Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ” THALITA MARTINS DE OLIVEIRA VITORIANO n° USP: 10699405 STEAM e Natureza: Tecendo Conexões Relacionadas à Educação Ambiental no Ensino Básico Documento entregue à disciplina de pós-graduação ECO5024 - Agricultura, Sociedade e Natureza (2023), ministrada pelos docentes Dr. Paulo Eduardo Moruzzi Marques e Dr. Fábio Frattini Marchetti. PIRACICABA/SP 2023 O ser humano, ao longo da história, tem mantido uma relação intrínseca com o meio ambiente que o cerca. Desde as civilizações primordiais até a contemporaneidade, a natureza emergiu como componente vital no entrelaçar das sociedades e na evolução cultural. Não obstante, a complexidade da era atual nos confronta com uma dicotomia de notável relevância: enquanto a humanidade aufere benefícios dos recursos naturais, muitas vezes relega ao segundo plano a imperiosa necessidade de preservação e compreensão da significância dessa interação. Em um mundo cada vez mais tecnológico, a desconexão do homem com a natureza tornou-se uma preocupação global, tornando a interação entre o homem e a natureza crucial, especialmente no contexto da aprendizagem ambiental destinada a discentes do ensino médio. A abordagem STEAM surge como um antídoto para essa desconexão, integrando as tecnologias modernas com a exploração ativa do ambiente natural. Ao invés de perpetuar a separação entre o virtual e o real, a metodologia STEAM (acrônimo para Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics) propõe uma síntese, permitindo que os alunos utilizem a tecnologia como uma ferramenta para compreender e preservar a natureza. Assim, o presente documento envereda pelas perspectivas das metodologias de aprendizagem alicerçadas na abordagem STEAM, visando fomentar uma apreciação diferenciada acerca da natureza e, concomitantemente, propiciar o desenvolvimento do envolvimento estudantil e das competências de pensamento crítico. Os tópicos abordados incluem a importância do contato com a natureza, a definição do conceito de natureza, a análise do processo civilizador e sua relação com a interação humana com a natureza em diversas realidades existenciais, a abordagem da natureza na educação básica brasileira, a apresentação da metodologia STEAM e sua pertinência para a aprendizagem ambiental, a consideração da individualidade e sua conexão com a natureza, e, por fim, uma reflexão sobre a interação entre professores e alunos no contexto do contato com a natureza e educação ambiental. Benefícios do contato com a natureza para o aluno e o papel do professor A integração de experiências na natureza no ambiente educacional tem demonstrado benefícios significativos para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos alunos. Pesquisas ressaltam que a interação regular com ambientes naturais contribui para a melhoria da atenção, concentração e desempenho acadêmico. Além disso, atividades ao ar livre promovem o bem-estar emocional, reduzindo o estresse e a ansiedade entre os estudantes. De acordo com estudos de Kaplan (1995), a interação humana com a natureza confere uma ampla gama de benefícios para a saúde e o bem-estar. O autor propõe que o contato com ambientes naturais, como espaços verdes e jardins, exerce efeitos positivos na saúde humana, manifestando-se na redução do estresse e no estímulo à atividade física. Além disso, esses ‘ambientes restauradores’, como proposto pelo autor, demonstram propriedades restauradas que podem aprimorar a função cognitiva e fomentar a criatividade. Essas descobertas indicam que a oferta de oportunidades para o contato com a natureza pode ter implicações significativas nos resultados educacionais (KAPLAN, 1995). A pesquisa conduzida por Oliveira, Pereira e Pereira Junior (2018) destaca os benefícios substanciais do uso de conceitos relacionados à natureza, exemplificados pelo emprego eficaz da horta escolar como ferramenta pedagógica. Ao abordar o ensino básico, o estudo revela que a horta escolar transcende sua função inicial, promovendo não apenas a interdisciplinaridade, mas também integrando conceitos cruciais de Ciências, Matemática e Português, além da Educação Ambiental. A metodologia observativa e sistemática empregada na pesquisa qualitativa demonstra que o uso da horta não apenas facilita a assimilação de conteúdos pelos alunos, mas também fomenta a socialização entre eles. As atividades relacionadas à horta, como pesquisas de campo e elaboração de relatórios, enriqueceram o processo educacional extraclasse e destacaram a importância de abordar a resistência dos alunos ao consumo de vegetais na merenda escolar (OLIVEIRA; PEREIRA; PEREIRA JUNIOR, 2018). A pesquisa de Souza et al. (2014), ao destacar a experiência positiva do Projeto Utilixo em escolas públicas municipais, ressalta como o enfoque em questões ambientais, especialmente na gestão de resíduos sólidos, pode resultar em resultados positivos. Ao transmitir conceitos e valores sobre meio ambiente, geração e tratamento de resíduos sólidos, o projeto não apenas sensibilizou os alunos para a importância da reciclagem, mas também demonstrou a eficácia da educação ambiental na transformação de percepções e comportamentos. A participação ativa da comunidade escolar e a implementação de um programa de educação ambiental adaptado à realidade local destacam a relevância de integrar tais temas no ambiente educacional. Além disso, as atividades práticas e discussões teóricas mostraram-se instrumentais para proporcionar aos alunos uma compreensão mais profunda das causas e consequências dos problemas ambientais. Esses esforços contínuos, destacados na pesquisa, reforçam a necessidade de engajamento dos educadores e a importância de atividades práticas, como palestras e discussões, que estimulam os estudantes a se tornarem agentes ativos na promoção de práticas sustentáveis e na conscientização sobre questões ambientais em seu entorno (SOUZA et al., 2014). Ainda, é necessário mapear o papel do professor neste processo que envolve a educação dos alunos em relação ao meio ambiente. Bizerril e Faria (2011) investigaram a percepção de professores do ensino fundamental no Distrito Federal sobre a educação ambiental. Os resultados indicam que essa abordagem muitas vezes é esporádica e restrita a disciplinas específicas, enfrentando desafios orçamentários, estruturais e de motivação. A colaboração entre centros de pesquisa e escolas foi destacada como essencial para promover mudanças. Além disso, as dificuldades identificadas refletem questões mais amplas na educação, enfatizando a importância da capacitação docente, de atividades interdisciplinares e da revisão dos processos de formação para melhorar a qualidade do ensino. De acordo com tal concepção, a educação ambiental deve ser apresentada de maneira acessível, alinhada ao contexto escolar, para estreitar a lacuna entre teoria e prática nas escolas do ensino básico. Outra narrativa que permeia a discussão consiste no equívoco causado pela convicção desenvolvimentista responsável por transpassar o raciocínio de que as questões ambientais são dissociadas e contrárias às questões sociais. Destaca-se, nesse contexto, a necessidade premente de abordar temáticas ambientais no ambiente escolar, visando ampliar a percepção dos alunos sobre as inter-relações entre essas questões e promover sua formação como cidadãos conscientes. Esta abordagem não se limita à formação no âmbito da natureza, mas abrange a educação em ciências como um todo, interdisciplinar e transdisciplinar, desempenhando papel crucial na formação integral dos alunos e preparando-os para assumir papéis significativos como cidadãos informados e participativos na sociedade contemporânea. De acordo com Santos e Schnetzler (2003), ao fornecer uma compreensão sólida dos princípios científicos e promover habilidades práticas, a educação em ciências capacita os alunos a enfrentar desafios complexos e tomardecisões fundamentadas. Além disso, ela estimula o pensamento crítico, a curiosidade e a capacidade analítica, características essenciais para compreender e avaliar questões tanto científicas quanto sociais. O desenvolvimento dessas habilidades não apenas contribui para a formação acadêmica, mas também molda cidadãos capazes de contribuir para o progresso nas esferas social, econômica e ambiental. A interconexão intrínseca entre a educação em ciências e a formação cidadã sublinha a importância de adotar uma abordagem holística na preparação dos alunos para os desafios da sociedade contemporânea (SANTOS; SCHNETZLER, 2003). O multifacetado conceito de natureza A discussão acerca da relevância do aumento do contato com a natureza no cenário educacional figura de maneira proeminente na literatura acadêmica. Contudo, emerge uma indagação crucial que transcende as abordagens convencionais: o que, efetivamente, constitui a natureza e quem a define? Este questionamento profundo requer uma análise meticulosa, e importantes vozes, como Williams (2011) e Cronon (1995), ressaltam que as concepções de natureza são construções sociais e culturais, moldadas pelas percepções humanas e valores inerentes a determinado contexto histórico. Em sua obra, Williams (2011) argumenta que a concepção da natureza não constitui uma entidade estática, mas sim uma construção dinâmica influenciada por valores humanos e contextos históricos. O autor explora a evolução histórica das concepções sobre o tema, questionando a inclusão do homem como parte integrante da natureza. Williams destaca a complexidade intrínseca dessas ideias, ultrapassando definições estáticas e abordando a relação entre a humanidade e a natureza. Ele discute a transição da visão medieval ortodoxa, na qual a natureza era concebida como reflexo da criação divina, para perspectivas idealistas, ressaltando a apreensão de que a intervenção humana possa exceder os limites designados. Ainda, o autor enfatiza a dualidade contemporânea na percepção da natureza, considerada tanto como refúgio quanto suscetível à exploração por indivíduos em posições de poder. Ao desafiar a concepção de uma natureza universal e imutável, Williams oferece uma perspectiva que ressoa com a complexidade das interações entre seres humanos e ambiente natural (WILLIAMS, 2011). Neste ínterim, Cronon (1995) aprofunda essa discussão ao explorar a relação intrínseca entre humanidade e natureza. Ele critica a dicotomia simplista entre "natureza intocada" e "sociedade humana", argumentando que essa divisão não captura a rede de interações entre os dois. O autor propõe que as concepções de natureza são construções humanas moldadas por fatores sociais e culturais, desafiando assim a ideia de uma separação clara entre o mundo natural e o humano. No contexto dessas reflexões, destaca-se a crítica de que as recomendações para identificar e isolar paisagens tidas como intocadas são problemáticas devido a pressupostos equivocados sobre modificações humanas passadas. Essas abordagens desviam a atenção de questões estruturais mais profundas, como o papel do capitalismo global na promoção do consumismo. O autor também questiona soluções simplistas, como a remoção de pessoas de seus ambientes, a ênfase na mudança de comportamento e educação, a separação da natureza selvagem da influência humana, e a proposta de retorno a um estado pré-humano ou selvagem. Essas críticas reforçam a necessidade de uma abordagem mais integrada que reconheça a interconexão entre sociedade e natureza (CRONON, 1995). Ainda, como Castro (2019) revelou em sua pesquisa, a perspectiva sistêmica de ‘natureza’, influente no cenário acadêmico brasileiro, destaca a interconexão dinâmica entre eventos, desafiando a visão de uma natureza isolada. Teorias como a Teoria Geral dos Sistemas, modelos de balanços energéticos e a visão de agroecossistema contribuem para essa abordagem (CASTRO, 2019). A natureza, concebida como um evento de passagem, transcende abstrações científicas ao incluir espaço, tempo e a percepção humana. Essa visão abrangente influencia atitudes e práticas, revelando a importância das representações culturais na interação sustentável entre humanidade e natureza (CASTRO, 2019). Neste sentido, a natureza não é uma entidade objetiva e universal, mas sim um conceito dinâmico, sujeito a interpretações diversas. A compreensão dessa variabilidade é crucial para uma abordagem mais holística e inclusiva do contato com a natureza no contexto educacional. A concepção de natureza transcende a mera ambientação, abarcando desde o meio físico circundante até a essência intrínseca das coisas não humanas. Nesse sentido, a pluralidade de interpretações que emerge da contemplação da natureza exige uma abordagem crítica, que contemple uma ampla variedade de perspectivas e valores no âmbito da conservação (PASCUAL et al., 2021). Analisar a complexidade e heterogeneidade do conceito de natureza é um imperativo, e os estudos eruditos ressaltam a necessidade de desvendar as múltiplas facetas associadas a essa concepção. Diversas correntes teóricas, desde paradigmas naturalistas até perspectivas construcionistas sociais, têm sido identificadas por estudiosos, delineando um panorama rico e multifacetado. Contudo, desafiar pressupostos e estereótipos arraigados, como a ideia da natureza como entidade pura e inocente destinada primordialmente ao uso humano, emerge como uma tarefa importante neste debate enriquecedor. Concepções socioculturais da relação ser humano-natureza e o papel da educação Avançando nesta discussão, evidencia-se um notório distanciamento do ser humano em relação à natureza ao longo do tempo. Sob essa perspectiva, destaca-se a contribuição teórica de Norbert Elias, um sociólogo contemporâneo cujas obras, notadamente "O Processo Civilizador" e "A Sociedade dos Indivíduos", merecem uma investigação profunda para elucidar nossas concepções sócio-históricas atuais. O exame aprofundado das contribuições de Elias emerge como fundamental para a compreensão das dinâmicas sócio-históricas contemporâneas. O sociólogo, ao examinar as interações entre comportamento, poder e sistemas educacionais, integra aspectos psicológicos e históricos em sua análise. Em sua abordagem, ele introduz a dicotomia entre natureza e cultura, concebendo a natureza como representativa de elementos biológicos inatos, enquanto a cultura configura-se como a resposta cultural a essas necessidades biológicas. O conceito central proposto por Elias é o da "distensão", caracterizando a adaptação gradual do indivíduo a padrões comportamentais específicos, influenciados por relações sociais, referências e simbologias (ELIAS, 1994b). Ao explorar o "processo civilizador", Elias ressalta a conformidade progressiva do indivíduo aos padrões culturais específicos. A análise do autor incide sobre manuais de etiqueta da alta sociedade europeia, revelando que tais comportamentos eram transmitidos com o propósito de demarcar distinções entre grupos sociais, e que as complexas teias de interdependência desempenham um papel crucial nesse contexto. Elias refuta a visão que concede protagonismo absoluto ao indivíduo sobre o coletivo, enfatizando, ao invés disso, uma dinâmica de trocas nas teias de interdependência (ELIAS, 1994b). Assim, o autor oferece uma perspectiva evolutiva das sociedades humanas, delineando uma transição de comportamentos anteriormente considerados incivilizados ou vergonhosos para padrões comportamentais mais socialmente aceitáveis e regulamentados. A aplicação dessa teoria à interação humana com a natureza sugere um afastamento progressivo dos seres humanos do ambiente natural, com uma valorização crescente dos espaços urbanos em detrimento dos espaços naturais. Esta mudança resultou na desvalorização do conhecimento e sensibilidade ambiental, desafiando as iniciativas inovadoras para promover práticas ambientais sustentáveis (ELIAS, 1994b). Dentrodo escopo desta análise do espaço viável para reflexão, o papel dos educadores se revela fundamental na reconexão dos estudantes com a natureza e na promoção de uma consciência ambiental que transcende seus contextos imediatos. A introdução da aprendizagem baseada na natureza do currículo escolar emerge como uma estratégia eficaz para cultivar uma compreensão holística e interconectada dos desafios ambientais. Essa abordagem capacita os alunos a refletirem sobre seus papéis e responsabilidades na preservação ambiental por meio das experiências vivenciadas (CHAWLA, 1998). A integração de atividades educacionais que exploram diretamente o meio ambiente fornece uma abordagem tangível e contextualizada aos temas ambientais. As disparidades individuais, incluindo o estatuto socioeconômico e a localização geográfica, exercem influência significativa no contato humano com a natureza. Indivíduos de origem socioeconômica desfavorecida podem enfrentar restrições financeiras que limitam o acesso a ambientes naturais, enquanto aqueles provenientes de áreas rurais podem desfrutar de maior proximidade com a natureza. Diante desse cenário, os professores assumem a responsabilidade de considerar e abordar tais disparidades em sua abordagem metodológica. A adaptação de materiais de aprendizagem para contemplar diversas realidades socioeconômicas e a incorporação de contextos ambientais locais no currículo emergem como estratégias imperativas. Dessa maneira, os educadores garantem oportunidades equitativas para todos os alunos interagirem com a natureza e colherem os benefícios positivos do aprendizado ambiental, como diminuição do estresse e melhoria nas funções cognitivas, como a atenção (WELLS, 2000). A natureza na BNCC A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), enquanto instrumento norteador das diretrizes educacionais no Brasil, desempenha um papel crucial ao abordar o tema da natureza, conferindo não apenas uma compreensão conceitual, mas também promovendo a conexão prática e ética dos estudantes com o ambiente natural . No contexto da Educação Infantil, a BNCC enfatiza a importância de fornecer experiências que permitam às crianças explorar, perceber e compreender o mundo ao seu redor, incluindo o contato significativo com a natureza. Tal perspectiva está em consonância com concepções pedagógicas que regulam o ambiente como um recurso educativo fundamental para o desenvolvimento integral das crianças (BRASIL, 2018). No Ensino Fundamental, a BNCC amplia a discussão sobre a natureza, integrando-a às diversas áreas do conhecimento. Na disciplina de Ciências, por exemplo, são propostos conteúdos que versam sobre a compreensão dos ecossistemas, a biodiversidade e as relações intrincadas entre os seres vivos e o meio ambiente. Nesse contexto, busca-se promover uma visão ampla e interdisciplinar, integrando saberes sobre a natureza de maneira contextualizada e crítica (BRASIL, 2018). Além disso, no Ensino Médio, a BNCC perpetua sua influência, estendendo o compromisso de abordar a natureza de forma aprofundada e complexa. Ao proporcionar a continuidade das investigações ambientais, a BNCC visa contribuir para a formação de estudantes mais conscientes e críticos em relação às questões ecológicas contemporâneas. O diálogo sobre a natureza, nesse estágio, não apenas se aprofunda nas nuances científicas, mas também se expande para considerações éticas e socioambientais mais complexas. Além disso, a BNCC destaca a relevância da Educação Ambiental como uma perspectiva transversal, permeando áreas distintas do conhecimento. Essa abordagem visa não apenas informar os estudantes sobre as questões ambientais, mas também desenvolver atitudes responsáveis e sustentáveis em relação ao meio ambiente (BRASIL, 2018). Dessa maneira, a BNCC, ao integrar uma natureza de maneira transversal e interdisciplinar em diferentes etapas da educação básica, surge como um instrumento crucial na formação de cidadãos conscientes e comprometidos com a preservação ambiental, contribuindo significativamente para a construção de uma sociedade mais sustentável e ecologicamente responsável. STEAM e a relação professor-aluno-natureza A efetiva integração do contato com a natureza no ambiente educacional, através de diversas fontes como excursões, salas de aula ao ar livre, espaços verdes interiores e ferramentas de mapeamento virtual, representa um elemento crucial no processo educacional contemporâneo. Essa abordagem visa não apenas fornecer conhecimentos sobre questões ambientais, mas também promover o desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores pró-ambientais nos alunos. Neste contexto, torna-se evidente que a interdisciplinaridade, a multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade desempenham papéis fundamentais na abordagem da natureza no contexto educacional, permitindo uma compreensão mais abrangente e conectada dos temas ambientais. O estudo de Augusto e Caldeira (2007) examina as dificuldades enfrentadas por professores de Ciências da Natureza na implementação de práticas interdisciplinares em escolas públicas estaduais de São Paulo. Os professores apontam desafios em três níveis: concepções epistemológicas, organização do trabalho coletivo e prática pedagógica. Barreiras incluem falta de tempo, relacionamento problemático, ausência de projeto pedagógico e justificativas como desinteresse dos alunos. O estudo destaca a necessidade de superar essas dificuldades, ressaltando a importância da construção coletiva do projeto pedagógico e a interdisciplinaridade como opção para um ensino mais efetivo e motivador. A abordagem STEAM, que integra Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática, de acordo com Bacich e Holanda (2020), se apresenta como uma metodologia transformadora da educação, não sendo a única, destacando-se como uma proposta pedagógica que vai além da tradicional fragmentação disciplinar. Sua ênfase nestas áreas visa cultivar habilidades cruciais como resolução de problemas, criatividade e pensamento crítico nos alunos. Em particular, a aplicação bem-sucedida do STEAM no ensino de questões complexas, como as ambientais, tem sido associada a resultados positivos, incluindo maior engajamento dos alunos e melhor retenção de conhecimento (BACICH; HOLANDA, 2020; D'AMBRÓSIO, 2020). Neste sentido, o STEAM tem emergido como uma abordagem pedagógica inovadora para abordar questões ambientais, como evidenciado no estudo conduzido por Rodrigues et al. (2023). Ao explorar sua aplicação no ambiente educacional, os pesquisadores enfatizaram sua eficácia como estratégia colaborativa e investigativa. A pesquisa, centrada na temática da água, envolveu atividades interdisciplinares, a exibição de um curta-metragem e questionamentos reflexivos. Os resultados indicaram desempenho satisfatório dos alunos, destacando o papel crucial do STEAM na promoção de práticas inovadoras e integradoras na educação. Além disso, os autores ressaltaram a necessidade de discussões abrangentes sobre a água, considerando aspectos políticos, socioambientais, culturais e econômicos. Essa abordagem visa promover uma compreensão mais holística da questão, especialmente no ensino médio, período vital para a formação de valores individuais. A eficácia do STEAM, evidenciada por resultados positivos e resposta emocional dos alunos, reforça a importância contínua de métodos pedagógicos não convencionais para aprimorar a relevância do processo educacional (RODRIGUES et al., 2023). Contudo, é imperativo reconhecer os desafios inerentes à implementação da metodologia STEAM. A formação prática dos professores, especialmente aqueles dedicados ao ensino de ciências no nível secundário, desempenha um papel crucial nesse processo. A transição de métodos tradicionais para uma abordagem mais integrada requer não apenas atualização constante, mas também suporte pedagógico contínuo (IMBERNÓN, 2010) . Além disso, a necessidade de abordar disparidades no acesso a recursose ambientes naturais torna-se evidente, principalmente em contextos urbanos densamente povoados, nos quais o contato com a natureza pode ser limitado. A interação entre professor, aluno e ambiente natural desempenha uma função fundamental na construção de conhecimento e na formação de valores. O papel do professor transcende a simples transmissão de informações; ele atua como mediador entre os alunos e o vasto mundo natural que os cerca (CHARLOT; SILVA, 2008). A metodologia STEAM, ao integrar diversas disciplinas, proporciona aos professores uma função mais abrangente e inspiradora no desenvolvimento dos alunos. A relação entre educador e aluno, quando mediada pela natureza, transcende os limites da sala de aula convencional, transformando-se em uma jornada conjunta de descobertas. A confiança mútua é fortalecida, possibilitando uma abordagem mais personalizada e adaptada às necessidades individuais dos estudantes. A metodologia STEAM, ao fomentar uma interação dinâmica entre as disciplinas, cria oportunidades para explorar a natureza de maneira interdisciplinar, tornando o processo educacional mais envolvente e relevante (BACICH; HOLANDA, 2020). Compreender a diversidade de realidades vivenciadas por alunos e professores é essencial para moldar uma abordagem pedagógica inclusiva. As experiências individuais, frequentemente moldadas por fatores socioeconômicos e culturais, exercem uma influência direta sobre a percepção e o contato com a natureza (ELIAS, 1994a). O desafio consiste em promover uma educação que leve em consideração essas diferenças e busque integrar a natureza de maneira significativa. A abordagem STEAM, ao abraçar a diversidade de perspectivas, oferece uma plataforma para adaptar o ensino às distintas realidades dos alunos. A natureza, em suas diversas manifestações, pode ser incorporada ao currículo de maneira flexível, levando em conta a urbanização crescente e as limitações geográficas que alguns estudantes enfrentam. À medida que contemplamos as perspectivas futuras, a integração bem-sucedida da abordagem STEAM no ensino não apenas pode servir como um modelo inspirador para outras disciplinas, mas também como um agente catalisador de uma transformação mais abrangente no sistema educacional. A condução de pesquisas adicionais, destinadas a avaliar o impacto a longo prazo dessa implementação, surge como uma necessidade crucial para aprimorar práticas pedagógicas e influenciar políticas educacionais. Nesse contexto, a interação entre professor, aluno e natureza, mediada pela abordagem STEAM, delineia um caminho promissor para uma educação mais integrada, sustentável e inclusiva no cenário acadêmico contemporâneo. Considerações finais Este trabalho aborda a compreensão do conceito de natureza, a valorização da diversidade de realidades e a importância do contato regular com o meio ambiente como elementos cruciais. Reconhecendo a interconexão dos conceitos de natureza, a valorização da diversidade de realidades e a importância do contato regular com o meio ambiente como elementos cruciais, os educadores podem aprimorar práticas pedagógicas, preparando os alunos não apenas como detentores de conhecimento, mas como agentes ativos na construção de uma sociedade mais sustentável. Nesse contexto, destaca-se a relevância do aprimoramento da capacitação dos professores no que tange a metodologias ativas de ensino, especialmente aquelas que promovem iniciativas interdisciplinares, críticas e abrangentes. Sob essa perspectiva, o STEAM emerge como uma proposta viável. Contudo, apesar das promissoras possibilidades da abordagem STEAM, é essencial reconhecer e abordar os desafios durante sua implementação. Assim, a formação de professores emerge como uma área crítica, demandando atualização constante e suporte pedagógico contínuo. A expectativa é que tais abordagens contribuam para a formação de uma geração de cidadãos mais conscientes, engajados e aptos a lidar com os desafios ambientais contemporâneos. Outro desafio a ser enfrentado são as disparidades no acesso a recursos e ambientes naturais, especialmente em regiões urbanas densamente povoadas. Estratégias criativas devem ser desenvolvidas para criar experiências significativas, envolvendo parcerias com instituições locais. No que concerne às projeções futuras, a efetiva incorporação da abordagem STEAM pode funcionar como um paradigma inspirador para outras disciplinas, desencadeando uma transformação mais abrangente no cenário educacional. Investigações suplementares destinadas a avaliar os efeitos a longo prazo assumem papel crucial para a melhoria contínua das práticas pedagógicas e o direcionamento das políticas educacionais. REFERÊNCIAS AUGUSTO, T. G. S.; CALDEIRA, A. M. A. Dificuldades para a Implantação de Práticas Interdisciplinares em Escolas Estaduais Apontadas por Professores da Área de Ciências da Natureza. Investigações em Ensino de Ciências, v. 12, n. 1, p. 139-153, 2007. BACICH, L., HOLANDA, L. (org.). STEAM em Sala de Aula: a aprendizagem baseada em projetos integrando conhecimentos na educação básica. Penso, 2020. BIZERRIL, M.; FARIA, D. S. Percepção de professores sobre a educação ambiental no ensino fundamental. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 82, n. 200-01-02, p. 57-69, 2011. http://dx.doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.82i200-01-02.917. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. CASTRO, D. S. Um Estudo Sobre o Conceito de Natureza. Geography Department University Of São Paulo, v. 38, p. 17-30, 2019. http://dx.doi.org/10.11606/rdg.v38i1.155804. CHARLOT, B.; SILVA, V. A. Relação com a natureza e educação ambiental. In: SATO, M.; CARVALHO, I. (org.). Educação Ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 65-76. CHAWLA, L. Significant Life Experiences Revisited: A Review of Research on Sources of Environmental Sensitivity. Environmental Education Research, v. 4, n. 4, p. 369-382, 1998. https://doi.org/10.1080/1350462980040402. CRONON, W. Uncommon Ground: Toward Reinventing Nature. New York: W. W. Norton, 1995. D’AMBRÓSIO, U. Sobre las propuestas curriculares STEM y STEAM y el Programa de Etnomatemática. Revista Paradigma (Edición Cuadragésimo Aniversario: 1980-2020), Campinas, v. 41, p. 151-167, jun., 2020. ELIAS, N. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994a. ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1994b. IMBERNÓN, F. Formação Continuada de Professores. Tradução Juliana dos Santos Padilha Porto Alegre: Artmed, 2010. KAPLAN, S. The restorative benefits of nature: toward an integrative framework. Journal Of Environmental Psychology, v. 15, n. 3, p. 169-182, 1995. http://dx.doi.org/10.1016/0272-4944(95)90001-2. OLIVEIRA, F.; PEREIRA, E.; PEREIRA JUNIOR, A. Horta escolar, Educação Ambiental e a interdisciplinaridade. Revista Brasileira de Educação Ambiental (Revbea), v. 13, n. 2, p. 10-31, 2018. http://dx.doi.org/10.34024/revbea.2018.v13.2546. PASCUAL, U. et al. Biodiversity and the challenge of pluralism. Nature Sustainability, v. 4, n. 7, p. 567-572, 2021. http://dx.doi.org/10.1038/s41893-021-00694-7. RODRIGUES, N. C. P. et al. Água e Meio Ambiente em Sala de Aula Através do Método de Ensino STEAM. Mandacaru: Revista de Ensino de Ciências e Matemática, v. 3, n. 1, p. 128-141, 2023. SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Educação em Química: compromisso com a cidadania. 3ª. ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2003. SOUZA, G. S. et al. Educação ambiental como ferramenta para o manejo de resíduos sólidos no cotidiano escolar. Revista Brasileira de Educação Ambiental (Revbea), v. 8, n. 2, p. 118-130, 10 fev. 2014. http://dx.doi.org/10.34024/revbea.2013.v8.1792. WELLS, N. M. At home with nature: Effects of “greenness” on children’s cognitive functioning. Environment & Behavior, v. 32, n. 6, p. 775-795, 2000. http://dx.doi.org/10.1177/00139160021972793. WILLIAMS, R. Ideias sobre a Natureza. In: WILLIAMS, R. Culturae Materialismo. Tradução de André Glaser. São Paulo: Editora Unesp, 2011. p. 89-114. fabio Máquina de escrever Texto bem escrito, apresenta de forma bastante detalhada o problema de pesquisa e a proposta de desenvolvimento de uma metodologia pedagógica para trabalhar as relações ser humano-natureza de forma holística e interdisciplinar (STEM). Textos e conteúdos abordados na disciplina são mobilizados pontualmente no trabalho, notoriamente os textos de Norbert Elias, porém com pouca vinculação ao tema proposto, a qual poderia ter sido mais explorada a partir de uma análise sobre a contribuição do sistema educacional na evolução da Sociedade dos Indivíduos" na perspectiva de Elias. Outras possíveis abordagens que poderiam ter sido mobilizadas diz respeito à "Multifuncionalidade da Agricultura" como possibilidade pedagógica das relações ser humano-natureza desenvolvidas no processo de ensino-aprendizagem, bem como de Políticas Públicas ou ainda a Teoria das Justificações.
Compartilhar