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MARÇO/2017 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UAB CURSOS DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 1 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 2 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS-LIBRAS PROFESSORAS: ANA PRISCILA GUEDES ALANNA ALENCAR NADIA FONSECA JOCELMA LIMA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 3 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 4 SUMÁRIO LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS....................................6 ESTRUTURA GRAMATICAL � PARÂMETROS � TIPOS DE FRASES CULTURA E IDENTIDADE SURDA................................13 ESCRITA DE PORTUGUÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA DE SURDOS..........................................................................15 AS ABORDAGENS EDUCACIONAIS PARA SURDOS E LEGISLAÇÃO......................................................................18 FILOSOFIAS EDUCACIONAIS.......................................20 A ESCOLA E O SURDO......................................................22 O TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS – TILS ......25 � O PAPEL DO TILS EDUCACIONAL LEGISLAÇÃO......................................................................27 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 5 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 6 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS O primeiro questionamento que se faz, é se a forma de comunicação dos surdos é de fato uma Língua. Ao se descobrir a resposta surge outros questionamentos, ela é universal? Ou seja, em outros países onde existem surdos a forma de comunicação é a mesma ou existe línguas de sinais distintas para cada pais? Há uma gramática que rege essa forma de comunicação? Essa unidade se propõe a fornecer respostas satisfatórias para esses questionamentos e muitos outros, como por exemplo: o que é cultura surda? O que é a Identidade Surda e quais as principais Identidades, bem como explanará particularidades da escrita do surdo em Português como segunda Língua. A sigla LIBRAS significa Língua Brasileira de Sinais. Estudos linguísticos apontam que os estudos da língua de sinais, iniciaram nos anos 1960, com o linguístico americano, William Stokoe, constatando que as línguas de sinais têm estrutura própria e, portanto, status de idioma, como qualquer outro de modalidade oral. Com isso, os estudos de língua de sinais ganham força. Suas proposições, embora fossem baseados na ASL (Língua de Sinais Americana) beneficiou as demais línguas de Sinais em todo o mundo, servindo como mola propulsora para novas pesquisas, incluído o Brasil como celeiro de estudos nessa área. A principal diferença entre línguas orais-LO e Línguas de Sinais- LS, é o meio de recepção e produção. Nas LOs o canal utilizado é oral-auditivo e nas LSs viso- espacial. Todavia, essa manifestação linguística nem sempre foi aceita, geralmente essa forma de comunicar-se era vista apenas como gestos, mímica, que são formas de comunicação inferior em relação a uma língua natural por não possuírem gramatica e por haver dificuldades de repassar conceitos abstratos. Esse fato esclarece uma das perguntas indicadas no início dessa unidade a saber: A Língua de Sinais é a mesma em todo mundo? Muitos se surpreendem como a afirmação de que não é universal. A Língua de Sinais é diferente em cada país. Por isso que a nossa é a Língua Brasileira de Sinais. ESTRUTURA GRAMATICAL A Libras tem a sua estrutura organizada a partir de alguns parâmetros principais que estruturam sua formação nos mais diferentes níveis linguísticos. Parâmetros principais: a)Configuração de Mão (CM) : a forma que a mão assume ao realizar o sinal. Veja a seguinte tabela enumerada, que apresenta 61 formas que a mão assume ao sinalizar: LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 7 Não confundir com o Alfabeto manual. As configurações de mão utilizada para produzir as letras do alfabeto e números, compõem o quadro das configurações de mão. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 8 Veja a tabela do alfabeto Manual: Agora veja a tabela dos números: LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 9 Números em relação a quantidade: Segue a explicação dos demais parâmetros b) Movimento (M): é o deslocamento da mão no espaço, durante a realização do sinal. c) Ponto de Articulação (PA): é o lugar no corpo onde é realizado o sinal, geralmente há um toque nesse local, ou é realizado no espaço neutro na frente do emissor. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 10 d) Orientação de Mão (OM):é a direção da palma da mão na realização do sinal e) Expressões não manuais (Expressões facial e corporais):é a expressão que é usada na face e no corpo que irá fornecer o significado ao sinal realizado. Falar sobre a gramatica e estrutura da Língua de Sinais é um assunto muito extenso, que o tempo dedicado a esta disciplina não comtempla. Pois como já mencionado, por se tratar de uma língua, e tem seus aspectos linguísticos contemplados em todos os níveis, morfológico, fonético, fonológico, pragmático, sintático, faltaria tempo para explanar detalhadamente esses pontos. Mas como futuros professores, é importante conhecer o Surdo como sujeito capaz e também conhecer alguns aspectos sobre a comunidade surda, que facilitaram a sua convivência com esse aluno e forneceram alguns esclarecimentos para que como professor seja possível fazer uma avaliação do aluno surdo, facilitando também escolher melhor estratégias de ensino e aprendizagem desse sujeito, que estar inserido na comunidade escolar, mas que muitos não sabem como lidar. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 11 TIPOS DE FRASES De acordo com Felipe e Monteiro (1997), as línguas de sinais utilizam as expressões faciais e corporais para estabelecer formas negativas ou interogativas, “por isso, para perceber se uma frase em Libras está na forma afirmativa, exclamativa, interrogativa ou negativa precisa-se estar atento às expressões facial e corporal (sic) que são feitas simultaneamente a certos sinais ou com toda a frase”. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 12 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 13 CULTURA E IDENTIDADE SURDA O termo cultura hoje ganha um sentido mais plural nesse mundo globalizado. Deixando de ser de domínio apenas dos eruditos e tradicionais, ganha novosentido, como afirma, Costa , Silveira e Sommer: Em sua flexão plural – culturas – e adjetivada, o conceito incorpora novas e diferentes possibilidades de sentido. É assim que podemos nos referir, por exemplo, à cultura de massa, [...] às culturas juvenis, à cultura surda, à cultura empresarial ou as culturas indígenas, expressando a diversificação e a singularização que o conceito comporta. (COSTA; SILVEIRA; SOMMER,2003,p. 36) Para a autora surda Strobel cultura é: uma cultura é um conjunto de comportamentos apreendidos de um grupo de pessoas que possuem sua própria língua, valores, regras de comportamento e tradições;(STROBEL 2008) Quando refletimos nesse conceito, vemos que a Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando- os com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. (STROBEL, 2008, p.30). Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo que são manifestadas de diversas formas segundo a mesma autora. Por exemplo: - Sua experiência visual – pela ausência da audição esse é o principal canal para seu entendimento de mundo -Sua língua – diferenciada por ter uma modalidade diferente das línguas orais, quando adquirida torna-se seu principal meio de comunicação, e produção e recepção de conhecimento. -Família – Por falar um idioma diferente dos demais membros da família, em casa é isolado do convívio com todos os demais familiares, exceção quando a família também aprende a sua língua, salva esse caso, tem preferencia para estar com seus pares. -Literatura Surda - são feitas adaptações dos clássicos da literatura do país bem como literaturas criadas pelos próprios surdos onde o surdo e seu jeito de vê o mundo são contemplados no enredo das histórias. -Arte visual – são produzidas artes com a temática do mundo que os cerca. -Vida social - Geralmente gostam de sair, passear, como todos as demais pessoas, e quando estar junto com seus pares a conversa não tem hora para acabar. - Vida esportiva – Não comtemplados nas competições olímpicas e demais competições da comunidade ouvinte de seu pais, criam seus próprios campeonatos onde as regras são as mesmas utilizadas da comunidade ouvinte, mas com adaptações dos aspectos auditivos para visuais, como por exemplo o apito dos juízes são trocados por bandeiras em jogos de futsal . - Politica – Existe o movimento surdo onde há lideranças engajadas para discursões e manifestações para lutares pelos seus direitos. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 14 - Tecnológica- tiram todo o proveito possível dos aspectos tecnológicos, para se comunicarem. Sua língua de característica visual se beneficia de mídias, computadores e APPs facilitando a comunicação entre eles e entre a comunidade ouvinte e eles. Ao articular a cultura com a identidade de um sujeito, é preciso entender que cada sujeito ao decurso da vida pode vivenciar processos múltiplos de identificação. No caso dos surdos temos varias identidades que se formam pelas culturas em contato. A saber a cultura de ouvintes , sendo maioria, geralmente o surdo nasce em família de ouvintes que nada sabem ou pouco sabem sobre a comunidade surda e sua manifestação cultural. Ao se mesclarem de culturas surgem identidades surdas Gladis Perlin (2005), investigadora surda brasileira, cita algumas das várias identidades comuns entre o povo surdo (aqui, entende-se “povo surdo” como um conceito lato e abrangente: a população total de surdos, sejam usuários de línguas gestuais, sejam oralizados, sejam participantes ou não das comunidades surdas).São estas: Identidade surda politica- se caracteriza pelo sujeito usuário da língua de sinais, participante de movimentos políticos, exige a acessibilidade comunicativa entre outras coisas. Identidade hibrida – conhecem a estrutura do português falado mas também são usuários da língua de sinais, convive entre as duas culturas tranquilamente Identidade Flutuante – não participam da comunidade surda, não são usuários da língua de sinais, segue a representação da identidade ouvinte. Identidade embaçada – não conseguem captar a fala nem a representação do ouvinte, são vistas como incapacitadas e são os ouvinte que determinam seus comportamentos. Identidade de transição – vivida pelas maiorias dos sujeitos surdos, nascem na família de ouvintes e só depois entram em contato com a comunidade surda e depois ocorre a mudança para a identidade Surda politica. Identidade diáspora – estar presente nos surdos que mudam de um pais para outro ou de estado. É o que o faz identificasse como o local, por exemplo, o surdo carioca, ou brasileiro em relação ao estrangeiro. Identidade intermediaria – apresenta alguma porcentagem de surdez mas leva uma vida de ouvinte. Dá importância ao uso de aparelhos auditivos e procura vantagens na amplificação do som. Para identificar a identidade, a base será sempre a experiência visual do sujeito. No caso de construção de uma identidade a base será sempre a identidade politica, que tem a consciência de seus direitos e luta por ela. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 15 ESCRITA DE PORTUGUÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA DE SURDOS Sabemos que por se tratar de duas línguas diferentes, português e língua brasileira de sinais, há diferenças estruturais entre essas línguas e, por isso, as relações entre as estruturas não se estabelecem da mesma forma nos dois sistemas linguísticos. Nesse sentido, uma das dificuldades que o surdo tem apresentado na sua produção textual em português é exatamente a de fazer as ligações entre palavras, segmentos, orações, períodos e parágrafos, posição correta de artigos, preposições, ou seja, a de organizar sequencialmente o pensamento em cadeias coesivas na língua portuguesa. Essa ideia tem levado muitos a acreditarem que textos produzidos por uma pessoa surda não têm coerência e são de certa forma agramatical. Apesar dessas evidencias, no que diz respeito à coerência, os textos produzidos pelos surdos, são compreensíveis e expressam ideias inteligíveis. No entanto, no geral ao produzir um texto, observam-se orações curtas e simples, consistindo, na maioria das vezes, sua composição é de sujeito, verbo e objeto. Seus verbos são conjugados no presente e quase na maioria das vezes no infinitivo, raramente são flexionados. Por exemplo: Isso se deve ao fato de que a língua portuguesa escrita é uma língua estrangeira para os devidos alunos, e, por isso, seus textos serão escritos com base em suas estruturas internalizadas da sua língua materna, a língua de sinais. Nos textos produzidos por alunos surdos, são verificáveis reflexos da estrutura internalizada da L1 subjacentes à codificação morfossintática de L2. Tais reflexos são normais em um estágio de interlíngua, mas precisam ser trabalhados. Ao passo que o aluno começa a adquirir a língua escrita, não consegue perceber as diferenças entre a gramática de sua língua e da gramática da língua em aprendizagem. Sendo importante ressaltar que apropriação da L2 por alunos surdos é completamente possível. É observável que entraves encontrados são, na maioria dos casos, muito mais de cunho pedagógico-metodológico do que por incapacidade do aluno surdo. A falta de conhecimento, por parte dos professores, acerca da língua de sinais, bem como da LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 16 influência da gramática desta na aprendizagem do português escrito, certamente, inviabiliza a escolha e a aplicação de procedimentos metodológicos que contribuam efetivamente para um ensino bilíngue. Isso não quer dizer que alunos surdos não possamadquirir uma segunda língua, de forma a assemelhar-se ao seu padrão normativo, mas, que para isso, há de se reestruturar a prática pedagógica de ensino de língua portuguesa para que haja as condições necessárias para a melhoria da escrita da língua portuguesa para surdos para surdos. Tornando-se necessário que o avaliador desta produção tenha plena ciência de tudo que estar envolvido em uma produção escrita de um aluno surdo, tendo português como segunda língua em processo de aprendizagem, para que a avaliação seja coerente com essa situação especifica. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 17 BIBLIOGRAFIA COSTA, Marisa V.; SILVEIRA, Rosa H; SOMMER, Luís Henrique. Estudos Culturais, educação e pedagogia. Revista brasileira de educação. Rio de Janeiro, n.23, p 36-61, maio/jun./jul./ago. 2003. Ensino de língua portuguesa para surdos : caminhos para a prática pedagógica / Heloisa Maria Moreira Lima Salles... [et al] . _ Brasília : MEC, SEESP, 2004. 2 v. : il. . __(Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos) Paraná, secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Educação Especial. Aspectos Linguísticos da Língua Brasileira de Sinais./ Secretaria do Estado da educação. Departamento de Educação Especial. – Curitiba: SEED/SUED/DEE.1998 LEITURA COMPLEMENTAR PEREIRA, M. C. C.. Leitura, escrita e surdez.1. ed. São Paulo: FDE, 2005. v. 01. 104 p. PERLIN, Gládis T.T. Identidades surdas. In Skliar Carlos (org.) A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998 RODRIGUES, Cristiane Seimetz. Valente, Flavia./Aspectos Linguísticos da Libras./Cristiane Seimetz Rodrigues e Flavia Valente. – Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2011. STROBEL, K, L. As Imagens do outro sobre a Cultura Surda. Florianópolis, Ed. Da UFSC, 2008. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 18 AS ABORDAGENS EDUCACIONAIS PARA SURDOS E LEGISLAÇÃO Breve Histórico da Educação Surda: Para compreender a existência da cultura surda é necessário aproximar-se desta deixando de lado pré-conceitos e abrindo-se à pluralidade. Conhecer a história e as filosofias educacionais para o povo surdo é um dos passos primordiais para analisarmos criticamente as consequências de cada filosofia no desenvolvimento das crianças, assim como a forma como os surdos foram tratados ao longo do tempo. Foi predominante na antiguidade a visão negativa do surdo como aquele que não pode ser educado. Mais além, eram vistos com piedade e compaixão, como castigados pelos deuses ou enfeitiçados; ou, de forma mais desprezada, sendo abandonados ou até sacrificados. Em sociedades onde predominavam o espírito guerreiro e a idolatria pela perfeição física (como Esparta e Roma) havia sacrifícios daqueles que nasciam fora do padrão da “normalidade”, isto é, com algum tipo de deficiência física ou mental. De modo geral, nas sociedades do mundo considerado antigo e/ou clássico, o povo surdo era marginalizado: estereotipados como “anormais”, isolados, presos, considerados párias e vistos como improdutivos ou inúteis. É somente então no século XVI, período considerado como a modernidade, que surgem os primeiros educadores de surdos. O monge beneditino espanhol Pedro Ponce de Leon (1520-1548) foi um importante educador, além de fundador de uma escola de professores de surdos. Utilizava a datilologia – representação manual das letras do alfabeto, a escrita e a oralização como metodologias de ensino. Esta preocupação educacional de surdos deu lugar às aparições de numerosos professores que desenvolveram, simultaneamente, seus trabalhos com os sujeitos surdos e de maneira independente, em diferentes lugares da Europa. Havia professores que se abocavam na tarefa de comprovar a veracidade da aprendizagem dos sujeitos surdos ao usar a língua de sinais e o alfabeto manual e em muitos lugares havia professores surdos (STROBEL, 2006, p. 248). O século XVIII é considerado o período mais fértil da educação surda face ao aumento do número de escolas e do ensino de língua de sinais. Os surdos podiam aprender e dominar diversos assuntos, bem como exercer várias profissões. Destacou-se na época, o abade francês Charles Michel de L’Epée (1750), que criou os “Sinais Metódicos”, uma combinação de língua de sinais com gramática sinalizada francesa. Este educador transformou sua casa em escola pública e acreditava que todos surdos deveriam ter acesso à educação. No mesmo século, o alemão Samuel Heinick (1754) esboçou as primeiras noções da filosofia oralista. No século seguinte, nos Estados Unidos, Thomas Hopkins Gallaudet e Laurent Clerc (1815) unem o léxico da língua de sinais francesa com a estrutura da língua francesa, adaptando para o inglês, em 1815. Disto surgiram os primeiros esboços da Comunicação Total. Em 1864 é fundada a primeira universidade para surdos em homenagem ao LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 19 pesquisador, a Universidade Gallaudet. Atualmente, além desta, existe apenas a Tsukuba College of Technology (Japão). A partir da década de 1860, o oralismo ganhou força e aumentou a oposição à língua de sinais. Em 1880, durante o Congresso Internacional de Educadores de Surdos em Milão, na Itália, a língua de sinais foi proibida, o que provocou uma reviravolta na educação de surdos. Naquela ocasião os professores surdos haviam sido proibidos de votar. Apesar de tal mudança, os códigos não chegaram a serem eliminados, porém simplesmente foram conduzidos ao mundo marginal, onde sobreviveram devido às contraculturas. Dessa forma, o atendimento aos surdos ficou voltado à filantropia e ao assistencialismo: os indivíduos eram entregues pelas famílias às instituições e aos asilos, em regime de internato. Existiram tentativas de resgate dos surdos do anonimato durante século XX, contudo o ouvintismo cada vez mais ganhava força e legitimidade pelos discursos científicos, sobretudo pela visão clínica que, de modo geral, encara a surdez como uma doença. Em 1960, a publicação de William Stokoe, Sign Language Structure: An Outline of the Visual Communication System of the American Deaf, começou modificar a visão da sociedade perante os surdos. A partir desta publicação surgiram diversas pesquisas sobre a língua de sinais e sua aplicação na educação e na vida do surdo, que, aliadas a uma grande insatisfação por parte dos educadores e dos surdos com o método oral, deram origem à utilização da língua de sinais e de outros códigos manuais na educação da criança surda (GOLDFELD, 2001, p. 28). A década de sessenta ainda seria marcada pelos estudos de Dorothy Schifflet (1965), constituindo a Abordagem Total, e Roy Holcom (1968), que fundamentou a Comunicação Total. Nas décadas seguintes, diversos países perceberam que a língua de sinais deveria ser utilizada independentemente da língua oral, isto é, o surdo deveria utilizar sinais em determinadas situações e a oral em outras ocasiões, e não concomitantemente, como era feito. As décadas de 1980 e 1990 marcaram o desenvolvimento da filosofia Bilíngue, que, a partir de então, popularizou-se pelo mundo. No Brasil, percebemos a convivência das três principais abordagens pedagógicas, em que divergências sempre existiram – oralismo, comunicação total e bilinguismo. A educação surda iniciou aqui durante o Segundo Império quando Dom Pedro II trouxe o professor surdo francês Hernest Huet. Em 1857 foi fundado o Instituto Nacional de Surdos-Mudos (atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos – INES). Em 1911 foi estabelecido o oralismo puro, contudo, de forma marginalizada, outras filosofias perduraram. Este panorama começou sealterar nas décadas de 1970 e 1980, com os estudos sobre Comunicação Total e a visita da pesquisadora Ivete Vasconcelos. As décadas seguintes marcaram a ascensão do Bilinguismo com as pesquisas da professora Lucinda Ferreira Brito (1993), que em 1994 propôs a abreviação “LIBRAS” para a língua de sinais no Brasil. Hoje, contamos com várias classes especiais, salas de recursos e espaços educacionais para os surdos, contudo, isto se mostra insuficiente diante da realidade que vivemos. A maioria dos países convive com estas diferentes visões filosóficas sobre os surdos e sua educação. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 20 Observemos brevemente os princípios de cada uma destas filosofias. FILOSOFIAS EDUCACIONAIS. O oralismo visa a integração da criança surda na comunidade ouvinte, observando a surdez como uma deficiência que deve ser minimizada pela estimulação auditiva. Assim, esta corrente educacional prioriza desenvolver uma personalidade ouvinte em uma pessoa surda em direção à “normalidade” e “não-surdez”. A crença de que a língua oral é a única forma desejável de comunicação é predominante para os educadores que se baseiam nesta filosofia. Para o oralismo, A criança surda deve, então, se submeter a um processo de reabilitação que inicia com a estimulação auditiva precoce, ou seja, que consiste em aproveitar os resíduos auditivos que quase a totalidade dos surdos possuem e possibilitá-las a discriminar os sons que ouvem [...] deve chegar à compreensão da fala dos outros e por último começar a oralizar. Este processo, que deve ser iniciado ainda no primeiro ano de vida, dura em torno de 8 a 12 anos, dependendo das características individuais da criança (GOLDFELD, 2001, p. 32). Os surdos que conseguem dominar as regras da língua oficial, no caso brasileiro, a língua portuguesa, e conseguem falar – oralizar – são considerados bem-sucedidos e aptos como membros da comunidade ouvinte. Porém, a história da educação surda nos mostra que as crianças geralmente não têm acesso a uma educação especializada e que a língua oral não dá conta de todas as necessidades e especificidades da comunidade surda. Já a comunicação total possui como principal preocupação os processos comunicativos entre surdos e surdos e entre surdos e ouvintes, considerando que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais não devem ser deixados de lado em prol do aprendizado exclusivo da língua oral. Tal corrente utiliza basicamente recursos espaço- visuais como facilitadores de aprendizagem. Esta filosofia defende o uso de qualquer recurso linguístico para facilitar a comunicação: sinais, oralidade ou códigos manuais. Nesse ponto, a família é bastante valorizada, uma vez que cabe a mesma o papel de compartilhar valores e significados na formação da subjetividade da criança surda. Entretanto, a comunicação total não privilegia o fato de a língua de sinais ser natural e carregar uma cultura própria. Além disso, a mesma cria recursos artificiais para facilitar a educação surda, o que pode provocar uma dificuldade de comunicação entre surdos que dominam códigos diferentes da língua de sinais. Entre as principais metodologias da comunicação total encontram-se: LIBRAS, datilologia, “cued- speech” (sinais manuais), português sinalizado, pidgin (simplificação da gramática de duas línguas – português e de sinais). Diferentemente das filosofias mencionadas anteriormente, o Bilinguismo prega a aceitação e a convivência com a diferença, procurando aproximar e facilitar a LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 21 comunicação entre a criança surda e a família ouvinte². O pressuposto básico desta filosofia é o aprendizado da língua materna e natural (de sinais) e como segunda língua a oficial do país (para nós, o português brasileiro). Um diferencial profundo nesta concepção é a aceitação da surdez, dado que o surdo não precisa almejar uma vida semelhante ao ouvinte. Nesse contexto, podemos compreender que o povo surdo forma uma comunidade com cultura, língua e identidade próprias. Mais de 90% das crianças surdas são oriundas de famílias ouvintes, portanto é fundamental o envolvimento da família na aprendizagem da língua de sinais. A proposta da educação bilíngue para surdos pode ser definida como uma oposição aos discursos e às práticas clínicas hegemônicas – características da educação e da escolarização dos surdos nas últimas décadas – e como um reconhecimento político da surdez como diferença (SKILIAR, 1999, p. 1). A língua de sinais seria então a única forma de domínio completo que serviria para todas as necessidades de comunicação e cognitivas dos surdos. Todavia, na prática a língua ainda não foi implementada no Brasil: são raros os programas televisivos em língua de sinais, não existem intérpretes necessários e grande parte dos surdos e seus familiares sequer conhecem a linguagem. É evidente que a língua de sinais não pode ser utilizada simultaneamente com o português, pois não temos a capacidade neurológica de processá-las ao mesmo tempo. Entender a história da educação surda e as diferentes filosofias educacionais nos permite entender o surdo, suas particularidades, sua língua e a sua forma singular de vida em sociedade, bem como resgatar alguns vestígios históricos que marcaram a “inclusão” do povo surdo no processo educacional. Atualmente, a inclusão é apenas um jogo político – maravilhosa no papel, porém estamos bem longes do que seria uma real inclusão. Podemos perceber uma forte ambiguidade no termo “bilíngue”, o qual não pode ser descrito como uma situação de harmonia e intercâmbios culturais, mas como uma realidade conflitiva. Em um extremo se localizam aquelas experiências educacionais que caminham procurando um hipotético “equilíbrio” entre a língua de sinais e a língua oficial, burocratizando, governando e administrando a língua dos surdos. No outro extremo, renovam-se as imposições “ouvintistas” se deslocando do “oral” para a escrita e leitura. Entre esses extremos imaginários surge a sensação de uma dominação política e de uma afirmação de imposições culturais, que acabam originando uma falsa condição de bilinguismo, e/ou um pseudo-biliguismo (SKILIAR, 1999, p. 3) LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 22 De forma geral, o que ocorre é uma imposição pela adaptação ao modelo ouvintista sem respeito à identidade. O ideal sobre a inclusão nas escolas de ouvintes, é que as mesmas se preparem para dar aos alunos surdos os conteúdos pela língua de sinais, através de recursos visuais, tais como figuras, língua portuguesa escrita e leitura, a fim de desenvolver nos alunos a memória visual e o hábito de leitura; que recebam o apoio de professor especialista conhecedor de língua de sinais e enfim, proporcionando intérpretes de língua de sinais, para o maior acompanhamento das aulas. Outra possibilidade é contar com a ajuda de professores, instrutores e monitores surdos, que auxiliem o professor e trabalhem com a língua de sinais nas escolas (STROBEL, 2006, p. 252). Para Karin Strobel (2006), não há uma inclusão, e sim uma forçada “adaptação” com a situação do cotidiano nas salas de aula. O sujeito surdo deve ter a possibilidade de estudar em escola de surdos e lutar por seus espaços para comunicar-se adequadamente. O Brasil ainda precisa perceber o sujeito surdo como uma diferença linguística e cultural. A ESCOLA E O SURDO A escola marca o início de um novo tempo, tempo marcado inicialmente por um sinal recebido, em geral, na escola com o fenômeno do batismo (já descrito em unidade anterior), tempo de aprendizagem da língua de sinais com seus pares, de contato com a história e cultura surda, tempo desair da solidão e do isolamento ao se depararem com outros iguais a si , percebendo que não são únicos no mundo. Sendo assim, a escola é, na maioria das vezes, a porta de entrada para o início de uma vida social. A partir da escola criaram-se outros pontos de encontro da comunidade surda como: bares, quadras de futebol, praça e a casa de alguns surdos mais velhos. A escola, então, tornou-se um padrão fundamental de transmissão da cultura surda, transmitindo a história e a cultura dos surdos de geração em geração. Sacks (2002) ao se referir às escolas americanas que funcionam como internatos aponta que: O aspecto mais significativo do internato é o dormitório. Nos dormitórios, longe do controle estruturado da sala de aula, as crianças surdas são iniciadas na vida social dos surdos. No ambiente informal do dormitório, as crianças não só aprendem a língua de sinais, mas também o conteúdo da cultura. Desta maneira, as escolas tornam-se eixos das comunidades que as cercam, preservando para a geração seguinte a cultura das gerações precedentes. (...) Esse padrão único de transmissão está no cerne da cultura. (...) Não existe um equivalente exato, no mundo ouvinte, ao papel crucial dos colégios internos para surdos, clubes para surdos, etc.; pois estes são, sobretudo, lugares onde os surdos encontram um lar. Os jovens surdos, infelizmente, podem sentir-se bastante isolados, até mesmo separados, em sua própria família, em escolas de ouvintes, no mundo ouvinte; mas é possível que descubram uma nova família, um profundo senso de chegada ao lar, quando encontram outros surdos. (PADDEN; HUMPHIRIES apud SACKS, p.150). LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 23 Quando as escolas não funcionam como internato, essa troca linguística-cultural se dá nos momentos informais como recreios, entrada e saída da escola. O território escolar, quando não marcado pela repressão oralista, possibilitou e ainda possibilita discussões da comunidade surda, a organização de associações de surdos, de protestos contra a discriminação, de luta por direitos... E, como vimos mesmo os marcados pela repressão oralista, por mais que tentassem calar o surdo ao propor o ensino da fala (oral) não conseguiam calar a comunidade que nos intervalos se reunia e discutia suas questões. Em relação ao segundo eixo que se refere às relações do surdo e sua comunidade para com o pedagógico nos reportamos aos prejuízos que a condução pedagógica, ou melhor, dizendo que a não condução pedagógica, no caso da educação oralista acarretou para os surdos individualmente e na sua coletividade. O fato de a educação oralista, como vimos anteriormente, ter privilegiado o ensino da fala através de métodos centrados na reabilitação e pautados na representação social da deficiência deixaram para segundo plano a inserção do surdo no ensino regular. Primeiramente o mesmo deveria ser submetido ao projeto de reabilitação e, ao atingir os objetivos de uma fala razoável, era encaminhado ao ensino regular. Consequentemente, o acesso a escolarização se dava de modo tardio. Ao chegarem à sala de aula, ficavam totalmente descontextualizados da idade dos colegas de sala, não compartilhavam a mesma língua do professor e dos colegas, inviabilizando uma interação satisfatória. Não são poucos os depoimentos de surdos a esse respeito. Em geral descrevem esse período como muito sofrido devido a barreira linguística e ao preconceito e discriminação por parte de colegas e professores ouvintes. Como não tinham acesso a língua oral nem pela oralidade e nem pela escrita, ficavam na sala observando, tentando entender o conteúdo, mas só o conseguindo de modo fragmentado. Tinham dificuldades em interpretação, abstrações e compreensão dos conteúdos apresentados, apresentando grande falta de conhecimento, insegurança na execução de avaliações, falta de leitura do mundo e de conceitos próprios, acarretando num ‘atrofiamento’ de conhecimento que levava a uma dificuldade de assimilação e compreensão. Frente a essa realidade além das dificuldades de aprendizagem surgiam problemas emocionais e de comportamento. Os surdos apresentavam uma apatia, um desinteresse e uma aversão pela escola. Muitos não queriam mais ir para a escola; outros iam e permaneciam dormindo em sala de aula; outros brigavam... Consequentemente, muitos surdos não adquiriram a terminalidade dos estudos, permanecendo com baixa escolaridade. Também houve um número significativo de abandono da escola, levando o surdo e sua comunidade a uma situação de marginalização social, pois tidos como incapazes cognitiva, emocional e LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 24 socialmente permaneceram e, ainda hoje muitos ainda permanecem alienados do contexto a qual estão inseridos. Essa realidade serviu de suporte para aumentar as estatísticas de que o surdo, por ser deficiente, apresenta problemas cognitivos, problemas emocionais e de sociabilidade, reforçando as ideias oralistas da incapacidade e da clínica do déficit. A escola com a proposta bilíngue vem para subverter essa realidade ao proporcionar uma condução pedagógica pautada no duplo valor político: o político como uma construção histórica, cultural e social e, o político entendido como as relações de poder e conhecimento que atravessam e delimitam o processo educacional. Com isso inauguram a polêmica sobre as identidades, o multiculturalismo, as relações de poder, a questão do ensino especial e, principalmente, alerta sobre o fazer pedagógico no ensino de surdos. Com a implantação das escolas bilíngues os surdos passaram a ser ouvidos, a sua língua e sua cultura reconhecidas, possibilitando-lhes ter acesso aos conteúdos em sua língua. Como consequência, passa a dominar os fundamentos do conhecimento científico, entender como funciona a sociedade, a ter recursos para contar a sua história e serem sujeitos da história. Passam da condição de ser falados e contados para falar e contar de si e de sua cultura. Passam a ser cidadãos capazes de criar novas perspectivas, formas alternativas igualmente eficazes da realização da condição humana, possibilitando a apropriação de todos os aspectos humanos, tanto na dimensão biológica quanto na dimensão psicológica. Ao ter contato com a educação bilíngue os surdos mudam completamente a sua opinião sobre a escola. Se, no oralismo eles a abandonavam, no bilinguismo eles possuem uma frequência assídua, demonstram interesse pelo conhecimento desenvolvido em sala, perguntam sobre o conteúdo, demonstram curiosidade pelos temas, procuram aprofundar o que lhes interessa, vislumbram a terminalidade como algo concreto, real, possível de acontecer. Atualmente temos muitos surdos que conseguiram terminalidade no ensino fundamental, médio e superior. Consequentemente, os surdos estão se profissionalizando na área que tem interesse, saindo da marginalidade a qual estavam submetidos durante tantas décadas. Relatos de professores e pais comentam a mudança de comportamento na escola e na família, descrevendo os surdos como mais felizes, menos irritados, mais calmos, mais atentos ao seu redor, interessados, curiosos, questionadores, exigentes de atenção, conversando e se comunicando, transmitindo ideias para a família e os colegas da escola conseguindo trocá-las de modo construtivo. Assim os alunos e os pais reiteram que o bilinguismo é a proposta pela qual desejam que seja conduzida a escolaridade. A família passa a participar mais da educação do filho surdo, já que a escola bilíngue propõe uma relação de diálogo entre escola e família, buscando construir coletivamente uma relação de troca de saberes, identificação de demandas e construção de propostas educacionais compatíveis com a realidade deseus alunos. Diferente da escola oralista onde a família e o surdo não tinham espaço para opinar e que chamava a família somente para colher informações para o enquadramento de suas propostas pedagógicas e/ou para denunciar LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 25 comportamentos considerados irregulares tanto dos surdos como dos próprios familiares. O TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS – TILS Segundo Pereira (2008): No Brasil, esse trabalho se iniciou com atividades voluntárias, por volta da década de 1980, e foi valorizado ao longo dos anos. O advento da inclusão dos surdos fez este profissional aparecer em vários lugares, tais como consultas médicas, palestras, assistência social, televisão, ações judiciárias, escolas e universidades, entre outros. O papel do TILS Educacional O tradutor intérprete educacional vem conquistando seu espaço desde o reconhecimento da Libras através da Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de 2005 e encontra-se em um momento histórico de estruturação, através da Lei nº. 12.319, de 1º de Setembro de 2010. De acordo com Quadros (2004), é no espaço escolar onde a interpretação é mais requisitada atualmente. A partir do desenvolvimento e enfoque que as escolas deram ao processo de colocação de estudantes surdos em suas salas de aula, o sucesso e resultados sonhados não seriam possíveis sem a presença desse profissional na escola que se intitula “inclusiva”. Segundo a mesma autora, o intérprete, especialista para atuar na área de educação, deverá ter um perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como entre alunos surdos e ouvintes. Algumas pessoas acreditam que ser intérprete educacional significa apenas traduzir o que os professores falam em sala de aula e que não é preciso planejar suas atuações e preparar as aulas. De fato, elaborar atividades é responsabilidade do professor, mas o TILS deve ter contato com o planejamento para se preparar para a interpretação na aula. Caso haja dúvidas do conteúdo, elas deverão ser sanadas com antecedência para que não se prejudique o processo cognitivo do aluno surdo. Não sabendo como mediar a explicação do professor, é preciso entender para interpretar. A falta de conhecimento da equipe pedagógica da escola sobre o papel do TILS faz com que alguns equívocos aconteçam. Às vezes lhes é delegado o papel de professor dos alunos surdos, quando deveria ser visto apenas como instrumento de comunicação. Nossa experiência em sala de aula nos remete a uma realidade cada vez mais O intérprete de Língua de Sinais é a pessoa que, além de proficiência em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e em Língua Portuguesa, exerce a profissão de: traduzir/verter, em tempo real (interpretação simultânea)ou com um pequeno lapso de tempo (interpretação consecutiva), uma língua sinalizada para uma língua oral (vocal) ou vice-versa, ou então, para outra língua sinalizada. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 26 diferente. Atuamos com alunos em níveis linguísticos totalmente diferentes, sendo que uns sabem ler e escrever, outros, nem sempre. O professor confia a nós a responsabilidade de ensinar os alunos surdos, quando na realidade somos apenas mediadores do ensino. Para isso estudamos muito, estamos em constante aperfeiçoamento linguístico e, principalmente, buscando meios de facilitar o processo de ensino-aprendizagem dos surdos. Ainda há casos em que a escola acredita que a responsabilidade do ensino é apenas do intérprete. Quadros (2004, p. 28) considera ser antiético exigir que o intérprete tutore os alunos surdos em qualquer circunstância ou realize atividades que não façam parte de suas atribuições. A autora também destaca algumas de suas atribuições observando preceitos éticos: Referências Bibliográficas QUADROS, Ronice M. o tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. Brasília: MEC; SEESP, 2004. Leitura complementar LACERDA, Cristina B. F. de; POLETTI, Juliana E. A escola inclusiva para surdos: a situação singular do intérprete de língua de sinais. FAPESP/ANPED, 2004. a) confiabilidade (sigilo profissional); b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias); c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação); d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados); e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar realmente o que foi dito). LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 27 LEGISLAÇÃO LIBRAS DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005 Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. INTÉRPRETES Lei Nº12.319 de 1º de setembro de 2010 Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 040/2003 Tradução simultânea na Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – na programação da TV Assembléia e dá outras providências. ACESSIBILIDADE Decreto 5.296 de 2 de Dezembro de 2004 Regulamenta as Leis Nº10.048 de Novembro de 2000, e dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098 de 19 de Dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade. Decreto Nº6.214 de 26 de Setembro de 2007 Regulamenta o Benefício de Prestação Continuada (BPC) da Assistência Social devido à pessoa com deficiência e ao idoso de que trata a lei Nº8.742 de Dezembro de 1993, e a lei Nº10.741 de 1º de Outubro de 2003, e dá outras providências. Resolução Nº4 de 2 de Outubro de 2009 Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Lei Nº10.216 de 6 de Abril de 2001 Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial de saúde mental. Lei Nº6.202 de 17 de Abril de 1975 Atribui à estudante em estado de gestação o regime de exercícios domiciliares, instituído pelo Decreto lei Nº1.044, e dá outras providências. Portaria Nº3.284 de 7 de Novembro de 2003 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 28 Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para instruir os processos de autorização e reconhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições. LEI Nº 4.304 DE 07 DE ABRIL DE 2004. Dispõe sobre a utilização de recursos visuais, destinados as pessoas com deficiência auditiva, na veiculação de propaganda oficial. LEI FEDERAL Nº10.098 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000 Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. MERCADO DE TRABALHO Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: I – até 200 empregados 2% II – de 201 a 500 3% III – de 501 a 1.000 4% IV – de 1.001 em diante 5% 1º A dispensa de trabalhador reabilitado oude deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante. 2º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por reabilitados e deficientes habilitados fornecendo-as quando solicitadas, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. TRANSPORTE Conselho Nacional de Trânsito – Contran Resolução nº734/1989 Art.54 o candidato à obtenção de carteira nacional de habilitação, portador de deficiência auditiva igual ou superior a 40 debicais, considerado apto no exame otonerológicos, só poderá dirigir veículo automotor das categorias A ou B. SURDEZ Decreto nº3.298 de 20 de dezembro de 1999 Art.4º é considerada pessoa portadora de deficiência aquela que enquadrar nas seguinte categorias: A) DE 25 A 40 DEBICAIS (D.B) – SURDEZ LEVE; B) DE 41 A 55 (D.B) – SURDEZ MODERADA; C) DE 56 A 70 (D.B) – SURDEZ ACENTUADA; D) DE 71 A 90 (D.B) – SURDEZ SEVERA; E) DE ACIMA DE 91 (D.B) – SURDEZ PROFUNDA; F) ACANHAIS (PROFUNDA) TELEFONIA Decreto nº1.592 de 15 de maio de 1998 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 29 Art.6º a partir de 31 dezembro de 1999. A concessionária deverá assegurar condições de acesso ao serviço telefônico para deficientes auditivos e da fala: tornar disponível centro de atendimento para intermediação da comunicação (1402) LEGENDA LEI Nº 4.304 DE 07 DE ABRIL DE 2004 – RIO DE JANEIRO dispõe sobre a utilização de recursos visuais, destinados as pessoas com deficiência auditiva, na veiculação de propaganda oficial. Lei Nº2.089 De 29 De Setembro De 1998 – Distrito Federal Institui a obrigatoriedade de inserção, nas peças publicitárias para veicularão em emissoras de televisão, da interpretação da mensagem em legenda e na Língua Brasileira de Sinais – Libras. Referências Bibliográficas http://editora-arara-azul.com.br/site/edicao/61 http://diariodosurdo.com.br/2015/06/direitos-das-pessoas-surdas/ Leitura Complementar: GOLDFELD, Marcia. Breve relato sobre a educação de surdos. In: _____. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 2001. SILVA, Fábio Irineu da, REIS, Flaviane, GAUTO, Paulo Roberto, SILVA, Simone Gonçalves de Lima da e PATERNO, Uéslei. Aprendendo Libras como segunda língua – Nível básico. Caderno Pedagógico 1 – Curso de Libras. Santa Catarina: NEPES, 2007. SKILIAR, Carlos. A localização política da educação bilíngue para surdos. In: SKILIAR, Carlos (Org.). Atualidade da Educação Bilíngue para Surdos. 2ª ed. Porto Alegre: Mediação, 1999. STROBEL, Karin Lílian. A visão histórica da in(ex)clusão dos surdos nas escolas. In: Dossiê Grupo de Estudos e Subjetividades. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, p. 245- 254, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. Pesquisa de RODRIGO JANONI CARVALHO é Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal de Uberlândia. Fonte: Direitos dos Surdos LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS_________________________________ UAB/UECE 30
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