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Imuno-hematologia_01_2017 concurseira_pc

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Imuno-hematologia 
 
Grupos sanguíneos = polimorfismos antigênicos presentes na superfície de eritrócitos. 
Sistema ABO 
É o sistema de antígenos em eritrócitos humanos mais comumente usado como sistema de grupo sanguíneo para 
aplicações forenses. 
Dois tipos de antígenos (A e B), dão origem a quatro grupos sanguíneos: 
 A: possuem o antígeno A 
 B: possuem o antígeno B 
 AB: possuem os antígenos A e B 
 O: não possuem nenhum dos antígenos 
Esses antígenos podem ser encontrados em outros fluidos corporais também, como fluido amniótico, saliva, 
sêmen, assim como em muitos órgãos incluindo rim, pâncreas, fígado e pulmão. 
Biossíntese dos antígenos 
 
Todos os indivíduos normais produzem o Antígeno O, também conhecido como Antígeno H. Ele é sintetizado 
pela fucosiltransferase, uma transferase de fucose codificada pelos genes FUT , que adicionam uma fucose no 
fim de um glicolipídeo (em eritrócitos) ou glicoproteína (em tecidos). 
Um monossacarídeo adicional é então transferido ao antígeno O por uma transferase codificado pelo lócus ABO. 
A especificidade dessa enzima então determina o tipo sanguíneo: 
 Alelo A: produz a A-transferase, que transfere N-acetilgalactosamina para o antígeno O e então dá origem 
ao antígeno A 
 Alelo B: produz a B-transferase, que transfere galactose ao antígeno O, e então sintetiza o antígeno B. 
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 Alelo O: possui uma mutação (pequena deleção) que elimina a atividade transferase, então nenhuma 
modificação no antígeno O ocorre. 
Assim, os antígenos A e B diferem na sua molécula de açúcar terminal. 
Subgrupos dos tipos A e B foram descritos, sendo os mais importantes os antígenos A1 e A2: células contendo 
antígenos A1 reagem mais fortemente com anticorpos anti-A do que células com A2. Aparentemente, células com 
A1 contêm mais cópias do antígeno A do que células com A2. 
 
Bases moleculares do sistema ABO 
Gene ABO 
 A-tranferases e B-transferases são codificadas com um único gene, o gene ABO, no cromossomo 9. 
 Gene ABO é organizado em 7 éxons. 
 Os alelos A e B diferem por quatro substituições de aminoácidos 
 Os alelos A1 e A2 diferem em uma única deleção de nucleotídeo 
 Subgrupos do tipo O também já foram reportados. 
Herança dos antígenos A e B 
 Alelos A e B são dominantes 
o Em heterozigose com IO 
 AO – transferase sintetiza o antígeno A 
 BO – transferase sintetiza o antígeno B 
o Em heterozigotos AB = codominância – ambas as transferases são expressas 
 Homozigotos OO – não produzem nenhuma transferase, então não possuem nenhum dos antígenos 
Prova de Coombs 
O teste direto de antiglobulina é usado principalmente para determinar se uma anemia hemolítica (tipo de 
anemia causado por destruição das hemácias) é provocada por anticorpos ligados a elas. Isso pode ocorrer em 
anemias hemolíticas autoimunes, em que a pessoa produz anticorpos contra suas próprias hemácias. 
O teste direto de antiglobulina também pode ser usado no diagnóstico de anemia hemolítica do recém-nascido, 
resultado da incompatibilidade de grupos sanguíneos entre a mãe e o bebê. Esta era uma causa frequente de 
anemia hemolítica em recém-nascidos, mas hoje é rara devido ao tratamento da mãe durante e após cada 
gravidez. A incompatibilidade mais frequente entre mãe e bebê é do grupo ABO, especialmente em mães do 
grupo O. 
O teste direto de antiglobulina também é usado no diagnóstico de reações transfusionais. Quando há suspeita 
de reação transfusional hemolítica, o teste é feito para determinar se há anticorpos nas hemácias transfundidas. 
Hemácias revestidas com anticorpos são destruídas ou removidas da circulação com maior rapidez que as 
hemácias normais. 
Coombs direto 
 Identifica a presença de anticorpos fixados sobre as hemácias. 
 Adição de anticorpos anti-globulina humana 
http://www.labtestsonline.org.br/understanding/conditions/anemia?start=4
http://www.labtestsonline.org.br/glossary/antibody
http://www.labtestsonline.org.br/glossary/hemolytic
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 Diagnóstico de anemia autoimune (diferencia de outras anemias hemolíticas) 
 Diagnóstico de anemia hemolítica do recém-nascido 
 Diagnóstico de anemia hemolítica induzida por drogas (resulta na produção de anticorpos contra 
eritrócitos) 
 
Coombs indireto 
 Identificação de anticorpos antieritrocitários no soro 
 Avaliação de gestantes Rh negativo  detecção de anticorpos anti-D circulantes em mães Rh negativo 
sensibilizadas 
 Triagem de anemias hemolíticas 
 Fases pré-transfusionais 
 Fenotipagem de hemácias 
 Realizado em 4 etapas: 
o Fase fria (temperatura ambiente) 
o Fase em meio proteico 
o Fase quente (37ºC) 
o Fase aglutininas IgG e anticorpos fixadores de complemento 
 
Anti-soros do sistema ABO 
Padrões de aglutinação de certos eritrócitos: A, B, O. 
 
 Anti-A – ocorre naturalmente no soro de todos os indivíduos do grupo B 
 Anti-B – ocorre naturalmente no soro de todos os indivíduos do grupo A 
 Anti-A, anti-B – ocorrem naturalmente no soro de todos os indivíduos do grupo O. 
São potentes IgM ou IgG e determinam forte aglutinação direta. São capazes de ativar a cascata do complemento, 
determinam reação transfusional grave e doença hemolítica peri-natal de forma clínica moderada. 
Prova direta 
Consiste em pôr em contato soros-teste conhecidos (anti-A, anti-B e anti-AB), com glóbulos vermelhos para se 
identificar a presença dos antígenos. 
Prova reversa (prova de Simonin) 
Pesquisa do anticorpo no soro do paciente. Deve ser feito com hemácias tipadas A e B. 
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Antígenos A, B e H das secreções 
Além dos eritrócitos, indivíduos cujos antígenos A, B e O podem ser encontrados em outros tipos de fluidos 
corporais são chamados de secretores. 80% dos caucasianos são secretores. 
O antígeno O é sintetizado por uma fucosiltransferase codificado por genes FUT. O cromossomo 19 contém dois 
genes homólogos: 
 FUT1 – expresso nos tecidos de origem mesodérmica (tecidos embrionários que servem de precursores 
para tecidos hematopoiéticos, músculo, esqueleto, e órgãos internos)  responsável pela síntese do 
antígeno O nos eritrócitos. É o chamado “gene H”. 
 FUT2 – expresso nos tecidos de origem endodérmica (tecidos embrionários que são precursores do 
estômago e outros órgãos internos)  responsável pela síntese do antígeno O nas secreções. É o 
chamado gene Secretor. 
Não-secretores 
Cerca de 20% dos caucasianos são homozigotos para 
uma mutação no FUT2, resultando em uma proteína 
truncada (alelo não-secretor se). Fluidos corporais de 
pessoas tipo A ou B não-secretores (homozigotos para 
a mutação no FUT2 - sese) não contêm antígenos A ou 
B apesar de conterem transferases A e B ativas. 
Esse problema pode ser investigado em casos de 
estupro onde o tipo sanguíneo da evidência de sêmen 
precisa ser determinada. 
No entanto, não-secretores têm antígenos O em 
eritrócitos sintetizados pelo FUT1 e então têm os 
antígenos A ou B no sangue. 
Indivíduos secretores podem ser homozigotos ou heterozigotos (SeSe ou Sese). 
A relação entre o sistema ABO e o sistema secretor ABH na saliva e em outro líquidos orgânicos é um exemplo 
de interação gênica não-alélica, que ocorre quando dois ou mais genes em lócus diferentes atuam juntos para 
produzir um fenótipo. Quando um indivíduo possui o genótipo Sese ou SeSe, secreta os antígenos A, B e H tanto 
nas hemácias quando nas secreções; quando possui genótipo sese (portanto, é não-secretor), secreta os 
antígenos A, B e H apenas nas hemácias. Assim, o lócus secretor interfere na manifestação do lócus ABO. 
 
Bombaim (Oh) / “Falso O” 
Muito raramente, indivíduos carregando mutações homozigóticas (hh) no gene FUT1 (lócus H) produzem 
eritrócitos deficientes de antígeno O, nos quais não ocorre expressão dos antígenos A nem B, 
independentementedo genótipo ABO. As pessoas de fenótipo hh não produzem a enzima necessária para se 
colocar o antígeno O/H na superfície das hemácias. 
Desse modo, a sua ausência faz com que essas pessoas não apresentem quer o antígeno A, quer o B, nos 
seus glóbulos vermelhos, mesmo que possuam alelos referentes à síntese dessas substâncias. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gl%C3%B3bulos_vermelhos
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alelo
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Os indivíduos com o fenótipo de Bombaim podem doar sangue 
para qualquer membro do sistema ABO (a não ser que outro 
fator sanguíneo, como o Rh, seja incompatível), mas não 
podem receber de nenhum membro do sistema ABO (cujo 
sangue contém sempre um ou mais antígenos A, B e H); 
somente recebem sangue de indivíduos com o fenótipo de 
Bombaim. 
Os testes costumeiros para o sistema ABO os apontam como 
integrantes do grupo O, porém incompatibilidades 
relacionadas a cruzamentos podem evidenciar o falso "O". 
O teste para detectar se uma pessoa é realmente “O” ou falso “O” é feito aplicando-se o anticorpo anti-H em 
uma gota de sangue. 
 Se houver aglutinação, o indivíduo é um “O” verdadeiro, ou seja, “ii”. 
 Se não ocorrer aglutinação, ele é falso “O”, podendo ser IAIA, IAi, IBIB, IBi ou IAIB. 
 
Verificação do caráter secretor 
Deve ser observado outro sistema de tipo sanguíneo – o sistema de Lewis, pois o gene que codifica o tipo de 
secretor (gene Secretor) também codifica o Sistema Lewis. 
No sistema de Lewis, é possível produzir dois antígenos: Lewisa e Lewisb. As pessoas podem ser: 
 Lewis A-B+ 
o Também são secretores 
o Os secretores – convertem todos os antígenos Lewisa na forma Lewisb (formando então Lewis B+) 
o Genótipo: possuem pelo menos um gene funcional (Le) e um funcional secretor (Se) 
 LeLe ou Lele + SeSe / Sese 
 Lewis A+B- 
o Também são não secretores 
o Os não-secretores não convertem – formando Lewis A+ 
o Genótipo: possuem pelo menos um gene funcional (Le) mas são homozigotos para o Secretor 
(sese) 
 LeLe ou Lele + sese 
 Lewis A-B- 
o Não é possível utilizar esse teste. Nunca possuem característica +a ou +b no sangue ou secreções, 
pois não têm capacidade de produzir substâncias Lewis. 
o Podem ser secretores ou não secretores 
o São homozigotos pro alelo recessivo le (lele) 
o Possuem anticorpos Lewis, quase sempre IgM. 
 Lewis A+B+  muito raro!!! 
o São sempre secretoras ABH (SeSe/sese), porque senão não produziriam o B+ 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_ABO
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fator_Rh
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Sistema de Lewis 
Os antígenos Lewis fazem parte do esqueleto de proteínas (glicoproteínas) ou lipídeos (glicolipídeos). As 
glicoproteínas Lewis podem ser encontradas nas secreções tais como, leite, saliva ou plasma. Glicolipídeos, ao 
contrário, são encontrados ou em complexos com lipoproteínas circulantes no plasma, ou inseridos em 
membranas celulares com a porção glicídica voltada para o ambiente extracelular. Os antígenos Lewis presentes 
nos eritrócitos, plaquetas e macrófagos são adquiridos secundariamente do plasma (são o único grupo de 
moléculas sintetizadas por células tissulares e depois absorvidas pelos glóbulos vermelhos). 
O locus Lewis inter-relaciona sua genética bioquímicamente com o locus ABO, por tanto, é indispensável ter em 
conta este sistema quando se estuda o ABO e os sistemas associados. 
A expressão dos antígenos Lewis requer duas diferentes fucosiltrasferases (enzimas Se e Lewis), produtos de dois 
diferentes genes (FUT2 e FUT3). 
No recém-nascido, os antígenos Lewis são evidenciáveis nas secreções, mas só podem ser determinados nas 
hemácias com segurança após os 2-3 anos de idade. 
A enzima Lewis pode usar como substrato tanto o precursor tipo 1 como o precursor tipo 2. A enzima Lewis 
adiciona uma fucose, em ligação α(1,4), no precursor tipo 1 (galactose) produzindo o antígeno Lea que não pode 
ser posteriormente glicosilado. O antígeno Leb é sintetizado quando o antígeno H, gerado pela enzima Se a partir 
do precursor tipo 1, é usado como substrato pela enzima Lewis. 
 
 
 
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Imunoensaios 
ELISA 
É um imunoensaio enzimático envolvendo 
reação antígeno-anticorpo específico ligado a 
uma fase sólida, que se liga ao antígeno a ser 
dosado e este por sua vez se liga a um outro 
anticorpo específico marcado com uma enzima. 
A reação da enzima com a fase sólida é medida 
através da intensidade de cor produzida 
(colorimétrica) (espectofotométrica) que é 
proporcional a quantidade do antígeno presente 
na amostra. 
O modelo mais simples é conhecido como ELISA indireto, onde um antígeno que encontra-se aderido a um 
suporte sólido (placa de ELISA) é preparado e, em seguida, colocado sobre os soros que estão sendo testados, 
em busca de anticorpos contra o antígeno. 
ELISA Direto ou Sanduíche – pesquisa do antígeno no soro. 
Outro método é o chamado ELISA de bloqueio ou competição, em que a presença de anticorpos em determinado 
soro é revelada pela competição com um anticorpo específico (mono ou policlonal) dirigido contra o antígeno. 
Igualmente, o resultado é dado pela adição de um conjugado, porém a coloração aparecerá nos poços onde não 
havia anticorpos. 
 
 
ELFA 
É um ensaio imunoenzimático fluorescente que associa o método sanduíche em duas etapas, com uma detecção 
final por fluorescência. A reação antígeno-anticorpo é marcada com um anticorpo associado com uma enzima 
fosfatase alcalina, que reagirá com um substrato que produzirá um composto fluorescente. A emissão de 
fluorescência é proporcional a quantidade de Antígeno ou (anticorpo) presente na amostra. 
Imunocromatografia 
O sistema é realizado em uma matriz constituída de membrana de nitrocelulose ou de náilon coberta por acetato 
transparente para facilitar a visualização do teste. O antígeno ou o anticorpo é fixado na membrana na forma de 
linhas ou pontos e o restante da membrana é bloqueado com proteína inerte como nos testes imunoenzimáticos 
(ELISA). 
Para detecção de antígenos podem ser utilizados anticorpos fixados na linha de captura e como conjugado um 
segundo anticorpo conjugado ao corante. Um dos métodos imunológicos desses testes emprega corante 
insolúvel, como ouro coloidal (róseo) ou prata coloidal (azul marinho) como revelador da interação antígeno-
anticorpo. 
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Imunofluorescência 
Imunofluorescência é definida como uma técnica que possibilita a visualização de antígenos nos tecidos ou em 
suspensões celulares, por meio da utilização de anticorpos específicos, marcados com fluorocromo, capazes de 
absorverem a luz ultra-violeta (UV), emitindo-a num determinado comprimento de onda, permitindo sua 
observação ao microscópio de fluorescência (com luz UV). 
Direta 
Utiliza-se esta técnica, também conhecida como técnica de camada simples, 
para detecção de antígenos em amostras clínicas utilizando-se anticorpos 
marcados com fluorocromos. 
As indicações desta técnica são: detecção de vírus, parasitas, antígenos de 
tumor de amostras ou monocamadas de células do paciente. É utilizado 
também na identificação da distribuição de um antígeno no interior de um 
tecido ou compartimento de uma célula. 
Indireta 
Utiliza-se este tipo de imunofluorescência, também 
conhecida como técnica de dupla camada, na 
detecção de anticorpos no soro do paciente por 
meio de antígenos fixados em uma lâmina, na qual 
se aplica primeiramente um anticorpo específico 
não fluorescente. Por fim, coloca-se um anticorpo 
fluorescente com especificidade marcada contra 
determinados antígenos do primeiro anticorpo usado para reagir com o antígeno. 
Esta técnica tem como vantagem possibilitar uma fluorescência mais evidente, uma vez que os anticorpos 
fluorescentesassociam-se somente aos anticorpos primários, além de permite trabalhar com diversos anticorpos 
primários específicos para distintos tipos de antígenos, sendo capaz de identificar qual a classe a qual o anticorpo 
pertence. 
Habitualmente, a imunofluorescência indireta é utilizada na detecção de auto-anticorpos, e também, na detecção 
de anticorpos anti-nucleares encontrados no soro de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. 
 
 
Tipagem sanguínea 
Aplicações forenses 
Permite excluir suspeitos de uma cena de crime. 
Os antígenos A e B são muito estáveis e podem ser identificados em sangue seco mesmo após muitos anos. Eles 
também podem ser encontrados no sêmen e outros fluidos corporais dos indivíduos secretores. Assim, em casos 
de estupro, por exemplo, o tipo ABO da amostra de sêmen pode ser examinado para identificar o suspeito. 
http://www.infoescola.com/sistema-imunologico/anticorpos/

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