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UNIP- UNIVERSIDADE PAULISTA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CARLA ARIANE SILVA PEDRO EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E SUA BUSCA PELA SUSTENTABILIDADE UBERABA-MG 2020 CARLA ARIANE SILVA PEDRO EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E SUA BUSCA PELA SUSTENTABILIDADE Trabalho Monográfico- Curso de Graduação- Licenciatura em Pedagogia, apresentado a comissão julgadora da UNIP EAD sob a orientação da professora Flávia Clara Bezerra Trevisan. UBERABA-MG 2020 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pela minha existência, pela minha saúde, pelo amor supremo e por me conceder força, oportunidade e sabedoria para que eu pudesse chegar até aqui. Agradeço amorosamente aos meus pais, Carlos e Rosana por se dedicarem tanto na minha criação e educação, por terem se abdicado de tantas oportunidades para que eu tivesse uma vida feliz e realizada. A presença de vocês em minha vida me torna mais segura, pois tenho a certeza de que não estou sozinha nessa caminhada. Amo vocês. Agradeço os meus irmãos queridos, Alexandre e Cássia, pelo apoio e amor incondicional que sentimos um pelo outro. Elo profundo e mais que especial. Agradeço aos meus preciosos sobrinhos, Vítor e Lorenzo, por iluminarem os meus dias de maneira especial e por representarem um amor sem igual. Agradeço a pessoa que amo partilhar a vida, meu esposo Camilo, amigo, companheiro para todas as horas, por acreditar em mim em todos os momentos, pelo apoio, pelas renúncias, pela paciência, por me conceder essa oportunidade e por me fazer muito feliz. Agradeço aos meus avós (In memorian), pelo zelo em cada pequeno detalhe e pelos belos exemplos de amor, humildade, resignação, caridade, responsabilidade e fé. Aos meus familiares, por me proporcionarem muitos momentos de alegria, de união e força. À coordenadora do polo Mariana, pelo convívio, pelo apoio, pela compreensão e pela amizade. A todo corpo docente da escola Rubem Alves, por me darem a oportunidade de observar e participar da vivência nas diferentes funções prestadas num ambiente escolar em seu cotidiano. As minhas colegas de curso, pela capacidade de partilharem conhecimentos, histórias de vida e incentivos de forma tão carinhosa, mesmo distantes. A todos os professores e colaboradores da UNIP, que foram muito importantes na minha vida acadêmica, cada ensinamento foi de grande relevância para agregar conhecimento e competência a minha nova profissão. A natureza nunca nos engana; somos sempre nós que nos enganamos. Jean-Jacques Rousseau RESUMO A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, cria uma necessidade de articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental e a sustentabilidade, que precisam ser compreendidas como indispensáveis no processo de formação do cidadão apto a exercer o seu papel social, sendo consciente e responsável com o lugar onde vive. O estudo objetivou estudar os aspectos pedagógicos ligados na perspectiva da vertente crítica da Educação Ambiental com alguns conceitos relevantes da sustentabilidade. A metodologia corresponde a uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, tendo como principais fundamentações a Conferência de Tbilisi e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental sobre práticas educativas. Buscou-se a partir de uma breve história da Educação Ambiental, destacar alguns eventos internacionais e como se deu a inserção no Brasil, importantes precursores da Educação Ambiental. Discutir os aspectos pedagógicos que norteiam a Educação Ambiental e os seus conceitos em evidência. Descrever características e princípios de acordo com a Conferência de Tbilisi para programas e projetos de trabalhos na Educação Ambiental. Destacar a relevância da Educação Ambiental para a primeira infância e apresentar de forma sucinta algumas recomendações da norte-americana Ruth Wilson na implementação de programas para esse nível de ensino. Ressaltar a importância da complementaridade da educação formal e não formal, assim como a interdisciplinaridade e a transversalidade. Detalhar princípios, objetivos e a organização curricular de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Demonstrar as modalidades de educação conservadora e crítica, e expor as dimensões do Desenvolvimento Sustentável. Em suma, a pesquisa reflete a necessidade de amadurecer a ideia de concepção pedagógica na prática educativa da educação ambiental aliada à sustentabilidade como fonte de viabilização da aprendizagem, produzindo o conhecimento através da relação entre o pensar, o fazer, o sentir e o aprender, de maneira significativa e contextualizada com a realidade. PALAVRAS-CHAVE: Cidadania, Ecologia, Desenvolvimento Sustentável. ABSTRACT The reflection on social practices, in a context marked by the permanent degradation of the environment and its ecosystem, creates a need for articulation with the production of meanings about environmental education and sustainability, which need to be understood as indispensable in the training process the citizen who is fit to exercise his social role, being aware and responsible with the place where he lives. The study aimed to study the pedagogical aspects linked in the perspective of the critical aspect of Environmental Education and to direct the study in coherence with some relevant concepts of sustainability. The methodology corresponds to a qualitative bibliographic research, based on the Tbilisi Conference and the provisions of Law No. 9,795 of 1999 on educational practices. From a brief history of Environmental Education, we sought to highlight some international and national events, important precursors of Environmental Education and how it was inserted in Brazil. Discuss the pedagogical aspects that guide environmental education and its concepts in evidence. Describe characteristics and principles according to the Tbilisi Conference for environmental education work programs and projects. Highlight the relevance of environmental education for early childhood, continuing in the other stages of basic education. Emphasize the importance of complementarity between formal and non-formal education, as well as interdisciplinarity and transversality. Detail principles, objectives and curricular organization according to the National Curriculum Guidelines. Demonstrate the modalities of conservative and critical education, and expose the dimensions of sustainable development. In short, the research reflects the need to mature the idea of pedagogical conception in the educational practice of environmental education combined with sustainability as a source of enabling learning, producing knowledge through the relationship between thinking, doing, feeling and learning, in a meaningful and contextualized way with reality. The challenge is to formulate an environmental education that is critical and innovative on two levels: formal and non-formal. KEY WORDS: Citizenship, Ecology, Sustainable development. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................7 CAPÍTULO I- FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.................................9 Crise no Ambiente........................................................................................................9 Breve história da Educação Ambiental.......................................................................13 A Inserção Legal da Educação Ambiental no Brasil...................................................17 CAPÍTULO II- ASPECTOS PEDAGÓGICOS QUE NORTEIAM A EDUCAÇÃOAMBIENTAL..............................................................................................................19 Aspectos Conceituais.................................................................................................19 Características da Educação Ambiental de acordo com a Conferência de Tbilisi.....20 Educação para a Primeira Infância............................................................................23 Educação Formal e Não-Formal................................................................................26 Interdisciplinaridade e Transversalidade....................................................................28 Princípios, Objetivos e Organização Curricular..........................................................31 Modalidades: Conservadora e Crítica........................................................................36 CAPÍTULO III- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...........................................39 Dimensões do Desenvolvimento Sustentável............................................................39 Educação Ambiental em Debate................................................................................41 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................48 7 INTRODUÇÃO Recentemente o mundo está passando por vários problemas ambientais relacionados ao complexo quadro de crise geral. A falta de uma política quanto ao planejamento da utilização dos recursos naturais tem gerado algumas perdas irreversíveis, o que induz a importantes implicações econômicas e consequentemente ao descontrole da degradação ambiental e social. Essa busca constante pelos padrões elevados de produção e consumo, demonstra uma irracionalidade com os meios naturais e com os limites do crescimento econômico. É dever da educação favorecer os indivíduos, levando-os a uma criticidade sobre o seu papel no mundo, além do entendimento dos aspectos primordiais relacionados ao desenvolvimento do homem e do meio em que se vive, com conhecimentos e habilidades necessárias para solucionar os problemas enfrentados diariamente. Para que haja uma mudança de rumos são necessárias estratégias para o pleno desenvolvimento humano e da natureza, capazes de promover a importância da Educação Ambiental, da adoção de práticas que visem à sustentabilidade e a diminuição de qualquer impacto que nossas atividades venham a ter no ecossistema que nos cerca e nos mantém. Discutir a questão da educação ambiental nas instituições de ensino, além de ser um reflexo dos conceitos multiculturais e interdisciplinares, tem se tornado uma necessidade e uma preocupação quanto às soluções que se pretendem para garantir uma melhor qualidade de vida às futuras gerações. Temas relacionados ao Meio Ambiente já são discutidos nas diversas instituições de ensino, é comum o estudo de capítulos que retratem o funcionamento ou a relação antrópica em múltiplos conteúdos, a exemplo das abordagens propostas sobre o ar, a água, o solo e os ecossistemas, nas disciplinas como em Ciências e Biologia, Geografia, História, Química e Física. Porém, muito mais que a causa do meio ambiente, a Educação Ambiental voltada para a sustentabilidade analisa um amplo conjunto de fatores levando em consideração também os indivíduos afetados pelas atividades e as ameaças a 8 comunidades sujeitas às consequências danosas das práticas insustentáveis, tanto para o meio ambiente quanto para o ser humano. A temática requer um enfoque interdisciplinar e transversal, congregando profissionais de diversas áreas do conhecimento. Nesse cenário, o tema Educação Ambiental: Aspectos Pedagógicos e sua Busca Pela Sustentabilidade foi destacado. A presente pesquisa bibliográfica, de cunho qualitativo visa estudar os aspectos pedagógicos ligados na perspectiva da vertente crítica da Educação Ambiental com alguns conceitos relevantes da sustentabilidade. O intuito é de analisar a importância de se tratar a educação ambiental nas escolas e mostrar como ela pode ser uma ferramenta para uma conscientização ambiental e sustentável. A partir de uma breve história da Educação Ambiental, destaca-se alguns eventos internacionais e como se deu a inserção no Brasil, importantes precursores da Educação Ambiental. Discute-se os aspectos pedagógicos que norteiam a educação ambiental, os conceitos em evidência, são descritas características e princípios de acordo com a Conferência de Tbilisi para programas e projetos de trabalhos. Destaca-se a relevância da educação ambiental para a primeira infância e apresenta de forma sucinta algumas recomendações da norte-americana Ruth Wilson na implementação de programas para esse nível de ensino. Ressalta-se a importância da complementaridade da educação formal e não formal, assim como a interdisciplinaridade e a transversalidade. Detalha princípios, objetivos e a organização curricular de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação ambiental. Demonstra as modalidades de educação conservadora e crítica, e expõe as dimensões do desenvolvimento sustentável. 9 CAPÍTULO I- FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRISE NO AMBIENTE A crise ambiental é assunto que envolve todos os setores sociais, e não há como negar que esta crise representa um somatório das ações, sendo, portanto, um produto das formas de cultura que o ser humano criou ao longo do processo civilizatório pela desenfreada busca do desenvolvimento. Desde a década de 70 a humanidade vem tomando consciência de que existe uma crise ambiental planetária. Não se trata apenas de poluição em áreas isoladas, mas de uma real ameaça à sobrevivência dos seres humanos, talvez até de toda a biosfera. O notável acúmulo de armamentos nucleares nas décadas de 50, 60 e 70 ocasionou um sério risco de extermínio, algo que nunca tinha sido possível anteriormente. A multiplicação de usinas nucleares levanta o problema do escape de radioatividade para o meio ambiente e coloca a questão do que fazer com o perigoso lixo atômico. O acúmulo de gás carbônico na atmosfera representa um risco de catástrofe, pois ocasiona o crescimento do efeito estufa, que eleva as médias térmicas da maior parte dos climas do planeta. A contaminação de alimentos por inúmeros compostos químicos nocivos à saúde humana, hormônios e medicamentos aplicados comumente aos animais para que eles cresçam rapidamente e não contraia doenças, contribui para o surgimento de bactérias e outros microrganismos cada vez mais resistentes. Podemos somar ainda a crescente poluição dos oceanos e mares, o avanço da desertificação, o desmatamento acelerado das últimas grandes reservas florestais originais do planeta, a extinção irreversível de milhares ou até milhões de espécies vegetais e animais, e da biodiversidade microbiana. Isso se deve ao processo de industrialização, iniciado com a revolução industrial do século XVIII, que transformou completamente o padrão produtivo e o 10 panorama de organização das sociedades e, consequentemente, a condição socioambiental dos aglomerados urbanos. Os problemas ambientais urbanos se mostram cada vez mais expressivos, dentre eles, podemos destacar o crescimento demográfico das cidades, aliado a uma falta de ordenamento territorial e planejamento estrutural capazes de absorver esse contingente populacional. A expansão da rede urbana sem o devido planejamento ocasiona a ocupação de áreas inadequadas para moradia. Encostas de morros, áreas de preservação permanente, planícies de inundação e áreas próximas a rios são loteadas e ocupadas. Os resultados são trágicos, como o deslizamento de encostas, ocasionado à destruição de casas e um grande número de vítimas fatais.A compactação do solo e o asfaltamento, muito comuns nas cidades, dificultam a infiltração da água, visto que o solo está impermeabilizado. Sendo assim, o abastecimento do lençol freático fica prejudicado, reduzindo a quantidade de água subterrânea. A poluição sonora e visual nas grandes cidades também geram transtornos para a população. Os ruídos ensurdecedores e o excesso de elementos destinados à comunicação visual são espalhados pelas cidades e afetam a saúde dos habitantes. Outro problema ambiental preocupante é o lixo, especialmente no atual modelo de produção e consumo. A coleta, destino e tratamento do lixo são questões a serem solucionadas por várias cidades. Em muitos locais, o lixo é despejado em locais sem estrutura para o tratamento dos resíduos. As consequências são: odor, proliferação de doenças, contaminação do solo e do lençol freático pelo chorume. O déficit nos serviços de saneamento básico contribui para o cenário de degradação ambiental. A quantidade de esgoto doméstico e industrial lançado nos rios sem o devido tratamento é imensa. Esse fenômeno reduz a qualidade das águas, gerando a mortandade de espécies aquáticas e a redução do uso dessa água para o consumo humano. De praticamente todos os contextos sociais emergem as sequelas de um desgaste da humanidade: a violência, a falta de escrúpulos, as diferenças sociais 11 que revelam verdadeiros abismos entre classes, a educação precária e a saúde mais ainda, o desperdício de um lado e a fome do outro, os altos índices de stress e doenças associadas com a depressão. Estes fatos servem bem para ilustrar o quadro pintado de cinza que retrata nossa sociedade desgastada pelos problemas que enfrenta. São tantos os problemas ambientais que não sabemos eleger o mais grave, um interfere no outro de forma direta e indireta. E é no seio da crise ambiental planetária que repousa outra crise: a crise existencial e social, também sem precedentes. Percebemos no cotidiano uma urgente necessidade de transformações para a superação das injustiças ambientais, da desigualdade social, da apropriação da natureza – e da própria humanidade – como objetos de exploração e consumo. Vivemos em uma cultura de risco, com efeitos que muitas vezes escapam à nossa capacidade de percepção, mas aumentam consideravelmente as evidências de que eles podem atingir não só a vida de quem os produz, mas as de outras pessoas, espécies e até gerações. Trata-se de uma crise ambiental nunca vista na história, que se deve à enormidade de poderes humanos, com seus efeitos colaterais e consequências não antecipadas, que tornam inadequadas as ferramentas éticas herdadas do passado. (GIDENS e BECK apud BALMAN). O maior inimigo da crise ambiental hoje é a falta de total acesso à informação que potencializa a mudança comportamental que hoje não passa mais do que um ideal e não de uma realidade. Hoje temos uma mídia inteira esclarecida e aberta a discutir mais sobre esses assuntos, temos uma população mais interessada em conhecer, mas temos pouco incentivo para que os estilos de vida sejam mudados. Uma das ferramentas imprescindíveis para reversão do quadro de crise ambiental é a Educação Ambiental, que ajuda a preservar o meio ambiente através da promoção de novas posturas de utilização dos recursos naturais, pois são à base da sustentabilidade da vida. A ideia mais errada que é passada hoje em dia é que a conscientização para os problemas ambientais que passamos é mais para controle do que para sanar de fato a crise. Essa ideia é completamente equivocada, já que mudando o estilo de 12 vida, vamos dar liberdade ao meio ambiente de gerar mais recursos e consequentemente, problemas serão sanados por completo. Outro aspecto do caráter mundial que a crise ambiental possui é que praticamente tudo o que ocorre nos demais países acaba nos afetando. Podemos falar numa consciência ecológica da humanidade em geral, embora com diferentes ritmos. Trata-se ainda da consciência de que é imperativo para a própria sobrevivência da humanidade modificar o nosso relacionamento com a natureza. A natureza deixa aos poucos de ser vista como mero recurso inerte e passa a ser encarada como um conjunto vivo do qual fazemos parte e com o qual temos que procurar viver em harmonia. Não se trata de modismo, para o enfrentamento desses desafios e demandas na perspectiva de uma ética ambiental, devemos considerar a complexidade e a integração de saberes. Tais preocupações éticas criam condições de legitimação e reconhecimento da educação ambiental para além de seu universo específico; ela se propõe a atender aos vários sujeitos que compõem os meios sociais, culturais, raciais e econômicos que se preocupem com a sustentabilidade socioambiental. Devido às suas características multidimensionais e interdisciplinares, a educação ambiental se aproxima e interage com outras dimensões da educação contemporânea, tais como a educação para os direitos humanos, para a paz, para a saúde, para o desenvolvimento e para a cidadania, eleitos como balizadores das decisões sociais e reorientadores dos estilos de vida individuais e coletivos. Leff (2001) fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento. A complexidade desse processo de transformação de um planeta, não apenas crescentemente ameaçado, mas também diretamente afetado pelos riscos socioambientais e seus danos, é cada vez mais notória. A concepção “sociedade de risco”, de Beck (1992), amplia a compreensão de um cenário marcado por nova lógica de distribuição dos riscos. 13 Ulrich Beck identifica a sociedade de risco com uma segunda modernidade ou modernidade reflexiva, que emerge com a globalização, a individualização, a revolução de gênero, o subemprego e a difusão dos riscos globais. Os riscos atuais caracterizam-se por ter consequências, em geral de alta gravidade, desconhecidas a longo prazo e que não podem ser avaliadas com precisão, como é o caso dos riscos ecológicos, químicos, nucleares e genéticos. Pensar a sustentabilidade pressupõe incluir, inter-relacionar os diversos temas envolvidos: insumos, sociedade, economia, uso do solo e rejeitos, tratá-los como um todo e não apenas considerá-los um a um. Considerando a integralidade no cuidado à saúde humana, há que se avançar em ações que focalizem a pródiga relação entre o homem e a natureza e produza conhecimentos que contribuam para a sustentabilidade ambiental e, consequentemente, melhoria na qualidade de vida. Desta forma, a sustentabilidade assume neste novo século um papel central na reflexão sobre as dimensões do desenvolvimento e das alternativas que se configuram. É preciso ressignificar o conceito de sociedade para que esta possa implicar em um equilíbrio do ser humano consigo mesmo e com o planeta, e, mais ainda, com o próprio universo. BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Os primeiros registros da utilização do termo “Educação Ambiental” datam em 1948, num encontro da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em Paris, hoje União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. Em 1962, foi publicado o livro “Primavera Silenciosa” (“Silent Spring”), de Raquel Carson, sendo a primeira reação, ou a primeira crítica mundialmente conhecida dos efeitos ecológicos da utilização generalizada de insumos químicos e do despejo de dejetos industriais no ambiente. Um alerta que desencadeou um debate nacional sobre o uso de pesticidas químicos, a responsabilidade da ciência e 14 os limites do progresso tecnológico. Fomentando uma inquietação dos países quanto à fragilidadeda natureza e a perda da qualidade de vida. Os rumos da Educação Ambiental começam a ser realmente definidos a partir da Conferência de Estocolmo, em 1972, onde se atribui a inserção da temática da Educação Ambiental na agenda internacional. Nessa conferência foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Também em 1972, o “Clube de Roma” publicou um relatório chamado “Os Limites do Crescimento”, onde se fazia uma previsão bastante pessimista do futuro da humanidade, caso as bases do modelo de exploração não fossem modificadas. Em 1975, lança-se em Belgrado (na então Iugoslávia) o Programa Internacional de Educação Ambiental, no qual são definidos os princípios e orientações para o futuro. No ano de 1977, ocorreu um dos eventos mais importantes para a Educação Ambiental em nível mundial: a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental, em Tbilisi (ex-União Soviética), a partir de uma parceria entre a Unesco e o então recente Programa de Meio Ambiente da ONU (Pnuma). Foi deste encontro, firmado pelo Brasil, que foram definidos, os objetivos, os princípios e as estratégias para a Educação Ambiental que até hoje são adotados em todo o mundo. Muitos movimentos de oposição também surgiram nos anos 70, no bojo da crítica ao modelo dominante de desenvolvimento industrial e agrícola mundial, e dos seus efeitos econômicos, sociais e ecológicos. Nessa época tem início um processo de tomada de consciência de que os problemas como poluição atmosférica, chuva ácida, poluição dos oceanos e desertificação são problemas universais. Dentro desse processo dinâmico e efervescente de discussão, esboçaram-se os conceitos Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável, como a base teórica para repensar, em termos perenes, a questão do crescimento econômico e do desenvolvimento. A profunda crise econômica da década de 80 amplia ainda mais a distância entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, ao mesmo tempo que agrava os problemas ambientais em nível mundial. Também na década de 80, ocorreram duas grandes tragédias ambientais que abalaram o mundo. Em dezembro de 1984, 15 mais de duas mil pessoas morreram envenenadas na Índia pelo vazamento de gás da empresa Union Carbide. Em abril de 1986, em Chernobyl, Ucrânia, um acidente com um reator nuclear provocou a contaminação de milhares de pessoas. O relatório de Brundtland documento intitulado como “Nosso Futuro Comum”, publicado em 1987, trouxe a preocupação quanto à sustentabilidade. Este relatório, o qual foi elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, foi muito importante dada à visão crítica do modelo de desenvolvimento que havia sido adaptado pelos países industrializados, e utilizado pelos países em desenvolvimento, o qual representava graves riscos para o futuro, pois o que se necessitava naquele momento era de um modelo de desenvolvimento sustentável. Outro documento internacional de extrema importância é o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global elaborado pela sociedade civil planetária em 1992 no Fórum Global, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92). Esse documento estabelece princípios fundamentais da educação para sociedades sustentáveis, destacando a necessidade de formação de um pensamento crítico, coletivo e solidário, de interdisciplinaridade, de multiplicidade e diversidade. Estabelece ainda uma relação entre as políticas públicas de educação ambiental e a sustentabilidade, apontando princípios e um plano de ação para educadores ambientais. Enfatiza os processos participativos voltados para a recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida. Além de países reconhecerem o conceito de desenvolvimento sustentável, começaram a moldar ações com o objetivo de proteger o meio ambiente. O Tratado tem bastante relevância por ter sido elaborado no âmbito da sociedade civil e por reconhecer a Educação Ambiental como um processo político dinâmico, em permanente construção, orientado por valores baseados na transformação social. Um documento também concebido e aprovado pelos governos durante a Rio 92, a Agenda 21, é um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do Sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente. Além do documento em si, ela é um processo de planejamento 16 participativo que resulta na análise da situação atual de um país, estado, município, região, setor e planeja o futuro de forma socioambientalmente sustentável. No ano de 1997, em Tessaloniki, durante a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, os temas colocados na Rio 92 foram reforçados. Chama-se a atenção para a necessidade de se articularem ações de Educação Ambiental baseadas nos conceitos de ética e sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização e participação, além de práticas interdisciplinares. Foi reconhecido que, passados cinco anos da Rio 92, que o desenvolvimento da Educação Ambiental foi insuficiente. Como consequência, configura-se a necessidade de uma mudança de currículo, de forma a contemplar as premissas básicas que norteiam uma educação “em prol da sustentabilidade”, motivação ética, ênfase em ações cooperativas e novas concepções de enfoques diversificados. Ainda no âmbito internacional, a iniciativa das Nações Unidas de implementar a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), cuja instituição representa uma conquista para a Educação Ambiental, ganha sinais de reconhecimento de seu papel no enfrentamento da problemática socioambiental, na medida em que reforça mundialmente a sustentabilidade a partir da Educação. A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável potencializa as políticas, os programas e as ações educacionais já existentes, além de multiplicar as oportunidades inovadoras. A partir da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada em Tbilisi (EUA), em 1977, inicia-se um amplo processo em nível global orientado para criar as condições que formem uma nova consciência sobre o valor da natureza e para reorientar a produção de conhecimento baseada nos métodos da interdisciplinaridade e nos princípios da complexidade. Esse campo educativo tem sido fertilizado transversalmente, e isso tem possibilitado a realização de experiências concretas de educação ambiental de forma criativa e inovadora por diversos segmentos da população e em diversos níveis de formação. 17 A INSERÇÃO LEGAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL A inserção histórica e legal da Educação Ambiental no cenário político nacional e internacional é relativamente recente. A partir dos anos 60, o modelo produtivo e o crescimento desenfreado das grandes nações – à custa da deterioração dos recursos ambientais e a exclusão social e econômica da maior parte dos países, aumentaram a preocupação com o meio ambiente e com a sustentabilidade das presentes e futuras gerações. Aos poucos, foi ficando claro mundialmente que a crise ambiental está intimamente relacionada à degradação da qualidade de vida humana e a superação deste quadro se relaciona a outras questões como justiça social, distribuição de renda e educação. Assim, além de se preocuparem com a sustentação da vida e dos processos ecológicos, a Educação Ambiental e os seus marcos legais avançam cada vez mais no desenvolvimento de uma cidadania responsável, para a construção de sociedades sadias e socialmente justas. • Lei nº 6.938, de 31/08/81 – Institui a Política Nacional de Meio Ambiente. Em seu artigo 2o, inciso X, afirma a necessidade de promover a “Educação Ambiental a todosos níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.” Assim, a Educação Ambiental nasceu como um princípio e um instrumento da política ambiental. • Constituição Federal, de 1988. Reconhece o direito constitucional de todos os cidadãos brasileiros à Educação Ambiental e atribui ao Estado o dever de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (art. 225, §1º, inciso VI). 18 • Lei nº 9.394, de 20/12/96 – Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Na LDB existem poucas menções à Educação Ambiental. A referência é feita no artigo 32, inciso II, segundo o qual se exige, para o Ensino Fundamental, a “compreensão ambiental natural e social do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade”; e no artigo 36, § 1º, o qual os currículos do ensino fundamental e médio “devem abranger, obrigatoriamente, (...) o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil”. • Lei nº 9.795, de 27/04/99 – Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA. A Lei Federal Nº 9.795, sancionada em 27 de abril de 1999, institui a “Política Nacional de Educação Ambiental”. Essa é a mais recente e a mais importante lei para a Educação Ambiental. Veio reforçar e qualificar o direito de todos à Educação Ambiental, indicando seus princípios e objetivos, os atores e instâncias responsáveis por sua implementação, nos âmbitos formal e não formal, e as suas principais linhas de ação. Essa Lei foi regulamentada em 25 de junho de 2002, através do Decreto N.º 4.281. • Lei nº 10.172, de 09/01/01 – Plano Nacional de Educação – PNE. Apesar de a inclusão da Educação Ambiental como tema transversal no PNE representar uma conquista, apenas consta que ela deve ser implementada no Ensino Fundamental e Médio, com a observância dos preceitos da Lei nº 9.795/99. Desta forma, o PNE deixa de obedecer o que estabelece a PNEA, que exige a abordagem da Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino. • Decreto nº 4.281, de 25/06/02 – Regulamenta a Lei nº 9.795/99. Além de detalhar as competências, atribuições e mecanismos definidos para a PNEA pela Lei nº 9.795/99, o Decreto cria o Órgão Gestor, responsável pela coordenação da PNEA, constituído pela Diretoria de Educação Ambiental do 19 Ministério do Meio Ambiente (DEA/MMA), e pela Coordenação-Geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação (CGEA/MEC). CAPÍTULO II- ASPECTOS PEDAGÓGICOS QUE NORTEIAM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ASPECTOS CONCEITUAIS A Educação Ambiental, como textos base (MORALES, 2011; SAUVÉ, 2005; LAYRARGUES, s/d) não possui um conceito comum, mas são vários entendimentos e discussões, críticos favoráveis e contrários a como esta Educação Ambiental se apresenta hoje no Brasil e no mundo. Algumas definições estão em evidência e certos conceitos vêm se apresentando historicamente. Dentre elas, a da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 1977). Educação Ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornem aptos a agir e resolver problemas ambientais presentes e futuros. Neves (2005, p. 35) esclarece que na Conferencia de Tbilisi em 1977, a Educação Ambiental foi definida em uma relação teórica, e a prática da educação ficou voltada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente partindo da interdisciplinaridade e envolvendo todos os atores deste processo na coletividade. Para Gadotti (2001, p. 8); A Educação Ambiental, também chamada de eco educação, vai muito além do conservacionismo. Trata‐se de uma mudança radical de mentalidade em relação à qualidade de vida, que está diretamente ligada ao tipo de convivência que mantemos com a natureza e que implica atitudes, valores, ações. Trata‐se de uma opção de vida por uma relação saudável e equilibrada, com o contexto, com os outros, com o ambiente mais próximo, a começar pelo ambiente de trabalho e pelo ambiente doméstico. 20 Na década de 1980 o termo Educação Ambiental popularizou‐se definitivamente no mundo. Hoje, mais do que uma realidade, a educação ambiental tornou‐se uma grande necessidade (GUIMARÃES, 1995). O citado autor ainda comenta que o enfoque centrado no ser humano como ser superior vivente neste planeta, como o ator principal da história planetária em que apenas o seu destino é o que conta, precisa necessariamente ser. Sendo assim, mediante essa tendência de definir Educação Ambiental, entende‐se, que o conceito expresso por Reigota (1994) de que a Educação Ambiental surge com a preocupação de estabelecer uma “nova aliança” entre a humanidade e a natureza, que não seja sinônimo de autodestruição é aquele que corresponde ao proposto. Neste caso, é possível destacar que um dos objetivos da Educação Ambiental é a criação e ampliação de formas sustentáveis na relação sociedade‐natureza, além de buscar soluções para os problemas ambientais e garantir condições necessárias para a sobrevivência das gerações futuras (SAUVÉ, 2005). Em função das gerações futuras e em especial sobre a consciência planetária, segundo Gadotti (2001, p. 86); Um planeta vivo requer de nós uma consciência e uma cidadania planetária, isto é, reconhecermos que somos parte da Terra e que podemos viver com ela em harmonia participando do seu devir ou podemos padecer com a sua destruição. Assim, entende‐se que a Educação Ambiental, por definição, é o elemento estratégico na formação de ampla consciência crítica das relações sociais e de produção que situam a inserção humana na natureza. CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE ACORDO COM A CONFERÊNCIA DE TBILISI De acordo com a Conferência de Tbilisi, ocorrida em 1977, na ex-União Soviética, Educação Ambiental tem como principais características ser um processo: 21 • Dinâmico integrativo: é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornam aptos a agir, individual e coletivamente e resolver os problemas ambientais. • Transformador: possibilita a aquisição de conhecimentos e habilidades capazes de induzir mudanças de atitudes. Objetiva a construção de uma nova visão das relações do ser humano com o seu meio e a adoção de novas posturas individuais e coletivas em relação ao meio ambiente. A consolidação de novos valores, conhecimentos, competências, habilidades e atitudes refletirão na implantação de uma nova ordem ambientalmente sustentável. • Participativo: atua na sensibilização e na conscientização do cidadão, estimulando-o a participar dos processos coletivos. • Abrangente: extrapola as atividades internas da escola tradicional, deve ser oferecida continuamente em todas as fases do ensino formal, envolvendo a família e toda a coletividade. A eficácia virá na medida em que sua abrangência atingir a totalidade dos grupos sociais. • Globalizador: considera o ambiente em seus múltiplos aspectos: natural, tecnológico, social, econômico, político, histórico, cultural, moral, ético e estético. Deve atuar com visão ampla de alcance local, regional e global. • Permanente: tem um caráter permanente, pois a evolução do senso crítico e a compreensão da complexidade dos aspectos que envolvem as questões ambientais se dão de um modo crescente e contínuo, não se justificando sua interrupção. Despertada a consciência, se ganha um aliado para a melhoria das condições de vida do planeta. • Contextualizador: atua diretamente narealidade de cada comunidade, sem perder de vista a sua dimensão planetária (baseado no documento Educação Ambiental da Coordenação Ambiental do Ministério da Educação e Cultura, citado por Czapski, 1998). 22 • Transversal: propõe-se que as questões ambientais não sejam tratadas como uma disciplina específica, mas sim que permeie os conteúdos, objetivos e orientações didáticas em todas as disciplinas. A educação ambiental é um dos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da Educação e Cultura. Ainda de acordo com a Conferência de Tbilisi, os princípios que devem nortear programas e projetos de trabalho em educação ambiental são: ❖ Considerar o ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e artificiais, tecnológicos e sociais (econômico, político, técnico, histórico- cultural e estético); ❖ Construir-se num processo contínuo e permanente, iniciando na educação infantil e continuando através de todas as fases do ensino formal e não formal; ❖ Empregar o enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, para que se adquira uma perspectiva global e equilibrada; ❖ Examinar as principais questões ambientais em escala pessoal, local, regional, nacional, internacional, de modo que os educandos tomem conhecimento das condições ambientais de outras regiões geográficas; ❖ Concentrar-se nas situações ambientais atuais e futuras, tendo em conta também a perspectiva histórica; ❖ Insistir no valor e na necessidade de cooperação local, nacional e internacional, para prevenir e resolver os problemas ambientais; ❖ Considerar, de maneira clara, os aspectos ambientais nos planos de desenvolvimento e crescimento; ❖ Fazer com que os alunos participem na organização de suas experiências de aprendizagem, proporcionando-lhes oportunidade de tomar decisões e de acatar suas consequências; 23 ❖ Estabelecer uma relação para os alunos de todas as idades, entre a sensibilização pelo ambiente, a aquisição de conhecimentos, a capacidade de resolver problemas e o esclarecimento dos valores, insistindo especialmente em sensibilizar os mais jovens sobre os problemas ambientais existentes em sua própria comunidade; ❖ Contribuir para que os alunos descubram os efeitos e as causas reais dos problemas ambientais; ❖ Salientar a complexidade dos problemas ambientais e, consequentemente a necessidade de desenvolver o sentido crítico e as aptidões necessárias para resolvê-los; ❖ Utilizar diferentes ambientes educativos e uma ampla gama de métodos para comunicar e adquirir conhecimentos sobre o meio ambiente, privilegiando as atividades práticas e as experiências pessoais (Czapski, 1998). EDUCAÇÃO PARA A PRIMEIRA INFÂNCIA A educação é um processo dinâmico que exige competências, habilidades e responsabilidades sociais. Nesse contexto, a Educação Ambiental é essencial em todos os níveis dos processos educativos, iniciando na educação infantil, tendo continuidade nas outras etapas da educação básica. Com o mundo cada vez mais globalizado, com a sociedade tão violenta e com o acelerado crescimento das cidades que substituem os espaços verdes pelo concreto, vem diminuindo o contato direto da criança com todos os elementos da natureza. Nesse paradigma a cada dia que passa as crianças passam a ter espaços cada vez mais restritos para o contato com os elementos do ambiente e então as crianças estão sendo obrigadas a ficarem trancadas em casa tendo como fonte de lazer o uso das tecnologias, que na maioria das vezes, não sabem o que é o meio ambiente nem tampouco os problemas que ele enfrenta. Diante disso, Alves (1999) diz que: “há crianças que nunca viram uma galinha de verdade, nunca sentiram o cheiro de um pinheiro, nunca ouviram o canto do pintassilgo e não tem prazer em 24 brincar com a terra. Pensam que a terra é sujeira. Não sabem que terra é vida”. As crianças não aprendem somente conteúdos, mas também valores e constroem suas concepções de mundo. Um documento divulgado pela Children & Nature Network traz uma pesquisa que coloca o Brasil na lista dos três países onde as crianças exploram a natureza com menos frequência. As consequências disso são diversas, e vão desde a saúde e aumento do consumismo infantil, até impactos sobre a educação ambiental. Tão importante em nossos dias, ela acaba tornando-se cada vez mais abstrata, cercadas por paredes de concreto, as crianças aprendem, em lições ensinadas em quadros negros, que é preciso preservar aquilo que elas pouco conhecem. A educação ambiental precisa se materializar em elementos que integrem a vida dos pequenos desde suas primeiras experiências sensoriais. Pesquisadores alemães já comprovaram que a convivência das crianças com a natureza é fundamental para que elas aprendam a conservá-la, uma vez que é a partir do contato que desenvolvem o sentimento de pertencimento a determinado ambiente. Dentro dos domínios da escola, os alunos devem ser logo expostos ao contato mais próximo dos seres vivos, ao mesmo tempo em que lhe são explicados os ciclos harmoniosos da natureza e o desequilíbrio causado pela intervenção humana. Konrad Lorenz (1903-1989) enfatizou a importância da criança cuidar de um animal ou uma planta, para que ela pudesse sentir a responsabilidade pelo seu bem-estar. O significado das coisas passa a ser entendido mais facilmente pela criança quando ela está imersa em uma relação direta com seu meio. Como já dizia John Dewey (1859-1952), o conceito de “interesse”; etimologicamente está vinculado às coisas nas quais o sujeito está inserido, do latim inter esse, significa estar entre seres. Logo, a criança e, por consequência, o adulto que ela será, só terão interesse pelos assuntos ecológicos quando estiverem desde o início envolvido com estes. Para isso o professor precisa buscar junto com os discentes mais informações, com o objetivo de desenvolver neles uma postura crítica diante da realidade ambiental e de construírem uma consciência global das questões relativas ao meio ambiente para que possam assumir posições relacionadas com os valores http://www.childrenandnature.org/ http://criancaeconsumo.org.br/wp-content/uploads/2014/05/Consumismo-Infantil.pdf http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.465.963&rep=rep1&type=pdf http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.465.963&rep=rep1&type=pdf 25 referentes à sua proteção e melhoria. No entanto, a figura do professor diante de seus alunos deve ser um instrumento de ação para a conscientização deles, educando-os de forma correta desde a conservação da limpeza da sala de aula até a preservação do meio em que comunidade escolar está inserida na sociedade. É pensar com inteligência e colaborar com a natureza para que o ser humano possa viver harmonicamente e aprender com o próximo o magnífico cenário natural que lhe foi presenteado. Entende-se que esse objetivo pode ser conquistado com o auxilio da educação que pode ser uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento sustentável. Mas ela não deve ser restrita aos bancos escolares, senão alcançar o ambiente familiar e o do trabalho. Deve ser muito mais do que informação, senão percepção, entendimento e compreensão da vida humana em suas relações pessoais e com a natureza. O contexto social que cada indivíduo compõe deve ser por ele entendido, bem como suas obrigações e responsabilidades. Assim torna‐se imprescindível falar sobre a Educação Ambiental, pois é de suma importância tratar de assuntos relacionados à destruição do “verde” que simboliza a vida de toda e qualquer espécie. Esse assunto deve ser discutido nas escolas desde os anos iniciais, internalizando no indivíduo valores que consequentemente se tornarão comportamentos conscientes no presente e no futuro das novas gerações. Portanto, mais do que transmitirconhecimentos, é necessário desenvolver a capacidade de saber aprender e refletir criticamente sobre esses conhecimentos e sobre a abundância de informação, o que leva à conscientização. Apesar de variadas mudanças acontecerem em decorrência do lento acúmulo de pressão sobre os recursos naturais, só agora os efeitos do consumo descontrolado estão sendo percebidos com clareza. Seus resultados passaram a afetar parte do interesse das pessoas ricas ou pobres. A poluição, o calor, a proliferação de doenças e os desastres naturais atingem a todos. As crianças passam a ouvir mais em suas casas os adultos comentarem os assuntos. Cabe à escola e à pré-escola orientarem corretamente no entendimento da matéria e o consequente enfrentamento desses problemas no futuro próximo. Essa é uma tendência social da cultura atual: o debate ecológico. Sob vários aspectos a ecologia pode ser incluída no currículo pedagógico, desde a primeira 26 infância. Por tudo isso, não se pode perder de vista as questões éticas inerentes às questões ambientais. Cientistas de renome nas mais diversas áreas como Lorenz, Edward O. Wilson, e Howard Gardner defendem explicitamente que se deve ensinar o verdadeiro distinto do falso, os valores estéticos e o bem natural e humano. Da educação ambiental se chega então à ética ambiental. Uma das pioneiras na área de educação ambiental para crianças pequenas é a norte-americana Ruth Wilson, que discute sobre as diretrizes específicas para esse nível de ensino. Ela desenvolveu as recomendações (citadas pelo ECCO, 2000, p. 20-22) para o desenvolvimento e implementação do programa, fundamentado essencialmente na compreensão de como as crianças pequenas aprendem. Dentre elas: começar com experiências simples; manter as crianças envolvidas ativamente; promover experiências prazerosas; mesclar a experiência com os ensinamentos; elaborar atividades que estimulem intensamente as sensações; promover experiências multimodais de aprendizado; manter o foco nos relacionamentos; demonstrar interesse pessoal e apreço pelo mundo natural, e tomar atitudes quanto ao mundo natural que sirvam de modelo; criar uma atmosfera acolhedora para o aprendizado; introduzir experiências e perspectivas multiculturais; ressaltar a beleza e o encanto da natureza; promover atividades ao ar livre; incluir a educação ambiental em todos os momentos do processo educativo da primeira infância. Ainda apresenta metas a serem atingidas, com respectivos conjuntos de entendimentos que refletem as necessidades de desenvolvimento das crianças. EDUCAÇÃO FORMAL E EDUCAÇÃO NÃO FORMAL A educação, entendida como um processo de desenvolvimento da capacidade intelectual da criança e do ser humano tem um significado tão amplo e abrangente que, em geral, prescinde de adjetivos. É um processo único, associado quase sempre à escola. O surgimento da escola nas civilizações mais avançadas decorre da necessidade de preservar e garantir o legado do acervo cultural continuamente gerado por essas civilizações. Provavelmente, foi também por essa razão que o 27 conhecimento a ser transmitido na escola se organizou e se especializou num ordenamento de conteúdos separados em áreas uniformes e distintas, com o significativo nome de disciplinas. Embora a produção do conhecimento não se restringisse a instituições ou a lugares determinados, a transmissão regular e disciplinar desses conhecimentos foi sendo, com o tempo, delegada à escola, ou melhor, à educação formal. A educação com reconhecimento oficial, oferecida nas escolas em cursos com níveis, graus, programas, currículos e diplomas, costuma ser chamada de educação formal. Eles evidenciam, sobretudo, a solidez e a estabilidade dessa instituição e a permanência da escola como o espaço físico onde se transmitem e partilham conhecimentos, ao longo dos últimos mil anos. Além dessa forma de educar, facilmente reconhecida por suas características bem distintas e definidas, há outra forma de transmissão cultural, muito próxima da educação formal, definida por muitos pesquisadores como educação não-formal, que têm também disciplinas, currículos e programas, mas não oferecem graus ou diplomas oficiais. Nessa educação, inclui-se o estudo de línguas estrangeiras e de especialidades técnicas, artísticas ou semelhantes, oferecido presencialmente em escolas com horários e períodos letivos bem definidos, ou à distância, via correio postal ou eletrônico. Importante ressaltar que, todo desafio e todo estímulo ao pensamento e à percepção enriquecem nossas estruturas cognitivas. Certamente, pode haver desafios e estímulos mais ou menos motivadores, apresentações ou exposições mais ou menos provocadoras e estimulantes, mas não há nada pior do que a ausência desses estímulos e desafios, sobretudo em relação à disseminação do conhecimento científico. A educação formal é metodicamente organizada. Ela segue um currículo, é divida em disciplinas, segue regras, leis, divide-se por idade e nível de conhecimento. Já a educação não formal trabalha com a subjetividade do grupo e contribui para sua construção identitária. Percebem-se, nas duas modalidades, características diferenciadas. Entretanto, são complementares. 28 Gohn (2006) ressalta a importância da educação não formal, pois está “voltada para o ser humano como um todo”. Entretanto, afirma que aquela não substitui a educação formal, mas poderá complementá-la por meio de programações específicas e fazendo uma articulação com a comunidade educativa. Embora ambas as modalidades tenham objetivos bem similares, a educação não formal tem objetivos próprios relacionados à forma e ao espaço em que se realizam suas práticas. Partindo do pressuposto de que o objeto da Educação Ambiental é a nossa relação com o meio ambiente, em uma relação de eco interação, se faz necessária uma reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema. A dimensão ambiental é uma questão que envolve um conjunto de atores do universo educativo. Sauvé (2005, p. 319) destaca que o projeto educativo da Educação Ambiental “requer o envolvimento de toda a sociedade educativa: escolas, museus, parques, municipalidades, organismos, empresas etc.”. A educação não formal tem sido o espaço por excelência para que o indivíduo aprenda os saberes essenciais da vida em sociedade. É por meio dela que se fomentam aprendizagens significativas e se geram movimentos e lutas, além de ensinar, podem resultar em ganhos qualitativos para a educação formal e para a sociedade como um todo. INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE Em 1997, o Ministério da Educação elaborou e propôs os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), no qual, o Meio Ambiente foi considerado um Tema Transversal e, portanto, deve estar integrado a todos os níveis de ensino formal, numa relação de transversalidade, de modo que impregne toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, crie uma visão global e abrangente da questão ambiental, visualizando os aspectos físicos e histórico-sociais, assim como as articulações entre a escala local e planetária desses problemas. 29 O conceito de transversalidade surgiu no contexto dos movimentos de renovação pedagógica, quando os teóricos conceberam que é necessário redefinir o que se entende por aprendizagem e repensar também os conteúdos que se ensinam aos alunos. No âmbito dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real e de sua transformação (aprender na realidade e da realidade). Não se trata de trabalhá-los paralelamente, mas de trazer para os conteúdos e para a metodologia da área a perspectivados temas. Segundo Brasil (1998), os Temas Transversais são questões sociais e pertencem a diferentes áreas convencionais. São processos intensamente vividos pela sociedade sendo debatidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e novas alternativas que confrontam posicionamentos diversos, tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo, quanto à atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo construída e que demandam transformações macrossociais e também de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas dimensões. O termo interdisciplinaridade, como muitos veiculam, foi criado no século XX, mas sua função é a de executar ideias muito antigas, como as de Platão e Aristóteles, que acreditavam na unicidade do conhecimento, na totalidade. A interdisciplinaridade é uma forma de ensino, e ocorre quando se relacionam os conteúdos de diferentes disciplinas, para estudar um tema com o objetivo de capacitar o aluno, e aplicar os conhecimentos específicos de cada área na análise e verificação desse tema. O que exige uma nova postura diante do conhecimento, uma atitude de contextualizar, de formar uma pessoa íntegra e que possui saberes que vão além dos limites das disciplinas, saberes globalizados. Segundo Guimarães (2004), o meio ambiente visto de todos os ângulos e a sua problemática são os conteúdos básicos da educação ambiental, e devido a sua complexidade, deve apresentar-se de maneira interdisciplinar em seu processo pedagógico, pois se compreende que o meio ambiente é um todo complexo, com partes interdependentes e interativas em uma concepção sistêmica. 30 Guimarães (1995) aponta que, a fragmentação e a simplificação reduzem a compreensão da realidade, características do paradigma cientificista-mecanicista consolidado a partir da Idade Moderna, também vêm sendo consideradas, por vários autores, como um dos pilares da crise ambiental da atualidade. Parece que a humanidade percebe o meio ambiente numa outra esfera, da qual ela não faz parte e cujo desequilíbrio não a pode prejudicar. Por isso, mantém-se afastada e despreocupada com as questões ambientais. Pois é incapaz de perceber nas relações sociais, causas e efeitos que destroem, além de ações que podem reconstruir ou minimizar os impactos causados pelo desenvolvimento da sociedade no seu movimento acelerado de urbanização e de industrialização. A interdisciplinaridade, como a construção de um conhecimento complexo, busca superar a fragmentação das disciplinas, sem desconsiderar a importância de cada uma delas e adequar-se a aproximação de uma realidade complexa. Dessa forma, o “processo da construção do conhecimento interdisciplinar na área ambiental possibilita aos educadores atuar como um dos mediadores na gestão das relações entre a sociedade humana, em suas atividades políticas, econômicas, sociais, culturais, e a natureza” (GUIMARÃES, 2004, 82-3). Quanto aos educadores, devem estar cada vez mais preparados para reelaborar as informações que recebem e, dentre elas, as ambientais, para poder transmitir e decodificar para os alunos a expressão dos significados em torno do meio ambiente e da ecologia nas suas múltiplas determinações, e promovendo, assim a interdisciplinaridade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais tratam a transversalidade e a interdisciplinaridade como uma perspectiva crítica que aponta a complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de relações entre seus diferentes e contraditórios aspectos. Entretanto, a transversalidade se difere da interdisciplinaridade porque, apesar de ambas rejeitarem a concepção de conhecimento que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, a primeira se refere à dimensão didática e a segunda à abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento. Ou seja, a interdisciplinaridade questiona a visão compartimentada da realidade sobre a qual a escola se constituiu, mas trabalha ainda considerando as disciplinas, a transversalidade diz respeito à compreensão 31 dos diferentes objetos de conhecimento, possibilitando a referência a sistemas construídos na realidade dos alunos. PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E ORGANIZAÇÃO CURRICULAR Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. A partir do que dispõe a Lei nº 9.795, de 1999, e com base em práticas comprometidas com a construção de sociedades justas e sustentáveis, fundadas nos valores da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade, sustentabilidade e educação como direito de todos e todas, são princípios da Educação Ambiental: I - totalidade como categoria de análise fundamental em formação, análises, estudos e produção de conhecimento sobre o meio ambiente; II - interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque humanista, democrático e participativo; III - pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; IV - vinculação entre ética, educação, trabalho e práticas sociais na garantia de continuidade dos estudos e da qualidade social da educação; V - articulação na abordagem de uma perspectiva crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações, nas dimensões locais, regionais, nacionais e globais; VI - respeito à pluralidade e à diversidade, seja individual, seja coletiva, étnica, racial, social e cultural, disseminando os direitos de existência e permanência e o valor da multiculturalidade e plurietnicidade do país e do desenvolvimento da cidadania planetária. 32 Com base no que dispõe a Lei nº 9.795, de 1999, são objetivos da Educação Ambiental a serem concretizados conforme cada fase, etapa, modalidade e nível de ensino: I - desenvolver a compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações para fomentar novas práticas sociais e de produção e consumo; II - garantir a democratização e o acesso às informações referentes à área socioambiental; III - estimular a mobilização social e política e o fortalecimento da consciência crítica sobre a dimensão socioambiental; IV - incentivar a participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - estimular a cooperação entre as diversas regiões do país, em diferentes formas de arranjos territoriais, visando à construção de uma sociedade ambientalmente justa e sustentável; VI - fomentar e fortalecer a integração entre ciência e tecnologia, visando à sustentabilidade socioambiental; VII - fortalecer a cidadania, a autodeterminação dos povos e a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e da interação entre as culturas, como fundamentos para o futuro da humanidade; VIII - promover o cuidado com a comunidade de vida, a integridade dos ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social, étnica, racial e de gênero, e o diálogo para a convivência e a paz; IX - promover os conhecimentos dos diversos grupos sociais formativos do país que utilizam e preservam a biodiversidade. 33 A Educação Ambiental nas instituições de ensino, com base nos referenciais apresentados, deve contemplar: I - abordagem curricular que enfatize a natureza como fonte de vida e relacione a dimensão ambiental à justiça social, aos direitos humanos, à saúde, ao trabalho, ao consumo, à pluralidade étnica, racial, de gênero, de diversidade sexual, e à superação do racismo e de todas as formas de discriminação e injustiça social; II - abordagem curricular integrada e transversal, contínua e permanente em todas as áreas de conhecimento, componentes curricularese atividades escolares e acadêmicas; III - aprofundamento do pensamento crítico-reflexivo mediante estudos científicos, socioeconômicos, políticos e históricos a partir da dimensão socioambiental, valorizando a participação, a cooperação, o senso de justiça e a responsabilidade da comunidade educacional em contraposição às relações de dominação e exploração presentes na realidade atual; IV - incentivo à pesquisa e à apropriação de instrumentos pedagógicos e metodológicos que aprimorem a prática discente e docente e a cidadania ambiental; V - estímulo à constituição de instituições de ensino como espaços educadores sustentáveis, integrando proposta curricular, gestão democrática, edificações, tornando-as referências de sustentabilidade socioambiental. O compromisso da instituição educacional, o papel socioeducativo, ambiental, artístico, cultural e as questões de gênero, etnia, raça e diversidade que compõem as ações educativas, a organização e a gestão curricular são componentes integrantes dos projetos institucionais e pedagógicos da Educação Básica. 34 Considerando os saberes e os valores da sustentabilidade, a diversidade de manifestações da vida, os princípios e os objetivos estabelecidos, o planejamento curricular e a gestão da instituição de ensino devem: I - estimular: a) visão integrada, multidimensional da área ambiental, considerando o estudo da diversidade biogeográfica e seus processos ecológicos vitais, as influências políticas, sociais, econômicas, psicológicas, dentre outras, na relação entre sociedade, meio ambiente, natureza, cultura, ciência e tecnologia; b) pensamento crítico por meio de estudos filosóficos, científicos, socioeconômicos, políticos e históricos, na ótica da sustentabilidade socioambiental, valorizando a participação, a cooperação e a ética; c) reconhecimento e valorização da diversidade dos múltiplos saberes e olhares científicos e populares sobre o meio ambiente, em especial de povos originários e de comunidades tradicionais; d) vivências que promovam o reconhecimento, o respeito, a responsabilidade e o convívio cuidadoso com os seres vivos e seu habitat; e) reflexão sobre as desigualdades socioeconômicas e seus impactos ambientais, que recaem principalmente sobre os grupos vulneráveis, visando à conquista da justiça ambiental; f) uso das diferentes linguagens para a produção e a socialização de ações e experiências coletivas de educomunicação, a qual propõe a integração da comunicação com o uso de recursos tecnológicos na aprendizagem. II - contribuir para: a) o reconhecimento da importância dos aspectos constituintes e determinantes da dinâmica da natureza, contextualizando os conhecimentos a partir da paisagem, da bacia hidrográfica, do bioma, do clima, dos processos geológicos, das ações antrópicas e suas interações sociais e políticas, analisando os diferentes recortes 35 territoriais, cujas riquezas e potencialidades, usos e problemas devem ser identificados e compreendidos segundo a gênese e a dinâmica da natureza e das alterações provocadas pela sociedade; b) a revisão de práticas escolares fragmentadas buscando construir outras práticas que considerem a interferência do ambiente na qualidade de vida das sociedades humanas nas diversas dimensões local, regional e planetária; c) o estabelecimento das relações entre as mudanças do clima e o atual modelo de produção, consumo, organização social, visando à prevenção de desastres ambientais e à proteção das comunidades; d) a promoção do cuidado e responsabilidade com as diversas formas de vida, do respeito às pessoas, culturas e comunidades; e) a valorização dos conhecimentos referentes à saúde ambiental, inclusive no meio ambiente de trabalho, com ênfase na promoção da saúde para melhoria da qualidade de vida; f) a construção da cidadania planetária a partir da perspectiva crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações. III - promover: a) observação e estudo da natureza e de seus sistemas de funcionamento para possibilitar a descoberta de como as formas de vida relacionam-se entre si e os ciclos naturais interligam-se e integram-se uns aos outros; b) ações pedagógicas que permitam aos sujeitos a compreensão crítica da dimensão ética e política das questões socioambientais, situadas tanto na esfera individual, como na esfera pública; c) projetos e atividades, inclusive artísticas e lúdicas, que valorizem o sentido de pertencimento dos seres humanos à natureza, a diversidade dos seres vivos, as diferentes culturas locais, a tradição oral, entre outras, inclusive desenvolvidas em espaços nos quais os estudantes se identifiquem como integrantes da natureza, 36 estimulando a percepção do meio ambiente como fundamental para o exercício da cidadania; d) experiências que contemplem a produção de conhecimentos científicos, socioambientalmente responsáveis, a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da sociobiodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra; e) trabalho de comissões, grupos ou outras formas de atuação coletiva favoráveis à promoção de educação entre pares, para participação no planejamento, execução, avaliação e gestão de projetos de intervenção e ações de sustentabilidade socioambiental na instituição educacional e na comunidade, com foco na prevenção de riscos, na proteção e preservação do meio ambiente e da saúde humana e na construção de sociedades sustentáveis. A lei estabelece que todos têm direito à Educação Ambiental. A Educação Ambiental como um “componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal”. Nas escolas, ela deverá estar presente em todos os níveis de ensino, como tema transversal, sem constituir disciplina específica, como uma prática educativa integrada, envolvendo todos os professores, que deverão ser treinados para incluir o tema nos diversos assuntos tratados em sala de aula. A dimensão ambiental deve ser incluída em todos os currículos de formação dos professores. Os professores em atividade deverão receber formação complementar. As orientações traz para a Educação Ambiental um eixo norteador na mudança de comportamento. MODALIDADES: CONSERVADORA E CRÍTICA Conforme Guimarães (2007a) a educação ambiental crítica aponta para uma prática pedagógica que abrange as dimensões políticas, éticas e culturais. As práticas pedagógicas levam à discussão do modelo capitalista, que estimula o consumismo. Ela deve ser abordada de forma transversal. Já a educação ambiental 37 conservadora adota práticas onde predominam uma visão compartimentada, individualista, suas ações ratificam o modelo econômico, pois não questiona o que está oculto, coloca todos como poluidores da mesma forma, não tratando sobre as desigualdades sociais. Quando se aborda a educação ambiental, o que mais emerge são ideias conservacionistas, que apresentam ações relacionadas à coleta, segregação e reciclagem de resíduos sólidos, plantio de árvores, e outros. A vertente conservadora está inserida nas práticas que abordam a preservação das plantas, dos animais e do meio ambiente como um todo, pois é dele que o homem obtém recursos. Essa linha mais tradicional simplifica ou reduz fenômenos complexos da realidade (GUIMARÃES, 2007b). Essa postura conservacionista resume-se a ações pontuais, desconectadas do todo, comprometendo sua eficácia. Nos livros didáticos são observadas frequentemente estas posturas conservadoras. Neste tipo de material, encontramos abordagens referentes à conscientização, tendo a visão de que o homem agride o meio ambiente. Sendo assim, cada indivíduo deve cumprir seu papel, na segregação dos resíduos sólidos, no cuidado da preservação dabiodiversidade local, entre outras ações. Todos são responsabilizados e culpabilizados pelas ações antrópicas que agridem o ambiente. Esse tipo de postura também contribui para dificultar a abordagem interdisciplinar da educação ambiental, pois coloca obstáculos no diálogo entre as ciências sociais e as ciências naturais, assim como no interior dessas próprias “ciências” (BOMFIM, 2009). Muitas vezes, o homem não se percebe como ser natural e integrante da natureza. No pensamento de alguns sujeitos, há o homem e há a natureza - que serve para ser explorada, sendo vista apenas como fonte de recursos naturais. A educação ambiental crítica se contrapõe, de certa forma, à visão da conservadora, estando essa corrente relacionada a mudanças no sistema capitalista, na construção das sociedades que protagonizam ações predatórias acentuadas por um consumismo estimulado pela mídia. Caracterizam neste contexto, ações tais como questionar os sistemas econômicos e políticos que mascaram as causas da degradação. Esta vertente afirma que, por ser uma prática social, como tudo aquilo que se refere à criação humana na história, a educação 38 ambiental necessita de vínculos com os processos ecológicos e sociais na compreensão do todo, como forma de intervenção da realidade e de existência da natureza (LOUREIRO, 2007). A educação ambiental crítica aponta para uma conscientização ampla dos problemas ambientais, não responsabilizando a todos da mesma forma, considerando padrões de consumo. A fatia mais carente da população é composta por aqueles que mais sofrem com a degradação do ambiente. Essa exploração os prejudica muitas vezes diretamente, pois se um manancial for poluído, ele não poderá contar com seu alimento. Pois, sendo ele um pescador, não haverá mercadoria para a venda, inviabilizando seu sustento. Dependendo diretamente das condições do ambiente para sua manutenção, com a exploração territorial, a ele competem áreas que deveriam ser preservadas como encostas de morros, mata ciliar, entre outras. Quando estes espaços geográficos sofrem ações antrópicas, ficam propensos a desmoronamentos, enchentes, e a população que ali habita é retirada e condenada a viver em lugares que não interessam a exploração imobiliária. O capitalismo não é freado caso o ambiente esteja degradado, pois se diminuir a oferta e os recursos se tornarem escassos, a sua mercadoria será supervalorizada. A educação ambiental crítica trás à tona estas questões sociais e questiona estas desigualdades. Segundo Sato e Carvalho (2005, p.12) “a educação ambiental pode ser uma preciosa oportunidade na construção de novas formas de ser, pensar e conhecer que constituem um novo campo de possibilidades de saber”. Procura entender os reais motivos da poluição, do consumismo exagerado, das desigualdades sociais, e refletir sobre o papel da educação nesse contexto. Seu objetivo é buscar perspectivas e possibilidades que possam trazer mudanças à realidade atual. Hoje, a Educação Ambiental não mais aponta para uma educação conservacionista, mas sim para uma visão socioambiental, de educação popular, com objetivo de atingir principalmente as pessoas expostas aos riscos e vítimas da injustiça social. A partir do diálogo reflexivo de conteúdos voltados à sociologia, ideologia, política, democracia, cidadania é possível levar aos princípios da Educação para Sociedades Sustentáveis e de Responsabilidade Global (BRASIL, 2007). 39 CAPÍTULO III- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL As discussões acerca do desenvolvimento sustentável evoluíram bastante desde o surgimento dos conceitos ecodesenvolvimento, lançado por Maurice Strong, em 1973. Foram, na ocasião, amplamente discutidos os seis caminhos do desenvolvimento, como sendo: a satisfação das necessidades básicas; a solidariedade com as gerações futuras; a participação da população envolvida; a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente; a elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito a outras culturas; e os programas de educação. O primeiro grande passo global no âmbito do desenvolvimento sustentável foi a realização da Conferência de Estocolmo em 1972 (UN Conference on the Human Environment), onde se percebeu uma necessidade de reaprender a conviver com o planeta. Porém, o desenvolvimento sustentável passou a ser a questão principal de política ambiental, somente, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92). A Organização das Nações Unidas, através do relatório Nosso Futuro Comum, publicado pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento em 1987 definiu desenvolvimento sustentável como sendo aquele que busca as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades (ONU, 1987). Desde aquela época esta definição ganhou inúmeras citações na literatura. O conceito de desenvolvimento sustentável surge para enfrentar a crise ecológica, sendo que pelo menos duas correntes alimentaram o processo. Uma primeira, centrada no trabalho do Clube de Roma, reúne suas ideias publicadas sob o título de Limites do Crescimento em 1972, segundo as quais, para alcançar a estabilidade econômica e ecológica propõe-se o congelamento do crescimento da população global e do capital industrial, mostrando a realidade dos recursos 40 limitados e indicando um forte viés para o controle demográfico (Meadows et al., 1972). Uma segunda, relacionada com a crítica ambientalista ao modo de vida contemporâneo, e se difundiu a partir da Conferência de Estocolmo em 1972. Tendo como pressuposto a existência de diferentes dimensões da sustentabilidade, que explicitam a necessidade de tornar compatível a melhoria nos níveis de qualidade de vida com a preservação ambiental. Surge para dar uma resposta à necessidade de harmonizar os processos ambientais com os socioeconômicos, maximizando a produção dos ecossistemas para favorecer as necessidades humanas presentes e futuras. A maior virtude dessa abordagem é que, além da incorporação definitiva dos aspectos ecológicos no plano teórico, ela enfatiza a necessidade de inverter a tendência autodestrutiva dos processos de desenvolvimento no seu abuso contra a natureza (Jacobi, 1997). Nesse sentido, o objetivo é apresentar uma contextualização em relação ao termo Desenvolvimento Sustentável, mostrando a importância de uma visão multidimensional em relação ao tema, mais especificamente com foco para as dimensões econômica, social, ambiental e institucional a fim de demonstrar que a partir dessas dimensões busca-se atingir o Desenvolvimento Sustentável de forma geral. Entende-se que essas diferentes forças (social, econômica, ambiental e institucional) que atuam no sistema, quando convergirem, podem conduzir ao equilíbrio em termos de Desenvolvimento Sustentável. De acordo com Sachs (2009): Na dimensão econômica as atenções devem estar voltadas para o desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado e primar pela: segurança alimentar, capacidade de modernização contínua dos instrumentos de produção, diversificação dos produtos e mercados, e garantia na geração de renda. Já na dimensão social, seria preciso manter um patamar razoável de homogeneidade social, distribuição justa de renda, geração de empregos, qualidade de vida e igualdade no acesso aos recursos e serviços. Para a dimensão ambiental, o autor ressalta o respeito pela capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais, preservação do potencial do capital natural na sua produção de recursos renováveis, bem como no limite e uso correto dos recursos não renováveis. E, por fim, na dimensão institucional, seria preciso assegurar o compromisso e a capacidade do Estado em implementar políticas e projetos 41 voltados
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