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APG 29 - ISTs uretrais e que causam corrimento vaginal 1. Compreender a etiologia, manifestações clínicas, epidemiologia, transmissão, fatores de risco, diagnóstico e complicações das ISTs uretrais e que causam corrimento vaginal ● Uretrais: chlamydia trachomatis, neisseria gonorrhoeae, mycoplasma sp ● Corrimento vaginal: trichomonas vaginalis, candida albicans, gardnerella vaginalis Síndrome de corrimento vaginal Entre as causas não infecciosas do corrimento vaginal, incluem-se drenagem de material mucoide fisiológico em excesso, vaginite inflamatória descamativa, vaginite atrófica (em mulheres na pós-menopausa) ou presença de corpo estranho. Outras patologias podem causar prurido vulvovaginal sem corrimento, como dermatites alérgicas ou irritativas (sabonetes, perfumes, látex) ou doenças da pele (líquen, psoríase). As infecções do trato reprodutivo – ITR são divididas em: › Infecções endógenas (candidíase vulvovaginal e vaginose bacteriana); › Infecções iatrogênicas (infecções pós-aborto, pós-parto); › IST (tricomoníase, infecção por C. trachomatis e N. gonorrhoeae). A vulvovaginite e a vaginose representam as causas mais comuns de corrimento vaginal patológico, sendo responsáveis por inúmeras consultas. São afecções do epitélio estratificado da vulva e/ou vagina, cujos agentes etiológicos mais frequentes são fungos, principalmente Candida albicans; bactérias anaeróbicas, em especial Gardnerella vaginalis; e o protozoário Trichomonas vaginalis Candidíase vulvovaginal Candida albicans é o agente etiológico da candidíase vulvovaginal – CVV em 80% a 92% dos casos, podendo o restante ser devido às espécies não albicans (glabrata, tropicalis, krusei, parapsilosis) e Saccharomyces cerevisae Transmissão A candidíase é normalmente de origem endógena e não se transmite sexualmente Fatores de risco Para as Candida spp. colonizarem a vagina, elas devem primeiro aderir às células epiteliais vaginais, onde crescem, proliferam-se e germinam antes de finalmente causarem os sintomas de inflamação. Normalmente, são necessárias alterações no ambiente vaginal antes que o organismo possa induzir os efeitos patológicos. Provavelmente, a microbiota natural é a defesa mais importante contra a colonização e a inflamação. Manifestações clínicas Clinicamente, a paciente pode referir os seguintes sinais e sintomas diante de uma CVV clássica: prurido, ardência, corrimento geralmente grumoso, sem odor, dispareunia de introito vaginal e disúria externa. Os sinais característicos são eritema e fissuras vulvares, corrimento grumoso, com placas de cor branca aderidas à parede vaginal, edema vulvar, escoriações e lesões satélites, por vezes pustulosas pelo ato de coçar. Diagnóstico A detecção do brotamento de células de levedura por meio de microscopia de preparação a fresco ou com hidróxido de potássio (KOH) pode ser realizada em laboratórios ou clínicas e apresenta um valor preditivo muito alto para o diagnóstico de CVV. O uso de esfregaços com coloração de Gram e a detecção do brotamento de células de levedura e pseudo-hifas é preferido em alguns centros para a determinação de candidíase. Em mulheres com corrimento vaginal anormal, e na ausência de um microscópio, a detecção de um pH <4,5 é um bom indicador de CVV e pode ajudar a diferenciá-la de uma vaginose bacteriana ou tricomoníase, as quais tipicamente produzem um pH >4,5. Um papel de pH com intervalo estreito (Whatman) é um método de baixo custo, sensível e simples de usar e está disponível na maioria dos lugares. A cultura é atualmente o método mais sensível para a detecção de Candida spp., mas deve ser usada com cautela, uma vez que Candida spp. também são encontradas em mulheres sem CVV Tricomoníase Vulvovaginite menos frequente nos dias atuais, a tricomoníase é causada por um protozoário flagelado unicelular, o Trichomonas vaginalis, e parasita com mais frequência a genitália feminina que a masculina Manifestações clínicas Seus sinais e sintomas característicos consistem em corrimento vaginal intenso, amarelo-esverdeado, por vezes acinzentado, bolhoso e espumoso, acompanhado de odor fétido (na maioria dos casos, lembrando peixe) e prurido eventual, que pode constituir reação alérgica à afecção. Em caso de inflamação intensa, o corrimento aumenta e pode haver sinusiorragia e dispareunia. Também podem ocorrer edema vulvar e sintomas urinários, como disúria. Cerca de 30% dos casos são assintomáticos, mas algum sinal clínico pode aparecer Complicações Não há complicações sérias na mulher na grande maioria dos casos, mas a tricomoníase pode propiciar a transmissão de outros agentes infecciosos agressivos, facilitar DIP, VB e, na gestação, quando não tratada, pode evoluir para rotura prematura das membranas Diagnóstico Existem quatro classes principais de ensaios de diagnóstico laboratorial: microscopia de preparação a fresco, detecção de antígenos, cultura e testes de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT). O diagnóstico laboratorial microbiológico mais comum é o exame a fresco, mediante gota do conteúdo vaginal e soro fisiológico, com observação do parasita ao microscópio. Habitualmente, visualiza-se o movimento do protozoário, que é flagelado, e um grande número de leucócitos. O pH quase sempre é maior que 5,0. Na maioria dos casos, o teste das aminas é positivo. À bacterioscopia com coloração pelo método de Gram, observa-se o parasita Gram-negativo, de morfologia característica. A cultura pode ser requisitada nos casos de difícil diagnóstico. Os meios de cultura são vários e incluem o de Diamond, Trichosel e In Pouch TV O diagnóstico de tricomoníase é baseado no odor, qualidade e quantidade de corrimento vaginal, no pH vaginal e na possível presença de friabilidade cervical. Normalmente, o pH vaginal >6.0, o corrimento exacerbado ou branco espumoso e a friabilidade cervical pontuada (colo do útero com aspecto de morango) são sugestivos de infecção por T. vaginalis. Epidemiologia Primeiro, a faixa etária em que a infecção incide é distinta daquela na qual ocorre a infecção por clamídia ou gonorreia. Nessas últimas, em menor medida no que se refere à infecção gonocócica, o pico de prevalência ocorre em mulheres com 15-25 anos, enquanto que as infecções por T. vaginalis apresentam o seu pico substancialmente mais tarde na vida (entre 40-50 anos de idade). A segunda diferença é que, embora o T. vaginalis dependa da transmissão sexual para mover-se de hospedeiro para hospedeiro, a distribuição das infecções diagnosticadas em laboratório é altamente desigual entre homens e mulheres, com uma razão de sexos de até 4:1 Vaginose bacteriana (gardnerella vaginalis) Está relacionada a alterações na microbiota vaginal (devido a mecanismos até o momento desconhecidos e a fatores do hospedeiro), causando um aumento no pH local, o que resulta na redução de lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio. Os lactobacilos ajudam a manter a acidez do pH de vaginas saudáveis e a inibir outros microrganismos anaeróbicos. Não é uma IST Na VB, a população de lactobacilos é muito reduzida, enquanto as populações de vários anaeróbios e de Gardnerella vaginalis são aumentadas. Os anaeróbios envolvidos na VB incluem Mobiluncus spp., Prevotella spp., Bacteroides spp., Peptostreptococcus, Fusobacterium, Eubacterium spp., Mycoplasma hominis e Ureaplasma urealyticum. Manifestações clínicas Sem lactobacilos, o pH aumenta e a Gardnerella vaginalis produz aminoácidos, os quais são quebrados pelas bactérias anaeróbicas da VB em aminas voláteis (putrescina e cadaverina), levando ao odor desagradável, particularmente após o coito e a menstruação (que alcalinizam o conteúdo vaginal), o que constitui a principal queixa da paciente. A afecção é facilmente identificada ao exame especular, que mostra as paredes vaginais em sua maioria íntegras, marrons e homogêneas ao teste de Schiller, banhadas por corrimento perolado bolhoso em decorrência das aminas voláteis Complicações A VB aumenta o risco de aquisição de IST (incluindo o HIV), e pode trazer complicações às cirurgias ginecológicase à gravidez (estando associada a ruptura prematura de membranas, corioamnionite, prematuridade e endometrite pós-cesárea). Quando presente nos procedimentos invasivos, como curetagem uterina, biopsia de endométrio e inserção de dispositivo intrauterino – DIU, a VB aumenta o risco de doença inflamatória pélvica – DIP. Diagnóstico Se a microscopia estiver disponível, o diagnóstico é realizado na presença de pelo menos três critérios de Amsel: › Corrimento vaginal homogêneo; › pH >4,5; › Presença de clue cells (células guia) no exame de lâmina a fresco; › Teste de Whiff positivo (odor fétido das aminas com adição de hidróxido de potássio a 10%). O padrão-ouro é a coloração por Gram do fluido vaginal. Quantifica-se o número de bactérias e lactobacilos patogênicos, resultando em um escore que determina se há infecção. O mais comumente utilizado é o sistema de Nugent Síndromes de corrimento uretral Cervicite (clamídia e gonorréia) As cervicites são frequentemente assintomáticas (em torno de 70% a 80%). Nos casos sintomáticos, as principais queixas são corrimento vaginal, sangramento intermenstrual ou pós-coito, dispareunia, disúria, polaciúria e dor pélvica crônica. Os principais agentes etiológicos são Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae Fatores de risco Os fatores associados à prevalência de cervicite são: mulheres sexualmente ativas com idade inferior a 25 anos, novas ou múltiplas parcerias sexuais, parcerias com IST, história prévia ou presença de outra IST e uso irregular de preservativo Complicações As principais complicações da cervicite por clamídia e gonorreia, quando não tratadas, incluem: dor pélvica, DIP, gravidez ectópica e infertilidade Manifestações clinicas Os sinais e sintomas da cervicite por C. trachomatis ou N. gonorrhoeae, em 60% a 80% das vezes, caracterizam-se por dor à manipulação do colo, muco cervical turvo ou amarelado e friabilidade cervical. Além disso, outros sintomas, como corrimento vaginal, febre, dor pélvica, dispareunia e disúria também podem estar associados à cervicite Clamídia A Clamydia trachomatis, agente etiológico da clamídia A C. trachomatis classifica-se em três biovariantes, cada uma contendo vários sorotipos e genótipos (dependendo do método utilizado para classificação). As biovariantes são definidas com base no tipo de infecção, localização comum da infecção (tropismo por tecido) e virulência relativa da doença, dividindo-se entre aquelas que causam tracoma (a maior causa de cegueira evitável em todo o mundo, endêmica em muitos países em desenvolvimento), as que causam infecções genitais (a DST bacteriana mais frequente no mundo) e as que causam linfogranuloma venéreo (LGV, uma doença de úlcera genital que afeta os tecidos linfoides) A biovariante predominante consiste dos sorotipos D-K, os quais são transmitidos sexualmente e infectam o epitélio genital, causando uretrite em homens e cervicite (e uretrite) em mulheres Transmissão Sexual Manifestações clínicas Síndrome de Reiter: conjuntivite, uretrite e artrite Complicações Se não for detectada e tratada, a infecção pode ascender para o trato genital superior, causando epididimite em homens e doença pélvica inflamatória (PID) e sequelas relacionadas (gravidez ectópica, infertilidade por fator tubário) em mulheres. Os recém-nascidos ainda podem desenvolver pneumonia por clamídia, devido à exposição a esses sorotipos durante o parto vaginal Diagnóstico Conforme mais testes ELISA foram sendo desenvolvidos, vários ensaios point-of-care (POC), rápidos, tornaram-se disponíveis. Os EID, ELISA e POC apresentavam baixa sensibilidade quando comparados à cultura, e especificidade inferior à ideal. Entretanto, a rapidez para a liberação do resultado e as necessidades menos restritivas para o transporte do espécime tornaram esses ensaios uma opção atraente, especialmente em lugares de alta prevalência. Devido às características superiores de desempenho, como, por exemplo, sensibilidade, especificidade, variedade dos tipos de espécimes, automação e independência para manter a viabilidade do organismo, os NAAT são fortemente recomendados para o diagnóstico e triagem de infecções por clamídia. Gonorreia A gonorreia, causada pela Neisseria gonorrhoeae (gonococo), é uma doença antiga, transmitida quase exclusivamente por contato sexual. Os gonococos são Gram-negativos, aeróbicos, capnofílicos (preferem concentrações aumentadas de dióxido de carbono [CO2 ]), não flagelados, não esporulados e constituem cocos produtores de oxidase e catalase, tipicamente dispostos em pares (diplococos) com os lados côncavos adjacentes A N. gonorrhoeae é exigente e requer meios de cultura complexos e nutricionalmente enriquecidos para seu crescimento in vitro. Manifestações clínicas Agente etiológico das infecções do trato urogenital inferior – uretrite em homens e cervicite em mulheres. Inclui um espectro de doenças em diferentes órgãos, incluindo o trato urogenital, faringe, reto e conjuntiva. Complicações A infecção pode migrar para o trato genital superior e causar uma infecção gonocócica complicada (por exemplo, a doença inflamatória pélvica, além de sequelas relacionadas, como a gravidez ectópica e infertilidade) em mulheres, e, em homens, edema peniano e epididimite. Também pode causar conjuntivite em adultos; porém, mais comumente, a infecção dos olhos se apresenta na forma de oftalmia neonatal em recém-nascidos. Diagnóstico Os procedimentos laboratoriais são necessários para diagnóstico, detecção de casos e teste para a avaliação da cura. O diagnóstico de gonorreia é estabelecido pela identificação de N. gonorrhoeae em secreções genitais e extragenitais Um esfregaço para microscopia corretamente preparado com coloração de Gram para identificar diplococos Gram-negativos intracelulares em leucócitos polimorfonucleares (LPMN) é sensível (95%) e específico (97%) para o diagnóstico de gonorreia em homens sintomáticos com corrimento uretral. Em mulheres, no entanto, o esfregaço de secreções cervicais detecta apenas 40-60% de espécimes com cultura positiva, o que pode refletir o baixo número de gonococos em mulheres. Por muitas décadas, a cultura de N. gonorrhoeae foi considerada o “padrão ouro” para o diagnóstico tanto da gonorreia genital quanto extragenital Nas duas últimas décadas, os testes de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT) foram desenvolvidos e introduzidos para a detecção específica do DNA/RNA da N. gonorrhoeae. Esses testes são geralmente mais sensíveis do que a cultura para o diagnóstico da gonorreia, especialmente em amostras do reto e faringe Micoplasmas genitais Micoplasma é o nome comum para os membros da classe Mollicutes. Os micoplasmas são bactérias muito pequenas de vida livre, com tamanhos variando normalmente de 0,3 a 0,5 µm. Elas não apresentam uma parede celular rígida, como outras bactérias, o que torna essas últimas resistentes à penicilina e outros antibióticos. O M. genitalium, o M. hominis e as duas espécies de Ureaplasma, U. urealyticum (anteriormente conhecido como U. urealyticum, biotipo 2) and U. parvum (anteriormente conhecido como U. urealyticum, biotipo 1) são encontrados comumente no trato urogenital humano. O M. genitalium teve forte e uniforme associação com a uretrite não gonocócica Manifestações clínicas O M. genitalium é uma causa comum de uretrite em homens e mulheres, e causa cervicite e infecção no trato genital superior em mulheres Complicações Aumento do risco de cervicite, DIP, parto prematuro, infertilidade e aborto espontâneo Diagnóstico Para fins práticos, o diagnóstico de M. genitalium é limitado ao teste de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT), uma vez que a cultura é extremamente lenta (vários meses), desafiadora e de baixa sensibilidade. Até o momento, nenhum ensaio sorológico, ensaio de detecção de antígeno ou testes remotos provaram ser úteis para o diagnóstico de infecções urogenitais por M. genitalium.
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