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Psicopedagogia_ Estratégias de Leitura e Escrita

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Indaial – 2021
PsicoPedagogia: 
estratégias de Leitura e 
de escrita
Profª. Jussara Saramento
Profª. Patricia Murara Stryhalski
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021
Elaboração:
Profᵃ. Jussara Saramento
Profᵃ. Patricia Murara Stryhalski
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
S243p
Saramento, Jussara
 Psicopedagogia: Estratégias de leitura e escrita. / Jussara Saramento; 
Patricia Murara Stryhalski. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 208 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-484-5
 ISBN Digital 978-65-5663-482-1
 1. Técnica da leitura e da escrita. - Brasil. I. Stryhalski, Patricia 
Murara. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 370
aPresentação
Prezado acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina de Estratégias de 
Leitura e de Escrita. Neste livro didático, você ampliará seus conhecimentos 
sobre o trabalho educativo com a leitura e com a escrita. O ensino e a 
aprendizagem da técnica da leitura e da escrita são grandes desafios que 
se apresentam na rotina dos professores e das professoras, sobretudo, se o 
objetivo é o de uma formação humana integral.
As reflexões a serem desenvolvidas ao longo de nosso estudo 
centralizam-se numa concepção de língua como interação e não como um 
produto fechado que se olha de fora, sem poder tocá-lo, conhecer seus usos e 
suas transformações ao longo da história da humanidade. Por isso, dominar 
a leitura e a escrita não se restringe ao atendimento das demandas mais 
cotidianas e pragmáticas, significa também desenvolver autonomia.
Na Unidade 1 serão abordados os assuntos sobre as concepções de 
linguagem prevalecentes na atualidade, as relações entre a leitura e a escrita, 
bem como suas concepções, a importância da oralidade e a relação entre 
a literatura e a formação humana. Além desses temas, trataremos sobre o 
conceito de letramento, gêneros textuais e a distinção deles em relação aos 
tipos textuais, além de refletir sobre a definição de estratégias de leitura, 
buscando identificá-las no trabalho com os mais variados gêneros textuais. 
Na Unidade 2, você aprofundará seus conhecimentos sobre o texto, 
seus níveis e os aspectos gerais relacionados à textualidade. Compreenderá 
que a oralidade é uma prática social da língua em uso e possui condições 
específicas para a sua produção. Além disso, ampliará o conhecimento sobre 
o que são as metodologias ativas e como elas podem auxiliar no ensino da 
leitura e da escrita.
Na Unidade 3, abordaremos a revisão das teorias da Aprendizagem 
que embasam o trabalho do Pedagogo e Psicopedagogo. Compreenderemos 
os distúrbios de aprendizagem de leitura e escrita, bem como conheceremos 
o campo de trabalho da Psicopedagogia e as intervenções psicológicas. 
Também vamos identificar os distúrbios de leitura e escrita, assim como 
as estratégias pedagógicas. Por fim, na última unidade, vamos adquirir 
conhecimento sobre a alfabetização e letramento.
Bons estudos!
Profᵃ. Jussara Saramento
Profᵃ. Patricia Murara Stryhalski
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui 
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você 
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumário
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA ............................................................................................... 1
TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA ........................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 LÍNGUA: SISTEMA, INSTRUMENTO, COGNIÇÃO OU INTERAÇÃO ............................... 3
2.1 LÍNGUA E LINGUAGEM ............................................................................................................. 5
3 RELAÇÕES ENTRE A LEITURA E A ESCRITA ............................................................................ 6
3.1 CONCEPÇÃO DE LEITURA ........................................................................................................ 7
3.2 CONCEPÇÃO DE ESCRITA ......................................................................................................... 9
3.3 A IMPORTÂNCIA DA ORALIDADE ....................................................................................... 11
4 A LITERATURA E FORMAÇÃO HUMANA ............................................................................... 12
4.1 LINGUAGEM LITERÁRIA ........................................................................................................ 14
4.2 VEROSSIMILHANÇA ................................................................................................................. 16
4.3 PLURISSIGNIFICAÇÃO .............................................................................................................. 17
5 INTERTEXTUALIDADE .................................................................................................................. 17
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 23
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 24
TÓPICO 2 — LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS ..................................................... 27
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................27
2 LETRAMENTO ................................................................................................................................. 27
3 OS GÊNEROS TEXTUAIS OU DISCURSIVOS ......................................................................... 29
3.1 TIPOLOGIA T EXTUAL ............................................................................................................. 32
4 AS DIMENSÕES INTERPSICOLÓGICAS DA LEITURA ........................................................ 34
4.1 A DIMENSÃO INTERSUBJETIVA DA LEITURA ................................................................... 35
4.2 DIMENSÃO INTRASSUBJETIVA .............................................................................................. 36
5 INFERÊNCIA ...................................................................................................................................... 39
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 44
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 45
TÓPICO 3 — ESTRATÉGIAS DE LEITURA E DE ESCRITA ...................................................... 47
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47
2 ESTRATÉGIAS DE LEITURA E DE ESCRITA ............................................................................ 47
2.1 PREVISÃO OU ANTECIPAÇÃO ............................................................................................... 48
2.2 RESUMO ........................................................................................................................................ 49
2.2.1 Apagamento ........................................................................................................................ 49
2.2.2 Generalização ...................................................................................................................... 50
2.2.3 Construção ............................................................................................................................ 50
3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA E ESTRATÉGIAS DE LEITURA E DE ESCRITA ........................ 50
3.1 AS ETAPAS DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA .................................................................... 51
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 55
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 62
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 63
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 65
UNIDADE 2 — TEXTO, LEITURA E ESCRITA ............................................................................. 67
TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DO TEXTO ....................................................................................... 69
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 69
2 AFINAL, O QUE É UM TEXTO? ..................................................................................................... 69
2.1 COESÃO ........................................................................................................................................ 72
2.2 COERÊNCIA ................................................................................................................................. 75
2.3 INTENCIONALIDADE ............................................................................................................... 76
2.4 ACEITABILIDADE ....................................................................................................................... 77
2.5 SITUACIONALIDADE ................................................................................................................ 78
2.6 INTERTEXTUALIDADE ............................................................................................................. 78
2.7 INFORMATIVIDADE .................................................................................................................. 79
3 MODALIDADE ORAL DA LINGUAGEM .................................................................................. 80
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 85
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 86
TÓPICO 2 — ASPECTOS INDISSOCIÁVEIS ENTRE A LEITURA E A ESCRITA ................ 87
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 87
2 AUTOR, AUTORIA, LEITURA E ESCRITA ................................................................................. 87
3 O TRABALHO EDUCATIVO COM O TEXTO LITERÁRIO ................................................... 90
3.1 FORMAÇÃO DE LEITORES E FORMAÇÃO DOS LEITORES ............................................. 93
4 O TRABALHO EDUCATIVO COM O TEXTO INFORMATIVO ........................................... 95
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 98
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 99
TÓPICO 3 — TÉCNICAS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM PARA 
 A LEITURA E A ESCRITA ....................................................................................... 103
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 103
2 METODOLOGIA E TÉCNICA DE ENSINO E APRENDIZAGEM ...................................... 103
2.1 PARA INÍCIO DE CONVERSA ................................................................................................ 104
2.2 MÃOS À OBRA ........................................................................................................................... 106
2.3 PARA FINALIZAR ..................................................................................................................... 109
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 114
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 117
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 118
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 120
UNIDADE 3 — O PSICOPEDAGOGO E A INTERVENÇÃO NOS PROCESSOS 
 DE LEITURA E ESCRITA .................................................................................... 121
TÓPICO 1 — PSICOPEDAGOGIA: FORMAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO ................. 123
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 123
2 PSICOPEDAGOGIA: FORMAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO ....................................... 123
3 TEORIAS DA APRENDIZAGEM ................................................................................................ 124
3.1 COMPORTAMENTALISMO OU BEHAVIORISMO ............................................................ 124
3.2 APRENDIZAGEM SOCIAL – ALBERT BANDURA .............................................................125
3.3 JEAN PIAGET ............................................................................................................................ 127
3.4 LEV VYGOTSKY ........................................................................................................................ 128
3.5 DAVID AUSUBEL ....................................................................................................................... 129
4 SURGIMENTO DA PSICOPEDAGOGIA ................................................................................. 130
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 132
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 133
TÓPICO 2 — LINGUAGEM, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ...................................... 135
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 135
2 DESENVOLVIMENTO E LINGUAGEM .................................................................................... 135
3 ARTICULAÇÃO ENTRE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO .......................................... 136
3.1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ..................................................................................... 137
3.2 PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA – EMILIA FERREIRO ......................................... 138
3.2.1 Fases apresentadas na Psicogênese da língua escrita ................................................... 139
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 142
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 143
TÓPICO 3 — DISTÚRBIOS DE LEITURA E ESCRITA: ESTRATÉGIAS 
 PARA A APRENDIZAGEM ..................................................................................... 145
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 145
2 PRINCIPAIS TRANSTORNOS QUE CAUSAM DIFICULDADE NA LEITURA 
 E ESCRITA ........................................................................................................................................ 145
2.1 DISLEXIA ..................................................................................................................................... 146
2.1.1 Intervenção Psicopedagógica ........................................................................................... 148
2.2 DISGRAFIA ................................................................................................................................. 151
2.2.1 Intervenção Psicopedagógica ........................................................................................... 153
2.3 DISORTOGRAFIA ...................................................................................................................... 156
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 158
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 166
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 167
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 168
1
UNIDADE 1 — 
LEITURA E ESCRITA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você será capaz de:
• compreender que dependerá da concepção de língua assumida o 
trabalho educativo envolvendo as práticas sociais de leitura e de escrita;
• identificar que a língua e linguagem possuem especificidades e uma 
está no interior da outra nas interações sociais;
• demonstrar que a leitura e escrita são práticas sociais de interação na 
produção de sentidos;
• reconhecer que a oralidade é um conhecimento a ser aprendido na escola;
• reconhecer a literatura como produção humanizadora;
• conceituar letramento como inserção do indivíduo nas produções da 
cultura escrita;
• diferenciar os gêneros discursivos, que são produções humanas que 
circulam em esferas da atividade humana, das tipologia textuais, que são 
sequências que os textos têm e que o configuram daquela forma;
• compreender que as funções superiores acontecem no nível interpsicológico 
e nível intrapsicológico;
• identificar a dimensão intersubjetiva e intrassubjetiva da leitura; 
• operar com o conceito de inferência na materialidade linguística do texto.
PLANO DE ESTUDOS
 Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – A LEITURA E A ESCRITA 
TÓPICO 2 – LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS
TÓPICO 3 – ESTRATÉGIAS E LEITURA E DE ESCRITA
2
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
A LEITURA E A ESCRITA
1 INTRODUÇÃO
Ninguém é capaz de viver hoje sem utilizar a linguagem como forma 
de comunicação. Isso significa que, para mover-se no mundo e entendê-lo junto 
com as outras pessoas que compartilham essa experiência, é necessário buscar 
nele mesmo os símbolos que representam o que queremos dizer, discutir, sentir, 
desejar, entre outras necessidades humanas. 
No âmbito escolar é importante compreender as concepções de língua que 
podem ser adotadas, a fim de ter um alinhamento com uma prática convergente. 
Esse é o assunto que trataremos neste primeiro tópico. Boa leitura!! 
2 LÍNGUA: SISTEMA, INSTRUMENTO, COGNIÇÃO OU INTERAÇÃO
Iniciamos nossos estudos sobre estratégias de leitura e de escrita situando 
nossas reflexões em relação ao que tomamos por linguagem. Essa “escolha” fará 
toda a diferença no trabalho a ser desenvolvido com o leitor, o autor e o texto. Por 
isso, é essencial que se saiba quais perspectivas teóricas podem ser assumidas, 
para então dar forma a uma prática pedagógica consciente e em relação direta 
com a concepção adotada.
 
De acordo com as diferentes perspectivas existentes, segundo com 
Marcuschi (2008), podemos ver a língua como:
a) um sistema fechado e acabado de regras que defende a autonomia de tais 
normas em relação às condições de produção, sem interferência social;
b) um instrumento transmissor de informações, ou seja, a língua é um código e 
serve como meio de comunicação entre as pessoas; 
c) uma atividade cognitiva, ato de criação e expressão do pensamento específico 
da espécie humana;
d) uma interação humana com funcionamento social, histórico e cognitivo, em 
que os sentidos são produzidos nas situações em que a língua é utilizada, ou 
seja, um conjunto de práticas sociais e históricas.
Com base nessas orientações de Marcuschi (2008), demanda da compreensão 
do que é a língua, a relação entre o leitor, o autor e o texto. Vamos tentar entender 
essa relação... Na primeira concepção, a língua é entendida como um sistema 
fechado e acabado com regras bastante definidas. O texto é um produto pronto e do 
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
4
autor, cabendo ao leitor limitar-se a entender “o que o autor quis dizer”; o contexto 
e o papel do interlocutor não relevantes nessa concepção. O trabalho com o texto é 
focado pelo uso do sistema, ou seja, dedicar-se a compreender os níveis fonológico, 
morfológico, sintático e semântico, dessa forma, o sujeito realiza exercícios de 
treino e repetição para aprender a teoria gramatical. A prática de leitura serve como 
instrumentos de avaliação da oralidade. Nessa concepção,
 
[...] as pessoas não se expressam por bem porque nãopensam. A expressão 
se constrói no interior da mente, sendo sua exteriorização apenas uma 
tradução. A enunciação é um ato monológico, individual, que não é 
afetado pelo outro nem pelas circunstâncias que constituem a situação 
social em que a enunciação acontece (TRAVAGLIA, 1996, p. 21).
Na segunda concepção, a língua concebida como transmissora de 
informações, o leitor tem uma posição bem marcada com o foco no texto, que 
precisa ser decodificado e é um produto linear cuja compreensão é objetiva. 
“Essa perspectiva é pouco útil, mas muito adotada, em especial, pelos manuais 
didáticos, ao tratarem os problemas da compreensão textual” (MARCUSCHI, 
2008, p. 60). Prevalecem, nessa linha, a importância dos elementos comunicativos 
(mensagem, receptor, código, canal, emissor, contexto).
Para essa concepção o falante tem em sua mente uma mensagem a 
transmitir a um ouvinte, ou seja, informações que quer que cheguem 
ao outro. Para isso ele a coloca em código (codificação) e a remete para 
o outro através de um canal (ondas sonoras ou luminosas). O outro 
recebe os sinais codificados e os transforma de novo em mensagem 
(informações). É a decodificação (TRAVAGLIA, 1996, p. 21).
A terceira concepção de língua enfatiza a capacidade inata que os sujeitos 
têm em compreender a língua que falam, por isso, a relevância nos aspectos 
cognitivos do trabalho com o texto, isto é, nas representações mentais que o leitor 
utiliza ao se deparar com o texto. Para Marcuschi (2008, p. 60), “a língua envolve 
atividades cognitivas, mas não é um fenômeno apenas cognitivo”.
Já a língua vista como interação humana, última concepção apresentada, 
comporta sujeitos ativos que atuam sobre textos, levando em conta suas experiências 
e conhecimentos; o leitor atua com e sobre o texto, atribuindo sentidos, podendo 
concordar ou discordar do autor. Em outras palavras, leitor, autor e texto interagem 
na produção dos sentidos que se emerge num dado momento social e histórico, isto 
é, são as esferas sociais que determinarão como serão produzidos os enunciados 
necessários em seus respectivos âmbitos. A língua, nessa concepção, é um processo 
contínuo, nunca acabado, sempre em constante transformação, decorrente da 
interação entre os interlocutores que conversam, trocam experiências, expressam 
sentimentos, desenvolvem estudos, ou seja, interagem entre si numa dada esfera da 
atividade humana. Tal concepção deu-se graças aos estudos realizados no Círculo 
de Bakhtin, que conta com as reflexões e os estudos de diversos outros intelectuais, 
além do pensador russo Mikhail Bakhtin (1895 – 1975).
TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA
5
2.1 LÍNGUA E LINGUAGEM
Uma vez realizadas as reflexões teóricas acima, este material tem como 
objetivo que você, acadêmico, amplie seus conhecimentos sobre as práticas sociais 
de leitura e de escrita, que são produções humanas que se utilizam de línguas e 
de linguagens. Posto isso, é interessante que se considere as especificidades da 
língua e da linguagem, que não são opostas, mas uma está no interior da outra 
nas interações sociais. 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais adotam tais especifidades, 
indicando que:
A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por uma 
finalidade específica; um processo que se realiza nas práticas sociais 
existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos 
momentos da sua história. [...], a língua é um sistema de signos histórico 
e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. 
Assim aprendê-la é aprender não só palavras, mas também os seus 
significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas 
do seu meio social entendem e interpretam a realidade e a si mesmas 
(BRASIL, 1997, p. 24).
Efetivamente, há um conjunto de individualidades, histórias, interesses, 
pensamentos, pretensões que subjazem a língua, o que se está dizendo é que na 
língua se “comporta a dimensão de sistema em uso, de sistema preso à realidade 
histórico-social do povo” (ANTUNES, 2009). Por isso, a língua não pode ser 
restringida a um conjunto de signos somente, ela está em constante transformação 
por meio de seus falantes, que vão atribuindo novos sentidos mediante o conjunto 
de fatores sociais, econômicos, políticos e históricos sobre os quais agem e vivem.
Dessa forma, a linguagem ganha forma e sentido na interação verbal, 
onde existe um combinado de estratégias de recepção, produção e distribuição 
de discursos, segundo a produção e intenção dos esquemas desses mesmos 
discursos. Por exemplo, um artigo científico a ser divulgado numa revista da área 
é produzido de acordo com certos esquemas que o constituem assim, e atende 
ainda às normas da revista para a publicação; um e-mail corporativo, que avisa 
aos seus colaboradores sobre um determinado assunto, apresenta também uma 
estrutura que o define como sendo um e-mail e seguem às normas da instituição 
quanto à redação desse gênero.
Esclarecidos esses primeiros conceitos, nossos estudos serão direcionados 
às concepções das técnicas de leitura e escrita, que é o foco do próximo subtópico.
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
6
3 RELAÇÕES ENTRE A LEITURA E A ESCRITA
Dos pictogramas sumérios, em aproximadamente 3200 a.C., até a 
impressão da Bíblia realizada por Johann Gutenberg, na Alemanha, em 1450 até 
1455, chegando, na atualidade, com a explosão do avanço das tecnologias digitais 
de informação e comunicação – TDIC –, a leitura e a escrita vêm estabelecendo 
uma relação automática de causa e consequência, que leva muitos a acreditarem 
que quem lê, escreve bem. A leitura consiste em uma das condições que levam às 
pessoas à possibilidade de escrever, entretanto, não de um modo automatizado. 
Escrever é resultado de uma prática constante, planejada, refletida e requer 
inúmeras revisões, num processo crescente de melhoramento e aperfeiçoamento. 
FIGURA 1 – PICTOGRAMAS SUMÉRIOS
FONTE: <http://expurgacao.art.br/antes-e-depois-da-sumeria/>. Acesso em: 13 jan. 2021.
Quer saber um pouco mais sobre a relação entre pensamento e linguagem?
Quando seres interplanetários deixam marcas na Terra, a Dra. Louise 
Banks (Amy Adams), uma linguista especialista no assunto, é procurada 
por militares para traduzir os sinais e desvendar se os alienígenas 
representam uma ameaça ou não. No entanto, a resposta para todas as 
perguntas e mistérios pode ameaçar a vida de Louise e a existência de 
toda a humanidade.
FONTE: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-226509/. Acesso em: 
13 jan. 2021.
DICAS
TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA
7
 FIGURA 2 – PRENSA MÓVEL
FONTE: <https://bit.ly/3dY3dfB>. Acesso em: 13 jan. 2021.
Decorrente dessa relação entre leitura e escrita, segundo Antunes (2009), 
em um meio de perceber as formas específicas e particulares da escrita é possível 
notar que não falamos e escrevemos do mesmo jeito, embora seja a mesma 
língua em que se fala e que se escreve, e se esteja em situações de interação cujo 
discurso pretendido seja o mesmo. Numa conversa informal entre amigos depois 
da aula, o discurso oral vai se constituindo à medida que os interlocutores (os 
amigos) interagem. Numa palestra sobre economia, por exemplo, o discurso é 
tomado por apenas um dos interlocutores. Por outro lado, na escrita, como os 
interlocutores não interagem no momento da produção do discurso, a recepção 
do material escrito, por quem vai lê-lo, é adiada. Isso não é, em medida alguma, 
uma desvantagem, pelo contrário, é uma possibilidade de planejar, revisar e 
reescrever, se necessário, o texto. 
3.1 CONCEPÇÃO DE LEITURA
Originado do latim legere, que significa escolher, captar com os olhos, o 
vocábulo leitura é bastante variado, com muitas aplicações e acepções. Segundo 
o dicionário Houaiss (2010, p. 474), significa “1 o ato ou o hábito de ler 2 o que se 
lê 3 fig. maneira de compreender um texto, uma mensagem, um fato 4 o ato de 
decifrar qualquer notação ou resultado”. 
“A leitura é uma atividade altamente complexa de produção de sentidos 
que se realizam,evidentemente, com base nos elementos linguísticos presentes na 
superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer a mobilização 
de um vasto conjunto de saberes (KOCH; ELIAS, 2010, p. 57).
De acordo com Britto (2012, p. 18), “as palavras não têm propriamente 
sentido original e aquilo que significaram em outros tempos pode ser apenas 
memória encravada nos sentidos novos”, ou seja, o significado das palavras muda 
conforme o tempo e a circunstância que são empregadas. Por isso, é importante 
que se tenha uma concepção bem definida do que é leitura. Solé (2009) ressalta 
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
8
que leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto, que, de acordo com 
Britto (2012), o controle dessa ação intelectual permite uma ação reflexiva sobre o 
que se lê, sobre o mundo e sobre si próprio.
Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada 
tanto pelo fato que precede de alguém, como pelo fato de que se dirige 
para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do 
locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação 
ao outro. Através da palavra defino-me em relação ao outro, isto é, 
em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada 
entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, 
na outra apoia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é o território 
comum do locutor e do interlocutor (BAKHTIN, 1981, p. 113).
Na tirinha do Armandinho, personagem criado pelo ilustrador Alexandre 
Beck, ilustra-se a condição a ser superada pelo domínio da técnica da leitura e 
da escrita, qual seja, agir de maneira reflexiva sobre o que se lê e compreender 
a quais fins se propõem as leituras que são tomadas em momentos distintos da 
interação, seja no âmbito escolar, profissional ou pessoal.
FIGURA 3 – TIRINHA DO ARMANDINHO
FONTE: <https://bit.ly/3tbHZBl>. Acesso em: 18 dez. 2020.
Essas mudanças, nas formas das pessoas utilizarem a linguagem, desencadeou 
uma diversidade de textos que circulam nas mais diferentes esferas das atividades 
humanas. De acordo com Bakhtin (2016 [1952-1953], p. 11), “Todos os diversos 
campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-
se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam multiformes quantos os 
campos da atividade humana”. Com essa diversidade de gêneros, promoveu-se uma 
abertura nas formas de pensar sobre e com o texto, ou seja, a leitura de um bilhete é 
diferente da leitura de um artigo científico, que por sua vez, é diferente da leitura de 
uma publicação em uma rede social.
Como vimos, é necessário que se compreenda, na interação entre o leitor 
e o texto, que a leitura é um processo ativo e dinâmico, em que os significados e 
os sentidos vão sendo trazidos não pela cabeça de quem lê, mas pelo quanto esse 
leitor teve acesso aos mais variados tipos de conhecimento. Provém desse “acesso”, 
que ocorre por meio das atividades de estudo, as abstrações que o leitor tem em sua 
consciência, por isso, ele consegue decodificar/decifrar, compreender/interpretar, 
concordar/discordar, analisar/avaliar a materialidade linguística que é o texto, que 
não está encerrado e pronto, mas em constante produção de sentidos.
TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA
9
3.2 CONCEPÇÃO DE ESCRITA
Leia com atenção este excerto retirado da obra Infância, de Graciliano 
Ramos, publicada pela primeira vez em 1945:
Tive a ideia infeliz de abrir um desses folhetos, percorri as páginas 
amarelas, de papel ordinário. Meu pai tentou avivar-me a curiosidade 
valorizando com energia as linhas mal impressas, falhadas, antipáticas. 
Afirmou que as pessoas familiarizadas com elas dispunham de armas 
terríveis. Isto me pareceu absurdo: os traços insignificantes não tinham 
feição perigosa de armas (RAMOS,1981, p. 90).
O livro Infância é composto por vários capítulos que narram, num misto de 
imaginação e memórias, a infância do autor, no nordeste alagoano, na passagem 
do século XIX para o XX. Graciliano Ramos eternizou pela escrita lembranças da 
vida dele e possibilitou que outras pessoas conheçam mais sobre isso. Podemos 
perceber que o uso social da escrita, nesse caso, oportunizou ao autor resgatar 
fatos e vivências passados e trazê-los para um momento presente, direcionando-
os a um futuro que permitirá que qualquer pessoa tenha acesso ao conhecimento 
daquelas experiências.
Entretanto, “a escrita, que não foi o primeiro dos mecanismos de fixação 
cultural utilizados pela humanidade, embora se possa afirmar que é dos mais antigos” 
(ZILBERMAN; SILVA, 2004, p. 11), surgiu não como uma forma de comunicação, 
mas como uma estratégia de registro de relações comerciais, preconizando uma certa 
organização da sociedade. É uma tecnologia que permitiu aos homens e mulheres 
“esquecer sem esquecer” (BRITTO, 2012, p. 102), expandindo a capacidade de 
memória – já não precisamos guardar todas as informações, recados, datas, fatos, 
nomes na mente; eles podem ser armazenados fora de nosso corpo. 
Para Koch e Elias (2009), constituem a escrita o ato criativo, a expressão 
do pensamento e o trabalho com o sistema linguístico, num processo que envolve 
dimensões de ordem distintas como a linguística, a cognição, a pragmática e 
uma abordagem sócio-histórica e cultural, em que interagem leitor, texto e autor 
Sugestão de leitura:
BRITTO, Luiz Percival Leme Britto. Ao revés do avesso: leitura e formação. São Paulo: Pulo 
do gato, 2015. 
BRITTO, Luiz Percival Leme Britto. Inquietudes e desacordos: leitura além do óbvio. 
Campinas-SP: Mercados de letras, 2012.
DICAS
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
10
na produção de sentidos. Para Garcez (2002, p.11), “ a escrita é uma construção 
social, coletiva, tanto na história humana como na história de cada indivíduo”, 
que se refere sempre ao outro, que na reflexão sobre as coisas da humanidade se 
volta para o próprio interior, retornando ao grande coletivo – tal movimento é 
constante, nunca cessa.
Escrever, portanto, não é um ato natural, é um processo e precisa ser 
ensinado, o que aponta para o papel fundamental que tem a escola no ensino e 
na aprendizagem da escrita. O professor, em seu trabalho educativo sobre escrita, 
pode contextualizar o gênero textual e-mail, constatando com os alunos em qual 
esfera da atividade humana ele é utilizado, o que faz dele um e-mail, por que 
e onde ele é utilizado, entre outras informações, mas, de nada adiantará essas 
indicações das condições de uso desse gênero, se exigir do aluno que o texto dele 
tenha no mínimo três orações em voz passiva. O texto fica sem sentido.
FIGURA 4 – IMAGEM DA OBRA CURIOSIDADE, DE GERRIT TER BORCH,1660
FONTE: <http://www.essentialvermeer.com/related_vermeer_paintings/writing.html>. 
Acesso em: 18 dez. 2020.
O registro de textos é um processo bastante complexo e requer recursos 
que permitam ao leitor, num momento posterior ao da produção escrita, 
produzir os sentidos trazidos também pelo autor. Quem escreve, ao invés de usar 
os recursos da língua oral, como entonação, pausas, gestos, expressões faciais, 
silêncios, vai utilizar os símbolos gráficos, recursos estilísticos e um conteúdo 
léxico que possam ajudá-lo a produzir seu texto. 
Entretanto, o trabalho com a escrita não se limita a um processo mecânico 
que desenvolve as habilidades de empregar os sinais gráficos, nem pode ser uma 
prática artificial de reprodução e repetição de frases isoladas e sem contexto, uma vez 
que possui valor interacional entre o leitor e o texto, o que implica ser uma atividade 
planejada, pois há “envolvimento entre sujeitos, para que aconteça a comunhão das 
ideias, das informações e das intenções pretendidas” (ANTUNES, 2003, p.45).
TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA
11
A escrita possui etapas distintas, mas bem definidas de sua ação, pois 
quem escreve precisa planejar sobre o que, para quem e como vai escrever, depois 
dessas escolhas é necessária uma revisão daquilo que foi escrito, o que sugere 
que escrever não é operar de modo automático.É ação pensada, sendo que o 
resultado do produto dessa atividade dependerá de como o autor desempenhou 
e respeitou cada uma dessas etapas. 
3.3 A IMPORTÂNCIA DA ORALIDADE
Tratar sobre a oralidade como um conhecimento a ser aprendido na escola 
refere-se a compreendê-la como interação em sua especificidade, assim como a 
leitura e a escrita, ela possui marcas linguísticas que a configuram, entretanto, 
nenhuma dessas três dimensões do uso da língua (escrita, leitura e oralidade) 
são opostas nem uma é melhor que a outra, como modalidades distintas, elas 
apresentam características que as configuram como sendo o que são, objetivações 
humanas que devem ser apropriadas e têm, também, na escola o lócus propício 
para isso. Observe a imagem a seguir e reflita sobre a forma como esses vendedores 
divulgam os seus produtos. 
FIGURA 5 – VENDEDORES AMBULANTES NA PRAIA
FONTE: <https://bit.ly/3a1BUjp>. Acesso em: 19 dez. 2020.
Esses indivíduos produzem textos orais numa determinada esfera da vida 
social com uma finalidade específica, nesse caso, se eles entregassem um texto 
escrito aos possíveis clientes, como panfletos ou bilhetes, talvez a divulgação 
deles não atingisse com o mesmo êxito o número de pessoas que atinge quando 
se utilizam da oralidade. 
As atividades com a oralidade a serem planejadas no trabalho com o aluno 
não se restringem à reprodução de registros cotidianos, como diálogos, elogios, 
avisos, é necessário explicitar que existem gêneros de discursos orais que exigem 
também um planejamento e seguem uma sistematização, como exposições orais, 
narrações de experiências vividas, descrições. 
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
12
Antunes (2003) apresenta as características que o trabalho com a oralidade 
deve apresentar, com a intervenção do professor:
a) orientação para a coerência global, ou seja, ensinar o aluno a 
reconhecer que a unidade temática (tema do texto) do texto assume 
características conforme as situações de conversação;
b) articulação entre os diversos tópicos ou subtópicos da interação, 
no uso de elementos reiterativos ou de elementos conectores, como 
repetições, substituições pronominais, associações semânticas entre 
as palavras, conjunções;
c) facilitação do convívio social, participar cooperativamente, respeitando 
a vez de falar e de ouvir; rejeição a qualquer atitude discriminatória; 
escuta atenta e respeito aos mais diferentes tipos de interlocutores;
d) reconhecimento das funções da entonação, das pausas e de outros 
recursos suprassegmentais na construção do sentido do texto, assim 
como as expressões fisionômicas, gestos e recursos de representação 
cênica, como levantar-se, movimentar-se; 
e) inclusão de momentos de apreciação e reflexão sobre as realizações 
estéticas próprias da literatura improvisada, dos cantadores e 
repentistas.
A relação entre leitura, escrita e oralidade expressam produções humanas 
bastante complexas, e que às vezes, passam despercebidas por nós. Na sugestão 
de vídeo a seguir, podemos acompanhar a leitura do poema Enchente, de Cecília 
Meireles. A musicalidade do poema, ao ser lido, sugere a reprodução do som da 
chuva, devido ao emprego do fonema /x/ em suas representações em x e ch. 
4 A LITERATURA E FORMAÇÃO HUMANA
A agitação, a fugacidade e a urgência da vida moderna tem sido, em certa 
medida, devastadora para a condição humana, pois a luta diária pela sobrevivência 
tem relegado a um segundo plano outras necessidades tão importantes quanto 
essa. Nesse sentido, a escola é local privilegiado para oportunizar às crianças e 
aos jovens as formas de acesso às produções literárias de diferentes tempos e 
momentos históricos que trazem à tona aquilo que nos humaniza.
Sugestão de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=fEYsrqQvw2I. Poema 
Enchente, de Cecília Meireles.
DICAS
TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA
13
FIGURA 6 – AGITAÇÃO DE PESSOAS NAS CIDADES
FONTE: <https://bit.ly/3g1msra>. Acesso em: 13 jan. 2020.
A literatura, arte da palavra, é essencial à humanidade, uma vez que essa 
produção humana traz presente a ideia de sujeitos mais humanizados. Antônio 
Cândido (1995, p. 249) comenta sobre essa humanização: 
[...] entendo aqui por humanização [...] o processo que confirma no 
homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da 
reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, 
o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas 
da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e 
dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota 
de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e 
abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante. 
 
Trata-se de empreender esforços no sentido de dotar o leitor da 
capacidade de se apropriar da literatura, não apenas ser capaz de ler poesias, 
dramas ou narrativas, mas pela experiência literária, refletir sobre a existência, 
ter consciência do mundo e de si próprio. Arte opõe-se ao entretenimento, uma 
vez que “o entretenimento me faz esquecer que eu morro. A arte me faz lembrar 
da própria morte” (BRITTO, 2003, p.111). Essa dimensão ética e estética assumida 
no trabalho com a literatura permite uma possibilidade de pensar e construir 
a condição do humano. Sartre (2004 [1948], p. 28) afirma que a “[...] literatura 
é um perpétuo ensinamento que se dá contra a vontade expressa daqueles que 
ensinam”, pois retrata o homem em sua existência, gerando um conhecimento 
que permite a reflexão sobre essa condição.
O trabalho educativo com a arte, nesse caso, a literatura, permite o 
desenvolvimento das habilidades socioemocionais devido às reflexões que podem 
ser proporcionadas mediante um planejamento voltado para esse fim. Mesmo 
para as crianças pequenas, o contato com a literatura se dá por meio do outro 
(professor, professora, mãe, pai, irmãos), pois as crianças leem com os ouvidos 
(BRITTO, 2012), ou seja, experienciam o discurso escrito por meio de outra voz. 
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
14
FIGURA 7 – CRIANÇAS ESCUTANDO A LEITURA REALIZADA PELA PROFESSORA 
 FONTE: <https://www.jrmcoaching.com.br/blog/5a-lei-da-aprendizagem-conte-historias/>. 
Acesso em: 20 dez. 2020.
O trabalho educativo com a literatura que assume essa perspectiva possibilita 
ao aluno o contato com a leitura de textos e de obras literárias, diferentes daqueles 
que estão habituados a ver nos livros didáticos ou em textos do cotidiano, permite, 
portanto, acesso a modos diferentes de pensar, sentir, viver, refletir, posicionar-
se frente às coisas do mundo. O lidar com a palavra é tarefa do professor que se 
dispõe, pela mediação com os textos, fazer ponte entre o aluno e o conhecimento e 
reflexão sobre sua existência e a dos outros.
4.1 LINGUAGEM LITERÁRIA 
Como vimos, a literatura é necessária ao homem, devido a isso, precisa 
fazer parte do trabalho educativo a fim de promover nos alunos reflexões 
subjetivas do ser social que abarcam o pensar crítico, contemplativo, filosófico, 
indo além das formas cotidianas e imediatas de pensar sobre o mundo. Para 
prosseguirmos com os estudos sobre essas proposições, leia os textos a seguir.
Texto 1:
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA
15
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
FONTE: BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro, Ediouro, 2005.
Texto 2:
Moradores cercam caminhão de lixo para pegar restos de comida em 
Pernambuco
Moradores do bairro de São Benedito, em Olinda, cercaram na noite de 
terça-feira (11) um caminhão de lixo para pegar restos de alimento descartados 
por um supermercado. As pessoas se aproximaram do veículo no momento 
em que o caminhão parou em frente ao estabelecimento. O grupo colocou a 
comida em sacos plásticos. 
A empresa privada responsável pela coleta informou que o estabelecimentonão possui garagem e, por isso, o caminhão estava estacionado no meio da rua. 
Comunicou também que os resíduos são prensados dentro do veículo, mas que 
os funcionários recebem treinamento para não reagir quando são cercados por 
moradores. O flagrante foi feito pela radialista e estudante de jornalismo Suzanna 
Borba e foi ao ar na edição desta terça-feira (11) do Jornal Nacional.
FONTE: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/06/moradores-cercam-caminhao-de-
-lixo-para-pegar-restos-de-comida-em-pernambuco.shtml>. Acesso em: 10 jan. 2021.
O Texto 1, O bicho, foi escrito por Manuel Bandeira em 1947, faz uma 
crítica à realizada brasileira daquela época. Escrito em versos, organizados em 
estrofes, o texto é considerado um poema. Embora identifique o “bicho” que se 
alimenta dos desperdícios das pessoas, como sendo um ser humano, não revela o 
nome dele, mantém-no no anonimato nem dá pistas de onde e quando aconteceu 
o ocorrido, se viu realmente essa deplorável cena. O poema é verossímil. Já no 
Texto 2, podemos identificar, observando a fonte, que se trata de uma notícia 
veiculada num site de notícias. As pessoas são identificadas como moradores 
de um bairro da cidade de Olinda, no estado de Pernambuco e o fato ocorrido 
é situado num tempo determinado, incluindo a participação de outros agentes 
que comprovam o acontecimento, a empresa privada responsável pela coleta dos 
resíduos e a radialista/estudante de jornalismo que flagrou a cena.
 
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
16
O segundo texto, Texto 2, tem por objetivo repassar uma informação ao 
leitor, por isso precisa ser claro, objetivo, inclusive para comprovar com fatos 
ou vozes de autoridade o que está comunicando ao leitor. Textos com essas 
características são chamados de não literários.
O Texto 1, no poema O bicho, há o predomínio da forma como o texto foi 
escrito, a escolha das palavras, a criação do autor, sem necessidade de comprovar 
com argumentos ou provas a situação apresentada ao leitor, embora, permita uma 
reflexão sobre a condição de pobreza em que muitas pessoas vivem. Podemos 
dizer que o Texto 1 é um texto literário, pois apresenta elementos de literalidade 
como verossimilhança e plurissignificação. É sobre esses conceitos que vamos, a 
seguir, saber um pouco mais!
4.2 VEROSSIMILHANÇA
A verossimilhança pode ser caracterizada, em uma obra literária, como 
uma aproximação da realidade, ou seja, é uma referência direta ou indireta aos 
fatos sociais, históricos ou até as pessoas de um determinado lugar ou tempo da 
realidade. Observe a figura a seguir:
FIGURA 8 – GUERNICA, DE PABLO PICASSO, 1937
FONTE: <https://www.infoescola.com/pintura/guernica/>. Acesso em: 13 jan. 2021.
A obra do pintor espanhol, Pablo Picasso, é uma referência ao bombardeio 
aéreo realizado durante a Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939) à cidade basca que 
leva o mesmo nome, Guernica. Podemos observar que o artista buscou transmitir, 
em sua obra, a atmosfera que cercou as três horas de lançamentos de bombas e 
que custou a vida de 1 645 pessoas.
TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA
17
Poeminho do contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho.
Eles passarão...
Eu passarinho!
FONTE: <https://www.culturagenial.com/poeminho-do-contra-mario-quintana/>. Acesso em: 
10 jan. 2021.
4.3 PLURISSIGNIFICAÇÃO
A linguagem literária caracteriza-se pelo uso estético da palavra, isto quer 
dizer que, ao escrever, o autor usa de modo seletivo e criativo as palavras com 
as quais irá compor seu texto, inclusive criar novos vocábulos e atribuir novos 
sentidos as palavras. Observe o poema do escritor gaúcho Mário Quintana:
Podemos observar que a palavra “passarinho”, nesse poema, não se refere 
a uma espécie da classe das aves, pois apresenta um significado diferente disso, 
que somente será desvelado quando leitor e texto se confrontarem. Nesse sentido, 
podemos dizer que plurissignifação (pluri = vários, significação = sentidos) é a 
propriedade que o texto literário tem de permitir aos mais variados leitores as 
possibilidades de produzirem sentido, conforme sua subjetividade, entretanto, 
não se limitando a ela.
 
5 INTERTEXTUALIDADE
A intertextualidade pode ser entendida em relação “[...] aos fatores que 
fazem a utilização de um texto dependente do conhecimento de outro(s) texto(s)” 
(VAL, 1993, p. 15), portanto, quanto mais contato com essas produções humanas, 
mais conhecimento entre os textos teremos. Conforme Bakhtin (1997, p. 41), “a 
literatura não é produzida como objeto de estudo estanque, imanente e cristalizado, 
mas, sim, como constante diálogo entre textos e culturas, constituindo-se a partir 
de permanentes processos de retomadas, empréstimos e trocas”.
Nesse sentido, podemos dizer que intertextualidade é um recurso que 
permite estabelecer uma relação de sentido entre textos, em que elementos de um 
estão referidos no outro, seja pelo conteúdo ou forma. Essa referência poder ser 
explícita ou implícita. Para uma melhor compreensão desse conceito, vejamos a 
seguinte figura:
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
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FIGURA 9 – CAMPANHA PUBLICITÁRIA “CONTOS DE FADAS” DO GRUPO BOTICÁRIO
FONTE: <https://bit.ly/329vWIA>. Acesso em: 14 jan. 2021.
Quando lemos, nessa peça de uma propaganda veiculada alguns anos 
atrás em grandes meios de comunicação, a frase “Use O Boticário e ponha o Lobo Mau 
na coleira”, buscamos nossos conhecimentos sobre personagens de conhecidas 
histórias infantis para produção de sentidos, nesse caso, a história “Chapeuzinho 
Vermelho”. Temos, nesse exemplo, dois textos em que há referências de uma 
peça de campanha publicitária associada a uma história dos contos de fadas. 
Apresentamos a seguir, outros dois exemplos de intertextualidade com referências 
à história “Chapeuzinho Vermelho”, a crônica de Mário Prata “Chapeuzinho 
Vermelho de raiva”, e de Chico Buarque, “Chapeuzinho Amarelo”.
Texto 1:
Chapeuzinho Vermelho de raiva
– Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho da 
vovó, fica.
– Mas vovó, que olho vermelho… E grandão… Que que houve?
– Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. 
Aliás, está queimada, hein?
– Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva a 
mal, não, mas a senhora está com um nariz tão grande, mas tão grande! Tá tão 
esquisito, vovó.
 – Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização do 
bosque que é um Deus nos acuda. Fico o dia todo respirando este ar horrível. 
Chegue mais perto, minha netinha, chegue.
– Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir de 
casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos 
chego aqui com a minha moto.
– Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme?
– Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a 
senhora. Olha aí: margarina, Helmmans, Danone de frutas e até uns pacotinhos 
de Knorr, mas é para a senhora comer um só por dia, viu? Lembra da indigestão 
do carnaval?
TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA
19
– Se lembro, se lembro…
 – Vovó, sem querer ser chata.
 – Ora, diga.
– As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E ainda por cima, 
peluda. Credo, vovó!
 – Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. 
Onde se viu fazer música deste tipo? Um horror! Você me desculpe, porque foi 
você que me deu, mas estas guitarras, é guitarra que diz, não é? Pois é; estas 
guitarras são muito barulhentas. Não há ouvido que aguente, minha filha. 
Música é a do meu tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô, dançando valsas…. 
Ah, esta juventude está perdida mesmo.
 – Por falar em juventude o cabelo da senhora está um barato, hein? 
Todo desfiado, pra cima, encaracolado. Que qué isso?
– Também tenho que entrar na moda, não é, minha filha? Ou você 
queria que eu fosse domingo ao programa do Chacrinha de coque e com 
vestido preto com bolinhas brancas?
Chapeuzinho pula para trás:
 – E esta boca imensa???!!!
A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava:
– Escutaaqui, queridinha: você veio aqui hoje para me criticar é?! 
FONTE: <https://armazemdetexto.blogspot.com/2019/04/cronica-chapeuzinho-vermelho-de-
-raiva.html>. Acesso em: 20 dez. 2020.
Texto 2:
Chapeuzinho Amarelo
Era a Chapeuzinho Amarelo.
Amarelada de medo.
Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho.
Já não ria.
Em festa, não aparecia.
Não subia escada, nem descia.
Não estava resfriada, mas tossia.
Ouvia conto de fada, e estremecia.
Não brincava mais de nada, nem de amarelinha.
Tinha medo de trovão.
Minhoca, pra ela, era cobra.
E nunca apanhava sol, porque tinha medo da sombra.
Não ia pra fora pra não se sujar.
Não tomava sopa pra não ensopar.
Não tomava banho pra não descolar.
Não falava nada pra não engasgar.
Não ficava em pé com medo de cair.
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
20
Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo.
Era a Chapeuzinho Amarelo…
E de todos os medos que tinha
O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO.
Um LOBO que nunca se via,
que morava lá pra longe,
do outro lado da montanha,
num buraco da Alemanha,
cheio de teia de aranha,
numa terra tão estranha,
que vai ver que o tal do LOBO
nem existia.
Mesmo assim a Chapeuzinho tinha cada vez mais medo do medo do medo do 
medo de um dia encontrar um LOBO.
Um LOBO que não existia.
E Chapeuzinho amarelo,
de tanto pensar no LOBO,
de tanto sonhar com LOBO,
de tanto esperar o LOBO,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de LOBO,
olhão de LOBO,
jeitão de LOBO,
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz de comer duas avós,
um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz…
E um chapéu de sobremesa.
Mas o engraçado é que,
assim que encontrou o LOBO,
a Chapeuzinho Amarelo
foi perdendo aquele medo:
o medo do medo do medo do medo que tinha do LOBO.
Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo.
Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo.
O lobo ficou chateado de ver aquela menina olhando pra cara dele,
só que sem o medo dele.
Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo,
porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo.
É feito um lobo sem pelo.
Um lobo pelado.
O lobo ficou chateado.
Ele gritou: sou um LOBO!
Mas a Chapeuzinho, nada.
E ele gritou: EU SOU UM LOBO!!!
TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA
21
E a Chapeuzinho deu risada.
E ele berrou: EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!!
Chapeuzinho, já meio enjoada, com vontade de brincar de outra coisa.
Ele então gritou bem forte aquele seu nome de LOBO umas vinte e cinco vezes,
Que era pro medo ir voltando e a menininha saber com quem não estava 
falando:
LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO
Aí, Chapeuzinho encheu e disse:
“Para assim! Agora! Já! Do jeito que você tá!”
E o lobo parado assim, do jeito que o lobo estava, já não era mais um LO-BO.
Era um BO-LO.
Um bolo de lobo fofo, tremendo que nem pudim, com medo de Chapeuzim.
Com medo de ser comido, com vela e tudo, inteirim.
Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo, porque sempre preferiu de 
chocolate.
Aliás, ela agora come de tudo, menos sola de sapato.
Não tem mais medo de chuva, nem foge de carrapato.
Cai, levanta, se machuca, vai à praia, entra no mato,
Trepa em árvore, rouba fruta, depois joga amarelinha,
Com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro,
Com a sobrinha da madrinha
E o neto do sapateiro.
Mesmo quando está sozinha, inventa uma brincadeira.
E transforma em companheiro cada medo que ela tinha:
O raio virou orrái;
barata é tabará;
a bruxa virou xabru;
e o dia bo é bodiá.
( Ah, outros companheiros da Chapeuzinho Amarelo: o Gãodra, a Jacoru, o 
Barão-tu, o Pão Bichô pa…
E todos os tronsmons.)
FONTE: BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. São Paulo: José Olympio, 2015.
Sugestão de leitura da crônica Exigências da vida moderna, de Luis Fernando 
Veríssimo, para refletirmos sobre a relação entre a literatura e a condição humana.
Exigências da vida moderna 
Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro. E uma 
banana pelo potássio. E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde 
sem açúcar para prevenir a diabetes.
DICAS
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
22
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que 
consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe 
bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).
Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema 
nervoso. Um copo de cerveja, para… não lembro bem para o que, mas faz bem.
O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um 
derrame, nem vai perceber.
Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para 
fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. 
E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para 
comer, serão cerca de cinco horas do dia… E não esqueça de escovar os dentes depois de 
comer. Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, 
das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar 
a língua e bochechar com Plax.
Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento 
de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.
Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco 
comendo são vinte e uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito.
As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, 
porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, 
após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).
E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas 
diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para 
comparar as informações.
Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que 
ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo – e nem estou falando de 
sexo tântrico.
Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero 
que você não tenha um bichinho de estimação.
Na minha conta são 29 horas por dia. A única solução que me ocorre é fazer 
várias dessas coisas ao mesmo tempo!
Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e 
escova os dentes.
Chame os amigos junto com os seus pais.
Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher… na sua cama.
Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se 
sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.
Agora tenho que ir.
É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro. 
E já que vou, levo um jornal… Tchau!
Viva a vida com bom humor!!!
Luis Fernando Veríssimo
FONTE: <https://www.asomadetodosafetos.com/2016/08/exigencias-da-vida-moderna-luis-
fernando-verissimo.html>. Acesso em: 22 dez. 2020.
23
Neste tópico, você aprendeu que:
• A língua pode ser vista como: (i) um sistema fechado e acabado de regras; 
ou (ii) um instrumento transmissor de informações; ou (iii) uma atividade 
cognitiva; ou (iv) uma interação humana. 
• Língua e linguagem possuem especificidades, que não fazem delas contrários 
entre si, pois uma está no interior da outra nas interações sociais.
• Leitura e escrita são práticas sociais também com características próprias, 
embora mantenham uma relação na produção de sentidos.
• A leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto.
• A escrita não é uma atividade automatizada, pois requer planejamento e revisão.
• A oralidade é um conhecimento a ser aprendido na escola, e é necessário 
compreendê-la como interação em sua especificidade.
• A literatura é a arte da palavra, e é essencial à humanidade, uma vez que essa 
produção traz presente a ideia de sujeitosmais humanizados.
• A linguagem literária utiliza recursos de expressividade como a 
verossimilhança e a plurissignificação.
• A Intertextualidade é um recurso que permite estabelecer uma relação de 
sentido entre textos, em que elementos de um estão referidos no outro, seja 
pelo conteúdo ou pela forma.
RESUMO DO TÓPICO 1
24
1 Associe as concepções de linguagem adotadas nos exemplos de atividades 
a seguir:
(A) Concepção de língua como um sistema fechado de regras.
(B) Concepção de língua como um instrumento transmissor de informações.
(C) Concepção de língua como interação humana com funcionamento social, 
histórico e cognitivo.
( ) Atividade 1 – Leia a letra da música Como uma onda, de Lulu Santos:
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Atividade Oral 1 – Releia os ditos populares: 
“O tempo é o melhor remédio.” 
Na vida, tudo passa! Tudo tem seu tempo.
 Nada como um dia depois do outro.” 
Na sua opinião, qual deles representa melhor o que a música expressa? 
2 O compositor deu a essa música que fala sobre o tempo o título Como uma 
onda. Qual seria a relação entre o tempo e as ondas do mar? 
BORGATTO, A. M. T. et al. Tudo é linguagem. 8º ano/7ª série. São Paulo: Ática, 2006, p. 8-9.
( ) Atividade 2 – Observe os elementos da comunicação: 
AUTOATIVIDADE
25
I- Emissor: Revista Veja.
II- Receptor: os leitores da publicação.
III- Canal: língua portuguesa.
IV- Código: mídia impressa.
V- Contexto ou referente: principal - bullying nas escolas.
VI- Mensagem: Abaixo a tirania dos valentões (principal).
Está(ão) INCORRETOS:
a) ( ) I, III
b) ( ) III, IV 
c) ( ) IV, VI 
d) ( ) V e VI
FONTE: <http://professorjeanrodrigues.blogspot.com/2018/07/atividade-sobre-elementos-da-
-comunicacao.html>. Acesso em: 10 jan. 2021.
( ) Atividade 3 – Trabalhando o ritmo. Você vai ler dois poemas com os 
ritmos bem marcados. Para percebê-los, vamos organizar uma leitura 
expressiva. O poema Semente de alegria pode ser lido altamente por meninos 
e meninas: as meninas leem o primeiro verso e os meninos, o segundo, 
e assim por diante. O importante é manter o ritmo e a expressividade 
durante a leitura. Para sentir melhor esse ritmo, acompanhe cada som 
com um leve bater de palmas. Quando o som for mais forte, acentue um 
pouco a força da batida. Antes da leitura definitiva, é bom treinar com 
seus colegas. Para o poema Ritmo, que está na página seguinte, organize-
se com os colegas para fazer um jogral (TERRA, E.; CAVALLETE, F. 
Português para todos. 5ª série. São Paulo: Scipione, 2002, p. 125).
2 Observe os anúncios dos produtos da empresa varejista de hortifrutigranjeiros 
Hortifruti. Depois respondas às questões a e b.
26
FONTE: <https://www.hortifruti.com.br/comunicacao/campanhas/hollywood/>. 
Acesso em: 13 jan. 2021.
a) Quais elementos intertextuais estão referenciados em cada um dos três 
anúncios?
b) As referências de intertextualidade apresentadas nos anúncios – levando 
em conta que os produtos comercializados são hortifrútis – estabelecem 
uma relação com o leitor (que pode ser um consumir). Que relação é essa? 
O que ela sugere?
27
TÓPICO 2 — 
UNIDADE 1
LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS
1 INTRODUÇÃO
Uma proposta de trabalho educativo com os diferentes gêneros textuais 
ou discursivos deve estar ligado às demandas tão variadas de leitura comuns 
na atualidade, por isso, é preciso que conceitos como letramento e alfabetização, 
gêneros discursivos e tipologia textual estejam bem definidos no trabalho educativo.
Neste tópico, esses serão os temas abordados. Assim, você poderá 
expandir seus conhecimentos nesses conceitos tão atuais e utilizados na prática 
docente. Boa leitura!
2 LETRAMENTO 
O conceito de letramento foi utilizado pela primeira vez, no Brasil, por 
Mary Kato, em 1986, período no qual muitas publicações eram realizadas sobre as 
habilidades de leitura e de escrita, uma vez que o país estava numa transformação 
político-social que exigiu a revisão de algumas práticas no âmbito escolar. O termo 
é uma tradução da palavra em inglês literacy, que, originalmente, significa condição 
daquele que aprende a ler e escrever, na atualidade, em muitos tradutores on-line, 
o termo é traduzido como alfabetização.
Entretanto, letramento e alfabetização não são sinônimos, para Soares 
(2003, p. 49): “ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a 
escrever: aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar 
em língua escrita e de decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é tornar 
a escrita “própria”, ou seja, é assumi-la como sua propriedade”.
Considerando a citação de Soares (2003) e observando a imagem a seguir, 
verificamos que alfabetização e letramento possuem aspectos bastante diferentes. No 
exemplo da Figura 10, o aluno apropriou-se um gênero discursivo bastante frequente 
no âmbito escolar, inclusive se observarmos, a composição e a unidade temática 
foram organizadas de tal modo que a produção do menino é considerada um bilhete 
– embora com suas particularidades, que nesse momento não nos cabem analisar. 
28
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
FIGURA 10 – MENINO ESCREVEU BILHETE EM NOME DA PROFESSORA PARA FALTAR À ESCO-
LA EM BOCAINA (SP)
FONTE: <https://glo.bo/3d72lG3>. Acesso em: 10 jan. 2020.
Sob um ponto de vista mais amplo, alguém pode ser analfabeto, mas não 
iletrado, ou seja, embora não domine o sistema alfabético, insere-se tranquilamente 
na sociedade produzindo e interpretando textos, integra-se a uma cultura letrada. 
Sabe produzir textos adequados para cada situação comunicativa da qual faz 
parte, na qual interage. No mundo em que nos inserimos hoje, saber ler e escrever 
é mais do que codificar ou decodificar signos linguísticos, é ler o mundo, é usar a 
leitura e a escrita em sua função social. 
Isso também sugere que há quem seja alfabetizado, mas não letrado, posto 
que não consegue produzir, ler e interpretar textos nos diferenciados contextos 
em que surgem em momentos diferenciados no convívio com outras pessoas, não 
se inserindo, portanto, em uma cultura letrada. Ou seja, há quem saiba decifrar a 
língua oral e escrita, mas não consegue entender seu significado dentro do contexto 
comunicativo, não analisa, não interpreta, não consegue fazer inferências. 
Desse modo, “a palavra letramento, que hoje é de circulação corrente, 
refere-se não à mera capacidade de representar os sons na escrita, mas sim às 
formas de inserção na sociedade a que o indivíduo se habilita pelo fato de utilizar 
de maneira competente a escrita” (ILARI, 1985, p. 17). Letrar, portanto, é dominar 
a língua, especialmente a escrita, adequando seu uso aos diferentes contextos e 
situações comunicativas. Isso significa saber não apenas as estruturas relativas 
à própria língua, mas as questões que envolvem seu uso, os aspectos históricos, 
culturais, sociais que a constituem como tal.
Assim, o letramento é visto como uma forma de inserção do indivíduo na 
cultura escrita, ocorrendo a partir do momento em que este se vê envolvido com as 
produções da cultura escrita. Por isso, a escola é um espaço tão importante para este 
processo, uma vez que seguindo a perspectiva vigente de alfabetização de ensino 
de língua, o aluno está exposto aos mais variados gêneros textuais, trabalhando 
com eles, refletindo sobre eles e sendo conduzido a produzi-los eficientemente.
TÓPICO 2 — LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS
29
Uma prática pedagógica que se organiza pelas práticas de letramento 
pressupõe uma competência de uso da leitura e da escrita contextualizada e em 
relação aos usos práticos dos mais variados tipos de textos. Isso desenvolveria nos 
sujeitos a criticidade,o que lhe permitiria interagir, efetivamente, com os textos 
que circulam socialmente. 
3 OS GÊNEROS TEXTUAIS OU DISCURSIVOS
Em cada esfera da atividade humana circulam “tipos relativamente estáveis 
de enunciados, os denominados gêneros do discurso” (BAKHTIN, 2016 [1952-1953], 
p.12). Na esfera escolar, encontramos cartazes, relatórios, resenhas, resumos, mapas. 
Na esfera jurídica, circulam tipos como regimentos, leis, contratos, procuração. Na 
esfera midiática, nos relacionamos com blogs, talkshows, telejornais, entrevistas, 
reality shows. E assim ocorre em tantas outras esferas das atividades humanas, umas 
com as quais temos mais contato, outras nas quais temos pouco ou nenhum contato.
A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque 
são inesgotáveis as possibilidades da multifacetada atividade humana 
e porque em cada campo dessa atividade vem sendo elaborado todo um 
repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida 
que tal campo se desenvolve e ganha complexidade (BAKHTIN, 2016 
[1952-1953], p. 12).
Quando transitamos em alguma esfera da atividade humana, o que 
ocorre sempre, estipulamos relações interpessoais, ou seja, se estamos na esfera 
escolar, sabemos como agir nessa esfera, usando a linguagem e outras convenções 
características, isto é, conhecemos os gêneros do discurso dessa esfera. Se por 
acaso, circularmos em uma esfera que não conhecemos, precisamos nos apropriar 
dos gêneros que circulam ali, por exemplo, se não conhecemos o Instagram, não é 
possível postar fotos ou publicações ali, dessa forma, não interagimos com outras 
pessoas por meio dessa rede social. 
Marcuschi (2001) propõe uma análise dos gêneros discursivos orais e 
escritos produzidos em diferentes esferas das atividades humanas. 
30
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
FIGURA 11 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CONTÍNUO DOS GÊNEROS TEXTUAIS NA FALA E 
NA ESCRITA
FONTE: Marcuschi (2001, p. 43)
Além dessa representação gráfica do contínuo dos gêneros textuais na fala 
e na escrita, Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) sugerem que os gêneros podem 
ser agrupados em função de suas regularidades, desde que as finalidades sociais 
desses gêneros correspondam aos domínios da comunicação oral ou escrita, 
retomem as distinções tipológicas e sejam homogêneos em relação às capacidades 
de linguagem implicada. Observe no quadro a seguir os agrupamentos em função 
desses critérios.
QUADRO 1 – AGRUPAMENTO DOS GÊNEROS EM FUNÇÃO DOS CRITÉRIOS
Domínios sociais de 
comunicação
ASPECTOS 
TIPOLÓGICOS 
Capacidades de 
linguagem dominantes
Exemplos de gêneros orais 
comunicação e escritos
Cultura literária 
ficcional
NARRAR
Mimesis da ação através 
da criação Narrativa de 
aventura de intriga
Conto maravilhoso 
Fábula 
Lenda 
Narrativa de aventura
Narrativa de ficção científica
TÓPICO 2 — LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS
31
Narrativa de enigma 
Novela fantástica 
Conto parodiado...
Documentação e 
memorização de 
ações humanas
RELATAR
Representação pelo 
discurso de experiências 
vividas, situadas no 
tempo
Relato de experiência vivida 
Relato de viagem
Testemunho 
Curriculum vitae
Notícia 
Reportagem
Crônica esportiva 
Ensaio biográfico...
Discussão de 
problemas sociais 
controversos
ARGUMENTAR
Sustentação, refutação e 
negociação de tomadas 
de posição
Texto de opinião
Diálogo argumentativo 
Carta do leitor 
Carta de reclamação
Deliberação informal 
Debate regrado 
Discurso de defesa (adv.)
 Discurso de acusação (adv.)
Transmissão e 
construção de 
saberes
EXPOR
Apresentação textual de 
diferentes formas dos 
saberes
Seminário 
Conferència 
Artigo ou verbete de 
enciclopédia 
Entrevista de especialista 
Tomada de notas 
Resumo de textos 
"expositivos" ou explicativos 
Relatório científico 
Relato de experiência 
científica
Instruções e 
prescrições
DESCREVER AÇÕES
Regulação mútua de 
comportamentos
Instruções de montagem 
Receita 
Regulamento 
Regras de jogo 
Instruções de uso 
Instruções
FONTE: Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 121)
32
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
3.1 TIPOLOGIA TEXTUAL
Marcuschi (2010) aponta a relevância em distinguir tipo textual de gênero 
textual (ou gênero discursivo). Já vimos que gênero textual ou discursivo são “tipos 
relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2016 [1952-1953], p. 12) que 
circulam nas mais diferentes esferas da atividade humana. Tipo textual é “sequência 
teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, 
sintáticos, tempos verbais, relações lógicas) ” (MARCUSCHI, 2010, p. 23).
Para que você, acadêmico, memorize melhor quais são os cinco tipos 
textuais, optamos por apresentá-los em forma escrita, em que a primeira letra de 
cada linha forma outra palavra na vertical, também conhecido como acróstico:
Narração
Argumentação/dissertação
Descrição
Exposição
Injunção
Sugestão de leitura:
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34, 2016 
[1952-1953]. 
DICAS
TÓPICO 2 — LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS
33
QUADRO 2 – TIPOS TEXTUAIS, EXEMPLOS E TRAÇOS LINGUÍSTICOS
Tipo textual Exemplo Traços linguísticos
Narração
Os passageiros desem-
barcaram do trem sob 
uma chuva forte no 
meio da noite.
Enunciados que contam um 
enredo que envolve tempo, espaço, 
personagem e ação.
Argumentação/
dissertação
Faz-se imprescindível 
a tomada de medidas 
atenuantes ao entrave 
abordado, uma vez que 
põe em risco a população 
daquela região.
O enunciado será dissertativo-
argumentativo se apresentar um 
ponto de vista com o objetivo de 
persuadir e convencer o leitor a 
concordar com a ideia defendida. 
O enunciado será dissertativo-
expositivo se apresentar um ponto 
de vista sem a necessidade de 
convencer o leitor.
Descrição
Ela era uma mulher 
de meia idade, cabelos 
crespos e grisalhos, nariz 
arrebitado e olhar triste.
Enunciados que se utilizam de 
adjetivos, comparações, metáforas 
para descrever algo ou alguém, de 
forma que o leitor consiga criar 
uma imagem mental daquilo que 
está sendo descrito.
Exposição O esqueleto humano é composto por 206 ossos.
Enunciados que informam e 
esclarecem o leitor expondo 
informações sobre um determinado 
assunto ou tema.
Injunção
Silêncio! 
Batas as claras em neve.
Para ligar, gire o botão 
para a direita.
São os enunciados que dão 
instruções, orientações, comandos, 
sugestões ao leitor. Indicam ação.
FONTE: Adaptado de Marcuschi (2010)
Os textos, em seus diferentes gêneros (carta, bilhete, poema, romance, receita, 
entre outros), na maioria das vezes, apresentam um desses tipos como prevalecentes, 
entretanto, há gêneros que mesmo com um tipo prevalecente, contam com outros 
tipos em sua composição. 
34
UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA
4 AS DIMENSÕES INTERPSICOLÓGICAS DA LEITURA
Para que possamos avançar mais nos conhecimentos sobre as práticas 
de leitura e de escrita e compreender como as produções culturais e o contexto 
sociocultural onde as pessoas estão inseridas interferem no desenvolvimento 
das funções tipicamente humanas, como a memória, a atenção voluntária, o 
pensamento, a imaginação, o comportamento voluntário, precisamos estudar 
alguns conceitos do estudioso russo Vigotski. 
Para Vigotski (1994), pensamento e linguagem estão associados, embora a 
trajetória deles, ao longo do desenvolvimento humano, nem sempre coincida. Por 
exemplo, um bebê, quando tem fome, usa uma certa forma de linguagem para se 
comunicar com o adulto, entretanto, essa comunicação ainda está dissociada da 
consciência sobre essa ação. Saciar a fome é a satisfação de uma necessidade para 
a sobrevivência. A linguagem é um instrumento simbólico de mediação, pois 
permite o intercâmbio social e faz parte do pensamento.
Em outras palavras, é pela linguagem que interagimos com as pessoas, 
por exemplo, quando uma pessoa mais velha deseja aprender como navegar em 
redes sociais, na maioria das vezes, outra pessoa mais nova vai ajudá-la, dando 
as orientações de acesso a sites ou aplicativos, como baixar

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