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julgado TJDFT - responsabilidade solidária

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Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
Órgão 7ª Turma Cível
Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0718478-40.2023.8.07.0001
APELANTE(S) SAGG SOCIEDADE DE ANESTESIA GOLDEN GARDEN S/S LTDA
APELADO(S) CRISTIANO FERREIRA ARAGAO e MONIQUE FERREIRA ARAGAO
Relator Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA
Acórdão Nº 1819242
EMENTA
CIVIL E CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. TERMO DE
RESPONSABILIDADE. ASSUNÇÃO DE DÍVIDA. TERCEIRO. PACIENTE. VALIDADE.
1. É válida a cláusula de obrigação solidária em contrato de prestação de serviços médicos assinado por
terceiro em favor de terceiro familiar paciente.
2. Afastadas as teses de vícios do negócio jurídico e de atuação como mero mandatário do paciente.
3. Recurso de apelação provido.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Relator, ROBSON BARBOSA DE
AZEVEDO - 1º Vogal e SANDRA REVES - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora
SANDRA REVES, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. PROVIDO. UNANIME., de acordo
com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 29 de Fevereiro de 2024
Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA
Relator
RELATÓRIO
Adoto o relatório da R. Sentença:
Cuida-se de ação de cobrança, proposta por SAGG SOCIEDADE DE ANESTESIA GOLDEN
GARDEN S/S LTDA, em desfavor de CRISTIANO FERREIRA ARAGAO e MONIQUE FERREIRA
ARAGAO, partes devidamente qualificadas.
Relata a autora tratar-se de Sociedade de Anestesistas do Distrito Federal, tendo firmado contrato de
prestação de serviços médicos com o Hospital Brasília, para a aplicação de anestesias em
procedimentos ali realizados, sendo de sua responsabilidade as respectivas cobranças.
Narra que os réus se obrigaram ao pagamento da quantia de R$ 6.000,00 (seis mil reais), em razão
dos serviços de anestesia prestados durante a intervenção cirúrgica do réu CRISTIANO FERREIRA
ARAGAO.
Requer, assim, a condenação dos réus ao pagamento da aludida quantia.
Com a inicial foram juntados documentos nos IDs n. 157263766 a 157263786. Guia de custas e
comprovante de recolhimento nos IDs n. 157263787 e 157263786.
Emenda à petição inicial no ID n. 160537232.
Citada, a ré MONIQUE FERREIRA ARAGAO apresentou contestação no ID n. 165679884
Defende a ré que: a) faz jus aos benefícios da gratuidade de justiça; b) apenas atuou na condição de
procuradora do réu CRISTIANO FERREIRA ARAGAO; c) não assumiu a responsabilidade financeira
suscitada; d) não sendo parte na relação contratual em análise, é descabida a cobrança postulada.
Requer, ao final, o julgamento de improcedência do pedido.
Citado, o réu CRISTIANO FERREIRA ARAGAO não apresentou defesa nos autos, tendo a decisão de
ID n. 168864662 lhe decretado a revelia, sem a aplicação dos seus efeitos.
Réplica no ID n. 168172967.
A decisão de ID n. 164151335 concedeu os benefícios da gratuidade de justiça à ré MONIQUE
FERREIRA ARAGAO.
A decisão de ID n. 168864662 reputou despicienda a produção de outras provas.
Vieram os autos conclusos.
O MM Juiz assim decidiu a lide:
Do exposto, nos termos do artigo 487, I, do CPC, resolvo o mérito e:
a) JULGO PROCEDENTE o pedido, para CONDENAR o réu CRISTIANO FERREIRA ARAGAO
a pagar à autora a quantia de R$ 6.000,00 (seis mil), acrescida de correção monetária pelo INPC, a
partir da realização do procedimento médico, juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a contar
da citação, além de multa equivalente a 2% (dois por cento) do montante inadimplido (cláusula 9 do
termo de ID n. 157263781);
b) JULGO IMPROCEDENTE o pedido com relação à ré MONIQUE FERREIRA ARAGAO.
Considerando o proveito econômico de cada parte à luz das sucumbências abaixo declinadas, reputo o
valor da condenação como base de cálculo, para fins de divisão do limite de 10% (dez por cento) ora
fixado a título de honorários de sucumbência entre a autora e os réus
Em razão da sucumbência, condeno o réu CRISTIANO FERREIRA ARAGAO ao pagamento das custas
e despesas do processo, bem como honorários advocatícios, estes ora arbitrados em 6,5% (seis
inteiros e cinco décimos por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, §2º, do
CPC..
Condeno a autora ao pagamento de honorários advocatícios em favor da ré MONIQUE FERREIRA
ARAGAO, estes ora arbitrados em 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) sobre o valor da
condenação, nos termos do artigo 85, §2º, do CPC.
A Ré MONIQUE FERREIRA ARAGÃO opõe embargos de declaração, os quais foram rejeitados.
A Autora apela, visando a reforma da r. sentença para o julgamento de total procedência dos pedidos
iniciais. Defende que a segunda Ré é responsável solidariamente pelas despesas hospitalares do
primeiro Réu, tendo havido o dever de informação (art. 6, III, do CDC) com a apresentação do Termo
de Responsabilidade de ID 157263781, o qual foi devidamente assinado pela 2ª Apelada. Sustenta,
assim, inexistir vício de consentimento no contrato.
Contrarrazões apresentadas.
É o relatório.
VOTOS
O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Relator
Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.
Transcrevo a fundamentação da r. Sentença:
Promovo o julgamento antecipado da lide, na forma do artigo 355, I, do CPC, porquanto a questão
debatida é principalmente de direito e, no que tangencia o campo dos fatos, pode ser solucionada à
luz da documentação já acostada aos autos.
Verifico presentes os pressupostos processuais e sigo ao exame do mérito.
A relação de consumo caracteriza-se pelo estabelecimento de um vínculo jurídico entre consumidor e
fornecedor, com base nas normas do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90).
O consumidor, à luz da teoria finalista e do artigo 2º do CDC, é o destinatário fático e econômico do
bem ou serviço.
O fornecedor, a seu turno, nos termos do artigo 3º daquele Diploma Legal, é toda pessoa física ou
jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
No caso em tela, os conceitos de consumidor e fornecedor descritos nos artigos 2° e 3° da Lei nº
8.078/90 estão presentes, na medida em que os réus são devedores solidários das despesas do
tratamento dispensado pela autora ao réu CRISTIANO FERREIRA ARAGAO.
Dispõe o artigo 389 do Código Civil, por sua vez, que, não cumprida a obrigação, responde o
devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
Consignadas essas premissas, pretende a autora cobrar dos réus a quantia despendida com os
serviços de anestesia prestados em favor do réu CRISTIANO FERREIRA ARAGAO.
Tem-se incontroversa nos autos a prestação dos aludidos serviços, sendo, por conseguinte, devida a
respectiva contraprestação por seu tomador, o réu CRISTIANO FERREIRA ARAGAO.
A ré MONIQUE FERREIRA ARAGAO, por sua vez, assinou o termo de autorização de
responsabilidade de ID n. 157263781, conforme reconhecido em sede de contestação, no qual figurou
como corresponsável financeira do réu CRISTIANO FERREIRA ARAGAO, nos termos de suas
cláusulas 6, 11 e 11.1:
6 – O paciente e seu responsável declaram-se integramente responsáveis, de pleno direito e em
caráter subsidiário, pelo pagamento dos serviços prestados pelo hospital e por quaisquer motivos não
pagos pela Operadora Plano/Seguro/Convênio de Saúde.
(...)
11- Declaro(amos) que estou(amos) ciente(s) e concordo(amos) que os valores correspondentes aos
honorários médicas e de outros profissionais não cobertos pelo Plano/Seguro/Convênio de Saúde
serão negociados e pagos diretamente a esses profissionais ou suas respectivas clínicas.
11.1- Declaro que estou ciente e concordo que os valores correspondentes aos honorários de
anestesiologia, quando não pagos pelos convênios, serão cobrados em separadosda fatura do
hospital e deverão ser pagos diretamente ã SAGG - Sociedade de Anestesia Golden Garden S/C Ltda,
que emitirá Nota Fiscal correspondente aos serviços prestados. Sendo certo, ainda que o pagamento
da fatura junto ao Hospital Brasília não quita os valores devidos à SAGG relativamente aos
honorários médicos de anestesia.
Vale dizer, ali se estabeleceu relação de solidariedade hábil a justificar, em tese, a presente
cobrança, nos termos do artigo 275 do Código Civil:
Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou
totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam
obrigados solidariamente pelo resto.
Por outro lado, cumpre destacar que a boa-fé contratual (artigo 422 do CC e artigo 4º, III, do CDC)
e seus deveres anexos de cooperação, transparência e lealdade impõem ao fornecedor a obrigação de
garantir ao consumidor máxima compreensão das obrigações a serem assumidas.
Assim, o dever de informação (artigo 6º, III, do CDC), notadamente em um cenário de especial
vulnerabilidade do consumidor, demanda uma atuação positiva do fornecedor, para assegurar o
direito de escolha quanto à assunção dos encargos contratuais correspondentes, ou seja, a liberdade
de contratar.
Nesse particular, conquanto inexista qualquer ilegalidade na assunção da condição de devedora
solidária pela ré MONIQUE FERREIRA ARAGAO quanto ao custeio do tratamento de seu irmão,
reputo que o termo de ID n. 157263781 subtraiu-lhe a liberdade de escolha dessa responsabilidade.
É razoável admitir que a ré MONIQUE FERREIRA ARAGAO almejasse internar seu irmão no
nosocômio, mas sem assumir conjuntamente as obrigações financeiras correspondentes, seja por
motivos de foro íntimo, seja porque não dispunha de recursos para tanto.
No entanto, a autora e o hospital não franquearam à ré tal possibilidade.
Isso porque o termo de ID n. 157263781 não possui campos distintos quanto à autorização de
tratamento e à declaração de solidariedade pelo seu custeio.
O mais adequado, em verdade, seria a apresentação de termos separados, evidenciando-se ao
consumidor subsistirem responsabilidades diversas e autônomas.
Não tendo assim procedido a autora e o hospital, a ré MONIQUE FERREIRA ARAGAO, impelida da
vontade de assegurar o tratamento do seu irmão, não poderia deixar de assinar o termo de
responsabilidade, ainda que discordasse da obrigação de custeio.
Em outras palavras, a existência de um único termo destinado a autorizar o tratamento do paciente e
a impor ao seu acompanhante a obrigação de assumir os encargos financeiros correspondentes
revela uma situação de desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, em patente violação ao
disposto no artigo 51, IV, do CDC:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
Não se desconhece o posicionamento adotado por este E. TJDFT quanto à matéria em debate, com o
qual este Juízo, inclusive, aquiesce em certa medida.
No entanto, é preciso atentar-se, no caso concreto, à subtração da efetiva liberdade de contratar da
ré MONIQUE FERREIRA ARAGAO, a qual não poderia, frente às circunstâncias, deixar de assinar o
termo de autorização de tratamento que lhe foi apresentado.
Tal situação, inclusive, reproduz-se em inúmeros outros casos, sendo raras as ocasiões em que o
consumidor deixa de assinar o termo em comento.
Não é plausível supor que a maioria dos acompanhantes dos pacientes internados tenham assumido,
por livre escolha, a condição de devedores solidários, notadamente porque a aceitação de tal
encargo é excepcionalíssima, não sendo possível equiparar a vontade de autorizar o tratamento de
um ente querido à vontade de caucionar seu próprio patrimônio para tanto.
É de rigor, portanto, reconhecer a nulidade da obrigação imposta à ré MONIQUE FERREIRA
ARAGAO, pois a condição de devedora solidária revela-se, face as circunstâncias do caso concreto,
onerosamente excessiva em benefício da autora.
Em arremate, a autora não suportará qualquer prejuízo financeiro, uma vez que lhe é assegurada,
independentemente da assinatura do termo em apreciação, a cobrança das despesas de tratamento da
paciente que efetivamente o recebeu.
DISPOSITIVO
Do exposto, nos termos do artigo 487, I, do CPC, resolvo o mérito e:
a) JULGO PROCEDENTE o pedido, para CONDENAR o réu CRISTIANO FERREIRA ARAGAO a
pagar à autora a quantia de R$ 6.000,00 (seis mil), acrescida de correção monetária pelo INPC, a
partir da realização do procedimento médico, juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a contar
da citação, além de multa equivalente a 2% (dois por cento) do montante inadimplido (cláusula 9 do
termo de ID n. 157263781);
b) JULGO IMPROCEDENTE o pedido com relação à ré MONIQUE FERREIRA ARAGAO.
Considerando o proveito econômico de cada parte à luz das sucumbências abaixo declinadas, reputo
o valor da condenação como base de cálculo, para fins de divisão do limite de 10% (dez por cento)
ora fixado a título de honorários de sucumbência entre a autora e os réus
Em razão da sucumbência, condeno o réu CRISTIANO FERREIRA ARAGAO ao pagamento das
custas e despesas do processo, bem como honorários advocatícios, estes ora arbitrados em 6,5% (seis
inteiros e cinco décimos por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, §2º, do
CPC..
Condeno a autora ao pagamento de honorários advocatícios em favor da ré MONIQUE FERREIRA
ARAGAO, estes ora arbitrados em 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) sobre o valor da
condenação, nos termos do artigo 85, §2º, do CPC.
A controvérsia da lide devolvida no apelo cinge-se em aferir a validade da cláusula de obrigação
solidária em contrato de prestação de serviços médicos assinado por terceiro em favor de terceiro
familiar paciente.
A prestação dos serviços médico-hospitalares e o débito são incontroversos. A prova documental
produzida evidencia a prestação de serviços ao paciente CRISTIANO FERREIRA ARAGAO, irmão
da apelada.
O termo de autorização contém a assinatura da apelada que, na condição de responsável financeira,
assumiu expressamente a responsabilidade solidária pelo pagamento dos custos advindos do
tratamento médico, documento redigido de forma clara e inteligível:
“6 – O paciente e seu responsável declaram-se integralmente responsáveis, de pleno direito e em
caráter subsidiário, pelo pagamento dos serviços prestados pelo hospital e por quaisquer motivos não
pagos pela Operadora Plano/Seguro/Convênio de Saúde.”
O art. 265 do Código Civil prevê que a solidariedade resulta da lei ou da vontade das partes, sendo
esse o caso dos autos, uma vez que a demandada anuiu a essa espécie de responsabilidade.
No caso, não observo nulidade no termo de autorização para tratamento e da assunção de
responsabilidade por despesas hospitalares.
Não há se falar em valor incompatível com o atendimento realizado, que foi efetivamente prestado,
sem contestação quanto à qualidade do serviço.
Também não se constata que a irmã do paciente tenha sido coagida a aderir aos serviços prestados.
Para a caracterização do estado de perigo (art. 156 do Código Civil), exige-se a demonstração de
grave dano atual ou eminente; que o perigo seja a causa determinante da declaração; o conhecimento
do perigo pela outra parte; existência de obrigação excessivamente onerosa; e intenção do declarante
de salvar a si ou a pessoa de sua família ou terceiro.
Não se pode presumir que ocorrerá o estado de perigo sempre que, em razão do estado clínico de
familiar, houver necessidade de recorrer a tratamento médico particular. Isso porque o estado de
perigo apto a ensejar a nulidade do negócio depende da demonstração de que a prestação assumida no
contrato de prestação de serviços é excessivamente onerosa, considerando-se que esse fator não se
refere ao valorem si mesmo, mas à análise de ganho indevido. Ademais, não comprovado o dolo de
aproveitamento do estado de saúde da paciente, que buscou, espontaneamente, atendimento
estabelecimento privado de saúde.
Afasta-se, pois, a tese de estado de perigo.
A propósito, confira-se:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE COBRANÇA.
INTERNAÇÃO EM HOSPITAL PRIVADO. DESPESAS HOSPITALARES. ESTADO DE PERIGO.
ONEROSIDADE EXCESSIVA. NÃO COMPROVAÇÃO. ATENDIMENTO PARTICULAR.
IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO DA COBRANÇA A VALORES ESTABELECIDOS EM TABELA
DE CONVÊNIO DO SUS. SENTENÇA MANTIDA. 1. A prestação dos serviços médico-hospitalares e
o débito são incontroversos. A prova documental produzida evidencia a prestação de serviços à
paciente. O art. 265 do Código Civil prevê que a solidariedade resulta da lei ou da vontade das
partes, o que é o caso dos autos, uma vez que a demandada anuiu a essa espécie de responsabilidade.
O termo de autorização contém a assinatura da apelante que, na condição de responsável financeira,
assumiu expressamente a responsabilidade solidária pelo pagamento dos custos advindos do
tratamento médico. 2. Não há que se falar em nulidade abstrata do termo de autorização para
tratamento e da assunção de responsabilidade por despesas hospitalares, providência habitual e
inerente à natureza da contratação. Eventual abusividade ou onerosidade excessiva precisam ser
comprovados. No caso, não há indicação de cobrança de valor incompatível com o atendimento
realizado ou que a apelante tenha sido coagida a aderir aos serviços prestados. Ademais, não
evidenciada a desnecessidade de intervenção. O serviço foi regularmente prestado e sua eficiência
não foi contestada. Mantido o reconhecimento da responsabilidade solidária pelo adimplemento da
dívida 3. Caracterização do estado de perigo (art. 156 do Código Civil), por sua vez, exige
demonstração do grave dano atual ou eminente; que o perigo seja a causa determinante da
declaração; o conhecimento do perigo pela outra parte; a excessiva onerosidade da obrigação; a
intenção do declarante de salvar a si ou a pessoa de sua família ou terceiro. Não se pode presumir
que ocorrerá o estado de perigo sempre que, em razão do estado clínico de familiar, houver
necessidade de recorrer a tratamento médico particular. O estado de perigo apto a ensejar a
nulidade do negócio também depende da demonstração de que a prestação assumida no contrato de
prestação de serviços é excessivamente onerosa, considerando-se que esse fator não se refere ao
valor em si mesmo, mas à análise no sentido de que o hospital almejou ganhar de forma indevida.
Precedentes. Nenhuma prova foi produzida a esse respeito, de sorte que as assertivas da apelante
permanecem situadas no campo meramente argumentativo e sem respaldo probatório efetivo e
aceitável apto a evidenciar o fato constitutivo do direito postulado. Não comprovado dolo de
aproveitamento do estado de saúde da paciente, que buscou, espontaneamente, atendimento
estabelecimento privado de saúde, nem eventual desconformidade dos valores cobrados com os
praticados no mercado, afasta-se a tese de estado de perigo. 4. Não comprovado vício de
consentimento ou obstáculo de acesso à rede pública. Paciente que acreditava ter condições de pagar
pelos serviços médicos, tendo procurado, por livre e espontânea vontade, a rede privada de saúde,
realizando atendimento particular. Hospital privado não está obrigado a receber valor inferior
àquele usualmente cobrado quando o atendimento médico não foi baseado em convênio ou contrato
com o SUS. Afinal, não realizou atendimento visando auxiliar o sistema público de saúde, mas
prestando serviço habitual, de forma remunerada, considerando, inclusive, o direito ao lucro
admitido pela livre iniciativa. Precedentes. 5. Recurso conhecido e não provido. 
( , 07012938620238070001, Relator: MARIA IVATÔNIA, 5ª Turma Cível, data deAcórdão 1778512
julgamento: 26/10/2023, publicado no DJE: 9/11/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.)
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA.DESPESAS
MÉDICO-HOSPITALARES.TERMO DE RESPONSABILIDADE, AUTORIZAÇÃO DE
TRATAMENTO MÉDICO-HOSPITALAR E ASSUNÇÃO DE DESPESAS HOSPITALARES.
DEMONSTRATIVO DAS DESPESAS POR MEIO DE FATURA INDIVIDUAL. DOCUMENTOS
HÁBEIS PARA INSTRUIR AÇÃO MONITÓRIA. ESTADO DE PERIGO. NÃO
OCORRÊNCIA.RESPONSABILIDADE DO PACIENTE QUANTO AO PAGAMENTO DO DÉBITO
NÃO ADIMPLIDO PELO PLANO DE SAÚDE CONVENIADO.EMBARGOS
REJEITADOS.RECURSO CONHECIDO E PROVIDO PARA REFORMAR A SENTENÇA
RECORRIDA, CONSTITUINDO DE PLENO DIREITO O TÍTULO EXECUTIVO EM FAVOR DA
APELANTE. DENUNCIAÇÃO À LIDE. APRECIAÇÃO PELO TRIBUNAL. POSSIBILIDADE.
TEORIA DA CAUSA MADURA. PLANO DE SAÚDE. ATENDIMENTO EMERGENCIAL. PRAZO DE
CARÊNCIA. APLICAÇÃO DO ARTS. 12, V, "C" E 35-C DA LEI 9.656/98. DENUNCIAÇÃO
JULGADA PROCEDENTE. SENTENÇA REFORMADA.
1. Cabível o processamento da ação monitória com suporte em documentos escritos, sem eficácia de
título executivo, que demonstrem a existência de dívida decorrente da prestação de serviços
médico-hospitalares.
2. O Termo de Responsabilidade para Tratamento Médico-Hospitalar e Assunção de Despesas
Hospitalares, acompanhado do demonstrativo das despesas geradas com o atendimento dispensado
ao paciente constituem documentos hábeis a legitimar a propositura de ação monitória;
3. A assinatura de Termo de Responsabilidade para Tratamento Médico-Hospitalar e Assunção de
Despesas Hospitalares gera a obrigação da paciente de efetuar o pagamento das despesas
comprovadas pelo Hospital e cujo adimplemento tenha sido recusado pelo plano de saúde
conveniado, nos exatos termos da obrigação assumida;
4. Não há que se falar em estado de perigo quando não há evidências de que o hospital,
aproveitando-se da situação de risco decorrente da internação emergencial, incumbe à paciente
arcar com o pagamento de despesas hospitalares regularmente cobradas.
5. As falhas decorrentes da relação jurídica entre a paciente e o plano de saúde que se recusa a
cobrir as despesas realizadas não podem ser imputadas ao hospital, que prestou adequadamente os
serviços médicos.
6. Não havendo qualquer vício no negócio jurídico representado pelo aludido Termo, o paciente e o
responsável que o tenha assinado são obrigados ao pagamento das despesas médico-hospitalares que
não foram adimplidas pelo plano de saúde, impondo-se a rejeição dos Embargos à Monitória e a
constituição do título executivo em favor da apelante, segundo o valor das despesas demonstradas
nos autos e não adimplidas pelo Plano de Saúde.
7. Em razão da reforma da sentença, com a procedência da demanda principal, prossegue-se o
julgamento da lide secundária, não havendo impedimento algum para sua apreciação pelo Tribunal,
em observância à Teoria da Causa Madura, expressa no §3º do art. 515 do Código de Processo Civil.
8. O período de carência para internação emergencial deve obedecer ao prazo de 24 (vinte e quatro)
horas estabelecido no art. 12, V, "c" da Lei 9.656/98.
9. Demonstrada a situação de emergência, a exigir pronto atendimento emergencial, necessário
afastar o prazo de carência de internação previsto no contrato e aplicar o teor da lei.
10. A denunciação da lide cria um litisconsórcio unitário em relação à lide principal, tendo em vista
que sua decisão será obrigatoriamente no mesmo sentido para denunciante e denunciado.
11. Comprovada a recusa injustificada do plano de saúde, impõe-se também a procedência da lide
regressiva, devendo o plano de saúde ser condenado, de forma solidária, a arcar com as despesas
médico-hospitalares deduzidas na inicial da presente ação monitória.
12. Com a procedência da ação principal, as verbas sucumbenciais são devidas solidariamente por
denunciante e lititisdenunciado, e julgando-se procedente à denunciação à lide, o terceiro
interveniente deve arcar com o pagamento de honorários advocatícios em favor do denunciante, em
observância ao princípio da causalidade.
13. Recurso conhecido e provido. Sentença reformada.
( , 20120710153658APC, Relator: ROMULO DE ARAUJO MENDES, ,Revisor:Acórdão 865607
TEÓFILO CAETANO, 1ª TURMA CÍVEL, data de julgamento: 6/5/2015, publicado no DJE:
12/5/2015. Pág.: 227)
Não socorre à Apelada, ainda, a alegação de que agiu na qualidade de procuradora da parte Ré. O
contrato foi claro quanto à responsabilidade do assinante solidariamente à do hospitalizado pelas
despesas decorrentes do contrato de prestação de serviços. Em última análise, seria a hipótese de
mandatário que age em seu próprio nome, obrigando-se pessoalmente pelo negócio estipulado, nos
termos do art. 663 do Código Civil.
Portanto, não vejo como afastar com a responsabilidade da Ré MONIQUE FERREIRA ARAGAO
pelo pagamento das despesas médico-hospitalares que não foram adimplidas pelo plano de saúde,
impondo-se a reforma da r. sentença em consonância com a pretensão do Apelante.
Ante o exposto, para reformar em parte a r. sentença e julgarDOU PROVIMENTO AO RECURSO
procedentes os pedidos a fim de condenar a Ré/Apelada MONIQUE FERREIRA ARAGÃO a pagar à
SAGG SOCIEDADE DE ANESTESIA GOLDEN GARDEN S/S LTDA., solidariamente com
CRISTIANO FERREIRA ARAGÃO, a quantia de R$ 6.000,00 (seis mil reais), acrescida de correção
monetária pelo INPC, a partir da realização do procedimento médico, juros de mora de 1% (um por
cento) ao mês, a contar da citação, além de multa equivalente a 2% (dois por cento) do montante
inadimplido (cláusula 9 do termo de ID n. 157263781)
Dada a nova sucumbência, condeno ambos os Réus em custas e honorários, solidariamente, estes
fixados em 10% (dez por cento) do valor da condenação, nos termos do § 2º do art. 85 do CPC/2015,
suspensa a exigibilidade em favor de MONIQUE FERREIRA ARAGÃO, em razão da gratuidade de
justiça.
É o voto.
O Senhor Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 1º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora SANDRA REVES - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO
CONHECIDO. PROVIDO. UNANIME.

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