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MUSCULAÇÃO Cristiano Cardoso de Matos Introdução ao treinamento de força Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever a origem da musculação como prática de condicionamento físico. � Reconhecer as contribuições científicas para a evolução do treina- mento de força. � Discutir os princípios do treinamento de força e suas formas de intervenção. Introdução A musculação pode ser entendida como um exercício que utiliza a resis- tência fixa, progressiva ou regressiva proveniente de materiais como hal- teres, barras, borrachas, anilhas, equipamentos, entre outros. O resultado do treinamento de musculação requer muita paciência, perseverança, cientificismo, alimentação e descanso (FLECK; KRAEMER, 2017). Neste capítulo, você vai estudar sobre a origem do treinamento de força e, por consequência, da musculação, além de ver como ela surgiu, com seu objetivo mais militar, e como ela está atualmente, com o seu objetivo de bem-estar. 1 Origem da musculação A história da musculação e, por consequência, do treinamento de força são muito antigos. Não existe uma data precisa em relação a sua origem. Alguns relatos nas paredes de capelas funerárias do Egito relatam datas de 4500 anos a.C. Nessas imagens, são observados homens levantando pesos simbolizando exercícios. Podemos pensar que o treinamento de força pode ter começado muito antes. O ato de caçar levou os indivíduos a se prepararem para uma luta ou fuga contra a presa. Dessa forma, os nossos ancestrais, de uma ma- neira inconsciente, deveriam treinar correndo, lutando e ficando cada vez mais aptos para a aquisição do alimento (MIRANDA, 2014; CHANDLER; BROWN, 2009). De certa forma, um pouco mais recente, em Olímpia, na Grécia Antiga, foi encontrada uma pedra de 143,5 kg com local para empunhadura e inscrições que diziam ter o atleta Bybom a levantado, acima de sua cabeça, com uma das mãos. Contudo, a história mais famosa é a de Milon de Crotona da época de 500 a.C., na Itália. Milon era atleta de luta olímpica, sendo seis vezes campeão dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga. A sua história demonstra na prática um dos principais princípios do treinamento desportivo, a progressão de cargas. Nessa época, esses atletas utilizavam um modelo de periodização chamado tetra. Milon queria ser o homem mais forte de todos, um dos seus feitos era correr com um bezerro nas costas como forma de sobrecarregar os músculos dos membros inferiores. Com o passar do tempo, quanto mais pesado o bezerro ficava, mais forte e maior era a massa muscular de Milon, ao passo que o bezerro se tornou um touro e mesmo assim o atleta era capaz de levantá-lo. Ainda, há relatos de que ele foi um dos primeiros a se preocupar com a suplementação alimentar. Sua dieta diária era constituída de 9 kg de carne, 9 kg de pão e 10 litros de vinho, um total de 57 mil kcal. A Figura 1 ilustra o progresso de Milon ao longo do tempo (MIRANDA, 2014). Introdução ao treinamento de força2 Figura 1. Ilustração de Milon inicialmente erguendo um bezerro que, depois, cresceu e se tornou um touro, e esse crescimento sendo acompanhado pelo atleta. Fonte: Consistency... (2019, documento on-line). A Grécia constitui-se de um grande berço à humanidade. Nela, podemos observar o aparecimento dos primeiros centros de treinamento de força. Não muito diferente do que observamos hoje, esses centros eram ginásios cons- tituído de salas cobertas e locais ao ar livre, onde os indivíduos tinham a possibilidade de se exercitar. Nos centros de treinamento, eram encontrados pistas de corrida, locais para salto, arremessos e lutas, com acomodações para os espectadores e recintos para massagens, unção, banhos e discussões filo- sóficas. Os objetivos pessoais variavam: aprimoramento do físico de maneira estética até fins atléticos como melhora do desempenho. Um grande exemplo do culto do físico pelos gregos são as imagens em pinturas, quadros e estátuas esculpidas (MIRANDA, 2014). Dando um salto temporal, a ideia de melhorar o desempenho foi projetada um pouco para o combate militar, um bom exemplo são algumas das grandes batalhas travadas na idade média. Os soldados deveriam treinar o seu físico para suportar ou ficarem mais aptos para os combates. Já na Idade Moderna, o exercício não era visto como algo interessante. Era dado pouco apreço às práticas corporais por se tratarem de trabalhos manuais no período da Revo- lução Industrial. Ainda, as práticas corporais eram vistas como pecado por serem consideradas práticas de vaidade (MIRANDA, 2014). 3Introdução ao treinamento de força Já na Idade Contemporânea, século XIX, a prática do treinamento de força é observada pelos médicos como uma ferramenta capaz de qualificar a raça. Por meio do exercício, o indivíduo pode manter-se forte e saudável. Assim, a sociedade pode preparar homens para o trabalho e mulheres para as linhas de produção e serviços domésticos. Com essa visão, em oposição a outros períodos, pode-se criar corpos saudáveis, robusto e harmonioso (MIRANDA, 2014). Com a musculação, o fisiculturismo ganhou credibilidade no século XX, quando ocorreu a regulamentação do culturismo. Ainda, a musculação ganhou maior notoriedade como competição e esporte na competição intitulada Físico mais Fabuloso do Mundo, em Londres, em 1901. Essa competição foi idealizada e realizada por Eugen Sandow e contou com 156 atletas. Nessa mesma época, foi criado o evento Mr. América (1940), o qual avaliava os competidores pelos aspectos da hipertrofia, definição muscular, proporção entre as dimensões dos grupos musculares e sequência de poses. O campeão foi John Grimek, que exibia volume, simetria, definição e proporção acima da média para a época (MIRANDA, 2014). Posteriormente, foi criado o Mister Olympia (1965), que teve, ao longo dos anos, grandes campeões, como Larry Scott, Arnold Schwarzenegger, Lee Haney e Ronnie Coleman. O fisiculturismo, ou mais conhecido como bodybuilding, ganhou grande importância com o cientificismo. Ocorreu um grande avanço em relação às dietas, aos treinos, à fisiologia e à biomecânica dos exercícios e com a utilização indiscriminada de esteroides e anabolizantes (MIRANDA, 2014). Outro momento em que a musculação se popularizou foi nas grandes guerras. Os soldados utilizavam os exercícios com pesos tanto para aumen- tar o tônus muscular como também para recuperar determinado segmento corporal com certa lesão. O período pós-guerra culminou no surgimento de salas de musculação com aparelhos específicos para a sua utilização nos Es- tados Unidos. Uma característica dessas salas era a limpeza. Essas academias não tinham professores ou pessoas especializadas. Elas eram cuidadas por indivíduos que tinham bons resultados próprios, o empirismo era a base dos resultados (MIRANDA, 2014). Introdução ao treinamento de força4 Podemos observar que, de uma forma mais grosseira, a musculação era entendida como um treinamento para militares ou um esporte para os indivíduos mais brutos. A musculação tinha um caráter mais exibicionista e estético. Com o passar do tempo, a musculação começou a ser estudada, sendo descobertos novas técnicas, exercícios mais elaborados, aparelhos mais ergonômicos, barras, anilhas, halteres, entre outros (FLECK; KRAEMER, 2017; MIRANDA, 2014). No Brasil, o sucesso de alguns atores e fisiculturistas, como Silvester Stalone, Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude Van Damme, entre outros, motivou a procura por academias, que aumentou muito na década dos anos 80 e 90. Com o sexo feminino, essa procura foi maximizada com a divulga- ção de algumas modalidades de ginástica com pesos. Ainda nessa década, aumentaram as tecnologias nos aparelhos com a qualificação dos professores, tornando as academias lucrativas como empresa (FLECK; KRAEMER, 2017; STOPPANI, 2017; FAHEY, 2014; MIRANDA, 2014). Atualmente, existem 33 mil academias credenciadas no Brasil com mais de 8 milhões de alunos matriculados(BRASIL..., 2018). Nos últimos anos, a musculação ganhou em conjunto uma ideia de bem-estar (wellness). Por meio da musculação, os indivíduos podem trabalhar o corpo para o exibicionismo, como também para melhorar a saúde, prevenir lesões, reabilitar, relaxar, entre outros objetivos. Cada vez mais existem pesquisas que demonstram os benefícios da sua prática e minimizam as contraindicações. Atualmente, a musculação faz parte do programa de treinamento básico de todos os esportes. Ainda, faz parte das recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM, do inglês The American College of Sports Medicine). Essa organização recomenda um treinamento de força por no mínimo duas vezes na semana, praticar de 8 a 10 exercícios em dois ou mais dias alternados por semana e utilizar os grandes grupos musculares. Para maximizar o desenvolvimento de força, é recomendado utilizar de 8 a 12 repetições de cada exercício (FLECK; KRAEMER, 2017; MIRANDA, 2014). Atualmente, existe um crescente número de salas de treinamento resistido em academias, universidades, entre outros. Os benefícios esperados pelos pra- ticantes estão relacionados à melhora da saúde, da aptidão física, do aumento de força, do aumento de massa magra e da diminuição da gordura corporal. Podem ser observadas melhorias também relacionadas à parte fisiológica, como diminuição da pressão arterial, diminuição da resistência à insulina, diminuição das gorduras circulantes, entre outras (FLECK; KRAEMER, 2017; STOPPANI, 2017). 5Introdução ao treinamento de força O treinamento de força como estratégia de combate ao sedentarismo e programa de exercício físico sempre despertou muita atenção e atraiu novos praticantes. Ao mesmo tempo, no entanto, observa-se um grande número de pessoas com dificuldades de aderir à prática sistemática da musculação. Confira no link a seguir um artigo que objetivou avaliar os motivos que causam a aderência e o abandono da prática da musculação. https://qrgo.page.link/V8F1E Foi observado que o treinamento de força é algo muito antigo. Ainda, esse treinamento surgiu com a prática, quase sem nenhuma teoria de base. A musculação foi moldada por tentativa e erro, ou seja, por meio das respostas dos atletas aos seus treinadores. Com o avanço das pesquisas e o aumento do número de praticantes, surgiram inúmeros avanços científicos, por meio da produção de estudos e pesquisas que objetivaram aumentar a eficiência do treinamento de força. 2 Contribuições científicas para a evolução do treinamento de força O treinamento é entendido como um processo sistemático e repetitivo que visa à obtenção de determinadas valências. No caso do treinamento de força, este objetiva a melhora do desempenho do praticante para a tarefa a ser realizada. Na Grécia Antiga, por exemplo, o treinamento de força consistia em os atletas passarem por processos de treinamentos sistemáticos com base no empirismo, que causavam melhorias nas capacidades estimuladas. Com o incentivo das pesquisas nas últimas décadas por parte de cientistas esportivos, observou-se um avanço significativo em relação tanto a estímulos dados quanto a respostas e esses estímulos. Fisiologistas e biomecânicos do exercício começaram a pesquisar cada vez mais as respostas aos estímulos dados. O treinamento pode ser entendido como uma área multidisciplinar preocupada com a compreensão e o aperfeiçoamento do desempenho, podendo ser com fins atléticos ou não (FLECK; KRAEMER, 2017; STOPPANI, 2017). Introdução ao treinamento de força6 Um dos enfoques dados às pesquisas sobre o treinamento está relacionado às relações estímulo/resposta (SANTANA et al., 2019). Adicionalmente, grande atenção tem sido dada à elaboração de testes que tenham uma elevada repro- dutibilidade e sejam sensíveis para detectar mesmo pequenas alterações no desempenho provocadas pelo processo de treinamento (FLECK; KRAEMER, 2017; STOPPANI, 2017; FAHEY, 2014). Para isso, são utilizados diferentes instrumentos de análise: aparelhos portáteis que possam quantificar a força, a atividade bioelétrica dos músculos recrutados, plataforma de força portátil, esteiras instrumentadas, consumo de oxigênio, uso de biopsia muscular e biologia molecular, estudo sobre adaptações agudas e crônicas aos modelos de treinamento, entre outros (SANTANA et al., 2019; REBEQUI et al., 2018; VIEIRA et al., 2015). Nas últimas décadas, cada vez mais se destacam as pesquisas para iden- tificar os benefícios do treinamento de força. Destes, podemos destacar o aumento da massa magra, a diminuição da massa gorda, a melhora da eficiência cardíaca, entre outros (FLECK; KRAEMER, 2017). A inclusão da prática regular do treinamento de força como forma de adoção de um estilo de vida mais saudável e ativo é cada vez mais citada em estudos para o controle e a prevenção de doenças. A prática do treinamento de força é bem difundida em todo o mundo, como também os benefícios para quase todos os tipos de indivíduos, de todas as idades, gêneros, enfermos ou não. Sua prescrição e sua supervisão adequadas são necessárias em todos os casos, como pode ser visto no estudo de Liz et al. (2015), que relacionou os motivos da prática de treinamento de força em 328 participantes de academias com a idade dos praticantes. Como resultado, foi observado que os principais motivos são: a prevenção de doenças, o controle de peso corporal, o controle do estresse, a afiliação e a reabilitação da saúde. Ainda, estes se correlacionaram à idade dos praticantes. Um grande número de evidências tem demonstrado, cada vez mais, que o hábito da prática de atividade física se constitui como uma das prioridades em programas voltados à promoção da saúde (FLECK; KRAEMER, 2017; STOPPANI, 2017; FAHEY, 2014; BAECHLE; WESTCOTT, 2013; LIMA; PINTO, 2012; CHANDLER; BROWN, 2009; UCHIDA, 2003; BADILLO; AYESTARAN, 2001). 7Introdução ao treinamento de força A musculação supervisionada adequadamente se torna uma excelente opção para a manutenção da saúde e a melhora da qualidade de vida de seus praticantes, apresentando vários benefícios à saúde. Podemos destacar alguns benefícios, como: manutenção e aumento do metabolismo proveniente do aumento de massa muscular; diminuição da gordura corporal pelo aumento do gasto energético e maior queima de calorias; diminuição das dores articulares como resultado de um programa adequado de alongamento e fortalecimento da musculatura; diminuição das chances de aparecimento de problemas psicológicos em razão da maior liberação de substâncias calmantes e rela- xantes durante os exercícios, como as endorfinas; melhora da qualidade do sono em razão da sua duração, do maior relaxamento muscular e da redução da tensão nervosa; diminuição de riscos de quedas e fraturas por aumento da velocidade de resposta ao desequilíbrio e à agilidade, como aumento da densidade dos ossos; controle de diabetes, pois fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes, como obesidade, podem ser reduzidos com a prática do treinamento de força; melhora na autoestima, pois exercícios aumentam a confiança do indivíduo; melhora na saúde cardiovascular por estimular o coração e os vasos sanguíneos a desenvolverem maior capacidade de manter a contratilidade do miocárdio; ajuda em retardar o envelheci- mento e a manter a independência física e a habilidade para o trabalho por fortalecer os músculos e o coração e amenizar o declínio das habilidades físicas; por fim, ajuda no retardamento ou prevenção do desenvolvimento da osteopenia e da osteoporose. Ao fortalecer os músculos e o coração, e ao amenizar o declínio das habilidades físicas, os exercícios podem ajudar a manter a independência física e a habilidade para o trabalho, retardando o processo de envelhecimento e dependência (FLECK; KRAEMER, 2017; FAHEY, 2014; BAECHLE; WESTCOTT, 2013; CHANDLER; BROWN, 2009; UCHIDA, 2003; BADILLO; AYESTARAN, 2001). A Figura 2 representa as melhorias corporais provenientes do exercício. Podemosobservar a imagem da ressonância magnética das coxas de dois indivíduos, um sedentário e um praticante de exercício. Introdução ao treinamento de força8 Figura 2. Resultado da prática do exercício físico. Nas duas imagens de ressonância mag- nética, são apresentadas imagens de corte transversal da coxas direita e esquerda de dois indívíduos de 74 anos, com características morfológicas totalmente diferentes. (a) Indivíduo é sedentário e podemos observar, na cor clara, uma grande quantidade de tecido adiposo, já na cor escura, uma pequena quantidade de massa magra. (b) Indivíduo com baixa quantidade de tecido adiposo (claro) e grande quantidade de massa magra (escuro). Tecido adiposo Quadríceps (a) (b) Em suma, a musculação pode ter objetivos competitivos, profiláticos, terapêuticos e estéticos, além de ser usada como meio de recreação e de pre- paração física. Por exemplo, nos idosos, a musculação pode causar melhora na capacidade de realização das atividades diárias, como se alimentar, vestir, banhar-se, locomover-se, entre outras tarefas (HEYWARD, 2011). 9Introdução ao treinamento de força Uma das grandes dúvidas da população em geral está relacionada com a possibilidade de crianças poderem realizar treinamento de força. Essa é uma das questões que profes- sores de educação física devem ter um grande domínio. O sedentarismo está cada vez mais presente nessa população. As grandes organizações, como a ACSM, a Academia Americana de Pediatria, entre outras, se posicionam extremamente favoráveis a essa prática. Contudo, a prática deve ser segura e supervisionada (FLECK; KRAEMER, 2017). O treinamento de força após a sua consolidação, passou por uma refor- mulação científica, deixando o empirismo de lado e indo ao cientificismo. Nesse período, começou a se pesquisar sobre adaptações aos estímulos dados, como também respostas a esses estímulos. Com o avanço da tecnologia, vá- rios equipamentos puderam ser criados para quantificar essas respostas. As respostas fisiológicas e biomecânicas observadas com o treinamento também foram muito importantes. 3 Princípios do treinamento de força e suas formas de intervenção O treinamento de força ou resistido auxilia a melhora do condicionamento do participante. A sua característica é a solicitação da musculatura em atividade contra uma força oposta, sendo um equipamento, um haltere ou outro utensílio (FLECK; KRAEMER, 2017). Algumas definições são extremamente importantes para um perfeito en- tendimento do treinamento de força. Podemos destacar as ações musculares dinâmicas e estáticas. As ações dinâmicas concêntricas caracterizam-se pelo encurtamento do músculo e pela aproximação da inserção distal da proxi- mal. Nas ações musculares dinâmicas excêntricas, os músculos se contraem alongando-se e ocorre o afastamento da inserção distal da proximal. Por fim, ações musculares estáticas isométricas destacam-se pelo mínimo movimento visível na articulação. A força em uma ação isométrica é maior do que a em uma ação concêntrica, mas menor do que em uma ação excêntrica (FLECK; KRAEMER, 2017). Com esses conceitos, alguns pesquisadores desenvolveram métodos de treino enfatizando apenas a fase concêntrica do movimento, outros Introdução ao treinamento de força10 apenas a fase excêntrica, como também alguns unicamente a isometria em diferentes ângulos (FLECK; KRAEMER, 2017). Uma repetição é constituída por um movimento completo de um exercí- cio, por exemplo, uma ação concêntrica, excêntrica e/ou isométrica. Para o treinamento de força, as repetições variam de 6 a 15. A série compreende um grupo de repetições sem pausa ou descanso (FLECK; KRAEMER, 2017). Para o treinamento de força, existem alguns métodos de identificar a carga a ser utilizada, destes podemos destacar o teste de uma repetição máxima (1 RM). Para esse teste, é utilizada a máxima carga que pode ser levantada para uma repetição com a técnica correta. Outro teste utilizado é de repetições máximas. Para esse protocolo, é colocada uma carga estimada e o testando deverá realizar o maior número de repetições com a técnica correta. Um cuidado que deve ser passado aos praticantes de treinamento de força é manter sempre uma amplitude total de movimento nos gestos realizados. A im- portância desse cuidado está relacionada ao equilíbrio entre os músculos. Quando é negligenciada essa amplitude por muito tempo, os músculos mobilizados em determinado gesto podem apresentar um desequilíbrio, como encurtamentos e diminuição de força em determinados graus de movimento (FLECK; KRAEMER, 2017; FAHEY, 2014; BAECHLE; WESTCOTT, 2013; CHANDLER; BROWN, 2009; UCHIDA, 2003; BADILLO; AYESTARAN, 2001). Velocidade de execução, ou ritmo de execução dos exercícios, preconiza que para a fase excêntrica do movimento, a velocidade deve ser realizada em um tempo maior em comparação à fase concêntrica. Para a hipertrofia, o músculo deve ser mantido sob tensão por um tempo que deverá ficar em torno de 20 a 70 segundos, com uma carga equivale a 80% do peso máximo (FLECK; KRAEMER, 2017; FAHEY, 2014; BAECHLE; WESTCOTT, 2013; CHANDLER; BROWN, 2009). Uma grande importância que deve ser dada ao treinamento de força é a periodização. A periodização é uma variação sistematizada entre o volume e a intensidade de treino. O volume pode ser entendido como a quantidade de trabalho realizado em uma sessão. A intensidade é a carga de treinamento utilizada pelo avaliado (FLECK; KRAEMER, 2017; FAHEY, 2014; BAECHLE; WESTCOTT, 2013). Para que o praticante de treinamento de força consiga os seus resulta- dos, algumas regras ou leis (princípios) devem ser respeitadas. O organismo sempre deve estar em equilíbrio (homeostase). Os estímulos quebram esses equilíbrios que, ao longo das horas ou dias, são restaurados e maximizados. Os princípios do treinamento norteiam a reestruturação desse equilíbrio (FLECK; KRAEMER, 2017; FAHEY, 2014; BAECHLE; WESTCOTT, 2013; 11Introdução ao treinamento de força CHANDLER; BROWN, 2009; UCHIDA, 2003; BADILLO; AYESTARAN, 2001). Dentre os princípios, podemos destacar alguns a seguir. � Princípio da individualidade biológica: demonstra que o treinamento deve ser único e específico para cada indivíduo em razão da grande variabilidade entre indivíduos da mesma espécie. Cada indivíduo tem as suas características únicas que devem ser respeitadas e levadas em consideração (FLECK; KRAEMER, 2017; FAHEY, 2014; BAECHLE; WESTCOTT, 2013; CHANDLER; BROWN, 2009; UCHIDA, 2003; BADILLO; AYESTARAN, 2001). � Princípio da especificidade: relata que o estímulo deve ser o mais próximo da modalidade ou do gesto a ser realizado pelo atleta. Deve- -se levar em conta o sistema energético, o padrão de movimento, o segmento corporal envolvido, o tempo em atividade, as condições climáticas, entre outros. � Princípio da sobrecarga: consiste em sobrecarregar o organismo de maneira planejada, respeitando o volume, a intensidade e a duração do treinamento. A sobrecarga deve ser progressiva, gradual e indivi- dualizada ao longo do tempo. Deve-se ter um equilíbrio entre o tempo de recuperação e a carga inicial. Esse tempo sendo respeitado, são observadas as adaptações biológicas. � Princípio da reversibilidade: transmite a ideia de que o que não se usa, perde-se. Dessa forma, à medida que o estímulo dado é cessado, o indivíduo tende a retornar às condições anatomofisiológicas prévias ao treino. Essa reversibilidade é na mesma velocidade da aquisição. Quanto mais tempo o indivíduo ficou recebendo os estímulos, mais lentamente estes serão perdidos. � Princípio da continuidade: demonstra que o estímulo deve ser contínuo. Caso ele seja interrompido, as melhorias tendem a cessar. Podemos destacar também alguns cuidados em relação ao ambiente de treino como também da sua vestimenta. O ambiente de treino deve ser venti- lado e climatizado para que o aluno consiga realizar o treino sem que ocorra problemas, por exemplo, de hipertermia ou hipotermia. Calçadosconfortáveis e seguros são imprescindíveis para a manutenção de uma boa postura. Ainda, as luvas ajudam muito o aluno a segurar a barra com firmeza, além de proteger a palma da mão. Bermudas e camisetas produzidas com materiais leves que auxiliem a transpiração também são imprescindíveis (SANTAREM, 2014). Introdução ao treinamento de força12 Um dos cuidados que praticantes de treinamento de força devem ter é com a hidratação ou, mais ainda, com a desidratação. Nem todos os locais de treino são climatizados, como também nem sempre os praticantes de musculação cuidam da sua hidratação. Uma simples perda de 3% do peso corporal após a prática da musculação já pode caracterizar um nível de desidratação. Leia o artigo disponível no link a seguir para saber sobre esse tema extremamente importante. https://qrgo.page.link/dTJBa Uma prática muito importante é a realização de uma avaliação física. Nela, o profissional poderá retirar informações muito importantes a respeito de algumas variáveis. Destas, podemos destacar as psíquicas, como ansie- dade, motivação e personalidade; as informações metabólicas, como sistema aeróbio e anaeróbio; as respostas neuromusculares, como força, resistência, velocidade e coordenação; e também dados cineantropométricos, que seriam a composição corporal, a proporcionalidade e o crescimento e desenvolvimento. Na avaliação física, ainda, é de extrema importância a realização de uma anamnese (questionário) para a obtenção de informações sobre o histórico do indivíduo, a fim de saber o risco de doenças, e a obtenção de dados sobre objetivos (HEYWARD, 2011). Podemos ao final observar que o treinamento de força é uma modalidade esportiva muito antiga que tinha como finalidade a estética e o aprimoramento de força para as competições. Com o avanço da ciência, observou-se que o treinamento de força é muito mais importante e complexo. A musculação pode causar inúmeras alterações corporais tanto benéficas quanto maléficas. A ciência auxiliou na criação de equipamentos que possibilitaram a investi- gação de variáveis como força, ativação elétrica, ativação mioelétrica, centros de pressão, entre outras, para quantificar as respostas ao treino. Ainda, as pesquisas identificaram os princípios que sustentam os estímulos dados ao longo das sessões de treinamento. Para o profissional de Educação Física, é de suma importância o conhecimento a respeito das estruturas que formam o treinamento de força. 13Introdução ao treinamento de força BADILLO, J. J. G.; AYESTARAN, E. G. Fundamentos do treinamento de força: aplicação ao alto rendimento esportivo. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. BAECHLE, T. R.; WESTCOTT, W. L. Treinamento de força para a terceira idade. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. BRASIL conta com 33 mil academias: mercado fitness, mesmo próspero, exige con- veniência e criatividade de quem quer empreender. Exame, 22 ago. 2018. Disponível em: https://exame.abril.com.br/negocios/dino/brasil-conta-com-33-mil-academias- -mercado-fitness-mesmo-prospero-exige-conveniencia-e-criatividade-de-quem- -quer-empreender/. Acesso em: 18 jan. 2020. CHANDLER, T. J.; BROWN, L. E. Treinamento de força para o desempenho humano. Porto Alegre: Artmed, 2009. CONSISTENCY & the short story of Milo. In: MEETZANN. [S. l.], 2019. Disponível em: https://meetzann.wordpress.com/2019/06/20/consistency-the-short-story-of-milo/. Acesso em: 18 jan. 2020. FAHEY, T. D. Bases do treinamento de força para homens e mulheres. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. FLECK, S. J.; KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. HEYWARD, V. H. Avaliação física e prescrição de exercício: técnicas avançadas. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. LIMA, C. S.; PINTO, R. S. Cinesiologia e musculação. Porto Alegre: Artmed, 2012. LIZ, C. M. et al. Os motivos da prática de treinamento de força diferem em relação à idade do praticante. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 13, n. 1, p. 61–67, 2015. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/article/view/13530/10108. Acesso em: 18 jan. 2020. MIRANDA, L. História e filosofia da musculação. EFDeportes.com, v. 19, n. 195, 2014. Dis- ponível em: https://www.efdeportes.com/efd195/historia-e-filosofia-da-musculacao. htm. 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Relação entre força de preensão manual e força de membro inferior em mulheres de meia idade: um estudo transversal. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 20, n. 5, p. 467–475, 2015. Disponível em: http://rbafs.org.br/RBAFS/article/ view/5800/5165. Acesso em: 18 jan. 2020. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 15Introdução ao treinamento de força
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