos Il, violas e baixos, 
além das quatro vozes habituais do coro. 
Numa prática posterior encontramos José Joaquim 
de Souza Negrão. Seu nome passaria despercebido da 
história da música brasileira caso suas duas cantatas, “A 
Estrela do Brasil” e “O Ultimo Cântico de David”, não 
tivessem sido descobertas pelo regente e compositor 
Ernani Aguiar, na Biblioteca Nacional, em 1990 e 92, 
respectivamente. A obra registrada neste CD, a cantata 
“A estrela do Brasil”, está dedicada ao “Sereníssimo 
Príncipe da Beira”, para o dia 12 de outubro de 1816, sob 
o auspício do Ilmo. e Exmo. Senhor Conde dos Arcos. 
Esta cantata, sobre texto anônimo, está dividida conforme 
o esquema por números ainda vigente na época, 
indicando assim uma clara influência operística. O fato de 
a obra ter sido concebida sobre um texto em português, 
assim como a outra cantata de Souza Negrão, “O Ultimo 
Cântico de David”, faz com que estas duas composições 
sejam as mais importantes obras vocais profanas 
encontradas até agora no Brasil colonial. 
A cantata “A estrela do Brasil” está dividida em 
sete partes: 
|. Abertura (Ouverture) 
Il. Recitativo: “Apponta hua estrella” - Soprano solo 
e Ária 
Ill. Solo e Coro: “Dispertta a lembrança” 
IV.Dueto: “Oh! Salve prelúdio d'estrella formosa” - 
2 sopranos 
V. Solo e Coro: “O Nome Exaltando” 
VI.Coro final: “A Aurora do Império” 
A única referência existente a respeito de J.J. de 
Souza Negrão é uma carta enviada ao Conde de Palma, 
Governador e Capitão General da Bahia, por D. João VI, 
criando nesta capital uma cadeira pública de música, 
27 
atendendo às solicitações do Conde dos Arcos, sucessor 
daquele, datada de 3 de março de 1818, conforme se 
segue: 
“Ao Conde de Palma, Governador e Capitão 
General da Capittania da Bahia - Amigo. Eu El Rei vos 
envio muito saudar, como aquele anno. 
Sendo me presente por parte dos Conde do Arcos, 
vosso antecessor no Governo desta Capitania, o estado 
de decadência, a que tem ahi chegado a arte da música 
tão cultivada pelos povos civilizados, em todas as edades 
e tão necessária para o decoro e Hei por bem criar nessa 
cidade uma Cadeira de Música com o ordenado de 
40.000 pago pelo rendimento do subsídio literário. E 
attendendo à inteligencia e mais partes que concorrem na 
pessoa de José Joaquim de Souza Negrão, hei outrossim 
por bem fazer-lhe mercê de o nomear para professor da 
referida cadeira. 
Escripto no Palácio da Real fazenda de Santa Cruz 
em 3 de março de 1818. 
Rei. — Para o Conde de Palma”. 
O compositor ocupou a cadeira de música até o 
seu falecimento em 1832. 
28 
A CONFRARIA DE SANTA CECÍLIA NO SÉCULO XIX 
Maurício Monteiro 
Santa Cecília, anterior aos sindicatos, 
Proteje a situação dos músicos das monas. 
Ninguém seja cantor e instrumentista 
Quer no sagrado ou no profano 
Sem se prender aos doces laços 
De sua melódica Irmandade. 
Quem infringir a santa regra, 
Ofensa faz ao povo e ao céu, 
A boca lhe emudece, o instrumento 
Cai sem som na lage fria. 
Mas aos pios irmãos, Santa Cecília 
A cada dia e hora 
Concede a voz mais pura 
E mais divino som ao clarinete. 
Carlos Drumond de Andrade 
Menino Antigo, 1978. 
O espírito associativo gerado pela proliferação das 
irmandades e confrarias em Minas no século XVIII 
estava, quase que exclusivamente, voltado para as 
necessidades sociais e religiosas. Os grupos que se 
formaram nada tinham de corporativo, no sentido mais 
amplo daquilo que seriam as corporações de ofícios na 
Europa. Mesmo a irmandadede São José, que durante 
“O presente artigo faz parte da Disertação de mestrado defendida pelo autor, 
com a seguinte referência: MONTEIRO, Maurício Mário. João de Deus de 
Castro Lobo e a Prática Musical nas Associações Religiosas de Minas Gerais. 
São Paulo, FFLCH/USP,CAPH,1995. 
29 
todo o século acolheu os artistas e os artífices nas vilas 
da Capitania. Em nenhum momento seus estatutos e 
compromissos mencionaram normas e diretrizes 
profissionais. A característica religiosa e caritativa que as 
irmandades tomaram era suficiente para atender às 
necessidades básicas dos indivíduos e dos grupos que as 
procuravam. Ademais, a economia do ouro e dos 
diamantes manteve uma sociedade capaz de absorver e 
manter a demanda artística na capitania. O ambiente, 
favorável ao espírito cristão, abrandava os eventuais 
problemas que os indivíduos tivessem em relação à 
prática de seus ofícios. Nesse sentido, reitera Julita 
Scarano: 
Mesmo tendo existido no Brasil grêmios 
profissionais, inclusive no distrito diamantino, não 
chegou a haver pleno desenvolvimento 
profissional em terras onde imperou o sistema 
escravista, nada propício ao florescimento de 
profissões exercidas ordinariamente por homens 
livres. 
No caso dos músicos, por exemplo, essa dinâmica 
social ambém é válida e significativa, considerando que 
as irmandades nas quais estavam associados atendiam 
suas necessidades mais imediatas — naquele momento 
foi a devoção e o auxílio mútuo. Nas palavras de Curt 
Lange, os músicos 
não precisavam, em meados do século XVIII, de 
defesas de seus interesses devido à abundância 
incrível de atividades desenvolvidas no campo da 
música erudita. 
! SCARANO, Julita. Devoção e escravidão. São Paulo, Coleção Brasiliana, 
C.E.N.,1978,p.24 
2? LANGE, Francisco Curt. Algumas novidades em torno à atividade musical 
erudita no período colonial de Minas Gerais. Latin American Music 
Review, Austin, 4(2):247-68,fall./win.,1983. 
30 
No quadro onde a prática musical transcorria 
favorável, a idéia de que possa ter surgido uma 
associação exclusivista, próxima aos modelos dos 
grêmios profissionais europeus, fica um pouco distante, 
sobretudo porque, “enquanto os músicos não se 
constituiram como grupo atuante e com voz ativa no 
conjunto social"”, não foi imediatamente necessário a 
criação de um grêmio com princípios exclusivistas no 
século XVIII, ou pelo menos uma associação expressiva 
como foi a de Santa Cecília no século XIX*. 
A Corfraria de Santa Cecília de Vila Rica foi 
organizada em 1812, para atenuar uma série de 
problemas que a prática da música vinha sofrendo em 
decorrência da transformação na economia mineradora. 
O problema relativo às formas de contrato foi o ponto 
crucial para que se organizasse uma associação como 
esta, não só com princípios devocionais, mas sobretudo 
com características profissionais. E esse o motivo que 
leva Florêncio José Ferreira Coutinho, João de Deus de 
Castro Lobo, Marcos Coelho Neto (filho) e outros tantos 
3 BOSCHI, Caio Cesar: Os leigos e o poder. São Paulo, Editora Ática, 1986, 
ee Dutra de Morais estabelece o ano de 1749 para a criação das 
Confrarias de Vila Rica e Mariana, e em 1786 é mencionada a Confraria de 
Santa Cecília na Matriz do Pilar. Conferir principalmente: 
MORAIS, Geraldo Dutra de. Música barroca mineira . São Paulo, Editora 
Parma/Conselho Regional de Farmácia (CRF-8), 1975. 
RESENDE, Maria da Conceição. A música na história de Minas colonial. 
Belo Horizonte, Itatiaia/MinC/Pró-leitura/INL, 1986. 
LANGE, Francisco Curt. A música nas irmandades de Vila Rica-A 
freguesia de Nossa Senhora do Pilar. Belo Horizonte, APM, 1979. 
. A música nas irmandades de Vila Rica-A 
irmandade de São João dos Homens Pardos Bem casados. Ouro Preto, 
Museu da Inconfidência, VI anuário, 1979, pp.9-233. 
AGUIAR, Marcos Magalhães. Op.Cit.p.26. 
31 
músicos a constituirem a confraria, principalmente para 
evitar 
as funções gratuitas a que são todos os dias 
acometidos ... (sic!) Tanto de festas de oratórios, 
como nas igrejas, enterro e outros ajuntamentos 
de música. 
A confraira se estabeleceu e, no ato de sua criação, 
estipulou uma multa de quatro mil e oitocentos réis 
(44800) para o transgressor do acordo. A iniciativa dos 
músicos de Vila Rica fez com que fossem criadas, 
posteriormente, outras congêneres em Mariana, Sabará, 
Prados e São João del Rei. Num primeiro momento, os 
músicos se filiaram diretamente à Confraria de Vila Rica 
e, na medida em que iam surgindo outras confrarias, se 
ligavam a elas, nas mais próximas de suas vilas ou 
logradouros. A Confraria de Vila Rica alistou, em 1815 
mais de três centenas de músicos filiados provenientes 
de mais de trinta localidades”, 
[ NilaRica | 41(12,16%) | 
| SãoJoão dElRei | 34(10,08%) | 
DO Sabará | 18(584%) | 
[O Mariana | (237%) | 
(tab.1) - Fonte: Livro Primeiro de Entradas dos Irmãos da Confraria de Santa 
Cecília, Virgem e Mártir de Vila Rica no ano de 1815. APP, sem catalogação. 
A tabela 1 (um) mostra a distribuição dos músicos da 
Confraria de Santa Cecília nos principais núcleos urbanos 
de Minas Gerais. Não constam as freguesias, somente as 
vilas e uma única cidade: Mariana. A tabla 2 (dois) que se 
* Solicitação para poder erigir uma Irmandade de Santa Cecília, os 
músicos do regimento de Linha de Villa Rica. 1812. AMI/CP/OP.c.290- 
auto5253. 
6 sei ; = Os nomes dos músicos e de suas respectivas localidades serão arrolados no 
apenso anexado no final desse artigo. 
32 
segue, distribui o número total de músicos da Confraria 
nas Comarcas: 
Sabará ou Rio das Velhas 
(tab.2). Fonte: Idem,ib. 
Dessa maneira, a Confraria de Vila Rica funcionou 
como uma espécie de matriz de várias presídias 
espalhadas pela Capitania e posterior Província de Minas 
Gerais. Funcionando na Igreja de Nossa Senhora do 
Pilar, onde esteve até 1825", a Confraria de Santa 
Cecília representou para os músicos do século XIX, um 
veículo que ao mesmo tempo em que manteve as formas 
do culto, zelou pelo profissionalismo. Nos termos de 
filiação, contidos no “Livro primeiro de entradas dos 
irmãos”, o tratamento dado aos músicos sugere o caráter 
do exclusivismo. Como exemplo, temos o caso de João 
de Deus de Castro Lobo que, em 29 de novembro de 
1815 entrou como 
professor de arte da música nesta dita Vila e se 
sujeitou em tudo, às leis do compromisso por 
onde se rege a dita confraria, ao que obriga seus 
bens presentes e futuros”. 
7 Carta da Confraria de Santa Cecília à Irmandade de São José. 
1825.APP,s/c. | 
* Livro Primeiro de entradas dos irmãos da Confraria de Santa Cecília de Vila 
Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, 1815. APP,s/c(grifo nosso). 
33 
Como João de Deus, a maioria dos outros inscritos eram 
também “Professores da Arie da Música”; aqueles que 
não traziam essa denominação eram padres intérpretes 
de canto-chão, pessoas ligadas aos músicos por 
matrimônio ou algum grau de parentesco e protetores 
influentes na associação (ver tabela 3). 
[| Músicos | — No% | 
69 + 337=406 = 100% Total (HM+HL+M+P 
Fonte: id.Ibid.(Tabela 3). 
A confraria de Santa Cecília teria sido semelhante 
as outras associações religiosas de leigos se não 
elaborasse capítulos exclusivistas para a prática da 
música. Embora o seu compromisso ou estatuto de 
regimento intemo tenha os mesmos princípios de 
devoção e assistência, ela foi diferenciada em vários 
capítulos e parágrafos. O corpo dirigente da Confraria era 
constituído, basicamente, pelos mesmos cargos, como 
atesta o parágrafo um do primeiro capítulo: um juiz, um 
escrivão, um zelador, um tesoureiro, um procurador e oito 
irmãos de mesa. As funções e os encargos dessa mesa 
diretora extrapolaram os princípios de caridade e 
devoção. Além das obras assistenciais e do 
gerenciamento da Confraria, a mesa diretora teve ainda 
autoridade e responsabilidade sobre qualquer prática 
profissional dos irmãos músicos nela listados. O irmão 
juiz não só mandava socorrer os enfermos e pobres, 
como também nomeavaexaminadores para os músicos e 
concedia a licença indispensável para a atuação em 
festas e outras atividades em que a prática da música foi 
indispensável. As observações se estenderam às práticas 
34 
musicais, sejam atividades religiosas ou puramente 
sociais, como saraus, teatros e festas de famílias. 
O capítulo segundo é mais específico. Ocupa-se 
da “autoridade da mesa “ onde, nitidamente, se observa a 
interferência da Confraria na prática da música. Os 
membros da mesa inspecionavam as atividades dos 
músicos dentro de sua jurisdição; isto é, quem são e 
quantos cobram (ou “ajustam” pelo serviço. 
Curiosamente, a atenção da Confraria voltou-se para as 
práticas, para os homens que executavam a música, não 
para o tipo dela, se religiosa, mundana, profana ou 
teatral, muito embora a preocupação com a qualidade 
seja patente, como veremos a seguir. A mesa nomeava 
examinadores, aprovava ou não, proibindo que “nenhuma 
pessoa”se exercitaria “em funções solenes sem mostrar- 
se assinado e aprovado”* . Não só aos núcleos urbanos 
se estendia isso, mas também às “povoações distantes”, 
para onde a mesa designava “presidentes”, para regular e 
suprir sua autoridade. A Confraria proibiu e sancionou. A 
admissão de músicos não examinados em “festas 
solenes ou públicas”incorria nas penas do parágrafo 
quinto: perda do dobro do ajuste, ou seja, da quantia 
formalizada no contrato, ou suspensão dos serviços por 
dois anos. Além dessas sanções relacionadas com a 
prática da música, a mesa rejeitava 
aquelas pessoas que por indignidade ou 
conhecido orgulho [fosse] capaz de levantar 
sedições, desobedecer aos superiores e 
petrurbar o bom governo da corporação; e mais 
ainda, os irmãos que de semelhante modo 
[procedessem seriam excluídos]"º. 
a Compromisso da Confraria de Santa Cecília de Mariana. ANRIJ. 
C.830.Cap.ILparg.2. 
10 T.Ibid.Cap.II, parg.9 (Grifo nosso). 
35 
O preço ajustado entre o contratante e o contratdo 
deveria estar de acordo com os critérios da Confraria. 
Nesse sentido, ela foi taxativa, condenado os abusos que 
por ventura ocorressem: 
Quando um músico qualquer fizer algum ajuste 
totalmente abusivo de sua harmonia que deve 
fazer com os demais e lhes causar prejuízos, não 
se concederá a licença sem que sejam ouvidos 
os prejudicados." 
As formas de controle nos serviços dos músicos 
não só possibilitaram a continuidade da prática musical, 
como também a própria sobrevivência daquilo que aqui 
chamamos de associação profissional, ou corporação em 
sentido lato. Sobre esse aspecto, a própria associação 
instituiu o chamado “tostão da santa”, uma espécie de 
taxa sobre os serviços de seus associados. O valor era 
previsto como um pequeno subsídio correspondente à 
quantia do contrato firmado por cada músico. Em Mariana 
o valor podia variar entre 2,5% e 20% sobre os contratos 
firmados, seja para as festas religiosas ou para “as 
funções públicas ou de teatro”!?, 
Os membros da confraria, ao se sujeitarem às normas estatutárias e aos 
prejuízos que levaram à sua criação, demonstram consciência do que ela 
significava para a prática da música. A palavra corporação citada no estatuto, 
mesmo que não tivesse o significado estrito das corporações de ofícios, 
diferenciava-se da simples agremiação. Considerando que os princípios da 
criação da Confraria de Santa Cecília sejam profissionais, pois partiram de 
uma iniciativa de músicos, a palavra corporação significa “corpus”, 
interesses e práticas comuns. 
! Id.Ibid.Cap.IL.parg. 14. 
2 Id.Ibid.Cap.VLpargs.9,10 e 11. 
Entendemos por “funções públicas ou de teatro"as festividades civis ou 
religiosas patrocinadas pelo Senado da Câmara ou mesmo por irmandades, 
mas que se realizaram fora dos templos. 
36 
A relação da matriz em Vila Rica com as presídias 
em outros núcleos urbanos (cidades ou vilas) sugere uma 
associação tipicamente organizada. A nossa hipótese é a 
de que os seus capítulos foram semelhantes ou 
combinados, isto é, a matriz em Vila Rica aprovou um 
estatuto que foi utilizado por todas. Consideraremos que 
as Confrarias de Santa Cecília foram uma só, 
organizadas em matriz e presídias. Outro momento que 
nos leva a admitir essa forma de organização, pode ser 
observado numa correspondência entre o músico José 
Marcos de Castilho de São João del Rei e João Nunes 
Maurício Lisboa, músico e escrivão da Confraria em Vila 
Rica. Na correspondência, há informes sobre a situação 
da prática musical em São João. Primeiramente o 
remetente se queixa de uma desorganização na prática 
da música que desprofissionalizava o serviço do músico: 
Nessa comarca [São João del Rei] e em todas as 
vilas, arraiais e capelas, se acham uns curiosos 
e alguns músicos que decoram algumas missas, 
e com esse nome empenham-se com as 
festeiras [para] fazerem as suas funções por 
qualquer coisa que lhes dêem; e ainda tão 
somente pela comida: servem as mesas e não 
querem cama nem casa para morar, 
ridicularizando a are na sua última 
consternação. 
Mais à frente, o músico de São João del Rei, procurando 
organizar a atividade musical, pediu a Confraria de Vila 
Rica que lhe enviasse o mais rápido possível, 
o compromisso e a provisão de que tinha notícia, 
às vistas das quais saberia resolver com os 
outros companheiros, havendo alguns capítulos 
37 
que faça vedar essa enchorrada (sic!) de 
curiosos ”. 
A preocupação de José Marcos de Castilho visava 
tão somente regular e organizar a prática da música em 
São João del Rei, e o caminho era associar-se em uma 
Confraria de Vila Rica, pois já tinha conhecimento de 
seus estatutos e já estava, como outros músicos, filiado 
nela. O primeiro passo foi regular a atividade musical, 
tomando precauções contra músicos pouco qualificados e 
que só “decoravam algumas missas”"*, 
A correspondência do músico de São João del Rei 
é um documento muito interessante, poque deixa patente 
as relações cotidianas da prática da música consonante 
com o tempo e as relações sociais. Deixa, pelo menos, 
alguns pontos à mostra: em 1815 a retração econômica 
leva alguns músicos, essa “enchorrada de curiosos”, 
como fala José Marcos de Castilho, a praticar a música 
por “qualquer coisa que lhes dêem, e ainda tão somente 
por comida”. Não obstante a situação ignomiosa dos 
músicos, o relator demonstra uma certa inquietação com 
a qualidade da música que esses “curiosos que 
decoravam missas” vinham fazendo em São João del 
Rei. Do outro lado, quando pede a provisão e o 
compromisso da Confraria de Vila Rica, o remetente 
espera contornar a situação com uma agremiação 
profissional como a de Santa Cecília. A importância da 
Confraria como uma instituição respeitada, impedia que 
se ridicularizasse “a arte na sua mais alta consternação”. 
A qualidade da música, a questão econômica dos 
músicos e o respeito pela atividade, foram os principais 
propósitos de João Marcos de Castilho. 
3 Carta do músico José Marcos de Castilho a João Nunes Maurício 
Lisboa.1815,APM,AVC.cx.18, documento 18. 
!4 Idem, ibid. 
38 
O ano da correspondência reforça também a idéia 
do sistema de presídias e das regras estatutárias 
comuns. A Confraria de Santa Cecília de Vila Rica, matriz 
de sua presídias, elaborou um compromisso pelo menos 
cinco anos antes de sua congênere em Mariana. O fato 
de pretender se orientar pelas normas elaboradas por 
uma outra e, ao mesmo tempo, estabelecer-se 
intitucionalmente na sociedade, pela mesma provisão de 
criação, estreita essa relação de matriz-presídias. A 
Confraria-mãe trazia em seu compromisso e provisão 
“ordem para se proibir semelhantes músicos”. 
Esse sistema não só justificou os interesses 
comuns entre os músicos da capitania, como favoreceu a 
própria prática da música. A matriz em Vila Rica 
gerenciou as presídias, conhecendo os músicos e suas 
atividades, conferindo-lhes credibilidade. As filiais por sua 
vez, cuidaram da inspeção dentro de suas jurisdições. 
Para o músico, alistar-se na Confraria de Santa Cecília 
significou integrar-se social e profissionalmentenos 
tempos de crises sociais e econômicas. A Confraria em 
Mariana previa que qualquer músico que fosse de outra 
localidade e que ali chegasse, só poderia executar suas 
funções quando fosse 
perito com o qual muitas vezes se dá o maior 
lustro (sic!) às fesdtividades pois, a este será 
lícito e louvável admitir, mas não se excederá a 
três meses”, 
O período estipulado de três meses foi o resultado 
de um acordo comum entre os músicos que elaboraram 
os estatutos — note-se aí o caráter extraordinário da 
5 Estatutos da Confraria de Santa Cecília de Mariana. 1820, 
ANRJ,c.830,cap. VI,parg.11. 
39 
capacidade técnica aliado ao “lustro” das festividades. Foi 
um procedimento comum entre todas as Confrarias, 
considerando que o compromisso de uma era igual para 
as outras; salvo possíveis alterações para efeito de 
ajustamento em determinadas vilas ou cidades. 
Fatalmente, se o músico visitante estivesse alistado na 
Confraria de Vila Rica seria conhecido e identificado, o 
que lhe facilitaria o contato com outros músicos. 
A Confraria de Santa Cecília foi, nestes termos 
expostos anteriormente, uma associação atípica em 
relação a tantas outras surgidas no século XVIII e que 
sobreviveram ao século seguinte. Ademais, o interesse 
que levou os músicos a se agruparem nela, extrapolava 
aquele caracteristicamente devocional e caritativo dessas 
últimas. Além disso, muito pouco se justificou a existência 
de uma confraria de músicos com as mesmas 
prerrogativas assistenciais como a das outras, que por 
sua vez já supriam a busca da ascese espiritual e 
ofereciam as defesas diante as adversidades sociais. 
Procuramos entender a Confraria de Santa Cecília 
não como mais uma associação religiosa, mas como uma 
agremiação de princípios exclusivistas. Não pretendemos 
caracterizá-la como uma corporação de ofícios a exemplo 
de modelos europeus. Mesmo que tenham ocorrido 
tentativas de transformá-la em uma corporação, a 
situação de Minas Gerais não chegou a oferecer um 
ambiente propício para o desenvolvimento de 
corporações de ofícios'?, pelo menos em relação aos 
'* C£:SCARANO, Júlia. Op.Cit. 
Sobre as corporações de ofícios. Conferir: 
FLEXOR, Maria Helena. Oficiais mecânicos na cidade de Salvador. 
Salvador, Prefeitura Municipal, 1974,90p. 
MARTINS, Judith. Dicionário de artistas e artífices do século XVIII e 
XIX em Minas Gerais. Rio de J aneiro, IPHAN/MEC,1974,(2v). 
40 
ofícios dos mésteres, como em Portugal com a Casa dos 
24". As corporações de ofícios, enquanto forma de 
organização de oficiais, não existiram no Brasil como 
instituições; reproduziram apenas os mecanismos de 
regulamentação e fiscalização, “dentro das estruturas 
burocráticas e administrativas de controle estatal.” 
Em estudos sobre as corporações de ofícios na 
Europa e particularmente em Portugal, Marcello Caetano, 
Franz Paul Langhans e José Serrão!”, sugerem 
VASCONCELOS ,Salomão de. Ofícios mecânicos em Vila Rica durante o 
século XVIII.Revista do SPHAN. Rio de Janeiro, MES, 4:340-344,1940. 
TRINDADE, Jaelson Bitran. A arte colonial: corporação e escravidão. In: 
ARAÚJO, Emanoel(org). A mão afro-brasileira:significado da 
contribuição artística e histórica. São Paulo, Tenenge, 1988,398p. 
7 A casa dos 24 representava a regulamentação dos mestres dos ofícios nos 
conselhos municipais. Reconhecida pelo Mestre de Avis em 1384. Os “24' 
seriam, provavelmente, dois homens representantes dos doze ofícios 
mecânicos mais importantes e organizados. Em 1434, D.Duarte ordena que 
os '24'elegessem procuradores e, através deles, tivessem representação nos 
Conselhos Municipais. 
8 CF.:FRONER,Yacy-Ara. Os símbolos da morte e a morte simbólica. 
(Dissertação de mestrado). São Paulo,FFLCH/USP,1994,p.58.. 
“Envolvendo relações de propriedade, valores imobiliários, o exercício das 
artes e dos ofícios determina uma forma de trabalho distinta, em um sistema 
escravocrata rígido, possível apenas nas áreas de produção artesanal urbana, 
onde as relações de trabalho podem ocorrer de maneira direta e autônoma, 
entre indivíduos e instituições.” 
9 LANGHANS, Franz Paul. As corporações de ofícios mecânicos: 
subsídios para a sua história. Com uma introdução do Professor Doutor 
Marcello Caetano. Lisboa, Imprensa Nacional, 1943,3v. 
SERRÃO, Joel. Dicionário da História de Portugal. Lisboa, Caloustre 
Gulbenkian, v.II,s/d. 
Nas palavras de Joel Serrão, a confraria no sentido lato e no conceito 
medieval, “era uma associação voluntária em que se agrupavam os irmãos 
para um auxílio mútuo, tanto no material para com o espiritual. No campo 
restrito dos mésteres há seguros indícios de que a afinidade da profissão 
tenha conduzido ao agrupamento de ofícios na mesma associação, também 
designada por confraria e regulando-se por um compromisso. Desse ato 
voluntário teriam ainda resultado quer as primeiras autoridades corporativas, 
41 
características básicas e comuns para aquilo que se 
chama de corporação. A corporação orientou-se por um 
regimento, um regulamento imposto, um conjunto de 
normas obrigatórias. Ao contrário, a confraria regeu-se 
por um compromisso, resultante de um acordo da livre 
vontade dos interessados. O regimento da corporação 
partiu do poder público, isto é, dos reis e legistas ligados 
à coroa ou dos administradores municipais. O 
compromisso da confraria emanou da vontade coletiva 
dos confrades músicos, o beneplácito real e eclesiástico 
veio a posteriori, Em outras palavras, foram caminhos 
inversos de regulamentação das atividades. 
Assim, a partir dessas considerações, preferimos 
tratar a Confraria de Santa Cecília como uma confraria 
profissional e atípica, uma vez que os interesses 
espirituais e profissionais se confundiram. A Confraria de 
quer a observância do arruamento profissional, depois tornada obrigatória. E 
a mesma solidariedade em que se radicava a confraria, havia também de se 
manifestar através da manutenção e criação de hospitais próprios dos ofícios, 
para socorro e agasalho de seus mésteres. Não é possível identificar a 
confraria no campo restrito da orgância dos mésteres, com a bandeira de um 
ofício. Mantendo embora, numa certa medida, caráter religioso, cabia à 
bandeira a função de um aspecto físico, em ordem à representação de um 
ofício junto da administração autárquica e da vida pública. Porém podiam ser 
vários os ofícios que se agrupavam no seio da mesma confraria, sem por tal 
fato, ficar desobrigado cada um deles do cumprimento das funções inerentes 
às respectivas bandeiras, continuando mesmo esta, em certos casos, a manter 
o culto e a veneração de seu padroeiro. Sendo comum, pelo menos que fica 
exposto, a mais de um ofício, a confraria, regra geral, agrupava-os frente às 
afinidades de seu labor, regendo-se por um estatuto ou compromisso. Ao 
contrário ao que acontecia em relação a um regimento, o mesmo 
compromisso não era mais que a expressão das vontades dos irmãos. 
Todavia, algumas vezes se reveste de caráter misto, por assim dizer, uma vez 
que são também nelas compreendidas certas normas relativas à atividade de 
um ofício e que melhor cabiam num regimento”. pp.153-154. 
42 
Santa Cecília reuniu devoção, assistencialismo e 
exclusivismo profissional”. 
2? Um outro fator que reforça uma série de aspectos da vida profissional e da 
importância da Confraria de Vila Rica, é descrito no seguinte fato: em meio a 
uma discórdia entre os músicos cariocas, os profissionais da Freguesia de São 
João de Icaraí dizem numa disputa jurídica, refutando os músicos da corte: 
“Dizem que nós somos vagabundos...Respondemos, primeiro, que ainda 
quando assim fosse era louvável o pretendermos regra e ordem, associando- 
nos. Em segundo lugar, que a associação dos embargantes não foi também 
com demasiado escrúpulo formada, porque o foi com os que apanhavam dos 
regimentos, com os que mandavam vir de Minas.” 
CF.: ANDRADE, Ayres de. Francisco Manuel da Silva e seu tempo - 
1808/1865 - Uma fase do passado musical no Rio de Janeiro à luzde 
novos manuscritos. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1967. 
43 
RELAÇÃO DE MÚSICOS QUE DERAM ENTRADA NA 
CONFRARIA DE SANTA CECÍLIA DE VILA RICA, SEGUNDO O 
LIVRO PRIMEIRO DE ENTRADAS DE IRMÃOS DE 1815 - 18. 
01. 
02. 
08. 
04, 
05. 
06. 
o7. 
08. 
09, 
10. 
11. 
12. 
18. 
14. 
15. 
16. 
17. 
18. 
19. 
20. 
21. 
22. 
28. 
24. 
25. 
26. 
27. 
28. 
29. 
30. 
31. 
Sa. 
38. 
34. 
35. 
36. 
37. 
38. 
39. 
40. 
APP,S/C. 
Moradores em Vila Rica: 
Antônio Ângelo da Costa Melo 
Antônio Freire dos Santos 
Antônio José Higino de Carvalho 
Antônio Maximino de Azevedo Coutinho 
Antônio Paulo da Silva 
Antônio Vieira de Carvalho 
Bernardo da Silva Maciel 
Carlos da Costa Fonseca 
Carlos de Castro Lobo 
Felipe Nunes Maurício Lisboa 
Florêncio José Ferreira Coutinho 
Francisco Carmello de Mendonça 
Francisco Custódio dos Santos 
Francisco Esteves Carmello de Mendonça 
Francisco Félix de Moura Pinto 
Francisco José dos Santos Cardoso 
Gabriel de Castro Lobo 
Gabriel de Castro Lobo Júnior 
João Alves de Almeida 
João Antônio Vieira 
João de Deus de Castro Lobo 
João José de Araújo 
João Nunes Maurício Lisboa 
João Rodrigues 
Joaquim José do Amaral 
Joaquim Mariano de Azevedo Coutinho 
José da Costa Coelho 
José Vicente da Costa 
Lúcio Moreira da Silva 
Manoel Antônio do Sacramento 
Manoel da Assunção Cruz 
Manoel Ferreira de Araújo 
Manoel José da Costa 
Manoel Vieira da Cruz 
Marcos Coelho Neto 
Modesto Antônio 
Pantaleão José Dias 
Ponciano José Lopes 
Sebastião de Barros 
Tristão José Ferreira 44 
Il. Morador na freguesia de Itabira do Campo, comarca de Vila 
Rica: 
01.Sargento Joaquim de Gouveia Mendanha 
Ill. Moradores na vila de Sabará: 
01. Alexandre Fernandes da Silva 
02. Domingos José de Azeredo Coutinho 
03. Elias José de Melo 
04. Felipe Alves de Carvalho 
05. Felizardo José Eustáquio 
06. Francisco de Paula Dias 
07. Francisco Mariano 
08. Jerônimo da Costa Guimarães (Capitão) 
09. João Gualberto da Silva 
10. Joaquim Cláudio Pereira Vila Nova 
11. Joaquim José Soares 
12. José Gonçalves Asenso (7) 
13. José João Fernandes de Souza 
14. José Veríssimo de Araújo 
15. Laureano Antônio do Sacramento 
16. Manoel Corrêa de Azevedo 
17. Manoel da Rocha Pereira 
18. Mariano Casimiro Rodrigues da Silva 
IV. Moradores na cidade de Mariana 
01. Antônio da Costa Lopes (Alferes) 
02. Camilo Lélis de Jesus 
03. Felício José Moreira 
04. João Soares de Santa Bárbara 
05. José Felipe Corrêa Silva (Quartel-Mestre) 
06. Leonardo José Coelho 
07. Manoel do Nascimento Rosa 
08. Manoel José de Magalhães 
V. Moradores em Curral d'El Rei, Comarca de Sabará 
01. Antônio José de Souza Pinto 
02. Antônio Nunes Cruz 
03. Brás Rodrigues Chaves 
04. Francisco de Paula Varela da Silveira 
05. Francisco de Sales Pereira 
06. Januário de Gouveia Mendanha 
07. Joaquim da Rocha Ribeiro 
08. Joaquim Manoel da Silveira 
09. Joaquim Rodrigues da Silva 
10. Manoel Crispiano das Neves 
11. Manoel Faustino Vítor 
12. Manoel Leite Barcamonte 
13. Manoel Luís Brandão 
14. Simplício Vieira Chaves 
15. Vicente Ferreira da Silva 
VI. Morador na freguesia de Queluz, Comarca do Rio das 
Mortes: 
01. José Pimenta Chaves 
VII. Morador em Itaverava, Comarca de São João Del Rei: 
01. João Batista Fagundes 
VII. Moradores em Congonhas do Campo, Comarca de Vila 
Rica: 
01. Basílio Pimenta da Mota 
02. Caetano Antônio Corrêa 
03. Francisco de Paula 
04. Francisco do Carmo 
05. Francisco Manoel Pimenta 
06. Francisco Pimenta Chaves 
07. Herculano Cândido Bonfim 
08. Honofre de São Bento 
09. Joaquim Leandro Rosa 
10. Manoel Pimenta Chaves 
11. Manoel Ribeiro da Silva 
12. Maximiano Nogueira 
46 
IX. Moradores de São João Del Rei: 
01. Antônio da Silva Miranda 
02. Cipriano Pereira do Amaral 
03. Francisco de Assis Silva 
04. Francisco de Paula de Andrade 
05. Francisco Joaquim de Santana 
06. Francisco José Cardoso 
07. Francisco Lopes das Chagas 
08. Francisco Mendes Duarte 
09. João Alves de Castilho 
10. João Batista de Miranda 
11. João Batista de Miranda Salvado 
12. João José da Silva Vieira 
13. João José das Chagas 
14. João Leocádio 
15. João Lopes 
16. João Xavier da Silva Ferrão 
17. Joaquim Bonifácio 
18. Joaquim da Silva Barcelos 
19. Joaquim José da Silva 
20. Joaquim José de São Bernardo Roma 
21. Joaquim Lourenço de Miranda 
22. José Jerônimo de Miranda 
23. José Joaquim de Souza Sabino 
24. José Machimo de Alcami 
25. José Marcos de Castilho 
26. José Teixeira de Carvalho (Capitão) 
27. Lourenço Fernandes Braziel 
28. Luciano Antônio de Catagerona 
29. Manoel da Costa Souto 
30. Marcelino Cláudio de Miranda 
31. Quintino Pereira de Sampaio 
32. Silvério da Costa Brandão 
33. Valentino Paes Corrêa 
34. Veríssimo Rodrigues César 
X. Morador na Vila de São José, Comarca de Rio das Mortes: 
01. Manoel Marques (Sargento-Mór) 
47 
XI. Morador em Catas Altas do Mato Dentro, Comarca de Vila 
Rica: 
01. João Fernandes Monteiro 
Xl, Moradores em Santa Anna do Morro do Chapéu, frequesia 
e Queluz, comarca do Rio das Mortes: 
01. Albano José Gonçalves 
02. Anacleto José da Costa 
03. Francisco José de Frias (?) 
04. João Clemente da Costa 
05. João da Costa Salino 
06. João de Pina Tavares 
07. João Luís de Carvalho 
08. José Gomes de Oliveira 
09. José Simplício da Costa 
10. Manoel! Antônio Moreira de Castilho 
11. Manoel Gonçalves de Jesus 
12. Pascoal da Silva Guerra 
XIII, Moradores em Baependi, comarca de São João Del Rei: 
01. José Pereira de Macedo (Alferes) 
02. Salvador Moreira Rodrigues 
XIV. Moradores em Prados, comarca de São João Del Rei: 
01. Antônio Muniz (?) de Paula 
02. Antônio Pedro da Silveira 
03. Carlos José Cardoso da Silva 
04. Claudino de Souza 
05. Constantino José de Castro 
06. Felipe Neri Teixeira 
07. Francisco de Souza 
08. Francisco Joaquim de Santana 
09. Francisco Ribeiro dos Santos 
10. Francisco Simões de Barros 
11. Jerônimo Maximo Viana 
12. Joaquim Gonçalves Ramos 
13. Joaquim Lourenço do Espírito Santo 
14. José Dias Pereira As 
15. José Gonçalves de Moura 
16. José Joaquim de Santana 
17. Manoel Bernardes Spíndola e Castro 
18. Manoel Correa Paes 
19. Roque Pereira da Silva 
XV. Moradores na frequesia do Rio Pomba, cidade de Mariana, 
comarca de Vila Rica: 
01. Anastácio Dias de Souza 
02. Antônio de Torres Franco 
03. Antônio João de Oliveira 
04. Antônio Pires de Faria 
05. Carlos Antônio de Souza 
06. Francisco de Torres Franco 
07. Francisco dos Reis Menezes 
08. Francisco Fagundes de Mesquita 
09. Gregório Mariano Spíndola e Castro 
10. João Coelho Granzil 
11. Joaquim Gonçalves Moreira 
12. Joaquim Pereira dos Passos 
13. José de Clarêncio 
14. José de Torres Franco 
15. José do Vale de Jesus 
16. Lúcio de Torres Franco 
17. Manoel Jacinto de Torres Franco 
18. Manoel Teixeira Romão 
19. Vitorino Nunes dos Reis 
XVI.Moradores de Itabira do Mato Dentro, Comarca de Sabará: 
01. Athanásio Fernandes da Silva 
02. Esteves Pires Pontes 
03. Felipe Fernandes Nunes 
04. Floriano Alves Pereira 
05. Francisco de Assis Pinto 
06. João Evangelista Pereira 
07. José Coelho Pacheco 
08. Justino Fernandes Madeiro 
09. Manoel Alves de Araújo 
49 
XVII. Moradores na Vila do Príncipe, Comarca do Serro Frio: 
01. Antônio Gomes Chaves 
02. Antônio Rodrigues Lamaxo (?) 
03. Domingos Pinto Ribeiro 
04. Elias José Coutinho 
05. Francisco Roberto de Azevedo 
06. João Batista Peixoto 
07. Joaquim José Ribeiro Peixoto 
08. José Alves Passos 
09. José Antônio de Oliveira e Castro 
10. José de Paiva Quintanilha 
11. José Tomás Justiniano 
12. Liberato José Pinheiro 
13. Manoel Joaquim da Silva Pereira 
14. Manoel Rodrigues Vieira 
15. Plácido José de Souza 
16. Simão Rodrigues 
17. Teodoro Vieira Gil 
18. Vicente Lúcio Forbelo 
XVII.Moradores em Santa Luzia, Comarca de Sabará: 
01. Bernardino José de Senne 
02. Clemente Xavier da Costa 
03. Francisco de Paula Marinho 
04. Francisco de Paulas Mosso 
05. João Batista de Moraes Ferreira 
06. José Bernardes Maciel 
07. José Evaristo de Melo 
08. Manoel Jacinto de Carvalho09. Manoel Vicente Hipólito 
10. Paulo José da Costa 
XIX. Moradores de Barbacena, Comarca de São João Del Rei: 
01. Caetano Rodrigues da Silva 
02. Cecílio José Venâncio 
03. Damaso Dionísio Valamiel 
04. Florêncio Rodrigues de Andrade 
05. Francisco das Neves de Jesus 
06. Jerônimo José Rodrigues 
07. José Tomás da Silva 
08. Manoel dos Passos da Graça 
50 
XX.Moradores na Vila do Tamanduá, Comarca de São João 
Del Rei: 
01. Bento Antônio da Boa Morte 
02. Serafim da Costa 
XXI. Moradores de Oliveira, Comarca do Rio das Mortes: 
01. Domingos Antônio dos Santos 
02. Francisco José de Queirós 
03. Francisco Martins Ferreira 
04. Joaquim da Silva Fialho 
05. Manoel Gonçalves Gomides 
06. Silvestre Pereira dos Santos 
XXI. Moradores em Formiga, Comarca do Rio das Mortes: 
01. Antônio Fernandes 
02. João Brás da Costa 
03. José Brás da Costa 
XXIII. Moradores em Bom Sucesso, Comarca do Serro Frio: 
01. Adriano Soares de Jesus 
02. Antônio Correa dos Santos 
03. Antônio do Amaral Coimbra 
04. Antônio Martins de Almeida 
05. Antônio Pereira de Medeiros 
06. Antônio Pereira de Medeiros 
07. Custódio dos Anjos Correa 
08. Fermiano Carvalho dos Santos 
09. Francisco de Paula Assis 
10. Francisco Leonino Maris 
11. Francisco Soares de Jesus 
12. Jacinto Ferreira da Costa 
13. João Teixeira Pinto 
14. Joaquim Felizardo Pires 
15. Joaquim Francisco Maia 
16. José da Silva Vieira 
17. José Manoel Pereira 51 
18. José Nunes Pereira Dorta 
19. José Pereira de Araújo 
20. José Soares 
21. Manoel Antônio Rodrigues 
22. Manoel Antunes 
23. Manoel Gonçalves 
24. Norberto Martiniano Nunes 
25. Roberto Vieira de Araújo Calam 
26. Serafim dos Anjos 
27. Vicente Ferreira de Araújo 
XXIV. Moradores em Caeté, Comarca de Sabará: 
01. Antônio dos Passos Fernandes 
02. Camilo de Lelis Fernandes 
03. Francisco de Assis Fernandes da Trindade 
04. Francisco Fernandes Coimbra 
05. Francisco Xavier de Sá Glória 
06. João de Souza Leal 
07. Joaquim Oliveira Pacheco 
08. Manoel Dias de Araújo 
09, Manoel Fernandes da Trindade 
10. Pedro Antônio Fernandes Coimbra 
11. Venâncio Fernandes da Trindade 
XXV. Moradores em Pitangui, Comarca da Vila do Infante ou 
de Sabará: 
01. Antônio Lourenço Justiniano de Pádua 
02. Caetano José Delfim 
03. Domingos Antônio Pereira 
04. Domingos José Pinto 
05. Felipe Antônio Peres 
06. Floriano José Pinto 
07. Francisco Antônio Rodrigues 
08. Francisco Ferreira Alberto 
09. Joaquim José da Silva 
10. Joaquim José Silveira Pinto 
11. José Joaquim da Silva 
12. Manoel Caetano da Fonseca 
13. Manoel Duarte de Queirós 
14. Marcos Rodrigues Sobreira 
52 
XXVI.Moradores em Lagoa Santa, Comarca de Sabará: 
01. Antônio Lopes Severino 
02. David Monteiro de Soza Telles 
03. Francisco Monir (2?) 
04. João Ramos da Cruz 
05. José Barbosa de Sá 
06. Miguel Pereira da Silva 
07. Patrício José Barbosa 
XXVII Moradores em Aiuruoca, Comarca de São João Del Rei 
ou do Rio das Mortes: 
01. Bernardo José Carneiro 
02. David Cardoso Neris 
03. Felix Barbosa Pereira 
04, Flávio Antônio da Silva 
05. Hermenegildo Rodrigues da Cunha 
06. João Salustiano Coelho 
07. Joaquim Vieira de Sampaio 
08. José da Rocha e Souza 
09. José Joaquim da Rocha 
10. Manoel da Rocha e Souza 
XXVII. Morador em Paraopeba, Comarca de Sabará: 
01. Cândido José da Silveira 
XXIX.Moradores em São Miguel, Comarca de Sabará: 
01. Antônio Emílio Gomes 
02. Antônio Fernandes Diniz 
03. Benedito José da Sá 
04. Bento José Pereira 
05. Bernardino José Pereira 
06. Francisco Barreto Falcão 
07. João da Costa Soares 
08. João Leite Monteiro 
09. Manoel Domingos Correa 
10. Valério Martins de Santos 
XXX. Moradores em Candeias, Comarca do Rio das Mortes: 
01. Antônio Julio da Silveira 
02. João Marçal da Costa 
XXXl.Morador em Lagoa Dourada, Comarca do Rio das 
Mortes: 
01. José da Silva Malta 
XXXIl.Moradores em Ibituruna, Comarca do Rio das Mortes: 
01. Antônio da Cunha de Souza 
02. Antônio Joaquim de Souza 
03. Damaro José de Souza 
04. Francisco Antônio de Souza 
05. Inácio Correa Amaud 
06. José da Cunha Mota (Guarda-Mór) 
07. José Luís Gonçalves 
08. Lourenço Bernardes (Alferes) 
09. Manoel Antônio Fernandes 
10. Manoel Joaquim da Silva 
11. Manoel Joaquim da Silva 
12. Manoel José de Souza 
13. Prudêncio José Gomes 
Observação: 
Todos os nomes listados acima aparecem no “Livro Primeiro de 
Entradas”, como Professores da Arte da Música; no entanto os 
nomes que arrolamos a seguir, não trazem essa distinção, quais 
sejam: 
Il. Moradores de Itabira do Campo, Comarca do Rio das 
Velhas: 
01. André Alves da Cruz 
02. Antônio Joaquim de Oliveira 
03. Apolinário Antunes de Araújo 
04. David de Souza Barreto 
05. Francisco de Paula e Mendanha 
06. 
07. 
08. 
09. 
10. 
Francisco de Pinho 
Joaquim José e Mendanha 
José de Faria Gurgel 
Manoel Guilherme do Nascimento 
Vicente Ferreira e Mendanha 
Il. Moradores em Vila Rica: 
Angelina Maria Rosa 
Anna Rodrigues de Andrade 
- Antônio Inácio da Purificação 
Antônio Ribeiro de Azevedo (Padre) 
Antônio Tássara de Pádua (Capitão) 
Bárbara Bernarda Brandão 
Bruno José de Souza Castro (Padre) 
Camelo Carlos Jorge de Mendonça 
Delfino Camilo Pereira 
Domingos Teixeira Pires 
Emerenciano Maximino de Azeredo Coutinho (Padre) 
Francisca Maria de Jesus 
Francisco José Pereira de Carvalho (Padre) 
Isabel Marcelina Brandão 
João Ângelo Tavares do Amaral 
Joaquim José de Oliveira (Capitão) 
. Joaquim Pereira de Magalhães (Padre) 
. Joaquim Roberto Silva (Padre) 
Joaquina Coelho de Moura 
Joaquina da Silva Sena 
José Carneiro de Moraes (Padre) 
José da Cunha e Melo (Padre) 
José de Freitas e Souza (Padre) 
José Vieira de Carvalho 
. Júlio César da Fonseca 
Luís José da Cruz 
Mafalda Maria de Santa Anna 
Manoel Antônio Pimenta (Padre) 
Manoel da Silveira e Araújo (Frei) 
Manoel dos Santos de Abreu (Padre) 
Manoel Rodrigues Jardim (Padre) 
Maria Carolina Bárbara de Jesus 
Maria da Cunha Xavier 
Maria Leonor de São Bernardo 
Romana Rodrigues de Andrade 
. Silvério Teixeira Coelho (Padre) 
Silvério Teixeira de Gouveia (Padre-Mestre) 
55 
38. Simplícia Clara da Fonseca 
39. Thomazia Mendes de Vasconcelos 
40. Vicente Tássara de Pádua (Porta- Estandarte) 
41. Vitorino Alves Machado (Padre) 
Ill. Moradores em Rio Pomba, Comarca de Vila Rica: 
01. Cecília Constância de Torres 
02. Francisca Pinta de Meirelles 
03. Generosa Felicidade 
IV. Morador em Santa Luzia, Comarca de Sabará: 
01. João Batista de Souza (Tenente-coronel) 
V. Morador em São João Del Rei: 
01. José da Silva Pacheco (Padre) 
VI. Moradores em Passagem de Mariana, Comarca de Vila 
Rica: 
Nesta listagem, os irmãos aparecem como “Bentinhos da 
Confraria de Santa Cecília”. 
01. Bernardo de Souza 
02. Francisco Alves Lima 
03. Francisco Ferreira Vieira 
04. Gordianno Fernandes Vieira 
05. Gordianno Luís do Vale 
06. Joaquim Dias Martins 
07. Luciano Correa Lemos 
08. Luís Gonzaga Teixeira 
09. Luís Pinto de Senne 
10. Manoel Fernandes Machado 
11. Manoel Fernandes Machado 
12. Manoel Luís da Silva 
13. Mariano Vieira Soares 
14. Rufino Xavier 56 
COMPROMISSO DA CONFRARIA DE SANTA CECÍLIA DE 
MARIANA 
1820 - ANRJ, c. 830 
Termo de abertura 
Senhor 
Dizem os professores da arte da música moradores na leal cidade 
de Mariana e seu termo, Capitania de Minas Gerais, que lhes dá 
impulsos de devoção "sua especial padroeira, a gloriosa, virgem e 
mártir Santa Cecília. Fizeram colocar a sua imagem em um altar 
da igreja catedral da dita cidade por legítima autoridade ordinária, 
e com permissão dos capelães das mesmas, se ajuntar para 
solenizarem todos os anos a sua festividade no seu próprio dia, 
que é o 22 de novembro, cantando e tocando instrumento à missa 
solene do coro; e para firmeza dessa sua devoção, pretendem 
erigir uma confraria abrangendo a mesma cidade e todo o seu 
termo, para o regimento da qual organizarão o estatuto cuja cópia 
autêntica oferecem, e porque nada podem conseguir sem a devida 
autorização de Vossa Majestade. 
Para Vossa Majestadese 
designe liberalizar-lhes a especial 
graça de ser protetor da referida 
confraria, mandam passar a 
competente provisão de ereção e 
juntamente confirmar o estatuto. Por 
essa graça rogarão a Deus pela 
seticidade de Vossa Majestade e de 
toda augusta e real santa. 
S.R.M. 
57 
CAPÍTULO | 
Das pessoas que representam o corpo da Irmandade e do modo 
Parágrafo 1. 
Parágrafo 2. 
Parágrafo 3. 
Parágrafo 4. 
Parágrafo 5. 
Parágrafo 6. 
Parágrafo 7. 
Parágrafo 8. 
Parágrafo 1. 
Parágrafo 2, 
Parágrafo 3. 
Parágrafo 4. 
Parágrafo 5. 
da eleição. 
Haverá um Juiz, um Escrivão, um Tesoureiro, um 
Procurador, oito Irmãos de mesa e um Zelador. 
Para eleição destes se convocará o maior número de 
irmãos no dia 21 de novembro de cada ano. Proporá 
o Juiz três irmãos da maior idoneidade, probidade e 
capacidade sobre os quais se deve votar, e sairá Juiz 
aquele que obtiver mais votos a seu favor. 
Nos mais casos, Escrivão, Tesoureiro e Procurador, 
cada um querendo seu cargo, elegerá três entre os 
irmãos para neles se votar e será vencedor aquele 
que exceder em votos. 
Também preparará o Escrivão três irmãs em que se 
há de votar e sairá eleita Juíza a que tiver maior 
número de votos a favor; e oito irmãs de mesa 
aprovadas pelo Juiz. 
Não ficarão reeleitos os mesários, salvo aquele ou 
aqueles que por justiça ou por necessidade, a mesa 
julgar conveniente para a sua conservação. 
Não entrarão em eleição os que tiverem servido antes 
de passados três anos. 
Os que, porém, passado o dito tempo, forem eleitos 
para qualquer cargo serão obrigados a servir sem 
escusa. 
A eleição será publicada no dia 22 de novembro, e 
assinalando-se dias para as posses, o Escrivão lhes 
fará avisos por cartas. 
CAPÍTULO Il 
Da autoridade da mesa. 
Esta terá inspeção na arte da música, e todos os que 
a exercitarem dentro da compreensão e de todo 
termo desta cidade de Mariana, lhes farão mister. 
Nenhuma pessoa se exercitará em funções solenes 
sem mostrar-se assinado e aprovado. 
A mesa nomeará examinadores e com atestação 
deles para aprová-los. 
Não serão assistidos em coro os que não estiverem 
atestados na confraria. 
Aqueles que nas festas solenes ou públicas 
admitirem os que não forem irmãos nem previamente 
examinados, portão o dobro do salário que 
ajustarão ganhar nessa função e ficarão privados de 
entrarem em ajuste algum por dois anos. 
Parágrafo 6. Os intrusos que se meterem na mesma relação, 
perderão o dobro do que se cobrava regularmente. 
Parágrafo 7. Para evitar a temeridade dos que pretenderem ou 
sinistramente procurarem iludir essa observância, se 
recorrerá ao respectivo Provedor das capelas, o qual 
punirá os intransigentes com a pena de 
transgressarem as leis. 
Parágrafo 8. Elegerá a mesa presidentes nas povoações distantes 
que regulem e supram a autoridade da mesa. 
Parágrafo 9. Serão admitidas todas as pessoas que quiserem 
atestar-se por sócios, mas serão poucos os mesários. 
A mesa rejeitará aquelas pessoas que por sua 
indignidade e conhecido orgulho for capaz de levantar 
sedições, desobedecer aos superiores e perturbar o 
bom governo da corporação; e ainda, os irmãos que 
de semelhante modo procederem serão excluídos. 
Parágrafo 10. Qualquer músico examinado e aprovado poderá 
ajustar funções, mas para as fazer deverá obter 
licença da mesa ou do irmão Juiz, o qual lhe fará 
concedida por uma cédula passada pelo escrivão e 
assinada pelo dito Juiz. 
Parágrafo 11. Não se farão as licenças sem que se registre em um 
livro que para isso deve haver, com declaração do 
preço de ajuste, onde ficará assinado. 
Parágrafo 12. Quem sem essas licenças executar funções solenes 
incorrerá nas penas do parágrafo 5 deste capítulo. 
Parágrafo 13. No caso de concedida a licença ao primeiro que a 
pediu, não poderá mais revogar e conceder a outro. 
Caso contrário, ficarão responsáveis os mesários e 
por eles servirem a indenizar o preço do ajuste para 
os seus bens ao primeiro impenetrante. 
Parágrafo 14. Quando um músico qualquer fizer algum ajuste 
totalmente abusivo de sua harmonia que deve fazer 
com os demais e lhes causar prejuízos, não se 
concederá a licença sem que sejam ouvidos os 
prejudicados. 
59 
CAPÍTULO III 
Das coisas necessárias à confraria 
Parágrafo 1. Terá uma cruz para usar nas procissões e para levar 
os confrades mortos à sepultura; e a insígnia de que 
se revestirão será uma opa branca com sobrecapa 
roxa. 
Parágrafo 2. Haverá um esquife para carregar os mortos que 
serão acompanhados obrigatoriamente por todos os 
irmãos. 
Parágrafo 3. Haverá um cofre com três chaves para nele se 
recolher os rendimentos da confraria e os 
claviculários serão o Juiz, o Escrivão e o Tesoureiro. 
Parágrafo 4. Haverá um livro para inventário das alfaias, 
ornamentos e móveis da confraria. Outro para 
lançamento de entradas de irmãos, outro para receita 
e despesa, outro para assento dos mortos e outro 
para registro de licenças. 
CAPÍTULO IV 
Das obrigações da mesa. 
Parágrafo 1. Festejará a nossa Santa Virgem e Mártir no dia 22 de 
novembro com a maior solenidade que for possível e 
nenhuma música se negará a isso e não haverá 
dinheiro. 
Parágrafo 2. Só por grande impedimento se transferirá a festa 
para outro dia. 
Parágrafo 3. Para ela se tirará o dinheiro do cofre. 
Parágrafo 4. A mesa empossada tomará contas, aprovando ou 
desaprovando as despesas. 
Parágrafo 5. Socorrerá os irmãos enfermos e pobres, 
diligenciando o acolhimento deles no hospital, 
assistindo-lhes com as esmolas diárias. 
Parágrafo 6. Expedirá suficiente livro a cada presente para os 
ministros das presídias, e constará na numeração, 
rubricado pelo Escrivão da Irmandade. 
Parágrafo 7. Fará catacumbas ou cemitérios para enterramento 
dos irmãos falecidos. 
Parágrafo 8. Fará sufragar os irmãos falecidos com quatro missas 
pagas pelos cofres. 
Parágrafo 9. Se as forças da confraria permitirem, fará capela 
própria. 
Parágrafo 10. Acompanhará todos os irmãos falecidos à sepultura. 
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Parágrafo 11. Prometerá tudo quanto for zelo e devoção com a 
Santa, e caridade com os irmãos. 
CAPÍTULO V 
Das obrigações de cada um dos mesários. 
Parágrafo 1. O irmão Juiz assistirá a todas as mesas e nelas terá 
voto decisivo, providenciará fora da mesa tudo quanto 
for negócio, concederá licença para as festas, 
nomeará examinadores aos novos pretendentes e 
mandará socorrer aos irmãos enfermos e pobres. 
Parágrafo 2. O irmão Escrivão terá em sua guarda todos os livros 
e se responsabilizará por eles. 
Parágrafo 3. O irmão Tesoureiro fará receber no cofre todos os 
rendimentos da confraria. 
Parágrafo 4. O irmão Procurador fará as cobranças de tudo que se 
dever à confraria. 
Parágrafo 5. Os irmãos de mesa estarão prontos a vir a ela 
sempre que forem avisados. 
Parágrafo 6. No impedimento do juiz, se avisará ao primeiro irmão 
da mesa. 
Parágrafo 7. O irmão procurador terá a seu cargo a ata da santa. 
CAPÍTULO VI 
Das funções de todos os irmãos para subsistência da corporação. 
Parágrafo 1. O irmão Juiz pagará pelo o seu cargo a quantia de 
vinte mil réis. 
Parágrafo 2. Os irmãos Escrivão, Zelador e Procurador não 
pagarão nem mesadas nem anuais. 
Parágrafo 3. O irmão tesoureiro pagará três mil réis. 
Parágrafo 4. A irmã Juíza pagará o mesmo que o Juiz e as irmãs 
de mesa como os irmãos. 
Parágrafo 5. Os irmãos de mesa pagarão cada um novecentos 
réis. 
Parágrafo 6. Qualquer um que for admitido para irmão pagará de 
entrada seiscentos réis. 
Parágrafo 7. Todos os irmãos pagarão por si trezentos réis 
anualmente. 
Parágrafo 8. Os irmãos moradores nesse termo, alistados na 
confraria de Vila Rica, ficarão sujeitos a essa e não 
serão obrigados jamais dos cargos e anuais daquela, 
e nem será preciso pagarem novas entradas. 
Parágrafo 9. Nenhum professor de música que seja irmão dessa 
confraria poderá ir contra essa determinação. 
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Parágrafo 10. Nas funções públicas ou de teatro seguir-se-á a 
mesma ordem, com diferença porém que quando 
fizerem os ajustes pagarão