Buscar

Não existe quebra da imparcialidade pelo simples fato de o magistrado dar uma entrevista sobre o caso

Prévia do material em texto

Não existe quebra da imparcialidade pelo simples fato de o 
magistrado dar uma entrevista sobre o caso 
terça-feira, 1 de novembro de 2022 
 
O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte: 
Em Santa Catarina, houve uma operação da Polícia Federal que foi 
denominada de “ouvidos moucos” e que investigou supostos desvios de 
verbas públicas que teriam ocorrido na UFSC. 
Essa operação resultou em uma ação penal que tramita na Justiça Federal. 
A defesa de um dos réus ingressou com exceção de suspeição em face da 
Juíza Federal responsável pelo processo. 
Foram invocados diversos argumentos. Um deles foi o de que a magistrada 
teria concedido uma entrevista para um jornal local, demonstrando 
insatisfação com a soltura dos investigados pelo Tribunal. 
O TRF4 julgou improcedente a exceção de suspeição apresentada. 
O réu interpôs recurso especial. 
 
O STJ concordou com o pedido da defesa? 
NÃO. Pela análise do art. 12 do Código de Ética da Magistratura Nacional, 
não há impedimento ao livre exercício do direito de manifestação do Juiz: 
Código de Ética da Magistratura Nacional 
Art. 12. Cumpre ao magistrado, na sua relação com os meios de 
comunicação social, comportar-se de forma prudente e equitativa, e cuidar 
especialmente: 
I - para que não sejam prejudicados direitos e interesses legítimos de 
partes e seus procuradores; 
II - de abster-se de emitir opinião sobre processo pendente de julgamento, 
seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos, sentenças 
ou acórdãos, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos, doutrinária 
ou no exercício do magistério. 
 
Ao contrário, esse art. 12, ao regulamentar a relação entre os membros do 
Poder Judiciário e a imprensa, estabelece critérios que assegurem, de um 
lado, a liberdade de expressão e a publicidade dos atos estatais (art. 5º, IV; 
art. 37, caput, e art. 93, IX, da Constituição Federal) e de outro, a prudência, 
atributo inerente ao exercício da judicatura. 
Assim, não há empecilho para que os magistrados concedam entrevistas 
sobre os casos em que são responsáveis pelo julgamento dos processos. 
No caso concreto, a magistrada não tratou na entrevista diretamente sobre 
o conteúdo dos autos, motivo pelo qual não se pode presumir, de sua simples 
manifestação sobre os fatos, um juízo de valor que motive eventual 
suspeição para o julgamento da causa. 
 
Em suma: 
O art. 12 do Código de Ética da Magistratura Nacional (Resolução 
CNJ nº 60/2008) não impede o livre exercício do direito de 
manifestação do juiz. 
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.004.098-SC, Rel. Min. Jesuíno Rissato 
(Desembargador convocado do TJDFT), julgado em 02/08/2022 (Info 743).

Continue navegando