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Universidade Católica do Salvador Faculdade de Direito Disciplina: Estágio Supervisionado II Professor: João Bosco Virgens Santos Aluno(a): ELIAS MACHADO DOS SANTOS Marcelo celebrou com a Seguradora Forget Ltda., um contrato padrão denominado "Seguro Saúde", pelo qual teria direito à cobertura médico-hospitalar completa em caso de cirurgias de qualquer espécie. Dois anos depois de ter assinado esse contrato, Marcelo teve diagnosticada grave enfermidade renal, para a qual o transplante era a única solução. Tão logo surgiu um órgão compatível, Marcelo foi internado e submetido, imediatamente, ao transplante renal, cujo resultado foi coroado de êxito. A seguradora, no entanto, negou-se ao reembolso das despesas médico-hospitalares, sustentando que a doença de Marcelo era preexistente à assinatura do contrato e que fora por ele omitida quando da contratação. QUESTÃO: Sabendo-se que Marcelo é domiciliado em Camaçari, que a Seguradora tem sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e filial em Salvador, onde foi celebrado o contrato, e que o hospital onde foi realizada a cirurgia está localizado em Alagoinhas; sabendo-se, mais, que as despesas de Marcelo com a cirurgia, incluídos os gastos hospitalares e os honorários médicos, montam a R$ 45.000,00, proponha, como seu advogado, a ação cabível. EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA __ CÍVEL DA COMARCA DE CAMAÇARI / BAHIA Marcelo, brasileiro, portadora da Carteira de Identidade nº 000.000.000 expedida pelo IFP e inscrita no CPF com o nº 0000000000, residente nesta cidade na Rua Lapa, no bairro denominado Jacuipe, cidade Camaçari vem, por seus advogados, infra-assinados, ut instrumento de Mandato (doc. 01), com escritório na Rua Gonçalves Dias, 51/3º andar, CEP.: 20050-030, no bairro denominado Centro, para efeitos do art. 39, I, do CPC, vem mui respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento no artigo 81, caput, primeira parte, 83 e 84, todos do Código de Defesa do Consumidor, e nos termo da Leis nº. 9.656/98 e 10.185/01, para propor a presente propor a presente Ação Declaratória de Obrigação de Fazer, em face de Seguradora Forget Ltda ., empresa devidamente inscrita no CNPJ/MF com o nº 0000000000000, com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, filial em Salvador ,que deverá ser representada na forma de seus estatutos sociais, pelos fatos e fundamentos de direito que passa a expor: DOS FATOS 1. O autor celebrou um contrato com a seguradora pelo qual teria direito à cobertura médico-hospitalar completa em caso de cirurgias de qualquer espécie. 2. Dois anos depois de ter assinado esse contrato, o autor teve diagnosticada grave enfermidade renal, para a qual o transplante era a única solução. 3. Tão logo surgiu um órgão compatível, o autor foi internado e submetido, imediatamente, ao transplante renal, cujo resultado foi coroado de êxito. 4. A seguradora, no entanto, negou-se ao reembolso das despesas médico- hospitalares, sustentando que a doença de Marcelo era preexistente à assinatura do contrato e que fora por ele omitida quando da contratação. DO DIREITO É patente e indiscutível a aplicação, in casu, das disposições contidas no aclamado Código de Defesa do Consumidor. Com especial realce, aplicáveis à presente lide os artigos 6º, V a VIII, 14, 20, II, e §2º, 25, 42, parágrafo único, 51, caput e IV, §1º, I e II, 54, §4º, 81, caput, primeira parte, 83 e 84, todos do código consumerista. Por estes dispositivos vigora o princípio do equilíbrio da base contratual (art. 6º, V); a necessidade de efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais do consumidor, ora Autor, com livre acesso inclusive ao Poder Judiciário (art. 6º, VI, VII), facilitando inclusive a defesa em juízo por diversos meios, p.e., a inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII); responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços (art. 14); a redibição da quantia paga, considerando a não prestação do serviço (art. 20, II e §2º), sendo devolvida em dobro, porque indevidamente cobrada (art. 42, parágrafo único); a nulidade de cláusulas contratuais que colocam o consumidor em desvantagem exagerada, como a limitação do valor do reembolso de despesas, e a que restringe direitos e obrigações fundamentais inerentes a natureza do contrato (art. 51, caput e IV, §1º, I e II); e a possibilidade de se manejar, em defesa do consumidor qualquer tipo de ação capaz de garantir os seus direitos (art. 81, caput, e 83), podendo o juiz, conceder tutela específica, em caso de obrigação de fazer, mesmo liminarmente, impondo multa diária pelo descumprimento, revertida em favor do consumidor (art. 84, e §§). Estas são as disposições contidas no Código de Defesa do Consumidor, aplicáveis à espécie, por se tratar de nítida relação de consumo, conforme os conceitos extraídos dos artigos 2º e 3º, §2º, do mencionado dispositivo legal. Bastaria tão somente os termos constantes do código consumerista para verificar a plausibilidade do direito do Autor. Entretanto, merece destaque ainda, nesse sentido, os termos da Lei nº. 9.656/98, que trata dos planos de saúde, e da Lei nº. 10.185/01, que por seu artigo 2º., equipara o seguro saúde aos planos de saúde, de que trata a primeira norma. Portanto, perfeitamente aplicáveis ao presente caso o disposto no artigo 1º, I, da Lei nº. 9.656/98, com a redação que foi dada pela MP nº. 2.177-44, em vigor conforme a EC nº. 32/2001), que veda as limitações financeiras, outrora permitidas, nos planos de saúde. Em outras palavras, não podem mais as operadoras de plano de saúde, nem de seguro saúde, sujeitar os segurados a limites de gastos, porque estar-se-ia a ferir a finalidade do contrato, que é garantir a saúde, o que também é vedado pelo Código de Defesa do Consumidor, conforme explicitado alhures. Por conta dessas disposições legais e em razão da boa-fé contratual e do equilíbrio da base contratual é que se espera a procedência dos pedidos ora formulados. Alega a seguradora que o autor cotinha uma doença preexistente antes da celebração do contrato, no entanto é de se ver que a seguradora não se desincumbiu de investigar corretamente a declaração do autor, sendo assim segue – se a jurisprudência: "SEGURO DE VIDA INDIVIDUAL - DOENÇA PREEXISTENTE - CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - PRINCÍPIOS - No contrato de seguro de vida individual, a seguradora não se eximirá de pagar a indenização contratada, ao argumento de doença preexistente, se não investigou corretamente as declarações do segurado, por meio de exame médico, à época da contratação. - Os princípios da boa-fé objetiva, da transparência, do dever de informar e da vulnerabilidade do consumidor, insculpidos no CDC, não autorizam a negativa de pagamento do seguro contratado, sob a alegação de que o segurado deixou de prestar informações sobre o seu efetivo estado de saúde. - Agravo retido julgado prejudicado e apelação não provida". (TAMG - AP 0383566-5 - (85603) - Belo Horizonte - 2ª C.Cív. - Rel. Juiz Ediwal José de Morais - J. 16-12-2003). "PLANO DE SAÚDE - CONTRATO FIRMADO NA VIGÊNCIA DA LEI N. 8.078/90 - DOENÇA CRÔNICA PREEXISTENTE A CONTRATAÇÃO DO PLANO DE SAÚDE. Dispensando as seguradoras a qualquer interessado o prévio exame médico, objetivando a captação de clientela, assume o risco pelo contrato de forma integral ou a obrigação de fazer prova, face a inversão do ônus processual, da má- fé do segurado e do beneficiário do plano de saúde - Não pode o réu eximir-se de responsabilidade de prestar assistência médico- hopitalar sob alegação de doença crônica preexistente."(Ap. Cível n. 74.597-4, 7ª Câmara de Direito Privado do TJSP, Rel. Des. Júlio Vidal, j. 22-2-1999, un.). Contudo, a requerida assim não procedeu, não havendo se falar em negativa do seguro a que a parte faz jus. Cabe destacar, ainda, que o diploma consumerista foi concebido com vistas na hipossuficiência e vulnerabilidade do consumidor, que é, por definição, e reconhecidamente, o sujeito de direitos mais fraco na relação de consumo, cumprindo consignar, ainda, que o Código de Defesa do Consumidor agasalhou a teoria do risco do empreendimento, significando que o fornecedor de produtos e serviços assume os riscos de sua atividade no mercado de consumo, sendo que, no presente caso, a seguradora ré, ao não proceder ao exame prévio de potenciais segurados, assume o risco de vir a segurar consumidores portadores de doenças preexistentes. É certo que a seguradora sabia ou pelo menos deveria saber dos riscos que assumia, nada obstante, ainda assim, se propôs ao contrato em questão sem um prévio exame do contratante. Todavia, in casu a alegada preexistência de doença sequer restou comprovada pela parte requerida, sendo certo que eventual má-fé do consumidor deve ser sobejamente comprovada pela parte que a alega, inexistindo nos autos prova nesse sentido. DA TUTELA ESPECÍFICA ANTECIPADA: Por força do artigo 84, do Código de Defesa do Consumidor, na “ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o Juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento”. Destaque-se ainda a disposição contida no §3º, do mesmo artigo, segundo o qual “Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao Juiz conceder a tutela liminarmente”. No presente caso, além da reparação de danos materiais e compensação de danos morais, pretende o Autor a condenação da Ré em nítida obrigação de fazer, no sentido de fazer cumprir o objeto contratual, consistente em garantir, sem limitações, Os gastos hospitalares e médicos da cirurgia , além de reembolso imediato, em prazo não superior a 24hs (vinte e quatro horas), caso venha o Autor a escolher outro profissional ou estabelecimento. Para garantir o efetivo cumprimento da tutela específica acima, espera-se a imposição de multa diária pelo seu descumprimento, a ser revertida em favor do Autor, determinando ainda este d. Juízo seja a Ré compelida a comunicar nos autos a rede credenciada que efetivamente aceitará prestar atendimento a segurada. DOS PEDIDOS a) DIANTE DO EXPOSTO, e de tudo mais que possa ser suprido por Vossa Excelência, requer seja deferida TUTELA ESPECÍFICA, liminarmente, inaudita altera pars, e na forma já mencionada, cominando obrigação de fazer a Ré, no sentido de fazer cumprir o contrato de seguro saúde firmado com o Autor, garantindo o atendimento médico e/ou hospital a segurada, disponibilizando rede credenciada, com profissionais das mais diversas especializações, e garantindo o reembolso total de qualquer despesa efetuada, sem limites financeiros, em prazo não superior a 24hs, fixando prazo razoável para o cumprimento da tutela, impondo multa diária pelo seu descumprimento, a ser revertida em favor do Autor. b)Requer, a citação da Ré, para todos os termos deste, para, querendo no prazo legal, contestar o presente feito, sob as penas da revelia. c)Requer, também,a inversão do ônus da prova, face a hipossuficiência do Autor frente à Ré, nos termos do Artigo 6º inciso VIII do CDC, assim como, ao fim da presente demanda seja a mesma julgada procedente para, tornar definitiva, e declarar a obrigação da Ré em pagar os gastos hospitalares e médicos. d) condenação da Ré, na custas processuais e honorários advocatícios de 20% (vinte por cento) do valor da causa corrigido monetariamente até o final da demanda. Nestes Termos, Despachados e Autuados, com os documentos inclusos, protestando por todos os meios de provas admissíveis à espécie, dá a causa, o valor de R$ 60.000,00 sessenta mil reais). Nestes Termos, Pede Deferimento. Salvador 3 de março de 2012 ELIAS MACHAO OAB – 00.000.
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