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POLÍTICA DE SEGURIDADE 
SOCIAL – SAÚDE 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Rafael Muzi 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
A criação do SUS a partir de uma concepção ampliada de saúde1, no 
âmbito da Seguridade Social, representou um avanço importante na trajetória 
histórica da proteção social em saúde no país. Essa mudança possibilitou a 
ruptura com as diferenciações anteriores da política – entre indivíduos segurados 
e indigentes, bem como entre moradores do campo e da cidade – reduzindo 
desigualdades. 
Muitos atores sociais compartilham a opinião de que o SUS é o maior e 
mais abrangente exemplo de política social da história do Brasil, e por esse 
motivo deve ser fortalecido. Sabe-se que, apesar dos muitos avanços 
conquistados, existe ainda uma grande distância entre a proposta original e o 
sistema público de saúde vigente. 
Veremos que esse campo permeado de possibilidades e desafios é 
espaço privilegiado de trabalho do Assistente Social. 
TEMA 1 – SUS: DEFINIÇÕES 
O SUS é um produto da Reforma Sanitária brasileira que teve como 
importante conquista a inserção no texto da Constituição o entendimento de 
Saúde como “direito de todos e dever do Estado”, o que deu relevância pública 
às ações de saúde. 
O SUS é o arranjo organizacional do Estado brasileiro que dá suporte à 
efetivação da política de saúde no Brasil e traduz em ação os princípios e 
diretrizes dessa política (Vasconcelos; Pasche, 2006). 
Compreende o conjunto organizado e articulado de serviços e ações de 
saúde das instituições públicas nas esferas municipal, estadual e nacional, e 
ainda, serviços privados de saúde, de forma complementar, por intermédio de 
contratos ou convênios. 
Os fundamentos do SUS estão contidos no texto da Constituição Federal 
de 1988; da regulamentação do sistema fazem parte ainda as Leis Federais n.º 
8.080/1990 e 8.142/1990 e as leis estaduais e municipais, que normatizam a 
criação de órgãos como os fundos e os conselhos de saúde (Brasil, 2006). 
 
1 Conforme Lei 8.080/1990, art. 3.º: “Os níveis de saúde expressam a organização social e 
econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a 
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, 
a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais”. 
 
 
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A operacionalização do sistema também se orienta pelas resoluções dos 
Conselhos de Saúde nas três instâncias do governo e pelas Normas 
Operacionais Básicas (NOBs), instrumentos normativos editados pelo Ministério 
da Saúde que, entre outros pontos, regulam a transferência de recursos da União 
para estados e municípios, o planejamento de ações e os mecanismos de 
controle social. 
O SUS tem como objetivos principais a identificação e divulgação dos 
fatores condicionantes e determinantes da saúde, a formulação e 
implementação da política nacional de saúde destinada a promover condições 
de vida saudável, a prevenir riscos, doenças e agravos à saúde da população, e 
assegurar o acesso integral ao conjunto dos serviços assistenciais de atenção à 
saúde. 
TEMA 2 – CAMPOS DE ATUAÇÃO DO SUS 
O SUS abrange a oferta de serviços de atenção básica à saúde (nível de 
atenção primária), ação de responsabilidade intransferível dos municípios, que 
é organizada por meio das Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde 
da Família, em que se encontram as equipes da Estratégia Saúde da Família 
(ESF). 
Compõem a rede do SUS o conjunto dos serviços ambulatoriais 
especializados, serviços de diagnóstico e terapia e a rede hospitalar de média e 
alta complexidade (níveis de atenção secundária e terciária), além dos serviços 
universitários públicos e dos serviços contratados ou conveniados de caráter 
privado ou filantrópicos. 
O SUS compreende ainda um conjunto de serviços e ações na Vigilância 
em Saúde, que incluem: a vigilância ambiental (também dos ambientes de 
trabalho); a vigilância sanitária (sobre alimentos, produtos e serviços); a 
vigilância epidemiológica (sobre doenças e agravos) e a vigilância nutricional, 
além das ações de imunização em relação a um conjunto de doenças. 
Contempla também o conjunto de atividades que se destina à Saúde do 
Trabalhador, por meio das ações de vigilância, à promoção e proteção da saúde 
dos trabalhadores, bem como à recuperação e reabilitação da saúde dos 
trabalhadores, submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de 
trabalho. 
 
 
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O sistema executa ainda, entre outras ações, a assistência terapêutica 
integral, com destaque para a assistência farmacêutica, a formulação e 
execução da política de sangue e seus derivados, a regulação da prestação dos 
serviços privados de assistência à saúde e a regulação da formação dos 
profissionais de saúde. 
TEMA 3 – PRINCÍPIOS E DIRETRIZES 
Os princípios e as diretrizes organizativas do SUS propõem as linhas 
gerais do sistema e dos serviços de saúde. 
Os princípios doutrinários são os conceitos que conferem legitimidade ao 
sistema. Entre os princípios elencados na Lei Orgânica da Saúde, de acordo com 
as diretrizes previstas na Constituição Federal, destacam-se a universalidade, a 
integralidade, a equidade e o direito à informação. 
As diretrizes organizativas do sistema orientam o funcionamento das 
ações, dentre os quais destacam-se a descentralização com comando único, a 
regionalização e hierarquização dos serviços e a participação comunitária. 
TEMA 4 – PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO SUS 
A participação comunitária assegurada pela Lei 8.142/1990 se efetiva com 
a participação da sociedade civil organizada nas Conferências e nos Conselhos 
de Saúde, nas três esferas do governo, e por meio da participação em colegiados 
de gestão nos serviços em saúde. 
As Conferências têm como objetivo avaliar e propor diretrizes para a 
política de saúde. Os Conselhos de Saúde têm caráter permanente e atribuição 
de deliberar sobre as prioridades da política de saúde em cada âmbito de 
governo. Devem aprovar o plano de saúde, o orçamento setorial, acompanhar a 
execução, avaliar os serviços e fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros 
(Vasconcelos; Pasche, 2006). 
A Lei 8.142/1990 assegura a composição paritária dessas instâncias: 50% 
da representação de usuários e os restantes 50% distribuídos entre os 
trabalhadores da saúde, os prestadores de serviços e os gestores. 
No processo de descentralização da política de saúde, a criação dos 
Conselhos de Saúde é uma exigência legal para o repasse de recursos da esfera 
federal para as esferas estaduais e municipais. 
 
 
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Esses canais institucionais de participação abrem a possibilidade de os 
setores organizados na sociedade civil obterem algum controle sobre as políticas 
sociais, a depender do seu poder de organização e articulação. 
TEMA 5 – SERVIÇO SOCIAL E ESPAÇOS DE ATUAÇÃO NO SUS 
O Serviço Social e o campo da saúde têm uma ampla e histórica ligação, 
que remetem aos primórdios da profissão no país. Com o advindo do SUS 
surgiram novos espaços de atuação, como as ações de promoção de saúde e 
os conselhos de saúde, bem como novas possibilidades de requalificar 
demandas tradicionais da saúde requisitadas ao profissional, como o plantão 
hospitalar (Krüger, 2010). 
Os princípios do SUS, o conceito ampliado de saúde e as determinações 
sociais do processo saúde e doença, reconhecidas nos textos legais da política 
de saúde, abriram também novos espaços de atuação no planejamento e na 
gestão do sistema e em área não privativas de intervenção do Serviço Social. 
A atuação na atenção básica e na vigilância à saúde, antes áreas restritas 
de inserção profissional, se alteraram significativamente com as mudanças 
proporcionadas pela descentralização do SUS. Essa medida administrativa 
ampliou o mercado de trabalho para as profissões da área da saúde,entre elas 
o Serviço Social. 
Esses espaços de trabalho têm possibilitado o desenvolvimento de 
práticas interdisciplinares e intersetoriais. Essas experiências trazem à 
discussão temas que historicamente foram negligenciados pelas práticas 
biomédicas individualizadas, a partir do reconhecimento das necessidades em 
saúde e das determinações sociais do processo saúde e doença pelo grupo 
profissional. 
A capacidade técnica de leitura da realidade pelo assistente social, 
estabelecendo conexões entre a demanda imediata e a demanda coletiva e 
promovendo respostas com as políticas sociais, pode qualificar o debate do 
social, dimensão já reconhecida e partilhada pelos trabalhadores da saúde 
(Krüger, 2010). 
 
 
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NA PRÁTICA 
A descentralização do SUS ampliou o espaço de atuação do assistente 
social na saúde, ao lado de demandas históricas já legitimadas pela profissão. 
A ação profissional em novos espaços na atenção básica e no 
planejamento e na gestão em áreas não exclusivas do Serviço Social tem aberto 
o campo de atuação na operacionalização e coordenação de diversos 
programas voltados a populações específicas (idade, gênero, patologias e 
outros). 
As possibilidades de promoção da saúde com ações interdisciplinares e 
intersetoriais se ampliaram também com a crescente inserção profissional na 
Estratégia Saúde da Família (ESF) e nos Núcleos de Apoio a Saúde da Família 
(NASF). 
Na prática, a municipalização do SUS permite ao profissional atuar com 
novos temas e requisições, tais como formas de violência, dependência química, 
gênero, orientação sexual, etnia, poluição do meio ambiente, saneamento, 
movimentos sociais na saúde mental, direitos reprodutivos, controle e 
participação social (Krüger, 2010). 
FINALIZANDO 
Vimos nesta aula a organização do abrangente sistema de saúde 
brasileiro a partir da análise da legislação que regulamenta a atual estrutura da 
política de saúde no Brasil. É possível concluir que o reconhecimento das 
determinações sociais do processo saúde/doença na concepção do SUS trazem 
ao assistente social novos espaços de atuação interdisciplinares nas áreas de 
promoção e educação em saúde e prevenção de doenças. 
O conhecimento dos princípios do SUS permite também constatar a 
proximidade de conceitos com o projeto ético-político do Serviço Social. 
Portanto, uma atuação comprometida com a materialização do projeto 
profissional pressupõe a articulação dos princípios convergentes na direção de 
consolidar a proposta original do SUS. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BRASIL. Lei n. 8.080/1990, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, 
Brasília, DF, 1990. Disponível em: 
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8080.htm>. Acesso em: 4 set. 2017. 
______. Lei n. 8.142/1990, de 28 de dezembro de 1990. Diário Oficial da União 
Brasília, 1990. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8142.htm>. Acesso em: 4 set. 2017. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Coletânea de 
Normas para o Controle Social no Sistema Único de Saúde. 2ª ed. Editora do 
Ministério da Saúde. Brasília, 2006. 
KRÜGER, T. R. Serviço Social e saúde: espaços de atuação a partir do SUS. 
Revista Serviço Social & Saúde [online], Campinas, v. IX, n. 10, dez. 2010. 
VASCONCELOS, C.M.; PASCHE, D.F. O Sistema Único de Saúde. In.: 
CAMPOS, G. W. de S. (Org.). Tratado de saúde coletiva. Hucitec: São Paulo, 
2006.

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