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unidade 2 Ângela Kroetz dos Santos Gilberto Fonseca LINGUAGEM Comunicação e Da Leitura à Compreensão Textual Prezado estudante, Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina. OBJETIVO GERAL Refletir sobre a leitura e a compreensão textual, reconhecendo-as como elementos fundamentais para a autonomia do sujeito e como processos que requerem a construção de estratégias de interação que possibilitem a adequada articulação entre autor-leitor-texto. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Refletir sobre a leitura e sobre como ela amplia a visão de mundo do sujeito leitor; • Buscar estratégias claras de leitura e compreensão de um texto; • Compreender o processo de interpretação a partir da ativação de conhecimentos prévios e do levantamento de inferências; • Estudar a interpretação textual em contextos de intertextualidade; • Estudar a interpretação em textos não verbais e mistos; • Mapear o que é central e secundário em um texto, organizando esquemas de leitura que facilitem a compreensão; • Interpretar diferentes gêneros textuais, colocando em prática os estudos da Unidade. QUESTÕES CONTEXTUAIS 1. Você já pensou sobre como acontecem os processos de decodificação e de compreensão daquilo que lê? 2. Qual é a importância da leitura para você? 3. Por que ler é tão desafiador? unidade 2 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca36 2.1 Introdução Você já pensou sobre como acontecem, em seu cérebro, os processos de decodificação e de compreensão daquilo que lê? Embora não saibamos como, complexas conexões neurais se estabelecem durante a leitura. Nosso desafio é, pois, tornar esse evento o mais eficiente possível, obtendo o máximo de aproveitamento do tempo que dedicamos à leitura. Um requisito esperado de qualquer profissional é que ele seja um leitor proficiente. No entanto, estatísticas mostram que muitas pessoas, no Brasil, embora sejam alfabetizadas, não são capazes de interpretar adequadamente até mesmo textos simples. Um dos fatores que contribui para esse cenário é a falta de leitura. Quanto menos uma pessoa ler, provavelmente menor será o seu conhecimento de mundo, o que reduzirá a capacidade de reconhecer as estruturas textuais e de sintetizar, abstrair e interpretar o que um texto traz. Nesse sentido, é importante que você saiba que o processo de leitura vai muito além da simples decodificação dos sinais gráficos que compõem as palavras. Isso significa que ler não é o mesmo que compreender e interpretar um texto. Compreender requer um esforço muito maior, ou seja, a reunião de vários requisitos que, em conjunto, operam a construção de sentidos. A partir dessa realidade, propomos a você uma reflexão sobre os diversos elementos que interagem e que se inter-relacionam no processo de leitura e interpretação. É muito importante que você, estudante universitário, domine a arte de dialogar com os mais diversos gêneros e tipos de texto com os quais terá contato ao longo do seu curso e ao longo da vida. Na Figura 2.1, está contemplada a sequência didática da Unidade 2. Decodificar: traduzir claramente uma informação, entender, compreender. GLOSSÁRIO Proficiente: competente, eficaz, conhecedor. GLOSSÁRIO Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 37 Figura 2.1 – Sequência Didática. Fonte: Elaborado pelos autores. Leitura e suas Interfaces Leitura e Compreensão: o Papel do Leitor Interpretação de Questões ENADE Interpretação de Texto Não Verbal Interpretação e Intertextualidades Esquemas de Leitura COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca38 2.2 Leitura e suas Interfaces Que tipo de texto você gosta de ler? Romance? Reportagem? Crônica de jornal? Coluna esportiva? Música? Sempre há aquele texto com o qual você mais se identifica, bem como aquele que você não aprecia tanto, não é mesmo? Suas preferências leitoras têm relação direta com as experiências que você teve, desde a infância, com a leitura. A habilidade de interagir com diferentes textos faz de você uma pessoa que se comunica de forma eficaz. Mas como adquirir a proficiência leitora? Lendo! Não há outra forma de desenvolver as habilidades de leitura e interpretação a não ser exercitando tais ações. Quando você lê, amplia a sua visão de mundo e a capacidade de “enxergar” além do que está escrito. No Brasil, as pessoas leem muito pouco. Por isso, muitos apenas decodificam textos, mas não compreendem realmente os seus sentidos. Veja a charge a seguir: Figura 2.2 – Charge – Hagar, O Horrível. Fonte: http://gg.gg/cw9rc. O texto acima evidencia o desprestígio da leitura e do pensamento nos dias atuais. Essa realidade certamente traz consequências, e seria possível dizer que o baixo índice de leitura prejudica o desenvolvimento da sociedade. Mas por que será que ler é tão desafiador? No Brasil, há cerca de 38 milhões de analfabetos funcionais. Para saber mais, acesse no link: http://gg.gg/cvmag. SAIBA MAIS Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 39 Para ler um texto, é preciso ter conhecimentos. E um dos pontos vulneráveis dos estudantes brasileiros é, justamente, a bagagem de conhecimentos que trazem. A falta de leitura é um entrave na construção dos conhecimentos prévios que, por sua vez, são fundamentais para o bom entendimento de um texto. Você já deve ter percebido que, nesse aspecto, existe uma relação de interdependência: ler requer ter conhecimentos prévios e, para ter conhecimentos prévios, é preciso ler. Os conhecimentos prévios são a articulação de vários tipos de conhecimento, conforme mostra a Figura 2.3: Figura 2.3 – Tipos de Conhecimento. Fonte: Elaborado pelos autores com base em Guimarães (2011). O conhecimento linguístico diz respeito à língua e suas estruturas, contemplando, também, os gêneros textuais e seus modos de funcionamento. O conhecimento de mundo configura-se por todas as informações que temos armazenadas na memória, com base no que lemos, ouvimos e vivemos. Por fim, o conhecimento interacional se refere aos conhecimentos partilhados entre o autor e os possíveis leitores de um texto. Outro desafio da leitura se apresenta quando o leitor mistura o que está explícito no texto com as suas próprias percepções acerca do assunto. Assim, um dos pré-requisitos para que a interpretação seja eficiente é saber distinguir os limites entre os pontos de vista do autor e os seus próprios pontos de vista enquanto leitor. Vamos entender um pouco mais sobre isso analisando o papel do leitor no processo de interpretação. Conhecimentos Prévios Conhecimento de Mundo Conhecimento Interacional Conhecimento Linguístico COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca40 2.3 Leitura e Compreensão: o Papel do Leitor Você tem o hábito de ler? Muitas vezes não avaliamos a importância que a leitura tem na nossa vida. Ler muda qualquer pessoa, porque conduz o sujeito a distintas realidades, épocas e experiências. Parece clichê, mas a leitura permite a você um universo de possibilidades sem que você saia de casa. Todo o conhecimento que o homem adquiriu ao longo de séculos de história advém da transmissão oral de experiências e/ou da leitura. Faz parte da ação de ler interpretar aquilo que é lido. Não há uma forma única de compreensão, porque os sentidos não são estabelecidos unicamente por quem escreve. Um texto sempre é escrito por alguém para alguém, e este interlocutor (o leitor) completa o sentido do texto, preenchendo suas lacunas ao contribuir com o seu próprio repertório comunicativo. Esse aspecto é importante, porque muda o foco de uma antiga concepção: a que trazia o autor como detentor absolutode sentidos. Hoje, sabe-se que o leitor é peça fundamental desse jogo de “completar” um texto, de produzir sentidos sempre novos conforme o conhecimento de mundo e as vivências de cada um. Isso significa que cada leitor tem uma maneira original de compreender um texto. Se é assim, cada leitor pode interpretar uma obra como quiser? Qual é o limite que existe nessa relação? A resposta é simples: a compreensão de um texto depende das relações que você já teve com o assunto, das leituras que você já fez e do domínio que você tem do código e dos conceitos que estão no texto. Esses conhecimentos são variáveis, e não é preciso ter um saber nivelado ao de outros leitores para compreender. Apesar disso, você não pode “fantasiar”, inventar sentidos: no momento da interpretação, precisa ser fiel aos elementos que estão no texto. Tendo em vista essa relação colaborativa entre autor, texto e leitor, a leitura é, segundo Koch e Elias (2008, p. 11), “uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos”, que “requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes”. A interação pressupõe uma participação ativa do leitor Interpretar “é o processo de localizar as pistas e sinalizações deixadas no texto pelo autor e atribuir-lhes significado”. (GUIMARÃES, 2011, p.107). DESTAQUE Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 41 no processo de compreensão, já que a leitura é “uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação” (PCN, 1998, p. 70) por parte do leitor. Agora que você já conhece o importante papel do leitor, vamos explorar algumas estratégias de leitura que podem ajudá-lo nesse percurso de desvendar um texto. 2.3.1 Estratégias de Leitura: Existe uma Fórmula Eficaz? Quando você lê apressadamente, não consegue fazer uma leitura eficaz, capaz de captar as sutilezas do texto. É por isso que é tão importante estabelecer estratégias de leitura, que nada mais são do que passos que ajudam o leitor a olhar mais criticamente para o texto. Conforme Goulart e Both (2015, p. 48), “o uso de estratégias de leitura nos permite controlar o que vai ser lido, tomar decisões diante das dificuldades de compreensão, avançar na busca de soluções de dúvidas e avaliar as suposições feitas”. As autoras ainda acrescentam que, após a leitura, devemos ser capazes de “processar, criticar, contradizer e avaliar” o texto lido, atribuindo sentidos à nossa experiência leitora. Para tanto, utilizar estratégias de leitura, ou tomar consciência das estratégias que você já usa sem se dar conta, pode ajudá-lo muito no processo de interpretar. Nesse sentido, o esquema didático da Figura 2.4 mostra estratégias de leitura amparadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs): Figura 2.4 – Estratégias de Leitura. Fonte: Adaptado de Guimarães (2011). Estratégias de Leitura Ativação de Conhecimentos Prévios Seleção Antecipação Inferência Verificação COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca42 Na Figura 2.4, você pode observar estratégias que conduzem à ativação de conhecimentos prévios. Isso significa que todas as estratégias só são eficazes se o leitor tiver conhecimentos preexistentes. Obviamente você nunca saberá tudo e, portanto, saber onde buscar as informações de que necessita para completar as lacunas que surgem durante a leitura também é uma tarefa importante. Antes de aplicar as estratégias, é importante ter claro o objetivo de leitura. Isso determina o foco que você coloca na ação de ler. Se você lê um artigo científico com o objetivo de resumi-lo para uma aula, deve ficar atento aos pontos principais que o artigo traz. Nesse caso, montar um esquema com os elementos relevantes do texto é uma ótima estratégia (mostramos como fazer isso mais adiante). Agora, se você lê uma reportagem apenas por curiosidade, o seu objetivo pode ser simplesmente informativo. Ter um objetivo é importante para que você faça uma leitura com o olhar atento ao que realmente busca. Com o objetivo traçado, você pode focar as estratégias apresentadas na Figura 2.4. Quanto à seleção, esta consiste em uma leitura rápida, que você realiza quando passa os olhos no texto. Seria um primeiro reconhecimento, a partir do qual você seleciona o assunto e filtra o texto para coletar informações superficiais. A antecipação é uma etapa importante, que se refere à formulação de hipóteses primárias a partir de elementos gerais do texto. Essa etapa requer que você analise uma série de itens. A Figura 2.5 os apresenta e descreve: A internet é um universo de possibilidades, facilitando muito a busca de conhecimento. No entanto, você precisa estar atento às fontes de pesquisa, já que muitos sites ou posts não são confiáveis! Procure verificar se os posts possuem autoria e, se possível, consulte a fonte original para confirmar a informação. Para buscar artigos acadêmicos, consulte sites especializados, como o Google Acadêmico (http://gg.gg/cvmbb). Sempre que possível, recorra a livros (físicos ou virtuais). DICA Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 43 Figura 2.5 – Estratégias de Leitura: a Antecipação. Fonte: Elaborado pelos autores. A etapa seguinte, a inferência, pressupõe que você construa previsões. À medida que o texto se revela, as expectativas podem mudar, sendo atendidas ou não. Espera-se que você, leitor, consiga fazer inferências, já que nem tudo é explícito em um texto oral ou escrito. A capacidade de fazer inferências está diretamente relacionada aos conhecimentos prévios que você possui. Veículo Qual é o veículo em que está o texto? Revista, jornal, outdoor, embalagem, etc. Elementos não verbais Há imagens e outros elementos gráficos? Estes completam o sentido do texto ou são os únicos elementos (caso de textos não verbais). Autoria Quem é o autor do texto? Saber quem fala e as ideologias que defende pode agregar valor à interpretação. Contexto de Produção Qual é o contexto histórico em que esse texto foi realizado? A época a que o texto se refere e o lugar de onde procede podem dizer muito sobre o conteúdo. Gênero Qual é o gênero do texto? Reconhecer os aspectos formais do gênero e saber quais são os seus objetivos facilita a leitura. Inferir é deduzir, concluir pelo raciocínio a partir de fatos, de indícios. (HOUAISS, 2009). GLOSSÁRIO COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca44 A verificação é uma etapa na qual você confirma se a seleção realizada, as hipóteses formuladas e as inferências feitas são adequadas. (GUIMARÃES, 2011). Pode ser que o texto tome um rumo completamente diferente daquele que você imaginou que ele fosse seguir e, nesse caso, é preciso que você corrija as suas hipóteses iniciais. Por fim, a ativação de conhecimentos prévios diz respeito aos conhecimentos que você adquiriu ao longo da vida. Tais conhecimentos são ativados no momento da leitura e muitas vezes vão determinar a sua capacidade de interpretar corretamente ou não os sentidos de um texto. Por isso, como já mencionamos, é muito importante que você invista em sua cultura geral e que amplie o seu repertório comunicativo e de leitura, a fim de mobilizar os diferentes tipos de conhecimento. A partir do exposto, a seguir, propomos a você um exercício prático de leitura e interpretação, utilizando os pontos (etapas) que acabamos de estudar. 2.3.2 Estratégias de Leitura: Aplicação Vamos, então, praticar? O texto que vamos analisar, da Revista Superinteressante, foi editado a fim de tornar a análise mais sintética. Em decorrência disso, a estrutura original também foi readaptada. Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 45 | GÊNERO REPORTAGEM | | DOMÍNIO DISCURSIVO JORNALÍSTICO | | Eduardo Szklarz e Bruno Garattoni | | Adaptado de Revista Superinteressante | | Out 2018 | A ERA DA BURRICE Você já teve a impressão de que as pessoas estão ficando mais burras? Estudos apontam que, pela primeira vez na história, a inteligênciahumana começou a cair. Entenda os possíveis motivos – e as consequências – disso. Discussões inúteis, agressivas. Gente defendendo asneiras. Pessoas perseguindo e ameaçando outras. Líderes políticos imbecis. De uns tempos para cá, parece que o mundo está mergulhando na burrice. Você já teve essa sensação? Talvez não seja só uma sensação. Estudos em vários países revelam algo inédito e assustador: a inteligência humana começou a cair. Os primeiros sinais vieram da Dinamarca. Lá, os homens que se alistam no serviço militar são submetidos a um teste de inteligência: o teste de QI (quociente de inteligência). Depois de crescer em todo século 20, em 1998 o QI dos dinamarqueses começou a cair 2,7 pontos a cada década. O mesmo acontece na Holanda (-1,35), Inglaterra (-2,5) e França (-3,8). “Há um declínio contínuo no QI ao longo do tempo”, diz o antropólogo inglês Dutton. No atual ritmo, alguns países podem regredir para QI médio de 80, definido como ‘baixa inteligência’, já na próxima geração de adultos. Mas como explicar a proliferação de burrice mesmo entre quem foi à escola? E a queda do QI nos países desenvolvidos? De 0 a 160 O teste de QI (quociente de inteligência) consiste em uma bateria de testes (compreensão verbal, raciocínio, memória e velocidade de processamento). De 90 a 110 pontos, tem-se um nível de inteligência normal. Quem faz mais de 130 pontos enquadra-se na categoria mais alta (o máximo é 160). No século 20, o QI aumentou no mundo todo. Não é difícil entender essa evolução. Melhore a saúde, a nutrição e a educação e as pessoas se sairão melhor em qualquer teste de inteligência. Então, como explicar o efeito atual, de queda na inteligência? ◄▬ T Í T U L O ◄▬ M A N C H E T E ◄▬ 1 º P A R Á G R A F O ◄▬ 2 º P A R Á G R A F O ◄▬ 3 º P A R Á G R A F O COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca46 Involução Natural A primeira hipótese é polêmica. “A capacidade cognitiva é influenciada pela genética. E pessoas com altos níveis dela vêm tendo menos filhos”, afirma o psicólogo Woodley, da Universidade de Umeå, Suécia. Há décadas a ciência sabe que parte da inteligência (estudos falam em 50%) é hereditária. Trata-se de uma teoria controversa. No passado, ela levou à eugenia, que buscava o aprimoramento humano pela reprodução seletiva. Hoje ninguém proporia “melhorar” a sociedade obrigando os inteligentes a ter mais filhos – ou impedindo os demais de ter. Mas isso não significa que a matemática das gerações não possa estar levando a um declínio na inteligência, inclusive pela evolução da sociedade, que tornou a vida mais fácil. Há quem diga que o salto tecnológico dos últimos 20 anos esteja afetando a inteligência. “Hoje, crianças de 7 ou 8 anos crescem com o celular”, diz Bauerlein, da Universidade Emory, EUA. “É nessa idade que elas deveriam consolidar o hábito da leitura para adquirir vocabulário”. Há indícios de que o uso de smartphones na infância já esteja causando efeitos negativos. Na Inglaterra 28% das crianças de 4 e 5 anos não sabem se comunicar com frases completas no nível normal para a idade. Segundo educadores, isso se deve ao tempo que elas ficam na frente de TVs, tablets e smartphones. As pessoas nunca leram e escreveram tanto; mas estão lendo e escrevendo coisas curtíssimas em smartphones. Há a hipótese de que as redes sociais, que são projetadas para consumo rápido e tomam muito tempo (3h39 por dia do brasileiro), estejam corroendo nossa capacidade de prestar atenção às coisas. Levar no bolso a internet baniu o tédio da vida, mas nos tornou mais impacientes, menos capazes de manter o foco. Os limites da razão Você certamente já discutiu com uma pessoa irracional, que manteve a própria opinião mesmo diante de argumentos irrefutáveis. É o que os psicólogos chamam de “viés de confirmação”: a tendência que a mente tem de abraçar informações que apoiam suas crenças, e rejeitar dados que as contradizem. Quanto mais comprometido você está com uma teoria, mais tende a ignorar evidências contrárias. Para piorar, a evolução nos pregou outra peça: quase toda pessoa se acha mais inteligente que as outras. Aplicando essa lógica ao mundo de hoje, o resultado é o mar de conflitos que tomou conta do dia a dia. A era da cizânia – e da burrice. ◄▬ 4 º P A R Á G R A F O ◄▬ 5 º P A R Á G R A F O Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 47 Vamos analisar o texto “A Era da Burrice” a partir das estratégias que estudamos. Para dar conta da etapa de seleção, você deve fazer uma leitura rápida do texto. Em um olhar superficial, chama atenção o título. Na manchete, evidencia-se o fato de que as pessoas estão ficando mais burras e de que a inteligência humana está caindo. O texto promete desvendar as causas e consequências desse fato. Vemos também que ele é subdividido em etapas, introduzidas por subtítulos. Esses elementos podem ou não chamar a sua atenção. Se você pudesse escolher, teria interesse de ler essa matéria? A etapa de antecipação permite analisar o contexto geral de produção do texto. Seguindo nosso roteiro, você pode perceber os seguintes elementos: a. VEÍCULO: Revista Superinteressante; b. ELEMENTOS NÃO VERBAIS: a imagem de capa mostra um terno e um chapéu vestidos em um balão. Inevitavelmente vem à mente a expressão “cabeça de vento”, utilizada para designar alguém desatento. A imagem faz referência, pois, ao tema da burrice; c. AUTORIA: os autores não são pessoas publicamente conhecidas, provavelmente são repórteres. Vale mencionar o estilo das matérias dessa revista, a saber, reportagens fortemente embasadas em estudos científicos realizados, em sua maioria, nos Estados Unidos e na Europa; d. CONTEXTO DE PRODUÇÃO: a publicação é recente (2018). Há elementos que evidenciam tratar-se de um texto atual, como a citação de uma pesquisa que revela que a inteligência humana passou a regredir a partir de 1998. As primeiras frases contextualizam problemas da atualidade (discussões inúteis, gente defendendo asneiras, pessoas perseguindo e ameaçando outras, líderes políticos imbecis) e os últimos parágrafos ressaltam a tecnologia (smartphones, etc.); e. GÊNERO: trata-se de uma reportagem. Formalmente, há imagem condizente com o texto, manchete e subtítulos. Em termos de conteúdo, há entrevistas com especialistas e abordagem de tema atual com objetivo informativo. Também há várias perguntas que direcionam o leitor. Partimos, então, para a etapa de inferência. Para realizá-la, você deve ler todo o texto e fazer deduções com base nos caminhos oferecidos, pouco a pouco, pela matéria. A seguir, destacamos algumas dessas INFERÊNCIAS (vide trechos em destaque). Lembramos que estas são algumas possibilidades, mas não as únicas. Cada leitor poderia sugerir outras inferências. COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca48 O título da matéria é determinante para começarmos nosso trabalho. A burrice, termo central do título, de modo bem simples, pode ser entendida como falta de inteligência. Assim, a tese do texto poderia ser (perceba as inferências sublinhadas): As pessoas de hoje não são inteligentes. Ou, ainda, As condições de vida atuais não estimulam a inteligência. Em princípio, essas inferências feitas a partir do título poderiam ser negadas por questões lógicas: o homem cria tecnologias cada vez mais modernas, então deve ser inteligente; e hoje, muito mais do que no passado, o homem tem à disposição muitas possibilidades de desenvolvimento pessoal, social e cognitivo, então deve ser inteligente. Ora, se há indícios favoráveis à inteligência, como podemos estar na era da burrice, como dizem o título e a manchete? Quando iniciamos a leitura, o texto logo nos dá pistas. Ao citar que o tempo atual é marcado por discussões inúteis, defesa de bobagens, perseguições e ameaças (1º parágrafo), parece plausível dizer que o autor se refere à baixa inteligência emocional das pessoas, já que elasestão mais intolerantes e têm dificuldade de respeitar opiniões alheias. Então, será que o texto vai falar sobre inteligência emocional, mostrando que é ela que está caindo? A ideia acima não é sustentada na sequência. O segundo parágrafo traz o dado de que o QI de vários povos europeus está caindo. O QI é um teste que mede a capacidade cognitiva, como mostra o parágrafo 3. Assim, podemos fazer mais uma inferência: o que está caindo é a inteligência global do homem (emocional + cognitiva)? O segundo parágrafo termina com o dado de que a próxima geração de adultos pode ter uma média de QI considerada baixa e propõe 2 perguntas que novamente podem conduzir nossas inferências: como explicar a proliferação de burrice mesmo entre quem foi à escola? E a queda do QI nos países desenvolvidos? O próprio texto sinaliza, nesse ponto, uma situação inusitada. Não se esperaria que quem vai à escola tivesse resultados baixos de inteligência, nem que os resultados de países desenvolvidos fossem ruins nesse quesito. O parágrafo 3 reforça que no século XX o QI aumentou no mundo todo em função da melhora da saúde, nutrição e educação. Então, como explicar que no século 21, quando a população tem mais acesso ainda a esses benefícios, a inteligência esteja caindo? Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 49 A partir do quarto parágrafo, surgem as possíveis causas. A primeira explicação para o fenômeno seria genética, e, como pessoas com alta capacidade intelectual estão tendo menos filhos, a média de QI estaria caindo. Para entender por que o texto diz que essa teoria é controversa, é preciso saber o que foi a eugenia no século XX (conhecimento prévio). Um segundo argumento cita a “evolução da sociedade, que tornou a vida mais fácil”. Mas por que uma vida mais fácil limitaria a inteligência? O texto responde: “Há quem diga que o salto tecnológico dos últimos 20 anos esteja afetando a inteligência”. Ainda assim poderíamos pensar que o salto tecnológico explicaria um aumento e não uma queda de inteligência, como inferimos no início. O quarto parágrafo segue explicando a tese de interferência da tecnologia na queda de inteligência em função do mau uso tecnológico. A superexposição de crianças a eletrônicos estaria causando efeitos nocivos no desenvolvimento da linguagem. Essa ideia está vinculada ao apego moderno à leitura e à escrita instantâneas. O uso das redes sociais estaria “corroendo a capacidade de prestar atenção às coisas”. Percebe-se que é o mau uso da tecnologia que traz malefícios. Assim, seria possível inferir, aqui, que o uso excessivo de aparelhos causa efeitos negativos, especialmente sobre as crianças, que desviam a atenção da leitura e acabam tendo problemas no desenvolvimento cognitivo. Além disso, seria possível inferir que “a vida mais fácil” também repercute negativamente sobre a inteligência em função de um menor grau de exigência, já que tudo está na mão das pessoas o tempo todo e elas não precisam se esforçar tanto. Por fim, no quinto parágrafo, o autor menciona a tendência do homem de abraçar as suas opiniões mesmo que haja argumentos irrefutáveis contra elas. Isso seria o motivo das discussões irracionais que muitas vezes acompanhamos. Com esse argumento, o autor retoma o início do texto, em que cita justamente atitudes irracionais: discussões agressivas, defesa de asneiras, perseguições e ameaças. Assim, parece fechar-se o ciclo do texto, que começou falando da falta de inteligência emocional, passou a evidenciar a falta de capacidade cognitiva e terminou explicando a tese da falta de inteligência emocional. EUGENIA, palavra grega cujo significado é “boa origem”, foi uma teoria seguida por Hitler, que visava a eliminar pessoas que apresentassem alguma deficiência, visando a aperfeiçoar geneticamente a raça ariana. GLOSSÁRIO COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca50 Quanto à etapa de verificação, você já deve ter percebido que ela ocorreu quase simultaneamente à etapa de inferência. Isso se deve ao fato de que, a cada nova informação que líamos, comprovávamos ou rejeitávamos hipóteses que havíamos levantado. O que ainda podemos fazer é voltar às nossas inferências iniciais e verificar se agora temos respostas a elas. Assim: As pessoas de hoje não são inteligentes? Não há como generalizar essa tese, dizendo que todas as pessoas não são inteligentes. O texto evidencia que o QI dos países desenvolvidos está caindo, e que muitas pessoas mostram atitudes irracionais, o que faz crer que a inteligência, tanto cognitiva quanto emocional, esteja caindo. As condições de vida atuais não estimulam a inteligência? Quanto a esse aspecto, o texto mostra que as condições atuais estimulariam a inteligência, já que vivemos em uma era em que as pessoas têm acesso a muitos recursos (saúde, nutrição e educação). No entanto, fica evidente que, apesar de tudo isso, os índices de inteligência vêm caindo, em função de a) hereditariedade, b) efeitos nocivos da tecnologia e/ou do mau uso da tecnologia e; c) biologia. Na ativação de conhecimentos prévios, alguns elementos necessários ao entendimento, além do linguístico, de gênero e de mundo, podem ser destacados: conceito de eugenia, de QI, de cizânia. Dependendo do leitor, outros pontos ainda precisariam ser esclarecidos, o que pode ser feito por meio de dicionários e internet. Você percebeu como, ao longo da leitura, vamos imaginando o rumo que o texto pode tomar? Quanto menos elementos do texto conhecemos, menor é a chance de acertarmos nossas inferências. No entanto, na medida em que vamos avançando nos argumentos, percebemos os caminhos pelos quais o autor quer nos conduzir e vamos, pouco a pouco, desvendando sentidos. A seguir, vamos verificar outra estratégia que pode facilitar o processo de interpretação. Trata-se da elaboração de esquemas. CIZÂNIA: [Botânica] tipo de gramínea que causa danos ao trigo; joio. [Figurado] falta de entendimento entre pessoas; em que há discórdia; desavença GLOSSÁRIO Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 51 2.4 Esquemas de Leitura Você sabe fazer um esquema? Em um esquema, você pode mapear as principais informações de um texto, organizando-as de maneira lógica, a fim de ter em mãos um resumo. Essa é uma ótima alternativa para sintetizar um texto e retomá-lo em outro momento. Fazer um esquema também possibilita que você organize o pensamento e compreenda as relações lógicas que se estabelecem no texto. Enquanto o constrói, você automaticamente estuda o assunto abordado, o que facilita o estudo para uma prova, por exemplo. Para que você entenda o que é um esquema, vamos construir um modelo a partir do texto “A Era da Burrice”? Mãos à obra! Figura 2.6 – Esquema de Leitura: A Era da Burrice. Fonte: Elaborado pelos autores. A Era da Burrice 1º Parágrafo: descrição do problema A inteligência humana está caindo Pesquisas indicam a queda de QI Genética Exposição excessiva à tecnologia Há sinais de queda de inteligência emocional Conceito de QI; critérios de pontuação do QI Prática de leitura e escrita restritas (smartphones) Tendência do homem de não mudar de opinião Tendência do homem de se achar mais inteligente do que os outros 2º Parágrafo: comprovação do problema 4º Parágrafo: causas da queda de inteligência 5º Parágrafo: causas da queda de inteligência 3º Parágrafo: descrição de QI COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca52 Verifique que o nosso esquema foi construído com base nos parágrafos do texto. A lógica partiu da captura da ideia central de cada parágrafo. Essa é uma forma de construção, mas não a única. Você poderia dividir o texto em causas e consequências da queda de inteligência, por exemplo. Os caminhos são muitos. O importante é que você perceba o quanto esse exercício pode facilitar a sua leitura. Preparado para construir os seus próprios esquemas? Procure experimentaresse recurso nos textos que você lê para as aulas. Figura 2.7 – Como ler mais e melhor? Fonte: Elaborado pelos autores. COMO LER MAIS E MELHOR? Você sabe explorar bem o tempo que dedica à leitura e ao estudo? Algumas dicas simples podem facilitar a sua experiência leitora e motivá-lo a ler mais. Leia um pouco todos os dias. Se você não é um expert em leitura, comece aos poucos. Inicie pelos gêneros mais simples e curtos e amplie o repertório até chegar a textos mais complexos. CRIE O HÁBITO DE LER1 Organize-se de modo a incluir a leitura e os estudos na sua vida. Acha que não é possível? Com esforço e organização você encontra tempo para ampliar o conhecimento. GERENCIE O TEMPO2 Hoje temos baixa capacidade de concentração devido aos estímulos a que somos submetidos. Procure ler em um local silencioso e propício à concentração. ESTABELEÇA UM LOCAL3 Enquanto lê e estuda, desligue-se dos aparelhos eletrônicos e das redes sociais para que a sua leitura seja mais produtiva. DESLIGUE-SE DAS REDES SOCIAIS4 Concentrar-se é um exercício. Respire profundamente (inspire e expire algumas vezes) para diminuir o ritmo e focar a atenção na atividade que você vai executar. CONCENTRE-SE5 Faça anotações, resumos e esquemas. Isso facilita a retomada do que é mais importante, favorecendo que você retenha o que é essencial. RABISQUE O TEXTO6 DESTAQUE Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 53 2.5 Interpretação e Intertextualidades Você certamente já observou que muitas vezes um texto cita outro texto, ou que um texto faz você se lembrar de outro, como se houvesse um diálogo entre eles. Se você já reconheceu esse fenômeno, já teve contato com a intertextualidade. O filósofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) afirmava que nada do que falamos é novo, pois tudo o que dizemos vem de discursos anteriores, proferidos pelos que nos antecederam. De acordo com essa ideia, tudo o que você diz traz resquícios de outras vozes, já que você se respalda nas experiências e conhecimentos obtidos ao longo da vida para sustentar posicionamentos. Essa maneira de pensar justifica a ideia de intertextualidade. De acordo com Koch e Elias (2008), a intertextualidade se refere à construção de textos que fazem referência a outros textos. Nem sempre a intertextualidade é explícita, e, dependendo do conhecimento prévio que você tem ou não tem, pode percebê- la ou não. As Figuras a seguir são exemplo de intertextualidade. Quando você vê a primeira, o que lhe vem à mente? É difícil não se lembrar da icônica foto dos Beatles atravessando a Abbey Road em Londres. Veja que a releitura da foto contempla detalhes do retrato original (de 1969), como os carros estacionados, a roupa vestida pelos personagens e os pés descalços do Cebolinha (Paul McCartney na foto original). Apesar disso, há particularidades que identificam as personagens de Maurício de Souza, como o Sansão, a melancia e o guarda-chuva do Cascão. Note que, no exemplo, a intertextualidade é o que provoca o humor na charge de Maurício de Souza. Figura 2.8 – Gênero charge | Domínio discursivo jornalístico. Fonte: Banco de imagens Google (2018). COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca54 A partir desse exemplo, você pode perceber a importância do conhecimento de mundo para compreender as diversas produções humanas. Vamos agora analisar um exemplo de intertextualidade no gênero conto. A charge da Turma da Mônica trata-se de uma Paródia. A paródia é uma nova interpretação, uma recriação de uma obra já existente e, em geral, consagrada. A paródia é, pois, a criação de um novo texto com base em um texto já existente, com uma finalidade satírica, irônica ou humorística. GLOSSÁRIO | GÊNERO CONTO | DOMÍNIO DISCURSIVO FICCIONAL | A Princesa e a Rã Era uma vez... numa terra muito distante... uma princesa linda, independente e cheia de autoestima. Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico... Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre... Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma: – Eu, hein? Nem morta! Luís Fernando Veríssimo Fonte: http://gg.gg/cvmia. Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 55 O conto é um gênero caracterizado por uma narrativa de curta a média extensão. O tipo textual predominante é a narrativa, com presença de personagens e ações que determinam o curso de uma história. O texto acima classifica-se como conto e apresenta intertextualidade com a história “A princesa e o sapo”. Trata-se, novamente, de uma paródia, uma vez que é reescrito em uma nova perspectiva, originando um final imprevisto e humorístico. O final do conto de fadas é desconstruído quando a princesa escolhe um novo destino, diferente do predestinado no original. Dessa forma, a releitura de Luís Fernando Veríssimo faz uma crítica ao papel que a sociedade impõe às mulheres, ao mesmo tempo em que concede a elas o poder de mudar o seu destino. Com isso, o texto busca fomentar no leitor um olhar crítico para a realidade. Na sequência, vamos analisar um exemplo de intertextualidade no gênero tira. Figura 2.9 – Gênero tira | Domínio discursivo jornalístico/lazer. Fonte: Quino (2010). No texto acima, no segundo quadrinho, o autor dá pistas da intertextualidade ao citar a “formiga da fábula”. É muito difícil alguém não conhecer a fábula em questão, já que ela faz parte do repertório de quase todos nós desde a infância. Ainda assim, o leitor precisa ter um conhecimento um pouco mais aprofundado para compreender o último quadrinho, que faz menção a Esopo. Esopo foi um escritor da Grécia antiga a quem é atribuída a autoria de diversas fábulas, dentre elas “A Cigarra e a Formiga”. O humor da tira se estabelece quando Manuelito amaldiçoa o autor da fábula por ter criado uma história que exalta quem trabalha e critica quem só descansa. No entendimento da personagem, a moral da fábula não é tão boa, já que os que descansam estão felizes e ele, que trabalha, está infeliz. Há, com isso, uma subversão da moral da fábula. COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca56 A propaganda a seguir traz outro exemplo de intertextualidade que podemos explorar. Figura 2.10 – Gênero propaganda | Domínio discursivo publicitário. Fonte: Campanha de Doação de Órgãos Santa Casa de Porto Alegre (2017). A campanha publicitária veiculada pela Santa Casa de Porto Alegre em prol da conscientização para a doação de órgãos no ano de 2017 teve como tema “Vida. O Show tem que continuar”. Há, na cultura da música popular brasileira, uma canção com o mesmo título, “O Show tem que continuar”. A canção, composta por Arlindo Cruz e Luiz Carlos da Vila, foi regravada por uma série de artistas brasileiros. | GÊNERO MÚSICA | DOMÍNIO DISCURSIVO CULTURAL | O teu choro já não toca, meu bandolim Diz que minha voz sufoca, teu violão Afrouxaram-se as cordas e assim desafina E pobre das rimas da nossa canção Se hoje somos folha morta, metais em surdina Fechada a cortina, vazio o salão Se os duetos não se encontram mais E os solos perderam emoção Se acabou o gás pra cantar o mais simples refrão Se a gente nota em uma só nota já nos esgota O show perde a razão Mas iremos achar o tom, um acorde com um lindo som E fazer com que fique bom outra vez, o nosso cantar E a gente vai ser feliz, olha nós outra vez no ar O Show tem que continuarDa Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 57 O gênero música apresenta como característica principal o formato em versos. A canção em questão também evidencia rimas no final de vários versos (violão/ canção/ salão/ emoção/ refrão/ razão – cantar/ continuar, etc.). A letra abre algumas perspectivas de interpretação. Inicialmente, parece se referir a carreiras em crise (os duetos não se encontram mais/ os solos perderam a emoção). Entretanto, parece possível estender a compreensão a qualquer crise que aconteça na vida do ser humano, ou seja, situações de desencontros (teu choro já não toca meu bandolim, minha voz sufoca teu violão) que fazem com que as emoções se esvaziem (somos folha morta, metais em surdina) e que os relacionamentos/situações sejam finitos (fechada a cortina, vazio o salão, os solos perderam emoção). Nessas circunstâncias de crise, o show perderia a razão, e seria preciso achar uma forma para que “fique bom outra vez o nosso cantar”, para voltar ao ar, para, enfim, o show continuar. Quando a propaganda da doação de órgãos se apropria do slogan da música, interpreta-se que a morte também é uma dessas situações que evocam fim de show, perda da emoção, cortina fechada, salão vazio. Nessa perspectiva, a doação de órgãos seria a forma de prosseguir com a vida, de fazer o show da vida continuar, não mais naquele que partiu, mas em uma outra pessoa que pode seguir vivendo a partir do gesto de quem doa. Você conseguiu perceber como a intertextualidade modifica a forma como interagimos com os diversos textos? É exatamente por causa desse diálogo permanente que há entre as produções humanas que precisamos aprimorar constantemente o nosso repertório cultural e o nosso conhecimento de mundo para sermos leitores proficientes. A seguir, vamos ampliar um pouco mais o nosso repertório, voltando o olhar, desta vez, à interpretação de textos não verbais. COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca58 2.6 Interpretação de Textos Não Verbais Na comunicação cotidiana, você não utiliza apenas palavras, mas múltiplas linguagens. Talvez você nem se dê conta disso, porque relaciona automaticamente à linguagem falada gestos, expressões e sinais. Da mesma forma, à linguagem escrita podem estar associados elementos visuais e expressivos que complementam o sentido das palavras, ou que por si sós trazem significados completos. A linguagem não verbal, em suas múltiplas manifestações, é tão importante quanto à verbal para a compreensão textual. Um exemplo bastante interessante é uma obra de arte. Quando você vai a um museu e observa um quadro, muitas vezes não encontra nada escrito. Mesmo assim, aquele objeto comunica, expressa algo. Veja o exemplo abaixo, uma obra de Tarsila do Amaral: Figura 2.11 – Gênero obra de arte | Domínio discursivo cultural. Fonte: http://gg.gg/cw9tj. A obra “Operários” (1933) pertence à fase social da pintora brasileira. Na década de 1930, o Brasil vivia um forte período de industrialização e de migração em massa do interior às grandes cidades. São Paulo protagonizava esse processo, recebendo muitos imigrantes. Se você observar o quadro, algumas características são bem evidentes: a) há muitos rostos, todos sem expressão, e não há nenhum Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 59 corpo; b) as pessoas estão empilhadas uma sobre a outra; c) há mistura de raças e gêneros; d) há presença do elemento industrial, as chaminés ao fundo. Todas essas características levam a perceber a massificação, ou seja, o processo de “coisificação” das pessoas, que, ao trabalharem nas grandes fábricas, passam a alimentar o estilo capitalista, alicerçado no ganho de capital acima dos valores humanos. A obra é, pois, uma denúncia dessa realidade que aprisiona o homem e lhe tira a individualidade. Essa reflexão, contudo, não pode ser feita se você não souber o mínimo sobre o contexto histórico que envolvia a Era Vargas (1930-1945), governo vigente no ano em que a obra foi produzida. Um gênero textual que utiliza muito a combinação de texto verbal e não verbal é o anúncio publicitário. Nesses textos, geralmente os elementos não verbais são fundamentais para que se alcance o objetivo, que é promover um produto, uma empresa, uma causa, etc. Muitas vezes o entendimento de uma mensagem só é possível quando se alia o texto verbal e o não verbal, como no exemplo abaixo: Tarsila do Amaral (1886-1973) foi uma pintora brasileira. Filha de um abastado fazendeiro de São Paulo, viveu na Europa e, interessada em artes, estudou escultura, desenho e pintura em Paris. Em 1922, voltou ao Brasil e se inseriu no grupo que promoveu a Semana de Arte Moderna, evento que buscou revolucionar o pensamento da época, voltado à valorização da cultura externa, europeia, em detrimento da interna. O movimento buscava a legitimação da cultura brasileira, ou seja, a valorização da língua e da cultura do Brasil. Saiba mais no site oficial da artista: http://gg.gg/cvmjv. SAIBA MAIS COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca60 Figura 2.12 – Gênero anúncio | Domínio discursivo publicitário. Fonte: Banco de imagens Google (2018). Se você analisar a figura sem ler o texto, vê “pás de cimento” utilizadas em canteiros de obras. Isso é mais evidente ainda quando você observa que a peça publicitária se refere a uma indústria de cimento. No entanto, ao aliar a imagem à chamada publicitária (“Uma história de amor à natureza”), você provavelmente vai identificar uma segunda imagem oculta por trás da primeira, já que as pás fazem alusão a árvores. Perceba que a imagem admite uma nova interpretação quando avaliada sob a perspectiva do texto verbal. Os exemplos de textos não verbais que estudamos são apenas alguns dentre muitas possibilidades. Outros exemplos de linguagem não verbal são: fotos, mapas, gráficos, quadros, diagramas, charges, infográficos e demais gêneros que utilizam a linguagem mista (verbal e não verbal). A seguir, você poderá explorar questões interpretativas. Exercícios desse tipo podem ser contemplados em concursos ou nas avaliações das disciplinas de seu curso de graduação. Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 61 2.7 Interpretação de Questões Modelo ENADE Ao longo do curso, você vai ouvir falar muito do ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). Esse exame avalia o rendimento dos concluintes dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, às habilidades e às competências adquiridas durante a formação. O ENADE é composto por questões relacionais, que procuram estimular nos estudantes a reflexão crítica, a capacidade de analisar, de comparar, de deduzir e de sintetizar, além de aplicar e articular conceitos estudados. (INEP, 2018). Como você pode perceber, perguntas no modelo ENADE serão amplamente utilizadas, de modo que você precisa entender como elas funcionam e como interpretá-las. Assim, vamos analisar algumas questões nesse modelo, para que você comece a treinar o seu olhar para esse tipo de atividade. 2.7.1 Questão Modelo ENADE 1 Leia a seguinte tirinha da Turma da Mônica: Figura 2.13 – Tirinha. Fonte: Banco de imagens Google (2018). Tente primeiro resolver cada exercício e depois verifique a análise de cada alternativa para checar se você interpretou corretamente as respostas. DICA COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca62 Analise as seguintes afirmativas sobre a tirinha: I. há intertextualidade com a história bíblica de Adão e Eva, e o humor se estabelece justamente quando o texto original é desconstruído pela tira; II. apenas pela intertextualidade é possível saber quem são Adão e Eva, uma vez que eles não aparecem como personagens explícitos da tira; III. não é necessário ter nenhum conhecimento prévio para fazer a correta interpretação da tira. Como a personagem Magali é conhecida como comilona, não é difícil interpretar o final da tira. São corretas asseguintes afirmativas: a. apenas a I. b. apenas a I e a II. c. apenas a II e a III. d. apenas a II. e. apenas a III. Você já respondeu à questão? Vamos, então, analisar atentamente cada afirmativa. A afirmativa I está correta. De fato, existe intertextualidade da tira com um texto bíblico. Quem não conhece a história do pecado de Adão e Eva que comeram a maçã e foram expulsos do paraíso? Entretanto, o texto bíblico não é seguido à risca, e Magali, a personagem, come a maçã em vez de oferecê-la a Adão. Com a desconstrução do texto original, o humor se estabelece na tira. A afirmativa II também está correta. Adão e Eva não são personagens explícitos da tira. As personagens que de fato aparecem são Magali e a serpente. Tanto é assim que a cobra diz que “quem nasceu pra Magali nunca chegará a Eva”. Entretanto, como temos um conhecimento prévio acerca da história bíblica de Adão e Eva, percebemos a intertextualidade. A afirmativa III está incorreta. É preciso, sim, ter conhecimento prévio para interpretar a tira. Quem não conhece a história bíblica que embasa o texto não conseguirá interpretá-lo. Assim, a resposta correta é a letra “B”. Como você se saiu? Achou a questão difícil? Perceba que todos os elementos necessários para a compreensão estão no texto. Vamos analisar mais uma questão? Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 63 2.7.2 Questão Modelo ENADE 2: Analise o seguinte cartaz publicitário: Figura 2.14 – Cartaz. É DESSA FLORESTA QUE SAI O CHAPEUZINHO VERMELHO, JOÃO E MARIA, OS IRMÃOS KARAMAZOV, A DAMA DAS CAMÉLIAS E OS TRÊS MOSQUETEIROS. Fonte: Revista Bolsa, 1986. In: CARRASCOZA, J. A. A evolução do texto publicitário: a associação de palavras como elemento de sedução na publicidade. São Paulo: Futura, 1999 (adaptado). Nesse cartaz publicitário de uma empresa de papel e celulose, a combinação dos elementos verbais e não verbais visa a: a. justificar os prejuízos ao meio ambiente, ao vincular a empresa à difusão da cultura. b. incentivar a leitura de obras literárias, ao referir-se a títulos consagrados do acervo mundial. c. seduzir o consumidor, ao relacionar o anunciante às histórias clássicas da literatura universal. d. promover uma reflexão sobre a preservação ambiental ao aliar o desmatamento aos clássicos da literatura. e. construir uma imagem positiva do anunciante, ao associar a exploração alegadamente sustentável à produção de livros. COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca64 Para resolver esta questão, primeiramente você precisa ativar os seus conhecimentos prévios para entender quem são os personagens a que o anúncio se refere: Chapeuzinho Vermelho e João e Maria (clássicos da literatura infantil); os irmãos Karamazov (literatura russa, de Fiódor Dostoyewski); a Dama das Camélias (literatura francesa, de Alexandre Dumas Filho); os 3 Mosqueteiros (literatura francesa, de Alexandre Dumas Pai). Aqui descrevemos os autores, mas você não precisa saber isso. O que importa saber é que todos eles são personagens de obras literárias. Qual a ligação desses personagens com uma floresta? Sabe-se que o papel é feito da celulose, que advém das árvores. A partir desses conhecimentos prévios, pode-se inferir que o cartaz publicitário faz um jogo de linguagem ao dizer que os personagens saem da floresta. Na verdade, a floresta origina a celulose, a celulose origina o papel, o papel origina os livros e nos livros estão os personagens citados. Assim, indiretamente, os personagens saem da floresta. Em um segundo momento, a imagem mostra uma área reflorestada, o que pressupõe a sustentabilidade ambiental, ou seja, a preocupação da empresa que produz o papel em restaurar a floresta. Por fim, deve-se analisar o objetivo de um anúncio publicitário. Este serve para vender ou para exaltar uma qualidade positiva de um produto ou anunciante. A partir desses elementos, conclui-se que a alternativa correta é a “E”. Essa questão exige alguns conhecimentos prévios do leitor e a articulação desses conhecimentos a fim de chegar à resposta correta. Da Leitura à Compreensão Textual | UNIDADE 2 65 SÍNTESE DA UNIDADE Ao longo desta unidade, você estudou a leitura e suas diversas interfaces, refletindo sobre a importância do leitor e sobre a participação ativa dele no processo de construção de sentidos de um texto. Além disso, você identificou estratégias de leitura e de interpretação textuais que buscam facilitar a interação com os diversos gêneros textuais com os quais você lida no seu dia a dia. Essas estratégias, que visam a tornar mais dinâmica e precisa a sua relação com os textos, são: seleção, antecipação, inferência, verificação e ativação de conhecimentos prévios. Essas etapas pressupõem um estudo minucioso do texto com o objetivo de analisar os sentidos que ele estabelece. Os sentidos de um texto não são fechados e, por isso, o processo de interpretação requer um leitor atento, que reconheça as sutilezas do texto e contribua para preencher suas lacunas. A partir dessas estratégias, você vai desvendando o texto, imaginando os rumos que ele pode tomar, mudando rotas, fazendo novas inferências. Em relação aos conhecimentos prévios, estes dizem respeito à articulação de todos os conhecimentos que você acumula ao longo da vida. No decorrer da leitura, eles vão sendo ativados e contribuem para a compreensão. Você também estudou a interpretação textual em contextos de intertextualidade, verificando como diferentes textos mantêm diálogo entre si e se complementam mutuamente, em um constante movimento de integração das produções humanas. Outro aspecto estudado foi a interação entre linguagem verbal e não verbal, mais uma vez sob o foco da interpretação textual. A partir de agora, em suas leituras, você pode fazer os exercícios que propomos neste capítulo, aprimorando seu olhar, a fim de enxergar além do que está escrito em um texto. E lembre-se: a habilidade de interpretar você adquire com treino! COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca66 REFERÊNCIAS GOULART, C. R.; BOTH, J. T. Interpretação e compreensão de textos. In: AIUB, T N. (Org). Português: práticas de leitura e escrita. Porto Alegre: Penso, 2015. GUIMARÃES, T. C. Comunicação e Linguagem. São Paulo: Pearson, 2011. HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. 2018. Disponível em: http://gg.gg/cvmll. Acesso em: 06 de nov. 2018. KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008. MARCUSCHI, L. A. Produção Textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – Língua Portuguesa (PCN). Brasília, 1998. Disponível em: http://gg.gg/cvmlk. Acesso em 19 out. 2018. SZKLARZ, E.; GARATTONI, B. A Era da Burrice. Revista Superinteressante. Edição 394, out. 2008. COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca122 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM | Ângela Kroetz dos Santos e Gilberto Fonseca Se você encontrar algum problema neste material, entre em contato pelo email eadproducao@unilasalle.edu.br. Descreva o que você encontrou e indique a página. Lembre-se: a boa educação se faz com a contribuição de todos! CONTRIBUA COM A QUALIDADE DO SEU CURSO Av. Victor Barreto, 2288 Canoas - RS CEP: 92010-000 | 0800 541 8500 ead@unilasalle.edu.br unidade 1 O Processo da Comunicação Objetivo Geral Objetivos Específicos QUESTÕES CONTEXTUAIS 1.1 Introdução 1.2 Origem do Processo Comunicativo 1.3 Os Elementos da Comunicação 1.4 Ruído na Comunicação 1.5 As Funções da Linguagem 1.6 A Noção de Interlocutor 1.7 Adequação da Linguagem à Situação Comunicativa 1.8 Comunicação e Gêneros Textuais 1.8.1 Gênero, Tipo e Domínio Textuais Síntese da unidade Referências unidade 2 Da Leitura à Compreensão Textual Objetivo Geral ObjetivosEspecíficos QUESTÕES CONTEXTUAIS 2.1 Introdução 2.2 Leitura e suas Interfaces 2.3 Leitura e Compreensão: o Papel do Leitor 2.3.1 Estratégias de Leitura: Existe uma Fórmula Eficaz? 2.3.2 Estratégias de Leitura: Aplicação 2.4 Esquemas de Leitura 2.5 Interpretação e Intertextualidades 2.6 Interpretação de Textos Não Verbais 2.7 Interpretação de Questões Modelo ENADE 2.7.1 Questão Modelo ENADE 1 2.7.2 Questão Modelo ENADE 2: Síntese da unidade Referências unidade 3 A Articulação da Escrita Objetivo Geral Objetivos Específicos QUESTÕES CONTEXTUAIS 3.1 Introdução 3.2 A Escrita na Contemporaneidade 3.3 Estruturas Básicas da Escrita: Frase e Parágrafo 3.4 Texto e Fatores de Textualidade 3.4.1 A Coesão 3.4.2 A Coerência 3.5 Estrutura do Texto Argumentativo 3.6 A Construção do Texto Argumentativo: Passo a Passo Síntese da unidade Referências unidade 4 O Texto em Ação Objetivo Geral Objetivos Específicos QUESTÕES CONTEXTUAIS 4.1 Introdução 4.2 Gêneros Acadêmicos 4.2.1 Resenha 4.2.2 Resumo 4.2.3 Ensaio 4.2.4 Mapa Mental 4.2.5 Seminário e Apresentação de Trabalho 4.3 Dúvidas Gramaticais Recorrentes Síntese da unidade Referências
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