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APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 1 @emilly.lorenaa APG 27 – Que cheiro é esse? 1) CONHECER OS AGENTES ETIOLÓGICOS, A EPIDEMIOLOGIA, OS MECANISMOS DE TRANSMISSÃO, OS FATORES DE RISCO, O QUADRO CLÍNICO, O DIAGNÓSTICO E AS COMPLICAÇÕES DAS ISTs QUE CAUSAM CORRIMENTO VAGINAL (TRICHOMONAS VAGINALIS, CANDIDA ALBICANS, GARDNERELLA VAGINALIS) E URETRAL (CHLAMYDIA TRACOMATIS, NEISSERIA GONORRHOEAE; MYCOPLASMA SP.) CORRIMENTO VAGINAL A vagina é um ecossistema dinâmico e complexo, sendo que o seu revestimento é composto por um epitélio escamoso sem queratina que, juntamente com a secreção, faz a 1ª linha de defesa contra infecções. A secreção vaginal fisiológica é branca, inodora e viscosa, com cerca de 200 tipos diferentes de bactérias e 109 unidades bacterianas formadoras de unidades formadoras de colônias por grama de fluido vaginal. A flora bacteriana normal é composta principalmente por lactobacilos, mas outros agentes potencialmente patogênicos podem estar presentes, principalmente quando ocorre desequilíbrio na flora vaginal. Os lactobacilos convertem glicogênio em ácido láctico, que auxilia na manutenção do pH vaginal normal, que varia entre 3,8 e 4,2. Ao analisar a secreção no microscópio, observam-se lactobacilos e menos que 1 leucócito por campo e, eventualmente, algumas clue cells. Cerca de 5 a 10% das mulheres apresentam mucorreia, definida como secreção vaginal acima do normal, e, ao exame especular, há ausência de inflamação vaginal e áreas de epitélio endocervical secretando muco claro e límpido. TRICHOMONAS VAGINALIS A tricomoníase é uma infecção sexualmente transmissível não viral mais comum no mundo. De acordo com a OMS, existem aproximadamente 170 milhões de casos reportados anualmente em pessoas entre 15 e 49 anos, a maioria (92%) em mulheres de países em desenvolvimento. Estudos no Brasil referem prevalência que varia de 2,6% a 20% no sexo feminino. A tricomoníase possui alto poder infectante e pode ser identificada em 30 a 40% dos parceiros masculinos de pacientes infectadas, embora a infecção nos homens seja autolimitada e transitória = os homens são vetores assintomáticos. A incidência depende de vários fatores como idade, atividade sexual, número de parceiros sexuais, sexo desprotegido, outras ISTs e condições socioeconômicas. É causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis. Possui 4 flagelos e uma membrana ondulante, responsável por sua grande mobilidade. A transmissão é predominantemente sexual, embora raramente possam ocorrer outras formas, pois o parasita pode sobreviver fora de seu habitat por algumas horas em condições de umidade. O período de incubação varia entre 4 a 28 dias. A resposta imune celular ao Trichomonas vaginalis pode ser agressiva, com inflamação da mucosa da vagina e exocérvice em mulheres e da uretra em homens. Ocorre intensa infiltração de leucócitos, incluindo os da linhagem TCD4, que são alvo do HIV (é importante cofator na transmissão e aquisição do HIV); Ao penetrar na vagina, o parasita cobre-se com proteínas do hospedeiro, o que permite a evasão dos mecanismos de defesa locais. Além disso, possui a capacidade de sobreviver no meio vaginal ácido, hostil, durante longos períodos de tempo, permanecendo firmemente ligado às células da mucosa vaginal. No homem, infecta a uretra inferior, podendo atingir a próstata, vesícula seminal e epidídimo. Na mulher, além da vagina e exocérvice, pode acometer a uretra, bexiga, glândulas de Skenne e Bartholin e endocérvix. Após a infecção, o parasita raramente é eliminado, podendo permanecer indefinidamente no trato genital. A infecção do trato genital feminino pelo protozoário não induz imunidade duradoura, sendo comuns as infecções recorrentes. Nas mulheres, a tricomoníase pode variar desde portadoras assintomáticas (correspondendo a 1/3 e pode persistir por meses ou anos) até uma doença inflamatória grave a aguda. Embora a maioria das pacientes não apresente sintomas, quando presentes, estes costumam ser mais exacerbados logo após o período menstrual, devido à elevação do pH vaginal APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 2 @emilly.lorenaa e a aquisição de ferro da Hb pelo parasita, o que aumenta sua virulência, ou durante a gravidez. Os principais sinais e sintomas referidos são secreção vaginal abundante e bolhosa, de coloração amarelo- esverdeada, prurido vulvar intenso e hiperemia/edema de vulva e vagina. Menos frequentemente, podem surgir queixas de disuria, polaciuria e dor supra púbica. Quando presente em gestantes, a infecção está associada à ruptura prematura de membranas e ao parto pré-termo. Ao exame ginecológico, geralmente se observam hiperemia dos genitais externos e presença de corrimento espesso, de aspecto purulento, exteriorizando-se pela fenda vulvar. Ao exame especular, verifica-se aumento do conteúdo vaginal, de coloração amarelada ou amarelo-esverdeada, por vezes acompanhado de pequenas bolhas. As paredes vaginais e a ectocérvice apresentam-se hiperemiadas, observando-se ocasionalmente o “colo uterino com aspecto de morango” (colpitis maculáreis), devido às pequenas sufusões hemorrágicas. A medida do pH vaginal revela valores acima de 4,5 e o teste das aminas (whiff test) pode ser positivo devido à presença de germes anaeróbios associados à VB. O método mais utilizado para o diagnóstico, devido ao baixo custo e à praticidade, é a bacterioscopia a fresco, colocando- se em uma lâmina de vidro uma gota de conteúdo vaginal e uma gota de solução salina e observando-se ao microscópio, o parasita é identificado pela movimentação pendular (a mobilidade aumenta se a lâmina estiver aquecida). A bacterioscopia com coloração pelo Gram também permite a identificação do parasita, nesse caso sem os movimentos, o que pode dificultar o reconhecimento. A cultura, realizada em meio específico (Diamond) tem maior sensibilidade (75% a 96%) e especificidade de 100%, embora sejam necessários alguns dias para o resultado. E é recomendado quando há presença de sintomas, mas negatividade do exame a fresco. O tratamento consiste em: Metronidazol: 2g via oral em dose única OU Tinidazol: 2g via oral em dose única. CANDIDA ALBICANS A candidíase vulvovaginal (CVV) caracteriza-se pela infecção vaginal e vulvar por espécies de cândida. Estudos de prevalência indicam que a Candida sp. pode ser isolada no trato genital em aproximadamente 15-20% das mulheres assintomáticas saudáveis. O gênero Candida é constituído por aproximadamente 200 espécies de leveduras saprófitas, que habitam os mais diferentes tecidos e secreções do corpo humano. Cerca de 75% das mulheres apresentarão pelo menos um episódio de vulvovaginite fúngica durante a menacme, sendo que 50% das mulheres infectadas irão apresentar um segundo evento e cerca de 5 a 8% irão apresentar infecções de repetição (4 ou +/ano). As infecções causadas por cândida, e especialmente por Candida albicans, têm aumentado nas últimas duas décadas e representam um custo importante para a saúde. Candida albicans é a espécie mais prevalente, responsável por 85% a 95% dos casos, isso ocorre porque apenas essa apresenta a capacidade de dimorfismo, ou seja, de alterar sua forma habitual para a forma de micélio, mais invasiva; Candida glabrata e Candida tropicalis estão associadas a 5% a 10% dos casos; outras espécies como Candida krusei, Candida parapsilosis e Candida guilliermondii são raramente identificadas. A candidíase vulvovaginal é extremamente importante pelos sintomas, que podem ser muito desagradáveis, por facilitar a aquisição/transmissão de outrasinfecções sexualmente transmissíveis (ISTs), inclusive o HIV, por comprometer a sexualidade e outros aspectos da vida da mulher, afetando negativamente a qualidade de vida. O mecanismo que impede ou favorece a passagem da Candida albicans do estado de comensal para estado patogênico está relacionado à atuação do sistema imune do hospedeiro. A colonização vaginal por fungos parece ser hormônio- dependente, já que é rara na infância e pós-menopausa e frequente na idade reprodutiva ou em mulheres em uso de terapia hormonal. Condições que alterem a concentração hormonal como gravidez e uso de contraceptivos de alta dosagem facilitam a proliferação dos fungos. A ingestão de antibióticos atua no mesmo sentido, provavelmente por alterar a flora protetora lactobacilar APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 3 @emilly.lorenaa Quando o sistema imune não consegue inibir a proliferação dos fungos, ocorre a passagem do estado saprófita para o patogênico, com consequente aparecimento de sinais e sintomas. A concentração de fungos associada aos sintomas é diferente para cada mulher, já que existem diferenças individuais de resposta imune. Um dos componentes do sistema imune é a proteína lectina ligadora de manose, presente nos fluidos corporais e na secreção vaginal, possuindo a capacidade de reconhecer e ligar-se ao polissacarídeo manose que está presente na superfície dos microrganismos. Tal ligação desencadeia a cascata do sistema complemento, levando à lise celular e à fagocitose. Ou seja, a lectina ligadora de manose representa importante componente imune no combate às infecções fúngicas. Entretanto, um polimorfismo no gene que determina a secreção da mesma resulta em menor secreção e consequente diminuição nas concentrações dessa proteína, mulheres que possuem tal polimorfismo apresentam com maior frequência episódios de candidíase vulvovaginal recorrente. O quadro clínico da vulvovaginite fúngica caracteriza-se por prurido, de intensidade variável, acompanhado por corrimento geralmente esbranquiçado (fluido ou com aspecto de “leite talhado”), dependendo da intensidade do processo inflamatório, pode haver queixa de desconforto, dor, disúria e dispareunia. Ao exame ginecológico, é frequente observar hipermia vulvar, edema e fissuras. O exame especular mostra hiperemia da mucosa vaginal e conteúdo vaginal esbranquiçado, em quantidade escassa, moderada ou abundante, de aspecto espesso ou flocular, aderido ou não às paredes vaginais. O pH vaginal encontra-se geralmente abaixo de 4,5. O teste das aminas (whiff test) é negativo na candidíase. A candidíase é classificada em: COMPLICADA: refere-se à candidíase recorrente ou severa ou por espécies não albicans ou em mulheres com diabetes, condições que comprometam o sistema imune (por exemplo, infecção por HIV), debilitadas ou recebendo imunossupressores. Ocorre em aproximadamente 10- 20% das mulheres; NÃO COMPLICADA: a candidíase que se apresenta em episódios esporádicos ou infrequentes, de intensidade leve ou moderada, cujo agente etiológico provavelmente é a Candida albicans e ocorre em mulheres não imunocomprometidas. Sintomas alérgicos podem manifestar-se no trato genital por prurido e corrimento, sendo facilmente confundíveis com a candidíase. O diagnóstico clínico deve sempre ser confirmado pela presença de fungos, que pode ser realizada por meio de: Exame a fresco: realizado colocando-se em uma lâmina de vidro uma gota de conteúdo vaginal e uma gota de soro fisiológico ou hidróxido de potássio a 10% e observando- se ao microscópio a presença de hifas ou esporos; Possui sensibilidade em torno de 50-60%. Bacterioscopia com coloração pelo método de Gram; Cultura em meios específicos: permite a identificação do fungo, sua espécie e eventual realização do antifungigrama, recomendável nos casos recorrentes. GARDNERELLA VAGINALIS Entre mulheres em idade reprodutiva, a vaginose bacteriana (VB) é a principal causa de alterações da secreção. No Brasil, dependendo da população estudada, a afecção é responsável por até 40% dos casos de queixas vaginais. A VB é uma síndrome clínica polimicrobiana que ocorre pelo crescimento anormal de bactérias anaeróbias como Gardnerella vaginalis, Atopobium, Prevotella, Megasphaera, Leptotrichia, Sneathia, Bifidobacterium, Dialister e Clostridium, Peptostreptococcus, Mobiluncus, Bacteroides e Mycoplasma hominis Essa proliferação geralmente está relacionada a um desequilíbrio na flora vaginal normal com redução ou ausência de lactobacilos = tem substituição da flora microbiana saudável por microbiota variável, composta por mistura de bactérias anaeróbias e facultativas. A VB tem sido referida como a mais frequente afecção do trato genital inferior feminino, estando relacionada à ampla variedade de distúrbios do trato reprodutivo, tem prevalência 3x mais elevada em mulheres inférteis do que férteis e é associada a 2x o risco de abortamento após fertilização in vitro. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 4 @emilly.lorenaa Quando presente, no inicio da gestação, tem sido associada a aumento no risco de parto prematuro, aborto espontâneo, baixo peso ao nascer, aumento na morbidade neonatal e altas taxas de endometrite pós- parto. É ainda associada com infecção pelo HPV e lesões intraepiteliais cervicais, aumento nas taxas de infecções pós- cirurgias ginecológicas e obstétricas e aumento em até 6x na taxa de aquisição do HIV. Estudos demonstram associação da vaginose bacteriana com salpingite e infertilidade de causa tubária. Os fatores de risco para VB são variados, incluindo raça negra, uso de duchas vaginais, tabagismo, menstruação, estresse crônico e comportamento sexuais, como elevado número de parceiros sexuais, sexo vaginal desprotegido, sexo anal receptivo antes do sexo vaginal e sexo com parceiro não circuncisado. O quadro clínico caracteriza-se por corrimento de intensidade variável, acompanhado de odor vaginal fétido (“odor de peixe” ou amoniacal). Às vezes, a paciente refere apenas o odor, sendo o corrimento ausente. O odor fétido piora com o intercurso sexual desprotegido e durante a menstruação, devido à volatização de aminas aromáticas (putrescina, cadaverina, dimetilamina) resultantes do metabolismo das bactérias anaeróbias pela alcalinidade do sêmen ou do sangue menstrual. Cerca de 50-70% das mulheres com VB são assintomáticas. Em até 15% dos casos, pode haver prurido e irritação vulvovaginal. Ao exame ginecológico, o conteúdo vaginal apresenta-se homogêneo, em quantidade variável (geralmente escassa, mas pode ser moderada ou abundante) e com coloração geralmente esbranquiçada, branco-acinzentada ou amarelada. Para o diagnóstico, foram propostos alguns critérios, incluindo achados clínicos e laboratoriais ou apenas dados microbiológicos. Os critérios mais conhecidos são: AMSEL: requerem 3 dos 4 itens a seguir: Corrimento vaginal (leucorreia) branco- acinzentado homogêneo aderente às paredes vaginais; Medida do pH vaginal maior do que 4,5; Teste das aminas (whiff test) positivo, ou seja, desprendimento de odor fétido após a adição de KOH 10% a uma gota de conteúdo vaginal; Presença de “células- chave” (“clue cells”), que são células epiteliais recobertas por cocobacilos Gram variáveis na bacterioscopia. Exame a fresco (microscopia) = as células aderem à membrana celular, tornando seu contorno granuloso e impreciso. NUGENT: baseia-se em elementos avaliados na bacterioscopia com coloração pelo método de Gram, particularmente os morfotipos de Lactobacillus, de Gardnerella vaginalis e de Mobiluncus sp. O resultadoda avaliação é traduzido em escores, assim considerados: Escore de 0 a 3: padrão normal; Escore de 4 a 6: flora vaginal intermediária; Escore de 7 a 10 vaginose bacteriana CORRIMENTO URETRAL As uretrites são caracterizadas por inflamação e corrimento uretral. Os agentes microbianos das uretrites podem ser transmitidos por relação sexual vaginal, anal e oral. O corrimento uretral costuma ter aspecto de mucoide a purulento, com volume variável, estando associado a dor uretral (independentemente da micção), disúria, estrangúria (micção lenta e dolorosa), prurido uretral e eritema de meato uretral. Entre os fatores associados às uretrites, foram encontrados: idade jovem, baixo nível socioeconômico, múltiplas parcerias ou APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 5 @emilly.lorenaa nova parceria sexual, histórico de IST e uso irregular de preservativos. Os agentes etiológicos mais frequentes das uretrites são Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. CHLAMYDIA TRACOMATIS A infecção por clamídia é 2-3x mais frequente do que a infecção pelo gonococo, sendo mais prevalente entre jovens ativos ≤ 24 anos. A infecção por CT é a mais comum IST causada por bactéria em todo o mundo, superando a infecção gonocócica e a sífilis. Cerca de 1-25% das mulheres podem estar infectadas. A infecção por clamídia no homem é responsável por aproximadamente 50% dos casos de uretrite não gonocócica. A transmissão ocorre pelo contato sexual (risco de 20% por ato), sendo o período de incubação, no homem, de 14 a 21 dias. A Chlamydia trachomatis é uma bactéria Gram-negativa, intracelular obrigatória com tropismo pelas células epiteliais colunares (conjuntiva, uretra, endocérvice, endométrio e tubas uterinas). Parasita exclusivamente os seres humanos, sendo responsável por várias síndromes infecciosas (ocular, pulmonar, entérica, genital). Há 17 sorotipos diferentes; L1, L2 e L3 são responsáveis pelo linfogranuloma venéreo (LGV), e os sorotipos D a K, pelas DSTs. A infecção por C. trachomatis é frequentemente assintomática (70% dos casos) e pode causar morbidade em longo prazo, especialmente em mulheres assintomáticas. Estima-se que dois terços das parceiras estáveis de homens com uretrite não gonocócica hospedem a C. trachomatis na endocérvice. Estas podem reinfectar sua(s) parceria(s) sexual(ais)e desenvolver quadro de DIP se permanecerem sem tratamento. Quanto às manifestações clínicas da cervicite clamidiana, elas são discretas e frequentemente passam despercebidas. Quando apresenta quadro clínico, podem ocorrer: colo edemaciado (volume aumentado), hiperemiado, com mucorreia (eventualmente purulenta), friável (sangra fácil ao toque); acentuação do ectrópio (mácula rubra), dor no ato sexual e à mobilização do colo uterino ao exame ginecológico. URETRITE (síndrome uretral): 15-25% das parceiras de homens infectados têm cultura uretral positiva. Foi observado que 65% das mulheres com sintomas urinários e uroculturas negativas apresentavam infecções pela clamídia. A síndrome de Rettig e Nelson consiste na persistência de corrimento de fluido seroso, disúria com ou sem infecção anal pela clamídia (sugestivo de uretrite) após tratamento de infecção pelo gonococo. ENDOCERVICITE MUCOPURULENTA: A endocérvice é o local mais comum de infecção da clamídia, e geralmente é assintomática. Deve-se suspeitar do diagnóstico quando houver ectopia hipertrófica folicular periorificial com secreção mucopurulenta endocervical ou quando se obtiver 10 ou mais leucócitos polimorfonucleares por campo de imersão corado pelo Gram. A utilização de técnica de PCR para o diagnóstico da clamídia em amostra de urina (primeira amostra) é o exame mais sensível e pode ser utilizado para a detecção da infecção. A imunofluorescência indireta possibilita o diagnóstico quando os títulos forem superiores ou iguais a 1:64 para imunoglobulina G (IgG) e 1:6 para IgM ou houver aumento de 4x em um intervalo de 2 semanas. A cultura é o exame-padrão, sendo realizada em células de mamíferos (células de McCoy) a partir de amostra endocervical. Possui especificidade de 100% e sensibilidade de 80 a 90%. NEISSERIA GONORRHOEAE A gonorreia é uma infecção cuja transmissão se dá pelo contato sexual, pelo canal do parto ou por fômites. O risco de aquisição em uma única exposição é estimado em cerca de 20% para o homem e 80% para a mulher, e, na exposição contínua, 80% para o homem e 90% para a mulher. A gonorreia apresenta prevalência muito menor que a Chlamydia, porém atinge cerca de 1-2% da população feminina. Causa infecções não complicadas de mucosas, incluindo colo uterino, reto e garganta. Quando não tratada, está associada com número considerável dos casos de doença inflamatória pélvica (DIP), infertilidade de causa tubária, gestação ectópica e dor pélvica crônica Estudos demonstraram forte evidencia de que a infecção pelo gonococo facilita a transmissão do HIV. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 6 @emilly.lorenaa O rastreamento anual deve ser recomendado para mulheres com <25 anos ou para mulheres mais velhas com risco aumentado para ISTs. A sua importância é significativa, pois pode acarretar sequelas, como infertilidade, gravidez ectópica, DIP, trabalho de parto prematuro ou prematuridade. A Neisseria gonorrhoeae é uma bactéria diplococo gram- negativo, aeróbio ou anaeróbio facultativo. Existem 4 subtipos, em que cada um tem sua infectividade diferente. Infecta o epitélio colunar ou de transição (uretra, reto, endocérvice, faringe, conjuntiva, etc), podendo propagar-se por via hematogênica e, ainda, ser carregada pelo próprio espermatozoide. O período de incubação é de 4-7 dias (ocasionalmente 24 horas) no homem e variável na mulher. PATOGÊNESE: N. gonorrhoeae adere às células das mucosas , mediadas pelo Pili/fímbrias, OPA (proteína de adesão da bactéria a célula) e outras proteínas de superfície. Ocorre a invasão, os microrganismos são pinocitados por células que os transportam da mucosa ao espaço subepitelial. A endotoxina prejudica a motilidade ciliar e contribui para a destruição ads células ciliares. O LOS (lipo- oligossacarídeos) causa danos celular e invasão da submucosa por neutrófilos, formação de abscessos e exsudação de material purulento = desencadeia intensa resposta inflamatória, com liberação de TNFα (recrutamento de leucócitos, inflamação e aparecimento de sintomas). Por fim, ocorre a disseminação do gonococo devido à incapacidade dos anticorpos e à falha do sistema. Quanto ao quadro clínico: É assintomática em 60-80% dos casos ou produz sintomas frustos que podem ser diagnosticados apenas quando ocorre alguma complicação. Nos casos sintomáticos, ocorrem sinais e sintomas urogenitais: secreção endocervical mucopurulenta, dor pélvica, dispareunia, sangramento irregular, hiperemia vaginal, disúria, polaciúria, sinais e sintomas de acordo com o estágio da DIP) e sinais e sintomas extragenitais, estes de acordo com o tipo de infecção. A cervicite pelo gonococo é caracterizada por secreção purulenta visível no canal cervical ou presente em swab endocervical, podendo estar associada à secreção vaginal anormal, ao sangramento fácil na manipulação do colo uterino, seja pelo coito, pela coleta de exame citológico ou até mesmo pela introdução do espéculo vaginal. O diagnóstico deve incluir cultura da secreção endocervical para N. gonorrhoeae. Como opção, pode ser realizado Gram da secreção cervical, revelando diplococos gram-negativos associados a leucócitos polimorfonucleares na infecção por N. gonorrhoeae (a sensibilidadeno homem é de 98% e não necessita de cultura, mas na mulher é de apenas 30- 60%, necessitando sempre de cultura). Técnicas de biologia molecular também permitem o diagnóstico da infecção e a utilização de técnicas de teste de amplificação de ácido nucleico. MYCOPLASMA SP Os micoplasmas e os ureaplasma são bactérias cuja maioria das espécies é considerada apenas comensal para o ser humano. Entretando, o Mycoplasma hominis e Ureaplasma urealyticum são conceituados como micoplasmas genitais patogênicos e são considerados também germes oportunistas, por causarem infecção em populações suscetíveis, principalmente em imunodeprimidos; Esses patógenos estão associados a infecções urogenitais em humanos e a infecções respiratórias ou sistêmicas em neonatos. Os micoplasmas podem ser entrados em até 8-41% em mulheres assintomáticas sexualmente ativas e estão claramente relacionados à atividade sexual e aos hormônios sexuais. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 7 @emilly.lorenaa É causa de abortamento habitual e esterilidade por alterações nos espermatozoides, e a colonização genital ocorre basicamente por meio da relação sexual. Esses agentes etiológicos não possuem parede celular (β - lactâmicos não são ativos) e são altamente pleomórficos, considerados como bactérias procarióticas gram-negativas. São considerados parasitas de superfície, aderindo firmemente à mucosa do epitélio urogenital. Quanto ao quadro clínico, em geral, as infecções determinam alterações respiratórias e urogenitais, afetando as mucosas e colonizando o epitélio. Dispareunia, disúria, polaciúria, infecção urinária e genital; Pode estar relacionada a casos de piúrias assépticas, cistites e cistite hemorrágica. Algumas vezes, a sintomatologia sugere cistite, mas a urocultura é negativa. Corrimento vaginal incaracterístico. No exame clínico: Descarga uretral de material com características purulentas; Graus variados de cervicite. A cultura possibilita diagnóstico definitivo, porém, poucos laboratórios realizam esse exame no mundo. Micoplasmas podem ser habitantes normais do homem e da mulher em certas circunstâncias, mas titulação ≥ 103 UTC/mL demonstra desequilíbrio da flora. Nos casos de infecção, geralmente o título é superior ou igual a 106 UCC/mL. Testes de biologia molecular (PCR) de material coletado em amostra de urina possuem grande potencial diagnóstico e podem ser utilizados no futuro. Deve-se ter em mente que, como não há um teste padrão- ouro, a infecção deve ser suspeitada em casos persistentes de cervicite e DIP. REFERÊNCIAS FEBRASGO. Febrasgo - Tratado de Ginecologia. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2018. PASSOS, Eduardo P. Rotinas em ginecologia. Porto Alegre Grupo A, 2017 Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. – Brasília : Ministério da Saúde, 2022. 211 p.