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153 No presente capítulo serão tratadas as principais espécies de alteração do contrato de trabalho, sem perder de vista a regra de que o empregador não pode promover alterações prejudiciais aos direitos do empregado. Certamente esse assunto é de grande importância para o profissio- nal da área de recursos humanos, pois, além do risco de passivo de- corrente de processo trabalhista, uma alteração lesiva do contrato de trabalho pode acarretar a desmotivação do empregado e, consequente- mente, afetar o processo produtivo da empresa. Capítulo 13 Alteração do contrato individual de trabalho 154 Legislação, rotinas de pessoal e benefícios M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 1 Alteração do contrato individual de trabalho Dispõe o artigo 468, da Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 1943): Art. 468 – Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a al- teração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula in- fringente desta garantia. Conforme se depreende do dispositivo legal supracitado, o legisla- dor estabeleceu que a validade da alteração do contrato de trabalho depende de duas condições, a saber: i) consentimento do empregado; e ii) inexistência de prejuízo ao empregado. Portanto, percebe-se que o legislador se preocupou com a proteção do princípio da inalterabilidade contratual lesiva. Nesse sentido, observa Almeida (2012, p. 152) que: Essa intervenção da lei em vedar ao empregador a alteração uni- lateral das normas contratuais deixa claro o receio do legislador em relação aos empregadores, que, por sua melhor condição ou até mesmo pelo poder de direção, poderiam alterar as condições laborais modificando cláusulas contratuais sem a concordância do empregado. Notamos o claro propósito de não prejudicar o obreiro, que, muitas vezes, seria obrigado a aceitar referida modificação. Resende (2016, p. 633) completa, ainda, que: Em outras palavras, as vantagens estabelecidas em favor do em- pregado aderem ao contrato de trabalho como direitos adquiridos do trabalhador, pelo que são vedadas, em regra, quaisquer altera- ções que possam de alguma maneira prejudicar o empregado. No entanto, cabe mencionar que o exercício do poder diretivo do em- pregador pode acarretar alterações no contrato de trabalho. 155Alteração do contrato individual de trabalho M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Nesse sentido, observa Resende (2016, p. 635) que: A exceção à inalterabilidade contratual insere-se no âmbito do po- der diretivo do empregador, que possui alguma liberdade de alterar determinadas condições de trabalho de forma unilateral. Tal poder é chamado pela doutrina de jus variandi. Assim, o jus variandi fundamenta alterações do contrato de traba- lho relativas à organização do ambiente de trabalho, à função, ao salário e ao local da prestação de serviços. Após o estudo das particularidades que envolvem o tema da altera- ção do contrato de trabalho, passamos a estudar as principais hipóte- ses de sua incidência. 1.1 Espécies de alteração contratual As principais hipóteses lícitas de alteração contratual que ocorrem na prática são: a. Reversão ao cargo anteriormente ocupado. Segundo o pará- grafo único do artigo 468 da Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 1943), não se considera alteração unilateral a determi- nação do empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente ocupado, deixando o exercício de função de confiança. Esse dispositivo legal retrata o típico exem- plo no qual o vendedor de carros é promovido por seu emprega- dor à função de gerente de vendas, percebendo uma gratificação e, depois de certo período, volta a exercer a função de vendedor. b. Readaptação de função por recomendação do INSS. O empre- gado acidentado ou portador de doença que possa ter a saúde prejudicada no exercício das funções anteriormente laboradas será, após perícia médica feita junto ao INSS, readaptado pelo empregador para o exercício de outras funções compatíveis com seu estado, e terá seu salário preservado. 156 Legislação, rotinas de pessoal e benefícios M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Figura 1 – Readaptação do empregado c. Redução da jornada de trabalho. Se a referida alteração propor- cionar condições mais benéficas para a saúde do empregado, a mesma é lícita, podendo haver a correlata redução proporcional do salário, sendo certo que se trata, por vezes, de medida com vistas a evitar demissões em massa. Além disso, a redução da jornada de trabalho, para ser tida como regular, exige a tratativa com a entidade sindical pertinente, em conformidade com o arti- go 7o, inciso VI, da CF. d. Transferência de turno de trabalho. Conforme observa Resende (2016, p. 641), é lícita a transferência unilateral do empregado do turno noturno para o diurno, inclusive com a supressão do adicio- nal noturno, tendo em vista que trabalhar à noite é mais gravoso à saúde do trabalhador. e. Revogação ou alteração de vantagens previstas no regulamento da empresa. Como é sabido, as vantagens previstas em regula- mento da empresa ficam incorporadas no contrato de trabalho 157Alteração do contrato individual de trabalho M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. dos respectivos empregados. No entanto, por força da Súmula no 51 do Tribunal Superior do Trabalho, eventual alteração ou cancelamento de vantagens previstas em regulamento da em- presa poderão afetar os empregados desde que tenham sido contratados após a revogação ou alteração do regulamento. 2 Consequências da transferência do empregado Como visto no tópico anterior, diversas são as possibilidades de al- teração do contrato individual de trabalho, mas uma delas ganha relevo dentre todas essas, qual seja, a transferência do empregado, com vistas à prestação do serviço para o qual fora contratado em local distinto da- quele previsto na avença inicial, de modo que esta transferência poderá se dar em caráter provisório ou até mesmo definitivo. De acordo com o artigo 469 da Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 1943), para a transferência do empregado, necessário que se- jam observados alguns requisitos indeclináveis. Com efeito, em um primeiro plano, imprescindível que o empregado aquiesça com essa transferência para local de prestação do serviço di- verso do previsto originariamente no contrato individual de trabalho, haja vista se tratar de mudança significativa nas condições da contratação. Em tempo, a título de formação conceitual, somente será conside- rada transferência quando houver a necessidade correlata de mudança de domicílio por parte do empregado, sendo certo que, segundo a legis- lação civil, é considerado domicílio o lugar em que a pessoa estabelece sua residência com ânimo definitivo. Caso a alteraçãono local da pres- tação do serviço não implique na necessária mudança de domicílio por parte do empregado, esta modificação não será havida como transfe- rência, mas apenas como um mero deslocamento do empregado, sem qualquer consequência significativa. 158 Legislação, rotinas de pessoal e benefícios M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Não obstante, há casos em que esta concordância do empregado não é necessária, a saber: a. Quando o empregado exercer cargo de confiança, conforme artigo 469, §1o, 1a figura, da CLT (BRASIL, 1943); b. Contratos de trabalho em que consta como condição, implícita (inerente à função exercida) ou explícita (prevista textualmente no contrato, com apontamento no livro de registro e na CTPS), a pos- sibilidade de transferência do empregado, sendo esta decorrente de real necessidade do serviço, considerada assim, de acordo com o disposto no artigo 469, §1o, 2a figura, da CLT (BRASIL, 1943), a situação fática de que apenas aquele empregado poderá execu- tar a prestação pretendida pelo empregador, não podendo ser rea- lizada por qualquer outro trabalhador da localidade do destino. (FREDIANI; AMORIM, 2011, p. 40) c. Ocorrer a extinção do estabelecimento em que o empregado exer- ce suas atividades laborais, hipótese em que será possível sua transferência para outra filial ou estabelecimento, segundo disposi- ção mandamental do artigo 469, §2o, da CLT (BRASIL, 1943). Em caso de transferência do empregado, de acordo com o artigo 469, §3o, da CLT (BRASIL, 1943), o empregador deverá remunerá-lo com o pagamento de quantia suplementar não inferior a 25% (vinte e cin- co por cento) do salário recebido na localidade de origem, sendo certo que, em caso de transferência provisória, esse pagamento adicional so- mente será devido enquanto durar a transferência, cessando tão logo o empregado retorne à localidade original para a prestação dos serviços. Cabe, ainda, ao empregador, a teor do disposto no artigo 470 da CLT (BRASIL, 1943), arcar com os custos correspondentes à transferência do empregado. 159Alteração do contrato individual de trabalho M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. IMPORTANTE Em tempo, há vedação expressa à transferência de determinados em- pregados, como o membro de Comissão Interna de Prevenção de Aci- dentes (Cipa), o dirigente sindical, o representante dos empregados, entre outros. Esta proibição se deve à função representativa de tais em- pregados e o possível pano de fundo que uma eventual transferência poderia ostentar, afastando-o da localidade em que vinha exercendo de modo bastante atuante, e contrariando interesses escusos, sua ativida- de fiscalizatória e destinada à tutela dos direitos dos empregados da- quela classe e/ou empresa. Considerações finais Este capítulo evidencia a dinamicidade do contrato individual de tra- balho, que está suscetível a sofrer diversas alterações no curso de seu desenvolvimento que impactarão de modo significativo a relação em- pregatícia estabelecida entre as partes interessadas. Ter isso em mente garante ao profissional da área de recursos hu- manos que esteja sempre preparado para lidar com essas alterações e com as consequências que delas diretamente advêm, proporcionando um ganho de segurança à operacionalização das relações trabalhistas da organização, com vistas à manutenção da regularidade dessas inte- rações práticas. Referências ALMEIDA, André Luiz Paes de. CLT e súmulas do TST comentadas. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2012. 160 Legislação, rotinas de pessoal e benefícios M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ Del5452.htm>. Acesso em: 21 jul. 2017. FREDIANI, Yone; AMORIM, José Roberto Neves (Coord.). Direito do trabalho. Barueri: Manole, 2011. RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016.
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