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Energia regida pelos céus. Sendo um país de extensão continental, o Brasil possui demanda energética e elétrica da mesma ordem de grandeza. Para atendê-la o sistema integrado nacional (SIN)1 conta com sua matriz elétrica focada principalmente em recurso renováveis com participação de 83% de tal modalidade geradora (índice 3 vezes superior aos indicadores internacionais), parcela essa liderada pela produção hidrelétrica (63,8%), seguida pelo fornecimento de origem eólica (9,3%), biomassa e biogás (8,9%) e solar centralizada (1,4%). (Ministério das Minas e Energia, 2020). Se considerarmos que a primeira condição para geração de energia nas hidrelétricas é o volume de água que chega até as bacias e rios que aportam em seus reservatórios, podemos concluir que o bom funcionamento destas fontes é de fato determinado pela quantidade de precipitação disponível, precipitação está dependente de uma série de sistemas meteorológicos que apresentam variabilidade sazonal e local. E é por essa razão que a previsão do tempo e clima é tão relevante para precificação da energia elétrica e para o planejamento organizacional do SIN. Nossa atmosfera é um sistema interligado onde fenômenos de escala local são influenciados por outros de escala global, o que obriga o meteorologista a ter uma visão do cenário total caso queira realizar suas previsões de forma acurada. Para o setor elétrico brasileiro, existem vários sistemas meteorológicos importantes quando tratamos das previsões de vazões e da precipitação. Por exemplo, a ocorrência de El Niño ou La Ninã, influencias de oscilações atmosféricas como a Madden e Julian (MJO) e particularmente as configurações da Zona de Convergência do Atlântico Sul, popularmente conhecida como ZCAS, que abordaremos em detalhes a seguir. A ZCAS é um sistema caracterizado por uma banda de nebulosidade persistente orientada no sentido noroeste/sudeste que se prolonga desde a região amazônica até o Oceano Atlântico (figura 1), associada à convergência de umidade na baixa atmosfera e responsável por aproximadamente 60% da incidência de precipitação 1 É denominado como Sistema Interligado Nacional (SIN) o conjunto de compreende as usinas, linhas de transmissão, redes de distribuição e subestações que formam um sistema integrado eletricamente. Figura 1:Posicionamento da ZCAS. Fonte: (Megawhat Energia, 2020) durante a estação chuvosa (do final de outubro ao mês de abril). Sua formação e permanência são condicionados pela presença de alguns padrões meteorológicos que permitam a manutenção da convergência de umidade em baixos níveis e a divergência em altos níveis da atmosfera. Essa configuração é usualmente obtida quando dois sistemas meteorológicos de altos níveis, a Alta da Bolívia (AB) e o Vórtice ciclônico de altos níveis (VCAN) se organizam em suas posições climatológicas (figura 2 inferior). Enquanto a AB é associada à circulação dos ventos no sentido anti-horário, o VCAN (que se posiciona normalmente próximo ao Nordeste) possui giro dos ventos no sentido horário e, ao interagirem, esses dois sistemas provocam divergência em altos níveis sobre a área central do Brasil, favorecendo a formação de nebulosidade e a precipitação (figura 2 superior). Considerando os níveis mais próximos à superfície a presença de uma alta pressão sobre o Oceano Atlântico Sul pode ainda contribuir para o transporte da umidade que adentra o continente por ação da Zona de convergência Intertropical (ZCIT) e, caso o anticiclone ocorra simultaneamente com a passagem de uma frente fria, podemos ter suporte ainda maior aos padrões convergentes de umidade. Algo interessante a se citar é o fato de que nem sempre esses sistemas estão presentes simultaneamente ou com mesma força todos os anos, algo que também reflete na intensidade é no posicionamento da ZCAS. Assim é comum tanto observamos eventos em que a ZCAS apresenta bandas de nebulosidade bem definidas, quanto encontrarmos sistemas mais desorganizados e com precipitação não regular. Figura 2: Condições de divergência e convergência em diferentes níveis da atmosfera (Superior) e Posicionamento climatológico da Alta da Bolívia(AB) e do Vórtice ciclônico de altos níveis (VCAN) Fonte : ( Megawhat Energia, 2020) Tratando-se da variabilidade espacial das ZCAS, ela também está associada à precipitação volumosa sobre uma região e a supressão de chuva sobre outra localidade. Por exemplo, quando a ZCAS se organiza em sua configuração climatológica, ou seja, sobre o Sudeste, ela favorece o abastecimento hídrico de usinas situadas no subsistema Sudeste, nas bacias do Grande e Paranaíba. Porém, isso pode refletir em diminuição e até supressão de chuva sobre o Sul do Brasil. O contrário também pode ocorrer caso a ZCAS se posicione mais ao sul, desta vez favorecendo a elevação do volume de agua aportada a hidrelétricas como Itaipu ou Itaúba, com possível supressão da precipitação sobre o Sudeste. Para acrescentar mais uma pitada de desafio as previsões numéricas, fenômenos de escala global como El Niño e La Niña também interferem na formação da ZCAS. De forma geral, em anos de El Niño a ZCAS se enfraquece, favorecendo o surgimento de chuvas de verão que são caracterizadas por breves temporais seguidos por períodos de abertura, fenômeno que não perdura por tempo suficiente para recompor de forma eficaz a umidade do solo. Além disso, nesta configuração temos chuvas acima da média na região Sul podendo surgir incertezas sobre o reestabelecimento dos reservatórios das hidrelétricas (Safira Energia, 2018). É por esse motivo que tanto as previsões de intensidade e posicionamento, quanto as previsões de sua ocorrência ou não da ZCAS são tão importantes para o sistema elétrico. Referencias MegaWhat Energia, Curso expresso – Preços de Energia, Aula 13 – Zona de convergência do Atlântico Sul 2020. Disponível em: https://megawhat.energy/cursos/1/curso-expresso-de- precos-de-energia/16/aula-13-zona-de-convergencia-do-atlantico-sul?questionarie=false Ministério das Minas e Energia, Fontes de energia renováveis representam 83% da matriz elétrica brasileira, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/energia-minerais-e- combustiveis/2020/01/fontes-de-energia-renovaveis-representam-83-da-matriz-eletrica- brasileira Safira Energia, El Niño: Entendendo os impactos deste fenômeno para o setor elétrico, 2018. Disponível em: https://safiraenergia.com.br/el-nino/ https://www.gov.br/pt-br/noticias/energia-minerais-e-combustiveis/2020/01/fontes-de-energia-renovaveis-representam-83-da-matriz-eletrica-brasileira https://www.gov.br/pt-br/noticias/energia-minerais-e-combustiveis/2020/01/fontes-de-energia-renovaveis-representam-83-da-matriz-eletrica-brasileira https://www.gov.br/pt-br/noticias/energia-minerais-e-combustiveis/2020/01/fontes-de-energia-renovaveis-representam-83-da-matriz-eletrica-brasileira
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