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O_EXERCICIO_E_TUTELA_DOS_DIREITOS_SUBJEC

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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
 
 
O EXERCÍCIO E TUTELA DOS DIREITOS 
SUBJECTIVOS NA ORDEM JURÍDICA 
ANGOLANA 
 
 
 
Estudante: Valdano Afonso Cabenda Pedro 
Área de especialidade: Ciências Jurídico-Civis 
 
 
 
 
 
TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO 
APRESENTADO À FACULDADE DE DIREITO 
DAUNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO 
CADEIRA DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO 
DO DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luanda 
2013 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
Índice 
 
Dedicatória 
Agradecimentos 
Resumo 
Siglas e Abreviaturas 
Tema 
Delimitação do objecto 
Justificação 
INTRODUÇÃO 
1. O exercício e a tutela dos direitos subjectivos 
Objectivo geral 
Objectivos específicos 
Metodologia 
 
CAPÍTULO I – A relação jurídica. Conceito 
1.1. Estrutura da relação jurídica 
CAPÍTULO II - Direito subjectivo 
Conceito de direito subjectivo 
I. O direito subjectivo como estrutura 
II. O direito subjectivo como substância 
2.1 Natureza 
2.2 Direito subjectivo em sentido estrito (ou propriamente dito) 
2.2.1 Classificação dos direitos subjectivos 
2.3 Direito, liberdade e pluralismo 
2.4 O exercício dos direitos subjectivos 
2.4.1 Contitularidade de direitos subjectivos 
2.5 Limites ao exercício dos direitos subjectivos 
2.5.1 Colisão de direitos 
2.5.2 Venire contra factum proprium 
 
CAPÍTULO III - A tutela do direito 
 
O Aparelho estadual de coacção 
3.1 Direitos e garantias 
3.1.1 Direitos fundamentais e garantias institucionais 
3.2 Meios de tutela jurídica 
3.2.1 Tutela pública e tutela privada 
3.2.2 Manifestações de tutela privada 
3.3 Tutela preventiva 
3.4 Tutela repressiva 
Considerações finais 
Recomendações 
Bibliografia 
Legislação consultada 
 
 
 
 
 
 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
 
 
«Promover o direito aos direitos ou a democratização do direito torna-se 
imperativo ainda mais urgente na conjuntura actual das leis e perante a 
chamada sociedade da informação.» 
 
Professor JORGE MIRANDA 
(Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 4.ª 
edição Coimbra Editora) 
 
 
«O conhecimento, por cada pessoa, dos seus próprios direitos, permite que, 
facilmente se reivindique o seu exercício e a sua aplicação subjectiva.» 
 
Professora MARIA DO CARMO MEDINA 
(Manual de Direito de Família, 1.ª Edição, 2011, Escolar Editora, pág. 
20.) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
 
 
 
 
 
Aos meus colegas (os primeiranistas no 
Curso de Licenciatura em Direito em 
particular). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
 
Agradecimentos 
 
A Deus Todo-poderoso, meu criador; à 
minha querida e inestimável mãe Domingas 
Smith Cabenda por tudo que tem feito em 
prol da minha formação; ao Professor Dr. 
Graciano Kalucango, nosso mestre, pelo 
incentivo à realização do presente trabalho, 
em vista a melhoria de nota. 
 
O meu muito obrigado! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
Resumo 
 
 O presente trabalho cujo tema é «o exercício e tutela dos direitos subjectivos na 
ordem jurídica angolana», elaborado com o fito de servir para melhoria da minha nota na 
disciplina de Introdução ao Estudo do Direito, disciplina do 1.° Ano na Faculdade de 
Direito da Universidade Agostinho Neto, se propõe apresentar de forma descritiva e 
exploratória, a formatação da estrutura constitucional e legal de protecção dos direitos 
subjectivos, levando o leitor (visado) a perceber como funcionam os mecanismos actuais 
de tutela jurídica dos direitos subjectivos. Através de um roteiro propedêutico que se 
inicia com um preliminar aclaramento do conceito e estrutura da relação jurídica, do 
conceito de direitos subjectivos, procuraremos analisar os direitos subjectivos, principais 
elementos de natureza histórica, configuração, exercício e tutela na ordem jurídica 
angolana. Na verdade, o reconhecimento de per si dos direitos, de pouco vale se o Direito 
não munir as pessoas de instrumentos que lhes permitam assegurar a dignidade a que tem 
direito, ora, é disso que entre linhas procuraremos abordar em três capítulos, sem a 
menor intenção de esgotarmos o tema, o que nem de perto nem de longe seria possível 
num trabalho com reduzido número de páginas. 
 
 
Palavras-chave: direitos subjectivos, relação jurídica, meios de tutela jurídica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
Summary 
 
The present work entitled ' The exercise and guardianship of the subjective rights in the 
Angolan legal order ', elaborated with the aim of serving to improve my note in the 
discipline of introduction to the study of law, discipline of the 1st year at the Faculty of 
Law of the Agostinho Neto University, proposes to present in a descriptive and 
exploratory manner, the formatting of the constitutional structure and legal protection of 
subjective rights by taking the reader (targeted) to understand how the current 
mechanisms of legal guardianship are functioning. Through a introductory roadmap that 
begins with a preliminary clarification of the concept and structure of the legal 
relationship, the concept of subjective rights, we will seek to analyze the subjective rights, 
main elements of historical nature, configuration, exercise and guardianship in the 
Angolan legal order. In fact, the recognition of per si of rights, of little is worth if the 
right does not equip the people of instruments to ensure the dignity of which they are 
entitled, now, that is what we are going to be discussing in three chapters, without the 
slightest intention of exhausting the theme, which neither close nor far would be possible 
in a small number of pages. 
 
 
Keywords: subjective rights, legal relationship, means of legal guardianship. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
 
Siglas e Abreviaturas 
 
 
Al. - Alínea 
C.C - Código Civil 
CRA - Constituição da República de Angola. 
Cap. - Capítulo. 
Cfr. - Confira ou confronte 
Ed. - Edição 
Etc. - Et caetera 
FDUAN - Faculdade de Direito – Universidade Agostinho Neto 
I.é - Isto é. 
N.º - Número. 
Ob.cit.- Obra citada 
Pág. - Página 
Segs. - Seguintes 
Vol. - Volume 
V.g. - Verbi gratia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
INTRODUÇÃO 
1. O exercício e a tutela dos direitos subjectivos 
Como ficou dito e porque sói dizer-se que a primeira forma de defesa dos direitos é a 
que consiste no seu conhecimento (sem desprimor obviamente dos "não menos 
importantes" deveres e de outras vinculações que sobre eles impendam, constituindo 
como que a sua contraface). Movidos por este ensinamento trazemos à liça no presente 
trabalho elaborado em vista a melhoria de nota (finalidade precípua, ao que se segue a 
inevitável consequente galvanização do nosso espírito de investigação cientifica, obrigação 
incontornável de todo estudantede Direito que se preze) a problemática atinente ao 
exercício e a tutela dos direitos subjectivos na nossa ordem jurídica.1 
 Posto isto, julgamos ser digna de nota introdutória frisar que, a dignidade da pessoa 
humana é o ponto de partida de todo ordenamento jurídico e com o nosso ordenamento 
em particular não podia ser diferente. A dignidade da pessoa humana implica que a cada 
ser humano sejam atribuídos direitos por ela justificados e impostos, que assegurem esta 
dignidade na vida social. 
 Toda pessoa pode ser titular de relações jurídicas e nisso consiste a sua 
personalidade ou a qualidade de ser sujeito de direito2; todo sujeito de direito não só pode 
ser, como é efectivamente, titular de alguns direitos e obrigações3, mesmo que no 
domínio patrimonial lhe não pertençam por hipótese quaisquer direitos - o que é 
praticamente inconcebível -, sempre a pessoa é titular de um número de direitos 
absolutos, que se impõem ao respeito de todos os outros, incidindo sobre os vários 
modos de ser físicos ou morais da sua personalidade. São os chamados direitos de 
personalidade (Cfr. arts. 70.° e segs. do Código Civil,4 articulado com o artigo 1474.° do 
 
1 Um dos factores essenciais para a tutela efectiva dos direitos que a ordem jurídica reconhece e/ou 
confere é o conhecimento dos mesmos e dos meios de tutela existentes. Ora, movido pelo 
compromisso patriótico de contribuir para a formação e consolidação de uma cultura jurídica forte, 
procuramos neste trabalho fazer uma abordagem clara e objectiva do tema; aos meus concidadãos em 
particular aos leigos em Direito aqui está a minha singela contribuição. 
2 A personalidade jurídica consiste na aptidão para ser-se titular autónomo de relações 
jurídicas, esta adquirir-se nos termos do n.° 1 do artigo 66.°, Título II - Relações Jurídicas, Subtítulo I 
- Das pessoas, Capitulo I - Pessoas Singulares do Código Civil, "no momento do nascimento completo 
e com vida". A personalidade é assim uma qualidade: a qualidade de ser pessoa. É uma qualidade que 
o direito se limita a constatar e respeitar e que não pode ser ignorada ou recusada, é uma exigência que 
decorre da sua própria dignidade, a dignidade humana, reza o artigo 6.° da a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 10 de Dezembro de 1948 que, «Todos os indivíduos têm direito ao 
reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica». 
Como pessoas ou sujeitos de direito não são única e exclusivamente os seres humanos, 
existindo em paralelo as pessoas colectivas (vide arts.° 157.° e segs. do Código Civil), centros de uma 
esfera jurídica própria, vimos por meio desta nota, dizer que o presente trabalho pretende abordar o 
tema em atenção ao ser humano, isto é, dando-lhe primazia. Vale dizer que, sendo, a pessoa dotada do 
atributo personalidade jurídica, está ela apta a figurar no pólo activo de uma relação jurídica, 
reclamando ao aparelho estatal protecção para os direitos ameaçados de lesão ou efectivamente 
lesados, bem como pode figurar no pólo passivo, sendo demandada a cumprir deveres assumidos 
perante a ordem jurídica. 
3 No presente trabalho abordaremos fundamentalmente os direitos subjectivos, isto é, as 
situações jurídicas activas segundo alguns autores, e nãos as situações jurídicas passivas (isto é, das 
sujeições, deveres ou obrigações dos particulares) pois entendemos que a liberdade (direito) constitui 
um prius que dispõe de primazia face à responsabilidade (dever), cônscios entretanto, que mais do que 
reivindicar e exercitar direitos devemos cumprir os correspectivos deveres, bem como os demais 
deveres, alguns fundamentais por sinal. 
4 Código Civil aprovado pelo Decreto-lei n.° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, tornado 
extensivo às províncias ultramarinas (dentre elas antes da proclamação da independência à 11 de 
Novembro de 1975, Angola) pela Portaria n.° 22 869, de 4 de Setembro de 1967, que continua em 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
Código de Processo Civil)5. São direitos gerais (todos deles gozam), extra-patrimoniais 
(embora as suas violações possam originar uma reparação em dinheiro, não têm, em si 
mesmo, valor pecuniário) e absolutos. Incidem os direitos de personalidade sobre a vida 
da pessoa6, a sua saúde física, a sua integridade física, a sua honra, a sua liberdade física e 
psicológica, o seu nome, a sua imagem, a reserva sobre a intimidade da sua vida privada, 
até ao repouso essencial à existência física, etc. É este um círculo de direitos necessários 
um conteúdo mínimo e imprescindível da esfera jurídica de cada pessoa. Em suma, os 
direitos de personalidade compõem uma categoria especial de direitos subjectivos, 
caracterizados por serem irrenunciáveis, imprescritíveis, relativamente disponíveis, 
ilimitáveis7, inexpropriáveis e intransmissíveis, tendo como objecto a protecção de 
aspectos da esfera particular do indivíduo, fundados na busca de maior efectividade ao 
princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
vigor no nosso ordenamento jurídico por força do disposto nas Leis Constitucionais anteriores e no 
artigo 239.° da actual Constituição que prescreve que, « O direito ordinário anterior à entrada em 
vigor da Constituição mantém-se desde que não seja contrário à Constituição». 
5 Código de Processo Civil aprovado pelo Decreto-lei n.° 44 129, de 28 de Dezembro de 
1961, com as alterações introduzidas pelo Decreto-lei n.° 47 690/67, de 11 de Maio, cuja extensão ao 
Ultramar foi feita pela Portaria n.° 23 090, de 26 de Dezembro de 1967. 
6 Importa frisar que a vida da pessoa humana é um bem supremo, a fonte de todos os direitos, 
e por isso mesmo de valor absoluto e inquestionável sendo em princípio o dano da sua perda 
incomensurável, todavia porque existe toda uma necessidade de compensar tal dano e portanto de o 
mensurar a sua quantificação obedece a critérios de equidade nos termos do n.° 3 do artigo 496.°; e do 
n.° 3 do artigo 566.°, ambos do Código Civil. 
7 Todavia, tal como ensina Carlos Alberto B. Burity da Silva, isto só é válido enquanto 
princípio geral, não repugnando que possam intervir circunstâncias que legitimem, e até exijam, 
determinadas limitações ou restrições práticas aos direitos de personalidade, como sejam: a própria 
natureza do bem da personalidade; as exigências da vida em comum (neste particular podemos citar 
como exemplo indubitável os encontrões no autocarro) ; a ponderação dos interesses em jogo e por 
último o consentimento do ofendido. Ora isto é fundamental em matéria dos direitos de personalidade, 
para se determinar onde e quando se pode afastar a ilicitude de certas lesões dos bens por eles 
protegidos. Vide, Carlos Alberto B. BURITY DA SILVA, Teoria Geral do Direito Civil, Edição da 
Faculdade de Direito da UAN, 2004, págs. 102-104, 
Ainda nesta senda e no que tanger a colisão de direitos resolvida fundamentalmente nos termos do 
artigo 335.°, sabido que tem havido frequentemente conflitos entre o direito à imagem e o direito à 
informação, entendemos que quando se tratar de uma matéria com relevante interesse público, o 
direito a informação prevalece sobre o direito à imagem como decorre fundamentalmente do artigo 
79.° do Código Civil. 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
Objectivo geral 
 
 
O objectivo geral deste trabalho de investigação é proceder a uma análise dos direitos 
subjectivos, seu regime jurídico proporcionando aos leitores visados um certo domínio sobre o 
tema. 
 
Objectivos específicos 
 
São entretanto objectivos específicos do trabalho a que nos propomos:● Analisar a problemática dos direitos subjectivos, dentro de um contexto de leis 
ordinárias, normas e princípios constitucionais visando a consolidação de uma 
cultura jurídica no seio da população angolana em geral e dos jovens em particular; 
● Responder essencialmente a três questões: 
a) O que são direitos subjectivos? 
b) Como podem e/ou devem ser exercitados? 
c) Quais os mecanismos jurídico-legais actuais de tutela dos mesmos na nossa 
Ordem jurídica? 
 
Metodologia 
Relativamente a metodologia empregada8para alcançarmos os resultados 
preconizados no presente trabalho, importa referir que durante a elaboração do mesmo 
utilizamos o método indutivo9, a técnica dos conceitos operacionais 10 e como técnica de 
pesquisa e recolha de dados utilizamos essencialmente a técnica bibliográfica11, 
permitindo-nos no final tecer importantes considerações e recomendações. 
A metodologia e a própria linguagem aqui adoptadas visam no essencial tornar a 
leitura do presente trabalho fácil e digerível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 "Na categoria metodologia estão implícitas duas categorias diferentes entre si: método de 
investigação e técnica " [PASOLD, Cesar Luis, Prática da pesquisa jurídica: ideias e ferramentas úteis 
para o pesquisador do direito, 5.ª Edição. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003. pág. 87]. 
9 Este método se consubstancia em "pesquisar e identificar as partes de um fenómeno e 
coleccioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral; ibidem, pág. 104. 
10 "Definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de 
que tal definição seja aceite para os efeitos das ideias expostas; ibidem, pág. 56. 
11 "Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e colectâneas legais"; 
ibidem, pág. 67. 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
CAPÍTULO I – A relação jurídica. Conceito 
 
 A vida social é vida de relações, ou seja, desenvolve-se através de contactos que se 
estabelecem entre os homens, criando entre si determinados vínculos, sobretudo numa 
sociedade politicamente organizada como é a nossa. Tem se dito que viver é conviver, e 
nesta medida a sã convivência humana pressupõe a existência de regras de 
comportamentos; ora dentre as variadíssimas relações sociais que se vão estabelecendo 
nem todas porém interessam ao Direito, interessando as vezes à Moral, a Ordem de trato 
social ou se quisermos à Cortesia e as vezes mesmo interessando apenas à Religião (v.g., as 
missas), sendo certo que todas essas ordens sociais normativas visam disciplinar as 
condutas humanas, as nossas condutas, fazendo-o de maneiras distintas e visando fins 
também distintos ou nem sempre iguais.12 
 As relações sociais que interessam ao Direito designamos por relações jurídicas. A 
expressão relação jurídica pode ser tomada num sentido amplo e num sentido restrito ou 
técnico. 
Num sentido amplo designa-se por relação jurídica toda a relação da vida social 
relevante para o Direito, isto é, produtora de efeitos jurídicos e, portanto, disciplinada 
pelo Direito. 
 Num sentido restrito ou técnico designa-se por relação jurídica toda a relação da 
vida social disciplinada pelo Direito, mediante atribuição à uma pessoa de um direito 
subjectivo e a imposição à outra pessoa de um dever jurídico ou de uma sujeição. 
1.1. Estrutura da relação jurídica 
 Na esteira de Carlos Alberto B. Burity da Silva, abordaremos a relação jurídica 
considerando o seu conteúdo, o seu cerne.13 Toda a relação jurídica existe entre sujeitos; 
incidirá normalmente sobre um objecto; promana de um facto jurídico; a sua efectivação 
pode fazer-se mediante recurso a providências coercitivas, adequadas a proporcionarem a 
satisfação correspondente ao sujeito activo da relação jurídica, isto é, a relação jurídica 
está dotada de garantia. Sujeitos, objecto, facto jurídico e garantia sãos os quatro 
elementos da relação jurídica, todavia, tais elementos não estão integrados na estrutura da 
relação por serem, de certo modo, quanto à relação, algo de exterior, que se situam nas 
suas extremidades, algo de periférico. 
 A estrutura da relação jurídica é o seu cerne: é o vínculo, o enlace, o nexo que existe 
entre os sujeitos, no cerne da relação jurídica estão, um direito subjectivo (lato senso), e 
um dever jurídico ou sujeição, estes dois institutos constituem a estrutura interna14, o 
conteúdo da relação jurídica. No presente trabalho curaremos do primeiro instituto, isto é 
do direito subjectivo, seu exercício e meios de tutela na nossa ordem jurídica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 "Temos, pois, que o Homem é um animal social, na expressão de S. Tomás de Aquino. 
Vive em sociedade: ubi homo, ibi societas… Cfr. Diogo Freitas do Amaral, Manual de Introdução ao 
Direito, vol. I, Almedina 2012, pág. 39 
13 SILVA, Carlos Alberto B. Burity da, ob. cit. págs. 190 e segs. 
14 A ser assim estamos a admitir que existe uma estrutura externa e a corroborar de certa 
forma a posição de alguns autores segundo a qual, sujeitos, objecto, facto jurídico e garantia, fazem 
parte da estrutura externa da relação jurídica, posição discutível mas que para nos só tem importância 
do ponto de vista académico. 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
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 CAPÍTULO II - Direito subjectivo 
 Conceito de direito subjectivo 
 
 A doutrina tem polemizado, «palavras do Professor Pedro Pais de Vasconcelos», 
acerca do conceito de direito subjectivo. Uma primeira orientação de cariz subjectivista e 
voluntarista, representada sobretudo por SAVIGNY e WINDSCHEID entende por 
direito subjectivo, um poder da vontade concedido e protegido pela ordem jurídica. Na 
Doutrina portuguesa, esta orientação é seguida por Mota Pinto que define o direito 
subjectivo como o " poder jurídico (reconhecido pela ordem jurídica à uma pessoa) de 
livremente exigir ou pretender de outrem um comportamento positivo (acção) ou 
negativo (omissão) ou de, por um acto da sua livre vontade, só de per si ou integrado por 
um acto de uma autoridade pública, produzir determinados efeitos jurídicos que 
inevitavelmente se impõem a outra pessoa (contraparte ou adversário) ". 
 Esta definição revela que a situação da pessoa, contra quem o titular do direito 
dirige o seu poder jurídico, é diferente: se se trata de exigir ou pretender, o adversário tem 
um dever jurídico; se o poder produz um efeito jurídico, está numa situação de sujeição. 
Entendido como o poder de exigir ou pretender, o direito subjectivo consiste no poder 
ou faculdade de domínio sobre bens materiais (v.g., o direito de propriedade sobre um 
automóvel, e imateriais (v.g., o direito de propriedade literária); e no poder de exigir uma 
determinada conduta, dita prestação. Ao poder de, mediante declaração unilateral (ou em 
alguns casos, através de decisão judicial) produzir efeitos jurídicos na esfera jurídica alheia 
chama-se direito potestativo. 
 Uma segunda orientação, com carácter objectivista, foi introduzida por JHERING. 
Critica a orientação anterior contra a qual argumenta que, se o direito subjectivo 
pressupõe uma vontade livre e esclarecida, não se compreende como podem aqueles que 
a não têm, crianças e os loucos, quer dizer, os incapazes, serem titulares de direitos 
subjectivos; o que é importante, no direito subjectivo, entende, é o interesse e a sua tutela. 
O direito subjectivo, numa fórmula que ficou célebre, é um interesse juridicamente 
protegido.15 
 A crítica à doutrina da vontade incorreu no erro de interpretar a vontade em 
sentido psicológico, a vontade psicológica, sem entender que aquela referência era feita à 
livre vontade, no sentido de livre arbítrio, quer dizer de liberdade. Neste sentido, a 
liberdadenão tem a ver com uma realidade psicológica, mas com uma concepção ética e 
política de liberdade individual humana, de raiz estóica, e com a ideia de autonomia. O 
direito subjectivo, na concepção voluntarista, como poder da vontade, está ligado à ideia 
de liberdade e de cidadania, dos quais participam também e igualmente as crianças e os 
loucos, enquanto pessoas. 
 Muitos autores tentaram sínteses das duas orientações. Nesta linha, pode 
considerar-se paradigmática a posição de José Tavares, quando defende que o direito 
subjectivo é o "poder jurídico do interesse". Na sua estrutura, segundo o autor, encontrar-
se-iam três elementos: "um interesse considerado de tal importância para a realização dos 
 
15 Não são também direitos subjectivos, os poderes jurídicos «strictu sensu» ou faculdades 
jurídicas (por exemplo a faculdade de contratar, de testar, de ocupar res nullius, etc.). Nestes casos 
não existem relações jurídicas (não há contraparte vinculada a um dever jurídico, em face de um 
direito de testar.) São manifestações imediatas da capacidade jurídica dos sujeitos de direito. 
Adopta-se neste caso uma definição do direito subjectivo que o apresenta como um poder jurídico, 
considerando o aspecto estrutural e não se referencia nessa noção de direito o lado funcional que se 
identifica com o interesse visado pelo direito subjectivo, interesse visto como o escopo, a finalidade 
do direito subjectivo, o que caracteriza a função do direito subjectivo, o que todavia não define a sua 
estrutura, pois que o direito subjectivo, é um mero instrumento ou meio ao serviço da realização desse 
fim; Tem se dito que, se a todo direito subjectivo corresponde um interesse humano, a inversa não é 
verdadeira, vide, Carlos Alberto B. Burity da Silva, ob. cit., págs. 192-193. 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 
 
fins da vida social, que se torna imprescindível assegurá-lo por uma forma eficaz"; " a sua 
garantia pelos meios judiciais competentes (acção) "; e "a sua atribuição a alguém que 
tenha poder de utilizar o interesse, ou em benefício próprio ou em benefício da 
colectividade." 
 Segundo Pedro Pais de Vasconcelos, esta polémica é acentuadamente estéril e 
sofreu dos defeitos do conceptualismo; deu mais importância aos conceitos e até às 
palavras do que a substância. Para uma melhor compreensão referente as críticas às 
doutrinas que procuram determinar a natureza dos direitos subjectivos, vide nota de 
rodapé.16 
I. O direito subjectivo como estrutura17 
 Numa visão estrutural, o direito subjectivo é composto de poderes e também, 
embora subordinadamente, de deveres; numa visão substancial, o direito subjectivo é 
funcionalmente dirigido à realização de fins das pessoas. A concepção do direito 
subjectivo como poder assente numa visão dominantemente estrutural; a concepção do 
direito subjectivo como interesse juridicamente protegido assenta numa visão substancial. 
O direito subjectivo pode conter poderes de gozo, poderes creditícios e poderes 
potestativos. Pode conter, embora apenas acessoriamente, deveres e ónus. 
II. O direito subjectivo como substância18 
 A substância do direito subjectivo prende-se com a realização de fins do seu titular, 
com os meios (bens) que servem de instrumento a essa realização, e com o modo como 
se alcança êxito na tarefa de conseguir que o titular do direito realize satisfatoriamente o 
seu fim. O direito subjectivo é substancialmente funcional, tem um sentido de utilidade 
que se perde se não tiver em atenção qual o fim do titular que deve realizar - ou contribuir 
para realizar com êxito, e o bem que vai ser afectado à realização desse fim. Nesta 
perspectiva, a substância do direito subjectivo resulta do nexo funcional existente entre 
uma tríade de realidades: a pessoa, o seu fim e o meio utilizado para o realizar. O êxito da 
satisfação do fim do titular do direito depende muito das circunstâncias, das dificuldades e 
ameaças que enfrenta, da natureza das coisas. Há circunstâncias físicas (entia physica), e há 
circunstâncias culturais, éticas e jurídicas (entia moralia) que têm influência na realização do 
fim do titular do direito. Enquanto substância o direito subjectivo resulta da afectação 
jurídica de meios – bens – à realização de fins do seu titular (funcionalidade), dentro das 
coordenadas axiológicas do sistema jurídico em que se insere (jus-eticidade). 
O direito estrutura-se e orienta-se como um instrumento de defesa de interesses. 
Nessa medida as normas jurídicas apresentam-se-nos como formas de composição de 
interesses, defendendo e tutelando certos interesses contra a pretensão de afirmação de 
outros (interesses), nas palavras lapidares do Professor Rui Ferreira «… a função, ou 
finalidade do direito subjectivo consiste, no fundo, nesse interesse ou conjunto de 
interesses em vista dos quais o direito subjectivo é conferido pelas normas jurídicas, isto 
é, na razão que levou a lei a atribuir esse direito ou, se preferirem, no interesse para cuja 
prevalência tal direito foi concedido». 19 
Exorta o mesmo autor que «a experiência mostra que não é labor fácil e imediato 
reconhecer o conteúdo ou finalidade de um direito subjectivo, isto é, o interesse em vista 
do qual ele foi concedido ou reconhecido; isto porque muito raramente o direito (a norma 
 
16 JUSTO, A. Santos, Introdução ao estudo do Direito, 6.ª Ed. Julho 2002, págs. 39-45. 
17 VASCONCELOS, Pedro Pais de Vasconcelos, Teoria Geral do Direito Civil, 5.ª Edição, 
Edições Almedina, 2008, pág. 256. 
18 Ibidem, pág. 260. 
19 Cfr. Revista n.° 1 da FDUAN, Luanda - Angola, Janeiro 2001, pág. 22-23 in «O princípio 
normativo do exercício dos direitos de acordo com o seu conteúdo e finalidade sociais - A questão do 
abuso de direito», artigo escrito pelo Professor Rui Ferreira. 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
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jurídica) afirma, de modo expresso e explícito, qual o interesse visado com a atribuição de 
certo direito subjectivo. Assim sendo, a captação do interesse visado carece do recurso a 
elementos de interpretação capazes e adequados para iluminarem o sentido das normas e 
permitirem aferir dos interesses que o legislador teve em vista ao reconhecer esse direito, 
ao fixar determinado regime. Nesse sentido hermenêutico, assume particular relevo a 
instrumentação interpretativa e integradora do nosso juscivile, assim como a adequada 
valoração do nosso projecto social e dos princípios informadores do direito civil, aqui, 
agora e pro-futuro». 
II.1 Natureza 
 O direito subjectivo traduz a exigência lógica duma concepção do mundo que é 
própria do individualismo. As suas raízes encontram-se no nominalismo sustentado por 
teólogos do século XIV, como Duns ESCOTO e sobretudo Guilherme de OCKHAM, 
mas foi nos séculos XVII e XVIII, com a Escola Racionalista do Direito Natural, que se 
afirmou a noção de direito subjectivo como faculdade ou poder inato do indivíduo, 
anterior à lei. Com o positivismo jurídico, deixou de ser uma categoria "fundante" e 
transformou-se numa categoria "fundada" num sistema de normas que caracteriza o 
ordenamento positivo. E, em consequência, define-se o direito subjectivo não como 
reconhecimento, mas sim como, atribuição por uma norma jurídica, duma faculdade ou 
poder. 
 A par da vigência (dialecticamente constituída pela validade e pela eficácia) como 
específico modo de existência do Direito, importa deixar breves notas sobre duas 
modalidades normativas muito importantes - duas categorias ou conceitos normativos 
irredutíveis e fundamentais, que modelam o universo jurídico-cultural ao nível 
constitutivo e que permitem tematizá-lo (hoc sensu, aborda-lo discursivamente). São essas 
categoriaso "direito objectivo" e o "direito subjectivo." 
A caracterização de uma e outra é muito simples. O direito objectivo corresponde à 
intelecção de um determinado corpus iuris como histórico-culturalmente constituendo ente 
fenoménico que aí está, traduzindo, portanto, a consideração da normatividade vigente 
enquanto ser que devém – enquanto ser cultural objectivamente subsistente e 
teoricamente deveniente20 (v.g., o Direito Angolano). Como objecto que aí está e nos opõe 
(Gegen-stand) o Direito angolano perfila-se diante de nós (de todos nós) e dirige-se-nos - 
somos seus destinatários -, organizando a nossa inter-relação societária. 
Todavia nós não somos apenas destinatários do Direito. Titulamos também direitos, 
que podemos usufruir e impor a outra (ou outras) pessoa (s) e de que temos mesmo 
legitimidade parar dispor. Estas importantes expressões do suum jurídico de cada um -da 
Domingas, do Julião, etc. -, que, na esfera da Common Law, se designam rights (sendo aí a 
expressão law reservada para o direito objectivo), identificam a categoria direito 
subjectivo. 
 Não cuidando de apurar se é a "teoria da vontade" ou a "teoria do interesse" aquela 
que o apreende em termos dogmaticamente mais rigorosos, apresentaremos de seguida, 
na esteira de SANTOS JUSTO o nosso conceito de direito subjectivo «em sentido 
estrito». 
 
 
 
 
 
 
 
20 BRONZE, Fernando José, Lições de introdução ao Direito, 2.ª Edição Reimpressão, Coimbra 
Editora, pág. 592 
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II.2 Direito subjectivo em sentido estrito (ou propriamente dito) 
 Direito subjectivo em sentido estrito, consiste na faculdade ou poder, que a ordem 
jurídica reconhece a uma pessoa, de exigir ou pretender de outra um determinado 
comportamento que pode ser positivo (facere) ou negativo (non facere). Contrapõe-se-lhe 
um dever jurídico.21 
II.2.1 Classificação dos direitos subjectivos 
 Depois de definirmos o que são direitos subjectivos torna-se indispensável para 
uma melhor compreensão do tema em abordagem, fazer-se uma breve distinção dos 
mesmos a partir de uma classificação proposta pela doutrina, assim sendo classificamos os 
direitos subjectivos em direitos: 
 Inatos e não inatos: são inatos os direitos que nascem com a pessoa que, por isso 
não precisa de os adquirir. Sucede com a generalidade dos direitos de personalidade. Não 
inatos são os restantes direitos subjectivos que se adquirem posteriormente ao 
nascimento, como o direito ao nome que é um direito de personalidade, que decorre do 
direito à identidade, constitucionalmente consagrado (vide artigo 32.° da CRA). 
 Pessoais e patrimoniais: são pessoais os direitos irredutíveis a valor pecuniário, 
como os direitos de personalidade. São patrimoniais os direitos susceptíveis de avaliação 
pecuniária, como a maioria dos direitos de crédito e reais. A sua expressão pecuniária 
justifica a indemnização dos danos causados, não sendo os direitos pessoais susceptíveis 
de avaliação pecuniária, chegou a entender-se que não eram indemnizáveis. Hoje porém, 
considera-se que devem ser reparados para compensação da dor (pretium doloris), cfr. artigo 
496.° do Código Civil que, todavia diz "indemnização", quando teria sido preferível que 
dissesse "compensação". 
 Direitos absolutos e relativos: os direitos absolutos são direitos de exclusão, 
impõem à generalidade das pessoas (erga omnes) o seu respeito e abstenção, a chamada 
obrigação passiva universal (v.g., os direitos de personalidade), Pelo contrário, os direitos 
relativos são direitos de colaboração, exigem a colaboração do devedor para a satisfação 
do direito do credor (v.g., os direitos de crédito). 
 Direitos de direcção, poderes - deveres ou poderes funcionais: são direitos 
acompanhados de deveres, o seu titular não é livre de exercer as inerentes faculdades ou 
poderes, é também obrigado a actuar, porque em causa estão interesses que não são 
apenas seus. Assim sucede com as responsabilidades do poder paternal, a tutela e o poder 
de direcção do empresário, que devem ser exercidos no interesse, respectivamente do 
filho, do pupilo e da empresa.22 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 JUSTO, A. Santos, ob. cit., pág. 46 
22 Só se nos depara um direito subjectivo quando o exercício do poder jurídico respectivo está 
dependente da vontade do seu titular. O sujeito do direito subjectivo é livre de o exercer ou não. Por 
isso o direito subjectivo é uma manifestação e um meio de actuação da autonomia privada, autonomia 
não por se criar um ordenamento a que fica submetido, como sucede com o negócio jurídico, mas 
como sinónimo de liberdade de actuação, de soberania do querer. 
Por falta dessa liberdade de actuação, por existir uma vinculação ao exercício dos poderes 
respectivos, não são autênticos direitos subjectivos os chamados poderes-deveres, poderes-funcionais 
ou direitos-devers. Vide, C. Alberto B. Burity da Silva, ob. cit., pág. 191. 
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II.3 Direito, liberdade e pluralismo 
 
 Sabido que "não há direito para os escravos…", reputamos importante tecer 
algumas notas hic et nunc sobre o valor liberdade (Direito e liberdade e, liberdade e 
pluralismo). Numa primeira aproximação ao tema da liberdade como fim do Direito, 
pode afirmar-se que a liberdade constitui a própria razão de ser do Direito23: Segundo 
HEGEL "a liberdade constitui a substância e o destino do Direito", encontrando-se o seu 
ponto de partida na vontade livre. O Direito é, por isso mesmo, ainda segundo HEGEL, 
a "liberdade em geral como ideia".24 
 Na realidade, o sentido e a razão de ser das normas jurídicas encontram-se na 
circunstância de o Homem ser livre: se não fosse livre o destinatário do Direito como se 
poderia ele motivar pelos modelos de conduta ou comportamentais resultantes destas 
normas? Qual o sentido da função de orientação social do Direito se o Homem não 
pudesse livremente escolher entre seguir ou não seguir esse mesmo modelo de conduta 
que lhe é imposto, permitido ou tolerado? 
 Como sugestivamente escreve A. CASTANHEIRA NEVES, "não há direito para 
os escravos, tal como não há para seres inteiramente disponíveis perante uma qualquer 
heteronomia e um qualquer domínio ou de que esteja ausente a liberdade da auto-
assunção ética e a autonomia responsabilizante" (in Princípio da Legalidade…, p. 391, 
citado por Paulo Otero, ob. cit. p. 221). Sendo a liberdade que permite ao Homem 
motivar-se no seu comportamento pelas normas jurídicas é essa mesma liberdade que 
justifica que o Homem seja sancionado sempre que agindo ao abrigo de tal liberdade, 
resolve afastar-se do modelo normativamente fixado em termos imperativos, encontra-se 
portanto na liberdade da respectiva vontade o fundamento último da obediência, da 
exigibilidade e da inerente responsabilidade perante o Direito. 
 Neste âmbito, a liberdade como fim do Direito, expressando a vinculação 
constitucional de construção pelo Estado de Direito democrático de uma sociedade mais 
livre, acaba por conduzir a um modelo de sociedade assente em três princípios estruturais: 
I. O respeito e a garantia dos direitos fundamentais dos particulares, 
designadamente através de um primado dos direitos, liberdades e garantias 
sobre os direitos económicos, sociais e culturais afirmando-se um princípio de 
Estado de direitos fundamentais; 
II. A afirmação de pluralismo político que, excluindo um modelo totalitário de 
Estado, tem por base a vontade popular e o pluralismo de expressão e 
organização política, segundo um modelo de democracia política de índole 
representativa e participativa, consubstanciando um princípio de Estado 
pluralista; 
III. A consagração de um sistema económicode mercado, segundo os postulados 
da liberdade de iniciativa económica e de organização empresarial no quadro da 
 
23 Por força do valor liberdade tem de se respeitar que, na medida do possível, cada ser 
humano decida sobre a sua vida (autodeterminação individual). Este valor tem como corolário o 
princípio da subsidiariedade que neste contexto, postula que só se justifique a regulação pelo Direito 
daqueles aspectos da vida social que, pela sua essencialidade ou especificidade, reclamam uma 
intervenção de órgãos públicos. Assim, o Direito não deverá regular aspectos da vida social e da vida 
privada que não careçam de regulação normativa nem aqueles em que a regulação pode ser 
suficientemente assegurada por outras ordens ou complexos normativos (espaço livre de Direito). Ver 
Miguel TEIXEIRA DE SOUSA - Introdução ao Direito, Coimbra, 2012 pág. 64 e segs., com mais 
desenvolvimento, António MENEZES CORDEIRO - Tratado de Direito Civil I, 4. Ed., Coimbra, 
2012, pág. 270 
24OTERO, Paulo, Lições de Introdução ao Estudo do Direito, I Vol. (I.° Tomo), Lisboa 1998, 
págs. 220 e segs. 
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concretização de um modelo económico-social baseado numa cláusula de bem-
estar e de coexistência entre três sectores de propriedade dos meios de 
produção, traduzindo um princípio de Estado de economia mista de bem-
estar.25 
 
II.4 O exercício dos direitos subjectivos26 
 Antes de passarmos ao cerne do presente subcapítulo, gostaríamos de reiterar 
embora não ipsis verbis, em atenção as razões de fundo porque entendemos por bem 
dedicar ao assunto uma atenção especial, sem desprimor d'outros temas, que o mesmo 
visa propiciar o desenvolvimento da consciência jurídica dos cidadãos, obrigando-os sob 
pena de sanções jurídicas, parafraseando o Professor Rui Ferreira a «assumir no exercício 
dos seus direitos uma atitude consciente e responsável, menos egoísta, menos 
individualista; e mais apostada na harmonização entre interesses individuais e interesses 
gerais». 
 Posto isto; dizer que direitos e exercício dos direitos são conceitos correlativos, 
abarcam a mesma realidade considerada em momentos distintos, isto é, o direito é a 
figura abstracta definida pela lei e exercício do direito é a actuação concreta, o 
comportamento ou o facto que realiza o conteúdo abstracto do direito. Os direitos são 
poderes abstractos definidos por lei, modelos de comportamento permitidos ao titular, 
mas, o exercício do direito é uma situação concreta27, o comportamento ou facto que 
realiza o direito. 
 O direito subjectivo confere ao seu titular uma série de poderes e faculdades 
jurídicas. É exactamente no uso dessas faculdades que consiste o exercício do direito, pois 
que o exercício do direito, como facto, se subsume necessariamente ao esquema legal. O 
exercício do direito subjectivo implica muitas vezes o contacto jurídico do titular com 
outras pessoas. Nos direitos relativos, esse contacto é necessário, é inevitável. O credor, 
por exemplo, exerce o seu direito perante o devedor. Nos direitos absolutos, o exercício 
do direito não exige contacto social, mas ele pode suceder e sucede frequentemente. O 
exercício concreto dos direitos subjectivos suscita problemas. As pessoas que são titulares 
do direito não estão sós no mundo, os direitos não se exercem isoladamente, pelo 
contrário o exercício dos direitos é feito no âmbito da sociedade, em que muitas pessoas 
coexistem e se relacionam, estando em permanente contacto social, em cooperação e as 
vezes mesmo em conflito. O contacto destas pessoas, no exercício dos direitos não se 
limita ao relacionamento intersubjectivo, de pessoas com pessoas, também a inserção das 
pessoas no mundo induz o contacto com as coisas e com as circunstâncias da vida. 
 Do contacto das pessoas umas com as outras e com as coisas, nas circunstâncias da 
vida, podem resultar (e resultam com alguma frequência) dificuldades que suscitam 
problemas no exercício dos direitos. Ora, a ordem jurídica dispõe de meios que viabilizam 
uma fruição conjunta e adequada do mundo que todos nós compartilhamos, 
apresentando-se, ora, como princípio de acção, prescrevendo critérios de fruição do 
 
25 OTERO, Paulo, ob. cit. pág. 224 
26 Exercício do direito - a) em sentido amplo existe sempre que o seu titular adopta um 
comportamento conforme com qualquer faculdade integrada no conteúdo do direito subjectivo, 
independentemente do modo por que o faça ou do fim que vise ; b) em sentido restrito e dado que o 
direito subjectivo envolve a ideia de poder jurídico, que se concretiza num conjunto de faculdades de 
agir, o exercício do direito vem a ser actuar essas faculdades em vista da realização do interesse do 
seu titular. Luís A. Carvalho Fernandes, Teor. Ger. Dir.1983, 2.ª edição, pág. 66. 
27 Por exemplo, viver, conviver, auto-determinar-se, locomover-se, casar, procriar, usar, fruir 
e dispor das próprias coisas, consumir bens de qualidade, exercer o direito de liberdade de expressão 
através de telefones, e-mails, redes sociais, imprensa, debater sobre assuntos do quotidiano, votar, ser 
eleito, etc. 
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mundo comum, ora, como critério de sanção, permitindo que esses critérios se realizem 
praticamente. Cada um de nós é sensibilizável ao nível dos deveres que lhe sejam 
juridicamente impostos, embora possa ser insensível ao nível do imperativo religioso ou 
dos imperativos do amor ou da cortesia. 
II.4.1 Contitularidade de direitos subjectivos 
 Os direitos subjectivos podem ter um titular individual, seja ele uma pessoa singular 
ou uma pessoa colectiva, mas podem também estar na titularidade de mais do que uma 
pessoa. Nestes casos, há contitularidade do direito subjectivo. O artigo 1404.° do Código 
Civil considera as regras da compropriedade aplicáveis, com as necessárias adaptações, à 
comunhão de quaisquer outros direitos. A compropriedade foi assim, escolhida como 
paradigma, o tipo padrão, da contitularidade de quaisquer direitos. 
 A sua aplicação deve ser feita com as necessárias adaptações, como o próprio artigo 
diz, isto é, analogicamente, considerando as semelhanças e diferenças, aferindo da 
relevância das diferenças e adaptando em conformidade o regime a aplicar. Em princípio, 
na falta de regras específicas na lei, é o regime da compropriedade que rege as demais 
modalidades de contitularidade de direitos subjectivos. 
II.5 Limites ao exercício dos direitos subjectivos 
 Cada direito tem limites da sua própria definição, isto é, os limites decorrentes das 
faculdades e outras situações jurídicas cujo conjunto integra o conteúdo do direito, 
desenhado pela lei ou eventualmente pelo negócio jurídico.28Algumas dessas directrizes 
respeitam a certas espécies de direitos, constituindo o que sói chamar-se limitações 
específicas ao seu exercício, mas ao lado delas há instruções genéricas, aplicáveis ao 
exercício de todo e qualquer direito e que representa também limitações a esse exercício, 
neste particular cita-se como exemplo a cláusula geral de limitação ao exercício dos 
direitos, consagrada no artigo 29.° da Declaração Universal dos Direitos do Homem 
(recebida pela nossa Constituição nos termos dos artigos 13.° e 26.°), cuja redacção é a 
seguinte "1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível 
o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade; 2. No exercício destes direitos e no 
gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com 
vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades 
dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, daordem pública e do bem-
estar numa sociedade democrática; 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão 
ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas". 
 Cita-se ainda a CRA (leia-se Constituição da República de Angola)29, nos seus arts. 
57.°, 58.° conjugados com as alíneas a) e b) do artigo 164.°, outrossim o artigo 205.° que 
prescreve o seguinte: "Aos agentes da segurança nacional no activo, nomeadamente 
militares, polícias e agentes, na estreita medida das exigências das suas condições 
funcionais, a lei pode estabelecer restrições à capacidade eleitoral passiva, bem como ao 
exercício dos direitos de expressão, reunião, manifestação, associação, greve, petição e 
outros de natureza análoga". Importa desde já, frisar que esta disposição constitucional 
não contradiz o preceituado no artigo 23.° da mesma Lei Magna que consagra o princípio 
da igualdade. 
 
28 Por outra via e nalguns casos pode ser crime, cfr. Código Penal de 1886 que dedica um 
capítulo aos crimes contra o exercício dos direitos políticos, artigo 199.° e segs. 
29 Vista e aprovada pela Assembleia Constituinte, aos 21 de Janeiro de 2010 e, na sequência 
do Acórdão do Tribunal Constitucional n.° 111/2010, de 30 de Janeiro, aos 3 de Fevereiro de 2010 e 
promulgada em 5 de Fevereiro de 2010, entrando em vigor no dia da sua publicação em Diário da 
Republica (artigo 238.°). 
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 Outra limitação genérica ao exercício de todo e qualquer direito consta do artigo 
334.° do Código Civil que disciplina o denominado abuso de direito.30 A fórmula "abuso 
de direito" desempenha em relação ao direito subjectivo um papel de controlo análogo ao 
do artigo 280.° do C.C perante o negócio jurídico. O direito subjectivo é, conjuntamente 
com o negócio jurídico, uma das principais manifestações da autonomia privada. No 
artigo 280.° do Código Civil estão consagrados os limites gerais da autonomia privada no 
que ao conteúdo do negócio jurídico diz respeito, ao passo que no artigo 334.°, os limites 
da autonomia privada no que concerne ao exercício de direitos subjectivos. 
 As limitações ao exercício de um direito podem ser intrínsecas e extrínsecas. São 
intrínsecas as que decorrem da própria definição do direito e extrínsecas as que decorrem 
de imposições de carácter genérico ou resultam de colisão de direitos, o Código Civil 
prevê expressamente a colisão de direitos no artigo 335.°, trata-se de uma limitação 
externa, em razão da coexistência de direitos de outrem, não sendo possível o exercício 
pleno de ambos em simultâneo.31 
II.5.1 Colisão de direitos 
 O exercício de direitos subjectivos por parte de várias pessoas suscita, por vezes, 
situações de conflito. Estes conflitos caracterizam-se por o exercício do direito de uma 
das pessoas isoladamente considerado, não ser compatível com o exercício do direito de 
outra pessoa, também isoladamente considerado. Estes casos não são raros. O exercício 
do direito a informar, constitucionalmente protegido no âmbito da liberdade de imprensa, 
colide frequentemente com o direito à honra, com o direito à reserva e intimidade da vida 
privada e familiar, ou com o direito à imagem, que também são direitos fundamentais. 
Sobre o assunto dispõe em geral ao artigo 335.° do Código Civil. Segundo Pedro Pais de 
Vasconcelos, as palavras da lei não são assim muito felizes, pelo que o artigo 335.° não 
deve ser interpretado à letra, mas antes interpretado e aplicado de acordo com a sua ratio. 
 Na esteira de Pedro Pais de Vasconcelos o sentido do artigo 335.° é o de distinguir 
situações em que os direitos em conflito podem ser hierarquizados e situações em que 
existe entre eles uma relação de paridade. A concretização do regime do artigo 335.° do 
Código Civil exige uma ponderação dos direitos em conflito. É mais um caso em que o 
símbolo da balança é representativo da justiça. A ponderação deve ser feita em concreto. 
Embora se possa dizer com alguma segurança, que um direito constitucional fundamental 
prevalece, em princípio, sobre um direito relativo comum, por exemplo, um crédito 
pecuniário, a resolução do conflito deve resultar de uma apreciação dos concretos direitos 
em colisão. Por exemplo em Portugal, os tribunais têm-se pronunciado no sentido geral 
da prevalência dos direitos de personalidade sobre os direitos meramente económicos. 
 
30 Menezes Leitão afirma tratar-se de uma cláusula geral de aplicação muito mais vasta do 
que apenas à responsabilidade civil, através da qual se procura estabelecer limites ao exercício das 
posições jurídicas que embora formalmente permitido, se apresenta como disfuncional ao sistema 
jurídico, quando contraria manifestamente vectores fundamentais do seu funcionamento. O artigo 
334.°, não se limita a abranger o exercício abusivo de direitos subjectivos, compreendendo igualmente 
outras posições jurídicas, incluindo as permissões genéricas de actuação como a autonomia privada ou 
o direito de acção judicial, vide, Luís Manuel Telles de Menezes Leitão, Direito da Obrigações, 
Volume I, Introd. da Constit. Das Obrigações, 2010, 9.ª Edição, Págs. 307-308. 
31 Os direitos devem entretanto serem exercitados, pois, a inércia do titular no exercício do 
direito conduz mais cedo ou mais tarde a sua perda salvo nos casos de direitos indisponíveis, isto 
porque o tempo, com o seu efeito estabilizador na titularidade de situações jurídicas, assenta além da 
clareza e segurança no tráfego jurídico também ao carácter funcional do direito subjectivo; o direito 
subjectivo deixa de ser justificado se o titular o não exercer por um longo período de tempo; o tempo 
enquanto facto jurídico natural (involuntário) contribui assim para a estabilidade do Direito (maxime 
Civil), através dos institutos da prescrição, caducidade, e o não uso, distinguidas no artigo 298.° do 
Código Civil. 
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 Se da ponderação concreta dos direitos em colisão não resultar a superioridade de 
um sobre o outro, "devem os titulares ceder na medida do necessário para que todos 
produzam igualmente o seu efeito, sem maior detrimento para qualquer das partes". Os 
titulares dos direitos em colisão deverão então cooperar no exercício de modo a que 
nenhum fique prejudicado em relação ao outro. Se não chegarem a um entendimento 
consensual, deverá o tribunal decidir e fixar o modo como deve ser harmonizado o 
exercício sem maior detrimento de um dos titulares em relação ao outro. 
II.5.2 Venire contra factum proprium 
 Através do princípio venire contra factum proprium pretende-se vedar que o sujeito 
obtenha um resultado, mesmo que conforme ao Direito, mas que está em flagrante 
contradição com a sua anterior conduta, e, como consequência, contrário a boa fé. O 
direito deve ser exercido sem frustrar expectativas32 criadas pelo seu titular. No exercício 
do direito o seu titular deve respeitar a fé (fides servare), deve evitar frustrar a confiança que 
tenha suscitado em outrem. Se por qualquer razão o titular do direito tiver agido activa ou 
passivamente de modo a criar em outrem uma confiança legítima relativa ao exercício do 
direito, não poderá frustrar essa confiança que tenha criado ou contribuído para criar. A 
frustração de expectativas criadas corresponde ao tipo doutrinário de má fé 
tradicionalmente designado como venire contra factum proprium. Este tipo de má fé assenta 
na inadmissibilidade de comportamentos contraditórios. Uma vez consolidada a 
 
32 Outra figura que não se confunde com os direitos subjectivos corresponde as chamadas 
expectativas jurídicas. «Na vidaquotidiana, as pessoas precisam de fazer previsões e assentam as suas 
decisões e comportamentos na antecipação presente de acontecimentos futuros. Não obstante a grande 
dificuldade e falibilidade da previsão do futuro, a vida e acção humanas não podem prescindir dela. É 
impossível planear algo de duradouro sem a formulação de previsões. A prognose é uma das 
características próprias da racionalidade humana. A expectativa é a situação em que se encontra uma 
pessoa que prevê e espera que algo venha a suceder. A expectativa distingue-se bem da percepção. 
Enquanto a percepção é actual e se projecta na actualidade, a expectativa é actual mas projecta-se no 
futuro. 
Há casos em que o Direito tutela expectativas. Trata-se normalmente de expectativas que são 
típicas e que correspondem a situações da vida, a posições típicas que são de tal modo fortes e que são 
de tal modo necessárias que merecem protecção jurídica antecipada e cautelar. Quando juridicamente 
protegidas, designam-se expectativas jurídicas. As expectativas jurídicas são posições jurídicas de 
vantagem, inerentes à afectação futura de bens, à realização futura de fins do seu titular, através da 
atribuição actual de poderes ao seu titular e da vinculação actual de terceiros, com o fim de evitar ou 
impedir a respectiva frustração ou detrimento. É paradigmática a expectativa jurídica do adquirente 
sob condição suspensiva e do alienante sob condição resolutiva regulada nos artigos 272.° e seguintes 
do Código Civil. Segundo o artigo 272.°, quem contrair uma obrigação ou alienar um direito sob 
condição suspensiva e quem adquirir um direito sob condição resolutiva, "deve agir, na pendência da 
condição segundo os ditames da boa fé, por forma a que não comprometa a integridade do direito da 
outra parte". A ratio leges é clara: enquanto se mantiver a possibilidade de o bem ou o direito virem a 
reverter para outrem, pelo funcionamento da condição, o titular actual não deve agir de modo a 
frustrar essa reversão. O eventual titular beneficia, assim, de uma protecção jurídica específica. Esta 
tutela não é apenas objectiva, não se restringe a uma vinculação do titular actual. O titular virtual pode 
agir contra ele e exigir-lhe o cumprimento dos deveres ali consagrados. Há uma tutela directa de 
interesses do titular da expectativa. 
Tem sido discutida a natureza da expectativa jurídica. Em geral, há consciência de que a 
expectativa é temporalmente anterior ao direito a que corresponde. Surge associada a caso em que a 
constituição ou aquisição do direito se traduz num processo, num facto complexo de produção 
sucessiva. Antes de completa a constituição ou aquisição do direito, na sua completude, existe já uma 
tutela directa, com uma inerente afectação de meios à realização de fins do seu titular. Concordamos, 
pois com OLIVEIRA ASCENSÃO, quando conclui que a expectativa jurídica, embora não represente 
a realização antecipada de um trecho do conteúdo do direito subjectivo a que se refere, "cai 
interinamente no âmbito do direito subjectivo, como afectação individual, concreta e destinada a criar 
um espaço de autonomia."» Cfr. Pedro Pais de Vasconcelos, ob. cit., págs. 289-290 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
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confiança e a expectativa - a fé - e desde que essa consolidação da confiança seja 
imputável ao titular do direito, a brusca inflexão de atitude é contrária à boa fé. 
 No nosso Direito, o venire contra factum proprium deve ser considerado um princípio 
geral de direito, que deriva de um princípio geral universalmente reconhecido: o da boa 
fé, que, impõe um dever de lealdade, lisura e correcção nas relações jurídicas. 
 Como a vida social, é uma vida de relação, isto é, desenvolve-se através de 
contactos, que se estabelecem entre sujeitos, criando-se vínculos, que quando relevam 
para o Direito, este intervém e a regula, tornando-a em relação jurídica, importa reiterar e 
realçar que toda a relação jurídica tem uma estrutura (interna) que é o seu cerne, isto é, o 
vínculo, o elo entre os sujeitos; ora apesar de o nosso tema cingir-se fundamentalmente 
ao exercício dos direitos subjectivos e a sua tutela, não é despiciendo reiterar hic et nunc 
que a estrutura interna da relação jurídica é integrada por um direito subjectivo (lato senso), 
e por um dever jurídico ou por uma sujeição, sempre. 
 
I. CAPÍTULO III - A tutela do direito 
O Aparelho estadual de coacção 
 O Direito não vive apenas pelas pessoas, vive para as pessoas, disse Hermogeniano: 
hominum causa omne ius constitutum est. A República de Angola promove e defende os 
direitos e liberdades fundamentais do homem, quer como indivíduo, quer como membro 
de grupos sociais organizados, e assegura o respeito e a garantia da sua efectivação pelos 
poderes legislativo, executivo, e judicial, seus órgãos e instituições, bem como por todas 
as pessoas singulares e colectivas.33 Assim proclama o n.º 2 do artigo 2.° da CRA, cuja 
epígrafe é «Estado democrático de direito». E com esta pretensão a Lei Suprema e 
Fundamental da República de Angola, promulgada a 5 de Fevereiro de 2010, consagra de 
fio a pavio importantes direitos, liberdades e garantias fundamentais, atribuindo-lhes a 
devida força jurídica e faz disso prova o n.º 1 º do artigo 28.º da CRA, prescrevendo que, 
«Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias 
fundamentais são directamente aplicáveis e vinculam todas as entidades públicas e 
privadas». 
 O sistema jurídico estadual caracteriza-se pela sua coercibilidade, definida ex professo 
pelo Professor JOSÉ OLIVEIRA ASCENSÃO, não como a susceptibilidade de aplicação 
coactiva da regra, mas como a susceptibilidade de aplicação coactiva final de sanções com 
expressão física, se as regras forem violadas; a sanção como sabemos em si, não é um 
facto, como consequência desfavorável a sanção é um efeito jurídico, conteúdo de uma 
regra jurídica cuja previsão é a violação de uma regra de conduta. 
 O aparelho estadual angolano é complexo: nele se compreendem tanto a Jurisdição 
como a Administração, aquela corresponde ao Poder Judicial, esta ao designado Poder 
Executivo (Poder este, unipessoal nos termos do n.º 1 do artigo 108.° da CRA), todavia 
quando se trata de aparelho de coacção propriamente dito, nos acodem à lembrança 
instituições como os tribunais, as penitenciárias, as várias Polícias e, em último as Forças 
Armadas Angolanas, tudo isto para significar que, a observância da ordem jurídica, ou as 
 
33 E como a personalidade jurídica se adquire com o nascimento completo e com vida (cfr. o 
n.º 1 do artigo 66.° do Código Civil), quando ainda somos designados de recém-nascidos, nascidos 
regra geral no seio de uma família, é de capital importância, dizer que, o legislador constituinte 
prescreve que cabe à Família, ao Estado e a sociedade, proteger os direitos da criança, que constituem 
prioridade absoluta, (cfr. o n.º 6 do artigo 35.° e artigo 81.° ambos da CRA),o que denota bem a 
determinante preocupação do nosso Estado em proteger os direitos das pessoas (cidadãos). 
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sanções correspondentes à sua violação, podem serem impostas pela força, se for 
necessário podem mesmo ser imposta manu militari (pelo recurso às forças armadas).34 
3.1 Direitos e garantias 
 Dispõe a nossa Constituição no seu artigo 56.°, sob a epígrafe «Garantia geral do 
Estado», na Secção II, atinente a Garantia dos direitos e liberdades fundamentais que: «1. 
O Estado reconhece como invioláveis os direitos e liberdades fundamentais consagrados 
na Constituição e cria as condições políticas, económicas, sociais, culturais, de paz e 
estabilidade que garantem a sua efectivação e protecção, nos termos da Constituiçãoe da 
lei. 2. Todas as autoridades públicas têm o dever de respeitar e de garantir o livre exercício 
dos direitos e liberdades fundamentais e o cumprimento dos deveres constitucionais e 
legais». 
 Nenhuma validade prática têm (ou teriam) os direitos subjectivos se não se 
efectivarem (efectivassem) determinadas garantias em sua protecção, segundo Attilio 
Brunialtti, as garantias protegem e amparam o exercício dos direitos do Homem. Os 
direitos e as garantias são prerrogativas que possibilitam uma série de condições mínimas 
indispensáveis para uma convivência pacífica e salutar numa sociedade livre, justa, 
democrática, de igualdade e de progresso social (como a que queremos construir, vide 
artigo 1.°, 2.ª parte da CRA), entretanto estes institutos não são sinónimos, segundo o 
Professor brasileiro LUÍS FLÁVIO GOMES, o direito é uma norma de conteúdo 
declaratório e a garantia por sua vez é uma norma de conteúdo assecutório, que serve 
para assegurar o direito declarado. 
 Segundo o Professor J.J GOMES CANOTILHO, rigorosamente as clássicas 
garantias são também direitos, embora muitas vezes se salientasse nelas o carácter 
instrumental de protecção dos direitos. As garantias traduziam-se quer no direito dos 
cidadãos a exigir dos poderes públicos a protecção dos direitos, quer no reconhecimento 
de meios processuais adequados a essa finalidade (direito de acesso aos tribunais para 
defesa dos direitos - artigo 29.°/1 , princípios do nullum crimen sine lege e nulla poena sine 
crimen - artigo 65.°/1, direito de habeas corpus - artigo 69.°, princípio non bis in idem - artigo 
65.°/5, todos da CRA. A garantia do acesso aos tribunais , configura uma concretização 
do princípio estruturante do Estado de direito. 
 Os direitos subjectivos dos particulares estão não só garantidos contra a violação 
por parte de outros particulares como também por parte do próprio Estado e demais 
pessoas colectivas públicas, por acções e omissões praticadas pelos seus o órgãos, 
respectivos titulares, agentes e funcionários, no exercício das funções legislativa, 
jurisdicional e administrativa, o particular cujo direito foi violado adquire um direito de 
indemnização contra o Estado e as demais pessoas colectivas públicas (cfr. artigo 75.° da 
CRA; a alínea b) do artigo 71.°, e a alínea b) do artigo 72.°, estes dois últimos do Código 
de Processo Civil ).35 
 No que tanger aos direitos económicos, sociais e culturais (direitos conferidos aos 
cidadãos pelas constituições modernas e consagrados na nossa Constituição pelos artigo 
76.° e seguintes), que não sendo tutelados pela via de atribuição de um direito ou 
pretensão que possa ser efectivamente exercida pela via judicial, ou cuja violação possa 
 
34 É visível e evidente que a produção jurídico-normativa na nossa realidade dimana 
sobretudo dos órgãos do Estado (Parlamento e Executivo) que desempenham a função legislativa, (o 
primeiro por excelência, o segundo não), e da mesma forma é incontestável que a aplicação das 
normas jurídicas aos casos concretos é feita principalmente pelo Poder executivo (mormente pela 
Administração militar e paramilitar, tributária, etc.) e, nas situações litigiosas pelos Tribunais 
estaduais. 
35 É certo que o conhecimento, por cada pessoa, dos seus próprios direitos, permite que, 
facilmente se reivindique o seu exercício e a sua aplicação subjectiva. Maria do Carmo Medina, 
Direito de Família, 1.ª Edição, 2011, Escolar Editora, pág. 20. 
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dar lugar a um direito de indemnização eventualmente dirigido contra o próprio Estado 
ou contra a Administração (assim é no que respeita ao direito à saúde, à habitação, ao 
trabalho, ao ambiente sadio, e qualidade de vida ), não são tutelados com a mesma 
eficácia que os direitos subjectivos patrimoniais (ou pessoais: direitos de personalidade). A 
garantia ou a concretização de tais direitos depende essencialmente da evolução 
económica e da acção do Estado, muito embora a sua consagração constitucional 
implique desde logo certa garantia de estabilidade daqueles que, de certo modo, já 
conseguiram a sua concretização (legislação favorecendo a estabilidade da relação de 
arrendamento, da relação laboral, etc.), nos dizeres do Professor JOÃO BAPTISTA 
MACHADO. 
3.1.1 Direitos fundamentais e garantias institucionais 
 Os direitos fundamentais são os direitos do Homem, jurídico-institucionalmente 
garantidos e limitados espácio-temporalmente; são os direitos objectivamente vigentes 
numa ordem jurídica concreta (a angolana por exemplo).36Os direitos fundamentais 
referem-se àqueles direitos dos seres humanos que são reconhecidos no âmbito do 
Direito constitucional de um determinado Estado (carácter nacional), e que não se 
confundem com os direitos humanos pois estes aspiram à validade universal, ou seja são 
inerentes a todo o ser humano como tal e a todos os povos em todos os tempos, sendo 
reconhecidos pelo Direito Internacional e tendo portanto validade independentemente da 
sua positivação em uma determinada ordem constitucional (carácter transnacional e /ou 
supranacional).37 
 Direitos fundamentais vs garantias institucionais é uma distinção da doutrina alemã. 
As chamadas garantias institucionais (Einrichtungsgarantien) compreendiam as garantias 
jurídico-públicas (Institutionnelle garantien) e as garantias jurídico-privadas (Instituts garantien). 
Embora muitas vezes estejam consagradas e protegidas pelas leis constitucionais, elas não 
seriam verdadeiros direitos atribuídos directamente a uma pessoa; as instituições, como 
tais, têm um sujeito e um objecto diferente dos direitos dos cidadãos. Assim a 
maternidade, a família, a Administração, a imprensa livre, o funcionalismo público, a 
autonomia académica, são instituições protegidas directamente como realidades sociais 
 
36 Direitos fundamentais - são os direitos ou as posições jurídicas subjectivas das pessoas 
enquanto tais, individual ou institucionalmente consideradas, assentes na Constituição. Admite dois 
sentidos - o formal e o material. Em sentido formal, é toda a posição jurídica subjectiva da pessoa, 
enquanto consagrada na lei fundamental. Em sentido material, são os direitos declarados, 
estabelecidos, atribuídos pelo legislador constituinte pura e simplesmente, os direitos resultantes da 
concepção da Constituição dominante da ideia do direito, de sentido jurídico colectivo, e ainda 
quaisquer outros direitos constantes da lei (entendendo-se esta em sentido amplo) e das regras de 
direito internacional, aqueles e estas que, pela sua finalidade e função ou pela sua projecção ou pelo 
modo de consagração, ofereçam analogia com os que se acham constitucionalmente estabelecidos 
(Jorge Miranda, Dir. Constitucional, liç., 1980). 
Grande parte dos direitos fundamentais tem carácter civil ou político (também chamados 
direitos de 1.ª geração). Os direitos civis, são os que decorrem da livre actuação dos indivíduos em 
sociedade, isolada ou colectivamente; no que toca aos direitos civis «segundo o Professor Marcelo 
Rebelo de Sousa, o Estado deve respeitar o espaço de autonomia dos cidadãos no gozo e no exercício 
daqueles direitos - trata-se de uma posição deste essencialmente passiva», vêm consagrados na nossa 
Constituição, no artigo 30.° e segs, por exemplo o direito à vida, o direito a constituir família, direito à 
liberdade de expressão e informação,, etc. 
Os direitos políticos, são os que atribuem aos cidadãos o poder de cooperarem na vida 
estadual, no exercício de funções públicas, ou de manifestarem a própria vontade para a formação da 
vontade colectiva, por exemplo o direito de votar - artigo 54.°, direito de acesso aos cargos públicos - 
artigo 53.°, todos da CRA. Os direitos civis e políticos surgem imbuídos das ideias jusnaturalistase 
correspondem a um ciclo histórico que se prolonga até à 2.ª Guerra Mundial. 
37 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6.ª Ed. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2006, pág. 35 e 36, citado em Wikipédia, a Enciclopédia livre. 
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objectivas e só, indirectamente, se expandem para a protecção dos direitos individuais. 
Contudo o duplo carácter atribuído aos direitos fundamentais - individual e institucional – 
faz com que hoje, por exemplo, o direito a constituir família (artigo 37.°/2 da CRA) se 
deva considerar indissociável da protecção da instituição família como tal (artigo 1.°, 
Título I do Código da Família aprovado pela Lei n.º 1/88, de 20 de Fevereiro). Sob o 
ponto de vista da protecção jurídica constitucional, as garantias institucionais não 
garantem aos particulares posições subjectivas autónomas e daí a inaplicabilidade do 
regime dos direitos, liberdades e garantias. 
 Exceptuam-se os casos de imbricação de garantias institucionais e de garantias dos 
direitos fundamentais (por exemplo é praticamente indissociável a protecção do direito de 
liberdade de imprensa, da protecção da instituição imprensa livre). 
Chegados até aqui é fácil perceber que dos quatro elementos da relação jurídica, para o 
tema em análise assumem particular importância (o que justifica o seu realce ou ênfase no 
presente trabalho) os sujeitos e a garantia. 
 O sujeito de direitos (ou de obrigações) ou mais rigorosamente sujeito jurídico é 
toda entidade que seja de facto sujeito de relações jurídicas (sujeito activo, sujeito 
passivo). 
 Passando à garantia dizer que, o Estado procura assegurar o respeito das normas 
jurídicas, muitas delas conferidoras de direitos subjectivos, através de providências 
sancionatórias que importam em último termo o emprego da força de que ele dispõe 
(coação); não são raras as vezes que o Estado por intermédio dos tribunais age com este 
intuito, quando não seja observado o comportamento legalmente prescrito. 
 As providências sancionatórias a adoptar pelo Estado por intermédio dos tribunais, 
Polícia, etc., destinam-se a dar efectividade aos poderes do titular do direito subjectivo e 
ao dever jurídico que lhe corresponde, permitindo àquele titular fazer valer o seu direito 
mesmo que o obrigado não queira cumprir espontaneamente, ou fazer impor ao obrigado 
negligente ou relutante sanções adequadas, de tal modo que o temor delas contribua para 
que, em geral, a relação jurídica se desenvolva pacificamente. São tais providências que 
constituem a garantia da relação jurídica. 
 Posto isto, importa dizer que regra geral o titular do direito ofendido ou ameaçado 
não deve agir contra o infractor ou o obrigado prevaricador mediante a sua própria força, 
ou seja não pode usar de violência para obter a satisfação, o de qualquer modo se ressarcir 
ou se compensar do injusto prejuízo sofrido. Não pode fazer justiça por suas mãos. Não 
pode recorrer às vias de facto. Está proibida no nosso ordenamento jurídico, à parte 
excepções muito limitadas (como havemos de ver), a auto-defesa do direito. O Estado 
chamou a si, para o exercitar através dos seus órgãos, maxime os tribunais o monopólio da 
defesa da ordem jurídica e portanto dos direitos subjectivos e de quaisquer outros 
interesses protegidos pelo Direito objectivo, quando tal defesa importe o uso da força, 
note entretanto que no domínio do Direito Privado o Estado em vez de proceder por sua 
iniciativa (ex officio) tem de aguardar a que o titular do direito ou interesse protegido 
solicite a sua intervenção, formulando perante eles a correspondente pretensão. Diz-se 
que o titular propõe uma acção, que assim se pode definir como a pretensão de tutela 
jurídica deduzida em juízo. 
 
 
 
 
 
 
O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana 
 
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3.2 Meios de tutela jurídica 
 São essencialmente duas as distinções comummente salientadas sobre os meios de 
tutela do direito: heterotutela (ou tutela pública) e autotutela (ou tutela privada), por um 
lado, tutela preventiva e tutela repressiva, por outro lado. 
3.2.1 Tutela pública e tutela privada 
 Em princípio cabe ao Estado a realização dos actos de coerção destinados a 
prevenir ou a sancionar a violação das normas jurídicas. Consagra a nossa Carta Magna 
no seu artigo 29.°, o princípio do acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva, 
prescrevendo no seu n.° 1 o seguinte: "A todos é assegurado o acesso ao direito e aos 
Tribunais para a defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo 
a justiça ser denegada por insuficiência dos meios económicos".38 
 E neste diapasão dispõe o artigo 1.° do Código de Processo Civil que «a ninguém é 
lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, salvo nos 
casos e dentro dos limites declarados na lei». E o artigo 2.° do mesmo Código dispõe que 
«a todo o direito, excepto quando a lei determine o contrário, corresponde a acção 
adequada a fazê-lo reconhecer em juízo, a prevenir ou reparar a violação dele e a realizá-
lo coercivamente, bem como os procedimentos necessários para acautelar o efeito útil da 
acção». 
 A tutela feita pelo aparelho do Estado (cuja estrutura não é inteiramente 
homogénea) designa-se por tutela pública, diz-se heterotutela porque tem por fim a tutela 
de direitos alheios. A tutela pública traduz-se numa garantia dos direitos subjectivos, 
conferindo-lhes uma consistência prática, constitui a situação normal dos dia de hoje, mas 
importa referir que é fruto duma longa evolução que acompanhou o progresso cultural 
humano.39 
 Nas sociedades primitivas não havia Estado e, por conseguinte, não havia direito 
material em rigoroso sentido técnico-jurídico. Não havia por isso regras de processo, 
tribunais e uma justiça institucionalizada tal como a concebemos hoje. Nos tempos mais 
recuados, a justiça, sempre que o ofendido se julgava em condições de a aplicar, fazia-se 
por reacção instintiva, por retaliação, ódio ou vingança, sempre a título privado em 
sistema de auto-tutela. A justiça era uma questão individual.40 
 Historicamente, o Estado tende a chamar a si a jurisdição. 
 Nos últimos (dois últimos) séculos atinge-se a especialização da função 
jurisdicional, como função do Estado. Criam-se os tribunais, como órgãos imparciais e 
especializados, incumbidos do exercício dessa função.41 Dispõe a nossa Constituição no 
n.º 2 do artigo 174.° que «no exercício da função jurisdicional compete aos Tribunais 
dirimir conflitos de interesses público ou privado, assegurar a defesa dos direitos e 
interesses legalmente protegidos…», Ora a tutela pública faz-se fundamentalmente através 
da intervenção dos tribunais que são na nossa ordem jurídica, os órgãos de soberania com 
a competência de administrar a justiça em nome do povo, nos termos do n.°1 do artigo 
174.° da CRA, daí falar-se de tutela ou garantia judiciária. Para a defesa dos direitos, cita-
se ainda a Procuradoria-Geral da República (artigo 189.° da CRA), o Provedor de Justiça 
(artigo 192.° da CRA), a Ordem dos Advogados (artigo 193.° e segs. da CRA). 
 
38 Cfr., outrossim os artigos 73.°, 74.°, 195.°, 196.°, todos da CRA. 
39 JUSTO, A. Santos Justo, ob. cit., págs. 166-167. 
40Vasco A. Grandão Ramos, Direito Processual Penal, Noções Fundamentais, Colecção 
Faculdade de Direito-UAN. 6.ª Edição, pág. 17 
41 Nos últimos tempos, por influência exterior, há um movimento contrário, pelo que apela 
para a arbitragem e para outros meios alternativos ou extra-judiciais de resolução de litígios relativos a 
direitos disponíveis, vide o n.° 4, do artigo 174.° da CRA, e a Lei n.º 16/3, de 25 de Julho-Lei da 
Arbitragem voluntária. 
O exercício e tutela dos

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