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GRUPO EDUCACIONAL FAVENI RAQUEL DA COSTA PINHEIRO MONTEIRO EDUCAÇÃO INFANTIL: FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS SENADOR GUIOMARD - AC 2023 http://faculdadefutura.com.br/ GRUPO EDUCACIONAL FAVENI EDUCAÇÃO INFANTIL: FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS SENADOR GUIOMARD - AC 2023 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Futura – Grupo Educacional Faveni, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Educação Infantil: Práticas Pedagógicas – EAD - 720 horas http://faculdadefutura.com.br/ EDUCAÇÃO INFANTIL: FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS 1 Raquel da Costa Pinheiro Monteiro; 2 Pós-graduação em Educação Infantil: Práticas Pedagógicas - EAD 720 horas, raquel.lettycia@gmail.com; Declaro que sou autor¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. RESUMO - O presente trabalho explora o universo da Educação Infantil, destacando a importância da formação de profissionais que atuam nessa área e seu impacto nas experiências práticas das crianças em idade pré-escolar. Inicialmente, discute-se a evolução das concepções sobre a infância e como essa transformação influenciou as abordagens pedagógicas na Educação Infantil. Além disso, examinamos as diretrizes curriculares nacionais para a Educação Infantil e como elas orientam a formação de professores e professoras. Destacamos a importância da reflexão crítica sobre as práticas pedagógicas, promovendo ambientes de aprendizado ricos e significativos para as crianças. Também abordamos as experiências práticas na Educação Infantil, enfocando a interação entre educadores e crianças, a importância do brincar como ferramenta de aprendizado e a promoção do desenvolvimento integral das crianças.Por fim, este trabalho ressalta a relevância de uma formação contínua e atualizada para os profissionais da Educação Infantil, destacando como essa formação pode enriquecer as experiências práticas das crianças. PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO INFANTIL. FORMAÇÃO CONTINUADA. DOCÊNCIA E INFÂNCIA. EDUCAÇÃO INFANTIL: FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS A educação no Brasil é regida por um vasto conjunto de leis e regulamentações provenientes das esferas federal, estadual e municipal, que estabelecem as bases e o funcionamento do sistema educacional brasileiro. Essas normas compreendem princípios, diretrizes e regras que direcionam a estrutura e a gestão dos sistemas de ensino, bem como o financiamento da educação. Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, a Educação Infantil, que abrange creches e pré-escolas, foi estabelecida como a primeira etapa da educação básica. Essa definição foi reafirmada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394, de 1996, reconhecendo o direito legal das crianças pequenas à educação e a responsabilidade do Estado em atender a essa demanda. Posteriormente, em 2006, houve uma mudança na legislação que tornou obrigatória a educação para crianças de quatro a 17 anos, incluindo a pré-escola. Vale ressaltar que essa obrigatoriedade se refere à faixa etária e não necessariamente ao nível de escolarização, mas enfatiza a importância do ingresso na pré-escola aos quatro anos de idade. Os princípios legais relacionados à Educação Infantil são resultado das conquistas de movimentos sociais que, desde os anos 1970, reivindicaram esse direito como uma necessidade das mães trabalhadoras que precisavam de um ambiente seguro para seus filhos pequenos. Com o tempo, esse direito evoluiu para se tornar um direito das crianças e de suas famílias. A crescente importância da Educação Infantil pode ser justificada por diversos motivos, como as mudanças no papel da mulher na sociedade moderna, transformações nos arranjos familiares, as condições de vida nas cidades, pesquisas científicas que comprovam os benefícios da frequência à pré- escola e o reconhecimento internacional dos direitos das crianças, incluindo o direito à educação de qualidade desde os primeiros anos de vida. Quanto à organização da Educação Infantil, a responsabilidade por sua oferta foi atribuída aos municípios pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394/1996, que distribuiu as competências administrativas entre os níveis de governo. O Plano Nacional de Educação de 2001 reafirmou a responsabilidade compartilhada das esferas de governo e das famílias em relação à Educação Infantil. A transição das creches do âmbito da assistência social, saúde e trabalho para o setor educacional trouxe novos desafios à gestão municipal da educação e ampliou as oportunidades de emprego para professores que atendem crianças com menos de quatro anos. Além disso, a crescente demanda por creches, especialmente nas áreas urbanas, e a persistência do fracasso escolar no ensino fundamental destacaram a importância de investir na oferta e na qualidade da Educação Infantil, cujos benefícios para o desempenho futuro das crianças no ensino fundamental são amplamente reconhecidos pela pesquisa. Impactos da política na educação básica Existem várias políticas voltadas para a educação básica que têm impacto na Educação Infantil, embora não tenham sido originalmente projetadas para esse fim. De acordo com Campos (2010), algumas medidas podem ser identificadas nesse contexto, como a extensão do ensino fundamental para nove anos e a obrigatoriedade da educação para crianças dos quatro aos dezessete anos. Essas medidas não apenas reestruturaram o sistema de educação básica, mas também trouxeram à tona questões históricas não resolvidas na educação brasileira, como a divisão entre creche e pré-escola e os desafios de alfabetização nos primeiros anos do ensino fundamental. Essas questões estão relacionadas ao direito à Educação Infantil e têm um impacto significativo na qualidade das instituições de Educação Infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental. Durante a reforma administrativa do Estado nos anos 1990, houve mudanças significativas na autoridade dos governos locais devido ao aumento da parcela de tributos federais transferidos automaticamente aos entes federados. Isso deu aos municípios uma autoridade maior sobre impostos de grande importância, como o Fundef, que impulsionou o processo de municipalização da educação e a priorização do investimento no ensino fundamental. No entanto, essas mudanças tiveram impacto na Educação Infantil. A política de financiamento do ensino fundamental, por meio da criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), parece ter gerado desafios para os municípios no que diz respeito à implementação de suas redes de Educação Infantil, uma vez que 25% de seus orçamentos em educação deveriam ser destinados ao ensino fundamental. Antes da criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) em substituição ao Fundef, a Educação Infantil não contava com recursos especificamente direcionados ao seu financiamento. Isso deixou a maioria dos municípios, que têm a responsabilidade primária de atender a essaetapa educacional, com poucas condições concretas de oferecer e expandir o número de vagas na Educação Infantil. No entanto, a partir da metade da última década, o novo fundo tem contribuído para promover o atendimento à Educação Infantil no país. A Emenda Constitucional nº 53/2006 trouxe mudanças na estrutura da Educação Infantil, determinando que as crianças de seis anos completos fossem matriculadas no ensino fundamental. Essa medida gerou críticas no âmbito da Educação Infantil, mas a discussão se concentrou principalmente na institucionalidade dessa etapa de ensino, resultando em poucos compromissos e preocupações em relação às crianças de seis anos de idade. No ano de 2009, foi aprovada a Emenda Constitucional nº 59/2009, que estabeleceu como princípio a obrigatoriedade do ensino para crianças com idades entre quatro e dezessete anos. Essa medida tornou obrigatória a frequência das crianças de quatro e cinco anos na pré-escola. Três anos após essa aprovação, em 4 de abril de 2013, a obrigatoriedade foi regulamentada por meio da Lei nº 12.796, que modificou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394/1996. Essa lei tratou, entre outros assuntos, da obrigatoriedade da educação básica e gratuita para crianças de quatro a dezessete anos, organizada em pré-escola, ensino fundamental e ensino médio (Art. 4, inciso I). Além disso, estabeleceu o dever dos pais ou responsáveis de matricular as crianças na educação básica a partir dos quatro anos de idade (Art. 6). Além das mudanças legislativas, o Ministério da Educação tem implementado programas e ações federais em todas as etapas da educação básica, desempenhando seu papel na coordenação da política educacional nacional. Nos últimos dez anos, diversas iniciativas foram tomadas para promover mudanças na implementação das políticas municipais de educação. Algumas das ações do governo federal nesse sentido incluem o Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação (Pradime), o Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais de Educação (Pró-Conselho) e o Programa Nacional "Escola de Gestores da Educação Básica Pública" (Ipea, 2011). O Programa Nacional "Escola de Gestores da Educação Básica Pública" é um programa abrangente que visa capacitar os dirigentes para que tenham uma compreensão abrangente da educação nacional e das medidas necessárias para a implementação da política municipal de educação. No que diz respeito à Educação Infantil, o programa oferece orientações sobre a estrutura e o funcionamento dessa etapa educacional, destacando as responsabilidades dos municípios em relação ao financiamento, aos padrões mínimos de funcionamento, aos recursos humanos, aos materiais, à previsão de vagas e à fiscalização de instituições privadas. Além disso, aborda o Plano Nacional de Educação (PNE 2001-2011) e discute as metas relacionadas às condições de funcionamento das instituições de Educação Infantil no Brasil. É importante mencionar que o governo federal também desempenha um papel significativo na assistência financeira e no apoio técnico-pedagógico à Educação Infantil por meio da implementação do Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Pro Infância). Esse programa absorveu uma parte substancial dos recursos do orçamento da educação básica do Ministério da Educação. De acordo com dados do Ipea (2011), em 2009, o programa concentrou "os recursos destinados à reestruturação da rede física pública da educação básica, cuja execução chegou a 94% da dotação inicial e aproximou-se dos R$ 550 milhões". Também foram implementados programas de formação inicial e contínua para professores atuantes na Educação Infantil, ensino fundamental e ensino médio por meio do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Isso se deveu à falta de qualidade dos recursos humanos disponíveis nas escolas públicas. De acordo com informações apresentadas pelo Ipea em 2011, a porcentagem de professores com formação superior em 2009 estava consideravelmente aquém das metas estabelecidas pelo Plano Plurianual para o ano de 2011 em todas as etapas da educação básica. No entanto, o descompasso era ainda mais notável na Educação Infantil, onde 48,9% dos professores não possuíam formação superior naquele ano. O governo federal tinha como meta elevar essa porcentagem para 70% até o ano de 2011. GESTÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: PRINCÍPIOS E ABORDAGENS Segundo Lück (1999), a autonomia escolar, conforme estabelecido na legislação, envolve a capacidade organizacional da escola para desenvolver seu projeto educacional e administrar os recursos alocados para o ensino, garantindo sua efetivação. Através do estímulo à autonomia pedagógica, administrativa e financeira, conforme preconizado na Lei de Diretrizes e Bases, a escola assume a responsabilidade pelo planejamento de conteúdos curriculares, métodos de ensino, utilização eficaz de tempo e espaço físico, bem como pela gestão de recursos humanos e materiais alocados para a realização de seu projeto educativo. Portanto, a gestão escolar engloba a responsabilidade de administrar os recursos financeiros, humanos e pedagógicos, atendendo prontamente às demandas específicas e assegurando o uso eficiente dos recursos disponíveis. No contexto da Educação Infantil, especialmente em creches, a prática de convênios traz desafios à autonomia escolar. Isso ocorre porque os sistemas de educação buscam garantir condições básicas de funcionamento nas unidades conveniadas com os municípios, o que implica em um aumento do controle e da intervenção desses sistemas nas instituições conveniadas. Além disso, de acordo com a legislação pertinente, a gestão escolar deve ser democrática, promovendo a participação dos profissionais e da comunidade na elaboração do projeto pedagógico, incentivando o trabalho coletivo e a implementação de órgãos colegiados. Em geral, a transição para um modelo de gestão mais democrático e participativo ganhou mais formalização e base legal nas outras etapas da educação básica. Entretanto, na Educação Infantil, as práticas de natureza comunitária que marcaram o início de muitos programas frequentemente não foram formalizadas legalmente, o que comprometeu sua continuidade ao longo de administrações municipais com diferentes orientações político-ideológicas. CONCEITOS SOBRE PROJETO PEDAGÓGICO Quanto ao projeto pedagógico, um componente essencial de uma gestão democrática, ele representa um instrumento técnico-político utilizado pela escola e pressupõe uma certa autonomia administrativa e pedagógica. Este projeto delineia o que deve ser ensinado e aprendido na escola, sendo caracterizado principalmente por refletir os interesses e necessidades dos profissionais da educação e da comunidade. Sua criação é baseada na realidade local e deve envolver a participação conjunta da comunidade escolar e da comunidade local. "A formação educacional requer a incorporação tanto de técnicas quanto de conhecimentos práticos, ambos desempenhando papéis essenciais no processo. No entanto, a visão dicotômica entre teoria e prática é uma simplificação inadequada da questão em pauta. Essa abordagem não oferece uma solução eficaz nem a capacidade de desenvolver propostas autônomas em cada ambiente educacional. É importante destacar que a prática educativa não deve ser vista como uma ação desprovida de reflexão, repetição mecânica ou monotonia, pois tais abordagens podem comprometer a qualidade do ensino." (Kuhlmann Jr., 2005, p. 141). No contexto da Educação Infantil, conforme afirmado por Kuhlmann Jr. (2005), o projeto pedagógico deve ter como foco principal o coletivo e tem o potencial de oferecer uma ampla gama de experiências interativas que contribuem para o desenvolvimento integralda criança. Portanto, do ponto de vista pedagógico, o projeto deve levar em consideração os grupos de crianças, suas características individuais e suas interações entre si e com os adultos. Além disso, deve prever a organização do ambiente e das atividades durante o período de funcionamento. Um dos desafios significativos na formulação da proposta educacional da instituição é a dificuldade de articular os princípios regulatórios que orientam o planejamento com as questões teóricas subjacentes à Educação Infantil. Nesse sentido, Kuhlmann Jr. (2005) enfatiza a importância de momentos de formação para os profissionais, nos quais a reflexão seja estimulada, permitindo que os professores criem e atuem com base no sólido embasamento teórico disponível sobre a Educação Infantil. Além disso, o autor destaca a necessidade de avaliar as condições reais de funcionamento das instituições, identificando problemas, bem como acertos e progressos. Segundo ele, esses elementos formam a base para a proposta pedagógica, juntamente com objetivos e métodos de organização do trabalho com as crianças. Essas reflexões evidenciam a riqueza da discussão sobre a gestão das unidades de Educação Infantil. No entanto, embora seja compreensível que a gestão da Educação Infantil se baseie nos modelos desenvolvidos inicialmente para outros níveis da educação básica, é crucial reconhecer que o trabalho nessas instituições envolve uma integração essencial entre o cuidado e a educação. Portanto, a Educação Infantil requer uma estrutura organizacional que assegure o atendimento em período integral, o planejamento adequado do espaço físico para proporcionar um ambiente acolhedor e confortável para as crianças, a implementação de um projeto educativo sistemático e intencional que promova o desenvolvimento físico, emocional, intelectual e social das crianças, além de uma comunicação frequente e colaborativa com as famílias. Etimologicamente, a palavra "infância" está ligada à negação, visto que o prefixo "in" indica ausência, referindo-se àquele que não possui a capacidade de falar. Portanto, a palavra "infância" está intrinsecamente ligada a uma ausência que é associada à ideia de incapacidade. Essa perspectiva do "não saber" e do "não ser" estabelece um paradigma no qual o outro, que pode ser um adulto, um formador ou um professor, é considerado aquele que ensina, o detentor do conhecimento. Isso coloca o docente em formação em uma posição de incompletude e inacabamento, o que, de certa forma, é positivo, pois sugere a ideia de abertura. No entanto, o aspecto que me preocupa nisso é que coloca o professor em uma posição inferiorizada, como alguém que precisa ser cuidado e orientado geralmente por alguém que detém o conhecimento e a orientação. De maneira poética, Manoel de Barros descreve seu próprio movimento em direção à infância, seu espanto diante da sensatez do adulto e seu desejo de afastar-se do bom senso, do comportamento aceitável e do modo de pensar e agir cada vez mais moldado pela sociedade contemporânea. Ao proporcionar à criança um entendimento de mundo, trabalhando a sua cidadania, pois todos têm direitos e deveres e isto está implícito nas regras que temos que cumprir, na forma como devemos agir e nos comportar, a escola age como mediadora, ensinado a criança como viver em sociedade. Parece que através da infância, podemos desconfigurar as coisas, desvincular o mundo de suas formas convencionais, escapar do molde e das linhas previsíveis. Podemos nos tornar seres diferentes, com formas inusitadas e não premeditadas, habitantes de lugares não convencionais. Podemos nos arriscar, equilibrar-nos na corda bamba e explorar novos territórios. Assim, pensar em formação aqui significa considerar algo que não apenas nos molda, mas também nos transforma e, de certa forma, nos desfigura, nos adaptando a novas formas. Formar e experimentar não podem ser nada além de embarcar em uma jornada, se expor e convidar o outro a seguir conosco. Ao percorrer caminhos que nos confrontam com o inesperado e o desconhecido, caminhar é se colocar diante da diversidade, da alteridade e da diferença. Experimentar significa nos transportar para um espaço estranho, onde nos deparamos com o inusitado e o desconhecido. A figura do estrangeiro se reflete no rosto da infância, na face da alteridade e na face da diferença. Conforme mencionado por Leite (2011, p. 162): trata-se de abordar a infância como um ambiente propício para o processo de formação, como um trajeto que se estende indefinidamente, e como um encontro com sensações desconhecidas e não explicadas, sensações primordiais que nos estimulam a refletir. Enquanto percorremos esses caminhos, em territórios repletos de incertezas, qualquer coisa pode atrair nossa atenção, nos manter alerta e nos conduzir por inúmeras trilhas, criando oportunidades para que nossa jornada se desvie dos caminhos convencionais. Parece que essa abertura, essa quebra de barreiras, essa falta de continuidade, nos aproxima da infância das próprias crianças. O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS CONTRIBUIÇÕES O professor reflexivo, permanentemente caminha por vias difusas, ora está na tentativa um tanto quanto solitária, de realizar o fazer pedagógico a partir da reflexão, do que se pensou, do que planejou e como avaliou, para a busca de uma prática de sucesso e ora se depara com um currículo engessado. Há evidências práticas que indicam que os profissionais que atuam na Educação Infantil frequentemente possuem concepções que se alinham com a visão de uma escola com foco assistencialista, na qual a prática está centrada na preparação das crianças para o ensino fundamental. Além disso, a falta de incentivo e reconhecimento resulta em altas taxas de rotatividade de professores. A escassez de programas de formação inicial e continuada voltados especificamente para o atendimento de crianças de zero a cinco anos contribui para a falta de uma identidade clara entre esses profissionais. No Brasil, são raros os cursos de licenciatura em Pedagogia que se dedicam à formação específica de professores para a Educação Infantil. Em vez disso, a maioria dos cursos oferece apenas algumas disciplinas relacionadas a essa faixa etária em suas grades curriculares. Isso resulta em graduados que têm conhecimento limitado das particularidades e demandas envolvidas no trabalho com crianças de zero a cinco anos. Nesse contexto, é perceptível que as professoras e cursistas frequentemente enfrentam desafios em relação às suas práticas em sala de aula. Elas se questionam sobre o tipo de atividade mais significativa a ser desenvolvida, como criar uma rotina dinâmica, avaliar o progresso das crianças sem depender de fichas descritivas e melhorar as atividades de linguagem e matemática, entre outros aspectos. No entanto, ao mesmo tempo em que levantam essas questões, muitas vezes acabam implementando atividades baseadas em memorização e treinamento motor, frequentemente retiradas de fontes online, sem levar em consideração as necessidades e interesses individuais das crianças. É importante ressaltar que os professores e professoras da Educação Infantil desempenham um papel distinto daqueles que atuam no Ensino Fundamental. As instituições de Educação Infantil têm um enfoque dual no cuidado e na educação das crianças, o que demanda um profundo respeito e valorização desses profissionais. Portanto, esses profissionais requerem uma formação abrangente que englobe conhecimentos, competências e aptidões que satisfaçam as necessidades das crianças e os capacitem a serem educadores reflexivos. Segundo Oliveira (2005), esses profissionais começam a incorporar em suas práticas pedagógicas uma abordagem que integra o cuidado e a educação de forma educativa, distinguindo o cuidado educativodo cuidado familiar, com ênfase na promoção da autonomia e desenvolvimento infantil. Em resumo, a qualidade da formação dos professores da Educação Infantil é crucial para o progresso das crianças. Portanto, é imperativo que haja uma colaboração entre família e sociedade para valorizar esses profissionais. A Educação Infantil é responsável pela iniciação da criança no espaço escolar, com a função de cuidar e ao mesmo tempo educar. A instituição escolar como um todo, que abrange desde o professor/a, a gestão escolar, a equipe de apoio, todos e todas são responsáveis pelo bem-estar e desenvolvimento das crianças. E ao professor/a, maior responsável em proporcionar momentos de aprendizagens, de provocá-las a explorar o espaço em que estão inseridas, propor situações problematizadoras. De acordo com Oliveira (2010) o trabalho escolar tem como meta contribuir para a ampliação dos conhecimentos e saberes, a promoção da igualdade de oportunidades educacionais para as crianças pertencentes a diferentes classes sociais, permitindo-lhes perceber-se como sujeitos de direitos, a partir de princípios de democracia e justiça social. Para que este trabalho seja desenvolvido de forma positiva, o Ministério da Educação oferece diversos materiais de apoio, bem como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010) e o Referencial Nacional para a Educação Infantil (1998) que norteiam a prática do professor/a. Podem-se citar como de fundamental importância o acesso a formação continuada, uma grande aliada a prática pedagógica, pois proporciona o aprimoramento do saber já construído. A prática adquirida em sala de aula junto com a troca de experiência por meio de estudos com colegas de profissão e com as crianças são de fundamental importância à melhoria do ensino. Destaca-se também que a for- mação continuada é imprescindível para a aquisição de novos conhecimentos, pois oportuniza o acesso a uma formação atualizada, que vai ao encontro das necessidades pedagógicas das salas de aula e da instituição escolar como um todo. Destaca-se a necessidade de se pensar na prática atual na sala de aula, o que é considerado positivo, quais atividades necessitam serem aprimoradas, fazer uma análise acerca dos objetivos a serem alcançados, pensar na rotina diária, quais estratégias são mais adequadas em cada atividade. Com o intuito de oportunizar as crianças a terem uma aprendizagem de qualidade e prazerosa. É fundamental enfatizar que, nos primeiros anos da infância (0-3 anos), muitas crianças já têm conhecimento da escola, embora não estejam necessariamente envolvidas no processo de ensino formal. Esse conhecimento pode advir de irmãos mais velhos que frequentam a escola, colegas, vizinhos ou mesmo dos pais, que gradualmente informam que um dia as crianças também irão para a escola. Quando finalmente ingressam na escola e se tornam oficialmente estudantes matriculados, surge a empolgação e a alegria, embora muitas vezes esses sentimentos sejam atenuados pelo período de adaptação à nova realidade escolar. A adaptação escolar representa um dos momentos de transição significativos na vida da criança ao ingressar na escola. Isso envolve, primeiramente, a ideia de estar com adultos desconhecidos que não fazem parte de sua família e, em segundo lugar, a necessidade de se adaptar às rotinas estabelecidas por esses adultos, que visam aprimorar a prática pedagógica. É essencial que os educadores estejam bem-informados sobre o desenvolvimento infantil para que essa fase da vida escolar seja direcionada ao estímulo das potencialidades da criança, ao invés de focar em suas limitações. Podemos explorar a seguinte citação que ilustra, por meio da literatura e da imaginação, o que significa ser criança: um ser que brinca, interage e percebe um mundo repleto de descobertas em tudo ao seu redor, como um espaço inexplorado e inesgotável de imaginação. Por outro lado, é crucial destacar que o conceito convencional de rotina na Educação Infantil pode ser percebido como algo mecânico, regulador, delimitador e internalizado. Isso pode criar a impressão de que os seres humanos são como máquinas, funcionando apenas por meio de botões de ligar e desligar, conforme a conveniência. Esse conceito reforça a ideia de que o sistema capitalista busca cidadãos que cumpram estritamente as regras estabelecidas, tanto na escola quanto na sociedade em geral. No entanto, não devemos subestimar a importância da formação docente e das práticas educacionais, uma vez que a visão da criança como um ser inocente, repleto de potencial, reflete o compromisso das educadoras em respeitar plenamente os direitos das crianças, como preconizado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil. É fundamental reconhecer que a concepção de criança e infância passou por mudanças significativas ao longo da história. A criança já foi vista como adultos em miniatura e já sofreu exploração laboral, abuso sexual e outras formas de violência. No entanto, o paradigma de que as crianças têm direitos e devem ser respeitadas possibilitou uma transformação na maneira como a sociedade as enxerga. Agora, não podemos mais tolerar que velhos conceitos sobre a criança prevaleçam, pois devemos proteger seus direitos e garantir que tenham uma infância segura e saudável. “Transitou-se de uma concepção na qual as crianças eram percebidas como seres deficientes, incompletos e que precisavam apenas de proteção, para uma visão que coloca as crianças como protagonistas ativas em seu próprio desenvolvimento. Isso acontece por meio de uma interação dinâmica com seus colegas, adultos ao seu redor e o ambiente que as cerca. As crianças têm a capacidade de criar teorias, fazer interpretações e formular perguntas, desempenhando um papel fundamental na construção dos processos de aprendizado e conhecimento”. (Barbosa; Horn, 2008, p. 28). 3. CONCLUSÃO Para Ramos (2012), ao professor compete a concretização dessa articulação junto à criança, que demonstra em suas brincadeiras a sua grande capacidade de vivenciar a emoção, a razão, a natureza e a cultura. Ele pode promover situ- ações que ajudem a criança a classificar o dentro e o fora, o eu e o outro, o tempo, os espaços, a vida privada e social, os momentos de brincadeira e de estudo, a separar para investigar, analisar, mas com vistas a integrar novamente. O conhecimento é um fenômeno que não se pode medir totalmente, algo não palpável, não se pode tocá-lo; mas podemos sentir através das mudanças internas e externas de ser. Só conseguimos sentir quando objetivamente houve sentido na aprendizagem, de nada adianta lermos ou estudarmos se não obtivermos aquilo pelo qual buscamos. Geralmente quando vemos os profissionais da Educação Infantil cometerem erros, logo rotulamos ou julgamos nos precipitando, mas, analisando os fatos compreende-se que os mesmos estão reproduzindo velhos conceitos, porém, as oportunidades na questão da qualidade da formação docente não ocorrem conforme a demanda, quanto mais se retardar a oferta de formação que preencham essas lacunas, mais tardiamente as crianças serão ensinadas por profissionais qualificados que entendam a importância da qualidade nas escolas de Educação Infantil. Apesar das questões apresentadas neste trabalho sobre os aspectos relacionados à prática de professores na educação infantil, acreditamos pode afirmar que houve um grande avanço em vários aspectos desta modalidade de ensino no país, que até pouco tempo sequer fazia parte da Educação Básica, estando sob responsabilidade da Secretaria de Assistência Social. Vale ressaltar que o perfil antes esperado para atuar com crianças nas creches e pré-escolas, era apenas “gostar de crianças”, nessa perspectiva avançamos muito, hoje estamos discutindo a identidade do profissional, as concepções e conhecimentospara desenvolver um melhor trabalho com nossas crianças. Pensar a criança de zero a cinco anos, como um ser integral, assim como está preconizado nas diretrizes, pressupõem primeiramente entender e compreender o que é ser criança, que concepção possuímos de infância e criança como sujeito também de ação, que produz cultura, enfim, quais suas demandas e as reais necessidades, tais questionamento permite sobretudo buscar entender qual o papel das instituições de Educação Infantil, qual a parcela de responsabilidade que a própria Universidade tem em relação a estas questões. Os resultados apontam que apesar dos avanços das políticas em relação ao atendimento às crianças de 0 a 5 anos no Brasil, muito precisa ser feito para garantir um atendimento de qualidade a essa clientela, principalmente a necessidade de investir na formação dos profissionais que atuam neste nível da educação básica para que eles possam construir suas práticas baseadas nas necessidades e especificidades das crianças dessa faixa etária. Percorremos um longo caminho de avanços neste percurso, mas temos responsabilidade para saber que precisamos caminhar muito para que possamos realmente oferecer uma Educação Infantil de qualidade. Daí ser necessário acreditar que é possível, mas é pertinente afirmar que uma proposta de formação continuada, não pode sozinha, proporcionar a reflexão para a possibilidade de mudança de paradigmas educacionais. Estas dependem das condições de trabalho dos professores e professoras e de seu compromisso com o processo de ensino e aprendizagem de seus estudantes e consequentemente com o desenvolvimento da sociedade. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Janete Maria Lins de. Implicações da nova lógica de ação do Estado para a educação municipal. Educação e Sociedade, 2002. BARROS, Manoel. Memórias Inventadas: as infâncias de Manoel de Barros. São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. BRASIL. Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006. Dá nova redação aos Art. 7, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e ao Art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Diário Oficial da União, Brasília, 09 de março de 2006. _______Lei n. 12.796, de 05 de abril de 2013. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 2013, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 05 de abril 2013. _______Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Pradime: Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação. Brasília: MEC, 2006 IPEA. Educação. Políticas sociais – acompanhamento e análise. Disponível em: <http://bit.ly/2AzwSYH>. Acesso em: 12 set. 2023. KUHLMANN JR., Moysés. Currículo e projeto pedagógico na Educação Infantil. Educação e Linguagem, 2005. LEITE, César Donizetti Pereira. Infância, Experiência e Tempo. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. PACÍFICO, Juracy Machado; PIMENTA, Jussara Santos; CHISTÉ, Bianca dos Santos; NEVES, Josélia Gomes; ZIBETTI, Marli Lúcia Tonatto. Docência na educação infantil: experiências e práticas em formação continuada. 1. ed. Jundiaí - SP: Paco, 2018. PARENTE; Marta Maria de A.; LÜCK, Heloísa. Mapeamento de Estruturas de Gestão Colegiada em Escolas dos Sistemas Estaduais de Ensino. Em Aberto, 2000. ROCHA, Eloisa Acires Candal. 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