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71 O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS CONTRIBUIÇÕES

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GRUPO EDUCACIONAL FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RAQUEL DA COSTA PINHEIRO MONTEIRO 
 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO INFANTIL: FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIAS 
PRÁTICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SENADOR GUIOMARD - AC 
2023 
http://faculdadefutura.com.br/
 
 
GRUPO EDUCACIONAL FAVENI 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO INFANTIL: FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIAS 
PRÁTICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SENADOR GUIOMARD - AC 
2023 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado à Faculdade Futura – Grupo 
Educacional Faveni, como requisito parcial 
para obtenção do título de especialista em 
Educação Infantil: Práticas Pedagógicas – 
EAD - 720 horas 
 
 
 
http://faculdadefutura.com.br/
EDUCAÇÃO INFANTIL: FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS 
 
1 Raquel da Costa Pinheiro Monteiro; 
 
2 Pós-graduação em Educação Infantil: Práticas Pedagógicas - EAD 720 horas, 
raquel.lettycia@gmail.com; 
 
Declaro que sou autor¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o 
mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja 
parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas 
e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de 
investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. 
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e 
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou 
violação aos direitos autorais. 
 
 
RESUMO - O presente trabalho explora o universo da Educação Infantil, destacando a 
importância da formação de profissionais que atuam nessa área e seu impacto nas 
experiências práticas das crianças em idade pré-escolar. Inicialmente, discute-se a 
evolução das concepções sobre a infância e como essa transformação influenciou as 
abordagens pedagógicas na Educação Infantil. Além disso, examinamos as diretrizes 
curriculares nacionais para a Educação Infantil e como elas orientam a formação de 
professores e professoras. Destacamos a importância da reflexão crítica sobre as 
práticas pedagógicas, promovendo ambientes de aprendizado ricos e significativos para 
as crianças. Também abordamos as experiências práticas na Educação Infantil, 
enfocando a interação entre educadores e crianças, a importância do brincar como 
ferramenta de aprendizado e a promoção do desenvolvimento integral das crianças.Por 
fim, este trabalho ressalta a relevância de uma formação contínua e atualizada para os 
profissionais da Educação Infantil, destacando como essa formação pode enriquecer as 
experiências práticas das crianças. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO INFANTIL. FORMAÇÃO CONTINUADA. 
DOCÊNCIA E INFÂNCIA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO INFANTIL: FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS 
A educação no Brasil é regida por um vasto conjunto de leis e 
regulamentações provenientes das esferas federal, estadual e municipal, que 
estabelecem as bases e o funcionamento do sistema educacional brasileiro. 
Essas normas compreendem princípios, diretrizes e regras que direcionam a 
estrutura e a gestão dos sistemas de ensino, bem como o financiamento da 
educação. 
 
Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, a Educação 
Infantil, que abrange creches e pré-escolas, foi estabelecida como a primeira 
etapa da educação básica. Essa definição foi reafirmada na Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394, de 1996, reconhecendo o 
direito legal das crianças pequenas à educação e a responsabilidade do Estado 
em atender a essa demanda. Posteriormente, em 2006, houve uma mudança na 
legislação que tornou obrigatória a educação para crianças de quatro a 17 anos, 
incluindo a pré-escola. Vale ressaltar que essa obrigatoriedade se refere à faixa 
etária e não necessariamente ao nível de escolarização, mas enfatiza a 
importância do ingresso na pré-escola aos quatro anos de idade. 
Os princípios legais relacionados à Educação Infantil são resultado das 
conquistas de movimentos sociais que, desde os anos 1970, reivindicaram esse 
direito como uma necessidade das mães trabalhadoras que precisavam de um 
ambiente seguro para seus filhos pequenos. Com o tempo, esse direito evoluiu 
para se tornar um direito das crianças e de suas famílias. 
A crescente importância da Educação Infantil pode ser justificada por 
diversos motivos, como as mudanças no papel da mulher na sociedade 
moderna, transformações nos arranjos familiares, as condições de vida nas 
cidades, pesquisas científicas que comprovam os benefícios da frequência à pré-
escola e o reconhecimento internacional dos direitos das crianças, incluindo o 
direito à educação de qualidade desde os primeiros anos de vida. 
Quanto à organização da Educação Infantil, a responsabilidade por sua 
oferta foi atribuída aos municípios pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (LDBEN) nº 9.394/1996, que distribuiu as competências administrativas 
entre os níveis de governo. O Plano Nacional de Educação de 2001 reafirmou a 
responsabilidade compartilhada das esferas de governo e das famílias em 
relação à Educação Infantil. 
 
A transição das creches do âmbito da assistência social, saúde e trabalho 
para o setor educacional trouxe novos desafios à gestão municipal da educação 
e ampliou as oportunidades de emprego para professores que atendem crianças 
com menos de quatro anos. Além disso, a crescente demanda por creches, 
especialmente nas áreas urbanas, e a persistência do fracasso escolar no ensino 
fundamental destacaram a importância de investir na oferta e na qualidade da 
Educação Infantil, cujos benefícios para o desempenho futuro das crianças no 
ensino fundamental são amplamente reconhecidos pela pesquisa. 
Impactos da política na educação básica 
Existem várias políticas voltadas para a educação básica que têm impacto 
na Educação Infantil, embora não tenham sido originalmente projetadas para 
esse fim. De acordo com Campos (2010), algumas medidas podem ser 
identificadas nesse contexto, como a extensão do ensino fundamental para nove 
anos e a obrigatoriedade da educação para crianças dos quatro aos dezessete 
anos. Essas medidas não apenas reestruturaram o sistema de educação básica, 
mas também trouxeram à tona questões históricas não resolvidas na educação 
brasileira, como a divisão entre creche e pré-escola e os desafios de 
alfabetização nos primeiros anos do ensino fundamental. Essas questões estão 
relacionadas ao direito à Educação Infantil e têm um impacto significativo na 
qualidade das instituições de Educação Infantil e nos primeiros anos do ensino 
fundamental. 
Durante a reforma administrativa do Estado nos anos 1990, houve 
mudanças significativas na autoridade dos governos locais devido ao aumento 
da parcela de tributos federais transferidos automaticamente aos entes 
federados. Isso deu aos municípios uma autoridade maior sobre impostos de 
grande importância, como o Fundef, que impulsionou o processo de 
municipalização da educação e a priorização do investimento no ensino 
fundamental. No entanto, essas mudanças tiveram impacto na Educação Infantil. 
A política de financiamento do ensino fundamental, por meio da criação 
do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de 
Valorização do Magistério (Fundef), parece ter gerado desafios para os 
municípios no que diz respeito à implementação de suas redes de Educação 
Infantil, uma vez que 25% de seus orçamentos em educação deveriam ser 
destinados ao ensino fundamental. 
Antes da criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da 
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) em 
substituição ao Fundef, a Educação Infantil não contava com recursos 
especificamente direcionados ao seu financiamento. Isso deixou a maioria dos 
municípios, que têm a responsabilidade primária de atender a essaetapa 
educacional, com poucas condições concretas de oferecer e expandir o número 
de vagas na Educação Infantil. No entanto, a partir da metade da última década, 
o novo fundo tem contribuído para promover o atendimento à Educação Infantil 
no país. 
A Emenda Constitucional nº 53/2006 trouxe mudanças na estrutura da 
Educação Infantil, determinando que as crianças de seis anos completos fossem 
matriculadas no ensino fundamental. Essa medida gerou críticas no âmbito da 
Educação Infantil, mas a discussão se concentrou principalmente na 
institucionalidade dessa etapa de ensino, resultando em poucos compromissos 
e preocupações em relação às crianças de seis anos de idade. 
No ano de 2009, foi aprovada a Emenda Constitucional nº 59/2009, que 
estabeleceu como princípio a obrigatoriedade do ensino para crianças com 
idades entre quatro e dezessete anos. Essa medida tornou obrigatória a 
frequência das crianças de quatro e cinco anos na pré-escola. Três anos após 
essa aprovação, em 4 de abril de 2013, a obrigatoriedade foi regulamentada por 
meio da Lei nº 12.796, que modificou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (LDBEN) nº 9.394/1996. Essa lei tratou, entre outros assuntos, da 
obrigatoriedade da educação básica e gratuita para crianças de quatro a 
dezessete anos, organizada em pré-escola, ensino fundamental e ensino médio 
(Art. 4, inciso I). Além disso, estabeleceu o dever dos pais ou responsáveis de 
matricular as crianças na educação básica a partir dos quatro anos de idade (Art. 
6). 
Além das mudanças legislativas, o Ministério da Educação tem 
implementado programas e ações federais em todas as etapas da educação 
básica, desempenhando seu papel na coordenação da política educacional 
nacional. Nos últimos dez anos, diversas iniciativas foram tomadas para 
promover mudanças na implementação das políticas municipais de educação. 
Algumas das ações do governo federal nesse sentido incluem o Programa de 
Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação (Pradime), o Programa Nacional 
de Capacitação de Conselheiros Municipais de Educação (Pró-Conselho) e o 
Programa Nacional "Escola de Gestores da Educação Básica Pública" (Ipea, 
2011). 
O Programa Nacional "Escola de Gestores da Educação Básica Pública" 
é um programa abrangente que visa capacitar os dirigentes para que tenham 
uma compreensão abrangente da educação nacional e das medidas necessárias 
para a implementação da política municipal de educação. No que diz respeito à 
Educação Infantil, o programa oferece orientações sobre a estrutura e o 
funcionamento dessa etapa educacional, destacando as responsabilidades dos 
municípios em relação ao financiamento, aos padrões mínimos de 
funcionamento, aos recursos humanos, aos materiais, à previsão de vagas e à 
fiscalização de instituições privadas. Além disso, aborda o Plano Nacional de 
Educação (PNE 2001-2011) e discute as metas relacionadas às condições de 
funcionamento das instituições de Educação Infantil no Brasil. 
É importante mencionar que o governo federal também desempenha um 
papel significativo na assistência financeira e no apoio técnico-pedagógico à 
Educação Infantil por meio da implementação do Programa Nacional de 
Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de 
Educação Infantil (Pro Infância). Esse programa absorveu uma parte substancial 
dos recursos do orçamento da educação básica do Ministério da Educação. De 
acordo com dados do Ipea (2011), em 2009, o programa concentrou "os recursos 
destinados à reestruturação da rede física pública da educação básica, cuja 
execução chegou a 94% da dotação inicial e aproximou-se dos R$ 550 milhões". 
Também foram implementados programas de formação inicial e contínua 
para professores atuantes na Educação Infantil, ensino fundamental e ensino 
médio por meio do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Isso se deveu 
à falta de qualidade dos recursos humanos disponíveis nas escolas públicas. De 
acordo com informações apresentadas pelo Ipea em 2011, a porcentagem de 
professores com formação superior em 2009 estava consideravelmente aquém 
das metas estabelecidas pelo Plano Plurianual para o ano de 2011 em todas as 
etapas da educação básica. No entanto, o descompasso era ainda mais notável 
na Educação Infantil, onde 48,9% dos professores não possuíam formação 
superior naquele ano. O governo federal tinha como meta elevar essa 
porcentagem para 70% até o ano de 2011. 
GESTÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: PRINCÍPIOS E ABORDAGENS 
 
Segundo Lück (1999), a autonomia escolar, conforme estabelecido na 
legislação, envolve a capacidade organizacional da escola para desenvolver seu 
projeto educacional e administrar os recursos alocados para o ensino, garantindo 
sua efetivação. 
Através do estímulo à autonomia pedagógica, administrativa e financeira, 
conforme preconizado na Lei de Diretrizes e Bases, a escola assume a 
responsabilidade pelo planejamento de conteúdos curriculares, métodos de 
ensino, utilização eficaz de tempo e espaço físico, bem como pela gestão de 
recursos humanos e materiais alocados para a realização de seu projeto 
educativo. 
 
Portanto, a gestão escolar engloba a responsabilidade de administrar os 
recursos financeiros, humanos e pedagógicos, atendendo prontamente às 
demandas específicas e assegurando o uso eficiente dos recursos disponíveis. 
No contexto da Educação Infantil, especialmente em creches, a prática de 
convênios traz desafios à autonomia escolar. Isso ocorre porque os sistemas de 
educação buscam garantir condições básicas de funcionamento nas unidades 
conveniadas com os municípios, o que implica em um aumento do controle e da 
intervenção desses sistemas nas instituições conveniadas. 
Além disso, de acordo com a legislação pertinente, a gestão escolar deve 
ser democrática, promovendo a participação dos profissionais e da comunidade 
na elaboração do projeto pedagógico, incentivando o trabalho coletivo e a 
implementação de órgãos colegiados. 
 
Em geral, a transição para um modelo de gestão mais democrático e 
participativo ganhou mais formalização e base legal nas outras etapas da 
educação básica. Entretanto, na Educação Infantil, as práticas de natureza 
comunitária que marcaram o início de muitos programas frequentemente não 
foram formalizadas legalmente, o que comprometeu sua continuidade ao longo 
de administrações municipais com diferentes orientações político-ideológicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONCEITOS SOBRE PROJETO PEDAGÓGICO 
 
Quanto ao projeto pedagógico, um componente essencial de uma gestão 
democrática, ele representa um instrumento técnico-político utilizado pela escola 
e pressupõe uma certa autonomia administrativa e pedagógica. Este projeto 
delineia o que deve ser ensinado e aprendido na escola, sendo caracterizado 
principalmente por refletir os interesses e necessidades dos profissionais da 
educação e da comunidade. Sua criação é baseada na realidade local e deve 
envolver a participação conjunta da comunidade escolar e da comunidade local. 
"A formação educacional requer a incorporação tanto 
de técnicas quanto de conhecimentos práticos, 
ambos desempenhando papéis essenciais no 
processo. No entanto, a visão dicotômica entre teoria 
e prática é uma simplificação inadequada da questão 
em pauta. Essa abordagem não oferece uma 
solução eficaz nem a capacidade de desenvolver 
propostas autônomas em cada ambiente 
educacional. É importante destacar que a prática 
educativa não deve ser vista como uma ação 
desprovida de reflexão, repetição mecânica ou 
monotonia, pois tais abordagens podem 
comprometer a qualidade do ensino." (Kuhlmann Jr., 
2005, p. 141). 
 
No contexto da Educação Infantil, conforme afirmado por Kuhlmann Jr. 
(2005), o projeto pedagógico deve ter como foco principal o coletivo e tem o 
potencial de oferecer uma ampla gama de experiências interativas que 
contribuem para o desenvolvimento integralda criança. Portanto, do ponto de 
vista pedagógico, o projeto deve levar em consideração os grupos de crianças, 
suas características individuais e suas interações entre si e com os adultos. Além 
disso, deve prever a organização do ambiente e das atividades durante o período 
de funcionamento. 
Um dos desafios significativos na formulação da proposta educacional da 
instituição é a dificuldade de articular os princípios regulatórios que orientam o 
planejamento com as questões teóricas subjacentes à Educação Infantil. Nesse 
sentido, Kuhlmann Jr. (2005) enfatiza a importância de momentos de formação 
para os profissionais, nos quais a reflexão seja estimulada, permitindo que os 
professores criem e atuem com base no sólido embasamento teórico disponível 
sobre a Educação Infantil. 
Além disso, o autor destaca a necessidade de avaliar as condições reais 
de funcionamento das instituições, identificando problemas, bem como acertos 
e progressos. Segundo ele, esses elementos formam a base para a proposta 
pedagógica, juntamente com objetivos e métodos de organização do trabalho 
com as crianças. 
Essas reflexões evidenciam a riqueza da discussão sobre a gestão das 
unidades de Educação Infantil. No entanto, embora seja compreensível que a 
gestão da Educação Infantil se baseie nos modelos desenvolvidos inicialmente 
para outros níveis da educação básica, é crucial reconhecer que o trabalho 
nessas instituições envolve uma integração essencial entre o cuidado e a 
educação. 
Portanto, a Educação Infantil requer uma estrutura organizacional que 
assegure o atendimento em período integral, o planejamento adequado do 
espaço físico para proporcionar um ambiente acolhedor e confortável para as 
crianças, a implementação de um projeto educativo sistemático e intencional que 
promova o desenvolvimento físico, emocional, intelectual e social das crianças, 
além de uma comunicação frequente e colaborativa com as famílias. 
 
Etimologicamente, a palavra "infância" está ligada à negação, visto que o 
prefixo "in" indica ausência, referindo-se àquele que não possui a capacidade de 
falar. Portanto, a palavra "infância" está intrinsecamente ligada a uma ausência 
que é associada à ideia de incapacidade. 
Essa perspectiva do "não saber" e do "não ser" estabelece um paradigma 
no qual o outro, que pode ser um adulto, um formador ou um professor, é 
considerado aquele que ensina, o detentor do conhecimento. Isso coloca o 
docente em formação em uma posição de incompletude e inacabamento, o que, 
de certa forma, é positivo, pois sugere a ideia de abertura. No entanto, o aspecto 
que me preocupa nisso é que coloca o professor em uma posição inferiorizada, 
como alguém que precisa ser cuidado e orientado geralmente por alguém que 
detém o conhecimento e a orientação. 
 
De maneira poética, Manoel de Barros descreve seu próprio movimento 
em direção à infância, seu espanto diante da sensatez do adulto e seu desejo de 
afastar-se do bom senso, do comportamento aceitável e do modo de pensar e 
agir cada vez mais moldado pela sociedade contemporânea. 
Ao proporcionar à criança um entendimento de mundo, trabalhando a 
sua cidadania, pois todos têm direitos e deveres e isto está implícito nas 
regras que temos que cumprir, na forma como devemos agir e nos comportar, a 
escola age como mediadora, ensinado a criança como viver em sociedade. 
Parece que através da infância, podemos desconfigurar as coisas, 
desvincular o mundo de suas formas convencionais, escapar do molde e das 
linhas previsíveis. Podemos nos tornar seres diferentes, com formas inusitadas 
e não premeditadas, habitantes de lugares não convencionais. Podemos nos 
arriscar, equilibrar-nos na corda bamba e explorar novos territórios. 
Assim, pensar em formação aqui significa considerar algo que não apenas 
nos molda, mas também nos transforma e, de certa forma, nos desfigura, nos 
adaptando a novas formas. Formar e experimentar não podem ser nada além de 
embarcar em uma jornada, se expor e convidar o outro a seguir conosco. Ao 
percorrer caminhos que nos confrontam com o inesperado e o desconhecido, 
caminhar é se colocar diante da diversidade, da alteridade e da diferença. 
Experimentar significa nos transportar para um espaço estranho, onde nos 
deparamos com o inusitado e o desconhecido. A figura do estrangeiro se reflete 
no rosto da infância, na face da alteridade e na face da diferença. 
Conforme mencionado por Leite (2011, p. 162): trata-se de abordar a 
infância como um ambiente propício para o processo de formação, como um 
trajeto que se estende indefinidamente, e como um encontro com sensações 
desconhecidas e não explicadas, sensações primordiais que nos estimulam a 
refletir. 
Enquanto percorremos esses caminhos, em territórios repletos de 
incertezas, qualquer coisa pode atrair nossa atenção, nos manter alerta e nos 
conduzir por inúmeras trilhas, criando oportunidades para que nossa jornada se 
desvie dos caminhos convencionais. Parece que essa abertura, essa quebra de 
barreiras, essa falta de continuidade, nos aproxima da infância das próprias 
crianças. 
 
 
 
 
 
O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS 
CONTRIBUIÇÕES 
 
O professor reflexivo, permanentemente caminha por vias difusas, ora 
está na tentativa um tanto quanto solitária, de realizar o fazer pedagógico a partir 
da reflexão, do que se pensou, do que planejou e como avaliou, para a busca 
de uma prática de sucesso e ora se depara com um currículo engessado. 
Há evidências práticas que indicam que os profissionais que atuam na 
Educação Infantil frequentemente possuem concepções que se alinham com a 
visão de uma escola com foco assistencialista, na qual a prática está centrada 
na preparação das crianças para o ensino fundamental. Além disso, a falta de 
incentivo e reconhecimento resulta em altas taxas de rotatividade de 
professores. A escassez de programas de formação inicial e continuada voltados 
especificamente para o atendimento de crianças de zero a cinco anos contribui 
para a falta de uma identidade clara entre esses profissionais. 
 
No Brasil, são raros os cursos de licenciatura em Pedagogia que se 
dedicam à formação específica de professores para a Educação Infantil. Em vez 
disso, a maioria dos cursos oferece apenas algumas disciplinas relacionadas a 
essa faixa etária em suas grades curriculares. Isso resulta em graduados que 
têm conhecimento limitado das particularidades e demandas envolvidas no 
trabalho com crianças de zero a cinco anos. 
Nesse contexto, é perceptível que as professoras e cursistas 
frequentemente enfrentam desafios em relação às suas práticas em sala de aula. 
Elas se questionam sobre o tipo de atividade mais significativa a ser 
desenvolvida, como criar uma rotina dinâmica, avaliar o progresso das crianças 
sem depender de fichas descritivas e melhorar as atividades de linguagem e 
matemática, entre outros aspectos. No entanto, ao mesmo tempo em que 
levantam essas questões, muitas vezes acabam implementando atividades 
baseadas em memorização e treinamento motor, frequentemente retiradas de 
fontes online, sem levar em consideração as necessidades e interesses 
individuais das crianças. 
 
É importante ressaltar que os professores e professoras da Educação 
Infantil desempenham um papel distinto daqueles que atuam no Ensino 
Fundamental. As instituições de Educação Infantil têm um enfoque dual no 
cuidado e na educação das crianças, o que demanda um profundo respeito e 
valorização desses profissionais. 
Portanto, esses profissionais requerem uma formação abrangente que 
englobe conhecimentos, competências e aptidões que satisfaçam as 
necessidades das crianças e os capacitem a serem educadores reflexivos. 
Segundo Oliveira (2005), esses profissionais começam a incorporar em suas 
práticas pedagógicas uma abordagem que integra o cuidado e a educação de 
forma educativa, distinguindo o cuidado educativodo cuidado familiar, com 
ênfase na promoção da autonomia e desenvolvimento infantil. 
Em resumo, a qualidade da formação dos professores da Educação 
Infantil é crucial para o progresso das crianças. Portanto, é imperativo que haja 
uma colaboração entre família e sociedade para valorizar esses profissionais. 
A Educação Infantil é responsável pela iniciação da criança no espaço 
escolar, com a função de cuidar e ao mesmo tempo educar. A instituição 
escolar como um todo, que abrange desde o professor/a, a gestão escolar, a 
equipe de apoio, todos e todas são responsáveis pelo bem-estar e 
desenvolvimento das crianças. E ao professor/a, maior responsável em 
proporcionar momentos de aprendizagens, de provocá-las a explorar o espaço 
em que estão inseridas, propor situações problematizadoras. De acordo com 
Oliveira (2010) o trabalho escolar tem como meta contribuir para a ampliação 
dos conhecimentos e saberes, a promoção da igualdade de oportunidades 
educacionais para as crianças pertencentes a diferentes classes sociais, 
permitindo-lhes perceber-se como sujeitos de direitos, a partir de princípios de 
democracia e justiça social. Para que este trabalho seja desenvolvido de forma 
positiva, o Ministério da Educação oferece diversos materiais de apoio, bem 
como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010) e o 
Referencial Nacional para a Educação Infantil (1998) que norteiam a prática do 
professor/a. Podem-se citar como de fundamental importância o acesso a 
formação continuada, uma grande aliada a prática pedagógica, pois proporciona 
o aprimoramento do saber já construído. 
A prática adquirida em sala de aula junto com a troca de experiência 
por meio de estudos com colegas de profissão e com as crianças são de 
fundamental importância à melhoria do ensino. Destaca-se também que a 
for- mação continuada é imprescindível para a aquisição de novos 
conhecimentos, pois oportuniza o acesso a uma formação atualizada, que vai ao 
encontro das necessidades pedagógicas das salas de aula e da instituição 
escolar como um todo. 
 
Destaca-se a necessidade de se pensar na prática atual na sala de aula, 
o que é considerado positivo, quais atividades necessitam serem 
aprimoradas, fazer uma análise acerca dos objetivos a serem alcançados, 
pensar na rotina diária, quais estratégias são mais adequadas em cada 
atividade. Com o intuito de oportunizar as crianças a terem uma aprendizagem 
de qualidade e prazerosa. 
É fundamental enfatizar que, nos primeiros anos da infância (0-3 anos), 
muitas crianças já têm conhecimento da escola, embora não estejam 
necessariamente envolvidas no processo de ensino formal. Esse conhecimento 
pode advir de irmãos mais velhos que frequentam a escola, colegas, vizinhos ou 
mesmo dos pais, que gradualmente informam que um dia as crianças também 
irão para a escola. Quando finalmente ingressam na escola e se tornam 
oficialmente estudantes matriculados, surge a empolgação e a alegria, embora 
muitas vezes esses sentimentos sejam atenuados pelo período de adaptação à 
nova realidade escolar. 
A adaptação escolar representa um dos momentos de transição 
significativos na vida da criança ao ingressar na escola. Isso envolve, 
primeiramente, a ideia de estar com adultos desconhecidos que não fazem parte 
de sua família e, em segundo lugar, a necessidade de se adaptar às rotinas 
estabelecidas por esses adultos, que visam aprimorar a prática pedagógica. 
É essencial que os educadores estejam bem-informados sobre o 
desenvolvimento infantil para que essa fase da vida escolar seja direcionada ao 
estímulo das potencialidades da criança, ao invés de focar em suas limitações. 
Podemos explorar a seguinte citação que ilustra, por meio da literatura e da 
imaginação, o que significa ser criança: um ser que brinca, interage e percebe 
um mundo repleto de descobertas em tudo ao seu redor, como um espaço 
inexplorado e inesgotável de imaginação. 
Por outro lado, é crucial destacar que o conceito convencional de rotina 
na Educação Infantil pode ser percebido como algo mecânico, regulador, 
delimitador e internalizado. Isso pode criar a impressão de que os seres 
humanos são como máquinas, funcionando apenas por meio de botões de ligar 
e desligar, conforme a conveniência. Esse conceito reforça a ideia de que o 
sistema capitalista busca cidadãos que cumpram estritamente as regras 
estabelecidas, tanto na escola quanto na sociedade em geral. No entanto, não 
devemos subestimar a importância da formação docente e das práticas 
educacionais, uma vez que a visão da criança como um ser inocente, repleto de 
potencial, reflete o compromisso das educadoras em respeitar plenamente os 
direitos das crianças, como preconizado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais 
da Educação Infantil. 
É fundamental reconhecer que a concepção de criança e infância passou 
por mudanças significativas ao longo da história. A criança já foi vista como 
adultos em miniatura e já sofreu exploração laboral, abuso sexual e outras 
formas de violência. No entanto, o paradigma de que as crianças têm direitos e 
devem ser respeitadas possibilitou uma transformação na maneira como a 
sociedade as enxerga. Agora, não podemos mais tolerar que velhos conceitos 
sobre a criança prevaleçam, pois devemos proteger seus direitos e garantir que 
tenham uma infância segura e saudável. 
“Transitou-se de uma concepção na qual as crianças 
eram percebidas como seres deficientes, 
incompletos e que precisavam apenas de proteção, 
para uma visão que coloca as crianças como 
protagonistas ativas em seu próprio 
desenvolvimento. Isso acontece por meio de uma 
interação dinâmica com seus colegas, adultos ao 
seu redor e o ambiente que as cerca. As crianças 
têm a capacidade de criar teorias, fazer 
interpretações e formular perguntas, 
desempenhando um papel fundamental na 
construção dos processos de aprendizado e 
conhecimento”. (Barbosa; Horn, 2008, p. 28). 
3. CONCLUSÃO 
Para Ramos (2012), ao professor compete a concretização dessa 
articulação junto à criança, que demonstra em suas brincadeiras a sua grande 
capacidade de vivenciar a emoção, a razão, a natureza e a cultura. Ele pode 
promover situ- ações que ajudem a criança a classificar o dentro e o fora, o eu e 
o outro, o tempo, os espaços, a vida privada e social, os momentos 
de brincadeira e de estudo, a separar para investigar, analisar, mas com vistas a 
integrar novamente. 
O conhecimento é um fenômeno que não se pode medir totalmente, 
algo não palpável, não se pode tocá-lo; mas podemos sentir através das 
mudanças internas e externas de ser. Só conseguimos sentir quando 
objetivamente houve sentido na aprendizagem, de nada adianta lermos ou 
estudarmos se não obtivermos aquilo pelo qual buscamos. 
Geralmente quando vemos os profissionais da Educação Infantil 
cometerem erros, logo rotulamos ou julgamos nos precipitando, mas, analisando 
os fatos compreende-se que os mesmos estão reproduzindo velhos conceitos, 
porém, as oportunidades na questão da qualidade da formação docente não 
ocorrem conforme a demanda, quanto mais se retardar a oferta de formação que 
preencham essas lacunas, mais tardiamente as crianças serão ensinadas por 
profissionais qualificados que entendam a importância da qualidade nas escolas 
de Educação Infantil. 
Apesar das questões apresentadas neste trabalho sobre os aspectos 
relacionados à prática de professores na educação infantil, acreditamos pode 
afirmar que houve um grande avanço em vários aspectos desta modalidade de 
ensino no país, que até pouco tempo sequer fazia parte da Educação Básica, 
estando sob responsabilidade da Secretaria de Assistência Social. 
Vale ressaltar que o perfil antes esperado para atuar com crianças nas 
creches e pré-escolas, era apenas “gostar de crianças”, nessa perspectiva 
avançamos muito, hoje estamos discutindo a identidade do profissional, as 
concepções e conhecimentospara desenvolver um melhor trabalho com nossas 
crianças. 
Pensar a criança de zero a cinco anos, como um ser integral, assim como 
está preconizado nas diretrizes, pressupõem primeiramente entender e 
compreender o que é ser criança, que concepção possuímos de infância e 
criança como sujeito também de ação, que produz cultura, enfim, quais suas 
demandas e as reais necessidades, tais questionamento permite sobretudo 
buscar entender qual o papel das instituições de Educação Infantil, qual a parcela 
de responsabilidade que a própria Universidade tem em relação a estas 
questões. 
Os resultados apontam que apesar dos avanços das políticas em relação 
ao atendimento às crianças de 0 a 5 anos no Brasil, muito precisa ser feito para 
garantir um atendimento de qualidade a essa clientela, principalmente a 
necessidade de investir na formação dos profissionais que atuam neste nível da 
educação básica para que eles possam construir suas práticas baseadas nas 
necessidades e especificidades das crianças dessa faixa etária. 
Percorremos um longo caminho de avanços neste percurso, mas temos 
responsabilidade para saber que precisamos caminhar muito para que 
possamos realmente oferecer uma Educação Infantil de qualidade. Daí ser 
necessário acreditar que é possível, mas é pertinente afirmar que uma proposta 
de formação continuada, não pode sozinha, proporcionar a reflexão para a 
possibilidade de mudança de paradigmas educacionais. Estas dependem das 
condições de trabalho dos professores e professoras e de seu compromisso com 
o processo de ensino e aprendizagem de seus estudantes e consequentemente 
com o desenvolvimento da sociedade. 
 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
AZEVEDO, Janete Maria Lins de. Implicações da nova lógica de ação do 
Estado para a educação municipal. Educação e Sociedade, 2002. 
BARROS, Manoel. Memórias Inventadas: as infâncias de Manoel de Barros. 
São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. 
BRASIL. Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006. Dá nova 
redação aos Art. 7, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e ao 
Art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Diário Oficial 
da União, Brasília, 09 de março de 2006. 
_______Lei n. 12.796, de 05 de abril de 2013. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de 
dezembro de 2013, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 05 de abril 2013. 
_______Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Pradime: 
Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação. Brasília: MEC, 
2006 
IPEA. Educação. Políticas sociais – acompanhamento e análise. Disponível 
em: <http://bit.ly/2AzwSYH>. Acesso em: 12 set. 2023. 
KUHLMANN JR., Moysés. Currículo e projeto pedagógico na Educação 
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Cultura Acadêmica, 2011. 
PACÍFICO, Juracy Machado; PIMENTA, Jussara Santos; CHISTÉ, Bianca dos 
Santos; NEVES, Josélia Gomes; ZIBETTI, Marli Lúcia Tonatto. Docência na 
educação infantil: experiências e práticas em formação continuada. 1. ed. 
Jundiaí - SP: Paco, 2018. 
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Gestão Colegiada em Escolas dos Sistemas Estaduais de Ensino. Em 
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ROCHA, Eloisa Acires Candal. A pesquisa em Educação Infantil no Brasil: 
trajetória recente e perspectivas de consolidação de uma pedagogia. 1999.

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