Prévia do material em texto
ÍNDICE Apresentação Festival Revitalização do Acervo de Partituras da Socidade Musical Euterpe Itabirana Andre nero: COMA pas poianço aaa SEO da a 11 Algumas Informações sobre a Música na Bahia no Período Colonial Harry Lanatt CrowiL csanasiaas esngineasinasina ines dunas adiadas 23 A Confraria de Santa Cecília no Século XIX Martelo MONTEIRO ca asma pa ar O a 29 Gabriel Fernandes da Trindade: Os Duetos Concertantes Pano COS siianDes da nonds single ias 64 Uma Tablatura para Saltério do Século XIX Rogério BUS us inccasiei ines ion ind ass ea dl cepa 112 |! ENCONTRO DE MUSICOLOGIA HISTÓRICA O patrocínio da PETROBRÁS para o VII FESTIVAL INTERNACIONAL DE MÚSICA COLONIAL BRASILEIRA E MUSICA ANTIGA e o Il ENCONTRO DE MUSICOLOGIA HISTÓRICA, realização do Centro Cultural Pró-Música de Juiz de Fora, comprova o interesse dessa importante empresa para evento cultural que registra pesquisa e divulgação do trabalho artístico musical do Brasil no século XVIII. || ENCONTRO DE MUSICOLOGIA HISTÓRICA Mais uma contribuição do Centro Cultural Pró-Música de Juiz de Fora Desde a primeira edição do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga percebemos a necessidade de um espaço inteiramente dedicado àqueles que se ocupam com a pesquisa em música. À idéia de um encontro de musicologia surgiu do interesse crescente dos organizadores do Festival e dos estudiosos em criar um ambiente propício à troca de informações e à discussão de assuntos de interesse comum. O | encontro de Musicologia Histórica aconteceu em 94 e reuniu no Seminário da Floresta, em Juiz de Fora, alguns dos mais representativos estudiosos em música do Brasil e do exterior. O evento, paralelo ao Festival e transformado em bianual, teve nova edição em 96. As comunicações apresentadas durante o Il Encontro chegam agora ao público. O objetivo da iniciativa é registrar e intercambiar informações, numa tentativa de minimizar o isolamento dos musicólogos em seus estudos. Esperamos que esta publicação seja seguida de muitas outras — a próxima em 98, com as pesquisas do terceiro encontro. A Direção Centro Cultural Pró-Música Festival Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga é um trabalho de resgate de parte da memória do Brasil, particularmente de Minas Gerais. A realização anual do Centro Cultural Pró-Música faz do estudo e divulgação da produção musical do século XVIII a oportunidade de traçar o panorama dos principais aspectos da época com destaque para os mestres, os instrumentos e a conjuntura social. Aos 500 alunos, número limitado pela coordenação do evento, são oferecidos cursos voltados à teoria e à prática do ensino de canto, instrumentos modernos e antigos, ministrados por músicos de projeção nacional e internacional. A troca de experiências entre estudantes e professores de diferentes formações se concentra nas oficinas de orquestra, espaço ideal para o trabalho de conjunto. Estas atividades vão resultar na gravação do CD. Os cinco Cds já editados, a partir de 92, registram peças dos compositores Emerico Lobo de Mesquita, João de Deus de Castro Lobo, Manuel Dias de Oliveira, Joaquim de Paula Souza, Ignácio Parreira Neves, Francisco Gomes da Rocha, José Maurício Nunes Garcia, José Joaquim de Souza Negrão e Theodoro Cyro de Souza. Nesta oitava edição, o Festival destaca peças de André da Silva Gomes e do Imperador D. Pedro 1. A pesquisa é outro segmento do Festival. Desde 1990, foram restauradas e divulgadas cerca de 30 obras, algumas inéditas. Musicólogos como Curt Lange (alemão que dedicou a vida à pesquisa da música colonial), Ivan Moody (inglês radicado em Portugal), Manuel Carlos de Brito (Portugal), Sérgio Dias (RJ), Maurício Monteiro e Paulo Castagna (SP) apresentaram estudos em anos anteriores. Em 94 e 96 aconteceram as duas primeiras edições do Encontro de Musicologia Histórica e entre as atividades do 8º Festival está o lançamento do livro que traz as comunicações feitas no Il Encontro. A programação cultural muda a rotina da cidade com a realização de concertos diários, em teatros e igrejas, e das audições públicas, em ruas e agências bancárias do centro. Grupos e orquestras de várias partes do país e do mundo participam da programação oficial, sempre com entrada franca. No palco, montado no calçadão da rua Halfeld, os alunos do Festival mostram suas experiências. As atividades culturais despertam a atenção de mais de 150 mil pessoas a cada ano. REVITALIZAÇÃO DO ACERVO DE PARTITURAS DA SOCIEDADE MUSICAL EUTERPE ITABIRANA André Guerra Cotta”. Boa tarde a todos. Meu nome é André Guerra Cotta. Venho realizando, junto à Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, em Itabira, o Projeto de Revitalização do Acervo da Sociedade Musical Euterpe Itabirana, que eu gostaria de apresentar-lhes hoje. Antes, porém, de falar do projeto e do acervo propriamente ditos, gostaria de fazer um pequeno preambulo. Trata-se do fato de que foi encontrado este documento", esta única página, nos restos da casa de uma fazenda próxima a Itambé do Matto Dentro. Itambé, como se sabe, foi um dos primeiros arraiais formados naquela região, ainda nos princípios do século XVIII. Segundo a história oral corrente naquele lugarejo, próximo ao qual ainda se encontram as ruínas desta fazenda, da qual não se sabe sequer o nome, morava a família de um fazendeiro riquíssimo, dizem, que * André Guerra Cotta é violonista e regente, formado pela Escola de Música da UFMG, onde atualmente é aluno do Curso de Especialização em Musicologia Histórica Brasileira. É regente do Coral da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), em Itabira, MG, e do Coral do Jaraguá C. Clube, em Belo Horizonte. É pesquisador contratado pela FCCDA e participa, também como pesquisador, no projeto Recuperação do Acervo Musical dos Séculos XVIII e XIX em Diamantina, iniciativa da Escola de Música da UFMG, com o projeto integrado de pesquisa Criação do Acervo Digital de Documentos Musicais dos Séculos XVII e XIX. ! Neste momento foi apresentada ao público uma imitação de manuscrito, através de um retroprojetor, de modo que pudesse ser vista por todos. 11 tinha uma intensa atividade econômica e social na região, mantendo inclusive uma orquestra de mulatos, na qual ele por vezes tocava. É possível imaginar, próximo a cachoeira do Jardim, de 50 metros de altura, cujas águas transformam-se em neblina antes mesmo de tocar o solo, os passeios, as festas campestres, com música de boa qualidade. Esta parte de tenor pode mostrar indícios de um serviço religioso requintado, talvez na capela da fazenda, pois trata-se de um Te Deum, como os senhores podem ver, Observem no verso: “Hé do Mel. P.Prado, que a copiou / Itambé do Matto Dentro / 31 de dezembro de 1788” - são duzentos e oito anos de idade. Trata-se, seguramente, de uma parte de coro a quatro vozes, pois o título diz “Tenor a 4”. Observem os compassos iniciais de espera: 38 compassos, aos quais segue provavelmente um tutti vocal, seguido, no compasso 53 por um solo do tenor. Que proporções são estas? Este Te Deum poderia ter um solo inicial de outra voz do coro... Deveria ter pelo menos duas trompas e talvez um belo acompanhamento de orquestra de cordas. Observem que o copista tinha algum talento. O latim é quase perfeito. Podemos encontrar algumas expressões “aportuguesadas”, como “Sabao”. À obra está escrita em sol maior, abusando da região aguda do tenor, como o la4 em semibreve, no compasso 57. Parece realmente tratar-se, na maior parte da obra, de uma escrita homofônica a quatro vozes, em estilo silábico, tão característico dos contemporâneos conhecidos deste autor anônimo”, 2 Passado o documento ao público, protegido por um invólucro transparente, pedi que examinassem rapidamente e observei como as pessoas reagiam (em geral, com muito cuidado e espanto), como pegavam o manuscrito, etc.Depois de mostrar os pontos contidos neste parágrafo, pedi de volta o manuscrito, sob o protesto de alguns dos presentes, que disseram 12 Talvez os senhores considerem a possibilidade de minhas conjeturas estarem completamente erradas. Eu também. Estou, na verdade, vendo frustrarem-se minhas lutas contra toda a sorte de dificuldades, depois de encontrar indícios da existência do manuscrito, de contatar seu proprietário, de convencê-lo a emprestar seu tesouro a mim, vencer sua desconfiança, provar a ele que eu não estaria surrupiando-lhe uma peça de valor financeiro inestimável, tentar mostrar-lhe o valor histórico e cultural da peça - o qual definitivamente não parece tê- lo animado. Confesso que, depois de tudo, estou frustrado: não tenho mais ilusões, este documento não significa tanto. Significa muito historicamente? É possível, com ele, elucidar a identidade musical daquela comunidade? Representa ele uma possibilidade de resgatar a prática musical da Comarca do Serro Frio? Não, senhores, não acredito que seja possível. Este documento, isolado, não tem valor nenhum. Não significa, a rigor, nada!. Não é possível, mais, resgatar o conjunto de ofícios, hábitos, conjunturas e práticas culturais que o produziram. E inútil tentar recriar, reconstruir, restaurar a música da qual ele foi parte”. ser insuficiente o tempo dado para a apreciação do documento, etc. Depois de pedir sua compreensão, continuei falando e, muito sério, retirei o documento do invólucro de plástico e passei a manuseá-lo nervosamente, dobrando suas bordas, agitando-o desleixadamente ao gesticular, o que provocou visível incômodo em muitas pessoas, como era de se esperar. Neste momento, depois de falar cada vez mais enfática e ansiosamente, rasguei o documento! Houve uma estupefação geral, um grande silêncio (mas parece que ouvi alguém dizendo num susto: “Ele é louco”. Esperei por alguns segundos, tentando provocar reações, com frases de efeito do tipo “Basta: vamos destruir de uma vez por todas o passado para que nossa contemporaneidade possa manifestar-se totalmente.” ou ainda “Se eu não posso fazer nada com 13 Bem, amigos, não se assustem, aqui está outra primeira página do tenor do Te Deum de Itambé do Matto Dentro. Desculpem-me, mas isto foi, naturalmente, uma performance, um jogo teatral. Este, como aquele outro, não é, nunca foi um documento histórico, é apenas uma imitação. Apenas gostaria que os senhores me ouvissem motivados por esta emoção - como se a catarse tivesse concentrado o sentimento doloroso que cada um de nós tem em relação à paulatina destruição do acervo musical brasileiro, como se pudéssemos vivenciar de uma só vez toda a angústia que sentimos anteriormente, digamos, em “câmera lenta”. Não tenham dúvida de que atos como este acontecem ainda hoje, quotidianamente, e há muitos anos, como se sabe, justamente quando nós - músicos, pesquisadores, etc. - não estamos presentes. E muito provável que continuem a acontecer amanhã, caso permaneça inalterado o quadro atual. Centenas de documentos de toda sorte, não apenas manuscritos musicais, são deliberadamente destruídos, apesar do valor inestimável que tem: basta uma mudança para uma casa menor, ou uma faxina voluntariosa, qualquer pretexto, e mais páginas de nossa história são literalmente riscadas do mapa. Entretanto, muitas vezes o agente da destruição não é o personagem estereotipado do matuto ignorante, mas pessoas de certa formação, pertencentes a famílias tradicionais, profissionais liberais, etc. Cabe a nós, que reconhecemos o valor de tal material, mudar esta atitude irresponsável, ele, para que eu vou deixá-lo af? Para um outro chegar e fazer o que eu não fiz?” ou mesmo “Papel velho, mofado, cheio de bactérias - isso é até anti-higiênico!”. Aos poucos começaram a surgir manifestações, algumas bastante irritadas, eu diria, outras bem- humoradas, quando interrompi, mostrando outra parte de tenor do Te Deum, e prossegui com as explicações acima. 14 incompreensível e - O pior - irreparável, que infelizmente é tão comum. A indiferença pesada que leva um manuscrito ao fogo parece coexistir com uma quase sublime reverência ao mistério do saber, do passado, da tradição. Trata-se, ao que parece, de uma reverência distante, estéril, preconceituosa. Conhecemos histórias de coleções de manuscritos musicais antigos guardados a sete chaves por ter valor afetivo, ou porque ficaram esquecidas, mas que são intocavelmente trancadas com uma aura de respeito, com um tabu de misteriosa inacessibilidade. Imagino até que alguém pense alguma coisa como: “Isto deve ter algum valor, que eu não sei qual é; mas não vou deixar qualquer um chegar aqui e tirá-lo de mim, pois senão eu não vou usufruir dele”. Está claro para vocês o quanto é equivocado este sentimento? Quem age assim dificimente verá algum fruto de seu tesouro - provavelmente não saberá quem compôs aquela música, quem a copiou, muito menos poderá ouvi-la. E arrisca-se, sobretudo, a estar colocando o futuro de seu tesouro nas mãos de um faxineiro incendiário. Nós podemos agir para modificar esta situação, no que diz respeito ao conjunto de documentos musicais ainda existente. Na minha opinião, a promoção destes pequenos atentados contra a identidade cultural brasileira não motiva-se apenas pela falta de espaço ou necessidade de limpeza. Há um fator crucial: a falta de consciência dos indivíduos quanto ao real valor destes objetos. Mas creio, antes, que é a falta de uma política sistemática de difusão dos acervos que reflete-se nesta falta de consciência. Quem destrói um documento antigo sabe que não se trata apenas de “papel velho”. Algo mais existe ali. O quê? Isto é o que deve-se buscar e mostrar às pessoas. Qual o estudante de música no Brasil não gostaria de poder estudar uma parte composta para o seu instrumento por um brasileiro do passado? A grande 15 maioria nem conta com a possibilidade disso, porque essa música é ainda inacessível. Acreditamos que a memória musical brasileira ainda viva, apesar dos esforços, num estado inercial: a inacessibilidade das fontes primárias faz com que não se produza o necessário conhecimento acerca da música do passado, que por sua vez não desdobra-se em produtos finais para o público, que não sabe o que fazer com documentos históricos que detém (esta é, evidentemente, uma descrição ligeira do referido quadro). É preciso mudar a atitude das pessoas, 3 acreditamos que isto seja possível através de um caminho fundamental (entre outros também necessários): a circulação, a acessibilidade dos documentos. O projeto de Revitalização do Acervo da Sociedade Musical Euterpe Itabirana vem incentivar esta mudança, pois trata-se de tornar plenamente acessível, através de fac- símiles, uma coleção de documentos musicais” - acreditamos que isto signifique revitalizá-lo. Este acervo foi guardado pelos diretores da Sociedade Musical Euterpe Itabirana, como é atualmente chamada, nos seus 133 anos de existência. Contando com cerca de duzentas obras”, muitas delas infelizmente incompletas, o acervo é uma pequena preciosidade. O documento datado mais antigo refere-se a 1825, mas é provável que algumas º Esta coleção de documentos sofreu, pelo que se sabe, duas intervenções anteriores. A primeira parece ter-se limitado a uma breve visita, por equipe coordenada pelo prof. Olivier Toni, no princípio da década de 80. Em 1994, foi objeto de um trabalho de levantamento e organização sumária, realizado por uma equipe composta pelos profs. Carlos Kater, Eduardo Ribeiro, Fanuel Lima Jr. e por mim, através de convênio entre a Escola de Música da UFMG e a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade. Nesta fase ocupamo-nos somente do material para coro e orquestra. Futuramente, pretendemos realizar os mesmos passos com as partituras para banda, que constituem cerca de 350 obras. 16 obras sejam anteriores, devido ao tipode papel e à caligrafia. Há algumas obras de autores conhecidos do período colonial como Emerico, João de Deus Castro Lobo, Manoel Dias de Oliveira, etc. Também existem no acervo peças de autores itabiranos, como Emílio Soares de Gouvea Horta, e de estrangeiros como Marcos Portugal e David Peres. Nosso trabalho constitui-se na criação de uma versão digital do acervo. Estamos realizando sua catalogação detalhada, elaborando de um banco de dados, realizando a digitalização dos documentos e pretendemos com estes passos viabilizar o elemento fundamental do projeto: sua disponibilização pública. O banco de dados será transformado em um catálogo do acervo e poderá, futuramente, quando dispusermos de meios para tanto, ser utilizado pelos consulentes diretamente em um terminal. Gostaria de mostrar aos senhores uma página já digitalizada, assim como seu registro correspondente no Banco de Dados (exemplos em anexo). A partir de novembro de 1997”, conforme nossas intenções, este acervo estará totalmente digitalizado e armazenado em CD-ROM, garantindo assim a conservação dos originais, pelo fato de permitir o acesso sem a necessidade de contato direto eles, e propiciando o acesso através de um meio durável e extremamente flexível quanto à reprodutibilidade. Uma vez que todo o á Originalmente, nossa intenção era inaugurar o banco de dados em setembro de 1996. Devido a uma série de fatores que não seria conveniente enumerar aqui, mas principalmente pela ausência de recursos financeiros e do equipamento necessário, os trabalhos sofreram um grande atraso. Ao que tudo indica, concluiremos os trabalhos no primeiro semestre de 1997. Julgamos mais conveniente fixar a data de lançamento do Acervo Digital no 134º aniversário da Banda Euterpe, que ocorrerá no dia 22 de novembro. 17 acervo esteja digitalizado, procuraremos viabilizar o tratamento químico dos originais, de maneira a interromper os processos de deterioração causados por fungos, umidade e outros agentes. O Acervo Digital será objeto de uma política sistemática de acesso. Mediante um simples cadastramento, qualquer pessoa - do leigo meramente interessado ao pesquisador ou músico profissional - poderá adquirir por um preço módico cópias a laser de qualquer documento constante do Acervo da Sociedade Musical Euterpe lItabirana. As exigências, para tanto, resumem-se ao compromisso de: a) citar a fonte do(s) documento(s), isto é, o acervo, em qualquer trabalho realizado; b) fornecer dois exemplares dos trabalhos publicados para a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (um destinar-se-á à consulta pública, outro ao centro de documentação do projeto); c) assumir o compromisso de não passar cópias do(s) fac-símile(s) a terceiros (posto que essa é a função do acervo digital!). Deixarei à disposição dos senhores algumas fichas cadastrais, caso tenham desde já interesse em consultar o acervo, que volto a dizer, planejamos abrir para consultas a partir de novembro de 1997. Gostaria de abordar, finalmente, uma questão levantada pela pesquisadora Odette Emest Dias, que há muitos dedica-se ao acervo do Pão de Santo Antônio, em Diamantina. Trata-se da preocupação de trabalhar de maneira integrada a outros centros de documentação, buscando uma forma padronizada para o trabalho de catalogação de documentos musicais. Acreditamos que, à medida que as discussões acerca desta problemática 18 evoluam, teremos flexibilidade de meios para integrarmo- nos à sistemática de procedimentos futuramente adotada, e gostaríamos de contribuir neste sentido. Quaisquer manifestações de interesse e apoio ao serão muitíssimo bem-vindas, assim como críticas ou sugestões, podendo ser encaminhadas ao endereço abaixo. Caso alguém tenha desde já interesse em consultar o acervo, que volto a dizer, planejamos abrir para consultas a partir de novembro de 1997, poderemos receber sua carta, contendo seus dados pessoais e sua área de interesse, para: Projeto de Revitalização do Acervo da Sociedade Musical Euterpe Itabirana Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade Aos cuidados de André Guerra Cotta Av. Carlos Drummond de Andrade, 666 - Itabira / Minas Gerais CEP 39500-025 Nossa preocupação, enfim, é a de fazer circular este conjunto de documentos musicais, incentivando o estudo e a execução desta música, e buscando contribuir para a recuperação de nossa memória musical, para a construção de nossa identidade cultural. Isto significa tirar esta coleção de documentos da condição de um arquivo morto, reinserindo-a em nossa vida cultural. Talvez isto também signifique que, no futuro, o público brasileiro possa comprar discos e ouvir música deste acervo, possa admirar fac-símiles de manuscritos setecentistas nas paredes de suas salas, possa, enfim, estar em contato com o que foi quase perdido. E talvez nós possamos tranquilamente surpreendermo-nos com o fato de alguém 19 não saber quem foi Lobo de Mesquita ou Manoel Dias. Isto dependerá, entretanto, da nossa capacidade de generosamente abrir aos olhos do mundo o material primário, sobre o qual possam trabalhar os espíritos conectados com a possibilidade de reavivar a memória musical brasileira. 20 a sa a pune? Rr quo de Doria, gore ia CL a r “ur a a Fome” Eds Da Afeto o ZE E ds H do, Leg mm Zara: Drs. ERES ota AR 6 A o a o e Re Pas ava ZÉ ses omg Mena a “to é mma Es EqRe LIANA — ias dE -.— — Passa Tera Ro ASA ) E Ur - ER eRS oi meio pa io ne. “= aos BoA Ana asma Lo AA andem, ema m m rem uq As a ENE rear 21 data: partés xietântes: No Ofertório consta pausa de 5 compassos para todo o coro, sugerindo um acompanhamento. No Missal Quot. pág, 353, encontrei o ofertório e sua tradução. Na pág. 337, está o Glória Laus, que é chamado de HINO AO CRISTO REI. ; Seções internas: E i Ca [Númerá d ncip E [ andamento: | tom: | Improperium expectavit E malor , Gloria Laus - Solmalor | “EB Israel es tu Rex - so! malor mê 22 THEODORO CYRO DE SOUZA E JOSE JOAQUIM DE SOUZA NEGRAÃO : ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE A MÚSICA NA BAHIA NO PERÍODO COLONIAL Harry Lamott Crowl As notícias sobre a atividade musical na Bahia são as mais antigas que temos no Brasil. Oficialmente denominada São Salvador da Bahia de Todos os Santos, a primeira capital do Brasil teve a sua catedral fundada ainda no séc. XVI, encontramos o nome do chantre Francisco de Vaccas como o do responsável pelas funções litúrgico-musicais da catedral. Em 1559, um certo Bartolomeu Pires foi nomeado o primeiro mestre de capela que se tem notícia no Brasil. Ele exerceu esta função até 1586. Muito pouco se sabe sobre as práticas musicais nestes dois primeiros séculos da colonização portuguesa. O cargo de mestre de capela foi desempenhado, em Salvador, intermitentemente, até o séc. XIX, pelos seguintes músicos: e Francisco Borges da Cunha (de ca. 1608 a ca. 1660) e Joaquim Corrêa (de 1661 a ca. 1665) e Antônio de Lima Cárseres (de ca. 1666 a ca. 1669) e João de Lima (década de 1670) e Frei Agostinho de Santa Mônica ( de ca. 1680 a ca. 1703) e Caetano Melo de Jesus (de ca. 1740 a ca. 1760) e Theodoro Cyro de Souza (a partir de 1781) 23 De todos estes nomes, conhecemos algumas informações apenas dos três últimos. De acordo com uma biografia em 1737, por-um irmão da Ordem de São Paulo, o frei Agostinho de Santa Mônica (Portugal, 1633- 1713) pertenceu à referida Ordem, tendo estudado em Lisboa, com João Fogaça, o principal discípulo de Duarte Lobo. Nesta mesma biografia, consta que frei Agostinho teria escrito “40 missas (várias das quais policorais), Salmos, Lamentações e vários Ofícios de Defuntos. Embora seu biógrafo afirme que várias destas composições ainda pudessem ser encontradas no arquivo da Catedral de Salvador, todas encontram-se perdidas até o momento. A respeito de Caetano Melo de Jesus sabemos através do historiógrafo português do séc. XVIII, José Mazza, quefoi um importante músico pedagogo, tendo escrito a maior obra que se tem notícia em língua portuguesa, de cunho didático. Trata-se da “Arte do canto de Órgão” em quatro partes, das quais apenas as duas primeiras chegaram até os nossos dias. O musicólogo americano Robert Stevenson atribuiu, com base na data de composição, a autoria do “Recitativo e Ária”, de 1759, a Caetano Melo de Jesus. Esta obra é a mais antiga composta no Brasil que foi encontrada até o momento. Porém tal atribuição jamais poderá passar do plano conjectural a não ser que encontremos no futuro, um outro manuscrito da obra com autógrafo do compositor. Desconhecemos até o momento, qualquer dado sobre a sua vida. Dentro deste fragmentado panorama da música na Bahia colonial, encontramos o nome de Theodoro Cyro de Souza, que é o primeiro compositor que atuou na região, de quem encontramos exemplos musicais concretos. Nascido em Caldas da Rainha, Portugal, em 1766, Theodoro Cyro recebeu a sua formação musical no Seminário Patriarcal, em Lisboa, provavelmente sob a 24 orientação de José Joaquim dos Santos, que era o mestre mais importante da época. Em 26 de novembro de 1781, partiu de Lisboa para Salvador, onde assumiria a função de mestre de capela, com o patrocínio de D. Pedro Ill, de forma semelhante como ocorrera alguns anos antes, em 1774, com André da Silva Gomes (1752- 1844), também egresso do Seminário Patriarcal, que assumiu a mesma função na Sé de São Paulo. A obra de Theodoro Cyro de Souza parece ter gozado de considerável reputação em toda a região, pois a sua única composição encontrada no Brasil até o momento, os “Monetos para os Passos da Procissão do Senhor”, é uma cópia de final de séc. XIX realizada em Alagoinhas (BA), que foi localizada numa coleção de música para a Semana Santa, anônima, proveniente de Propriá (SE), divulgada numa primeira transcrição pelo musicólogo Antônio Alexandre Bispo, no Boletim nº 2 da Sociedade Brasileira de Musicologia. Em um levantamento realizado pelo musicólogo Rogério Budasz, na Sé de Lisboa, em 1995, foram localizadas as seguintes obras do compositor: Antífona “Regina Coeli A 4º Concertatta” “Magnificat a 4º Concertatto” “Moteto a 5º Concertatto” (Para a solemnidade da Ascensão de Christo Sr. Nosso 1780); partes e partitura. “Motetto a 5º Concertatto” (Ascencionis Domoni); partitura. Na versão aqui apresentada dos “Motetos para os Passos da Procissão do Senhor”, baseada na cópia realizada por A.A.Bispo, revisada e reinstrumentada por Sérgio Dias, os títulos dos Motetos são os seguintes: 1. Cor Meum 2. O vos Omnes 3. Domine Jesu 25 4. Ego in Flagella 5. Filiae Jerusalem 6. Miserere 7. Amplius 8. Tibi Soli Estes títulos não deixam dúvida de que trata-se de uma obra para a liturgia de semana santa. Quanto aos aspectos musicais, podemos dizer que trata-se de uma música bem característica daquela praticada pelos compositores portugueses do final do séc. XVIII, ou seja, de acordo com os modelos homofônicos vigentes na época com raros arcaísmos imitativo-polifônicos e, no caso específico da obra em questão, os solos vocais que também são raros, estão dentro de um estilo predominantemente coral, portanto anterior à prática operística rossiniana vigente nas primeiras décadas do séc. XIX. No que diz respeito à parte vocal, a obra está próxima de práticas comuns no Brasil da época, pois tais procedimentos podem ser observados na obra de vários compositores mineiros. Com relação à instrumentação, a edição de A.A.Bispo apresenta uma série de problemas. O primeiro deles é a quantidade de erros de harmonia provenientes da cópia de Alagoinhas que o musicólogo tenta corrigir numa errata publicada posteriormente. Mas, o problema mais complexo é a definição da instrumentação uma vez que adaptações para instrumentos de banda foram feitas na ocasião. Diante da questão, foi realizada, por Sérgio Dias, uma instrumentação baseada no conhecimento de outras obras religiosas portuguesas da época. Pelas obras conhecidas até o momento, sabe-se que os compositores portugueses, ao contrário dos mineiros, tinham uma escrita bastante refinada para os instrumentos de sopro, concentrando muitas vezes o interesse melódico nas flautas e oboés em vez das cordas, como era o hábito no Brasil da época. Portanto, a partitura apresentada para esta gravação consta de flautas | e Il, oboés | e Il, fagotes 26 | e Il, trompas | e Il, violinos |, violinos Il, violas e baixos, além das quatro vozes habituais do coro. Numa prática posterior encontramos José Joaquim de Souza Negrão. Seu nome passaria despercebido da história da música brasileira caso suas duas cantatas, “A Estrela do Brasil” e “O Ultimo Cântico de David”, não tivessem sido descobertas pelo regente e compositor Ernani Aguiar, na Biblioteca Nacional, em 1990 e 92, respectivamente. A obra registrada neste CD, a cantata “A estrela do Brasil”, está dedicada ao “Sereníssimo Príncipe da Beira”, para o dia 12 de outubro de 1816, sob o auspício do Ilmo. e Exmo. Senhor Conde dos Arcos. Esta cantata, sobre texto anônimo, está dividida conforme o esquema por números ainda vigente na época, indicando assim uma clara influência operística. O fato de a obra ter sido concebida sobre um texto em português, assim como a outra cantata de Souza Negrão, “O Ultimo Cântico de David”, faz com que estas duas composições sejam as mais importantes obras vocais profanas encontradas até agora no Brasil colonial. A cantata “A estrela do Brasil” está dividida em sete partes: |. Abertura (Ouverture) Il. Recitativo: “Apponta hua estrella” - Soprano solo e Ária Ill. Solo e Coro: “Dispertta a lembrança” IV.Dueto: “Oh! Salve prelúdio d'estrella formosa” - 2 sopranos V. Solo e Coro: “O Nome Exaltando” VI.Coro final: “A Aurora do Império” A única referência existente a respeito de J.J. de Souza Negrão é uma carta enviada ao Conde de Palma, Governador e Capitão General da Bahia, por D. João VI, criando nesta capital uma cadeira pública de música, 27 atendendo às solicitações do Conde dos Arcos, sucessor daquele, datada de 3 de março de 1818, conforme se segue: “Ao Conde de Palma, Governador e Capitão General da Capittania da Bahia - Amigo. Eu El Rei vos envio muito saudar, como aquele anno. Sendo me presente por parte dos Conde do Arcos, vosso antecessor no Governo desta Capitania, o estado de decadência, a que tem ahi chegado a arte da música tão cultivada pelos povos civilizados, em todas as edades e tão necessária para o decoro e Hei por bem criar nessa cidade uma Cadeira de Música com o ordenado de 40.000 pago pelo rendimento do subsídio literário. E attendendo à inteligencia e mais partes que concorrem na pessoa de José Joaquim de Souza Negrão, hei outrossim por bem fazer-lhe mercê de o nomear para professor da referida cadeira. Escripto no Palácio da Real fazenda de Santa Cruz em 3 de março de 1818. Rei. — Para o Conde de Palma”. O compositor ocupou a cadeira de música até o seu falecimento em 1832. 28 A CONFRARIA DE SANTA CECÍLIA NO SÉCULO XIX Maurício Monteiro Santa Cecília, anterior aos sindicatos, Proteje a situação dos músicos das monas. Ninguém seja cantor e instrumentista Quer no sagrado ou no profano Sem se prender aos doces laços De sua melódica Irmandade. Quem infringir a santa regra, Ofensa faz ao povo e ao céu, A boca lhe emudece, o instrumento Cai sem som na lage fria. Mas aos pios irmãos, Santa Cecília A cada dia e hora Concede a voz mais pura E mais divino som ao clarinete. Carlos Drumond de Andrade Menino Antigo, 1978. O espírito associativo gerado pela proliferação das irmandades e confrarias em Minas no século XVIII estava, quase que exclusivamente, voltado para as necessidades sociais e religiosas. Os grupos que se formaram nada tinham de corporativo, no sentido mais amplo daquilo que seriam as corporações de ofícios na Europa. Mesmo a irmandadede São José, que durante “O presente artigo faz parte da Disertação de mestrado defendida pelo autor, com a seguinte referência: MONTEIRO, Maurício Mário. João de Deus de Castro Lobo e a Prática Musical nas Associações Religiosas de Minas Gerais. São Paulo, FFLCH/USP,CAPH,1995. 29 todo o século acolheu os artistas e os artífices nas vilas da Capitania. Em nenhum momento seus estatutos e compromissos mencionaram normas e diretrizes profissionais. A característica religiosa e caritativa que as irmandades tomaram era suficiente para atender às necessidades básicas dos indivíduos e dos grupos que as procuravam. Ademais, a economia do ouro e dos diamantes manteve uma sociedade capaz de absorver e manter a demanda artística na capitania. O ambiente, favorável ao espírito cristão, abrandava os eventuais problemas que os indivíduos tivessem em relação à prática de seus ofícios. Nesse sentido, reitera Julita Scarano: Mesmo tendo existido no Brasil grêmios profissionais, inclusive no distrito diamantino, não chegou a haver pleno desenvolvimento profissional em terras onde imperou o sistema escravista, nada propício ao florescimento de profissões exercidas ordinariamente por homens livres. No caso dos músicos, por exemplo, essa dinâmica social ambém é válida e significativa, considerando que as irmandades nas quais estavam associados atendiam suas necessidades mais imediatas — naquele momento foi a devoção e o auxílio mútuo. Nas palavras de Curt Lange, os músicos não precisavam, em meados do século XVIII, de defesas de seus interesses devido à abundância incrível de atividades desenvolvidas no campo da música erudita. ! SCARANO, Julita. Devoção e escravidão. São Paulo, Coleção Brasiliana, C.E.N.,1978,p.24 2? LANGE, Francisco Curt. Algumas novidades em torno à atividade musical erudita no período colonial de Minas Gerais. Latin American Music Review, Austin, 4(2):247-68,fall./win.,1983. 30 No quadro onde a prática musical transcorria favorável, a idéia de que possa ter surgido uma associação exclusivista, próxima aos modelos dos grêmios profissionais europeus, fica um pouco distante, sobretudo porque, “enquanto os músicos não se constituiram como grupo atuante e com voz ativa no conjunto social"”, não foi imediatamente necessário a criação de um grêmio com princípios exclusivistas no século XVIII, ou pelo menos uma associação expressiva como foi a de Santa Cecília no século XIX*. A Corfraria de Santa Cecília de Vila Rica foi organizada em 1812, para atenuar uma série de problemas que a prática da música vinha sofrendo em decorrência da transformação na economia mineradora. O problema relativo às formas de contrato foi o ponto crucial para que se organizasse uma associação como esta, não só com princípios devocionais, mas sobretudo com características profissionais. E esse o motivo que leva Florêncio José Ferreira Coutinho, João de Deus de Castro Lobo, Marcos Coelho Neto (filho) e outros tantos 3 BOSCHI, Caio Cesar: Os leigos e o poder. São Paulo, Editora Ática, 1986, ee Dutra de Morais estabelece o ano de 1749 para a criação das Confrarias de Vila Rica e Mariana, e em 1786 é mencionada a Confraria de Santa Cecília na Matriz do Pilar. Conferir principalmente: MORAIS, Geraldo Dutra de. Música barroca mineira . São Paulo, Editora Parma/Conselho Regional de Farmácia (CRF-8), 1975. RESENDE, Maria da Conceição. A música na história de Minas colonial. Belo Horizonte, Itatiaia/MinC/Pró-leitura/INL, 1986. LANGE, Francisco Curt. A música nas irmandades de Vila Rica-A freguesia de Nossa Senhora do Pilar. Belo Horizonte, APM, 1979. . A música nas irmandades de Vila Rica-A irmandade de São João dos Homens Pardos Bem casados. Ouro Preto, Museu da Inconfidência, VI anuário, 1979, pp.9-233. AGUIAR, Marcos Magalhães. Op.Cit.p.26. 31 músicos a constituirem a confraria, principalmente para evitar as funções gratuitas a que são todos os dias acometidos ... (sic!) Tanto de festas de oratórios, como nas igrejas, enterro e outros ajuntamentos de música. A confraira se estabeleceu e, no ato de sua criação, estipulou uma multa de quatro mil e oitocentos réis (44800) para o transgressor do acordo. A iniciativa dos músicos de Vila Rica fez com que fossem criadas, posteriormente, outras congêneres em Mariana, Sabará, Prados e São João del Rei. Num primeiro momento, os músicos se filiaram diretamente à Confraria de Vila Rica e, na medida em que iam surgindo outras confrarias, se ligavam a elas, nas mais próximas de suas vilas ou logradouros. A Confraria de Vila Rica alistou, em 1815 mais de três centenas de músicos filiados provenientes de mais de trinta localidades”, [ NilaRica | 41(12,16%) | | SãoJoão dElRei | 34(10,08%) | DO Sabará | 18(584%) | [O Mariana | (237%) | (tab.1) - Fonte: Livro Primeiro de Entradas dos Irmãos da Confraria de Santa Cecília, Virgem e Mártir de Vila Rica no ano de 1815. APP, sem catalogação. A tabela 1 (um) mostra a distribuição dos músicos da Confraria de Santa Cecília nos principais núcleos urbanos de Minas Gerais. Não constam as freguesias, somente as vilas e uma única cidade: Mariana. A tabla 2 (dois) que se * Solicitação para poder erigir uma Irmandade de Santa Cecília, os músicos do regimento de Linha de Villa Rica. 1812. AMI/CP/OP.c.290- auto5253. 6 sei ; = Os nomes dos músicos e de suas respectivas localidades serão arrolados no apenso anexado no final desse artigo. 32 segue, distribui o número total de músicos da Confraria nas Comarcas: Sabará ou Rio das Velhas (tab.2). Fonte: Idem,ib. Dessa maneira, a Confraria de Vila Rica funcionou como uma espécie de matriz de várias presídias espalhadas pela Capitania e posterior Província de Minas Gerais. Funcionando na Igreja de Nossa Senhora do Pilar, onde esteve até 1825", a Confraria de Santa Cecília representou para os músicos do século XIX, um veículo que ao mesmo tempo em que manteve as formas do culto, zelou pelo profissionalismo. Nos termos de filiação, contidos no “Livro primeiro de entradas dos irmãos”, o tratamento dado aos músicos sugere o caráter do exclusivismo. Como exemplo, temos o caso de João de Deus de Castro Lobo que, em 29 de novembro de 1815 entrou como professor de arte da música nesta dita Vila e se sujeitou em tudo, às leis do compromisso por onde se rege a dita confraria, ao que obriga seus bens presentes e futuros”. 7 Carta da Confraria de Santa Cecília à Irmandade de São José. 1825.APP,s/c. | * Livro Primeiro de entradas dos irmãos da Confraria de Santa Cecília de Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, 1815. APP,s/c(grifo nosso). 33 Como João de Deus, a maioria dos outros inscritos eram também “Professores da Arie da Música”; aqueles que não traziam essa denominação eram padres intérpretes de canto-chão, pessoas ligadas aos músicos por matrimônio ou algum grau de parentesco e protetores influentes na associação (ver tabela 3). [| Músicos | — No% | 69 + 337=406 = 100% Total (HM+HL+M+P Fonte: id.Ibid.(Tabela 3). A confraria de Santa Cecília teria sido semelhante as outras associações religiosas de leigos se não elaborasse capítulos exclusivistas para a prática da música. Embora o seu compromisso ou estatuto de regimento intemo tenha os mesmos princípios de devoção e assistência, ela foi diferenciada em vários capítulos e parágrafos. O corpo dirigente da Confraria era constituído, basicamente, pelos mesmos cargos, como atesta o parágrafo um do primeiro capítulo: um juiz, um escrivão, um zelador, um tesoureiro, um procurador e oito irmãos de mesa. As funções e os encargos dessa mesa diretora extrapolaram os princípios de caridade e devoção. Além das obras assistenciais e do gerenciamento da Confraria, a mesa diretora teve ainda autoridade e responsabilidade sobre qualquer prática profissional dos irmãos músicos nela listados. O irmão juiz não só mandava socorrer os enfermos e pobres, como também nomeavaexaminadores para os músicos e concedia a licença indispensável para a atuação em festas e outras atividades em que a prática da música foi indispensável. As observações se estenderam às práticas 34 musicais, sejam atividades religiosas ou puramente sociais, como saraus, teatros e festas de famílias. O capítulo segundo é mais específico. Ocupa-se da “autoridade da mesa “ onde, nitidamente, se observa a interferência da Confraria na prática da música. Os membros da mesa inspecionavam as atividades dos músicos dentro de sua jurisdição; isto é, quem são e quantos cobram (ou “ajustam” pelo serviço. Curiosamente, a atenção da Confraria voltou-se para as práticas, para os homens que executavam a música, não para o tipo dela, se religiosa, mundana, profana ou teatral, muito embora a preocupação com a qualidade seja patente, como veremos a seguir. A mesa nomeava examinadores, aprovava ou não, proibindo que “nenhuma pessoa”se exercitaria “em funções solenes sem mostrar- se assinado e aprovado”* . Não só aos núcleos urbanos se estendia isso, mas também às “povoações distantes”, para onde a mesa designava “presidentes”, para regular e suprir sua autoridade. A Confraria proibiu e sancionou. A admissão de músicos não examinados em “festas solenes ou públicas”incorria nas penas do parágrafo quinto: perda do dobro do ajuste, ou seja, da quantia formalizada no contrato, ou suspensão dos serviços por dois anos. Além dessas sanções relacionadas com a prática da música, a mesa rejeitava aquelas pessoas que por indignidade ou conhecido orgulho [fosse] capaz de levantar sedições, desobedecer aos superiores e petrurbar o bom governo da corporação; e mais ainda, os irmãos que de semelhante modo [procedessem seriam excluídos]"º. a Compromisso da Confraria de Santa Cecília de Mariana. ANRIJ. C.830.Cap.ILparg.2. 10 T.Ibid.Cap.II, parg.9 (Grifo nosso). 35 O preço ajustado entre o contratante e o contratdo deveria estar de acordo com os critérios da Confraria. Nesse sentido, ela foi taxativa, condenado os abusos que por ventura ocorressem: Quando um músico qualquer fizer algum ajuste totalmente abusivo de sua harmonia que deve fazer com os demais e lhes causar prejuízos, não se concederá a licença sem que sejam ouvidos os prejudicados." As formas de controle nos serviços dos músicos não só possibilitaram a continuidade da prática musical, como também a própria sobrevivência daquilo que aqui chamamos de associação profissional, ou corporação em sentido lato. Sobre esse aspecto, a própria associação instituiu o chamado “tostão da santa”, uma espécie de taxa sobre os serviços de seus associados. O valor era previsto como um pequeno subsídio correspondente à quantia do contrato firmado por cada músico. Em Mariana o valor podia variar entre 2,5% e 20% sobre os contratos firmados, seja para as festas religiosas ou para “as funções públicas ou de teatro”!?, Os membros da confraria, ao se sujeitarem às normas estatutárias e aos prejuízos que levaram à sua criação, demonstram consciência do que ela significava para a prática da música. A palavra corporação citada no estatuto, mesmo que não tivesse o significado estrito das corporações de ofícios, diferenciava-se da simples agremiação. Considerando que os princípios da criação da Confraria de Santa Cecília sejam profissionais, pois partiram de uma iniciativa de músicos, a palavra corporação significa “corpus”, interesses e práticas comuns. ! Id.Ibid.Cap.IL.parg. 14. 2 Id.Ibid.Cap.VLpargs.9,10 e 11. Entendemos por “funções públicas ou de teatro"as festividades civis ou religiosas patrocinadas pelo Senado da Câmara ou mesmo por irmandades, mas que se realizaram fora dos templos. 36 A relação da matriz em Vila Rica com as presídias em outros núcleos urbanos (cidades ou vilas) sugere uma associação tipicamente organizada. A nossa hipótese é a de que os seus capítulos foram semelhantes ou combinados, isto é, a matriz em Vila Rica aprovou um estatuto que foi utilizado por todas. Consideraremos que as Confrarias de Santa Cecília foram uma só, organizadas em matriz e presídias. Outro momento que nos leva a admitir essa forma de organização, pode ser observado numa correspondência entre o músico José Marcos de Castilho de São João del Rei e João Nunes Maurício Lisboa, músico e escrivão da Confraria em Vila Rica. Na correspondência, há informes sobre a situação da prática musical em São João. Primeiramente o remetente se queixa de uma desorganização na prática da música que desprofissionalizava o serviço do músico: Nessa comarca [São João del Rei] e em todas as vilas, arraiais e capelas, se acham uns curiosos e alguns músicos que decoram algumas missas, e com esse nome empenham-se com as festeiras [para] fazerem as suas funções por qualquer coisa que lhes dêem; e ainda tão somente pela comida: servem as mesas e não querem cama nem casa para morar, ridicularizando a are na sua última consternação. Mais à frente, o músico de São João del Rei, procurando organizar a atividade musical, pediu a Confraria de Vila Rica que lhe enviasse o mais rápido possível, o compromisso e a provisão de que tinha notícia, às vistas das quais saberia resolver com os outros companheiros, havendo alguns capítulos 37 que faça vedar essa enchorrada (sic!) de curiosos ”. A preocupação de José Marcos de Castilho visava tão somente regular e organizar a prática da música em São João del Rei, e o caminho era associar-se em uma Confraria de Vila Rica, pois já tinha conhecimento de seus estatutos e já estava, como outros músicos, filiado nela. O primeiro passo foi regular a atividade musical, tomando precauções contra músicos pouco qualificados e que só “decoravam algumas missas”"*, A correspondência do músico de São João del Rei é um documento muito interessante, poque deixa patente as relações cotidianas da prática da música consonante com o tempo e as relações sociais. Deixa, pelo menos, alguns pontos à mostra: em 1815 a retração econômica leva alguns músicos, essa “enchorrada de curiosos”, como fala José Marcos de Castilho, a praticar a música por “qualquer coisa que lhes dêem, e ainda tão somente por comida”. Não obstante a situação ignomiosa dos músicos, o relator demonstra uma certa inquietação com a qualidade da música que esses “curiosos que decoravam missas” vinham fazendo em São João del Rei. Do outro lado, quando pede a provisão e o compromisso da Confraria de Vila Rica, o remetente espera contornar a situação com uma agremiação profissional como a de Santa Cecília. A importância da Confraria como uma instituição respeitada, impedia que se ridicularizasse “a arte na sua mais alta consternação”. A qualidade da música, a questão econômica dos músicos e o respeito pela atividade, foram os principais propósitos de João Marcos de Castilho. 3 Carta do músico José Marcos de Castilho a João Nunes Maurício Lisboa.1815,APM,AVC.cx.18, documento 18. !4 Idem, ibid. 38 O ano da correspondência reforça também a idéia do sistema de presídias e das regras estatutárias comuns. A Confraria de Santa Cecília de Vila Rica, matriz de sua presídias, elaborou um compromisso pelo menos cinco anos antes de sua congênere em Mariana. O fato de pretender se orientar pelas normas elaboradas por uma outra e, ao mesmo tempo, estabelecer-se intitucionalmente na sociedade, pela mesma provisão de criação, estreita essa relação de matriz-presídias. A Confraria-mãe trazia em seu compromisso e provisão “ordem para se proibir semelhantes músicos”. Esse sistema não só justificou os interesses comuns entre os músicos da capitania, como favoreceu a própria prática da música. A matriz em Vila Rica gerenciou as presídias, conhecendo os músicos e suas atividades, conferindo-lhes credibilidade. As filiais por sua vez, cuidaram da inspeção dentro de suas jurisdições. Para o músico, alistar-se na Confraria de Santa Cecília significou integrar-se social e profissionalmentenos tempos de crises sociais e econômicas. A Confraria em Mariana previa que qualquer músico que fosse de outra localidade e que ali chegasse, só poderia executar suas funções quando fosse perito com o qual muitas vezes se dá o maior lustro (sic!) às fesdtividades pois, a este será lícito e louvável admitir, mas não se excederá a três meses”, O período estipulado de três meses foi o resultado de um acordo comum entre os músicos que elaboraram os estatutos — note-se aí o caráter extraordinário da 5 Estatutos da Confraria de Santa Cecília de Mariana. 1820, ANRJ,c.830,cap. VI,parg.11. 39 capacidade técnica aliado ao “lustro” das festividades. Foi um procedimento comum entre todas as Confrarias, considerando que o compromisso de uma era igual para as outras; salvo possíveis alterações para efeito de ajustamento em determinadas vilas ou cidades. Fatalmente, se o músico visitante estivesse alistado na Confraria de Vila Rica seria conhecido e identificado, o que lhe facilitaria o contato com outros músicos. A Confraria de Santa Cecília foi, nestes termos expostos anteriormente, uma associação atípica em relação a tantas outras surgidas no século XVIII e que sobreviveram ao século seguinte. Ademais, o interesse que levou os músicos a se agruparem nela, extrapolava aquele caracteristicamente devocional e caritativo dessas últimas. Além disso, muito pouco se justificou a existência de uma confraria de músicos com as mesmas prerrogativas assistenciais como a das outras, que por sua vez já supriam a busca da ascese espiritual e ofereciam as defesas diante as adversidades sociais. Procuramos entender a Confraria de Santa Cecília não como mais uma associação religiosa, mas como uma agremiação de princípios exclusivistas. Não pretendemos caracterizá-la como uma corporação de ofícios a exemplo de modelos europeus. Mesmo que tenham ocorrido tentativas de transformá-la em uma corporação, a situação de Minas Gerais não chegou a oferecer um ambiente propício para o desenvolvimento de corporações de ofícios'?, pelo menos em relação aos '* C£:SCARANO, Júlia. Op.Cit. Sobre as corporações de ofícios. Conferir: FLEXOR, Maria Helena. Oficiais mecânicos na cidade de Salvador. Salvador, Prefeitura Municipal, 1974,90p. MARTINS, Judith. Dicionário de artistas e artífices do século XVIII e XIX em Minas Gerais. Rio de J aneiro, IPHAN/MEC,1974,(2v). 40 ofícios dos mésteres, como em Portugal com a Casa dos 24". As corporações de ofícios, enquanto forma de organização de oficiais, não existiram no Brasil como instituições; reproduziram apenas os mecanismos de regulamentação e fiscalização, “dentro das estruturas burocráticas e administrativas de controle estatal.” Em estudos sobre as corporações de ofícios na Europa e particularmente em Portugal, Marcello Caetano, Franz Paul Langhans e José Serrão!”, sugerem VASCONCELOS ,Salomão de. Ofícios mecânicos em Vila Rica durante o século XVIII.Revista do SPHAN. Rio de Janeiro, MES, 4:340-344,1940. TRINDADE, Jaelson Bitran. A arte colonial: corporação e escravidão. In: ARAÚJO, Emanoel(org). A mão afro-brasileira:significado da contribuição artística e histórica. São Paulo, Tenenge, 1988,398p. 7 A casa dos 24 representava a regulamentação dos mestres dos ofícios nos conselhos municipais. Reconhecida pelo Mestre de Avis em 1384. Os “24' seriam, provavelmente, dois homens representantes dos doze ofícios mecânicos mais importantes e organizados. Em 1434, D.Duarte ordena que os '24'elegessem procuradores e, através deles, tivessem representação nos Conselhos Municipais. 8 CF.:FRONER,Yacy-Ara. Os símbolos da morte e a morte simbólica. (Dissertação de mestrado). São Paulo,FFLCH/USP,1994,p.58.. “Envolvendo relações de propriedade, valores imobiliários, o exercício das artes e dos ofícios determina uma forma de trabalho distinta, em um sistema escravocrata rígido, possível apenas nas áreas de produção artesanal urbana, onde as relações de trabalho podem ocorrer de maneira direta e autônoma, entre indivíduos e instituições.” 9 LANGHANS, Franz Paul. As corporações de ofícios mecânicos: subsídios para a sua história. Com uma introdução do Professor Doutor Marcello Caetano. Lisboa, Imprensa Nacional, 1943,3v. SERRÃO, Joel. Dicionário da História de Portugal. Lisboa, Caloustre Gulbenkian, v.II,s/d. Nas palavras de Joel Serrão, a confraria no sentido lato e no conceito medieval, “era uma associação voluntária em que se agrupavam os irmãos para um auxílio mútuo, tanto no material para com o espiritual. No campo restrito dos mésteres há seguros indícios de que a afinidade da profissão tenha conduzido ao agrupamento de ofícios na mesma associação, também designada por confraria e regulando-se por um compromisso. Desse ato voluntário teriam ainda resultado quer as primeiras autoridades corporativas, 41 características básicas e comuns para aquilo que se chama de corporação. A corporação orientou-se por um regimento, um regulamento imposto, um conjunto de normas obrigatórias. Ao contrário, a confraria regeu-se por um compromisso, resultante de um acordo da livre vontade dos interessados. O regimento da corporação partiu do poder público, isto é, dos reis e legistas ligados à coroa ou dos administradores municipais. O compromisso da confraria emanou da vontade coletiva dos confrades músicos, o beneplácito real e eclesiástico veio a posteriori, Em outras palavras, foram caminhos inversos de regulamentação das atividades. Assim, a partir dessas considerações, preferimos tratar a Confraria de Santa Cecília como uma confraria profissional e atípica, uma vez que os interesses espirituais e profissionais se confundiram. A Confraria de quer a observância do arruamento profissional, depois tornada obrigatória. E a mesma solidariedade em que se radicava a confraria, havia também de se manifestar através da manutenção e criação de hospitais próprios dos ofícios, para socorro e agasalho de seus mésteres. Não é possível identificar a confraria no campo restrito da orgância dos mésteres, com a bandeira de um ofício. Mantendo embora, numa certa medida, caráter religioso, cabia à bandeira a função de um aspecto físico, em ordem à representação de um ofício junto da administração autárquica e da vida pública. Porém podiam ser vários os ofícios que se agrupavam no seio da mesma confraria, sem por tal fato, ficar desobrigado cada um deles do cumprimento das funções inerentes às respectivas bandeiras, continuando mesmo esta, em certos casos, a manter o culto e a veneração de seu padroeiro. Sendo comum, pelo menos que fica exposto, a mais de um ofício, a confraria, regra geral, agrupava-os frente às afinidades de seu labor, regendo-se por um estatuto ou compromisso. Ao contrário ao que acontecia em relação a um regimento, o mesmo compromisso não era mais que a expressão das vontades dos irmãos. Todavia, algumas vezes se reveste de caráter misto, por assim dizer, uma vez que são também nelas compreendidas certas normas relativas à atividade de um ofício e que melhor cabiam num regimento”. pp.153-154. 42 Santa Cecília reuniu devoção, assistencialismo e exclusivismo profissional”. 2? Um outro fator que reforça uma série de aspectos da vida profissional e da importância da Confraria de Vila Rica, é descrito no seguinte fato: em meio a uma discórdia entre os músicos cariocas, os profissionais da Freguesia de São João de Icaraí dizem numa disputa jurídica, refutando os músicos da corte: “Dizem que nós somos vagabundos...Respondemos, primeiro, que ainda quando assim fosse era louvável o pretendermos regra e ordem, associando- nos. Em segundo lugar, que a associação dos embargantes não foi também com demasiado escrúpulo formada, porque o foi com os que apanhavam dos regimentos, com os que mandavam vir de Minas.” CF.: ANDRADE, Ayres de. Francisco Manuel da Silva e seu tempo - 1808/1865 - Uma fase do passado musical no Rio de Janeiro à luzde novos manuscritos. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1967. 43 RELAÇÃO DE MÚSICOS QUE DERAM ENTRADA NA CONFRARIA DE SANTA CECÍLIA DE VILA RICA, SEGUNDO O LIVRO PRIMEIRO DE ENTRADAS DE IRMÃOS DE 1815 - 18. 01. 02. 08. 04, 05. 06. o7. 08. 09, 10. 11. 12. 18. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 28. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. Sa. 38. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. APP,S/C. Moradores em Vila Rica: Antônio Ângelo da Costa Melo Antônio Freire dos Santos Antônio José Higino de Carvalho Antônio Maximino de Azevedo Coutinho Antônio Paulo da Silva Antônio Vieira de Carvalho Bernardo da Silva Maciel Carlos da Costa Fonseca Carlos de Castro Lobo Felipe Nunes Maurício Lisboa Florêncio José Ferreira Coutinho Francisco Carmello de Mendonça Francisco Custódio dos Santos Francisco Esteves Carmello de Mendonça Francisco Félix de Moura Pinto Francisco José dos Santos Cardoso Gabriel de Castro Lobo Gabriel de Castro Lobo Júnior João Alves de Almeida João Antônio Vieira João de Deus de Castro Lobo João José de Araújo João Nunes Maurício Lisboa João Rodrigues Joaquim José do Amaral Joaquim Mariano de Azevedo Coutinho José da Costa Coelho José Vicente da Costa Lúcio Moreira da Silva Manoel Antônio do Sacramento Manoel da Assunção Cruz Manoel Ferreira de Araújo Manoel José da Costa Manoel Vieira da Cruz Marcos Coelho Neto Modesto Antônio Pantaleão José Dias Ponciano José Lopes Sebastião de Barros Tristão José Ferreira 44 Il. Morador na freguesia de Itabira do Campo, comarca de Vila Rica: 01.Sargento Joaquim de Gouveia Mendanha Ill. Moradores na vila de Sabará: 01. Alexandre Fernandes da Silva 02. Domingos José de Azeredo Coutinho 03. Elias José de Melo 04. Felipe Alves de Carvalho 05. Felizardo José Eustáquio 06. Francisco de Paula Dias 07. Francisco Mariano 08. Jerônimo da Costa Guimarães (Capitão) 09. João Gualberto da Silva 10. Joaquim Cláudio Pereira Vila Nova 11. Joaquim José Soares 12. José Gonçalves Asenso (7) 13. José João Fernandes de Souza 14. José Veríssimo de Araújo 15. Laureano Antônio do Sacramento 16. Manoel Corrêa de Azevedo 17. Manoel da Rocha Pereira 18. Mariano Casimiro Rodrigues da Silva IV. Moradores na cidade de Mariana 01. Antônio da Costa Lopes (Alferes) 02. Camilo Lélis de Jesus 03. Felício José Moreira 04. João Soares de Santa Bárbara 05. José Felipe Corrêa Silva (Quartel-Mestre) 06. Leonardo José Coelho 07. Manoel do Nascimento Rosa 08. Manoel José de Magalhães V. Moradores em Curral d'El Rei, Comarca de Sabará 01. Antônio José de Souza Pinto 02. Antônio Nunes Cruz 03. Brás Rodrigues Chaves 04. Francisco de Paula Varela da Silveira 05. Francisco de Sales Pereira 06. Januário de Gouveia Mendanha 07. Joaquim da Rocha Ribeiro 08. Joaquim Manoel da Silveira 09. Joaquim Rodrigues da Silva 10. Manoel Crispiano das Neves 11. Manoel Faustino Vítor 12. Manoel Leite Barcamonte 13. Manoel Luís Brandão 14. Simplício Vieira Chaves 15. Vicente Ferreira da Silva VI. Morador na freguesia de Queluz, Comarca do Rio das Mortes: 01. José Pimenta Chaves VII. Morador em Itaverava, Comarca de São João Del Rei: 01. João Batista Fagundes VII. Moradores em Congonhas do Campo, Comarca de Vila Rica: 01. Basílio Pimenta da Mota 02. Caetano Antônio Corrêa 03. Francisco de Paula 04. Francisco do Carmo 05. Francisco Manoel Pimenta 06. Francisco Pimenta Chaves 07. Herculano Cândido Bonfim 08. Honofre de São Bento 09. Joaquim Leandro Rosa 10. Manoel Pimenta Chaves 11. Manoel Ribeiro da Silva 12. Maximiano Nogueira 46 IX. Moradores de São João Del Rei: 01. Antônio da Silva Miranda 02. Cipriano Pereira do Amaral 03. Francisco de Assis Silva 04. Francisco de Paula de Andrade 05. Francisco Joaquim de Santana 06. Francisco José Cardoso 07. Francisco Lopes das Chagas 08. Francisco Mendes Duarte 09. João Alves de Castilho 10. João Batista de Miranda 11. João Batista de Miranda Salvado 12. João José da Silva Vieira 13. João José das Chagas 14. João Leocádio 15. João Lopes 16. João Xavier da Silva Ferrão 17. Joaquim Bonifácio 18. Joaquim da Silva Barcelos 19. Joaquim José da Silva 20. Joaquim José de São Bernardo Roma 21. Joaquim Lourenço de Miranda 22. José Jerônimo de Miranda 23. José Joaquim de Souza Sabino 24. José Machimo de Alcami 25. José Marcos de Castilho 26. José Teixeira de Carvalho (Capitão) 27. Lourenço Fernandes Braziel 28. Luciano Antônio de Catagerona 29. Manoel da Costa Souto 30. Marcelino Cláudio de Miranda 31. Quintino Pereira de Sampaio 32. Silvério da Costa Brandão 33. Valentino Paes Corrêa 34. Veríssimo Rodrigues César X. Morador na Vila de São José, Comarca de Rio das Mortes: 01. Manoel Marques (Sargento-Mór) 47 XI. Morador em Catas Altas do Mato Dentro, Comarca de Vila Rica: 01. João Fernandes Monteiro Xl, Moradores em Santa Anna do Morro do Chapéu, frequesia e Queluz, comarca do Rio das Mortes: 01. Albano José Gonçalves 02. Anacleto José da Costa 03. Francisco José de Frias (?) 04. João Clemente da Costa 05. João da Costa Salino 06. João de Pina Tavares 07. João Luís de Carvalho 08. José Gomes de Oliveira 09. José Simplício da Costa 10. Manoel! Antônio Moreira de Castilho 11. Manoel Gonçalves de Jesus 12. Pascoal da Silva Guerra XIII, Moradores em Baependi, comarca de São João Del Rei: 01. José Pereira de Macedo (Alferes) 02. Salvador Moreira Rodrigues XIV. Moradores em Prados, comarca de São João Del Rei: 01. Antônio Muniz (?) de Paula 02. Antônio Pedro da Silveira 03. Carlos José Cardoso da Silva 04. Claudino de Souza 05. Constantino José de Castro 06. Felipe Neri Teixeira 07. Francisco de Souza 08. Francisco Joaquim de Santana 09. Francisco Ribeiro dos Santos 10. Francisco Simões de Barros 11. Jerônimo Maximo Viana 12. Joaquim Gonçalves Ramos 13. Joaquim Lourenço do Espírito Santo 14. José Dias Pereira As 15. José Gonçalves de Moura 16. José Joaquim de Santana 17. Manoel Bernardes Spíndola e Castro 18. Manoel Correa Paes 19. Roque Pereira da Silva XV. Moradores na frequesia do Rio Pomba, cidade de Mariana, comarca de Vila Rica: 01. Anastácio Dias de Souza 02. Antônio de Torres Franco 03. Antônio João de Oliveira 04. Antônio Pires de Faria 05. Carlos Antônio de Souza 06. Francisco de Torres Franco 07. Francisco dos Reis Menezes 08. Francisco Fagundes de Mesquita 09. Gregório Mariano Spíndola e Castro 10. João Coelho Granzil 11. Joaquim Gonçalves Moreira 12. Joaquim Pereira dos Passos 13. José de Clarêncio 14. José de Torres Franco 15. José do Vale de Jesus 16. Lúcio de Torres Franco 17. Manoel Jacinto de Torres Franco 18. Manoel Teixeira Romão 19. Vitorino Nunes dos Reis XVI.Moradores de Itabira do Mato Dentro, Comarca de Sabará: 01. Athanásio Fernandes da Silva 02. Esteves Pires Pontes 03. Felipe Fernandes Nunes 04. Floriano Alves Pereira 05. Francisco de Assis Pinto 06. João Evangelista Pereira 07. José Coelho Pacheco 08. Justino Fernandes Madeiro 09. Manoel Alves de Araújo 49 XVII. Moradores na Vila do Príncipe, Comarca do Serro Frio: 01. Antônio Gomes Chaves 02. Antônio Rodrigues Lamaxo (?) 03. Domingos Pinto Ribeiro 04. Elias José Coutinho 05. Francisco Roberto de Azevedo 06. João Batista Peixoto 07. Joaquim José Ribeiro Peixoto 08. José Alves Passos 09. José Antônio de Oliveira e Castro 10. José de Paiva Quintanilha 11. José Tomás Justiniano 12. Liberato José Pinheiro 13. Manoel Joaquim da Silva Pereira 14. Manoel Rodrigues Vieira 15. Plácido José de Souza 16. Simão Rodrigues 17. Teodoro Vieira Gil 18. Vicente Lúcio Forbelo XVII.Moradores em Santa Luzia, Comarca de Sabará: 01. Bernardino José de Senne 02. Clemente Xavier da Costa 03. Francisco de Paula Marinho 04. Francisco de Paulas Mosso 05. João Batista de Moraes Ferreira 06. José Bernardes Maciel 07. José Evaristo de Melo 08. Manoel Jacinto de Carvalho09. Manoel Vicente Hipólito 10. Paulo José da Costa XIX. Moradores de Barbacena, Comarca de São João Del Rei: 01. Caetano Rodrigues da Silva 02. Cecílio José Venâncio 03. Damaso Dionísio Valamiel 04. Florêncio Rodrigues de Andrade 05. Francisco das Neves de Jesus 06. Jerônimo José Rodrigues 07. José Tomás da Silva 08. Manoel dos Passos da Graça 50 XX.Moradores na Vila do Tamanduá, Comarca de São João Del Rei: 01. Bento Antônio da Boa Morte 02. Serafim da Costa XXI. Moradores de Oliveira, Comarca do Rio das Mortes: 01. Domingos Antônio dos Santos 02. Francisco José de Queirós 03. Francisco Martins Ferreira 04. Joaquim da Silva Fialho 05. Manoel Gonçalves Gomides 06. Silvestre Pereira dos Santos XXI. Moradores em Formiga, Comarca do Rio das Mortes: 01. Antônio Fernandes 02. João Brás da Costa 03. José Brás da Costa XXIII. Moradores em Bom Sucesso, Comarca do Serro Frio: 01. Adriano Soares de Jesus 02. Antônio Correa dos Santos 03. Antônio do Amaral Coimbra 04. Antônio Martins de Almeida 05. Antônio Pereira de Medeiros 06. Antônio Pereira de Medeiros 07. Custódio dos Anjos Correa 08. Fermiano Carvalho dos Santos 09. Francisco de Paula Assis 10. Francisco Leonino Maris 11. Francisco Soares de Jesus 12. Jacinto Ferreira da Costa 13. João Teixeira Pinto 14. Joaquim Felizardo Pires 15. Joaquim Francisco Maia 16. José da Silva Vieira 17. José Manoel Pereira 51 18. José Nunes Pereira Dorta 19. José Pereira de Araújo 20. José Soares 21. Manoel Antônio Rodrigues 22. Manoel Antunes 23. Manoel Gonçalves 24. Norberto Martiniano Nunes 25. Roberto Vieira de Araújo Calam 26. Serafim dos Anjos 27. Vicente Ferreira de Araújo XXIV. Moradores em Caeté, Comarca de Sabará: 01. Antônio dos Passos Fernandes 02. Camilo de Lelis Fernandes 03. Francisco de Assis Fernandes da Trindade 04. Francisco Fernandes Coimbra 05. Francisco Xavier de Sá Glória 06. João de Souza Leal 07. Joaquim Oliveira Pacheco 08. Manoel Dias de Araújo 09, Manoel Fernandes da Trindade 10. Pedro Antônio Fernandes Coimbra 11. Venâncio Fernandes da Trindade XXV. Moradores em Pitangui, Comarca da Vila do Infante ou de Sabará: 01. Antônio Lourenço Justiniano de Pádua 02. Caetano José Delfim 03. Domingos Antônio Pereira 04. Domingos José Pinto 05. Felipe Antônio Peres 06. Floriano José Pinto 07. Francisco Antônio Rodrigues 08. Francisco Ferreira Alberto 09. Joaquim José da Silva 10. Joaquim José Silveira Pinto 11. José Joaquim da Silva 12. Manoel Caetano da Fonseca 13. Manoel Duarte de Queirós 14. Marcos Rodrigues Sobreira 52 XXVI.Moradores em Lagoa Santa, Comarca de Sabará: 01. Antônio Lopes Severino 02. David Monteiro de Soza Telles 03. Francisco Monir (2?) 04. João Ramos da Cruz 05. José Barbosa de Sá 06. Miguel Pereira da Silva 07. Patrício José Barbosa XXVII Moradores em Aiuruoca, Comarca de São João Del Rei ou do Rio das Mortes: 01. Bernardo José Carneiro 02. David Cardoso Neris 03. Felix Barbosa Pereira 04, Flávio Antônio da Silva 05. Hermenegildo Rodrigues da Cunha 06. João Salustiano Coelho 07. Joaquim Vieira de Sampaio 08. José da Rocha e Souza 09. José Joaquim da Rocha 10. Manoel da Rocha e Souza XXVII. Morador em Paraopeba, Comarca de Sabará: 01. Cândido José da Silveira XXIX.Moradores em São Miguel, Comarca de Sabará: 01. Antônio Emílio Gomes 02. Antônio Fernandes Diniz 03. Benedito José da Sá 04. Bento José Pereira 05. Bernardino José Pereira 06. Francisco Barreto Falcão 07. João da Costa Soares 08. João Leite Monteiro 09. Manoel Domingos Correa 10. Valério Martins de Santos XXX. Moradores em Candeias, Comarca do Rio das Mortes: 01. Antônio Julio da Silveira 02. João Marçal da Costa XXXl.Morador em Lagoa Dourada, Comarca do Rio das Mortes: 01. José da Silva Malta XXXIl.Moradores em Ibituruna, Comarca do Rio das Mortes: 01. Antônio da Cunha de Souza 02. Antônio Joaquim de Souza 03. Damaro José de Souza 04. Francisco Antônio de Souza 05. Inácio Correa Amaud 06. José da Cunha Mota (Guarda-Mór) 07. José Luís Gonçalves 08. Lourenço Bernardes (Alferes) 09. Manoel Antônio Fernandes 10. Manoel Joaquim da Silva 11. Manoel Joaquim da Silva 12. Manoel José de Souza 13. Prudêncio José Gomes Observação: Todos os nomes listados acima aparecem no “Livro Primeiro de Entradas”, como Professores da Arte da Música; no entanto os nomes que arrolamos a seguir, não trazem essa distinção, quais sejam: Il. Moradores de Itabira do Campo, Comarca do Rio das Velhas: 01. André Alves da Cruz 02. Antônio Joaquim de Oliveira 03. Apolinário Antunes de Araújo 04. David de Souza Barreto 05. Francisco de Paula e Mendanha 06. 07. 08. 09. 10. Francisco de Pinho Joaquim José e Mendanha José de Faria Gurgel Manoel Guilherme do Nascimento Vicente Ferreira e Mendanha Il. Moradores em Vila Rica: Angelina Maria Rosa Anna Rodrigues de Andrade - Antônio Inácio da Purificação Antônio Ribeiro de Azevedo (Padre) Antônio Tássara de Pádua (Capitão) Bárbara Bernarda Brandão Bruno José de Souza Castro (Padre) Camelo Carlos Jorge de Mendonça Delfino Camilo Pereira Domingos Teixeira Pires Emerenciano Maximino de Azeredo Coutinho (Padre) Francisca Maria de Jesus Francisco José Pereira de Carvalho (Padre) Isabel Marcelina Brandão João Ângelo Tavares do Amaral Joaquim José de Oliveira (Capitão) . Joaquim Pereira de Magalhães (Padre) . Joaquim Roberto Silva (Padre) Joaquina Coelho de Moura Joaquina da Silva Sena José Carneiro de Moraes (Padre) José da Cunha e Melo (Padre) José de Freitas e Souza (Padre) José Vieira de Carvalho . Júlio César da Fonseca Luís José da Cruz Mafalda Maria de Santa Anna Manoel Antônio Pimenta (Padre) Manoel da Silveira e Araújo (Frei) Manoel dos Santos de Abreu (Padre) Manoel Rodrigues Jardim (Padre) Maria Carolina Bárbara de Jesus Maria da Cunha Xavier Maria Leonor de São Bernardo Romana Rodrigues de Andrade . Silvério Teixeira Coelho (Padre) Silvério Teixeira de Gouveia (Padre-Mestre) 55 38. Simplícia Clara da Fonseca 39. Thomazia Mendes de Vasconcelos 40. Vicente Tássara de Pádua (Porta- Estandarte) 41. Vitorino Alves Machado (Padre) Ill. Moradores em Rio Pomba, Comarca de Vila Rica: 01. Cecília Constância de Torres 02. Francisca Pinta de Meirelles 03. Generosa Felicidade IV. Morador em Santa Luzia, Comarca de Sabará: 01. João Batista de Souza (Tenente-coronel) V. Morador em São João Del Rei: 01. José da Silva Pacheco (Padre) VI. Moradores em Passagem de Mariana, Comarca de Vila Rica: Nesta listagem, os irmãos aparecem como “Bentinhos da Confraria de Santa Cecília”. 01. Bernardo de Souza 02. Francisco Alves Lima 03. Francisco Ferreira Vieira 04. Gordianno Fernandes Vieira 05. Gordianno Luís do Vale 06. Joaquim Dias Martins 07. Luciano Correa Lemos 08. Luís Gonzaga Teixeira 09. Luís Pinto de Senne 10. Manoel Fernandes Machado 11. Manoel Fernandes Machado 12. Manoel Luís da Silva 13. Mariano Vieira Soares 14. Rufino Xavier 56 COMPROMISSO DA CONFRARIA DE SANTA CECÍLIA DE MARIANA 1820 - ANRJ, c. 830 Termo de abertura Senhor Dizem os professores da arte da música moradores na leal cidade de Mariana e seu termo, Capitania de Minas Gerais, que lhes dá impulsos de devoção "sua especial padroeira, a gloriosa, virgem e mártir Santa Cecília. Fizeram colocar a sua imagem em um altar da igreja catedral da dita cidade por legítima autoridade ordinária, e com permissão dos capelães das mesmas, se ajuntar para solenizarem todos os anos a sua festividade no seu próprio dia, que é o 22 de novembro, cantando e tocando instrumento à missa solene do coro; e para firmeza dessa sua devoção, pretendem erigir uma confraria abrangendo a mesma cidade e todo o seu termo, para o regimento da qual organizarão o estatuto cuja cópia autêntica oferecem, e porque nada podem conseguir sem a devida autorização de Vossa Majestade. Para Vossa Majestadese designe liberalizar-lhes a especial graça de ser protetor da referida confraria, mandam passar a competente provisão de ereção e juntamente confirmar o estatuto. Por essa graça rogarão a Deus pela seticidade de Vossa Majestade e de toda augusta e real santa. S.R.M. 57 CAPÍTULO | Das pessoas que representam o corpo da Irmandade e do modo Parágrafo 1. Parágrafo 2. Parágrafo 3. Parágrafo 4. Parágrafo 5. Parágrafo 6. Parágrafo 7. Parágrafo 8. Parágrafo 1. Parágrafo 2, Parágrafo 3. Parágrafo 4. Parágrafo 5. da eleição. Haverá um Juiz, um Escrivão, um Tesoureiro, um Procurador, oito Irmãos de mesa e um Zelador. Para eleição destes se convocará o maior número de irmãos no dia 21 de novembro de cada ano. Proporá o Juiz três irmãos da maior idoneidade, probidade e capacidade sobre os quais se deve votar, e sairá Juiz aquele que obtiver mais votos a seu favor. Nos mais casos, Escrivão, Tesoureiro e Procurador, cada um querendo seu cargo, elegerá três entre os irmãos para neles se votar e será vencedor aquele que exceder em votos. Também preparará o Escrivão três irmãs em que se há de votar e sairá eleita Juíza a que tiver maior número de votos a favor; e oito irmãs de mesa aprovadas pelo Juiz. Não ficarão reeleitos os mesários, salvo aquele ou aqueles que por justiça ou por necessidade, a mesa julgar conveniente para a sua conservação. Não entrarão em eleição os que tiverem servido antes de passados três anos. Os que, porém, passado o dito tempo, forem eleitos para qualquer cargo serão obrigados a servir sem escusa. A eleição será publicada no dia 22 de novembro, e assinalando-se dias para as posses, o Escrivão lhes fará avisos por cartas. CAPÍTULO Il Da autoridade da mesa. Esta terá inspeção na arte da música, e todos os que a exercitarem dentro da compreensão e de todo termo desta cidade de Mariana, lhes farão mister. Nenhuma pessoa se exercitará em funções solenes sem mostrar-se assinado e aprovado. A mesa nomeará examinadores e com atestação deles para aprová-los. Não serão assistidos em coro os que não estiverem atestados na confraria. Aqueles que nas festas solenes ou públicas admitirem os que não forem irmãos nem previamente examinados, portão o dobro do salário que ajustarão ganhar nessa função e ficarão privados de entrarem em ajuste algum por dois anos. Parágrafo 6. Os intrusos que se meterem na mesma relação, perderão o dobro do que se cobrava regularmente. Parágrafo 7. Para evitar a temeridade dos que pretenderem ou sinistramente procurarem iludir essa observância, se recorrerá ao respectivo Provedor das capelas, o qual punirá os intransigentes com a pena de transgressarem as leis. Parágrafo 8. Elegerá a mesa presidentes nas povoações distantes que regulem e supram a autoridade da mesa. Parágrafo 9. Serão admitidas todas as pessoas que quiserem atestar-se por sócios, mas serão poucos os mesários. A mesa rejeitará aquelas pessoas que por sua indignidade e conhecido orgulho for capaz de levantar sedições, desobedecer aos superiores e perturbar o bom governo da corporação; e ainda, os irmãos que de semelhante modo procederem serão excluídos. Parágrafo 10. Qualquer músico examinado e aprovado poderá ajustar funções, mas para as fazer deverá obter licença da mesa ou do irmão Juiz, o qual lhe fará concedida por uma cédula passada pelo escrivão e assinada pelo dito Juiz. Parágrafo 11. Não se farão as licenças sem que se registre em um livro que para isso deve haver, com declaração do preço de ajuste, onde ficará assinado. Parágrafo 12. Quem sem essas licenças executar funções solenes incorrerá nas penas do parágrafo 5 deste capítulo. Parágrafo 13. No caso de concedida a licença ao primeiro que a pediu, não poderá mais revogar e conceder a outro. Caso contrário, ficarão responsáveis os mesários e por eles servirem a indenizar o preço do ajuste para os seus bens ao primeiro impenetrante. Parágrafo 14. Quando um músico qualquer fizer algum ajuste totalmente abusivo de sua harmonia que deve fazer com os demais e lhes causar prejuízos, não se concederá a licença sem que sejam ouvidos os prejudicados. 59 CAPÍTULO III Das coisas necessárias à confraria Parágrafo 1. Terá uma cruz para usar nas procissões e para levar os confrades mortos à sepultura; e a insígnia de que se revestirão será uma opa branca com sobrecapa roxa. Parágrafo 2. Haverá um esquife para carregar os mortos que serão acompanhados obrigatoriamente por todos os irmãos. Parágrafo 3. Haverá um cofre com três chaves para nele se recolher os rendimentos da confraria e os claviculários serão o Juiz, o Escrivão e o Tesoureiro. Parágrafo 4. Haverá um livro para inventário das alfaias, ornamentos e móveis da confraria. Outro para lançamento de entradas de irmãos, outro para receita e despesa, outro para assento dos mortos e outro para registro de licenças. CAPÍTULO IV Das obrigações da mesa. Parágrafo 1. Festejará a nossa Santa Virgem e Mártir no dia 22 de novembro com a maior solenidade que for possível e nenhuma música se negará a isso e não haverá dinheiro. Parágrafo 2. Só por grande impedimento se transferirá a festa para outro dia. Parágrafo 3. Para ela se tirará o dinheiro do cofre. Parágrafo 4. A mesa empossada tomará contas, aprovando ou desaprovando as despesas. Parágrafo 5. Socorrerá os irmãos enfermos e pobres, diligenciando o acolhimento deles no hospital, assistindo-lhes com as esmolas diárias. Parágrafo 6. Expedirá suficiente livro a cada presente para os ministros das presídias, e constará na numeração, rubricado pelo Escrivão da Irmandade. Parágrafo 7. Fará catacumbas ou cemitérios para enterramento dos irmãos falecidos. Parágrafo 8. Fará sufragar os irmãos falecidos com quatro missas pagas pelos cofres. Parágrafo 9. Se as forças da confraria permitirem, fará capela própria. Parágrafo 10. Acompanhará todos os irmãos falecidos à sepultura. 60 Parágrafo 11. Prometerá tudo quanto for zelo e devoção com a Santa, e caridade com os irmãos. CAPÍTULO V Das obrigações de cada um dos mesários. Parágrafo 1. O irmão Juiz assistirá a todas as mesas e nelas terá voto decisivo, providenciará fora da mesa tudo quanto for negócio, concederá licença para as festas, nomeará examinadores aos novos pretendentes e mandará socorrer aos irmãos enfermos e pobres. Parágrafo 2. O irmão Escrivão terá em sua guarda todos os livros e se responsabilizará por eles. Parágrafo 3. O irmão Tesoureiro fará receber no cofre todos os rendimentos da confraria. Parágrafo 4. O irmão Procurador fará as cobranças de tudo que se dever à confraria. Parágrafo 5. Os irmãos de mesa estarão prontos a vir a ela sempre que forem avisados. Parágrafo 6. No impedimento do juiz, se avisará ao primeiro irmão da mesa. Parágrafo 7. O irmão procurador terá a seu cargo a ata da santa. CAPÍTULO VI Das funções de todos os irmãos para subsistência da corporação. Parágrafo 1. O irmão Juiz pagará pelo o seu cargo a quantia de vinte mil réis. Parágrafo 2. Os irmãos Escrivão, Zelador e Procurador não pagarão nem mesadas nem anuais. Parágrafo 3. O irmão tesoureiro pagará três mil réis. Parágrafo 4. A irmã Juíza pagará o mesmo que o Juiz e as irmãs de mesa como os irmãos. Parágrafo 5. Os irmãos de mesa pagarão cada um novecentos réis. Parágrafo 6. Qualquer um que for admitido para irmão pagará de entrada seiscentos réis. Parágrafo 7. Todos os irmãos pagarão por si trezentos réis anualmente. Parágrafo 8. Os irmãos moradores nesse termo, alistados na confraria de Vila Rica, ficarão sujeitos a essa e não serão obrigados jamais dos cargos e anuais daquela, e nem será preciso pagarem novas entradas. Parágrafo 9. Nenhum professor de música que seja irmão dessa confraria poderá ir contra essa determinação. 61 Parágrafo 10. Nas funções públicas ou de teatro seguir-se-á a mesma ordem, com diferença porém que quando fizerem os ajustes pagarão