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Aula 1

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DIREITO PENAL 1
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“ Falar de Direito Penal é falar, de alguma forma, de violência. No entanto, modernamente, sustenta-se que a criminalidade é um fenômeno social normal. Durkheim afirma que o delito não ocorre somente na maioria das sociedades de uma ou outra espécie, mas sim em todas as sociedades constituídas pelo ser humano. Assim para Durkheim, o delito não só é um fenômeno social normal, como também cumpre outra função importante, qual seja, a de manter aberto o canal de transformações de que a sociedade precisa. Sob outro prisma, pode-se concordar, pelo menos em parte, com Durkheim: as relações humanas são contaminadas pela violência, necessitando de normas que as regulem. E o fato social que contrariar o ordenamento jurídico constitui ilícito jurídico, cuja modalidade mais grave é o ilícito penal, que lesa os bens mais importantes dos membros da sociedade”
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral, volume 1. 17ª edição. São Paulo, Editora Saraiva, 2012. Pág.33
O que é Direito Penal?
Por um lado pode apresentar-se como um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes, penas e medidas de segurança. Por outro lado, apresenta-se como um conjunto de valorações e princípios que orientam a própria aplicação e interpretação das normas penais, que devidamente sistematizados, tem a finalidade de tornar possível a convivência humana, ganhando aplicação prática nos casos concretos, observando rigorosos princípios de justiça. 
“Do ponto de vista objetivo, o Direito Penal (jus poenale) significa não mais do que um conjunto de normas que definem os delitos e as sanções que lhes correspondem, orientando também, sua aplicação. Já em sentido subjetivo (jus puniendi), diz respeito ao direito de punir do Estado (princípio da soberania), correspondente à sua exclusiva faculdade de impor sanção criminal diante da prática do delito. Fundamenta-se no critério de absoluta necessidade e encontra limitações jurídico-políticas, especialmente nos princípios penais fundamentais.” (PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro, Parte Geral, volume 1. 11ª edição. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2012. Pág.71) 
Portanto trata-se do corpo de normas jurídicas que institui infrações penais, as sanções correspondentes e as regras para a sua aplicação, fixando o poder punitivo do Estado.
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Quais são suas características?
“Uma das principais características do moderno Direito Penal é o seu caráter fragmentário, no sentido que representa a ultima ratio do sistema para a proteção daqueles bens e interesses de maior importância para o indivíduo e a sociedade à qual pertence. Além disso, o Direito Penal se caracteriza pela forma e finalidade com que exercita adita proteção. Quanto á forma, o Direito Penal se caracteriza pela imposição de sanções específicas – penas e medidas de segurança – como resposta aos conflitos que é chamado a resolver. Quanto à finalidade existe hoje um amplo reconhecimento por parte da doutrina (...) de que por meio do Direito Penal o Estado tem o objetivo de produzir efeitos tanto sobre aquele que delinque como sobre a sociedade que representa. Pode-se neste sentido, afirmar que o Direito Penal caracteriza-se pela sua finalidade preventiva: antes de punir o infrator da ordem jurídico-penal, procura motivá-lo para que dela não afaste, estabelecendo normas proibitivas e cominando as sanções respectivas, evitando a pratica do crime. Também o Direito Penal, a exemplo dos demais ramos do Direito, traz em seu bojo a avaliação e medição da escala de valores, da vida em comum do indivíduo a par de estabelecer ordens e proibições a serem cumpridas. Falhando a função motivadora da norma penal, transforma-se a sanção abstratamente cominada, através do devido processo legal, em sanção efetiva, tornando aquela prevenção genérica, destinada a todos, numa realidade concreta, atuando sobre o indivíduo infrator, o que vem a ser caracterizado como a finalidade de prevenção especial constituindo a manifestação mais autêntica do seu caráter coercitivo.”
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral, volume 1. 17ª edição. São Paulo, Editora Saraiva, 2012. Pág.35-37
Neste sentido pode-se afirmara como características do Direito Penal:
Jus puniendi: direito que tem o Estado de atuar sobre os delinqüentes na defesa da sociedade contra o crime.
 
Jus persequendi in judito: direito que tem a parte ofendida de promover a ação penal nos crimes privados. Ressaltando que não outorga do jus puniendi ao particular, este não tem o direito de punir.
 
Ciência:
 
- Cultural: pertencente à classe da ciência do “dever ser” (mundo do comportamento jurídico);
 
- Normativa: finalidade de estudar a norma;
 
- Valorativa: atribui escala hierárquica às normas de acordo com o conteúdo protegido.
 
- Finalista: atua na proteção dos bens jurídicos fundamentais.
 
Sancionador: pois protege a norma jurídica.
Qual a importância do Direito Penal?
“ (...) Roxin defende que: ‘em um Estado democrático de Direito, que é o modelo de Estado que tenho como base, as normas penais somente podem perseguir a finalidade de assegurar aos cidadãos uma coexistência livre e pacífica garantindo ao mesmo tempo o respeito de todos os direitos humanos. Assim, e na medida em que isso não possa ser alcançado de forma mais grata, o Estado deve garantir penalmente não só as condições individuais necessárias para tal coexistência (como a proteção da vida, e da integridade física, da liberdade e atuação, da propriedade etc.), mas também das instituições estatais que sejam imprescindíveis a tal fim ( uma Administração da justiça que funcione, sistemas fiscais e monetários intactos, uma Administração sem corrupção, etc.).
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral, volume 1. 17ª edição. São Paulo, Editora Saraiva, 2012. Pág.43-44
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O direito penal no Brasil
a) Período Colonial
 
Na sociedade primitiva existente no Brasil antes do domínio português imperava vingança privada, sem nenhuma uniformidade nas formas de reação contra as condutas ofensivas. No que toca às formas punitivas, havia predomínio das corporais, sem tortura. Após, tiveram vigência no país as Ordenações Afonsinas (1446) e Manuelinas (1521), que tiveram em vigor até o aparecimento da Compilação de Duarte Nunes de Leão (1569). A seguir vieram as Ordenações Filipinas (1603), que se orientavam no sentido de uma ampla e generalizada criminalização de severas punições.
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b) Código Criminal do Império
 
Em 1830, foi sancionado o Código Criminal do Império do Brasil, primeiro código autônomo da América Latina. Mostrou-se extremamente original ao estabelecer pela primeira vez o sistema de dias-multa e previu pontos importantes, tais como o princípio da legalidade, as regras sobre tentativa, elemento subjetivo, autoria e participação, casos de inimputabilidade, causas de justificação, agravantes e atenuantes. Quanto às penas, fixava as espécies e as regras gerais de sua aplicação. Exerceu particular influência no Código espanhol de 1848 e no Código português de 1852, sendo que, através do primeiro, sobre a legislação penal latino-americana. 
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c) Período Republicano
 
O Código de 1890 apresentava graves defeitos de técnica, mostrando-se bastante atrasado em relação à ciência de seu tempo. Foi alvo de severas críticas, sendo logo objeto de estudos visando a sua substituição. Em 1937, Alcântara Machado apresentou um projeto de Código Criminal brasileiro, o que acabou sendo sancionado, por decreto, em 1940, como Código Penal, passandoa vigorar desde 1942 até os dias atuais, tendo sido reformado em sua parte geral pela Lei 7.209/1984.

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