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Citopatologia: Vaginoses e Vaginites

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CITOPATOLOGIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Diferenciar vaginoses de vaginites. 
 > Identificar os sintomas da presença de agentes infecciosos no trato 
genital feminino.
 > Explicar as alterações celulares promovidas pelos agentes infecciosos.
Introdução
A microbiota normal do trato genital tem o importante papel de evitar o cresci-
mento excessivo de microrganismos que podem causar doenças. Quando ocorre 
um desequilíbrio da microbiota normal, as mulheres ficam mais vulneráveis 
ao desenvolvimento das vaginoses e das vaginites, que causam corrimento 
anormal e acometem o tecido epitelial estratificado da vulva e/ou vagina. 
Neste capítulo, você vai estudar as principais características das vaginoses 
e das vaginites para poder distingui-las, bem como os sinais e sintomas re-
lacionados com a presença de microrganismos no trato vaginal, os principais 
agentes etiológicos dessas condições e as lesões ocasionadas nas células. 
Características gerais das vaginoses e das 
vaginites 
As vaginoses são infecções endógenas que acometem o trato genital feminino 
sem indicativo de processo inflamatório. Não são classificadas como infec-
ções sexualmente transmissíveis (ISTs) pela Organização Mundial da Saúde 
(OMS), pois seus agentes etiológicos (Gardnerella vaginalis, Mycoplasma sp., 
Vaginoses e vaginites
Márcia Regina Terra
Prevotella sp. e Ureaplasma sp.) não são transmitidos para o parceiro durante 
o ato sexual (BRASIL, 2020). 
Já as vaginites são infecções que causam inflamação nas paredes da vagina. 
Podem ser classificadas como uma IST, dependendo do agente etiológico. 
Por exemplo, o Trichomonas vaginalis é transmitido por meio da relação sexual; 
já o fungo pertencente ao gênero Candida sp., não (LEVINSON et al., 2022).
A patogênese da vaginose, assim como a da vaginite, parecem estar re-
lacionadas à disbiose (desequilíbrio) da microbiota normal (LEVINSON et al., 
2022). Mas, afinal o que é microbiota normal? Os microrganismos residentes 
permanentes, de baixa virulência e não patogênicos em seu sítio anatômico 
habitual, compõem o que chamamos de microbiota normal, variando seu 
gênero, espécie e densidade celular conforme o sítio anatômico que habitam 
— por exemplo, a orofaringe, a pele, o trato gastrintestinal e o trato vaginal 
(LEVINSON et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 
O trato vaginal de mulheres adultas tem, em sua microbiota normal, 
predominantemente bactérias pertencentes ao gênero Lactobacillus, que 
produzem ácido láctico, ácidos graxos e outros ácidos orgânicos, contribuindo 
para o estabelecimento de um pH vaginal comumente ácido (entre 4 e 4,5). 
A manutenção desse pH e a produção de peróxido de hidrogênio inibem o 
desenvolvimento de microrganismos potencialmente patogênicos que podem 
causar vaginose ou vaginite, como podemos observar na Figura 1 (HOFFMAN 
et al., 2014; LEVINSON et al., 2022; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 
Figura 1. Microbiota vaginal e alterações provocadas pela disbiose.
Fonte: Adaptada de Artemida-psy/Shutterstock.com.
Primeiro grau 
de pureza 
da vagina
Segundo grau 
de pureza 
da vagina
Terceiro grau 
de pureza 
da vagina
Quarto grau 
de pureza 
da vagina
pH < 6 
Lactobacillus 95%
pH 6-7 
Lactobacillus 60%
Streptococci 
staphylococci et al.
pH = 7 
Somente 
Lactobacillus 
e um grande 
número de 
glóbulos brancos
pH > 7 
Sem Lactobacillus, 
com grande número 
de microrganismos 
patogênicos e 
glóbulos brancos
Vaginoses e vaginites2
Um dos fatores relacionados à disbiose da microbiota normal é a antibio-
ticoterapia. Os antibióticos, além de atuarem no microrganismo patogênico, 
podem afetar a microbiota normal do trato vaginal, inclusive os Lactobacillus 
(HOFFMAN et al., 2014; LEVINSON et al., 2022). Quando ocorre a disbiose da 
microbiota vaginal e o pH aumenta e se torna básico, o crescimento excessivo 
de bactérias anaeróbias é favorecido, resultando na vaginite bacteriana 
(BRASIL, 2020).
Os fungos do gênero Candida fazem parte da microbiota normal de muitas 
mulheres, mas o pH entre 4 e 4,5 propicia um controle da densidade celular, 
de forma que o fungo não cause doença. Quando o pH diminui e se torna mais 
ácido do que o normal, o desenvolvimento da candidíase vaginal, que é um 
exemplo de vaginite, é favorecido (HOFFMAN et al., 2014; LEVINSON et al., 2022).
A vaginite também pode estar relacionada com uma patologia inflamatória, 
de etiologia ainda não elucidada, que afeta a pele do trato genital de mulheres 
na peri e na pós-menopausa, denominada líquen plano (LP). Quando, além 
de acometer a pele, ele acomete a mucosa vulvovaginal, é classificado como 
líquen plano erosivo (LEVINSON et al., 2022; MIRANDA et al., 2014). O uso de 
alguns tipos de medicamentos, como, por exemplo, contraceptivos orais, 
também pode ser um fator predisponente para o desenvolvimento da vaginite 
(LEVINSON et al., 2022; MIRANDA et al., 2014). 
De acordo com o agente etiológico e as manifestações clínicas, as vaginoses 
podem ser classificadas como bacterianas ou citolíticas, e as vaginites como 
vaginite aeróbica, vaginite inflamatória descamativa, candidíase vaginal ou 
tricomoníase. 
A vaginose bacteriana tem como agente etiológico as bactérias anaeróbias 
e facultativas. Uma grande variedade de gêneros bacterianos pode causar a 
doença, e as mais comumente isoladas são: bacilos e cocos gram-negativos 
anaeróbicos, com predomínio de Gardnerella vaginalis, seguida de Atopobium 
vaginae, Mobiluncus spp., Mobiluncus curtesii, Mobinculus mulieris, Bacteroides 
spp., Prevotella spp., Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum e Strep-
tococcus agalactie (grupo B) (BRASIL, 2020). Também podem ser isolados os 
gêneros Bifidobacterium, Clostridium, Dialister, Leptotrichia, Megasphaera, 
Prevotella e Sneatia (NASIOUDIS et al., 2017). 
Apesar dos benefícios trazidos pela presença dos Lactobacillus na mi-
crobiota do trato genital feminino, quando ocorre a multiplicação excessiva 
dessas bactérias, temos a vaginose citolítica. O aumento da quantidade de 
ácido láctico resulta em uma acidez anormal, que tem ação lítica sobre as 
células escamosas (SPENCE; MELVILLE, 2007; YANG et al., 2017). 
Vaginoses e vaginites 3
A presença de bactérias aeróbicas entéricas no trato vaginal pode oca-
sionar a vaginite aeróbica. Nesses casos, Enterococcus faecalis, Escherichia 
coli, Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis e Streptococcus do 
grupo B são as espécies comumente isoladas (DONDERS et al., 2017).
Um tipo de vaginite de maior gravidade, porém menos relatada, é a vaginite 
inflamatória descamativa. Trata-se de uma vaginite purulenta crônica que 
causa um intenso processo inflamatório, e os Streptococcus do grupo B e a 
Escherichia coli são as bactérias até então isoladas (REICHMAN; SOBEL, 2014).
Os fungos do gênero Candida são a principal causa da vaginite conhecida 
como candidíase vaginal. Dentre as espécies, a mais frequente é Candida 
albicans, mas outras podem ser identificadas, como Candida tropicalis e 
Candida parapsilosis. A candidíase ou candidíase vaginal recorrente (quatro 
ou mais episódios em um período de 12 meses confirmados clínica e labora-
torialmente) caracteriza-se por uma inflamação que pode afetar a vagina e 
a vulva e ocorre devido à multiplicação das células leveduriformes (LEDGER; 
WITKIN, 2016; LEVINSON et al., 2022).
O Trichomonas vaginalis é um parasita flagelado (Figura 2), extracelular e 
anaeróbio e pode fagocitar microrganismos levando-os para o trato genital 
superior (FICHOROVA, 2009; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 
Figura 2. Trichomonas vaginalis é o agente etiológico da tricomoníase, sendo um protozoário 
flagelado e anaeróbio.
Fonte: Ekaterina Avd/Shutterstock.com.
Vaginoses e vaginites4
A doença causada por T. vaginalis é denominada tricomoníase e é clas-
sificada como uma IST (BRASIL, 2020; FICHOROVA, 2009). Esse agente pode 
colonizar o trato geniturinário de indivíduos do sexo masculino e feminino. 
A forma infectante de T. vaginalis é denominada trofozoíto, e sua transmissãoentre seres humanos ocorre sobretudo via ato sexual (TORTORA; FUNKE; 
CASE, 2017). 
Um estudo realizado pela OMS (2016) com indivíduos de ambos os sexos, 
na faixa etária de 15 a 49 anos, mostrou que a tricomoníase é uma IST curável, 
com alta incidência, tendo cerca de 156 milhões de casos no mundo. 
Como a tricomoníase é classificada como uma IST, os envolvidos 
devem ser abordados, comunicados e tratados adequadamente para 
que se descontinue a cadeia de transmissão. Os procedimentos devem respeitar 
os princípios de confidencialidade, ausência de coerção, proteção contra discri-
minação e legalidade da ação, priorizando os direitos humanos e a dignidade dos 
envolvidos. É antiética e profissionalmente inaceitável a discriminação dentro 
do próprio serviço de saúde, pois compromete a atividade de todo o grupo e 
impacta negativamente na adesão (BRASIL, 2020). 
Por dia, estima-se que há mais de 1 milhão de novos casos, e, em média, 
aproximadamente 1 em cada 25 pessoas no mundo tem clamídia, gonorreia, 
tricomoníase ou sífilis (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2019). 
Manifestações clínicas 
O corrimento anormal é uma das principais manifestações clínicas da vagi-
nite e da vaginose e fator preponderante para que as mulheres procurem o 
atendimento ginecológico. Além do corrimento anormal, a mulher pode ter ou 
não dor, inclusive dispareunia, além de irritação vaginal e prurido (LEVINSON 
et al., 2022). As diferenças em relação a intensidade, aparência (por exemplo, 
grumoso ou bolhoso), cor, bem como odor do corrimento são importantes 
para o diagnóstico da doença. 
Vaginoses e vaginites 5
No caso da vaginose bacteriana, o corrimento vaginal é de intensidade 
variável, acinzentado e de odor fétido, comumente relatado como “odor de 
peixe” e odor amoniacal. O metabolismo das bactérias anaeróbias, quando 
na alcalinidade do sêmen ou do sangue menstrual, promove a volatização da 
cadaverina, da dimetilamina e da putrescina (aminas aromáticas), resultando 
no odor mencionado. Durante a amenorreia e a prática de relação sexual 
sem preservativo, esse odor se torna mais acentuado (EGAN; LIPSKY, 2000; 
LEVINSON et al., 2022). 
O corrimento vaginal devido à vaginose citolítica tem aspecto esbran-
quiçado, pode estar acompanhado de ardor, disúria, dispareunia, prurido 
de intensidades variáveis e queimação. Durante o período pré-menstrual, 
as manifestações clínicas pioram e, por serem similares às da candidíase 
vaginal, é comum que se confundam ambas quando o profissional se baseia 
apenas na anamnese da paciente, sendo necessário o diagnóstico laboratorial 
(YANG et al., 2017).
O grau de inflamação durante a vaginite aeróbica interfere nos sintomas, 
que incluem corrimento vaginal, que pode ou não ter uma aparência purulenta, 
e odor fétido, dispareunia e disúria (LEDGER; WITKIN, 2016). 
Além da presença de corrimento em quantidade variável (moderado ou 
abundante), a paciente com vaginite inflamatória descamativa reclama de 
ardor vaginal, desconforto acentuado e dispareunia (SOBEL et al., 2011).
Durante a anamnese da paciente, um dos principais sintomas observados 
na candidíase vaginal e que é mais acentuado no período pré-menstrual é o 
corrimento esbranquiçado ou amarelado, de aspecto grumoso, lembrando 
um “leite coalhado” (Figura 3) e o prurido muitas vezes intenso. As pacientes 
também se queixam de dispareunia e disúria (SOBEL et al., 1995).
É característico que o pH vaginal da paciente com candidíase vaginal 
esteja mais ácido do que o normal (pH menor que 4,5), e, durante o exame 
ginecológico, pode-se observar hiperemia vulvar, edema e menos comumente 
fissuras e escoriações. Durante o exame especular, é possível encontrar a 
mucosa vaginal com hiperemia, conteúdo vaginal com aparência espessa, 
flocular ou fluida, que pode estar aderido às paredes vaginais e em quantidade 
variável (SOBEL et al., 1995). 
Vaginoses e vaginites6
Figura 3. Leucorreia, também chamada de corrimento vaginal.
Fonte: NAAN/Shutterstock.com.
Quando observado um corrimento amarelado ou amarelo-esverdeado, 
bolhoso, com um odor desagradável e comumente em abundância, suspeita-se 
de tricomoníase. Além do corrimento, podem ser relatados pela paciente 
sintomas como dispareunia, disúria, dor pélvica, irritação vulvar, polaciúria 
e prurido. No exame especular, é possível observar a colpite difusa e/ou 
focal que se caracteriza pela hiperemia da mucosa com a presença de placas 
avermelhadas, comumente descritas como o “colo em framboesa” ou “colo 
em morango” (BRASIL, 2020; MILLER et al., 2005). 
Apesar de a tricomoníase ser considerada relativamente benigna, dentre 
as complicações podemos mencionar aumento na predisposição para câncer 
cervical, para infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), para 
doença inflamatória pélvica atípica, infertilidade em gestantes não tratadas 
devido à ruptura das membranas, parto prematuro e neonato abaixo do peso 
(BRASIL, 2020; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Vaginoses e vaginites 7
Microbiologia — O conhecimento acerca das características dos 
agentes etiológicos das vaginoses e das vaginites é fundamental para 
o correto diagnóstico, tratamento da paciente e prevenção. Para aprofundar 
seus conhecimentos sobre esses microrganismos, confira o livro de Riedel 
et al. (2022), denominado Microbiologia Médica de Jawetz, Melnick & Adelberg. 
Consenso — Leia o artigo intitulado “Protocolo Brasileiro para Infecções Se-
xualmente Transmissíveis 2020: infecções que causam corrimento vaginal”, 
que traz orientações aos gestores e profissionais de saúde desde a triagem até 
o tratamento dessas pacientes (CARVALHO et al., 2021). 
Coloração de Gram — Para o exame denominado bacterioscopia, é utilizada a 
coloração de Gram, na qual as células bacterianas podem ser evidenciadas em 
violeta, sendo classificadas como gram-positivas, ou em vermelho róseo, sendo 
classificadas como gram-negativas. Além disso, é possível observar a morfologia 
e o arranjo celular necessários para a identificação do microrganismo. Faça uma 
busca no YouTube e assista ao vídeo “Técnica de Gram – UEL” para que você 
possa compreender o fundamento e as etapas da coloração. 
Diagnóstico 
Para que se tenha êxito no diagnóstico de doenças do trato geniturinário, 
inclusive das vaginoses e vaginites, é necessário que a consulta de rotina 
inclua algumas etapas, descritas a seguir (BRASIL, 2020; LEVINSON et al., 2022).
 � Anamnese — Realizada de forma meticulosa, com perguntas específicas 
para avaliação de risco de IST e levantamento de informações sobre:
 ■ saúde sexual (última menstruação);
 ■ identificação (orientação sexual, identidade de gênero, sexo 
biológico);
 ■ parceiros (se já fez sexo, quantos parceiros, sexo biológico do[s] 
parceiro[s]);
 ■ práticas sexuais (anal, oral, vaginal);
 ■ histórico de IST, prevenção contra doenças (uso de preservativo e/
ou imunização);
 ■ planejamento reprodutivo e consumo de medicamentos. 
 � Exame físico — Abrange o exame da genitália externa e da genitália 
interna e o exame pélvico (exame especular) para observar: 
 ■ o conteúdo vaginal (consistência, cor, odor, presença de bolhas, 
sinais inflamatórios e volume); 
Vaginoses e vaginites8
 ■ o aspecto das paredes vaginais (bridas, cicatrizes, coloração); 
 ■ as características do colo do útero (colpite, forma, localização, pre-
sença de muco, sangue ou outras secreções, e volume);
 ■ a realização do exame especular possibilita também que sejam feitos 
procedimentos diagnósticos como, por exemplo, a colposcopia, o 
teste de Schiller e biópsias do colo uterino. Além disso, podem ser 
coletadas amostras do conteúdo cervical e vaginal e de citologia 
oncótica cervical, para serem utilizadas no exame laboratorial. 
 � Exame laboratorial — As amostras coletadas do conteúdo cervical e 
vaginal podem ser utilizadas para cultivo, exame a fresco, bacterios-
copia (coloração de Gram) e biologia molecular. 
Segundo Sobel et al. (1995), no caso da vaginose bacteriana, a presença 
de trêsdos quatro critérios de Amsel et al. (1983), são os adotados para 
diagnóstico. São eles:
1. corrimento vaginal branco-acinzentado homogêneo aderente às pa-
redes vaginais; 
2. medida do pH vaginal maior do que 4,5; 
3. presença de “células indicadoras”; 
4. teste das aminas (whiff test) positivo.
A observação da coloração de Gram do conteúdo vaginal e a quantificação 
das bactérias patogênicas e dos Lactobacillus constituem a base para o diag-
nóstico desenvolvido por Nugent, Krohn e Hillier (1991), denominado escore 
de Nugent, e podem ser adotados para diagnóstico da vaginose bacteriana 
(SOBEL et al.,1995). A interpretação do resultado é a seguinte: 
 � escore de 0 a 3 — padrão normal; 
 � escore de 4 a 6 — flora vaginal intermediária; 
 � escore de 7 a 10 — vaginose bacteriana.
A coloração de Gram (Figura 4) revela a presença de células epiteliais 
recobertas por bactérias, sendo assim denominadas “células indicadoras”. 
Nesses casos, pode haver presença de bactérias gram-positivas (coradas em 
violeta) e gram-negativas (coradas em vermelho róseo).  
Vaginoses e vaginites 9
Figura 4. Swab vaginal corado pela metodologia de Gram mostrando células epiteliais com 
bactérias Diplococcus gram-positivas e alguns bacilos gram-negativos.
Fonte: Babul Hosen/Shutterstock.com.
Quando apenas a microscopia não é suficiente para se chegar ao diagnós-
tico, alguns testes de maior sensibilidade diagnóstica podem ser realizados. 
Por exemplo, a cultura dos microrganismos em meio seletivo e diferencial 
pode ser utilizada para se ter a identificação do agente etiológico — Candida, 
por exemplo. Já para T. vaginalis, pode ser feita, por exemplo, a amplificação 
de ácido nucleico (NAAT) (BRASIL, 2020; LEVINSON et al., 2022). 
Lesões celulares 
Uma lesão celular pode ocorrer devido a processos inflamatórios, que podem 
ser desencadeados por agentes biológicos (microrganismos patogênicos), físi-
cos (calor, irradiação e trauma) e químicos (hormônios e substâncias tóxicas). 
Dessa forma, alterações citológicas relacionadas à inflamação podem ser 
observadas e são descritas a seguir (LIMA, 2012).
 � Tipo e intensidade do exsudato: os processos inflamatórios agudos 
caracterizam-se pela presença majoritariamente de leucócitos polimor-
fonucleares do tipo neutrófilo e piócitos. Já nos processos inflamatórios 
crônicos são preponderantes os linfócitos, plasmócitos e histiócitos. 
Vaginoses e vaginites10
O estudo oncológico pode ser inviabilizado pela presença de neu-
trófilos e piócitos sobrepondo-se às células epiteliais. Em processos 
inflamatórios severos, especialmente em mulheres com atrofia do 
epitélio (em razão da pós-menopausa), é possível observar a presença 
de eritrócitos em bom ou mau estado de conservação.
 � Alteração do padrão celular: de acordo com a idade da paciente, es-
pera-se um padrão celular a ser observado no esfregaço. Quando 
mulheres na fase reprodutiva são acometidas pela inflamação genital 
severa, pode ser observada, devido à erosão do epitélio, a destruição 
das camadas superficiais, com o prevalecimento atípico de células 
escamosas parabasais. Dessa forma, o padrão celular não é condizente 
com a faixa etária da paciente, sendo este um exemplo de alteração 
do padrão celular. 
 � Degeneração e necrose celular: são frequentes nos processos infla-
matórios alterações no citoplasma (anfofilia, halos perinucleares, má 
definição dos limites citoplasmáticos, pseudoeosinofilia, vacuolização, 
etc) e no núcleo (hipo ou hipercromasia, ausência da delimitação bem 
definida das suas bordas, aparência homogênea ao núcleo devido à 
ausência dos detalhes de cromatina e tumefação ou retração) das 
células. Alterações como condensação da cromatina (picnose), frag-
mentação do núcleo (cariorrexe) e dissolução nuclear (cariólise) são 
observadas durante a necrose celular. 
 � Alterações reativas: dentre as alterações reativas, podemos mencio-
nar a multinucleação, o nucléolo às vezes proeminente, bem como 
cromatina com granulação mais espessa, sendo mais frequentemente 
observadas nas células endocervicais. Também podem ocorrer espes-
samento uniforme da borda nuclear e hipercromasia.
Você sabia que a necrose é um tipo de morte celular devido à ação 
de enzimas lisossomais que agem digerindo as estruturas celulares? 
Devido a lesões como, por exemplo, um processo infeccioso causado por mi-
crorganismos, a célula normal pode sofrer uma série de eventos que culminam 
na necrose. 
Inicialmente, ocorre a tumefação do retículo endoplasmático e a formação 
de bolhas na membrana celular, em razão da inatividade das bombas de íons 
dependentes de energia na membrana plasmática, resultando em um desequi-
líbrio iônico e líquido. 
Vaginoses e vaginites 11
Em seguida, ocorre a formação de figuras de mielina, o rompimento da 
membrana das organelas, da membrana nuclear e da membrana plasmática, 
culminando no extravasamento e na digestão enzimática do conteúdo intracelular 
e na dissolução da célula. 
A fim de extinguir as células mortas e dar início ao reparo, essa série de 
eventos resulta em um processo inflamatório local. 
A infecção por cocobacilos como a Gardnerella vaginalis, que é a mais 
comumente identificada em pacientes com vaginose bacteriana, pode cau-
sar alterações nas células escamosas. Dentre essas alterações podemos 
mencionar as “células indicadoras”, também chamadas de “células-chave”, 
que se caracterizam pela adesão de microrganismos, desenvolvendo uma 
delgada película glandular sobre as células escamosas com neutrófilos pouco 
presentes (BRASIL, 2020; DÍAZ, 2010; LIMA, 2012).
Nas alterações celulares degenerativas decorrentes da tricomoníase, pode 
ser observado abundante infiltrado de macrófagos e neutrófilos que fagoci-
taram Trichomonas vaginalis se sobrepondo às células epiteliais degeneradas 
conhecidas como “balas de canhão”; halos perinucleares; pseudoeosinofilia; 
e tumefação nuclear. A necrose celular também pode ser observada (CARUSO, 
2010; LIMA, 2012). Em 75% a 80% das pacientes diagnosticadas com tricomo-
níase, é identificada a bactéria com morfologia filamentosa encurvada (S, U 
ou enovelada) denominada Leptothrix vaginalis (LIMA, 2012).
Quando a paciente é acometida pela candidíase vaginal, na observa-
ção do esfregaço do corrimento vaginal podem ser identificadas diferentes 
morfologias de fungos do gênero Candida, como a de blastosporo ou pseu-
do-hifas. Podem ser observadas alterações celulares reativas, como a tume-
fação nuclear; alterações celulares degenerativas, como a pseudoeosinofilia; 
a presença de halos perinucleares; e a retração da borda nuclear (CARUSO, 
2010; LIMA, 2012). Nas células escamosas podem ser observadas a hipercro-
masia e suave alargamento nuclear devido à presença de neutrófilos. Já a 
existência de disceratose e escamas córneas é característica de um efeito 
queratinizante (LIMA, 2012; NAUD et al., 2010). 
Os Actinomyces são bactérias basofílicas, com morfologia filamentosa, e 
ramificadas em ângulo agudo. Sua detecção é observada em pacientes que 
fazem uso de dispositivo intrauterino (DIU) (frequência de aproximadamente 
10%), pessários (suporte de silicone para os órgãos pélvicos) e tampões vagi-
nais (DÍAZ, 2010; LIMA, 2012). Segundo Tatti et al. (2010, pg. 29), “os esfregaços 
são ricos em neutrófilos, podem desprender-se das células endometriais 
em qualquer momento do ciclo menstrual, e as células mais afetadas são 
Vaginoses e vaginites12
as glandulares” durante a infecção por Actinomyces. Alterações celulares 
como vacúolos citoplasmáticos vultuosos, cromatina grumosa e um núcleo 
volumoso com nucléolo proeminente podem ser observadas. 
Efeito citopático compatível com vírus do grupo 
herpes
Considerada uma IST, a herpes genital tem como agente etiológico os herpes 
vírus humanos tipos 1 e 2, sendo que o vírus herpes simples tipo 2 (HSV-2) tem 
sido mais identificado em lesões vaginais (BRASIL, 2020; TORTORA; FUNKE; 
CASE, 2017). Suas principais características estão resumidas no Quadro 1.Quadro 1. Características gerais do vírus herpes simples 
Organismo 
infeccioso Características Manifestação Diagnóstico
Vírus herpes 
simples
Vírus sexualmente 
transmissível que 
infecta e então 
permanece latente 
nos gânglios 
sensoriais, 
podendo 
causar surtos 
recorrentes.
Vesículas que 
ulceram na vulva, 
no colo uterino 
ou na área 
perianal. Durante 
a gravidez, o parto 
deve ser feito por 
cesariana para 
evitar a infecção 
do feto. 
Teste de reação 
em cadeia da 
polimerase do swab 
obtido do centro 
da úlcera. Também 
deve ser feito o 
rastreamento de 
infecções anteriores 
com anticorpos 
sanguíneos. 
Fonte: Adaptado de Reisner (2016). 
Os vírus herpes simples provocam diversas alterações nas células esca-
mosas endocervicais, metaplásicas imaturas e parabasais infectadas, e os 
seguintes eventos podem ser descritos (DÍAZ, 2010; LIMA, 2012).
1. A princípio, ocorre o aumento da célula como um todo e o au-
mento nuclear, que são denominados citomegalia e cariomegalia, 
respectivamente.
2. A membrana celular engrossa, e a cromatina é marginalizada, tornando 
a aparência do núcleo mais fosco.
Vaginoses e vaginites 13
3. O núcleo das células infectadas pode ser mono ou multinucleado, 
sobreposto (sincícios), em graus variáveis de degeneração. O espes-
samento da borda nuclear é estabelecido quando o folheto interno da 
membrana nuclear à cromatina remanescente se acomoda. 
4. Pode ser observada, ocasionalmente, a presença de inclusões nucleares 
e eosinófilos intranucleares denominados corpúsculo de inclusão de 
Lipschutz (halo claro circundando).
5. As mudanças do citoesqueleto e a necrose por coagulação tornam o 
citoplasma denso e fosco. 
Neste capítulo, você pôde aprender mais sobre as vaginoses e as vaginites, 
bem como suas principais características. Grande parte das mulheres será 
acometida por essas doenças que causam grande incômodo e buscarão pelo 
auxílio de um profissional de saúde. Dessa forma, é essencial conhecer sobre 
a etiologia, as manifestações clínicas e o diagnóstico da doença e, além disso, 
ter uma conduta ética e acolhedora para facilitar a adesão do paciente ao 
tratamento e promover educação em saúde. 
Referências 
AMSEL, R. et al. Nonspecific vaginitis: diagnostic criteria and microbial and epidemiologic 
associations. The American Journal of Medicine, v. 74, n. 1, p. 14-22, 1983.
BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção 
integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis (IST). Brasília: MS, 2020. 
Disponível em: http://www.aids.gov.br/system/tdf/pub/2016/57800/pcdt_ist_final_re-
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