Buscar

Thalita Martins_Comentarios_FFM

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ”
THALITA MARTINS DE OLIVEIRA VITORIANO
n° USP: 10699405
STEAM e Natureza: Tecendo Conexões Relacionadas à Educação Ambiental
no Ensino Básico
Documento entregue à disciplina de
pós-graduação ECO5024 - Agricultura,
Sociedade e Natureza (2023), ministrada
pelos docentes Dr. Paulo Eduardo
Moruzzi Marques e Dr. Fábio Frattini
Marchetti.
PIRACICABA/SP
2023
O ser humano, ao longo da história, tem mantido uma relação intrínseca com
o meio ambiente que o cerca. Desde as civilizações primordiais até a
contemporaneidade, a natureza emergiu como componente vital no entrelaçar das
sociedades e na evolução cultural. Não obstante, a complexidade da era atual nos
confronta com uma dicotomia de notável relevância: enquanto a humanidade aufere
benefícios dos recursos naturais, muitas vezes relega ao segundo plano a imperiosa
necessidade de preservação e compreensão da significância dessa interação.
Em um mundo cada vez mais tecnológico, a desconexão do homem com a
natureza tornou-se uma preocupação global, tornando a interação entre o homem e
a natureza crucial, especialmente no contexto da aprendizagem ambiental destinada
a discentes do ensino médio. A abordagem STEAM surge como um antídoto para
essa desconexão, integrando as tecnologias modernas com a exploração ativa do
ambiente natural. Ao invés de perpetuar a separação entre o virtual e o real, a
metodologia STEAM (acrônimo para Science, Technology, Engineering, Arts and
Mathematics) propõe uma síntese, permitindo que os alunos utilizem a tecnologia
como uma ferramenta para compreender e preservar a natureza.
Assim, o presente documento envereda pelas perspectivas das metodologias
de aprendizagem alicerçadas na abordagem STEAM, visando fomentar uma
apreciação diferenciada acerca da natureza e, concomitantemente, propiciar o
desenvolvimento do envolvimento estudantil e das competências de pensamento
crítico. Os tópicos abordados incluem a importância do contato com a natureza, a
definição do conceito de natureza, a análise do processo civilizador e sua relação
com a interação humana com a natureza em diversas realidades existenciais, a
abordagem da natureza na educação básica brasileira, a apresentação da
metodologia STEAM e sua pertinência para a aprendizagem ambiental, a
consideração da individualidade e sua conexão com a natureza, e, por fim, uma
reflexão sobre a interação entre professores e alunos no contexto do contato com a
natureza e educação ambiental.
Benefícios do contato com a natureza para o aluno e o papel do professor
A integração de experiências na natureza no ambiente educacional tem
demonstrado benefícios significativos para o desenvolvimento cognitivo, emocional
e social dos alunos. Pesquisas ressaltam que a interação regular com ambientes
naturais contribui para a melhoria da atenção, concentração e desempenho
acadêmico. Além disso, atividades ao ar livre promovem o bem-estar emocional,
reduzindo o estresse e a ansiedade entre os estudantes.
De acordo com estudos de Kaplan (1995), a interação humana com a
natureza confere uma ampla gama de benefícios para a saúde e o bem-estar. O
autor propõe que o contato com ambientes naturais, como espaços verdes e jardins,
exerce efeitos positivos na saúde humana, manifestando-se na redução do estresse
e no estímulo à atividade física. Além disso, esses ‘ambientes restauradores’, como
proposto pelo autor, demonstram propriedades restauradas que podem aprimorar a
função cognitiva e fomentar a criatividade. Essas descobertas indicam que a oferta
de oportunidades para o contato com a natureza pode ter implicações significativas
nos resultados educacionais (KAPLAN, 1995).
A pesquisa conduzida por Oliveira, Pereira e Pereira Junior (2018) destaca os
benefícios substanciais do uso de conceitos relacionados à natureza,
exemplificados pelo emprego eficaz da horta escolar como ferramenta pedagógica.
Ao abordar o ensino básico, o estudo revela que a horta escolar transcende sua
função inicial, promovendo não apenas a interdisciplinaridade, mas também
integrando conceitos cruciais de Ciências, Matemática e Português, além da
Educação Ambiental. A metodologia observativa e sistemática empregada na
pesquisa qualitativa demonstra que o uso da horta não apenas facilita a assimilação
de conteúdos pelos alunos, mas também fomenta a socialização entre eles. As
atividades relacionadas à horta, como pesquisas de campo e elaboração de
relatórios, enriqueceram o processo educacional extraclasse e destacaram a
importância de abordar a resistência dos alunos ao consumo de vegetais na
merenda escolar (OLIVEIRA; PEREIRA; PEREIRA JUNIOR, 2018).
A pesquisa de Souza et al. (2014), ao destacar a experiência positiva do
Projeto Utilixo em escolas públicas municipais, ressalta como o enfoque em
questões ambientais, especialmente na gestão de resíduos sólidos, pode resultar
em resultados positivos. Ao transmitir conceitos e valores sobre meio ambiente,
geração e tratamento de resíduos sólidos, o projeto não apenas sensibilizou os
alunos para a importância da reciclagem, mas também demonstrou a eficácia da
educação ambiental na transformação de percepções e comportamentos. A
participação ativa da comunidade escolar e a implementação de um programa de
educação ambiental adaptado à realidade local destacam a relevância de integrar
tais temas no ambiente educacional. Além disso, as atividades práticas e
discussões teóricas mostraram-se instrumentais para proporcionar aos alunos uma
compreensão mais profunda das causas e consequências dos problemas
ambientais. Esses esforços contínuos, destacados na pesquisa, reforçam a
necessidade de engajamento dos educadores e a importância de atividades
práticas, como palestras e discussões, que estimulam os estudantes a se tornarem
agentes ativos na promoção de práticas sustentáveis e na conscientização sobre
questões ambientais em seu entorno (SOUZA et al., 2014).
Ainda, é necessário mapear o papel do professor neste processo que envolve
a educação dos alunos em relação ao meio ambiente. Bizerril e Faria (2011)
investigaram a percepção de professores do ensino fundamental no Distrito Federal
sobre a educação ambiental. Os resultados indicam que essa abordagem muitas
vezes é esporádica e restrita a disciplinas específicas, enfrentando desafios
orçamentários, estruturais e de motivação. A colaboração entre centros de pesquisa
e escolas foi destacada como essencial para promover mudanças. Além disso, as
dificuldades identificadas refletem questões mais amplas na educação, enfatizando
a importância da capacitação docente, de atividades interdisciplinares e da revisão
dos processos de formação para melhorar a qualidade do ensino. De acordo com tal
concepção, a educação ambiental deve ser apresentada de maneira acessível,
alinhada ao contexto escolar, para estreitar a lacuna entre teoria e prática nas
escolas do ensino básico.
Outra narrativa que permeia a discussão consiste no equívoco causado pela
convicção desenvolvimentista responsável por transpassar o raciocínio de que as
questões ambientais são dissociadas e contrárias às questões sociais. Destaca-se,
nesse contexto, a necessidade premente de abordar temáticas ambientais no
ambiente escolar, visando ampliar a percepção dos alunos sobre as inter-relações
entre essas questões e promover sua formação como cidadãos conscientes.
Esta abordagem não se limita à formação no âmbito da natureza, mas
abrange a educação em ciências como um todo, interdisciplinar e transdisciplinar,
desempenhando papel crucial na formação integral dos alunos e preparando-os
para assumir papéis significativos como cidadãos informados e participativos na
sociedade contemporânea.
De acordo com Santos e Schnetzler (2003), ao fornecer uma compreensão
sólida dos princípios científicos e promover habilidades práticas, a educação em
ciências capacita os alunos a enfrentar desafios complexos e tomardecisões
fundamentadas. Além disso, ela estimula o pensamento crítico, a curiosidade e a
capacidade analítica, características essenciais para compreender e avaliar
questões tanto científicas quanto sociais.
O desenvolvimento dessas habilidades não apenas contribui para a formação
acadêmica, mas também molda cidadãos capazes de contribuir para o progresso
nas esferas social, econômica e ambiental. A interconexão intrínseca entre a
educação em ciências e a formação cidadã sublinha a importância de adotar uma
abordagem holística na preparação dos alunos para os desafios da sociedade
contemporânea (SANTOS; SCHNETZLER, 2003).
O multifacetado conceito de natureza
A discussão acerca da relevância do aumento do contato com a natureza no
cenário educacional figura de maneira proeminente na literatura acadêmica.
Contudo, emerge uma indagação crucial que transcende as abordagens
convencionais: o que, efetivamente, constitui a natureza e quem a define? Este
questionamento profundo requer uma análise meticulosa, e importantes vozes,
como Williams (2011) e Cronon (1995), ressaltam que as concepções de natureza
são construções sociais e culturais, moldadas pelas percepções humanas e valores
inerentes a determinado contexto histórico.
Em sua obra, Williams (2011) argumenta que a concepção da natureza não
constitui uma entidade estática, mas sim uma construção dinâmica influenciada por
valores humanos e contextos históricos. O autor explora a evolução histórica das
concepções sobre o tema, questionando a inclusão do homem como parte
integrante da natureza. Williams destaca a complexidade intrínseca dessas ideias,
ultrapassando definições estáticas e abordando a relação entre a humanidade e a
natureza. Ele discute a transição da visão medieval ortodoxa, na qual a natureza era
concebida como reflexo da criação divina, para perspectivas idealistas, ressaltando
a apreensão de que a intervenção humana possa exceder os limites designados.
Ainda, o autor enfatiza a dualidade contemporânea na percepção da natureza,
considerada tanto como refúgio quanto suscetível à exploração por indivíduos em
posições de poder. Ao desafiar a concepção de uma natureza universal e imutável,
Williams oferece uma perspectiva que ressoa com a complexidade das interações
entre seres humanos e ambiente natural (WILLIAMS, 2011).
Neste ínterim, Cronon (1995) aprofunda essa discussão ao explorar a relação
intrínseca entre humanidade e natureza. Ele critica a dicotomia simplista entre
"natureza intocada" e "sociedade humana", argumentando que essa divisão não
captura a rede de interações entre os dois. O autor propõe que as concepções de
natureza são construções humanas moldadas por fatores sociais e culturais,
desafiando assim a ideia de uma separação clara entre o mundo natural e o
humano.
No contexto dessas reflexões, destaca-se a crítica de que as recomendações
para identificar e isolar paisagens tidas como intocadas são problemáticas devido a
pressupostos equivocados sobre modificações humanas passadas. Essas
abordagens desviam a atenção de questões estruturais mais profundas, como o
papel do capitalismo global na promoção do consumismo. O autor também
questiona soluções simplistas, como a remoção de pessoas de seus ambientes, a
ênfase na mudança de comportamento e educação, a separação da natureza
selvagem da influência humana, e a proposta de retorno a um estado pré-humano
ou selvagem. Essas críticas reforçam a necessidade de uma abordagem mais
integrada que reconheça a interconexão entre sociedade e natureza (CRONON,
1995).
Ainda, como Castro (2019) revelou em sua pesquisa, a perspectiva sistêmica
de ‘natureza’, influente no cenário acadêmico brasileiro, destaca a interconexão
dinâmica entre eventos, desafiando a visão de uma natureza isolada. Teorias como
a Teoria Geral dos Sistemas, modelos de balanços energéticos e a visão de
agroecossistema contribuem para essa abordagem (CASTRO, 2019). A natureza,
concebida como um evento de passagem, transcende abstrações científicas ao
incluir espaço, tempo e a percepção humana. Essa visão abrangente influencia
atitudes e práticas, revelando a importância das representações culturais na
interação sustentável entre humanidade e natureza (CASTRO, 2019).
Neste sentido, a natureza não é uma entidade objetiva e universal, mas sim
um conceito dinâmico, sujeito a interpretações diversas. A compreensão dessa
variabilidade é crucial para uma abordagem mais holística e inclusiva do contato
com a natureza no contexto educacional.
A concepção de natureza transcende a mera ambientação, abarcando desde
o meio físico circundante até a essência intrínseca das coisas não humanas. Nesse
sentido, a pluralidade de interpretações que emerge da contemplação da natureza
exige uma abordagem crítica, que contemple uma ampla variedade de perspectivas
e valores no âmbito da conservação (PASCUAL et al., 2021). Analisar a
complexidade e heterogeneidade do conceito de natureza é um imperativo, e os
estudos eruditos ressaltam a necessidade de desvendar as múltiplas facetas
associadas a essa concepção. Diversas correntes teóricas, desde paradigmas
naturalistas até perspectivas construcionistas sociais, têm sido identificadas por
estudiosos, delineando um panorama rico e multifacetado. Contudo, desafiar
pressupostos e estereótipos arraigados, como a ideia da natureza como entidade
pura e inocente destinada primordialmente ao uso humano, emerge como uma
tarefa importante neste debate enriquecedor.
Concepções socioculturais da relação ser humano-natureza e o papel da
educação
Avançando nesta discussão, evidencia-se um notório distanciamento do ser
humano em relação à natureza ao longo do tempo. Sob essa perspectiva,
destaca-se a contribuição teórica de Norbert Elias, um sociólogo contemporâneo
cujas obras, notadamente "O Processo Civilizador" e "A Sociedade dos Indivíduos",
merecem uma investigação profunda para elucidar nossas concepções
sócio-históricas atuais. O exame aprofundado das contribuições de Elias emerge
como fundamental para a compreensão das dinâmicas sócio-históricas
contemporâneas. O sociólogo, ao examinar as interações entre comportamento,
poder e sistemas educacionais, integra aspectos psicológicos e históricos em sua
análise. Em sua abordagem, ele introduz a dicotomia entre natureza e cultura,
concebendo a natureza como representativa de elementos biológicos inatos,
enquanto a cultura configura-se como a resposta cultural a essas necessidades
biológicas. O conceito central proposto por Elias é o da "distensão", caracterizando
a adaptação gradual do indivíduo a padrões comportamentais específicos,
influenciados por relações sociais, referências e simbologias (ELIAS, 1994b).
Ao explorar o "processo civilizador", Elias ressalta a conformidade
progressiva do indivíduo aos padrões culturais específicos. A análise do autor incide
sobre manuais de etiqueta da alta sociedade europeia, revelando que tais
comportamentos eram transmitidos com o propósito de demarcar distinções entre
grupos sociais, e que as complexas teias de interdependência desempenham um
papel crucial nesse contexto. Elias refuta a visão que concede protagonismo
absoluto ao indivíduo sobre o coletivo, enfatizando, ao invés disso, uma dinâmica de
trocas nas teias de interdependência (ELIAS, 1994b).
Assim, o autor oferece uma perspectiva evolutiva das sociedades humanas,
delineando uma transição de comportamentos anteriormente considerados
incivilizados ou vergonhosos para padrões comportamentais mais socialmente
aceitáveis e regulamentados. A aplicação dessa teoria à interação humana com a
natureza sugere um afastamento progressivo dos seres humanos do ambiente
natural, com uma valorização crescente dos espaços urbanos em detrimento dos
espaços naturais. Esta mudança resultou na desvalorização do conhecimento e
sensibilidade ambiental, desafiando as iniciativas inovadoras para promover práticas
ambientais sustentáveis (ELIAS, 1994b).
Dentrodo escopo desta análise do espaço viável para reflexão, o papel dos
educadores se revela fundamental na reconexão dos estudantes com a natureza e
na promoção de uma consciência ambiental que transcende seus contextos
imediatos. A introdução da aprendizagem baseada na natureza do currículo escolar
emerge como uma estratégia eficaz para cultivar uma compreensão holística e
interconectada dos desafios ambientais. Essa abordagem capacita os alunos a
refletirem sobre seus papéis e responsabilidades na preservação ambiental por
meio das experiências vivenciadas (CHAWLA, 1998). A integração de atividades
educacionais que exploram diretamente o meio ambiente fornece uma abordagem
tangível e contextualizada aos temas ambientais.
As disparidades individuais, incluindo o estatuto socioeconômico e a
localização geográfica, exercem influência significativa no contato humano com a
natureza. Indivíduos de origem socioeconômica desfavorecida podem enfrentar
restrições financeiras que limitam o acesso a ambientes naturais, enquanto aqueles
provenientes de áreas rurais podem desfrutar de maior proximidade com a natureza.
Diante desse cenário, os professores assumem a responsabilidade de considerar e
abordar tais disparidades em sua abordagem metodológica. A adaptação de
materiais de aprendizagem para contemplar diversas realidades socioeconômicas e
a incorporação de contextos ambientais locais no currículo emergem como
estratégias imperativas. Dessa maneira, os educadores garantem oportunidades
equitativas para todos os alunos interagirem com a natureza e colherem os
benefícios positivos do aprendizado ambiental, como diminuição do estresse e
melhoria nas funções cognitivas, como a atenção (WELLS, 2000).
A natureza na BNCC
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), enquanto instrumento norteador
das diretrizes educacionais no Brasil, desempenha um papel crucial ao abordar o
tema da natureza, conferindo não apenas uma compreensão conceitual, mas
também promovendo a conexão prática e ética dos estudantes com o ambiente
natural .
No contexto da Educação Infantil, a BNCC enfatiza a importância de fornecer
experiências que permitam às crianças explorar, perceber e compreender o mundo
ao seu redor, incluindo o contato significativo com a natureza. Tal perspectiva está
em consonância com concepções pedagógicas que regulam o ambiente como um
recurso educativo fundamental para o desenvolvimento integral das crianças
(BRASIL, 2018).
No Ensino Fundamental, a BNCC amplia a discussão sobre a natureza,
integrando-a às diversas áreas do conhecimento. Na disciplina de Ciências, por
exemplo, são propostos conteúdos que versam sobre a compreensão dos
ecossistemas, a biodiversidade e as relações intrincadas entre os seres vivos e o
meio ambiente. Nesse contexto, busca-se promover uma visão ampla e
interdisciplinar, integrando saberes sobre a natureza de maneira contextualizada e
crítica (BRASIL, 2018).
Além disso, no Ensino Médio, a BNCC perpetua sua influência, estendendo o
compromisso de abordar a natureza de forma aprofundada e complexa. Ao
proporcionar a continuidade das investigações ambientais, a BNCC visa contribuir
para a formação de estudantes mais conscientes e críticos em relação às questões
ecológicas contemporâneas. O diálogo sobre a natureza, nesse estágio, não apenas
se aprofunda nas nuances científicas, mas também se expande para considerações
éticas e socioambientais mais complexas.
Além disso, a BNCC destaca a relevância da Educação Ambiental como uma
perspectiva transversal, permeando áreas distintas do conhecimento. Essa
abordagem visa não apenas informar os estudantes sobre as questões ambientais,
mas também desenvolver atitudes responsáveis e sustentáveis em relação ao meio
ambiente (BRASIL, 2018).
Dessa maneira, a BNCC, ao integrar uma natureza de maneira transversal e
interdisciplinar em diferentes etapas da educação básica, surge como um
instrumento crucial na formação de cidadãos conscientes e comprometidos com a
preservação ambiental, contribuindo significativamente para a construção de uma
sociedade mais sustentável e ecologicamente responsável.
STEAM e a relação professor-aluno-natureza
A efetiva integração do contato com a natureza no ambiente educacional,
através de diversas fontes como excursões, salas de aula ao ar livre, espaços
verdes interiores e ferramentas de mapeamento virtual, representa um elemento
crucial no processo educacional contemporâneo. Essa abordagem visa não apenas
fornecer conhecimentos sobre questões ambientais, mas também promover o
desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores pró-ambientais nos alunos.
Neste contexto, torna-se evidente que a interdisciplinaridade, a multidisciplinaridade
e a transdisciplinaridade desempenham papéis fundamentais na abordagem da
natureza no contexto educacional, permitindo uma compreensão mais abrangente e
conectada dos temas ambientais.
O estudo de Augusto e Caldeira (2007) examina as dificuldades enfrentadas
por professores de Ciências da Natureza na implementação de práticas
interdisciplinares em escolas públicas estaduais de São Paulo. Os professores
apontam desafios em três níveis: concepções epistemológicas, organização do
trabalho coletivo e prática pedagógica. Barreiras incluem falta de tempo,
relacionamento problemático, ausência de projeto pedagógico e justificativas como
desinteresse dos alunos. O estudo destaca a necessidade de superar essas
dificuldades, ressaltando a importância da construção coletiva do projeto
pedagógico e a interdisciplinaridade como opção para um ensino mais efetivo e
motivador.
A abordagem STEAM, que integra Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e
Matemática, de acordo com Bacich e Holanda (2020), se apresenta como uma
metodologia transformadora da educação, não sendo a única, destacando-se como
uma proposta pedagógica que vai além da tradicional fragmentação disciplinar. Sua
ênfase nestas áreas visa cultivar habilidades cruciais como resolução de problemas,
criatividade e pensamento crítico nos alunos. Em particular, a aplicação
bem-sucedida do STEAM no ensino de questões complexas, como as ambientais,
tem sido associada a resultados positivos, incluindo maior engajamento dos alunos
e melhor retenção de conhecimento (BACICH; HOLANDA, 2020; D'AMBRÓSIO,
2020).
Neste sentido, o STEAM tem emergido como uma abordagem pedagógica
inovadora para abordar questões ambientais, como evidenciado no estudo
conduzido por Rodrigues et al. (2023). Ao explorar sua aplicação no ambiente
educacional, os pesquisadores enfatizaram sua eficácia como estratégia
colaborativa e investigativa. A pesquisa, centrada na temática da água, envolveu
atividades interdisciplinares, a exibição de um curta-metragem e questionamentos
reflexivos. Os resultados indicaram desempenho satisfatório dos alunos, destacando
o papel crucial do STEAM na promoção de práticas inovadoras e integradoras na
educação. Além disso, os autores ressaltaram a necessidade de discussões
abrangentes sobre a água, considerando aspectos políticos, socioambientais,
culturais e econômicos. Essa abordagem visa promover uma compreensão mais
holística da questão, especialmente no ensino médio, período vital para a formação
de valores individuais. A eficácia do STEAM, evidenciada por resultados positivos e
resposta emocional dos alunos, reforça a importância contínua de métodos
pedagógicos não convencionais para aprimorar a relevância do processo
educacional (RODRIGUES et al., 2023).
Contudo, é imperativo reconhecer os desafios inerentes à implementação da
metodologia STEAM. A formação prática dos professores, especialmente aqueles
dedicados ao ensino de ciências no nível secundário, desempenha um papel crucial
nesse processo. A transição de métodos tradicionais para uma abordagem mais
integrada requer não apenas atualização constante, mas também suporte
pedagógico contínuo (IMBERNÓN, 2010) . Além disso, a necessidade de abordar
disparidades no acesso a recursose ambientes naturais torna-se evidente,
principalmente em contextos urbanos densamente povoados, nos quais o contato
com a natureza pode ser limitado.
A interação entre professor, aluno e ambiente natural desempenha uma
função fundamental na construção de conhecimento e na formação de valores. O
papel do professor transcende a simples transmissão de informações; ele atua
como mediador entre os alunos e o vasto mundo natural que os cerca (CHARLOT;
SILVA, 2008). A metodologia STEAM, ao integrar diversas disciplinas, proporciona
aos professores uma função mais abrangente e inspiradora no desenvolvimento dos
alunos. A relação entre educador e aluno, quando mediada pela natureza,
transcende os limites da sala de aula convencional, transformando-se em uma
jornada conjunta de descobertas. A confiança mútua é fortalecida, possibilitando
uma abordagem mais personalizada e adaptada às necessidades individuais dos
estudantes. A metodologia STEAM, ao fomentar uma interação dinâmica entre as
disciplinas, cria oportunidades para explorar a natureza de maneira interdisciplinar,
tornando o processo educacional mais envolvente e relevante (BACICH; HOLANDA,
2020).
Compreender a diversidade de realidades vivenciadas por alunos e
professores é essencial para moldar uma abordagem pedagógica inclusiva. As
experiências individuais, frequentemente moldadas por fatores socioeconômicos e
culturais, exercem uma influência direta sobre a percepção e o contato com a
natureza (ELIAS, 1994a). O desafio consiste em promover uma educação que leve
em consideração essas diferenças e busque integrar a natureza de maneira
significativa. A abordagem STEAM, ao abraçar a diversidade de perspectivas,
oferece uma plataforma para adaptar o ensino às distintas realidades dos alunos. A
natureza, em suas diversas manifestações, pode ser incorporada ao currículo de
maneira flexível, levando em conta a urbanização crescente e as limitações
geográficas que alguns estudantes enfrentam.
À medida que contemplamos as perspectivas futuras, a integração
bem-sucedida da abordagem STEAM no ensino não apenas pode servir como um
modelo inspirador para outras disciplinas, mas também como um agente catalisador
de uma transformação mais abrangente no sistema educacional. A condução de
pesquisas adicionais, destinadas a avaliar o impacto a longo prazo dessa
implementação, surge como uma necessidade crucial para aprimorar práticas
pedagógicas e influenciar políticas educacionais. Nesse contexto, a interação entre
professor, aluno e natureza, mediada pela abordagem STEAM, delineia um caminho
promissor para uma educação mais integrada, sustentável e inclusiva no cenário
acadêmico contemporâneo.
Considerações finais
Este trabalho aborda a compreensão do conceito de natureza, a valorização
da diversidade de realidades e a importância do contato regular com o meio
ambiente como elementos cruciais. Reconhecendo a interconexão dos conceitos de
natureza, a valorização da diversidade de realidades e a importância do contato
regular com o meio ambiente como elementos cruciais, os educadores podem
aprimorar práticas pedagógicas, preparando os alunos não apenas como detentores
de conhecimento, mas como agentes ativos na construção de uma sociedade mais
sustentável.
Nesse contexto, destaca-se a relevância do aprimoramento da capacitação
dos professores no que tange a metodologias ativas de ensino, especialmente
aquelas que promovem iniciativas interdisciplinares, críticas e abrangentes. Sob
essa perspectiva, o STEAM emerge como uma proposta viável. Contudo, apesar
das promissoras possibilidades da abordagem STEAM, é essencial reconhecer e
abordar os desafios durante sua implementação. Assim, a formação de professores
emerge como uma área crítica, demandando atualização constante e suporte
pedagógico contínuo. A expectativa é que tais abordagens contribuam para a
formação de uma geração de cidadãos mais conscientes, engajados e aptos a lidar
com os desafios ambientais contemporâneos.
Outro desafio a ser enfrentado são as disparidades no acesso a recursos e
ambientes naturais, especialmente em regiões urbanas densamente povoadas.
Estratégias criativas devem ser desenvolvidas para criar experiências significativas,
envolvendo parcerias com instituições locais.
No que concerne às projeções futuras, a efetiva incorporação da abordagem
STEAM pode funcionar como um paradigma inspirador para outras disciplinas,
desencadeando uma transformação mais abrangente no cenário educacional.
Investigações suplementares destinadas a avaliar os efeitos a longo prazo
assumem papel crucial para a melhoria contínua das práticas pedagógicas e o
direcionamento das políticas educacionais.
REFERÊNCIAS
AUGUSTO, T. G. S.; CALDEIRA, A. M. A. Dificuldades para a Implantação de
Práticas Interdisciplinares em Escolas Estaduais Apontadas por Professores da
Área de Ciências da Natureza. Investigações em Ensino de Ciências, v. 12, n. 1,
p. 139-153, 2007.
BACICH, L., HOLANDA, L. (org.). STEAM em Sala de Aula: a aprendizagem
baseada em projetos integrando conhecimentos na educação básica. Penso,
2020.
BIZERRIL, M.; FARIA, D. S. Percepção de professores sobre a educação ambiental
no ensino fundamental. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v.
82, n. 200-01-02, p. 57-69, 2011.
http://dx.doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.82i200-01-02.917.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília:
MEC, 2018.
CASTRO, D. S. Um Estudo Sobre o Conceito de Natureza. Geography Department
University Of São Paulo, v. 38, p. 17-30, 2019.
http://dx.doi.org/10.11606/rdg.v38i1.155804.
CHARLOT, B.; SILVA, V. A. Relação com a natureza e educação ambiental. In:
SATO, M.; CARVALHO, I. (org.). Educação Ambiental: pesquisa e desafios. Porto
Alegre: Artmed, 2008. p. 65-76.
CHAWLA, L. Significant Life Experiences Revisited: A Review of Research on
Sources of Environmental Sensitivity. Environmental Education Research, v. 4, n.
4, p. 369-382, 1998. https://doi.org/10.1080/1350462980040402.
CRONON, W. Uncommon Ground: Toward Reinventing Nature. New York: W. W.
Norton, 1995.
D’AMBRÓSIO, U. Sobre las propuestas curriculares STEM y STEAM y el Programa
de Etnomatemática. Revista Paradigma (Edición Cuadragésimo Aniversario:
1980-2020), Campinas, v. 41, p. 151-167, jun., 2020.
ELIAS, N. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994a.
ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1994b.
IMBERNÓN, F. Formação Continuada de Professores. Tradução Juliana dos
Santos Padilha Porto Alegre: Artmed, 2010.
KAPLAN, S. The restorative benefits of nature: toward an integrative framework.
Journal Of Environmental Psychology, v. 15, n. 3, p. 169-182, 1995.
http://dx.doi.org/10.1016/0272-4944(95)90001-2.
OLIVEIRA, F.; PEREIRA, E.; PEREIRA JUNIOR, A. Horta escolar, Educação
Ambiental e a interdisciplinaridade. Revista Brasileira de Educação Ambiental
(Revbea), v. 13, n. 2, p. 10-31, 2018.
http://dx.doi.org/10.34024/revbea.2018.v13.2546.
PASCUAL, U. et al. Biodiversity and the challenge of pluralism. Nature
Sustainability, v. 4, n. 7, p. 567-572, 2021.
http://dx.doi.org/10.1038/s41893-021-00694-7.
RODRIGUES, N. C. P. et al. Água e Meio Ambiente em Sala de Aula Através do
Método de Ensino STEAM. Mandacaru: Revista de Ensino de Ciências e
Matemática, v. 3, n. 1, p. 128-141, 2023.
SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Educação em Química: compromisso
com a cidadania. 3ª. ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2003.
SOUZA, G. S. et al. Educação ambiental como ferramenta para o manejo de
resíduos sólidos no cotidiano escolar. Revista Brasileira de Educação Ambiental
(Revbea), v. 8, n. 2, p. 118-130, 10 fev. 2014.
http://dx.doi.org/10.34024/revbea.2013.v8.1792.
WELLS, N. M. At home with nature: Effects of “greenness” on children’s cognitive
functioning. Environment & Behavior, v. 32, n. 6, p. 775-795, 2000.
http://dx.doi.org/10.1177/00139160021972793.
WILLIAMS, R. Ideias sobre a Natureza. In: WILLIAMS, R. Culturae Materialismo.
Tradução de André Glaser. São Paulo: Editora Unesp, 2011. p. 89-114.
fabio
Máquina de escrever
Texto bem escrito, apresenta de forma bastante detalhada o problema de pesquisa e a proposta de desenvolvimento de uma metodologia pedagógica para trabalhar as relações ser humano-natureza de forma holística e interdisciplinar (STEM). Textos e conteúdos abordados na disciplina são mobilizados pontualmente no trabalho, notoriamente os textos de Norbert Elias, porém com pouca vinculação ao tema proposto, a qual poderia ter sido mais explorada a partir de uma análise sobre a contribuição do sistema educacional na evolução da Sociedade dos Indivíduos" na perspectiva de Elias. Outras possíveis abordagens que poderiam ter sido mobilizadas diz respeito à "Multifuncionalidade da Agricultura" como possibilidade pedagógica das relações ser humano-natureza desenvolvidas no processo de ensino-aprendizagem, bem como de Políticas Públicas ou ainda a Teoria das Justificações.

Continue navegando