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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO FACULDADE DE DIREITO O EXERCÍCIO E TUTELA DOS DIREITOS SUBJECTIVOS NA ORDEM JURÍDICA ANGOLANA Estudante: Valdano Afonso Cabenda Pedro Área de especialidade: Ciências Jurídico-Civis TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO APRESENTADO À FACULDADE DE DIREITO DAUNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO CADEIRA DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Luanda 2013 O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA Índice Dedicatória Agradecimentos Resumo Siglas e Abreviaturas Tema Delimitação do objecto Justificação INTRODUÇÃO 1. O exercício e a tutela dos direitos subjectivos Objectivo geral Objectivos específicos Metodologia CAPÍTULO I – A relação jurídica. Conceito 1.1. Estrutura da relação jurídica CAPÍTULO II - Direito subjectivo Conceito de direito subjectivo I. O direito subjectivo como estrutura II. O direito subjectivo como substância 2.1 Natureza 2.2 Direito subjectivo em sentido estrito (ou propriamente dito) 2.2.1 Classificação dos direitos subjectivos 2.3 Direito, liberdade e pluralismo 2.4 O exercício dos direitos subjectivos 2.4.1 Contitularidade de direitos subjectivos 2.5 Limites ao exercício dos direitos subjectivos 2.5.1 Colisão de direitos 2.5.2 Venire contra factum proprium CAPÍTULO III - A tutela do direito O Aparelho estadual de coacção 3.1 Direitos e garantias 3.1.1 Direitos fundamentais e garantias institucionais 3.2 Meios de tutela jurídica 3.2.1 Tutela pública e tutela privada 3.2.2 Manifestações de tutela privada 3.3 Tutela preventiva 3.4 Tutela repressiva Considerações finais Recomendações Bibliografia Legislação consultada O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA «Promover o direito aos direitos ou a democratização do direito torna-se imperativo ainda mais urgente na conjuntura actual das leis e perante a chamada sociedade da informação.» Professor JORGE MIRANDA (Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 4.ª edição Coimbra Editora) «O conhecimento, por cada pessoa, dos seus próprios direitos, permite que, facilmente se reivindique o seu exercício e a sua aplicação subjectiva.» Professora MARIA DO CARMO MEDINA (Manual de Direito de Família, 1.ª Edição, 2011, Escolar Editora, pág. 20.) O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA Aos meus colegas (os primeiranistas no Curso de Licenciatura em Direito em particular). O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA Agradecimentos A Deus Todo-poderoso, meu criador; à minha querida e inestimável mãe Domingas Smith Cabenda por tudo que tem feito em prol da minha formação; ao Professor Dr. Graciano Kalucango, nosso mestre, pelo incentivo à realização do presente trabalho, em vista a melhoria de nota. O meu muito obrigado! O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA Resumo O presente trabalho cujo tema é «o exercício e tutela dos direitos subjectivos na ordem jurídica angolana», elaborado com o fito de servir para melhoria da minha nota na disciplina de Introdução ao Estudo do Direito, disciplina do 1.° Ano na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, se propõe apresentar de forma descritiva e exploratória, a formatação da estrutura constitucional e legal de protecção dos direitos subjectivos, levando o leitor (visado) a perceber como funcionam os mecanismos actuais de tutela jurídica dos direitos subjectivos. Através de um roteiro propedêutico que se inicia com um preliminar aclaramento do conceito e estrutura da relação jurídica, do conceito de direitos subjectivos, procuraremos analisar os direitos subjectivos, principais elementos de natureza histórica, configuração, exercício e tutela na ordem jurídica angolana. Na verdade, o reconhecimento de per si dos direitos, de pouco vale se o Direito não munir as pessoas de instrumentos que lhes permitam assegurar a dignidade a que tem direito, ora, é disso que entre linhas procuraremos abordar em três capítulos, sem a menor intenção de esgotarmos o tema, o que nem de perto nem de longe seria possível num trabalho com reduzido número de páginas. Palavras-chave: direitos subjectivos, relação jurídica, meios de tutela jurídica. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA Summary The present work entitled ' The exercise and guardianship of the subjective rights in the Angolan legal order ', elaborated with the aim of serving to improve my note in the discipline of introduction to the study of law, discipline of the 1st year at the Faculty of Law of the Agostinho Neto University, proposes to present in a descriptive and exploratory manner, the formatting of the constitutional structure and legal protection of subjective rights by taking the reader (targeted) to understand how the current mechanisms of legal guardianship are functioning. Through a introductory roadmap that begins with a preliminary clarification of the concept and structure of the legal relationship, the concept of subjective rights, we will seek to analyze the subjective rights, main elements of historical nature, configuration, exercise and guardianship in the Angolan legal order. In fact, the recognition of per si of rights, of little is worth if the right does not equip the people of instruments to ensure the dignity of which they are entitled, now, that is what we are going to be discussing in three chapters, without the slightest intention of exhausting the theme, which neither close nor far would be possible in a small number of pages. Keywords: subjective rights, legal relationship, means of legal guardianship. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA Siglas e Abreviaturas Al. - Alínea C.C - Código Civil CRA - Constituição da República de Angola. Cap. - Capítulo. Cfr. - Confira ou confronte Ed. - Edição Etc. - Et caetera FDUAN - Faculdade de Direito – Universidade Agostinho Neto I.é - Isto é. N.º - Número. Ob.cit.- Obra citada Pág. - Página Segs. - Seguintes Vol. - Volume V.g. - Verbi gratia O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA INTRODUÇÃO 1. O exercício e a tutela dos direitos subjectivos Como ficou dito e porque sói dizer-se que a primeira forma de defesa dos direitos é a que consiste no seu conhecimento (sem desprimor obviamente dos "não menos importantes" deveres e de outras vinculações que sobre eles impendam, constituindo como que a sua contraface). Movidos por este ensinamento trazemos à liça no presente trabalho elaborado em vista a melhoria de nota (finalidade precípua, ao que se segue a inevitável consequente galvanização do nosso espírito de investigação cientifica, obrigação incontornável de todo estudantede Direito que se preze) a problemática atinente ao exercício e a tutela dos direitos subjectivos na nossa ordem jurídica.1 Posto isto, julgamos ser digna de nota introdutória frisar que, a dignidade da pessoa humana é o ponto de partida de todo ordenamento jurídico e com o nosso ordenamento em particular não podia ser diferente. A dignidade da pessoa humana implica que a cada ser humano sejam atribuídos direitos por ela justificados e impostos, que assegurem esta dignidade na vida social. Toda pessoa pode ser titular de relações jurídicas e nisso consiste a sua personalidade ou a qualidade de ser sujeito de direito2; todo sujeito de direito não só pode ser, como é efectivamente, titular de alguns direitos e obrigações3, mesmo que no domínio patrimonial lhe não pertençam por hipótese quaisquer direitos - o que é praticamente inconcebível -, sempre a pessoa é titular de um número de direitos absolutos, que se impõem ao respeito de todos os outros, incidindo sobre os vários modos de ser físicos ou morais da sua personalidade. São os chamados direitos de personalidade (Cfr. arts. 70.° e segs. do Código Civil,4 articulado com o artigo 1474.° do 1 Um dos factores essenciais para a tutela efectiva dos direitos que a ordem jurídica reconhece e/ou confere é o conhecimento dos mesmos e dos meios de tutela existentes. Ora, movido pelo compromisso patriótico de contribuir para a formação e consolidação de uma cultura jurídica forte, procuramos neste trabalho fazer uma abordagem clara e objectiva do tema; aos meus concidadãos em particular aos leigos em Direito aqui está a minha singela contribuição. 2 A personalidade jurídica consiste na aptidão para ser-se titular autónomo de relações jurídicas, esta adquirir-se nos termos do n.° 1 do artigo 66.°, Título II - Relações Jurídicas, Subtítulo I - Das pessoas, Capitulo I - Pessoas Singulares do Código Civil, "no momento do nascimento completo e com vida". A personalidade é assim uma qualidade: a qualidade de ser pessoa. É uma qualidade que o direito se limita a constatar e respeitar e que não pode ser ignorada ou recusada, é uma exigência que decorre da sua própria dignidade, a dignidade humana, reza o artigo 6.° da a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10 de Dezembro de 1948 que, «Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica». Como pessoas ou sujeitos de direito não são única e exclusivamente os seres humanos, existindo em paralelo as pessoas colectivas (vide arts.° 157.° e segs. do Código Civil), centros de uma esfera jurídica própria, vimos por meio desta nota, dizer que o presente trabalho pretende abordar o tema em atenção ao ser humano, isto é, dando-lhe primazia. Vale dizer que, sendo, a pessoa dotada do atributo personalidade jurídica, está ela apta a figurar no pólo activo de uma relação jurídica, reclamando ao aparelho estatal protecção para os direitos ameaçados de lesão ou efectivamente lesados, bem como pode figurar no pólo passivo, sendo demandada a cumprir deveres assumidos perante a ordem jurídica. 3 No presente trabalho abordaremos fundamentalmente os direitos subjectivos, isto é, as situações jurídicas activas segundo alguns autores, e nãos as situações jurídicas passivas (isto é, das sujeições, deveres ou obrigações dos particulares) pois entendemos que a liberdade (direito) constitui um prius que dispõe de primazia face à responsabilidade (dever), cônscios entretanto, que mais do que reivindicar e exercitar direitos devemos cumprir os correspectivos deveres, bem como os demais deveres, alguns fundamentais por sinal. 4 Código Civil aprovado pelo Decreto-lei n.° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, tornado extensivo às províncias ultramarinas (dentre elas antes da proclamação da independência à 11 de Novembro de 1975, Angola) pela Portaria n.° 22 869, de 4 de Setembro de 1967, que continua em O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA Código de Processo Civil)5. São direitos gerais (todos deles gozam), extra-patrimoniais (embora as suas violações possam originar uma reparação em dinheiro, não têm, em si mesmo, valor pecuniário) e absolutos. Incidem os direitos de personalidade sobre a vida da pessoa6, a sua saúde física, a sua integridade física, a sua honra, a sua liberdade física e psicológica, o seu nome, a sua imagem, a reserva sobre a intimidade da sua vida privada, até ao repouso essencial à existência física, etc. É este um círculo de direitos necessários um conteúdo mínimo e imprescindível da esfera jurídica de cada pessoa. Em suma, os direitos de personalidade compõem uma categoria especial de direitos subjectivos, caracterizados por serem irrenunciáveis, imprescritíveis, relativamente disponíveis, ilimitáveis7, inexpropriáveis e intransmissíveis, tendo como objecto a protecção de aspectos da esfera particular do indivíduo, fundados na busca de maior efectividade ao princípio da dignidade da pessoa humana. vigor no nosso ordenamento jurídico por força do disposto nas Leis Constitucionais anteriores e no artigo 239.° da actual Constituição que prescreve que, « O direito ordinário anterior à entrada em vigor da Constituição mantém-se desde que não seja contrário à Constituição». 5 Código de Processo Civil aprovado pelo Decreto-lei n.° 44 129, de 28 de Dezembro de 1961, com as alterações introduzidas pelo Decreto-lei n.° 47 690/67, de 11 de Maio, cuja extensão ao Ultramar foi feita pela Portaria n.° 23 090, de 26 de Dezembro de 1967. 6 Importa frisar que a vida da pessoa humana é um bem supremo, a fonte de todos os direitos, e por isso mesmo de valor absoluto e inquestionável sendo em princípio o dano da sua perda incomensurável, todavia porque existe toda uma necessidade de compensar tal dano e portanto de o mensurar a sua quantificação obedece a critérios de equidade nos termos do n.° 3 do artigo 496.°; e do n.° 3 do artigo 566.°, ambos do Código Civil. 7 Todavia, tal como ensina Carlos Alberto B. Burity da Silva, isto só é válido enquanto princípio geral, não repugnando que possam intervir circunstâncias que legitimem, e até exijam, determinadas limitações ou restrições práticas aos direitos de personalidade, como sejam: a própria natureza do bem da personalidade; as exigências da vida em comum (neste particular podemos citar como exemplo indubitável os encontrões no autocarro) ; a ponderação dos interesses em jogo e por último o consentimento do ofendido. Ora isto é fundamental em matéria dos direitos de personalidade, para se determinar onde e quando se pode afastar a ilicitude de certas lesões dos bens por eles protegidos. Vide, Carlos Alberto B. BURITY DA SILVA, Teoria Geral do Direito Civil, Edição da Faculdade de Direito da UAN, 2004, págs. 102-104, Ainda nesta senda e no que tanger a colisão de direitos resolvida fundamentalmente nos termos do artigo 335.°, sabido que tem havido frequentemente conflitos entre o direito à imagem e o direito à informação, entendemos que quando se tratar de uma matéria com relevante interesse público, o direito a informação prevalece sobre o direito à imagem como decorre fundamentalmente do artigo 79.° do Código Civil. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA Objectivo geral O objectivo geral deste trabalho de investigação é proceder a uma análise dos direitos subjectivos, seu regime jurídico proporcionando aos leitores visados um certo domínio sobre o tema. Objectivos específicos São entretanto objectivos específicos do trabalho a que nos propomos:● Analisar a problemática dos direitos subjectivos, dentro de um contexto de leis ordinárias, normas e princípios constitucionais visando a consolidação de uma cultura jurídica no seio da população angolana em geral e dos jovens em particular; ● Responder essencialmente a três questões: a) O que são direitos subjectivos? b) Como podem e/ou devem ser exercitados? c) Quais os mecanismos jurídico-legais actuais de tutela dos mesmos na nossa Ordem jurídica? Metodologia Relativamente a metodologia empregada8para alcançarmos os resultados preconizados no presente trabalho, importa referir que durante a elaboração do mesmo utilizamos o método indutivo9, a técnica dos conceitos operacionais 10 e como técnica de pesquisa e recolha de dados utilizamos essencialmente a técnica bibliográfica11, permitindo-nos no final tecer importantes considerações e recomendações. A metodologia e a própria linguagem aqui adoptadas visam no essencial tornar a leitura do presente trabalho fácil e digerível. 8 "Na categoria metodologia estão implícitas duas categorias diferentes entre si: método de investigação e técnica " [PASOLD, Cesar Luis, Prática da pesquisa jurídica: ideias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, 5.ª Edição. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003. pág. 87]. 9 Este método se consubstancia em "pesquisar e identificar as partes de um fenómeno e coleccioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral; ibidem, pág. 104. 10 "Definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceite para os efeitos das ideias expostas; ibidem, pág. 56. 11 "Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e colectâneas legais"; ibidem, pág. 67. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA CAPÍTULO I – A relação jurídica. Conceito A vida social é vida de relações, ou seja, desenvolve-se através de contactos que se estabelecem entre os homens, criando entre si determinados vínculos, sobretudo numa sociedade politicamente organizada como é a nossa. Tem se dito que viver é conviver, e nesta medida a sã convivência humana pressupõe a existência de regras de comportamentos; ora dentre as variadíssimas relações sociais que se vão estabelecendo nem todas porém interessam ao Direito, interessando as vezes à Moral, a Ordem de trato social ou se quisermos à Cortesia e as vezes mesmo interessando apenas à Religião (v.g., as missas), sendo certo que todas essas ordens sociais normativas visam disciplinar as condutas humanas, as nossas condutas, fazendo-o de maneiras distintas e visando fins também distintos ou nem sempre iguais.12 As relações sociais que interessam ao Direito designamos por relações jurídicas. A expressão relação jurídica pode ser tomada num sentido amplo e num sentido restrito ou técnico. Num sentido amplo designa-se por relação jurídica toda a relação da vida social relevante para o Direito, isto é, produtora de efeitos jurídicos e, portanto, disciplinada pelo Direito. Num sentido restrito ou técnico designa-se por relação jurídica toda a relação da vida social disciplinada pelo Direito, mediante atribuição à uma pessoa de um direito subjectivo e a imposição à outra pessoa de um dever jurídico ou de uma sujeição. 1.1. Estrutura da relação jurídica Na esteira de Carlos Alberto B. Burity da Silva, abordaremos a relação jurídica considerando o seu conteúdo, o seu cerne.13 Toda a relação jurídica existe entre sujeitos; incidirá normalmente sobre um objecto; promana de um facto jurídico; a sua efectivação pode fazer-se mediante recurso a providências coercitivas, adequadas a proporcionarem a satisfação correspondente ao sujeito activo da relação jurídica, isto é, a relação jurídica está dotada de garantia. Sujeitos, objecto, facto jurídico e garantia sãos os quatro elementos da relação jurídica, todavia, tais elementos não estão integrados na estrutura da relação por serem, de certo modo, quanto à relação, algo de exterior, que se situam nas suas extremidades, algo de periférico. A estrutura da relação jurídica é o seu cerne: é o vínculo, o enlace, o nexo que existe entre os sujeitos, no cerne da relação jurídica estão, um direito subjectivo (lato senso), e um dever jurídico ou sujeição, estes dois institutos constituem a estrutura interna14, o conteúdo da relação jurídica. No presente trabalho curaremos do primeiro instituto, isto é do direito subjectivo, seu exercício e meios de tutela na nossa ordem jurídica. 12 "Temos, pois, que o Homem é um animal social, na expressão de S. Tomás de Aquino. Vive em sociedade: ubi homo, ibi societas… Cfr. Diogo Freitas do Amaral, Manual de Introdução ao Direito, vol. I, Almedina 2012, pág. 39 13 SILVA, Carlos Alberto B. Burity da, ob. cit. págs. 190 e segs. 14 A ser assim estamos a admitir que existe uma estrutura externa e a corroborar de certa forma a posição de alguns autores segundo a qual, sujeitos, objecto, facto jurídico e garantia, fazem parte da estrutura externa da relação jurídica, posição discutível mas que para nos só tem importância do ponto de vista académico. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA CAPÍTULO II - Direito subjectivo Conceito de direito subjectivo A doutrina tem polemizado, «palavras do Professor Pedro Pais de Vasconcelos», acerca do conceito de direito subjectivo. Uma primeira orientação de cariz subjectivista e voluntarista, representada sobretudo por SAVIGNY e WINDSCHEID entende por direito subjectivo, um poder da vontade concedido e protegido pela ordem jurídica. Na Doutrina portuguesa, esta orientação é seguida por Mota Pinto que define o direito subjectivo como o " poder jurídico (reconhecido pela ordem jurídica à uma pessoa) de livremente exigir ou pretender de outrem um comportamento positivo (acção) ou negativo (omissão) ou de, por um acto da sua livre vontade, só de per si ou integrado por um acto de uma autoridade pública, produzir determinados efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem a outra pessoa (contraparte ou adversário) ". Esta definição revela que a situação da pessoa, contra quem o titular do direito dirige o seu poder jurídico, é diferente: se se trata de exigir ou pretender, o adversário tem um dever jurídico; se o poder produz um efeito jurídico, está numa situação de sujeição. Entendido como o poder de exigir ou pretender, o direito subjectivo consiste no poder ou faculdade de domínio sobre bens materiais (v.g., o direito de propriedade sobre um automóvel, e imateriais (v.g., o direito de propriedade literária); e no poder de exigir uma determinada conduta, dita prestação. Ao poder de, mediante declaração unilateral (ou em alguns casos, através de decisão judicial) produzir efeitos jurídicos na esfera jurídica alheia chama-se direito potestativo. Uma segunda orientação, com carácter objectivista, foi introduzida por JHERING. Critica a orientação anterior contra a qual argumenta que, se o direito subjectivo pressupõe uma vontade livre e esclarecida, não se compreende como podem aqueles que a não têm, crianças e os loucos, quer dizer, os incapazes, serem titulares de direitos subjectivos; o que é importante, no direito subjectivo, entende, é o interesse e a sua tutela. O direito subjectivo, numa fórmula que ficou célebre, é um interesse juridicamente protegido.15 A crítica à doutrina da vontade incorreu no erro de interpretar a vontade em sentido psicológico, a vontade psicológica, sem entender que aquela referência era feita à livre vontade, no sentido de livre arbítrio, quer dizer de liberdade. Neste sentido, a liberdadenão tem a ver com uma realidade psicológica, mas com uma concepção ética e política de liberdade individual humana, de raiz estóica, e com a ideia de autonomia. O direito subjectivo, na concepção voluntarista, como poder da vontade, está ligado à ideia de liberdade e de cidadania, dos quais participam também e igualmente as crianças e os loucos, enquanto pessoas. Muitos autores tentaram sínteses das duas orientações. Nesta linha, pode considerar-se paradigmática a posição de José Tavares, quando defende que o direito subjectivo é o "poder jurídico do interesse". Na sua estrutura, segundo o autor, encontrar- se-iam três elementos: "um interesse considerado de tal importância para a realização dos 15 Não são também direitos subjectivos, os poderes jurídicos «strictu sensu» ou faculdades jurídicas (por exemplo a faculdade de contratar, de testar, de ocupar res nullius, etc.). Nestes casos não existem relações jurídicas (não há contraparte vinculada a um dever jurídico, em face de um direito de testar.) São manifestações imediatas da capacidade jurídica dos sujeitos de direito. Adopta-se neste caso uma definição do direito subjectivo que o apresenta como um poder jurídico, considerando o aspecto estrutural e não se referencia nessa noção de direito o lado funcional que se identifica com o interesse visado pelo direito subjectivo, interesse visto como o escopo, a finalidade do direito subjectivo, o que caracteriza a função do direito subjectivo, o que todavia não define a sua estrutura, pois que o direito subjectivo, é um mero instrumento ou meio ao serviço da realização desse fim; Tem se dito que, se a todo direito subjectivo corresponde um interesse humano, a inversa não é verdadeira, vide, Carlos Alberto B. Burity da Silva, ob. cit., págs. 192-193. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA fins da vida social, que se torna imprescindível assegurá-lo por uma forma eficaz"; " a sua garantia pelos meios judiciais competentes (acção) "; e "a sua atribuição a alguém que tenha poder de utilizar o interesse, ou em benefício próprio ou em benefício da colectividade." Segundo Pedro Pais de Vasconcelos, esta polémica é acentuadamente estéril e sofreu dos defeitos do conceptualismo; deu mais importância aos conceitos e até às palavras do que a substância. Para uma melhor compreensão referente as críticas às doutrinas que procuram determinar a natureza dos direitos subjectivos, vide nota de rodapé.16 I. O direito subjectivo como estrutura17 Numa visão estrutural, o direito subjectivo é composto de poderes e também, embora subordinadamente, de deveres; numa visão substancial, o direito subjectivo é funcionalmente dirigido à realização de fins das pessoas. A concepção do direito subjectivo como poder assente numa visão dominantemente estrutural; a concepção do direito subjectivo como interesse juridicamente protegido assenta numa visão substancial. O direito subjectivo pode conter poderes de gozo, poderes creditícios e poderes potestativos. Pode conter, embora apenas acessoriamente, deveres e ónus. II. O direito subjectivo como substância18 A substância do direito subjectivo prende-se com a realização de fins do seu titular, com os meios (bens) que servem de instrumento a essa realização, e com o modo como se alcança êxito na tarefa de conseguir que o titular do direito realize satisfatoriamente o seu fim. O direito subjectivo é substancialmente funcional, tem um sentido de utilidade que se perde se não tiver em atenção qual o fim do titular que deve realizar - ou contribuir para realizar com êxito, e o bem que vai ser afectado à realização desse fim. Nesta perspectiva, a substância do direito subjectivo resulta do nexo funcional existente entre uma tríade de realidades: a pessoa, o seu fim e o meio utilizado para o realizar. O êxito da satisfação do fim do titular do direito depende muito das circunstâncias, das dificuldades e ameaças que enfrenta, da natureza das coisas. Há circunstâncias físicas (entia physica), e há circunstâncias culturais, éticas e jurídicas (entia moralia) que têm influência na realização do fim do titular do direito. Enquanto substância o direito subjectivo resulta da afectação jurídica de meios – bens – à realização de fins do seu titular (funcionalidade), dentro das coordenadas axiológicas do sistema jurídico em que se insere (jus-eticidade). O direito estrutura-se e orienta-se como um instrumento de defesa de interesses. Nessa medida as normas jurídicas apresentam-se-nos como formas de composição de interesses, defendendo e tutelando certos interesses contra a pretensão de afirmação de outros (interesses), nas palavras lapidares do Professor Rui Ferreira «… a função, ou finalidade do direito subjectivo consiste, no fundo, nesse interesse ou conjunto de interesses em vista dos quais o direito subjectivo é conferido pelas normas jurídicas, isto é, na razão que levou a lei a atribuir esse direito ou, se preferirem, no interesse para cuja prevalência tal direito foi concedido». 19 Exorta o mesmo autor que «a experiência mostra que não é labor fácil e imediato reconhecer o conteúdo ou finalidade de um direito subjectivo, isto é, o interesse em vista do qual ele foi concedido ou reconhecido; isto porque muito raramente o direito (a norma 16 JUSTO, A. Santos, Introdução ao estudo do Direito, 6.ª Ed. Julho 2002, págs. 39-45. 17 VASCONCELOS, Pedro Pais de Vasconcelos, Teoria Geral do Direito Civil, 5.ª Edição, Edições Almedina, 2008, pág. 256. 18 Ibidem, pág. 260. 19 Cfr. Revista n.° 1 da FDUAN, Luanda - Angola, Janeiro 2001, pág. 22-23 in «O princípio normativo do exercício dos direitos de acordo com o seu conteúdo e finalidade sociais - A questão do abuso de direito», artigo escrito pelo Professor Rui Ferreira. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA jurídica) afirma, de modo expresso e explícito, qual o interesse visado com a atribuição de certo direito subjectivo. Assim sendo, a captação do interesse visado carece do recurso a elementos de interpretação capazes e adequados para iluminarem o sentido das normas e permitirem aferir dos interesses que o legislador teve em vista ao reconhecer esse direito, ao fixar determinado regime. Nesse sentido hermenêutico, assume particular relevo a instrumentação interpretativa e integradora do nosso juscivile, assim como a adequada valoração do nosso projecto social e dos princípios informadores do direito civil, aqui, agora e pro-futuro». II.1 Natureza O direito subjectivo traduz a exigência lógica duma concepção do mundo que é própria do individualismo. As suas raízes encontram-se no nominalismo sustentado por teólogos do século XIV, como Duns ESCOTO e sobretudo Guilherme de OCKHAM, mas foi nos séculos XVII e XVIII, com a Escola Racionalista do Direito Natural, que se afirmou a noção de direito subjectivo como faculdade ou poder inato do indivíduo, anterior à lei. Com o positivismo jurídico, deixou de ser uma categoria "fundante" e transformou-se numa categoria "fundada" num sistema de normas que caracteriza o ordenamento positivo. E, em consequência, define-se o direito subjectivo não como reconhecimento, mas sim como, atribuição por uma norma jurídica, duma faculdade ou poder. A par da vigência (dialecticamente constituída pela validade e pela eficácia) como específico modo de existência do Direito, importa deixar breves notas sobre duas modalidades normativas muito importantes - duas categorias ou conceitos normativos irredutíveis e fundamentais, que modelam o universo jurídico-cultural ao nível constitutivo e que permitem tematizá-lo (hoc sensu, aborda-lo discursivamente). São essas categoriaso "direito objectivo" e o "direito subjectivo." A caracterização de uma e outra é muito simples. O direito objectivo corresponde à intelecção de um determinado corpus iuris como histórico-culturalmente constituendo ente fenoménico que aí está, traduzindo, portanto, a consideração da normatividade vigente enquanto ser que devém – enquanto ser cultural objectivamente subsistente e teoricamente deveniente20 (v.g., o Direito Angolano). Como objecto que aí está e nos opõe (Gegen-stand) o Direito angolano perfila-se diante de nós (de todos nós) e dirige-se-nos - somos seus destinatários -, organizando a nossa inter-relação societária. Todavia nós não somos apenas destinatários do Direito. Titulamos também direitos, que podemos usufruir e impor a outra (ou outras) pessoa (s) e de que temos mesmo legitimidade parar dispor. Estas importantes expressões do suum jurídico de cada um -da Domingas, do Julião, etc. -, que, na esfera da Common Law, se designam rights (sendo aí a expressão law reservada para o direito objectivo), identificam a categoria direito subjectivo. Não cuidando de apurar se é a "teoria da vontade" ou a "teoria do interesse" aquela que o apreende em termos dogmaticamente mais rigorosos, apresentaremos de seguida, na esteira de SANTOS JUSTO o nosso conceito de direito subjectivo «em sentido estrito». 20 BRONZE, Fernando José, Lições de introdução ao Direito, 2.ª Edição Reimpressão, Coimbra Editora, pág. 592 O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA II.2 Direito subjectivo em sentido estrito (ou propriamente dito) Direito subjectivo em sentido estrito, consiste na faculdade ou poder, que a ordem jurídica reconhece a uma pessoa, de exigir ou pretender de outra um determinado comportamento que pode ser positivo (facere) ou negativo (non facere). Contrapõe-se-lhe um dever jurídico.21 II.2.1 Classificação dos direitos subjectivos Depois de definirmos o que são direitos subjectivos torna-se indispensável para uma melhor compreensão do tema em abordagem, fazer-se uma breve distinção dos mesmos a partir de uma classificação proposta pela doutrina, assim sendo classificamos os direitos subjectivos em direitos: Inatos e não inatos: são inatos os direitos que nascem com a pessoa que, por isso não precisa de os adquirir. Sucede com a generalidade dos direitos de personalidade. Não inatos são os restantes direitos subjectivos que se adquirem posteriormente ao nascimento, como o direito ao nome que é um direito de personalidade, que decorre do direito à identidade, constitucionalmente consagrado (vide artigo 32.° da CRA). Pessoais e patrimoniais: são pessoais os direitos irredutíveis a valor pecuniário, como os direitos de personalidade. São patrimoniais os direitos susceptíveis de avaliação pecuniária, como a maioria dos direitos de crédito e reais. A sua expressão pecuniária justifica a indemnização dos danos causados, não sendo os direitos pessoais susceptíveis de avaliação pecuniária, chegou a entender-se que não eram indemnizáveis. Hoje porém, considera-se que devem ser reparados para compensação da dor (pretium doloris), cfr. artigo 496.° do Código Civil que, todavia diz "indemnização", quando teria sido preferível que dissesse "compensação". Direitos absolutos e relativos: os direitos absolutos são direitos de exclusão, impõem à generalidade das pessoas (erga omnes) o seu respeito e abstenção, a chamada obrigação passiva universal (v.g., os direitos de personalidade), Pelo contrário, os direitos relativos são direitos de colaboração, exigem a colaboração do devedor para a satisfação do direito do credor (v.g., os direitos de crédito). Direitos de direcção, poderes - deveres ou poderes funcionais: são direitos acompanhados de deveres, o seu titular não é livre de exercer as inerentes faculdades ou poderes, é também obrigado a actuar, porque em causa estão interesses que não são apenas seus. Assim sucede com as responsabilidades do poder paternal, a tutela e o poder de direcção do empresário, que devem ser exercidos no interesse, respectivamente do filho, do pupilo e da empresa.22 21 JUSTO, A. Santos, ob. cit., pág. 46 22 Só se nos depara um direito subjectivo quando o exercício do poder jurídico respectivo está dependente da vontade do seu titular. O sujeito do direito subjectivo é livre de o exercer ou não. Por isso o direito subjectivo é uma manifestação e um meio de actuação da autonomia privada, autonomia não por se criar um ordenamento a que fica submetido, como sucede com o negócio jurídico, mas como sinónimo de liberdade de actuação, de soberania do querer. Por falta dessa liberdade de actuação, por existir uma vinculação ao exercício dos poderes respectivos, não são autênticos direitos subjectivos os chamados poderes-deveres, poderes-funcionais ou direitos-devers. Vide, C. Alberto B. Burity da Silva, ob. cit., pág. 191. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA II.3 Direito, liberdade e pluralismo Sabido que "não há direito para os escravos…", reputamos importante tecer algumas notas hic et nunc sobre o valor liberdade (Direito e liberdade e, liberdade e pluralismo). Numa primeira aproximação ao tema da liberdade como fim do Direito, pode afirmar-se que a liberdade constitui a própria razão de ser do Direito23: Segundo HEGEL "a liberdade constitui a substância e o destino do Direito", encontrando-se o seu ponto de partida na vontade livre. O Direito é, por isso mesmo, ainda segundo HEGEL, a "liberdade em geral como ideia".24 Na realidade, o sentido e a razão de ser das normas jurídicas encontram-se na circunstância de o Homem ser livre: se não fosse livre o destinatário do Direito como se poderia ele motivar pelos modelos de conduta ou comportamentais resultantes destas normas? Qual o sentido da função de orientação social do Direito se o Homem não pudesse livremente escolher entre seguir ou não seguir esse mesmo modelo de conduta que lhe é imposto, permitido ou tolerado? Como sugestivamente escreve A. CASTANHEIRA NEVES, "não há direito para os escravos, tal como não há para seres inteiramente disponíveis perante uma qualquer heteronomia e um qualquer domínio ou de que esteja ausente a liberdade da auto- assunção ética e a autonomia responsabilizante" (in Princípio da Legalidade…, p. 391, citado por Paulo Otero, ob. cit. p. 221). Sendo a liberdade que permite ao Homem motivar-se no seu comportamento pelas normas jurídicas é essa mesma liberdade que justifica que o Homem seja sancionado sempre que agindo ao abrigo de tal liberdade, resolve afastar-se do modelo normativamente fixado em termos imperativos, encontra-se portanto na liberdade da respectiva vontade o fundamento último da obediência, da exigibilidade e da inerente responsabilidade perante o Direito. Neste âmbito, a liberdade como fim do Direito, expressando a vinculação constitucional de construção pelo Estado de Direito democrático de uma sociedade mais livre, acaba por conduzir a um modelo de sociedade assente em três princípios estruturais: I. O respeito e a garantia dos direitos fundamentais dos particulares, designadamente através de um primado dos direitos, liberdades e garantias sobre os direitos económicos, sociais e culturais afirmando-se um princípio de Estado de direitos fundamentais; II. A afirmação de pluralismo político que, excluindo um modelo totalitário de Estado, tem por base a vontade popular e o pluralismo de expressão e organização política, segundo um modelo de democracia política de índole representativa e participativa, consubstanciando um princípio de Estado pluralista; III. A consagração de um sistema económicode mercado, segundo os postulados da liberdade de iniciativa económica e de organização empresarial no quadro da 23 Por força do valor liberdade tem de se respeitar que, na medida do possível, cada ser humano decida sobre a sua vida (autodeterminação individual). Este valor tem como corolário o princípio da subsidiariedade que neste contexto, postula que só se justifique a regulação pelo Direito daqueles aspectos da vida social que, pela sua essencialidade ou especificidade, reclamam uma intervenção de órgãos públicos. Assim, o Direito não deverá regular aspectos da vida social e da vida privada que não careçam de regulação normativa nem aqueles em que a regulação pode ser suficientemente assegurada por outras ordens ou complexos normativos (espaço livre de Direito). Ver Miguel TEIXEIRA DE SOUSA - Introdução ao Direito, Coimbra, 2012 pág. 64 e segs., com mais desenvolvimento, António MENEZES CORDEIRO - Tratado de Direito Civil I, 4. Ed., Coimbra, 2012, pág. 270 24OTERO, Paulo, Lições de Introdução ao Estudo do Direito, I Vol. (I.° Tomo), Lisboa 1998, págs. 220 e segs. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA concretização de um modelo económico-social baseado numa cláusula de bem- estar e de coexistência entre três sectores de propriedade dos meios de produção, traduzindo um princípio de Estado de economia mista de bem- estar.25 II.4 O exercício dos direitos subjectivos26 Antes de passarmos ao cerne do presente subcapítulo, gostaríamos de reiterar embora não ipsis verbis, em atenção as razões de fundo porque entendemos por bem dedicar ao assunto uma atenção especial, sem desprimor d'outros temas, que o mesmo visa propiciar o desenvolvimento da consciência jurídica dos cidadãos, obrigando-os sob pena de sanções jurídicas, parafraseando o Professor Rui Ferreira a «assumir no exercício dos seus direitos uma atitude consciente e responsável, menos egoísta, menos individualista; e mais apostada na harmonização entre interesses individuais e interesses gerais». Posto isto; dizer que direitos e exercício dos direitos são conceitos correlativos, abarcam a mesma realidade considerada em momentos distintos, isto é, o direito é a figura abstracta definida pela lei e exercício do direito é a actuação concreta, o comportamento ou o facto que realiza o conteúdo abstracto do direito. Os direitos são poderes abstractos definidos por lei, modelos de comportamento permitidos ao titular, mas, o exercício do direito é uma situação concreta27, o comportamento ou facto que realiza o direito. O direito subjectivo confere ao seu titular uma série de poderes e faculdades jurídicas. É exactamente no uso dessas faculdades que consiste o exercício do direito, pois que o exercício do direito, como facto, se subsume necessariamente ao esquema legal. O exercício do direito subjectivo implica muitas vezes o contacto jurídico do titular com outras pessoas. Nos direitos relativos, esse contacto é necessário, é inevitável. O credor, por exemplo, exerce o seu direito perante o devedor. Nos direitos absolutos, o exercício do direito não exige contacto social, mas ele pode suceder e sucede frequentemente. O exercício concreto dos direitos subjectivos suscita problemas. As pessoas que são titulares do direito não estão sós no mundo, os direitos não se exercem isoladamente, pelo contrário o exercício dos direitos é feito no âmbito da sociedade, em que muitas pessoas coexistem e se relacionam, estando em permanente contacto social, em cooperação e as vezes mesmo em conflito. O contacto destas pessoas, no exercício dos direitos não se limita ao relacionamento intersubjectivo, de pessoas com pessoas, também a inserção das pessoas no mundo induz o contacto com as coisas e com as circunstâncias da vida. Do contacto das pessoas umas com as outras e com as coisas, nas circunstâncias da vida, podem resultar (e resultam com alguma frequência) dificuldades que suscitam problemas no exercício dos direitos. Ora, a ordem jurídica dispõe de meios que viabilizam uma fruição conjunta e adequada do mundo que todos nós compartilhamos, apresentando-se, ora, como princípio de acção, prescrevendo critérios de fruição do 25 OTERO, Paulo, ob. cit. pág. 224 26 Exercício do direito - a) em sentido amplo existe sempre que o seu titular adopta um comportamento conforme com qualquer faculdade integrada no conteúdo do direito subjectivo, independentemente do modo por que o faça ou do fim que vise ; b) em sentido restrito e dado que o direito subjectivo envolve a ideia de poder jurídico, que se concretiza num conjunto de faculdades de agir, o exercício do direito vem a ser actuar essas faculdades em vista da realização do interesse do seu titular. Luís A. Carvalho Fernandes, Teor. Ger. Dir.1983, 2.ª edição, pág. 66. 27 Por exemplo, viver, conviver, auto-determinar-se, locomover-se, casar, procriar, usar, fruir e dispor das próprias coisas, consumir bens de qualidade, exercer o direito de liberdade de expressão através de telefones, e-mails, redes sociais, imprensa, debater sobre assuntos do quotidiano, votar, ser eleito, etc. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA mundo comum, ora, como critério de sanção, permitindo que esses critérios se realizem praticamente. Cada um de nós é sensibilizável ao nível dos deveres que lhe sejam juridicamente impostos, embora possa ser insensível ao nível do imperativo religioso ou dos imperativos do amor ou da cortesia. II.4.1 Contitularidade de direitos subjectivos Os direitos subjectivos podem ter um titular individual, seja ele uma pessoa singular ou uma pessoa colectiva, mas podem também estar na titularidade de mais do que uma pessoa. Nestes casos, há contitularidade do direito subjectivo. O artigo 1404.° do Código Civil considera as regras da compropriedade aplicáveis, com as necessárias adaptações, à comunhão de quaisquer outros direitos. A compropriedade foi assim, escolhida como paradigma, o tipo padrão, da contitularidade de quaisquer direitos. A sua aplicação deve ser feita com as necessárias adaptações, como o próprio artigo diz, isto é, analogicamente, considerando as semelhanças e diferenças, aferindo da relevância das diferenças e adaptando em conformidade o regime a aplicar. Em princípio, na falta de regras específicas na lei, é o regime da compropriedade que rege as demais modalidades de contitularidade de direitos subjectivos. II.5 Limites ao exercício dos direitos subjectivos Cada direito tem limites da sua própria definição, isto é, os limites decorrentes das faculdades e outras situações jurídicas cujo conjunto integra o conteúdo do direito, desenhado pela lei ou eventualmente pelo negócio jurídico.28Algumas dessas directrizes respeitam a certas espécies de direitos, constituindo o que sói chamar-se limitações específicas ao seu exercício, mas ao lado delas há instruções genéricas, aplicáveis ao exercício de todo e qualquer direito e que representa também limitações a esse exercício, neste particular cita-se como exemplo a cláusula geral de limitação ao exercício dos direitos, consagrada no artigo 29.° da Declaração Universal dos Direitos do Homem (recebida pela nossa Constituição nos termos dos artigos 13.° e 26.°), cuja redacção é a seguinte "1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade; 2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, daordem pública e do bem- estar numa sociedade democrática; 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas". Cita-se ainda a CRA (leia-se Constituição da República de Angola)29, nos seus arts. 57.°, 58.° conjugados com as alíneas a) e b) do artigo 164.°, outrossim o artigo 205.° que prescreve o seguinte: "Aos agentes da segurança nacional no activo, nomeadamente militares, polícias e agentes, na estreita medida das exigências das suas condições funcionais, a lei pode estabelecer restrições à capacidade eleitoral passiva, bem como ao exercício dos direitos de expressão, reunião, manifestação, associação, greve, petição e outros de natureza análoga". Importa desde já, frisar que esta disposição constitucional não contradiz o preceituado no artigo 23.° da mesma Lei Magna que consagra o princípio da igualdade. 28 Por outra via e nalguns casos pode ser crime, cfr. Código Penal de 1886 que dedica um capítulo aos crimes contra o exercício dos direitos políticos, artigo 199.° e segs. 29 Vista e aprovada pela Assembleia Constituinte, aos 21 de Janeiro de 2010 e, na sequência do Acórdão do Tribunal Constitucional n.° 111/2010, de 30 de Janeiro, aos 3 de Fevereiro de 2010 e promulgada em 5 de Fevereiro de 2010, entrando em vigor no dia da sua publicação em Diário da Republica (artigo 238.°). O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA Outra limitação genérica ao exercício de todo e qualquer direito consta do artigo 334.° do Código Civil que disciplina o denominado abuso de direito.30 A fórmula "abuso de direito" desempenha em relação ao direito subjectivo um papel de controlo análogo ao do artigo 280.° do C.C perante o negócio jurídico. O direito subjectivo é, conjuntamente com o negócio jurídico, uma das principais manifestações da autonomia privada. No artigo 280.° do Código Civil estão consagrados os limites gerais da autonomia privada no que ao conteúdo do negócio jurídico diz respeito, ao passo que no artigo 334.°, os limites da autonomia privada no que concerne ao exercício de direitos subjectivos. As limitações ao exercício de um direito podem ser intrínsecas e extrínsecas. São intrínsecas as que decorrem da própria definição do direito e extrínsecas as que decorrem de imposições de carácter genérico ou resultam de colisão de direitos, o Código Civil prevê expressamente a colisão de direitos no artigo 335.°, trata-se de uma limitação externa, em razão da coexistência de direitos de outrem, não sendo possível o exercício pleno de ambos em simultâneo.31 II.5.1 Colisão de direitos O exercício de direitos subjectivos por parte de várias pessoas suscita, por vezes, situações de conflito. Estes conflitos caracterizam-se por o exercício do direito de uma das pessoas isoladamente considerado, não ser compatível com o exercício do direito de outra pessoa, também isoladamente considerado. Estes casos não são raros. O exercício do direito a informar, constitucionalmente protegido no âmbito da liberdade de imprensa, colide frequentemente com o direito à honra, com o direito à reserva e intimidade da vida privada e familiar, ou com o direito à imagem, que também são direitos fundamentais. Sobre o assunto dispõe em geral ao artigo 335.° do Código Civil. Segundo Pedro Pais de Vasconcelos, as palavras da lei não são assim muito felizes, pelo que o artigo 335.° não deve ser interpretado à letra, mas antes interpretado e aplicado de acordo com a sua ratio. Na esteira de Pedro Pais de Vasconcelos o sentido do artigo 335.° é o de distinguir situações em que os direitos em conflito podem ser hierarquizados e situações em que existe entre eles uma relação de paridade. A concretização do regime do artigo 335.° do Código Civil exige uma ponderação dos direitos em conflito. É mais um caso em que o símbolo da balança é representativo da justiça. A ponderação deve ser feita em concreto. Embora se possa dizer com alguma segurança, que um direito constitucional fundamental prevalece, em princípio, sobre um direito relativo comum, por exemplo, um crédito pecuniário, a resolução do conflito deve resultar de uma apreciação dos concretos direitos em colisão. Por exemplo em Portugal, os tribunais têm-se pronunciado no sentido geral da prevalência dos direitos de personalidade sobre os direitos meramente económicos. 30 Menezes Leitão afirma tratar-se de uma cláusula geral de aplicação muito mais vasta do que apenas à responsabilidade civil, através da qual se procura estabelecer limites ao exercício das posições jurídicas que embora formalmente permitido, se apresenta como disfuncional ao sistema jurídico, quando contraria manifestamente vectores fundamentais do seu funcionamento. O artigo 334.°, não se limita a abranger o exercício abusivo de direitos subjectivos, compreendendo igualmente outras posições jurídicas, incluindo as permissões genéricas de actuação como a autonomia privada ou o direito de acção judicial, vide, Luís Manuel Telles de Menezes Leitão, Direito da Obrigações, Volume I, Introd. da Constit. Das Obrigações, 2010, 9.ª Edição, Págs. 307-308. 31 Os direitos devem entretanto serem exercitados, pois, a inércia do titular no exercício do direito conduz mais cedo ou mais tarde a sua perda salvo nos casos de direitos indisponíveis, isto porque o tempo, com o seu efeito estabilizador na titularidade de situações jurídicas, assenta além da clareza e segurança no tráfego jurídico também ao carácter funcional do direito subjectivo; o direito subjectivo deixa de ser justificado se o titular o não exercer por um longo período de tempo; o tempo enquanto facto jurídico natural (involuntário) contribui assim para a estabilidade do Direito (maxime Civil), através dos institutos da prescrição, caducidade, e o não uso, distinguidas no artigo 298.° do Código Civil. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA Se da ponderação concreta dos direitos em colisão não resultar a superioridade de um sobre o outro, "devem os titulares ceder na medida do necessário para que todos produzam igualmente o seu efeito, sem maior detrimento para qualquer das partes". Os titulares dos direitos em colisão deverão então cooperar no exercício de modo a que nenhum fique prejudicado em relação ao outro. Se não chegarem a um entendimento consensual, deverá o tribunal decidir e fixar o modo como deve ser harmonizado o exercício sem maior detrimento de um dos titulares em relação ao outro. II.5.2 Venire contra factum proprium Através do princípio venire contra factum proprium pretende-se vedar que o sujeito obtenha um resultado, mesmo que conforme ao Direito, mas que está em flagrante contradição com a sua anterior conduta, e, como consequência, contrário a boa fé. O direito deve ser exercido sem frustrar expectativas32 criadas pelo seu titular. No exercício do direito o seu titular deve respeitar a fé (fides servare), deve evitar frustrar a confiança que tenha suscitado em outrem. Se por qualquer razão o titular do direito tiver agido activa ou passivamente de modo a criar em outrem uma confiança legítima relativa ao exercício do direito, não poderá frustrar essa confiança que tenha criado ou contribuído para criar. A frustração de expectativas criadas corresponde ao tipo doutrinário de má fé tradicionalmente designado como venire contra factum proprium. Este tipo de má fé assenta na inadmissibilidade de comportamentos contraditórios. Uma vez consolidada a 32 Outra figura que não se confunde com os direitos subjectivos corresponde as chamadas expectativas jurídicas. «Na vidaquotidiana, as pessoas precisam de fazer previsões e assentam as suas decisões e comportamentos na antecipação presente de acontecimentos futuros. Não obstante a grande dificuldade e falibilidade da previsão do futuro, a vida e acção humanas não podem prescindir dela. É impossível planear algo de duradouro sem a formulação de previsões. A prognose é uma das características próprias da racionalidade humana. A expectativa é a situação em que se encontra uma pessoa que prevê e espera que algo venha a suceder. A expectativa distingue-se bem da percepção. Enquanto a percepção é actual e se projecta na actualidade, a expectativa é actual mas projecta-se no futuro. Há casos em que o Direito tutela expectativas. Trata-se normalmente de expectativas que são típicas e que correspondem a situações da vida, a posições típicas que são de tal modo fortes e que são de tal modo necessárias que merecem protecção jurídica antecipada e cautelar. Quando juridicamente protegidas, designam-se expectativas jurídicas. As expectativas jurídicas são posições jurídicas de vantagem, inerentes à afectação futura de bens, à realização futura de fins do seu titular, através da atribuição actual de poderes ao seu titular e da vinculação actual de terceiros, com o fim de evitar ou impedir a respectiva frustração ou detrimento. É paradigmática a expectativa jurídica do adquirente sob condição suspensiva e do alienante sob condição resolutiva regulada nos artigos 272.° e seguintes do Código Civil. Segundo o artigo 272.°, quem contrair uma obrigação ou alienar um direito sob condição suspensiva e quem adquirir um direito sob condição resolutiva, "deve agir, na pendência da condição segundo os ditames da boa fé, por forma a que não comprometa a integridade do direito da outra parte". A ratio leges é clara: enquanto se mantiver a possibilidade de o bem ou o direito virem a reverter para outrem, pelo funcionamento da condição, o titular actual não deve agir de modo a frustrar essa reversão. O eventual titular beneficia, assim, de uma protecção jurídica específica. Esta tutela não é apenas objectiva, não se restringe a uma vinculação do titular actual. O titular virtual pode agir contra ele e exigir-lhe o cumprimento dos deveres ali consagrados. Há uma tutela directa de interesses do titular da expectativa. Tem sido discutida a natureza da expectativa jurídica. Em geral, há consciência de que a expectativa é temporalmente anterior ao direito a que corresponde. Surge associada a caso em que a constituição ou aquisição do direito se traduz num processo, num facto complexo de produção sucessiva. Antes de completa a constituição ou aquisição do direito, na sua completude, existe já uma tutela directa, com uma inerente afectação de meios à realização de fins do seu titular. Concordamos, pois com OLIVEIRA ASCENSÃO, quando conclui que a expectativa jurídica, embora não represente a realização antecipada de um trecho do conteúdo do direito subjectivo a que se refere, "cai interinamente no âmbito do direito subjectivo, como afectação individual, concreta e destinada a criar um espaço de autonomia."» Cfr. Pedro Pais de Vasconcelos, ob. cit., págs. 289-290 O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA confiança e a expectativa - a fé - e desde que essa consolidação da confiança seja imputável ao titular do direito, a brusca inflexão de atitude é contrária à boa fé. No nosso Direito, o venire contra factum proprium deve ser considerado um princípio geral de direito, que deriva de um princípio geral universalmente reconhecido: o da boa fé, que, impõe um dever de lealdade, lisura e correcção nas relações jurídicas. Como a vida social, é uma vida de relação, isto é, desenvolve-se através de contactos, que se estabelecem entre sujeitos, criando-se vínculos, que quando relevam para o Direito, este intervém e a regula, tornando-a em relação jurídica, importa reiterar e realçar que toda a relação jurídica tem uma estrutura (interna) que é o seu cerne, isto é, o vínculo, o elo entre os sujeitos; ora apesar de o nosso tema cingir-se fundamentalmente ao exercício dos direitos subjectivos e a sua tutela, não é despiciendo reiterar hic et nunc que a estrutura interna da relação jurídica é integrada por um direito subjectivo (lato senso), e por um dever jurídico ou por uma sujeição, sempre. I. CAPÍTULO III - A tutela do direito O Aparelho estadual de coacção O Direito não vive apenas pelas pessoas, vive para as pessoas, disse Hermogeniano: hominum causa omne ius constitutum est. A República de Angola promove e defende os direitos e liberdades fundamentais do homem, quer como indivíduo, quer como membro de grupos sociais organizados, e assegura o respeito e a garantia da sua efectivação pelos poderes legislativo, executivo, e judicial, seus órgãos e instituições, bem como por todas as pessoas singulares e colectivas.33 Assim proclama o n.º 2 do artigo 2.° da CRA, cuja epígrafe é «Estado democrático de direito». E com esta pretensão a Lei Suprema e Fundamental da República de Angola, promulgada a 5 de Fevereiro de 2010, consagra de fio a pavio importantes direitos, liberdades e garantias fundamentais, atribuindo-lhes a devida força jurídica e faz disso prova o n.º 1 º do artigo 28.º da CRA, prescrevendo que, «Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias fundamentais são directamente aplicáveis e vinculam todas as entidades públicas e privadas». O sistema jurídico estadual caracteriza-se pela sua coercibilidade, definida ex professo pelo Professor JOSÉ OLIVEIRA ASCENSÃO, não como a susceptibilidade de aplicação coactiva da regra, mas como a susceptibilidade de aplicação coactiva final de sanções com expressão física, se as regras forem violadas; a sanção como sabemos em si, não é um facto, como consequência desfavorável a sanção é um efeito jurídico, conteúdo de uma regra jurídica cuja previsão é a violação de uma regra de conduta. O aparelho estadual angolano é complexo: nele se compreendem tanto a Jurisdição como a Administração, aquela corresponde ao Poder Judicial, esta ao designado Poder Executivo (Poder este, unipessoal nos termos do n.º 1 do artigo 108.° da CRA), todavia quando se trata de aparelho de coacção propriamente dito, nos acodem à lembrança instituições como os tribunais, as penitenciárias, as várias Polícias e, em último as Forças Armadas Angolanas, tudo isto para significar que, a observância da ordem jurídica, ou as 33 E como a personalidade jurídica se adquire com o nascimento completo e com vida (cfr. o n.º 1 do artigo 66.° do Código Civil), quando ainda somos designados de recém-nascidos, nascidos regra geral no seio de uma família, é de capital importância, dizer que, o legislador constituinte prescreve que cabe à Família, ao Estado e a sociedade, proteger os direitos da criança, que constituem prioridade absoluta, (cfr. o n.º 6 do artigo 35.° e artigo 81.° ambos da CRA),o que denota bem a determinante preocupação do nosso Estado em proteger os direitos das pessoas (cidadãos). O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA sanções correspondentes à sua violação, podem serem impostas pela força, se for necessário podem mesmo ser imposta manu militari (pelo recurso às forças armadas).34 3.1 Direitos e garantias Dispõe a nossa Constituição no seu artigo 56.°, sob a epígrafe «Garantia geral do Estado», na Secção II, atinente a Garantia dos direitos e liberdades fundamentais que: «1. O Estado reconhece como invioláveis os direitos e liberdades fundamentais consagrados na Constituição e cria as condições políticas, económicas, sociais, culturais, de paz e estabilidade que garantem a sua efectivação e protecção, nos termos da Constituiçãoe da lei. 2. Todas as autoridades públicas têm o dever de respeitar e de garantir o livre exercício dos direitos e liberdades fundamentais e o cumprimento dos deveres constitucionais e legais». Nenhuma validade prática têm (ou teriam) os direitos subjectivos se não se efectivarem (efectivassem) determinadas garantias em sua protecção, segundo Attilio Brunialtti, as garantias protegem e amparam o exercício dos direitos do Homem. Os direitos e as garantias são prerrogativas que possibilitam uma série de condições mínimas indispensáveis para uma convivência pacífica e salutar numa sociedade livre, justa, democrática, de igualdade e de progresso social (como a que queremos construir, vide artigo 1.°, 2.ª parte da CRA), entretanto estes institutos não são sinónimos, segundo o Professor brasileiro LUÍS FLÁVIO GOMES, o direito é uma norma de conteúdo declaratório e a garantia por sua vez é uma norma de conteúdo assecutório, que serve para assegurar o direito declarado. Segundo o Professor J.J GOMES CANOTILHO, rigorosamente as clássicas garantias são também direitos, embora muitas vezes se salientasse nelas o carácter instrumental de protecção dos direitos. As garantias traduziam-se quer no direito dos cidadãos a exigir dos poderes públicos a protecção dos direitos, quer no reconhecimento de meios processuais adequados a essa finalidade (direito de acesso aos tribunais para defesa dos direitos - artigo 29.°/1 , princípios do nullum crimen sine lege e nulla poena sine crimen - artigo 65.°/1, direito de habeas corpus - artigo 69.°, princípio non bis in idem - artigo 65.°/5, todos da CRA. A garantia do acesso aos tribunais , configura uma concretização do princípio estruturante do Estado de direito. Os direitos subjectivos dos particulares estão não só garantidos contra a violação por parte de outros particulares como também por parte do próprio Estado e demais pessoas colectivas públicas, por acções e omissões praticadas pelos seus o órgãos, respectivos titulares, agentes e funcionários, no exercício das funções legislativa, jurisdicional e administrativa, o particular cujo direito foi violado adquire um direito de indemnização contra o Estado e as demais pessoas colectivas públicas (cfr. artigo 75.° da CRA; a alínea b) do artigo 71.°, e a alínea b) do artigo 72.°, estes dois últimos do Código de Processo Civil ).35 No que tanger aos direitos económicos, sociais e culturais (direitos conferidos aos cidadãos pelas constituições modernas e consagrados na nossa Constituição pelos artigo 76.° e seguintes), que não sendo tutelados pela via de atribuição de um direito ou pretensão que possa ser efectivamente exercida pela via judicial, ou cuja violação possa 34 É visível e evidente que a produção jurídico-normativa na nossa realidade dimana sobretudo dos órgãos do Estado (Parlamento e Executivo) que desempenham a função legislativa, (o primeiro por excelência, o segundo não), e da mesma forma é incontestável que a aplicação das normas jurídicas aos casos concretos é feita principalmente pelo Poder executivo (mormente pela Administração militar e paramilitar, tributária, etc.) e, nas situações litigiosas pelos Tribunais estaduais. 35 É certo que o conhecimento, por cada pessoa, dos seus próprios direitos, permite que, facilmente se reivindique o seu exercício e a sua aplicação subjectiva. Maria do Carmo Medina, Direito de Família, 1.ª Edição, 2011, Escolar Editora, pág. 20. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA dar lugar a um direito de indemnização eventualmente dirigido contra o próprio Estado ou contra a Administração (assim é no que respeita ao direito à saúde, à habitação, ao trabalho, ao ambiente sadio, e qualidade de vida ), não são tutelados com a mesma eficácia que os direitos subjectivos patrimoniais (ou pessoais: direitos de personalidade). A garantia ou a concretização de tais direitos depende essencialmente da evolução económica e da acção do Estado, muito embora a sua consagração constitucional implique desde logo certa garantia de estabilidade daqueles que, de certo modo, já conseguiram a sua concretização (legislação favorecendo a estabilidade da relação de arrendamento, da relação laboral, etc.), nos dizeres do Professor JOÃO BAPTISTA MACHADO. 3.1.1 Direitos fundamentais e garantias institucionais Os direitos fundamentais são os direitos do Homem, jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espácio-temporalmente; são os direitos objectivamente vigentes numa ordem jurídica concreta (a angolana por exemplo).36Os direitos fundamentais referem-se àqueles direitos dos seres humanos que são reconhecidos no âmbito do Direito constitucional de um determinado Estado (carácter nacional), e que não se confundem com os direitos humanos pois estes aspiram à validade universal, ou seja são inerentes a todo o ser humano como tal e a todos os povos em todos os tempos, sendo reconhecidos pelo Direito Internacional e tendo portanto validade independentemente da sua positivação em uma determinada ordem constitucional (carácter transnacional e /ou supranacional).37 Direitos fundamentais vs garantias institucionais é uma distinção da doutrina alemã. As chamadas garantias institucionais (Einrichtungsgarantien) compreendiam as garantias jurídico-públicas (Institutionnelle garantien) e as garantias jurídico-privadas (Instituts garantien). Embora muitas vezes estejam consagradas e protegidas pelas leis constitucionais, elas não seriam verdadeiros direitos atribuídos directamente a uma pessoa; as instituições, como tais, têm um sujeito e um objecto diferente dos direitos dos cidadãos. Assim a maternidade, a família, a Administração, a imprensa livre, o funcionalismo público, a autonomia académica, são instituições protegidas directamente como realidades sociais 36 Direitos fundamentais - são os direitos ou as posições jurídicas subjectivas das pessoas enquanto tais, individual ou institucionalmente consideradas, assentes na Constituição. Admite dois sentidos - o formal e o material. Em sentido formal, é toda a posição jurídica subjectiva da pessoa, enquanto consagrada na lei fundamental. Em sentido material, são os direitos declarados, estabelecidos, atribuídos pelo legislador constituinte pura e simplesmente, os direitos resultantes da concepção da Constituição dominante da ideia do direito, de sentido jurídico colectivo, e ainda quaisquer outros direitos constantes da lei (entendendo-se esta em sentido amplo) e das regras de direito internacional, aqueles e estas que, pela sua finalidade e função ou pela sua projecção ou pelo modo de consagração, ofereçam analogia com os que se acham constitucionalmente estabelecidos (Jorge Miranda, Dir. Constitucional, liç., 1980). Grande parte dos direitos fundamentais tem carácter civil ou político (também chamados direitos de 1.ª geração). Os direitos civis, são os que decorrem da livre actuação dos indivíduos em sociedade, isolada ou colectivamente; no que toca aos direitos civis «segundo o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, o Estado deve respeitar o espaço de autonomia dos cidadãos no gozo e no exercício daqueles direitos - trata-se de uma posição deste essencialmente passiva», vêm consagrados na nossa Constituição, no artigo 30.° e segs, por exemplo o direito à vida, o direito a constituir família, direito à liberdade de expressão e informação,, etc. Os direitos políticos, são os que atribuem aos cidadãos o poder de cooperarem na vida estadual, no exercício de funções públicas, ou de manifestarem a própria vontade para a formação da vontade colectiva, por exemplo o direito de votar - artigo 54.°, direito de acesso aos cargos públicos - artigo 53.°, todos da CRA. Os direitos civis e políticos surgem imbuídos das ideias jusnaturalistase correspondem a um ciclo histórico que se prolonga até à 2.ª Guerra Mundial. 37 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6.ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, pág. 35 e 36, citado em Wikipédia, a Enciclopédia livre. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA objectivas e só, indirectamente, se expandem para a protecção dos direitos individuais. Contudo o duplo carácter atribuído aos direitos fundamentais - individual e institucional – faz com que hoje, por exemplo, o direito a constituir família (artigo 37.°/2 da CRA) se deva considerar indissociável da protecção da instituição família como tal (artigo 1.°, Título I do Código da Família aprovado pela Lei n.º 1/88, de 20 de Fevereiro). Sob o ponto de vista da protecção jurídica constitucional, as garantias institucionais não garantem aos particulares posições subjectivas autónomas e daí a inaplicabilidade do regime dos direitos, liberdades e garantias. Exceptuam-se os casos de imbricação de garantias institucionais e de garantias dos direitos fundamentais (por exemplo é praticamente indissociável a protecção do direito de liberdade de imprensa, da protecção da instituição imprensa livre). Chegados até aqui é fácil perceber que dos quatro elementos da relação jurídica, para o tema em análise assumem particular importância (o que justifica o seu realce ou ênfase no presente trabalho) os sujeitos e a garantia. O sujeito de direitos (ou de obrigações) ou mais rigorosamente sujeito jurídico é toda entidade que seja de facto sujeito de relações jurídicas (sujeito activo, sujeito passivo). Passando à garantia dizer que, o Estado procura assegurar o respeito das normas jurídicas, muitas delas conferidoras de direitos subjectivos, através de providências sancionatórias que importam em último termo o emprego da força de que ele dispõe (coação); não são raras as vezes que o Estado por intermédio dos tribunais age com este intuito, quando não seja observado o comportamento legalmente prescrito. As providências sancionatórias a adoptar pelo Estado por intermédio dos tribunais, Polícia, etc., destinam-se a dar efectividade aos poderes do titular do direito subjectivo e ao dever jurídico que lhe corresponde, permitindo àquele titular fazer valer o seu direito mesmo que o obrigado não queira cumprir espontaneamente, ou fazer impor ao obrigado negligente ou relutante sanções adequadas, de tal modo que o temor delas contribua para que, em geral, a relação jurídica se desenvolva pacificamente. São tais providências que constituem a garantia da relação jurídica. Posto isto, importa dizer que regra geral o titular do direito ofendido ou ameaçado não deve agir contra o infractor ou o obrigado prevaricador mediante a sua própria força, ou seja não pode usar de violência para obter a satisfação, o de qualquer modo se ressarcir ou se compensar do injusto prejuízo sofrido. Não pode fazer justiça por suas mãos. Não pode recorrer às vias de facto. Está proibida no nosso ordenamento jurídico, à parte excepções muito limitadas (como havemos de ver), a auto-defesa do direito. O Estado chamou a si, para o exercitar através dos seus órgãos, maxime os tribunais o monopólio da defesa da ordem jurídica e portanto dos direitos subjectivos e de quaisquer outros interesses protegidos pelo Direito objectivo, quando tal defesa importe o uso da força, note entretanto que no domínio do Direito Privado o Estado em vez de proceder por sua iniciativa (ex officio) tem de aguardar a que o titular do direito ou interesse protegido solicite a sua intervenção, formulando perante eles a correspondente pretensão. Diz-se que o titular propõe uma acção, que assim se pode definir como a pretensão de tutela jurídica deduzida em juízo. O exercício e tutela dos direitos subjectivos na Ordem jurídica angolana Valdano Afonso Cabenda Pedro – Advogado Estagiário inscrito na OAA 3.2 Meios de tutela jurídica São essencialmente duas as distinções comummente salientadas sobre os meios de tutela do direito: heterotutela (ou tutela pública) e autotutela (ou tutela privada), por um lado, tutela preventiva e tutela repressiva, por outro lado. 3.2.1 Tutela pública e tutela privada Em princípio cabe ao Estado a realização dos actos de coerção destinados a prevenir ou a sancionar a violação das normas jurídicas. Consagra a nossa Carta Magna no seu artigo 29.°, o princípio do acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva, prescrevendo no seu n.° 1 o seguinte: "A todos é assegurado o acesso ao direito e aos Tribunais para a defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência dos meios económicos".38 E neste diapasão dispõe o artigo 1.° do Código de Processo Civil que «a ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados na lei». E o artigo 2.° do mesmo Código dispõe que «a todo o direito, excepto quando a lei determine o contrário, corresponde a acção adequada a fazê-lo reconhecer em juízo, a prevenir ou reparar a violação dele e a realizá- lo coercivamente, bem como os procedimentos necessários para acautelar o efeito útil da acção». A tutela feita pelo aparelho do Estado (cuja estrutura não é inteiramente homogénea) designa-se por tutela pública, diz-se heterotutela porque tem por fim a tutela de direitos alheios. A tutela pública traduz-se numa garantia dos direitos subjectivos, conferindo-lhes uma consistência prática, constitui a situação normal dos dia de hoje, mas importa referir que é fruto duma longa evolução que acompanhou o progresso cultural humano.39 Nas sociedades primitivas não havia Estado e, por conseguinte, não havia direito material em rigoroso sentido técnico-jurídico. Não havia por isso regras de processo, tribunais e uma justiça institucionalizada tal como a concebemos hoje. Nos tempos mais recuados, a justiça, sempre que o ofendido se julgava em condições de a aplicar, fazia-se por reacção instintiva, por retaliação, ódio ou vingança, sempre a título privado em sistema de auto-tutela. A justiça era uma questão individual.40 Historicamente, o Estado tende a chamar a si a jurisdição. Nos últimos (dois últimos) séculos atinge-se a especialização da função jurisdicional, como função do Estado. Criam-se os tribunais, como órgãos imparciais e especializados, incumbidos do exercício dessa função.41 Dispõe a nossa Constituição no n.º 2 do artigo 174.° que «no exercício da função jurisdicional compete aos Tribunais dirimir conflitos de interesses público ou privado, assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos…», Ora a tutela pública faz-se fundamentalmente através da intervenção dos tribunais que são na nossa ordem jurídica, os órgãos de soberania com a competência de administrar a justiça em nome do povo, nos termos do n.°1 do artigo 174.° da CRA, daí falar-se de tutela ou garantia judiciária. Para a defesa dos direitos, cita- se ainda a Procuradoria-Geral da República (artigo 189.° da CRA), o Provedor de Justiça (artigo 192.° da CRA), a Ordem dos Advogados (artigo 193.° e segs. da CRA). 38 Cfr., outrossim os artigos 73.°, 74.°, 195.°, 196.°, todos da CRA. 39 JUSTO, A. Santos Justo, ob. cit., págs. 166-167. 40Vasco A. Grandão Ramos, Direito Processual Penal, Noções Fundamentais, Colecção Faculdade de Direito-UAN. 6.ª Edição, pág. 17 41 Nos últimos tempos, por influência exterior, há um movimento contrário, pelo que apela para a arbitragem e para outros meios alternativos ou extra-judiciais de resolução de litígios relativos a direitos disponíveis, vide o n.° 4, do artigo 174.° da CRA, e a Lei n.º 16/3, de 25 de Julho-Lei da Arbitragem voluntária. O exercício e tutela dos
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