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Indaial – 2021 PsicoPedagogia: estratégias de Leitura e de escrita Profª. Jussara Saramento Profª. Patricia Murara Stryhalski 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Profᵃ. Jussara Saramento Profᵃ. Patricia Murara Stryhalski Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S243p Saramento, Jussara Psicopedagogia: Estratégias de leitura e escrita. / Jussara Saramento; Patricia Murara Stryhalski. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 208 p.; il. ISBN 978-65-5663-484-5 ISBN Digital 978-65-5663-482-1 1. Técnica da leitura e da escrita. - Brasil. I. Stryhalski, Patricia Murara. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 aPresentação Prezado acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina de Estratégias de Leitura e de Escrita. Neste livro didático, você ampliará seus conhecimentos sobre o trabalho educativo com a leitura e com a escrita. O ensino e a aprendizagem da técnica da leitura e da escrita são grandes desafios que se apresentam na rotina dos professores e das professoras, sobretudo, se o objetivo é o de uma formação humana integral. As reflexões a serem desenvolvidas ao longo de nosso estudo centralizam-se numa concepção de língua como interação e não como um produto fechado que se olha de fora, sem poder tocá-lo, conhecer seus usos e suas transformações ao longo da história da humanidade. Por isso, dominar a leitura e a escrita não se restringe ao atendimento das demandas mais cotidianas e pragmáticas, significa também desenvolver autonomia. Na Unidade 1 serão abordados os assuntos sobre as concepções de linguagem prevalecentes na atualidade, as relações entre a leitura e a escrita, bem como suas concepções, a importância da oralidade e a relação entre a literatura e a formação humana. Além desses temas, trataremos sobre o conceito de letramento, gêneros textuais e a distinção deles em relação aos tipos textuais, além de refletir sobre a definição de estratégias de leitura, buscando identificá-las no trabalho com os mais variados gêneros textuais. Na Unidade 2, você aprofundará seus conhecimentos sobre o texto, seus níveis e os aspectos gerais relacionados à textualidade. Compreenderá que a oralidade é uma prática social da língua em uso e possui condições específicas para a sua produção. Além disso, ampliará o conhecimento sobre o que são as metodologias ativas e como elas podem auxiliar no ensino da leitura e da escrita. Na Unidade 3, abordaremos a revisão das teorias da Aprendizagem que embasam o trabalho do Pedagogo e Psicopedagogo. Compreenderemos os distúrbios de aprendizagem de leitura e escrita, bem como conheceremos o campo de trabalho da Psicopedagogia e as intervenções psicológicas. Também vamos identificar os distúrbios de leitura e escrita, assim como as estratégias pedagógicas. Por fim, na última unidade, vamos adquirir conhecimento sobre a alfabetização e letramento. Bons estudos! Profᵃ. Jussara Saramento Profᵃ. Patricia Murara Stryhalski Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA ............................................................................................... 1 TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA ........................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 LÍNGUA: SISTEMA, INSTRUMENTO, COGNIÇÃO OU INTERAÇÃO ............................... 3 2.1 LÍNGUA E LINGUAGEM ............................................................................................................. 5 3 RELAÇÕES ENTRE A LEITURA E A ESCRITA ............................................................................ 6 3.1 CONCEPÇÃO DE LEITURA ........................................................................................................ 7 3.2 CONCEPÇÃO DE ESCRITA ......................................................................................................... 9 3.3 A IMPORTÂNCIA DA ORALIDADE ....................................................................................... 11 4 A LITERATURA E FORMAÇÃO HUMANA ............................................................................... 12 4.1 LINGUAGEM LITERÁRIA ........................................................................................................ 14 4.2 VEROSSIMILHANÇA ................................................................................................................. 16 4.3 PLURISSIGNIFICAÇÃO .............................................................................................................. 17 5 INTERTEXTUALIDADE .................................................................................................................. 17 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 23 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 24 TÓPICO 2 — LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS ..................................................... 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................27 2 LETRAMENTO ................................................................................................................................. 27 3 OS GÊNEROS TEXTUAIS OU DISCURSIVOS ......................................................................... 29 3.1 TIPOLOGIA T EXTUAL ............................................................................................................. 32 4 AS DIMENSÕES INTERPSICOLÓGICAS DA LEITURA ........................................................ 34 4.1 A DIMENSÃO INTERSUBJETIVA DA LEITURA ................................................................... 35 4.2 DIMENSÃO INTRASSUBJETIVA .............................................................................................. 36 5 INFERÊNCIA ...................................................................................................................................... 39 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 44 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 45 TÓPICO 3 — ESTRATÉGIAS DE LEITURA E DE ESCRITA ...................................................... 47 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47 2 ESTRATÉGIAS DE LEITURA E DE ESCRITA ............................................................................ 47 2.1 PREVISÃO OU ANTECIPAÇÃO ............................................................................................... 48 2.2 RESUMO ........................................................................................................................................ 49 2.2.1 Apagamento ........................................................................................................................ 49 2.2.2 Generalização ...................................................................................................................... 50 2.2.3 Construção ............................................................................................................................ 50 3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA E ESTRATÉGIAS DE LEITURA E DE ESCRITA ........................ 50 3.1 AS ETAPAS DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA .................................................................... 51 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 55 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 62 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 63 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 65 UNIDADE 2 — TEXTO, LEITURA E ESCRITA ............................................................................. 67 TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DO TEXTO ....................................................................................... 69 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 69 2 AFINAL, O QUE É UM TEXTO? ..................................................................................................... 69 2.1 COESÃO ........................................................................................................................................ 72 2.2 COERÊNCIA ................................................................................................................................. 75 2.3 INTENCIONALIDADE ............................................................................................................... 76 2.4 ACEITABILIDADE ....................................................................................................................... 77 2.5 SITUACIONALIDADE ................................................................................................................ 78 2.6 INTERTEXTUALIDADE ............................................................................................................. 78 2.7 INFORMATIVIDADE .................................................................................................................. 79 3 MODALIDADE ORAL DA LINGUAGEM .................................................................................. 80 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 85 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 86 TÓPICO 2 — ASPECTOS INDISSOCIÁVEIS ENTRE A LEITURA E A ESCRITA ................ 87 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 87 2 AUTOR, AUTORIA, LEITURA E ESCRITA ................................................................................. 87 3 O TRABALHO EDUCATIVO COM O TEXTO LITERÁRIO ................................................... 90 3.1 FORMAÇÃO DE LEITORES E FORMAÇÃO DOS LEITORES ............................................. 93 4 O TRABALHO EDUCATIVO COM O TEXTO INFORMATIVO ........................................... 95 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 98 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 99 TÓPICO 3 — TÉCNICAS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM PARA A LEITURA E A ESCRITA ....................................................................................... 103 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 103 2 METODOLOGIA E TÉCNICA DE ENSINO E APRENDIZAGEM ...................................... 103 2.1 PARA INÍCIO DE CONVERSA ................................................................................................ 104 2.2 MÃOS À OBRA ........................................................................................................................... 106 2.3 PARA FINALIZAR ..................................................................................................................... 109 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 114 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 117 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 118 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 120 UNIDADE 3 — O PSICOPEDAGOGO E A INTERVENÇÃO NOS PROCESSOS DE LEITURA E ESCRITA .................................................................................... 121 TÓPICO 1 — PSICOPEDAGOGIA: FORMAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO ................. 123 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 123 2 PSICOPEDAGOGIA: FORMAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO ....................................... 123 3 TEORIAS DA APRENDIZAGEM ................................................................................................ 124 3.1 COMPORTAMENTALISMO OU BEHAVIORISMO ............................................................ 124 3.2 APRENDIZAGEM SOCIAL – ALBERT BANDURA .............................................................125 3.3 JEAN PIAGET ............................................................................................................................ 127 3.4 LEV VYGOTSKY ........................................................................................................................ 128 3.5 DAVID AUSUBEL ....................................................................................................................... 129 4 SURGIMENTO DA PSICOPEDAGOGIA ................................................................................. 130 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 132 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 133 TÓPICO 2 — LINGUAGEM, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ...................................... 135 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 135 2 DESENVOLVIMENTO E LINGUAGEM .................................................................................... 135 3 ARTICULAÇÃO ENTRE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO .......................................... 136 3.1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ..................................................................................... 137 3.2 PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA – EMILIA FERREIRO ......................................... 138 3.2.1 Fases apresentadas na Psicogênese da língua escrita ................................................... 139 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 142 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 143 TÓPICO 3 — DISTÚRBIOS DE LEITURA E ESCRITA: ESTRATÉGIAS PARA A APRENDIZAGEM ..................................................................................... 145 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 145 2 PRINCIPAIS TRANSTORNOS QUE CAUSAM DIFICULDADE NA LEITURA E ESCRITA ........................................................................................................................................ 145 2.1 DISLEXIA ..................................................................................................................................... 146 2.1.1 Intervenção Psicopedagógica ........................................................................................... 148 2.2 DISGRAFIA ................................................................................................................................. 151 2.2.1 Intervenção Psicopedagógica ........................................................................................... 153 2.3 DISORTOGRAFIA ...................................................................................................................... 156 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 158 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 166 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 167 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 168 1 UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você será capaz de: • compreender que dependerá da concepção de língua assumida o trabalho educativo envolvendo as práticas sociais de leitura e de escrita; • identificar que a língua e linguagem possuem especificidades e uma está no interior da outra nas interações sociais; • demonstrar que a leitura e escrita são práticas sociais de interação na produção de sentidos; • reconhecer que a oralidade é um conhecimento a ser aprendido na escola; • reconhecer a literatura como produção humanizadora; • conceituar letramento como inserção do indivíduo nas produções da cultura escrita; • diferenciar os gêneros discursivos, que são produções humanas que circulam em esferas da atividade humana, das tipologia textuais, que são sequências que os textos têm e que o configuram daquela forma; • compreender que as funções superiores acontecem no nível interpsicológico e nível intrapsicológico; • identificar a dimensão intersubjetiva e intrassubjetiva da leitura; • operar com o conceito de inferência na materialidade linguística do texto. PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A LEITURA E A ESCRITA TÓPICO 2 – LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS TÓPICO 3 – ESTRATÉGIAS E LEITURA E DE ESCRITA 2 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 A LEITURA E A ESCRITA 1 INTRODUÇÃO Ninguém é capaz de viver hoje sem utilizar a linguagem como forma de comunicação. Isso significa que, para mover-se no mundo e entendê-lo junto com as outras pessoas que compartilham essa experiência, é necessário buscar nele mesmo os símbolos que representam o que queremos dizer, discutir, sentir, desejar, entre outras necessidades humanas. No âmbito escolar é importante compreender as concepções de língua que podem ser adotadas, a fim de ter um alinhamento com uma prática convergente. Esse é o assunto que trataremos neste primeiro tópico. Boa leitura!! 2 LÍNGUA: SISTEMA, INSTRUMENTO, COGNIÇÃO OU INTERAÇÃO Iniciamos nossos estudos sobre estratégias de leitura e de escrita situando nossas reflexões em relação ao que tomamos por linguagem. Essa “escolha” fará toda a diferença no trabalho a ser desenvolvido com o leitor, o autor e o texto. Por isso, é essencial que se saiba quais perspectivas teóricas podem ser assumidas, para então dar forma a uma prática pedagógica consciente e em relação direta com a concepção adotada. De acordo com as diferentes perspectivas existentes, segundo com Marcuschi (2008), podemos ver a língua como: a) um sistema fechado e acabado de regras que defende a autonomia de tais normas em relação às condições de produção, sem interferência social; b) um instrumento transmissor de informações, ou seja, a língua é um código e serve como meio de comunicação entre as pessoas; c) uma atividade cognitiva, ato de criação e expressão do pensamento específico da espécie humana; d) uma interação humana com funcionamento social, histórico e cognitivo, em que os sentidos são produzidos nas situações em que a língua é utilizada, ou seja, um conjunto de práticas sociais e históricas. Com base nessas orientações de Marcuschi (2008), demanda da compreensão do que é a língua, a relação entre o leitor, o autor e o texto. Vamos tentar entender essa relação... Na primeira concepção, a língua é entendida como um sistema fechado e acabado com regras bastante definidas. O texto é um produto pronto e do UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 4 autor, cabendo ao leitor limitar-se a entender “o que o autor quis dizer”; o contexto e o papel do interlocutor não relevantes nessa concepção. O trabalho com o texto é focado pelo uso do sistema, ou seja, dedicar-se a compreender os níveis fonológico, morfológico, sintático e semântico, dessa forma, o sujeito realiza exercícios de treino e repetição para aprender a teoria gramatical. A prática de leitura serve como instrumentos de avaliação da oralidade. Nessa concepção, [...] as pessoas não se expressam por bem porque nãopensam. A expressão se constrói no interior da mente, sendo sua exteriorização apenas uma tradução. A enunciação é um ato monológico, individual, que não é afetado pelo outro nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação acontece (TRAVAGLIA, 1996, p. 21). Na segunda concepção, a língua concebida como transmissora de informações, o leitor tem uma posição bem marcada com o foco no texto, que precisa ser decodificado e é um produto linear cuja compreensão é objetiva. “Essa perspectiva é pouco útil, mas muito adotada, em especial, pelos manuais didáticos, ao tratarem os problemas da compreensão textual” (MARCUSCHI, 2008, p. 60). Prevalecem, nessa linha, a importância dos elementos comunicativos (mensagem, receptor, código, canal, emissor, contexto). Para essa concepção o falante tem em sua mente uma mensagem a transmitir a um ouvinte, ou seja, informações que quer que cheguem ao outro. Para isso ele a coloca em código (codificação) e a remete para o outro através de um canal (ondas sonoras ou luminosas). O outro recebe os sinais codificados e os transforma de novo em mensagem (informações). É a decodificação (TRAVAGLIA, 1996, p. 21). A terceira concepção de língua enfatiza a capacidade inata que os sujeitos têm em compreender a língua que falam, por isso, a relevância nos aspectos cognitivos do trabalho com o texto, isto é, nas representações mentais que o leitor utiliza ao se deparar com o texto. Para Marcuschi (2008, p. 60), “a língua envolve atividades cognitivas, mas não é um fenômeno apenas cognitivo”. Já a língua vista como interação humana, última concepção apresentada, comporta sujeitos ativos que atuam sobre textos, levando em conta suas experiências e conhecimentos; o leitor atua com e sobre o texto, atribuindo sentidos, podendo concordar ou discordar do autor. Em outras palavras, leitor, autor e texto interagem na produção dos sentidos que se emerge num dado momento social e histórico, isto é, são as esferas sociais que determinarão como serão produzidos os enunciados necessários em seus respectivos âmbitos. A língua, nessa concepção, é um processo contínuo, nunca acabado, sempre em constante transformação, decorrente da interação entre os interlocutores que conversam, trocam experiências, expressam sentimentos, desenvolvem estudos, ou seja, interagem entre si numa dada esfera da atividade humana. Tal concepção deu-se graças aos estudos realizados no Círculo de Bakhtin, que conta com as reflexões e os estudos de diversos outros intelectuais, além do pensador russo Mikhail Bakhtin (1895 – 1975). TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA 5 2.1 LÍNGUA E LINGUAGEM Uma vez realizadas as reflexões teóricas acima, este material tem como objetivo que você, acadêmico, amplie seus conhecimentos sobre as práticas sociais de leitura e de escrita, que são produções humanas que se utilizam de línguas e de linguagens. Posto isso, é interessante que se considere as especificidades da língua e da linguagem, que não são opostas, mas uma está no interior da outra nas interações sociais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais adotam tais especifidades, indicando que: A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por uma finalidade específica; um processo que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história. [...], a língua é um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. Assim aprendê-la é aprender não só palavras, mas também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio social entendem e interpretam a realidade e a si mesmas (BRASIL, 1997, p. 24). Efetivamente, há um conjunto de individualidades, histórias, interesses, pensamentos, pretensões que subjazem a língua, o que se está dizendo é que na língua se “comporta a dimensão de sistema em uso, de sistema preso à realidade histórico-social do povo” (ANTUNES, 2009). Por isso, a língua não pode ser restringida a um conjunto de signos somente, ela está em constante transformação por meio de seus falantes, que vão atribuindo novos sentidos mediante o conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos e históricos sobre os quais agem e vivem. Dessa forma, a linguagem ganha forma e sentido na interação verbal, onde existe um combinado de estratégias de recepção, produção e distribuição de discursos, segundo a produção e intenção dos esquemas desses mesmos discursos. Por exemplo, um artigo científico a ser divulgado numa revista da área é produzido de acordo com certos esquemas que o constituem assim, e atende ainda às normas da revista para a publicação; um e-mail corporativo, que avisa aos seus colaboradores sobre um determinado assunto, apresenta também uma estrutura que o define como sendo um e-mail e seguem às normas da instituição quanto à redação desse gênero. Esclarecidos esses primeiros conceitos, nossos estudos serão direcionados às concepções das técnicas de leitura e escrita, que é o foco do próximo subtópico. UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 6 3 RELAÇÕES ENTRE A LEITURA E A ESCRITA Dos pictogramas sumérios, em aproximadamente 3200 a.C., até a impressão da Bíblia realizada por Johann Gutenberg, na Alemanha, em 1450 até 1455, chegando, na atualidade, com a explosão do avanço das tecnologias digitais de informação e comunicação – TDIC –, a leitura e a escrita vêm estabelecendo uma relação automática de causa e consequência, que leva muitos a acreditarem que quem lê, escreve bem. A leitura consiste em uma das condições que levam às pessoas à possibilidade de escrever, entretanto, não de um modo automatizado. Escrever é resultado de uma prática constante, planejada, refletida e requer inúmeras revisões, num processo crescente de melhoramento e aperfeiçoamento. FIGURA 1 – PICTOGRAMAS SUMÉRIOS FONTE: <http://expurgacao.art.br/antes-e-depois-da-sumeria/>. Acesso em: 13 jan. 2021. Quer saber um pouco mais sobre a relação entre pensamento e linguagem? Quando seres interplanetários deixam marcas na Terra, a Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma linguista especialista no assunto, é procurada por militares para traduzir os sinais e desvendar se os alienígenas representam uma ameaça ou não. No entanto, a resposta para todas as perguntas e mistérios pode ameaçar a vida de Louise e a existência de toda a humanidade. FONTE: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-226509/. Acesso em: 13 jan. 2021. DICAS TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA 7 FIGURA 2 – PRENSA MÓVEL FONTE: <https://bit.ly/3dY3dfB>. Acesso em: 13 jan. 2021. Decorrente dessa relação entre leitura e escrita, segundo Antunes (2009), em um meio de perceber as formas específicas e particulares da escrita é possível notar que não falamos e escrevemos do mesmo jeito, embora seja a mesma língua em que se fala e que se escreve, e se esteja em situações de interação cujo discurso pretendido seja o mesmo. Numa conversa informal entre amigos depois da aula, o discurso oral vai se constituindo à medida que os interlocutores (os amigos) interagem. Numa palestra sobre economia, por exemplo, o discurso é tomado por apenas um dos interlocutores. Por outro lado, na escrita, como os interlocutores não interagem no momento da produção do discurso, a recepção do material escrito, por quem vai lê-lo, é adiada. Isso não é, em medida alguma, uma desvantagem, pelo contrário, é uma possibilidade de planejar, revisar e reescrever, se necessário, o texto. 3.1 CONCEPÇÃO DE LEITURA Originado do latim legere, que significa escolher, captar com os olhos, o vocábulo leitura é bastante variado, com muitas aplicações e acepções. Segundo o dicionário Houaiss (2010, p. 474), significa “1 o ato ou o hábito de ler 2 o que se lê 3 fig. maneira de compreender um texto, uma mensagem, um fato 4 o ato de decifrar qualquer notação ou resultado”. “A leitura é uma atividade altamente complexa de produção de sentidos que se realizam,evidentemente, com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes (KOCH; ELIAS, 2010, p. 57). De acordo com Britto (2012, p. 18), “as palavras não têm propriamente sentido original e aquilo que significaram em outros tempos pode ser apenas memória encravada nos sentidos novos”, ou seja, o significado das palavras muda conforme o tempo e a circunstância que são empregadas. Por isso, é importante que se tenha uma concepção bem definida do que é leitura. Solé (2009) ressalta UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 8 que leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto, que, de acordo com Britto (2012), o controle dessa ação intelectual permite uma ação reflexiva sobre o que se lê, sobre o mundo e sobre si próprio. Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato que precede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra defino-me em relação ao outro, isto é, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra apoia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor (BAKHTIN, 1981, p. 113). Na tirinha do Armandinho, personagem criado pelo ilustrador Alexandre Beck, ilustra-se a condição a ser superada pelo domínio da técnica da leitura e da escrita, qual seja, agir de maneira reflexiva sobre o que se lê e compreender a quais fins se propõem as leituras que são tomadas em momentos distintos da interação, seja no âmbito escolar, profissional ou pessoal. FIGURA 3 – TIRINHA DO ARMANDINHO FONTE: <https://bit.ly/3tbHZBl>. Acesso em: 18 dez. 2020. Essas mudanças, nas formas das pessoas utilizarem a linguagem, desencadeou uma diversidade de textos que circulam nas mais diferentes esferas das atividades humanas. De acordo com Bakhtin (2016 [1952-1953], p. 11), “Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende- se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam multiformes quantos os campos da atividade humana”. Com essa diversidade de gêneros, promoveu-se uma abertura nas formas de pensar sobre e com o texto, ou seja, a leitura de um bilhete é diferente da leitura de um artigo científico, que por sua vez, é diferente da leitura de uma publicação em uma rede social. Como vimos, é necessário que se compreenda, na interação entre o leitor e o texto, que a leitura é um processo ativo e dinâmico, em que os significados e os sentidos vão sendo trazidos não pela cabeça de quem lê, mas pelo quanto esse leitor teve acesso aos mais variados tipos de conhecimento. Provém desse “acesso”, que ocorre por meio das atividades de estudo, as abstrações que o leitor tem em sua consciência, por isso, ele consegue decodificar/decifrar, compreender/interpretar, concordar/discordar, analisar/avaliar a materialidade linguística que é o texto, que não está encerrado e pronto, mas em constante produção de sentidos. TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA 9 3.2 CONCEPÇÃO DE ESCRITA Leia com atenção este excerto retirado da obra Infância, de Graciliano Ramos, publicada pela primeira vez em 1945: Tive a ideia infeliz de abrir um desses folhetos, percorri as páginas amarelas, de papel ordinário. Meu pai tentou avivar-me a curiosidade valorizando com energia as linhas mal impressas, falhadas, antipáticas. Afirmou que as pessoas familiarizadas com elas dispunham de armas terríveis. Isto me pareceu absurdo: os traços insignificantes não tinham feição perigosa de armas (RAMOS,1981, p. 90). O livro Infância é composto por vários capítulos que narram, num misto de imaginação e memórias, a infância do autor, no nordeste alagoano, na passagem do século XIX para o XX. Graciliano Ramos eternizou pela escrita lembranças da vida dele e possibilitou que outras pessoas conheçam mais sobre isso. Podemos perceber que o uso social da escrita, nesse caso, oportunizou ao autor resgatar fatos e vivências passados e trazê-los para um momento presente, direcionando- os a um futuro que permitirá que qualquer pessoa tenha acesso ao conhecimento daquelas experiências. Entretanto, “a escrita, que não foi o primeiro dos mecanismos de fixação cultural utilizados pela humanidade, embora se possa afirmar que é dos mais antigos” (ZILBERMAN; SILVA, 2004, p. 11), surgiu não como uma forma de comunicação, mas como uma estratégia de registro de relações comerciais, preconizando uma certa organização da sociedade. É uma tecnologia que permitiu aos homens e mulheres “esquecer sem esquecer” (BRITTO, 2012, p. 102), expandindo a capacidade de memória – já não precisamos guardar todas as informações, recados, datas, fatos, nomes na mente; eles podem ser armazenados fora de nosso corpo. Para Koch e Elias (2009), constituem a escrita o ato criativo, a expressão do pensamento e o trabalho com o sistema linguístico, num processo que envolve dimensões de ordem distintas como a linguística, a cognição, a pragmática e uma abordagem sócio-histórica e cultural, em que interagem leitor, texto e autor Sugestão de leitura: BRITTO, Luiz Percival Leme Britto. Ao revés do avesso: leitura e formação. São Paulo: Pulo do gato, 2015. BRITTO, Luiz Percival Leme Britto. Inquietudes e desacordos: leitura além do óbvio. Campinas-SP: Mercados de letras, 2012. DICAS UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 10 na produção de sentidos. Para Garcez (2002, p.11), “ a escrita é uma construção social, coletiva, tanto na história humana como na história de cada indivíduo”, que se refere sempre ao outro, que na reflexão sobre as coisas da humanidade se volta para o próprio interior, retornando ao grande coletivo – tal movimento é constante, nunca cessa. Escrever, portanto, não é um ato natural, é um processo e precisa ser ensinado, o que aponta para o papel fundamental que tem a escola no ensino e na aprendizagem da escrita. O professor, em seu trabalho educativo sobre escrita, pode contextualizar o gênero textual e-mail, constatando com os alunos em qual esfera da atividade humana ele é utilizado, o que faz dele um e-mail, por que e onde ele é utilizado, entre outras informações, mas, de nada adiantará essas indicações das condições de uso desse gênero, se exigir do aluno que o texto dele tenha no mínimo três orações em voz passiva. O texto fica sem sentido. FIGURA 4 – IMAGEM DA OBRA CURIOSIDADE, DE GERRIT TER BORCH,1660 FONTE: <http://www.essentialvermeer.com/related_vermeer_paintings/writing.html>. Acesso em: 18 dez. 2020. O registro de textos é um processo bastante complexo e requer recursos que permitam ao leitor, num momento posterior ao da produção escrita, produzir os sentidos trazidos também pelo autor. Quem escreve, ao invés de usar os recursos da língua oral, como entonação, pausas, gestos, expressões faciais, silêncios, vai utilizar os símbolos gráficos, recursos estilísticos e um conteúdo léxico que possam ajudá-lo a produzir seu texto. Entretanto, o trabalho com a escrita não se limita a um processo mecânico que desenvolve as habilidades de empregar os sinais gráficos, nem pode ser uma prática artificial de reprodução e repetição de frases isoladas e sem contexto, uma vez que possui valor interacional entre o leitor e o texto, o que implica ser uma atividade planejada, pois há “envolvimento entre sujeitos, para que aconteça a comunhão das ideias, das informações e das intenções pretendidas” (ANTUNES, 2003, p.45). TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA 11 A escrita possui etapas distintas, mas bem definidas de sua ação, pois quem escreve precisa planejar sobre o que, para quem e como vai escrever, depois dessas escolhas é necessária uma revisão daquilo que foi escrito, o que sugere que escrever não é operar de modo automático.É ação pensada, sendo que o resultado do produto dessa atividade dependerá de como o autor desempenhou e respeitou cada uma dessas etapas. 3.3 A IMPORTÂNCIA DA ORALIDADE Tratar sobre a oralidade como um conhecimento a ser aprendido na escola refere-se a compreendê-la como interação em sua especificidade, assim como a leitura e a escrita, ela possui marcas linguísticas que a configuram, entretanto, nenhuma dessas três dimensões do uso da língua (escrita, leitura e oralidade) são opostas nem uma é melhor que a outra, como modalidades distintas, elas apresentam características que as configuram como sendo o que são, objetivações humanas que devem ser apropriadas e têm, também, na escola o lócus propício para isso. Observe a imagem a seguir e reflita sobre a forma como esses vendedores divulgam os seus produtos. FIGURA 5 – VENDEDORES AMBULANTES NA PRAIA FONTE: <https://bit.ly/3a1BUjp>. Acesso em: 19 dez. 2020. Esses indivíduos produzem textos orais numa determinada esfera da vida social com uma finalidade específica, nesse caso, se eles entregassem um texto escrito aos possíveis clientes, como panfletos ou bilhetes, talvez a divulgação deles não atingisse com o mesmo êxito o número de pessoas que atinge quando se utilizam da oralidade. As atividades com a oralidade a serem planejadas no trabalho com o aluno não se restringem à reprodução de registros cotidianos, como diálogos, elogios, avisos, é necessário explicitar que existem gêneros de discursos orais que exigem também um planejamento e seguem uma sistematização, como exposições orais, narrações de experiências vividas, descrições. UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 12 Antunes (2003) apresenta as características que o trabalho com a oralidade deve apresentar, com a intervenção do professor: a) orientação para a coerência global, ou seja, ensinar o aluno a reconhecer que a unidade temática (tema do texto) do texto assume características conforme as situações de conversação; b) articulação entre os diversos tópicos ou subtópicos da interação, no uso de elementos reiterativos ou de elementos conectores, como repetições, substituições pronominais, associações semânticas entre as palavras, conjunções; c) facilitação do convívio social, participar cooperativamente, respeitando a vez de falar e de ouvir; rejeição a qualquer atitude discriminatória; escuta atenta e respeito aos mais diferentes tipos de interlocutores; d) reconhecimento das funções da entonação, das pausas e de outros recursos suprassegmentais na construção do sentido do texto, assim como as expressões fisionômicas, gestos e recursos de representação cênica, como levantar-se, movimentar-se; e) inclusão de momentos de apreciação e reflexão sobre as realizações estéticas próprias da literatura improvisada, dos cantadores e repentistas. A relação entre leitura, escrita e oralidade expressam produções humanas bastante complexas, e que às vezes, passam despercebidas por nós. Na sugestão de vídeo a seguir, podemos acompanhar a leitura do poema Enchente, de Cecília Meireles. A musicalidade do poema, ao ser lido, sugere a reprodução do som da chuva, devido ao emprego do fonema /x/ em suas representações em x e ch. 4 A LITERATURA E FORMAÇÃO HUMANA A agitação, a fugacidade e a urgência da vida moderna tem sido, em certa medida, devastadora para a condição humana, pois a luta diária pela sobrevivência tem relegado a um segundo plano outras necessidades tão importantes quanto essa. Nesse sentido, a escola é local privilegiado para oportunizar às crianças e aos jovens as formas de acesso às produções literárias de diferentes tempos e momentos históricos que trazem à tona aquilo que nos humaniza. Sugestão de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=fEYsrqQvw2I. Poema Enchente, de Cecília Meireles. DICAS TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA 13 FIGURA 6 – AGITAÇÃO DE PESSOAS NAS CIDADES FONTE: <https://bit.ly/3g1msra>. Acesso em: 13 jan. 2020. A literatura, arte da palavra, é essencial à humanidade, uma vez que essa produção humana traz presente a ideia de sujeitos mais humanizados. Antônio Cândido (1995, p. 249) comenta sobre essa humanização: [...] entendo aqui por humanização [...] o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante. Trata-se de empreender esforços no sentido de dotar o leitor da capacidade de se apropriar da literatura, não apenas ser capaz de ler poesias, dramas ou narrativas, mas pela experiência literária, refletir sobre a existência, ter consciência do mundo e de si próprio. Arte opõe-se ao entretenimento, uma vez que “o entretenimento me faz esquecer que eu morro. A arte me faz lembrar da própria morte” (BRITTO, 2003, p.111). Essa dimensão ética e estética assumida no trabalho com a literatura permite uma possibilidade de pensar e construir a condição do humano. Sartre (2004 [1948], p. 28) afirma que a “[...] literatura é um perpétuo ensinamento que se dá contra a vontade expressa daqueles que ensinam”, pois retrata o homem em sua existência, gerando um conhecimento que permite a reflexão sobre essa condição. O trabalho educativo com a arte, nesse caso, a literatura, permite o desenvolvimento das habilidades socioemocionais devido às reflexões que podem ser proporcionadas mediante um planejamento voltado para esse fim. Mesmo para as crianças pequenas, o contato com a literatura se dá por meio do outro (professor, professora, mãe, pai, irmãos), pois as crianças leem com os ouvidos (BRITTO, 2012), ou seja, experienciam o discurso escrito por meio de outra voz. UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 14 FIGURA 7 – CRIANÇAS ESCUTANDO A LEITURA REALIZADA PELA PROFESSORA FONTE: <https://www.jrmcoaching.com.br/blog/5a-lei-da-aprendizagem-conte-historias/>. Acesso em: 20 dez. 2020. O trabalho educativo com a literatura que assume essa perspectiva possibilita ao aluno o contato com a leitura de textos e de obras literárias, diferentes daqueles que estão habituados a ver nos livros didáticos ou em textos do cotidiano, permite, portanto, acesso a modos diferentes de pensar, sentir, viver, refletir, posicionar- se frente às coisas do mundo. O lidar com a palavra é tarefa do professor que se dispõe, pela mediação com os textos, fazer ponte entre o aluno e o conhecimento e reflexão sobre sua existência e a dos outros. 4.1 LINGUAGEM LITERÁRIA Como vimos, a literatura é necessária ao homem, devido a isso, precisa fazer parte do trabalho educativo a fim de promover nos alunos reflexões subjetivas do ser social que abarcam o pensar crítico, contemplativo, filosófico, indo além das formas cotidianas e imediatas de pensar sobre o mundo. Para prosseguirmos com os estudos sobre essas proposições, leia os textos a seguir. Texto 1: O bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA 15 O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. FONTE: BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro, Ediouro, 2005. Texto 2: Moradores cercam caminhão de lixo para pegar restos de comida em Pernambuco Moradores do bairro de São Benedito, em Olinda, cercaram na noite de terça-feira (11) um caminhão de lixo para pegar restos de alimento descartados por um supermercado. As pessoas se aproximaram do veículo no momento em que o caminhão parou em frente ao estabelecimento. O grupo colocou a comida em sacos plásticos. A empresa privada responsável pela coleta informou que o estabelecimentonão possui garagem e, por isso, o caminhão estava estacionado no meio da rua. Comunicou também que os resíduos são prensados dentro do veículo, mas que os funcionários recebem treinamento para não reagir quando são cercados por moradores. O flagrante foi feito pela radialista e estudante de jornalismo Suzanna Borba e foi ao ar na edição desta terça-feira (11) do Jornal Nacional. FONTE: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/06/moradores-cercam-caminhao-de- -lixo-para-pegar-restos-de-comida-em-pernambuco.shtml>. Acesso em: 10 jan. 2021. O Texto 1, O bicho, foi escrito por Manuel Bandeira em 1947, faz uma crítica à realizada brasileira daquela época. Escrito em versos, organizados em estrofes, o texto é considerado um poema. Embora identifique o “bicho” que se alimenta dos desperdícios das pessoas, como sendo um ser humano, não revela o nome dele, mantém-no no anonimato nem dá pistas de onde e quando aconteceu o ocorrido, se viu realmente essa deplorável cena. O poema é verossímil. Já no Texto 2, podemos identificar, observando a fonte, que se trata de uma notícia veiculada num site de notícias. As pessoas são identificadas como moradores de um bairro da cidade de Olinda, no estado de Pernambuco e o fato ocorrido é situado num tempo determinado, incluindo a participação de outros agentes que comprovam o acontecimento, a empresa privada responsável pela coleta dos resíduos e a radialista/estudante de jornalismo que flagrou a cena. UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 16 O segundo texto, Texto 2, tem por objetivo repassar uma informação ao leitor, por isso precisa ser claro, objetivo, inclusive para comprovar com fatos ou vozes de autoridade o que está comunicando ao leitor. Textos com essas características são chamados de não literários. O Texto 1, no poema O bicho, há o predomínio da forma como o texto foi escrito, a escolha das palavras, a criação do autor, sem necessidade de comprovar com argumentos ou provas a situação apresentada ao leitor, embora, permita uma reflexão sobre a condição de pobreza em que muitas pessoas vivem. Podemos dizer que o Texto 1 é um texto literário, pois apresenta elementos de literalidade como verossimilhança e plurissignificação. É sobre esses conceitos que vamos, a seguir, saber um pouco mais! 4.2 VEROSSIMILHANÇA A verossimilhança pode ser caracterizada, em uma obra literária, como uma aproximação da realidade, ou seja, é uma referência direta ou indireta aos fatos sociais, históricos ou até as pessoas de um determinado lugar ou tempo da realidade. Observe a figura a seguir: FIGURA 8 – GUERNICA, DE PABLO PICASSO, 1937 FONTE: <https://www.infoescola.com/pintura/guernica/>. Acesso em: 13 jan. 2021. A obra do pintor espanhol, Pablo Picasso, é uma referência ao bombardeio aéreo realizado durante a Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939) à cidade basca que leva o mesmo nome, Guernica. Podemos observar que o artista buscou transmitir, em sua obra, a atmosfera que cercou as três horas de lançamentos de bombas e que custou a vida de 1 645 pessoas. TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA 17 Poeminho do contra Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho. Eles passarão... Eu passarinho! FONTE: <https://www.culturagenial.com/poeminho-do-contra-mario-quintana/>. Acesso em: 10 jan. 2021. 4.3 PLURISSIGNIFICAÇÃO A linguagem literária caracteriza-se pelo uso estético da palavra, isto quer dizer que, ao escrever, o autor usa de modo seletivo e criativo as palavras com as quais irá compor seu texto, inclusive criar novos vocábulos e atribuir novos sentidos as palavras. Observe o poema do escritor gaúcho Mário Quintana: Podemos observar que a palavra “passarinho”, nesse poema, não se refere a uma espécie da classe das aves, pois apresenta um significado diferente disso, que somente será desvelado quando leitor e texto se confrontarem. Nesse sentido, podemos dizer que plurissignifação (pluri = vários, significação = sentidos) é a propriedade que o texto literário tem de permitir aos mais variados leitores as possibilidades de produzirem sentido, conforme sua subjetividade, entretanto, não se limitando a ela. 5 INTERTEXTUALIDADE A intertextualidade pode ser entendida em relação “[...] aos fatores que fazem a utilização de um texto dependente do conhecimento de outro(s) texto(s)” (VAL, 1993, p. 15), portanto, quanto mais contato com essas produções humanas, mais conhecimento entre os textos teremos. Conforme Bakhtin (1997, p. 41), “a literatura não é produzida como objeto de estudo estanque, imanente e cristalizado, mas, sim, como constante diálogo entre textos e culturas, constituindo-se a partir de permanentes processos de retomadas, empréstimos e trocas”. Nesse sentido, podemos dizer que intertextualidade é um recurso que permite estabelecer uma relação de sentido entre textos, em que elementos de um estão referidos no outro, seja pelo conteúdo ou forma. Essa referência poder ser explícita ou implícita. Para uma melhor compreensão desse conceito, vejamos a seguinte figura: UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 18 FIGURA 9 – CAMPANHA PUBLICITÁRIA “CONTOS DE FADAS” DO GRUPO BOTICÁRIO FONTE: <https://bit.ly/329vWIA>. Acesso em: 14 jan. 2021. Quando lemos, nessa peça de uma propaganda veiculada alguns anos atrás em grandes meios de comunicação, a frase “Use O Boticário e ponha o Lobo Mau na coleira”, buscamos nossos conhecimentos sobre personagens de conhecidas histórias infantis para produção de sentidos, nesse caso, a história “Chapeuzinho Vermelho”. Temos, nesse exemplo, dois textos em que há referências de uma peça de campanha publicitária associada a uma história dos contos de fadas. Apresentamos a seguir, outros dois exemplos de intertextualidade com referências à história “Chapeuzinho Vermelho”, a crônica de Mário Prata “Chapeuzinho Vermelho de raiva”, e de Chico Buarque, “Chapeuzinho Amarelo”. Texto 1: Chapeuzinho Vermelho de raiva – Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho da vovó, fica. – Mas vovó, que olho vermelho… E grandão… Que que houve? – Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. Aliás, está queimada, hein? – Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva a mal, não, mas a senhora está com um nariz tão grande, mas tão grande! Tá tão esquisito, vovó. – Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização do bosque que é um Deus nos acuda. Fico o dia todo respirando este ar horrível. Chegue mais perto, minha netinha, chegue. – Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir de casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos chego aqui com a minha moto. – Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme? – Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a senhora. Olha aí: margarina, Helmmans, Danone de frutas e até uns pacotinhos de Knorr, mas é para a senhora comer um só por dia, viu? Lembra da indigestão do carnaval? TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA 19 – Se lembro, se lembro… – Vovó, sem querer ser chata. – Ora, diga. – As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E ainda por cima, peluda. Credo, vovó! – Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. Onde se viu fazer música deste tipo? Um horror! Você me desculpe, porque foi você que me deu, mas estas guitarras, é guitarra que diz, não é? Pois é; estas guitarras são muito barulhentas. Não há ouvido que aguente, minha filha. Música é a do meu tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô, dançando valsas…. Ah, esta juventude está perdida mesmo. – Por falar em juventude o cabelo da senhora está um barato, hein? Todo desfiado, pra cima, encaracolado. Que qué isso? – Também tenho que entrar na moda, não é, minha filha? Ou você queria que eu fosse domingo ao programa do Chacrinha de coque e com vestido preto com bolinhas brancas? Chapeuzinho pula para trás: – E esta boca imensa???!!! A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava: – Escutaaqui, queridinha: você veio aqui hoje para me criticar é?! FONTE: <https://armazemdetexto.blogspot.com/2019/04/cronica-chapeuzinho-vermelho-de- -raiva.html>. Acesso em: 20 dez. 2020. Texto 2: Chapeuzinho Amarelo Era a Chapeuzinho Amarelo. Amarelada de medo. Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho. Já não ria. Em festa, não aparecia. Não subia escada, nem descia. Não estava resfriada, mas tossia. Ouvia conto de fada, e estremecia. Não brincava mais de nada, nem de amarelinha. Tinha medo de trovão. Minhoca, pra ela, era cobra. E nunca apanhava sol, porque tinha medo da sombra. Não ia pra fora pra não se sujar. Não tomava sopa pra não ensopar. Não tomava banho pra não descolar. Não falava nada pra não engasgar. Não ficava em pé com medo de cair. UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 20 Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo. Era a Chapeuzinho Amarelo… E de todos os medos que tinha O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO. Um LOBO que nunca se via, que morava lá pra longe, do outro lado da montanha, num buraco da Alemanha, cheio de teia de aranha, numa terra tão estranha, que vai ver que o tal do LOBO nem existia. Mesmo assim a Chapeuzinho tinha cada vez mais medo do medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO. Um LOBO que não existia. E Chapeuzinho amarelo, de tanto pensar no LOBO, de tanto sonhar com LOBO, de tanto esperar o LOBO, um dia topou com ele que era assim: carão de LOBO, olhão de LOBO, jeitão de LOBO, e principalmente um bocão tão grande que era capaz de comer duas avós, um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz… E um chapéu de sobremesa. Mas o engraçado é que, assim que encontrou o LOBO, a Chapeuzinho Amarelo foi perdendo aquele medo: o medo do medo do medo do medo que tinha do LOBO. Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo. Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo. O lobo ficou chateado de ver aquela menina olhando pra cara dele, só que sem o medo dele. Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo, porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo. É feito um lobo sem pelo. Um lobo pelado. O lobo ficou chateado. Ele gritou: sou um LOBO! Mas a Chapeuzinho, nada. E ele gritou: EU SOU UM LOBO!!! TÓPICO 1 — A LEITURA E A ESCRITA 21 E a Chapeuzinho deu risada. E ele berrou: EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!! Chapeuzinho, já meio enjoada, com vontade de brincar de outra coisa. Ele então gritou bem forte aquele seu nome de LOBO umas vinte e cinco vezes, Que era pro medo ir voltando e a menininha saber com quem não estava falando: LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO Aí, Chapeuzinho encheu e disse: “Para assim! Agora! Já! Do jeito que você tá!” E o lobo parado assim, do jeito que o lobo estava, já não era mais um LO-BO. Era um BO-LO. Um bolo de lobo fofo, tremendo que nem pudim, com medo de Chapeuzim. Com medo de ser comido, com vela e tudo, inteirim. Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo, porque sempre preferiu de chocolate. Aliás, ela agora come de tudo, menos sola de sapato. Não tem mais medo de chuva, nem foge de carrapato. Cai, levanta, se machuca, vai à praia, entra no mato, Trepa em árvore, rouba fruta, depois joga amarelinha, Com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro, Com a sobrinha da madrinha E o neto do sapateiro. Mesmo quando está sozinha, inventa uma brincadeira. E transforma em companheiro cada medo que ela tinha: O raio virou orrái; barata é tabará; a bruxa virou xabru; e o dia bo é bodiá. ( Ah, outros companheiros da Chapeuzinho Amarelo: o Gãodra, a Jacoru, o Barão-tu, o Pão Bichô pa… E todos os tronsmons.) FONTE: BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. São Paulo: José Olympio, 2015. Sugestão de leitura da crônica Exigências da vida moderna, de Luis Fernando Veríssimo, para refletirmos sobre a relação entre a literatura e a condição humana. Exigências da vida moderna Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes. DICAS UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 22 Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo. Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão). Cada dia uma Aspirina, previne infarto. Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso. Um copo de cerveja, para… não lembro bem para o que, mas faz bem. O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber. Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver. Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia… E não esqueça de escovar os dentes depois de comer. Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax. Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia. Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito. As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma). E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando. Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações. Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo – e nem estou falando de sexo tântrico. Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação. Na minha conta são 29 horas por dia. A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo! Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher… na sua cama. Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio. Agora tenho que ir. É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal… Tchau! Viva a vida com bom humor!!! Luis Fernando Veríssimo FONTE: <https://www.asomadetodosafetos.com/2016/08/exigencias-da-vida-moderna-luis- fernando-verissimo.html>. Acesso em: 22 dez. 2020. 23 Neste tópico, você aprendeu que: • A língua pode ser vista como: (i) um sistema fechado e acabado de regras; ou (ii) um instrumento transmissor de informações; ou (iii) uma atividade cognitiva; ou (iv) uma interação humana. • Língua e linguagem possuem especificidades, que não fazem delas contrários entre si, pois uma está no interior da outra nas interações sociais. • Leitura e escrita são práticas sociais também com características próprias, embora mantenham uma relação na produção de sentidos. • A leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto. • A escrita não é uma atividade automatizada, pois requer planejamento e revisão. • A oralidade é um conhecimento a ser aprendido na escola, e é necessário compreendê-la como interação em sua especificidade. • A literatura é a arte da palavra, e é essencial à humanidade, uma vez que essa produção traz presente a ideia de sujeitosmais humanizados. • A linguagem literária utiliza recursos de expressividade como a verossimilhança e a plurissignificação. • A Intertextualidade é um recurso que permite estabelecer uma relação de sentido entre textos, em que elementos de um estão referidos no outro, seja pelo conteúdo ou pela forma. RESUMO DO TÓPICO 1 24 1 Associe as concepções de linguagem adotadas nos exemplos de atividades a seguir: (A) Concepção de língua como um sistema fechado de regras. (B) Concepção de língua como um instrumento transmissor de informações. (C) Concepção de língua como interação humana com funcionamento social, histórico e cognitivo. ( ) Atividade 1 – Leia a letra da música Como uma onda, de Lulu Santos: Nada do que foi será De novo do jeito que já foi um dia Tudo passa, tudo sempre passará A vida vem em ondas Como um mar Num indo e vindo infinito Tudo que se vê não é Igual ao que a gente viu há um segundo Tudo muda o tempo todo no mundo Não adianta fugir Nem mentir Pra si mesmo agora Há tanta vida lá fora Aqui dentro sempre Como uma onda no mar Atividade Oral 1 – Releia os ditos populares: “O tempo é o melhor remédio.” Na vida, tudo passa! Tudo tem seu tempo. Nada como um dia depois do outro.” Na sua opinião, qual deles representa melhor o que a música expressa? 2 O compositor deu a essa música que fala sobre o tempo o título Como uma onda. Qual seria a relação entre o tempo e as ondas do mar? BORGATTO, A. M. T. et al. Tudo é linguagem. 8º ano/7ª série. São Paulo: Ática, 2006, p. 8-9. ( ) Atividade 2 – Observe os elementos da comunicação: AUTOATIVIDADE 25 I- Emissor: Revista Veja. II- Receptor: os leitores da publicação. III- Canal: língua portuguesa. IV- Código: mídia impressa. V- Contexto ou referente: principal - bullying nas escolas. VI- Mensagem: Abaixo a tirania dos valentões (principal). Está(ão) INCORRETOS: a) ( ) I, III b) ( ) III, IV c) ( ) IV, VI d) ( ) V e VI FONTE: <http://professorjeanrodrigues.blogspot.com/2018/07/atividade-sobre-elementos-da- -comunicacao.html>. Acesso em: 10 jan. 2021. ( ) Atividade 3 – Trabalhando o ritmo. Você vai ler dois poemas com os ritmos bem marcados. Para percebê-los, vamos organizar uma leitura expressiva. O poema Semente de alegria pode ser lido altamente por meninos e meninas: as meninas leem o primeiro verso e os meninos, o segundo, e assim por diante. O importante é manter o ritmo e a expressividade durante a leitura. Para sentir melhor esse ritmo, acompanhe cada som com um leve bater de palmas. Quando o som for mais forte, acentue um pouco a força da batida. Antes da leitura definitiva, é bom treinar com seus colegas. Para o poema Ritmo, que está na página seguinte, organize- se com os colegas para fazer um jogral (TERRA, E.; CAVALLETE, F. Português para todos. 5ª série. São Paulo: Scipione, 2002, p. 125). 2 Observe os anúncios dos produtos da empresa varejista de hortifrutigranjeiros Hortifruti. Depois respondas às questões a e b. 26 FONTE: <https://www.hortifruti.com.br/comunicacao/campanhas/hollywood/>. Acesso em: 13 jan. 2021. a) Quais elementos intertextuais estão referenciados em cada um dos três anúncios? b) As referências de intertextualidade apresentadas nos anúncios – levando em conta que os produtos comercializados são hortifrútis – estabelecem uma relação com o leitor (que pode ser um consumir). Que relação é essa? O que ela sugere? 27 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS 1 INTRODUÇÃO Uma proposta de trabalho educativo com os diferentes gêneros textuais ou discursivos deve estar ligado às demandas tão variadas de leitura comuns na atualidade, por isso, é preciso que conceitos como letramento e alfabetização, gêneros discursivos e tipologia textual estejam bem definidos no trabalho educativo. Neste tópico, esses serão os temas abordados. Assim, você poderá expandir seus conhecimentos nesses conceitos tão atuais e utilizados na prática docente. Boa leitura! 2 LETRAMENTO O conceito de letramento foi utilizado pela primeira vez, no Brasil, por Mary Kato, em 1986, período no qual muitas publicações eram realizadas sobre as habilidades de leitura e de escrita, uma vez que o país estava numa transformação político-social que exigiu a revisão de algumas práticas no âmbito escolar. O termo é uma tradução da palavra em inglês literacy, que, originalmente, significa condição daquele que aprende a ler e escrever, na atualidade, em muitos tradutores on-line, o termo é traduzido como alfabetização. Entretanto, letramento e alfabetização não são sinônimos, para Soares (2003, p. 49): “ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a escrever: aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita e de decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é tornar a escrita “própria”, ou seja, é assumi-la como sua propriedade”. Considerando a citação de Soares (2003) e observando a imagem a seguir, verificamos que alfabetização e letramento possuem aspectos bastante diferentes. No exemplo da Figura 10, o aluno apropriou-se um gênero discursivo bastante frequente no âmbito escolar, inclusive se observarmos, a composição e a unidade temática foram organizadas de tal modo que a produção do menino é considerada um bilhete – embora com suas particularidades, que nesse momento não nos cabem analisar. 28 UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA FIGURA 10 – MENINO ESCREVEU BILHETE EM NOME DA PROFESSORA PARA FALTAR À ESCO- LA EM BOCAINA (SP) FONTE: <https://glo.bo/3d72lG3>. Acesso em: 10 jan. 2020. Sob um ponto de vista mais amplo, alguém pode ser analfabeto, mas não iletrado, ou seja, embora não domine o sistema alfabético, insere-se tranquilamente na sociedade produzindo e interpretando textos, integra-se a uma cultura letrada. Sabe produzir textos adequados para cada situação comunicativa da qual faz parte, na qual interage. No mundo em que nos inserimos hoje, saber ler e escrever é mais do que codificar ou decodificar signos linguísticos, é ler o mundo, é usar a leitura e a escrita em sua função social. Isso também sugere que há quem seja alfabetizado, mas não letrado, posto que não consegue produzir, ler e interpretar textos nos diferenciados contextos em que surgem em momentos diferenciados no convívio com outras pessoas, não se inserindo, portanto, em uma cultura letrada. Ou seja, há quem saiba decifrar a língua oral e escrita, mas não consegue entender seu significado dentro do contexto comunicativo, não analisa, não interpreta, não consegue fazer inferências. Desse modo, “a palavra letramento, que hoje é de circulação corrente, refere-se não à mera capacidade de representar os sons na escrita, mas sim às formas de inserção na sociedade a que o indivíduo se habilita pelo fato de utilizar de maneira competente a escrita” (ILARI, 1985, p. 17). Letrar, portanto, é dominar a língua, especialmente a escrita, adequando seu uso aos diferentes contextos e situações comunicativas. Isso significa saber não apenas as estruturas relativas à própria língua, mas as questões que envolvem seu uso, os aspectos históricos, culturais, sociais que a constituem como tal. Assim, o letramento é visto como uma forma de inserção do indivíduo na cultura escrita, ocorrendo a partir do momento em que este se vê envolvido com as produções da cultura escrita. Por isso, a escola é um espaço tão importante para este processo, uma vez que seguindo a perspectiva vigente de alfabetização de ensino de língua, o aluno está exposto aos mais variados gêneros textuais, trabalhando com eles, refletindo sobre eles e sendo conduzido a produzi-los eficientemente. TÓPICO 2 — LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS 29 Uma prática pedagógica que se organiza pelas práticas de letramento pressupõe uma competência de uso da leitura e da escrita contextualizada e em relação aos usos práticos dos mais variados tipos de textos. Isso desenvolveria nos sujeitos a criticidade,o que lhe permitiria interagir, efetivamente, com os textos que circulam socialmente. 3 OS GÊNEROS TEXTUAIS OU DISCURSIVOS Em cada esfera da atividade humana circulam “tipos relativamente estáveis de enunciados, os denominados gêneros do discurso” (BAKHTIN, 2016 [1952-1953], p.12). Na esfera escolar, encontramos cartazes, relatórios, resenhas, resumos, mapas. Na esfera jurídica, circulam tipos como regimentos, leis, contratos, procuração. Na esfera midiática, nos relacionamos com blogs, talkshows, telejornais, entrevistas, reality shows. E assim ocorre em tantas outras esferas das atividades humanas, umas com as quais temos mais contato, outras nas quais temos pouco ou nenhum contato. A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multifacetada atividade humana e porque em cada campo dessa atividade vem sendo elaborado todo um repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que tal campo se desenvolve e ganha complexidade (BAKHTIN, 2016 [1952-1953], p. 12). Quando transitamos em alguma esfera da atividade humana, o que ocorre sempre, estipulamos relações interpessoais, ou seja, se estamos na esfera escolar, sabemos como agir nessa esfera, usando a linguagem e outras convenções características, isto é, conhecemos os gêneros do discurso dessa esfera. Se por acaso, circularmos em uma esfera que não conhecemos, precisamos nos apropriar dos gêneros que circulam ali, por exemplo, se não conhecemos o Instagram, não é possível postar fotos ou publicações ali, dessa forma, não interagimos com outras pessoas por meio dessa rede social. Marcuschi (2001) propõe uma análise dos gêneros discursivos orais e escritos produzidos em diferentes esferas das atividades humanas. 30 UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA FIGURA 11 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CONTÍNUO DOS GÊNEROS TEXTUAIS NA FALA E NA ESCRITA FONTE: Marcuschi (2001, p. 43) Além dessa representação gráfica do contínuo dos gêneros textuais na fala e na escrita, Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) sugerem que os gêneros podem ser agrupados em função de suas regularidades, desde que as finalidades sociais desses gêneros correspondam aos domínios da comunicação oral ou escrita, retomem as distinções tipológicas e sejam homogêneos em relação às capacidades de linguagem implicada. Observe no quadro a seguir os agrupamentos em função desses critérios. QUADRO 1 – AGRUPAMENTO DOS GÊNEROS EM FUNÇÃO DOS CRITÉRIOS Domínios sociais de comunicação ASPECTOS TIPOLÓGICOS Capacidades de linguagem dominantes Exemplos de gêneros orais comunicação e escritos Cultura literária ficcional NARRAR Mimesis da ação através da criação Narrativa de aventura de intriga Conto maravilhoso Fábula Lenda Narrativa de aventura Narrativa de ficção científica TÓPICO 2 — LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS 31 Narrativa de enigma Novela fantástica Conto parodiado... Documentação e memorização de ações humanas RELATAR Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo Relato de experiência vivida Relato de viagem Testemunho Curriculum vitae Notícia Reportagem Crônica esportiva Ensaio biográfico... Discussão de problemas sociais controversos ARGUMENTAR Sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição Texto de opinião Diálogo argumentativo Carta do leitor Carta de reclamação Deliberação informal Debate regrado Discurso de defesa (adv.) Discurso de acusação (adv.) Transmissão e construção de saberes EXPOR Apresentação textual de diferentes formas dos saberes Seminário Conferència Artigo ou verbete de enciclopédia Entrevista de especialista Tomada de notas Resumo de textos "expositivos" ou explicativos Relatório científico Relato de experiência científica Instruções e prescrições DESCREVER AÇÕES Regulação mútua de comportamentos Instruções de montagem Receita Regulamento Regras de jogo Instruções de uso Instruções FONTE: Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 121) 32 UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 3.1 TIPOLOGIA TEXTUAL Marcuschi (2010) aponta a relevância em distinguir tipo textual de gênero textual (ou gênero discursivo). Já vimos que gênero textual ou discursivo são “tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2016 [1952-1953], p. 12) que circulam nas mais diferentes esferas da atividade humana. Tipo textual é “sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas) ” (MARCUSCHI, 2010, p. 23). Para que você, acadêmico, memorize melhor quais são os cinco tipos textuais, optamos por apresentá-los em forma escrita, em que a primeira letra de cada linha forma outra palavra na vertical, também conhecido como acróstico: Narração Argumentação/dissertação Descrição Exposição Injunção Sugestão de leitura: BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34, 2016 [1952-1953]. DICAS TÓPICO 2 — LEITURA, ESCRITA E GÊNEROS TEXTUAIS 33 QUADRO 2 – TIPOS TEXTUAIS, EXEMPLOS E TRAÇOS LINGUÍSTICOS Tipo textual Exemplo Traços linguísticos Narração Os passageiros desem- barcaram do trem sob uma chuva forte no meio da noite. Enunciados que contam um enredo que envolve tempo, espaço, personagem e ação. Argumentação/ dissertação Faz-se imprescindível a tomada de medidas atenuantes ao entrave abordado, uma vez que põe em risco a população daquela região. O enunciado será dissertativo- argumentativo se apresentar um ponto de vista com o objetivo de persuadir e convencer o leitor a concordar com a ideia defendida. O enunciado será dissertativo- expositivo se apresentar um ponto de vista sem a necessidade de convencer o leitor. Descrição Ela era uma mulher de meia idade, cabelos crespos e grisalhos, nariz arrebitado e olhar triste. Enunciados que se utilizam de adjetivos, comparações, metáforas para descrever algo ou alguém, de forma que o leitor consiga criar uma imagem mental daquilo que está sendo descrito. Exposição O esqueleto humano é composto por 206 ossos. Enunciados que informam e esclarecem o leitor expondo informações sobre um determinado assunto ou tema. Injunção Silêncio! Batas as claras em neve. Para ligar, gire o botão para a direita. São os enunciados que dão instruções, orientações, comandos, sugestões ao leitor. Indicam ação. FONTE: Adaptado de Marcuschi (2010) Os textos, em seus diferentes gêneros (carta, bilhete, poema, romance, receita, entre outros), na maioria das vezes, apresentam um desses tipos como prevalecentes, entretanto, há gêneros que mesmo com um tipo prevalecente, contam com outros tipos em sua composição. 34 UNIDADE 1 — LEITURA E ESCRITA 4 AS DIMENSÕES INTERPSICOLÓGICAS DA LEITURA Para que possamos avançar mais nos conhecimentos sobre as práticas de leitura e de escrita e compreender como as produções culturais e o contexto sociocultural onde as pessoas estão inseridas interferem no desenvolvimento das funções tipicamente humanas, como a memória, a atenção voluntária, o pensamento, a imaginação, o comportamento voluntário, precisamos estudar alguns conceitos do estudioso russo Vigotski. Para Vigotski (1994), pensamento e linguagem estão associados, embora a trajetória deles, ao longo do desenvolvimento humano, nem sempre coincida. Por exemplo, um bebê, quando tem fome, usa uma certa forma de linguagem para se comunicar com o adulto, entretanto, essa comunicação ainda está dissociada da consciência sobre essa ação. Saciar a fome é a satisfação de uma necessidade para a sobrevivência. A linguagem é um instrumento simbólico de mediação, pois permite o intercâmbio social e faz parte do pensamento. Em outras palavras, é pela linguagem que interagimos com as pessoas, por exemplo, quando uma pessoa mais velha deseja aprender como navegar em redes sociais, na maioria das vezes, outra pessoa mais nova vai ajudá-la, dando as orientações de acesso a sites ou aplicativos, como baixar
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