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MATERIAIS DE CONTRUÇÃO Hudson Goto Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar o local da principal jazida brasileira de gipsita e o processo de fabricação do gesso. � Comparar o gesso de pega rápida (de estucador) aos demais tipos de gesso. � Enumerar as boas práticas de estocagem e uso do material, com o objetivo de eliminar ou diminuir possíveis patologias. Introdução Neste capítulo, você estudará os conceitos referentes ao gesso: desde os locais de maior potencial para a extração da matéria-prima até o seu processo de fabricação e a obtenção do produto final. Também conhecerá os principais tipos de gessos, entendendo as diferenças entre eles e suas respectivas características e aplicações. E, de maneira prática, observará as boas práticas referentes à estocagem e à utilização do material, evitando o surgimento de manifestações patológicas. De forma geral, pode-se dizer que o gesso compreende um dos mais antigos materiais de construção fabricados pelo homem, muito em vir- tude da facilidade de obtê-lo, já que pode ser encontrado na natureza em jazidas minerais. Tomados os devidos cuidados, principalmente quanto à exposição à água (umidade), é possível empregar o gesso como material da construção civil em diversas etapas (por exemplo, em revestimentos) ou como parte de outros materiais compostos. Assim, compreender as características fundamentais e a forma de utilização do gesso como material da construção civil resultará no melhor aproveitamento desse recurso mineral, otimizando os processos produ- tivos, evitando retrabalhos e agregando valor às edificações. Processo de fabricação do gesso O sulfato de cálcio pode ser encontrado na natureza, principalmente nas formas de anidrita (CaSO4) e gipsita (CaSO4 · 2H2O) — a última de maior valor comercial para a construção civil —, obtidas em depósitos evaporíticos originados de antigos oceanos. A formação desses depósitos é explicada pela ocorrência de precipitações, seguidas de evaporações e, posteriormente, pela concentração de sais (JORGENSEN, 1994 apud BALTAR et al., 2004). No Brasil, as reservas mais abundantes de gipsita são encontradas em Pernambuco, na região do Sertão do Araripe, abrangendo os municípios de Araripina, Bodocó, Ipubi, Ouricuri e Trindade, responsáveis por 95% da pro- dução brasileira. Consideram-se as jazidas do Araripe aquelas com o minério de melhor qualidade do mundo, além de apresentarem excelentes condições de mineração (relação estéril/minério e geomorfologia da jazida) (Figura 1) (SILVA et al., 2017). Figura 1. Localização do polo gesseiro do Araripe, no extremo oeste de Pernambuco. Fonte: Ribeiro (2006). Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias2 Segundo Ribeiro (2006), em 1960, Pernambuco chegou à posição de maior produtor de gipsita do país, posição mantida até os dias atuais, o que ratifica o fato de que essas minas oferecem as melhores condições de exploração, com menor preço por tonelada extraída e grande pureza no seu minério, tornando o gesso mais acessível ao mercado consumidor. Em relação ao beneficiamento ou processo de fabricação da gipsita para a produção do gesso, as seguintes operações podem ser relacionadas: (1) extração; (2) cominuição; (3) calcinação; (4) pulverização; e (5) embalagem (RIBEIRO, 2006). A extração da gipsita é efetuada por equipamentos convencionais de mineração, como perfuratrizes, pás mecânicas, tratores, etc. Realiza-se o desmonte do minério com explosivos convencionais, em explosões controladas, o que resulta em uma grande variedade de blocos (Figura 2). Figura 2. Desmonte e extração de gipsita. Fonte: Baltar et al. (2004) e Ribeiro (2006). Após a extração, tem-se a etapa de cominuição ou fragmentação, na qual os blocos são britados e rebritados, normalmente em britadores de mandí- bula e moinhos de martelo. A britagem pode, ainda, ser realizada em dois estágios em circuito fechado com peneiras vibratórias a seco. O produto final da cominuição deve apresentar uma distribuição granulométrica uniforme, possibilitando um processo posterior de calcinação (desidratação) por igual em todas as partículas de gipsita. O minério é reduzido a tamanhos menores que 20 mm de diâmetro (Figura 3). 3Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias Figura 3. Cominuição da gipsita em britador de mandíbula. Fonte: Ribeiro (2006). A calcinação consiste na etapa que transforma a gipsita em gesso, podendo ser realizada em fornos simples ou industriais. Trata-se da etapa mais impor- tante do processo produtivo que resulta no gesso, pois as condições termodi- nâmicas e cinéticas devem ser bem definidas para que obter os diferentes tipos de produtos desejados. Para grandes volumes de gipsita, a calcinação pode ser efetuada sob agitação, conferindo maior homogeneidade da temperatura e velocidade das reações de desidratação (Figura 4). Figura 4. Calcinação da gipsita. Fonte: Ribeiro (2006). Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias4 Bauer (1994) cita ainda os fornos de marmita e fornos rotativos para os processos de calcinação. No processo de marmita, a gipsita cominuída é aquecida dentro de um grande recipiente com capacidade variável entre 10 e 20 toneladas, agitado e aquecido por fogo indireto. Mais moderno que o forno de marmita, o forno rotativo dispensa o agitador interno, apresentando câmaras de calcinação circular, com contato indireto entre gases quentes e material no forno. Finalizada a calcinação, têm-se as etapas finais de pulverização e em- balagem. O pó fino do gesso é obtido por meio da passagem do material calcinado em moinhos especiais, combinados com crivos que garantem uma granulometria adequada para a sua utilização. O material moído é separado em diferentes distribuições granulométricas, classificado de acordo com o seu tempo de pega e posteriormente embalado em sacos de papel multifolhados, de acordo com a NBR 13207:2017 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOR- MAS TÉCNICAS, 2017c). O gesso pode ser adquirido em pasta ou pó, e as embalagens comerciais vendidas em sacos de 20 ou 40 kg. Tipos de gesso Na natureza, a gipsita é encontrada como sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4 · 2H2O), normalmente associada a impurezas, como os óxidos metálicos (sílica, alumina, óxido de ferro, carbonatos de cálcio e magnésio), que podem variar desde uma proporção muito pequena até o limite máximo de cerca de 6% (BAUER, 1994). Sua composição estequiométrica média é de 32,5% de óxido de cálcio (CaO), 46,6% de trióxido de enxofre (SO3) e 20,9% de água (H2O) (SILVA et al., 2017). Durante o processo de calcinação (desidratação), a gipsita se decompõe, formando um hemidrato (gesso), segundo a reação (RIBEIRO, 2006): CaSO4 ∙ 2H2O → CaSO4 ∙ 1/2H2O De modo geral, define-se o gesso como o termo genérico de uma família de aglomerantes aéreos simples, constituído, portanto, de sulfatos de cálcio, mais ou menos hidratados (BAUER, 1994; YAZIGI, 2009). Os hemi-hidratos e os sulfatos anidro solúveis, quando misturados nova- mente com a água, em temperatura ambiente, reconstituem rapidamente o sulfato de cálcio di-hidratado original. Esse processo é denominado pega do gesso, o qual também definirá os diferentes tipos de gesso. 5Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias A pega do gesso se dá com a produção de uma fina malha cristalizada (em escamas), de finos cristais de sulfato hidratado. Uma vez iniciada a pega, o gesso, em uma reação com elevação de temperatura (exotérmica), e como os outros aglomerantes, continua a endurecer e ganhar resistência, em um processo que pode durar semanas. A velocidade de endurecimento da massa depende de alguns fatores, como (BAUER, 1994; YAZIGI, 2009): � temperatura e tempo de calcinação; � finura; � quantidade de água de amassamento; � presença de impurezasou aditivos. Em virtude da maior superfície específica para as reações de hidratação, os gessos de elevada finura apresentam pega mais rápida e atingem maiores resistências. A quantidade de água de amassamento também influencia ne- gativamente o fenômeno de pega e endurecimento, tanto por insuficiência quanto por excesso. A quantidade ótima de água necessária à hidratação é de cerca de 18,6%. Em relação à duração, os tempos de pega podem ser assim descritos (YAZIGI, 2009): � início: de 3 min 45 s a 16 min 40 s; � fim: de 5 min 25 s a 24 min 45 s. Bauer (1994) afirma que se pode reduzir o tempo de pega com o emprego de aditivos, como retardadores, cola, serragem fina de madeira, sangue e outros produtos de matadouro em proporção de 0,1 a 0,5%. Esses produtos retardam a hidratação por interferência mecânica, formando membranas protetoras intergranulares. Contudo, substâncias como o sal de cozinha ou o mesmo o gesso hidratado são aceleradoras de pega. A cal hidratada, misturada em até 15%, melhora as qualidades de plasticidade da pasta. Segundo Ribeiro (2006), há dois tipos de gesso hemi-hidratados — alfa e beta —, formados de acordo com o processo de calcinação adotado. Quando a calcinação é efetuada a seco, sob pressão atmosférica ou baixa pressão, obtém-se o hemidrato beta (β); quando sob pressão de vapor de água saturante, obtém-se o hemidrato alfa (α). O hemidrato α tem menor tempo de pega, maior resistência mecânica e custo mais elevado, por isso sua maior utilização é como gesso hospitalar. Já o hemidrato β, que apresenta custo de produção mais baixo, é mais utilizado como gesso na construção civil. Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias6 Os hemidratos β são produtos diferenciados por seu tempo de pega, propor- cionando o tempo necessário para que o gesso, ao ser misturado com a água, complete o seu ciclo de endurecimento. É possível ajustar o tempo de pega desses produtos por meio do processo de calcinação (BALTAR et al., 2004). Segundo a temperatura de calcinação, diferentes tipos de gesso podem ser obtidos a partir da gipsita, como pedra de gesso ou gesso bruto (Figura 5) (COUTINHO, 2006). � 130°C a 160°C — o composto perde 0,5 molécula de água, formando o gesso de Paris, gesso para estuque ou gesso calcinado (hemi-hidratado) (CaSO4 ∙ 2H2O → CaSO4 ∙ 1/2H2O). Esse composto é mais solúvel na água do que a gipsita ou o gesso bruto inicial; � 170°C a 280°C — forma-se a anidrita solúvel (CaSO4) de pega rápida (gesso rápido) que, na presença de água, forma CaSO4 · 1/2H2O; � 400°C a 600°C — forma-se a anidrita insolúvel, que não reage com a água, não ganhando pega; � 1.100°C (aproximadamente) — forma-se o gesso para pavimentos, uma anidrita de pega lenta. Figura 5. Diferentes tipos de gesso (produtos) obtidos de acordo com a variação das temperaturas de calcinação (°C). Fonte: Adaptada de Coutinho (2006). 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Gipsita CaSO4 · 2H2O Pedra de gesso ou gesso bruto CaSO4 · 1/2H2O Hemidrato Gesso de Paris, para estuque ou calcinado Uso na Construção Civil Temperatura de calcinação 130 a 170º CaSO4 Anidrita solúvel (gesso rápido) 170 a 280º Anidrita insolúvel (sem pega) 400 a 600º Gesso para pavimentos (pega lenta, + resistente) 1100º 7Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias Quando em sua forma pura, o gesso de estuque atinge a pega rapidamente, entre 2 e 5 minutos, tornando-se quase inútil como material de construção, endurecendo antes que possa ser trabalhado. Porém, impurezas naturais na gipsita original reduzem a velocidade de endurecimento. A anidrita solúvel (CaSO4) pode conter água de cristalização, embora em baixo teor. Essa fase é solúvel, como o hemidrato, porém instável, transfor- mando-se em hemidrato com a umidade do ar, ratificando a sua capacidade de pega rápida (RIBEIRO, 2006). A anidrita insolúvel, não sendo suscetível à nova hidratação rápida (pra- ticamente inerte), tem a função de participar do composto como material de enchimento, como a areia nas argamassas (BAUER, 1994). Ela também não tem muito valor industrial, por sua estrutura estável e não suscetibilidade à decomposição térmica (RIBEIRO, 2006). Os gessos para pavimentos utilizam pouca água de mistura e, depois de endurecidos, apresentam maior resistência e dureza, menor porosidade e sensibilidade à água do que o gesso de Paris (estuque). São pouco empregados, porque sua produção requer temperaturas elevadas para calcinação. Embora a pega demore cerca de 5 horas, é possível reduzi-la para cerca de 30 minutos com o emprego de aceleradores, como o sulfato de alumínio (COUTINHO, 2006). Em geral, os materiais calcinados em temperaturas mais elevadas ou durante tempos mais longos geram materiais de pega mais lenta, ainda que de maior resistência (YAZIGI, 2009). Classificados como gessos tipo beta, pode-se citar os de fundição e os de revestimento manual, ambos produzidos no Brasil sem aditivos químicos (BALTAR et al., 2004). Os gessos de fundição (110° a 150°C) são utilizados para a produção de pré-moldados de gesso (por exemplo, as placas para execução de forros sus- pensos e blocos para divisórias, largamente empregados na construção civil), bem como de elementos decorativos, como estatuetas e imagens. Já o gesso de revestimento (300° a 600°C) é usado em paredes e tetos, com aplicação manual, como substituto de rebocos e/ou massas para acabamentos. Trata-se de um material que deve atingir um grau de calcinação maior que o gesso de fundição. A maior desidratação da gipsita reduz a velocidade de nova hidratação do gesso, aumentando o seu tempo de pega. Segundo Yazigi (2009), o gesso para revestimento não deve ter menos de 60% de gesso calci- nado, sendo fornecido na forma de pó branco, com elevada finura e densidade aparente variando entre 0,7 e 1,0. No Quadro 1, são apresentadas as exigências físicas para os gessos finos e grossos para revestimento, bem como para os finos e grossos para fundição, Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias8 conforme a NBR 13207:2017 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2017c). Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2017a, 2017b). Classificação do gesso Tempo de pega (minutos) (NBR 12128:2017) Módulo de finura Início Fim (NBR 12127:2017) Gesso fino para revestimento > 10 > 45 < 1,10 Gesso grosso para revestimento > 10 > 45 > 1,10 Gesso fino para fundição 4 a 10 20 a 45 < 1,10 Gesso grosso para fundição 4 a 10 20 a 45 > 1,10 Quadro 1. Exigências físicas do gesso para construção civil Adicionalmente, Baltar et al. (2004) apontaram que empresas do Polo Gesseiro do Araripe (PE) produzem outros tipos de gessos a partir dos gessos de fundição e revestimento que, de acordo com o caso, podem conter aditivos (agregados, produtos químicos, corantes, etc.), como: � gesso cola — para rejunte de pré-moldados em gesso; � gesso de revestimento projetado — para aplicação mecanizada de revestimento de parede; � gesso com pega retardada — para aplicação de revestimento manual; � gesso contrapiso autonivelante; � gesso cerâmico — para fabricação de moldes para a indústria cerâmica; � gesso giz — utilizado nas salas de aulas em escolas, entre outros. Outro tipo de gesso de acabamento é o cimento Keene, produzido por calcinação dupla de gipsita muito pura. Após a primeira calcinação, em tem- peratura elevada, o sulfato-anidro produzido é imerso em uma solução de 10% 9Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias de alúmen, calcinado novamente e pulverizado em moinho de bola (BAUER, 1994). Para Bauer (1994), a natureza dos compostos desidratados, dos corpos inertes e até mesmo da textura do produto, bem como a proporção de impurezas naturais, a condição de pega e, consequentemente, o seu emprego, podem apresentar aspectos variados, resultando em diferentes tipos de classificações dentro de uma mesma família de aglomerantes.Nos países onde esse material é muito utilizado, sua classificação segue critérios que se baseiam na proporção de sulfato semi-hidratado, na finura, na proporção retida em determinadas peneiras e, também, nos tempos de início e fim de pega. O sistema de revestimento com gesso projetado é aplicável apenas em áreas internas de edificações, isto é, nos ambientes secos. No caso de revestimento de gesso sobre estruturas de concreto armado (lajes, vigas e pilares), deve-se prever a preparação da superfície com a aplicação de “chapisco rolado”, a fim de eliminar a possibilidade de descolamento do gesso de revestimento em razão do desmoldante utilizado nas fôrmas usadas na concretagem. O desmoldante precisa ser removido da superfície do concreto antes da aplicação do revestimento de gesso projetado. Outro cuidado consiste em evitar a projeção com espessuras superiores a 2 cm. Se a superfície da base apresentar irregularidades superiores a 2 cm, a projeção deve ser realizada por meio de camadas, respeitando o tempo de cura de cada camada (SILVA, 2011). Boas práticas de armazenamento e utilização Segundo a NBR 13207:2017, o gesso deve ser entregue em sacos de papel com várias folhas, suficientemente fortes para evitar rupturas durante o manuseio, com a condição de que possam ser fechados logo após o enchimento. Os sacos devem conter massa líquida de 40 kg de gesso e estar perfeitos na ocasião da inspeção e do recebimento (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2017c). Adicionalmente, o gesso pode ser adquirido no mercado sob a forma de pasta (SOBRINHO, 2018). Esses sacos de gesso devem ser armazenados em locais secos e protegidos, de modo a preservar a qualidade do produto, facilitando eventuais inspeções e a identificação de cada lote. As pilhas precisam ser colocadas sobre estra- Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias10 dos, não contendo mais de 20 sacos superpostos (Figura 6) (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2017c). Figura 6. Exemplo de ambiente dimensionado para a estocagem de gesso em sacos. Fonte: Armazenar... (2015, documento on-line). 30 m Estrado de madeira 30 cm Em virtude de sua capacidade de hidratação, não se deve deixar o gesso a céu aberto, ao ar livre, pois, se a umidade relativa exceder o valor de 70%, o hemidrato se converterá em di-hidrato e os cristais passarão a ter comporta- mento de aceleradores de pega quando da adição da água à mistura, reduzindo bastante o tempo de pega (RIBEIRO, 2006). Caso o gesso seja armazenado por um período longo, em áreas de alta umidade relativa, haverá mudanças adicionais, conduzindo a um maior tempo de pega, visto que, nesse caso, os cristais de di-hidrato cercarão o hemidrato, dificultando o acesso da água da mistura ao hidrato para que as reações ocorram (RIBEIRO, 2006). Com o objetivo de garantir a aplicação de materiais adequados, evitando manifestações patológicas posteriores, pode-se inspecionar o material recebido em obra. A NBR 13207:2017 estabelece a retirada de uma amostra composta de dois exemplares com aproximadamente 10 kg cada, devidamente pré- -homogeneizados, a partir de cada lote. Considera-se lote a quantidade máxima de 12 t de gesso proveniente de um mesmo produtor, entregue na mesma data 11Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias e mantido nas mesmas condições de armazenamento. Deve-se rejeitar gessos entregues em sacos rasgados, molhados ou avariados durante o transporte (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2017c). O gesso é principalmente utilizado como revestimento de paredes, apli- cado, de preferência, em paredes internas, o que dispensa a execução de chapiscos, emboços ou reboco (YAZIGI, 2009). Para esse tipo de utilização, a NBR 13867:1997 estabelece condições exigíveis quanto a materiais, preparo, aplicação e acabamento de revestimentos internos de paredes e tetos com pastas de gesso (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1997). Assim, para evitar eventuais fissuras, desplacamentos ou infiltrações posteriores nos revestimentos em gesso, pode-se estabelecer as seguintes recomendações (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1997; YAZIGI, 2009): � evitar a aplicação da pasta de gesso sobre superfícies muito lisas e de baixa absorção, efetuando-se a sua escarificação com aplicação de argamassa de chapisco de alta aderência ou a utilização de emulsões adesivas; � cobrir superfícies impróprias como base para o revestimento, como madeiras, ferros e outros, com materiais-suporte de revestimento (por exemplo, telas e cravação de pinos de materiais não oxidáveis); � aplicar argamassa de chapisco quando a superfície a ser revestida apesentar algum material que oxide na presença de sulfato de cálcio (por exemplo, ferro), a fim de encobrir totalmente esse material; � a superfície de aplicação deverá estar plana, sem saliências ou desali- nhamento de argamassa de assentamento ou outros; � a espessura média do revestimento em gesso pode ser de até 5 mm: espessuras maiores tornam-se antieconômicas, tendendo ao surgimento de trincas e fissuras; � não devem existir pontos de umidade na superfície; � evitar a aplicação em paredes externas, para que não se deteriore pela solubilização do material na água. Para evitar a perda de material durante a execução das atividades, deve-se preparar a pasta de gesso em quantidades suficientes para ser aplicada antes do início da pega, pois, no momento em que a pasta atingir o estado endurecido, não se tornará trabalhável novamente com a adição de água (RIBEIRO, 2006). De modo geral, Yazigi (2009) faz as seguintes observações quanto à apli- cação de pastas de gesso como revestimento de paredes e tetos: Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias12 � o revestimento em gesso pode ser aplicado em uma única camada ou em duas; � pode-se efetuar o alisamento final da superfície do revestimento com desempenadeira ou, quando o material já adquiriu dureza suficiente, com raspagem e lixamento; � na face inferior das lajes de concreto, executar uma demão de pintura com solução de aditivo adesivo e água antes da aplicação da pasta de gesso, em traço 1:2 até 1:4, visando a garantir a aderência da pasta de gesso à superfície lisa (sem chapisco) do concreto; � peitoris, marcos e/ou contramarcos devem estar instalados (chumbados); � as instalações hidráulicas embutidas na alvenaria devem ser devida- mente testadas; � as caixas de luz deverão estar assentadas, salientes em 2 mm da face das paredes; � conferir prumo e alinhamento plano das paredes e dos esquadros das paredes. Previamente à aplicação da pasta de gesso, deve-se efetuar o preparo do substrato: remove-se qualquer tipo de sujeira ou incrustações, como óleos, desmoldantes e eflorescências, e retiram-se pregos, arames, pedaços de madeira e outros materiais estranhos (YAZIGI, 2009). Quando de um tipo de acabamento desempenado, pode-se adotar alguns procedimentos, como (YAZIGI, 2009): � polvilhar o gesso em pó sobre a água, distribuindo-o em toda a extensão; � após 15 minutos (período de embebição), homogeneizar a pasta. Nunca remisturar a pasta; � os trabalhos devem ser iniciados pelo teto. Na sequência, aplicar o revestimento em cada plano da parede na sua metade superior; � fazer o deslizamento de baixo para cima nas paredes e em movimento de vai e vem nos tetos; � cada faixa deve sobrepor a anterior em um pequeno trecho, e a espessura da camada precisa estar entre 1 e 3 mm. Pode-se aplicar a pasta em até 4 camadas; � como revestimento endurecido, aplicar com colher de pedreiro e desem- penadeira de aço a pasta nos vazios e nas imperfeições da superfície, eliminando ondulações e rebarbas; 13Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias � efetuar o acabamento da superfície com a aplicação de uma camada de 1 a 10 mm de espessura de pasta fluida, utilizando desempenadeira de aço, aplicando-a com certa pressão. Osacabamentos do tipo sarrafeado demandam uma superfície muito mais plana em relação ao revestimento desempenado, porém os procedimentos de execução de ambos se assemelham. De modo geral, pode-se citar algumas vantagens na aplicação do gesso em comparação aos revestimentos argamassados de cimento: � elevada aderência ao substrato; � cura rápida (8 a 10 dias, sendo o ideal 15 dias); � facilidade na execução de acabamentos decorativos por sua cor branca; � dispensa a massa corrida quando de uma superfície lisa e branca; � revestimento de baixa condutividade térmica, indicado para proteção contra o fogo; � maior produtividade global (quando em monocamada); � antecipação da pintura; � sem chapisco (ou com chapisco fino), direto sobre blocos. Igualmente, algumas desvantagens podem ser relacionadas ao gesso para construção civil: � quando houver umidade, podem ocorrer reações químicas com o ci- mento Portland; � sensível a bolor em prédios com má iluminação e ventilação; � problemas de estanqueidade à água em revestimentos internos de pa- redes de fachada; � causa corrosão do aço quando em contato; � necessita de substratos com boa regularidade superficial e precisão geométrica; � auxilia pouco no comportamento estrutural da elevação; � maior suscetibilidade a deformações dos substratos; � maior fragilidade a choques; � baixíssima resistência à tração; � pouco isolamento acústico. Gesso: fabricação, recebimento, uso na construção e patologias14 ARMAZENAR corretamente o gesso. Gesso Padrão, Araripina, 9 fev. 2015. Disponível em: <http://www.gessopadrao.com.br/como-armazenar-corretamente-o-gesso/>. Acesso em: 18 out. 2018. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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