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CARVALHO, L. V.; MOURA, M. L.22 Assim, no mesmo movimento histórico que provoca a emergência das ciências humanas, das teorias racistas e das correntes tradicionais da geo- grafia, emerge também o materialismo histórico-dialético, elaborado por Karl Marx e Friedrich Engels. O Método histórico-dialético de apreensão do real orienta sua análise ao estudo da história, da sociedade e da luta econômica, política e social, ou seja, ocupa-se em estudar a vida em sociedade. “...analisa as questões gerais do desenvolvimento da sociedade no seu conjunto: a estrutura da socieda- de, a interação entre os diferentes aspectos da vida social, as suas leis mais gerais e as forças motrizes do seu desenvolvimento” (GNECCO, 1988, p. 9). Entende que o modo de produção capitalista não é um fenômeno natural. As suas leis são históricas e se repousam em contradições entre capital e tra- balho, na distribuição desigual das conquistas da humanidade entre povos e nações, resultando em condições desiguais de desenvolvimento. O capitalismo, por exemplo, ao desenvolver a grande indústria mostrou como, dentro de uma forma de organização social, surge e se desenvolve outra forma (feudalismo-capitalismo), propiciou o desenvolvimento das forças produtivas como em nenhuma época precedente, mas também, na sua fase imperialista, espalhou suas corporações monopolistas nos diferentes espaços do globo, remodelou as paisagens do mundo, subordinou os indivíduos isola- damente, povos e nações a sua visão de mundo e a sua ação deletéria. No final do século 19 e início do séc. 20, nas cidades industriais as re- modelações das paisagens da cidade se fizeram sentir nas praças, na arquite- tura, na literatura, nos novos planos urbanísticos, enfim em tudo que possibili- tasse a entrada e a exploração dos grandes negócios europeus. Lembramos, no entanto, que nos centros urbanos modernizados da Europa e de outras partes do mundo as paisagens, simbolizando o mundo moderno, contrastam com outros fenômenos sociais que a própria modernidade provocou, dentre os quais as migrações e a favelização. É no agravamento dessas contraditó- rias paisagens produzidas pela sociabilidade capitalista que nas décadas de 70 se fundamentará e se consolidará a Geografia Crítica. a) A Geografia crítica: a realidade sócio-histórica objetiva transformadora das estruturas espaciais Pode se identificar a origem da Geografia Crítica ainda no século 19, tendo como alguns de seus principais interlocutores os anarquistas Élisée Reclus e Piotr Kropotkin, porém, ganha expressão somente na década de 1970, do século 20, inicialmente na França e depois na Espanha, Itália, Brasil, México, Alemanha e outros tantos países.
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