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1 INTRODUÇÃO O presente trabalho possui como tema central o Interesse Translocal, (doravante também denominado Interesse Intermunicipal, Interesse Transmunicipal ou Interesse Interlocal), dentro da peculiar estrutura federalista brasileira, bem como sua evolução no contínuo espaço-tempo de nossa história constitucional e sua integração com os Interesses locais que o fundamentam. Muito embora seja o tema central, faz necessário falar ainda do Interesse Local do Município, pois é este Interesse que legitima o Translocal como fundamento fático dos Consórcios Públicos Intermunicipais, espécie do gênero Consórcios Públicos, positivados no ano de 2005, por meio da Lei Federal Nº 11.107, de 06 de abril – fundamento legal –, em atendimento ao disposto no art. 2411 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, doravante CRFB/88. Esses Interesses (Local e Translocal) existem desde a gênese de nossa História, muito embora não reconhecidos ou até mesmo suprimidos em alguns momentos. Na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, estão os Interesses Local e Translocal positivados nos arts. 30, I2, e 241, respectivamente. Entretanto, apesar de tal previsão expressa, a condição de validade desses Interesses não está tão-somente na previsão em cada Constituição, no texto puro e simples, mas também no seu cotejamento com a forma de Federalismo adotada em cada período, de forma a captar o espírito da norma constitucional em dado tempo e espaço. Por fim, o Interesse Translocal, para apresentar-se como verdadeira condição de eficácia dos Consórcios Públicos Intermunicipais, dentro do contínuo espaço- tempo deverá concretizar princípios constitucionais como os da Subsidiariedade, do 1 “Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)” BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 abr. 2015. 2 “Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local;” (grifei) BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 abr. 2015. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art24 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art24 Federalismo3, da Dignidade da Pessoa Humana4 e do Bem Comum5, dentre outros. Para tal, o espírito do Interesse Translocal descola-se da norma pura e simples, seu invólucro formal e positivado, para ingressar no campo do Jusnaturalismo, da Política, bem como de outras Ciências, as quais, concomitantemente, imbuem a esse Interesse Translocal as supra condições de existência, validade e eficácia. Assim como em um tessarato, figura geométrica na qual coexistem as três dimensões físicas (comprimento, largura e altura), com a dimensão tempo, formando o que a Física chama de contínuo espaço-tempo, o Interesse Translocal coexiste e atua conjuntamente com outras Ciências, em especial com a Política, em dado espaço geográfico e em dada conjuntura político-constitucional, sendo praticamente impossível definir se a norma Interesse Translocal (campo do Direito) precede o Interesse Translocal como fundamento político-sociológico dos Consórcios Públicos Intermunicipais, ou vice-versa. Dessa maneira, fica fácil vislumbrar a importância didática de um painel histórico que apresente claramente a origem e a evolução dos Interesses Local e Translocal, bem como a (não) interação destes com as ações governamentais de um dado espaço-tempo. A escolha do tema Consórcios Públicos Intermunicipais e o Interesse Translocal ocorre em um momento no qual a forma de estado federalista brasileira passa por uma releitura de seus postulados, bem como pelo clamor de ações governamentais capazes de concretizar, no maior grau possível de eficácia, o oferecimento de serviços públicos de competência precípua do ente municipal, como 3 “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (...) § 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado;” (grifei) BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 abr. 2015. 4 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana;” (grifei) BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 abr. 2015. 5 “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.” (grifei) BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 abr. 2015. Márcia Regina Zok da Silva Márcia Regina Zok da Silva
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