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NÃO PODE FALTAR GERENCIAMENTO DE PROTOCOLO E QUALIFICAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE Emanuel Nunes Imprimir CONVITE AO ESTUDO Prezado aluno, você caminhou por duas unidades e já está desvendando os mistérios da qualidade e segurança do paciente. Nas seções anteriores, estudamos a importância do protocolo e do Procedimento Operacional Padronizado (POP) na melhoria da qualidade nos serviços de saúde. A partir de agora, aprofundaremos, contextualizaremos e aplicaremos o que você já Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s conhece, assim como conheceremos novos elementos, os quais serão apresentados nesta unidade. Compreenderemos como o gerenciamento dos protocolos, atrelado às recomendações das autoridades de saúde, ao uso scores e à análise e compreensão dos desfechos clínicos, impacta diretamente na melhoria da qualidade. Não basta criar protocolos, POP ou qualquer outra ação se não houver um acompanhamento sistemático do processo. É necessário visualizar claramente as mudanças ocorridas ou não após a implementação das mudanças de melhoria. PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, nesta seção, aprofundaremos alguns pontos da gestão da qualidade e segurança do paciente. O nosso enfoque será no acompanhamento dos processos, ou melhor, na gestão deles. Deixaremos uma reflexão desde já: um protocolo bem desenhado, implantado com maestria, mas não acompanhado, obterá os resultados esperados? Outro aspecto fundamental é a noção de continuidade da assistência, isso inclui registros da assistência e comunicação eficaz. Em outras palavras, compreenderemos o significado de linhas de cuidado. Por fim, você aplicará esse conhecimento em sua área de atuação, melhorando a qualidade e segurança da sua assistência. A linha de cuidado faz parte da gestão por processo e tem sido de grande valia para o melhoramento contínuo da qualidade nos serviços de saúde. Para contextualizar a aprendizagem, imaginaremos um cenário, no qual você está na condição de um gestor recém-contratado em um serviço de saúde que funciona 24 horas por dia. Você recebe uma ligação informando que houve um incidente envolvendo a dispensação da nutrição em um dos setores do hospital. Ao chegar ao local e fazer uma investigação prévia, você descobriu que se tratava de um paciente com dieta hipossódica (com pouco sal), para o qual foi servida uma dieta geral (quantidade de sal normal), e ele apresentou um pico de hipertensão e precisou ser medicado. O que é necessário fazer para compreender todo o 0 Ve r an ot aç õe s processo? Após conhecer todo o sistema da nutrição, você verificou que não havia registros nem fluxos específicos para a dispensação das dietas especiais, desse modo, a única comunicação era verbal entre a colaboradora e a nutricionista. Diante desta situação, o que você faria para melhorar esse processo do serviço de nutrição e dietética? Para fazer a diferença, é necessário conhecimento e habilidade, e você está no caminho. CONCEITO-CHAVE LINHAS DE CUIDADO Segundo o Ministério da Saúde (2014), as linhas de cuidado podem nos remeter a muitas dimensões, mas todas elas serão alinhavadas em algo maior, chamado gestão por processos, o que significa que a organização de saúde trabalha baseada em evidências, tem processos implantados, os quais interagem entre si e fornecem dados objetivos para que os gestores tomem decisões mais assertivas quanto ao caminho que a instituição deve seguir para alcançar a excelência da assistência em todos os indicadores de qualidade, que inclui a assistência e a eficiência financeira da organização. A qualidade melhora todo o ecossistema da organização de saúde, não somente a qualidade de assistência ao paciente. Todos os processos são pensados com foco no paciente/cliente, ou seja, tudo é planejado para que ele tenha a melhor experiência possível, que o momento de internação ou o procedimento não cause danos desnecessários e que, ao procurar o serviço de saúde, tenha as suas necessidades sanadas de forma satisfatória. O Ministério da Saúde apresenta a linha de cuidado no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), disponibilizando diretrizes de atenção específica à saúde da mulher, da criança, do adulto e do idoso para todo o sistema de saúde. Podemos 0 Ve r an ot aç õe s compreender isso como uma diretriz macro, e cada serviço desenvolverá a sua linha de cuidado particular, considerando o seu perfil epidemiológico e sua realidade. Nas unidades anteriores, falamos sobre o mapeamento de processo. Para relembrar, trata-se de um método para conhecer os processos de uma organização ao ponto de ser capaz de visualizar as falhas e, assim, propor soluções para melhoria contínua da qualidade. Uma vez que já foi realizado o mapeamento do processo, é possível, a partir deste ponto, desenhar a linha de cuidado, que podemos conceituar como sendo uma representação dos fluxos assistenciais que serão utilizados para assegurar uma assistência de qualidade ao paciente/cliente. Outro ponto de extrema importância é que estamos falando de um plano de assistência multiprofissional estruturado e que auxilia na implementação de protocolos e diretrizes clínicas. Visualizaremos esses conceitos de forma mais prática. Ao chegar a um serviço de saúde, há uma porta de entrada. Comumente, em hospitais, é o pronto-socorro (PS) ou pronto atendimento (PA). Esses setores são importantes, pois fazem a primeira avaliação do paciente/cliente e, após isso, existem condições de definir o fluxo que ele seguirá dentro do serviço. Por exemplo, um paciente chega ao PA com sintomas de infarto agudo do miocárdio (IAM). Ele é inserido no protocolo multiprofissional de IAM, passa por procedimentos no setor e, depois, é encaminhado para a unidade coronariana (UCO), departamento onde receberá a continuidade dos cuidados recebidos no PA. Na UCO, o paciente é estabilizado e reabilitado; em seguida, conforme sua evolução clínica, poderá receber alta direto para casa ou para enfermaria de adulto, a fim de dar continuidade à sua reabilitação. Neste exemplo, podemos observar a continuidade do cuidado, apesar de o paciente passar por diferentes setores, ele está no mesmo serviço, por isso é fundamental que existam protocolos, comunicação eficaz, interação entre os setores e um cuidado continuado e sistematizado. 0 Ve r an ot aç õe s Na Figura 3.1, você verá um exemplo de linha de cuidado na atenção materna e neonatal de baixo risco. Observe atentamente que temos uma linha de cuidado completa que se inicia na atenção primária, passa por toda atenção terciária (hospital) e retorna para a atenção primária. Vale ressaltar que é um fluxo contínuo, sistematizado e integrado, no qual não há perda de informações, e sim um atendimento e um cuidado continuados. Figura 3.1 | Exemplo de linha de cuidado – Atenção materna e neonatal de baixo risco Fonte: elaborada pelo autor. PROTOCOLOS COMO FERRAMENTA DE MELHORIA DA QUALIDADE Uma das ferramentas mais importantes para assegurar a correta operação da linha de cuidado são os protocolos multiprofissionais, pois eles dão a direção e fundamentam a tomada de decisão dos profissionais no ambiente trabalho. Tomando como referência a Figura 3.1, imagine o seguinte cenário: na atenção primária ou no ambulatório, a gestante faz os cuidados pré-natais e os exames e triagens próprios dos protocolos desse período. As informações de tudo que foi realizado precisa chegar de forma eficaz ao PAGO, pois essa história pregressa ajudará na tomada de decisão até a gestante e seu bebê receberem alta do hospital. Você consegue imaginar o quão complexo seria uma gestante chegar ao PAGO sem nenhuma informação do pré-natal? E os setores não se comunicarem dentro da unidade hospitalar? Embora isso pareça absurdo, é a realidade de 0 Ve r an ot aç õe s muitos serviços de saúde em nosso país. Sendo assim, os protocolos são essenciais para que a linhade cuidado tenha o devido fluxo de atendimento, informação e cuidados específicos. Um dos mais importantes processos dentro de uma unidade de saúde é a segurança no uso de medicamentos. Usaremos como exemplo o fluxo das medicações até o seu destino, o paciente/cliente. E, por fim, o time de resposta rápida, que tem sido uma experiência importante nos serviços que possuem esse protocolo implantado. CADEIA MEDICAMENTOSA E NUTRICIONAL Quando você vai a uma farmácia comprar um medicamento, ou a uma lanchonete comprar um lanche, você paga e recebe o produto, certo? Mas, você imagina como é a cadeia de processos até o medicamento ou o lanche chegar a você? Chamamos isso de gestão por processos, e os fluxos, de linha de cuidado. Aprofundaremos, neste momento, os processos que envolvem a cadeia medicamentosa, tendo como ponto de partida a Figura 3.1, bem como os seus fluxos dentro do serviço de saúde. Em uma unidade hospitalar, todo medicamento é dispensado pela farmácia, a qual tem muitos processos internamente. Ao dispensá-lo, ele segue outros processos, até ser administrado no paciente pelo setor que o recebe. Todo esse processo precisa estar descrito e disponível em fluxo para melhor compreensão de todos. Na Figura 3.2, daremos um exemplo prático de como seria a cadeia medicamentosa na prática. REFLITA Você já deve ter ouvido falar que existe uma linha tênue entre o remédio e o veneno. Este ditado popular reflete uma realidade quando nos referimos ao uso de medicamentos para tratamentos de doenças ou condições. Grande parte das atividades das equipes multiprofissionais em um serviço de saúde está relacionada com a medicação. Existem muitos riscos, e um dos maiores índices de incidentes está relacionado com as 0 Ve r an ot aç õe s medicações. São diversos detalhes que podem ser negligenciados e levar a um incidente. Será que os nossos serviços de saúde estão devidamente preparados? Será que há uma cadeia medicamentosa bem gerenciada e com foco na prevenção dos erros? E como você, enquanto profissional, pode ajudar na melhoria deste processo? Figura 3.2 | Resumo da cadeia medicamentosa Fonte: elaborada pelo autor. Denominamos cadeia medicamentosa justamente por ser tão complexa e importante. Você consegue visualizar quantos riscos existem em cada etapa dela até chegar ao paciente? Por isso, é indiscutível o gerenciamento dos processos que envolvem os medicamentos. ASSIMILE Outro exemplo marcante para ilustrar a Figura 3.2 são os medicamentos potencialmente perigosos (MPP), os quais são medicações que podem causar danos ao paciente/cliente, seja pela sua composição, seja pelos seus efeitos colaterais. A farmácia adquire o medicamento e o identifica como MPP, normalmente com uma cor vibrante (rosa/laranja), e dispensa para o setor de internação. Nesta unidade, a equipe verifica que se trata de um MPP e segue o protocolo, que inclui dupla checagem por dois profissionais 0 Ve r an ot aç õe s do preparo até a administração e, posteriormente, acompanhamento do paciente/cliente para identificação de alguma complicação. Perceba que os processos são integrados, conectados e indissociados. Este é o caminho para a qualidade da assistência e segurança do paciente. TIME DE RESPOSTA RÁPIDA O time de resposta rápida (TRR) é uma equipe especializada em atendimento aos pacientes em parada cardiorrespiratória ou com piora do quadro clínico e que não estão internados em uma unidade crítica, como as unidades de terapia intensiva (UTI). Como isso funciona e como melhora o desfecho dos pacientes? Para exemplificar, pensaremos no seguinte cenário: um paciente encontra-se estável em uma enfermaria e rapidamente sofre uma piora clínica. Será que este setor possui todos os recursos para estabilizar o paciente? Recursos, provavelmente, sim, mas é improvável que tenha uma equipe ágil para este atendimento, pois este tipo de situação não é comum em uma enfermaria, e sim em uma UTI, onde todos se preparam para isso. Desse modo, o TRR foi idealizado para atender mais eficazmente a esse tipo de paciente, porém ele atua em todas as unidades não críticas do hospital. Vale destacar que o serviço de saúde precisa levar ao conhecimento de todos a existência do TRR e como poderá ser acionado. Destacamos o resumo do fluxo do processo na Figura 3.3. Figura 3.3 | Resumo do fluxo do TRR 0 Ve r an ot aç õe s Fonte: elaborada pelo autor. EXEMPLIFICANDO Geralmente, o TRR tem um ramal e um código, por exemplo: código azul. Visualizaremos a seguinte situação: um paciente está sendo encaminhado para o serviço de radiologia e, no meio do caminho, ele tem um desmaio. O profissional que está com ele ou outro acionará o código azul via ramal ou de outra forma, e o TRR chegará ao local e fará o atendimento, com o objetivo de estabilizar o paciente e evitar complicações e o óbito. A gestão por processos e a linha de cuidado podem ser implantadas em todos os serviços de saúde ou áreas de atuação. Não é possível realizar uma assistência segura e de qualidade sem uma gestão eficiente e sem uso de protocolos e processos integrados. Embora esta seção tenha trazido mais exemplos em unidades hospitalares, os conceitos de gestão por processo e linha de cuidado podem ser replicados em qualquer área da saúde. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 0 Ve r an ot aç õe s Para se implantar a linha de cuidado, iniciamos com o mapeamento do processo, pois é possível, a partir deste ponto, desenhá-la. Podemos conceituá-la como sendo uma representação dos fluxos assistenciais que serão utilizados para assegurar uma assistência de qualidade ao paciente/cliente. Com relação à linha de cuidado, assinale a alternativa correta: a. Trata-se de um processo que auxilia os gestores na tomada de decisão. b. Trata-se de um fluxo para ser apresentado na visita de certificação de qualidade. c. Trata-se de um plano que descreve o fluxo e, depois, é armazenado. d. Trata-se de uma ação isolada em cada setor para melhorar a qualidade. e. Trata-se de um plano da gestão e que não inclui os colaboradores. Questão 2 Em uma unidade hospitalar, todo medicamento é dispensado pela farmácia, a qual tem muitos processos internamente. Ao dispensá-lo, ele segue outros processos, até ser administrado no paciente pelo setor que o recebe. A ____________ é um processo importante, pois descreve o ____________ da medicação, que vai da ______________ até o seu destino, o ____________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. cadeia nutricional; processo; enfermaria; farmácia. b. cadeia medicamentosa; fluxo; farmácia; paciente. c. gestão; processo; unidade; setor. d. time de resposta rápida; fluxo; farmácia; enfermaria. e. protocolo; POP; mapeamento de processo; medicação. Questão 3 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3tJUsfm. Acesso em: 10 set. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Guia de elaboração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas: delimitação do escopo. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3f5MEjW. Acesso em: 10 nov. 2020. Um dos desafios da melhoria da qualidade dos setores não críticos é o atendimento ágil e eficaz dos pacientes que evoluem para a parada cardiorrespiratória. O objetivo é melhorar a sobrevida desses pacientes e reduzir a mortalidade. Com relação ao time de resposta rápida, avalie as afirmativas: I. É de suma importância para atender os pacientes internados em área não crítica. II. Geralmente, é implantado em unidades de terapia intensiva. III. É acionado a partir de uma comunicação e de um código.IV. Somente um profissional de saúde pode acioná-lo. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. I e III, apenas. d. I, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/3tJUsfm https://bit.ly/3f5MEjW MARCOLINO, M. S.; BRANT, L. C. C.; ARAUJO, J. G.; NASCIMENTO, B. R.; CASTRO, L. R. A.; MARTINS, P.; LODI-JUNQUEIRA, L.; RIBEIRO, A. L. Implantação da linha de cuidado do infarto agudo do miocárdio no município de Belo Horizonte. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 100, n. 4, p. 307-314, abr. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3tL4pch. Acesso em: 24 nov. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/3tL4pch FOCO NO MERCADO DE TRABALHO GERENCIAMENTO DE PROTOCOLO E QUALIFICAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR Contextualizando a situação-problema, você está no papel de um gestor que é chamado para resolver um incidente que envolveu o serviço de nutrição e dietética (SND). Na ocasião, foi servida uma dieta geral a um paciente que Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s precisava de uma dieta hipossódica, logo ele apresentou um pico hipertensivo e precisou ser medicado. Você precisa tomar algumas decisões para ajustar esse processo e evitar este tipo de incidente. Um caminho interessante seria realizar um mapeamento de processo para compreender o funcionamento do SND e visualizar as lacunas e as oportunidades de melhoria. Na situação-problema, foi verificado que não havia registros ou fluxos específicos para dietas especiais, apenas comunicação verbal. Neste caso, uma opção seria descrever um processo considerando a linha do cuidado, um fluxo que se inicia com a solicitação da dieta especial, passa pela preparação e termina na dispensação. Vale lembrar que em cada etapa existe um processo que complementa o próximo e mantém a continuidade, então, ainda existe muito por fazer nesta situação. Agora é com você! AVANÇANDO NA PRÁTICA MELHORANDO A QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA EM ENFERMARIA DE ADULTO As pessoas procuram o serviço de saúde porque estão com algum distúrbio ou sintoma, e são internadas de acordo com sua situação clínica. Todo e qualquer paciente internado, no entanto, tem risco de sofrer uma piora clínica, que pode ser decorrente do processo natural da doença ou por outro motivo, como um incidente. Para contextualizar essa situação, você é um profissional recém- contrato para ajudar nos treinamentos dos novos profissionais de saúde e nas equipes do serviço. Para se realizar um treinamento, também é preciso ter dados que o justifiquem. Sendo assim, ao analisar um indicador, você percebe que 90% dos pacientes que sofreram parada cardiorrespiratória na enfermaria evoluíram para óbito. Diante disso, qual seria o seu plano de ação para reduzir esse tipo de mortalidade? RESOLUÇÃO 0 Ve r an ot aç õe s Na situação apresentada, você está responsável pelos treinamentos da equipe de saúde de um serviço e se depara com um indicador alarmante de mortalidade dos pacientes que sofreram parada cardiorrespiratória na enfermaria: cerca de 90% foram a óbito. Como você pode ajudar a reduzir esse número? Uma boa opção seria idealizar um time de resposta rápida (TRR) para atuar neste caso fora das áreas críticas, manter esse time sempre atualizado e capacitado e, assim, melhorar o atendimento. Outro caminho seria capacitar a própria equipe da enfermaria, considerando que se trata de uma intercorrência comum no setor. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA A SEGURANÇA DO PACIENTE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE Emanuel Nunes Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Olá! Parabéns por ter chegado até aqui. Estamos avançando cada vez mais e você está ganhando proficiência em gestão, qualidade e segurança do paciente. E qual será o nosso próximo passo? A partir de agora, iniciaremos um novo processo. Compreenderemos quais são as ações práticas que podem ser implantadas no serviço de saúde para melhoria contínua da qualidade e segurança do paciente. À Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s medida que você aprofundar o tema, visualizará como pode implantar as ações na sua área de atuação, por exemplo, como melhorar a identificação e a comunicação e como tornar os processos mais seguros para seu paciente/cliente e sua equipe. Vale ressaltar que um grande aliado da segurança do paciente e da melhora dos processos atualmente é a tecnologia. Desse modo, você, como futuro profissional de saúde, pode pensar em estratégias criativas e inovadoras para melhorar o seu serviço. Não há limites quando se tem o desejo de melhorar os processos. Um dos pontos primordiais da segurança do paciente no serviço de saúde é a identificação dele , dos dispositivos e de tudo que envolve a sua assistência direta ou indireta. Para contextualizar esse cenário, você foi chamado para o transporte de um paciente de uma instituição para outra. Ao chegar no local indicado, você recepcionou o paciente na ambulância e percebeu que não há um encaminhamento formal. O paciente encontra-se sem pulseira de identificação, assim como com cateteres, sondas e uma medicação sendo infundida, todos também sem identificação. Você questiona o serviço de saúde, e ele informa que está muito corrido e que não teve tempo de ver isso, pois a unidade está acima de sua capacidade de atendimento. Diante do exposto, quais são os riscos de realizar o transporte nessas condições? O que você poderia fazer para reduzir esses riscos e realizar um transporte mais seguro? A mudança começa a ganhar forma em nossa imaginação e se torna real a partir da nossa ação. Seja sempre a mudança que deseja. CONCEITO-CHAVE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE A identificação é um processo básico, sobre o qual não há necessidade de escrever. Contudo, apesar de básico, ele não acontece da forma que deveria, existem falhas graves, como administração de medicamento em paciente errado, caso dois homens se chamem José. É necessário que haja uma identificação 0 Ve r an ot aç õe s correta, visto que estamos falando de um serviço de saúde e devemos prezar pela integridade do paciente/cliente. É de suma importância que o paciente seja identificado no momento da sua admissão. A forma mais adotada mundialmente é a pulseira de identificação, pois é simples, efetiva e de baixo custo, no entanto existem pulseiras até com código de barras e tecnologias para rastreamento. Seja qual for, o importante é garantir o seu propósito primordial: assegurar a correta identificação do paciente/cliente e evitar uma infinidade de incidentes. PACIENTE/CLIENTE ENVOLVIDO COM A SUA PRÓPRIA SEGURANÇA Vale ressaltar que a identificação é o primeiro passo para envolver o paciente no processo de segurança. Ele precisa saber o porquê de ser identificado e ser orientado que o colaborador, antes de fazer qualquer procedimento, deve perguntar a ele o nome e conferir a identificação da pulseira. O paciente/cliente precisa ser inserido no processo de forma ativa, pois ele também é responsável pela sua segurança. Empodere-o e esclareça-o sempre sobre isso. A identificação do paciente precisa ser feita já na admissão dele e, por todo o tempo em que ele permanecer no hospital, é preciso que se mantenha adequadamente identificado com a pulseira (Figura 3.4), pois ela é segura e eficaz. Todo profissional de saúde deve confirmar o nome do paciente/cliente e conferir a identificação na pulseira. A correta identificação não se trata apenas de um processo, mas de algo muito maior, pois melhora a comunicação entre os profissionais e os pacientes e evita a ocorrência de incidentes. Outro ponto que não podemos deixar de fora é a identificação do profissional de saúde, o qual deve portar o crachá com nome e foto visível.O paciente precisa ter segurança e saber quem é o profissional que está cuidando dele. Figura 3.4 | Pulseira de identificação 0 Ve r an ot aç õe s Fonte: elaborada pelo autor. REFLITA Será que os profissionais de saúde estão preparados para serem “lembrados” pelos seus pacientes/clientes sobre uma etapa do processo de segurança que não foi seguido? Por exemplo, imagine um paciente fazer a seguinte exclamação: “Você não lavou a mão! Pare de tocar em mim!”. Qual seria a reação do profissional? Compreenderia como algo positivo ou levaria para o lado pessoal? É preciso que você reflita sobre isso. A segurança é papel de todos, inclusive do paciente/cliente. Essa emancipação dele ajuda no processo como um todo, então, compreenda desde já que seu paciente/cliente é também uma barreira para assegurar a segurança e qualidade do cuidado em saúde. A IDENTIFICAÇÃO COMO SEGURANÇA DE TODOS OS PROCESSOS Em alguns serviços de saúde, existem muitos processos que ocorrem simultaneamente, e outros, sequencialmente. Consegue imaginar como isso funcionaria sem identificação? Seria um caos total! A partir de agora, 0 Ve r an ot aç õe s ampliaremos a aplicação da identificação no âmbito dos serviços de saúde não só para as pessoas que estão neste ambiente mas também em todos os outros. Na Figura 3.5, há uma ideia geral de como o processo de identificação é integrado e interconectado. Os processos, as medicações, a nutrição, os exames enfim, tudo precisa de identificação, pois isso evita incidentes, organiza o serviço e facilita a comunicação. Figura 3.5 | Fluxo básico de identificação em serviço de saúde Fonte: elaborada pelo autor. CUIDADO LIMPO E CUIDADO SEGURO Outro ponto essencial dos serviços de saúde é manter o paciente/cliente livre de infecções associadas ao cuidado prestado. Chamamos isso de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). A ação mais simples e necessária é a higiene das mãos em todas as oportunidades, principalmente antes e depois de assistir o paciente/cliente. A princípio, podemos pensar que isso é algo inerente 0 Ve r an ot aç õe s ao profissional de saúde, o que de fato é, mas não acontece como deveria, especialmente em setores não críticos. É um grande desafio conscientizar os profissionais de saúde sobre a higiene das mãos, mas qual é a importância disso? No organismo humano, existem mais bactérias do que células, isso parece absurdo, porém é real, e nos dá a dimensão da importância da higiene das mãos, do banho e da acuidade corporal. No corpo humano, existem duas “florestas” de microrganismos, que chamamos de bioflora e microbiota. A primeira refere-se aos micróbios que fazem parte da nossa colônia corporal, ou seja, fazem parte do nosso corpo e nos ajudam, inclusive, na imunidade. Essa flora não é o foco quando pensamos em risco de transmissão de infecção, porém a segunda flora, que chamamos também de transitória, é perigosa e foco da nossa preocupação com a higiene das mãos. Durante a nossa rotina diária, seja no serviço de saúde ou não, “pegamos” os microrganismos que não fazem parte da nossa flora residente. Ao lavarmos as mãos, removemos todos eles e evitamos repassá-los para outras pessoas ou para nós mesmos, ao colocarmos a mão na boca, no nariz ou nos olhos. Sendo assim, não há discussão, precisamos lavar as mãos e incentivar a todos que fazem parte do serviço de saúde, sejam profissionais, pacientes ou colaboradores, por meio de campanhas, protocolos e incentivos constantes. Não há nada mais impactante do que o exemplo, então, lave sempre suas mãos. ASSIMILE Em tempos de pandemia, muitos falam sobre a importância do uso do álcool em gel, mas é preciso ter atenção, pois ele não substitui a lavagem das mãos. É um produto para ser usado quando não há possibilidade de higienizar as mãos, porém, na primeira oportunidade, o melhor a fazer é lavá-las com água e sabão. Agora você já sabe que somente este procedimento é capaz de remover a microbiota transitória. Então, nada o substitui. 0 Ve r an ot aç õe s Figura 3.6 | Microbiota das mãos Fonte: elaborada pelo autor. ADMINISTRAÇÃO SEGURA Um aspecto fundamental para segurança do paciente/cliente é a assistência segura na administração de medicamentos, nutrição ou procedimentos. Se você fizer uma busca simples na internet sobre erro de medicação, compreenderá o porquê de falarmos sobre isso. É alarmante! O que podemos fazer para melhorar esses processos? Conforme discutimos nas seções anteriores, os protocolos são as grandes ferramentas para alinhar e padronizar os processos de administração e evitar incidentes. No caso das medicações, é essencial que a equipe tenha uma padronização de preparo, reconstituição, diluição e administração, bem como compatibilidade, incompatibilidade, dose e via de administração e a cadeia medicamentosa. EXEMPLIFICANDO A administração de sangue e hemocomponentes em serviços de saúde é relativamente frequente e apresenta muitos riscos, por exemplo, incompatibilidade, reação inflamatória e até óbito. Para ser um procedimento seguro, é necessário o cumprimento de várias etapas, conferências e checklists antes de se chegar ao leito do paciente, no momento de administrar nele e após a realização. Por exemplo: ao chegar 0 Ve r an ot aç õe s ao hemoderivado, confere-se se o sangue corresponde à tipagem sanguínea do paciente e verificam-se os sinais vitais antes, durante e após a infusão, tudo para garantir que o procedimento tenha êxito, pois, caso ocorra uma intercorrência, esta pode ser detectada imediatamente. SEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIA Um grande aliado na consolidação da qualidade e segurança do paciente é a tecnologia, a qual ajuda de muitas formas, desde um monitor que monitora os sinais vitais, um sistema de rastreio de medicação, a prescrição eletrônica e equipamentos de última geração. A tecnologia, no entanto, não é determinante na segurança do paciente, e sim o processo bem definido. Imagine que você adquire o melhor ventilador mecânico, entretanto as suas equipes de fisioterapeutas não o sabem manejar, e isso poderá causar um incidente. Sendo assim, este tópico tem como meta fomentar a discussão de que precisamos aliar a tecnologia ao processo bem desenhado, implantado e acompanhado. A tecnologia pode ajudar a salvar vidas, mas é uma ferramenta que precisa ser utilizada com cuidado, baseada em evidência e controlada pelo servidor de engenharia clínica. Um dos grandes problemas é a queimadura em cirurgia pela placa de bisturi, colocada de forma incorreta. Esse é um exemplo de uma tecnologia importante, mas que precisa estar unida a um processo seguro, para que se tire o melhor benefício, ao menor custo. Nesta seção, exploramos aspectos mais práticos da segurança do paciente. O mais importante é você transportar esse conhecimento para sua área de atuação e ajudar a manter a melhoria contínua da sua atuação e do seu serviço de saúde. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 A identificação é o primeiro passo para envolver o paciente no processo de segurança. Ele precisa saber o porquê de ser identificado e ser orientado de que o colaborador, antes de fazer qualquer procedimento, deve perguntar o seu nome 0 Ve r an ot aç õe s e conferir a identificação. Dentre as estratégias de identificação do paciente, a mais amplamente utilizada é: a. Identificação do leito. b. Pulseira de identificação. c. Identificação no formulário de admissão. d. Identificação somente do prontuário. e. Identificação dos dispositivos. Questão 2 O paciente/cliente precisa ser inserido no processo de forma ativa, pois ele também é responsável pela sua segurança. Empodere-o e esclareça-o sempre sobre isso. A identificação do paciente precisa ser feita já na _________, com a ____________ de identificação, que deverá permanecer até a _______________do serviço de saúde. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. admissão; pulseira; alta. b.chegada; conversa; saída. c. alta; registro; admissão. d. residência; comprovante; transporte. e. casa; família; paciente. Questão 3 Em tempos de pandemia, muitos falam sobre a importância do uso do álcool em gel, o qual tem sido amplamente utilizado. Podemos dizer que o álcool em gel: Substitui a lavagens das mãos. 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3sfzlBk. Acesso em: 10 nov. 2020. TASE, T. H.; LOURENÇÃO, D. C. A.; BIANCHINI, S. M.; TRONCHIN, D. M. R. Identificação do paciente nas organizações de saúde: uma reflexão emergente. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 196-200, set. 2013. Disponível em: https://bit.ly/2P0Ar5l. Acesso em: 8 dez. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Joint Comission Resources. Joint Comission International. Patient Safety Solutions. Solution 2: patient identification. Genebra: WHO, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3tZVioz. Acesso em: 4 dez. 2020. Deve ser utilizado na impossibilidade de lavar as mãos. Com o uso de álcool em gel, não precisa lavar as mãos. É importante, mas não substitui a lavagem das mãos. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. II e III, apenas. d. II e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/3sfzlBk https://bit.ly/2P0Ar5l https://bit.ly/3tZVioz FOCO NO MERCADO DE TRABALHO PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA A SEGURANÇA DO PACIENTE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR A identificação indiscutivelmente é um processo essencial para a consolidação da segurança do paciente. Na situação-problema, você foi chamado para fazer o transporte de um paciente. Ao chegar ao local, depara-se com a seguinte situação: Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s você recepciona o paciente na ambulância e percebe que não há um encaminhamento formal. O paciente encontra-se sem pulseira de identificação e com cateteres, sondas e medicação sendo infundida, todos sem identificação também. Você questiona o serviço de saúde, e ele informa que está muito corrido e que não teve tempo de ver isso, pois a unidade está acima de sua capacidade de atendimento. Diante do exposto, quais são os riscos de realizar o transporte nessas condições? O que você poderia fazer para reduzir esses riscos e realizar um transporte mais seguro? É nítido que os riscos são diversos, desde a incerteza de quem é o paciente até qual medicação está sendo infundida. Então, qual seria a sua tomada de decisão? Um caminho a seguir seria solicitar ao serviço o encaminhamento formal e a adequada identificação do paciente, dos dispositivos e da medicação, pois, se você não fizer isso, assumirá os riscos. O que mais pode ser feito? Agora é com você! AVANÇANDO NA PRÁTICA MEDICAÇÃO COM IDENTIFICAÇÃO INCOMPLETA As medicações são fontes de cura, alívio e necessárias ao tratamento de muitas moléstias, porém, essencialmente, são drogas, possuem efeitos colaterais e são excretadas pelo sistema renal ou hepático. Para contextualizar esse momento, imagine que você, ao fazer uma visita beira leito, observa que o paciente está recebendo uma medicação, mas que o rótulo está incompleto: não tem o nome do medicamento, somente o primeiro nome do paciente, e não tem a identificação de quem instalou a medicação. Diante dessa situação, o que você faria? RESOLUÇÃO Como vimos anteriormente, a identificação é essencial para a segurança do paciente. No contexto da situação, você, ao fazer uma visita beira leito, observa que o paciente está recebendo uma medicação, mas que o rótulo está incompleto: não tem o nome do medicamento, somente o primeiro nome do paciente, e não tem a identificação de quem instalou a medicação. O que você 0 Ve r an ot aç õe s poderia fazer? Muitas são as possibilidades, mas o passo inicial seria resolver essa situação, ver quem estava cuidando deste paciente, investigar o que aconteceu, regularizar a situação e, num segundo momento, atuar no processo como um todo. Para isso não ocorrer, treine toda a equipe, por exemplo. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR SCORES E ANÁLISE DOS DESFECHOS CLÍNICOS Emanuel Nunes Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, seja bem-vindo a mais uma seção. Quando precisamos tomar uma decisão sobre os nossos pacientes/clientes, seremos mais assertivos conhecendo o perfil geral deles ou não? Imagine se você pensa em um protocolo para melhorar os atendimentos dos idosos no seu serviço, mas, após terminá-lo e implantá-lo, você percebe que não há idosos, apenas adultos jovens. Esse foi um exemplo extremo, porém é perfeitamente possível se desconhecermos quem são os nossos Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s pacientes/clientes. Sendo assim, nesta seção, aprenderemos juntos sobre como conhecê-los, bem como conhecer uma condição de gravidade, prognóstico e desfecho clínico. Introduziremos a ideia de que os “dados” podem se tornar conhecimento e a partir daí as nossas decisões poderão ser mais assertivas. Nos serviços de saúde, os scores são importantes instrumentos de gestão do cuidado, especialmente pelo grau de especificidade e qualidade dos dados obtidos. Para contextualizar os temas de seção dentro dos possíveis contextos profissionais, imagine que você foi chamado para coordenar um serviço de saúde referência em sua cidade, o qual foi inaugurado há poucos meses. Após assumir, você realizou um mapeamento dos processos e, aparentemente, eles estão bem definidos e funcionando. Contudo, ao checar a escala de trabalho, esta aparenta ter poucos funcionários. Ao conversar com o coordenador que te antecedeu, ele disse que existe falta no quadro de colaboradores, mas que ele não conseguiu melhorar isso e que você deveria ficar tranquilo, pois nada mudará. Em conversa com outros profissionais da equipe, você observa que eles não têm a mesma visão do coordenador anterior. Diante desta situação, o que você faria? Estude os dados, interprete-os e, assim, você verá o que os outros não conseguem ver. CONCEITO-CHAVE SCORE DE COMPLEXIDADE Você sabe o que significa score e para que serve? Etimologicamente, significa a marcação e classificação de pontos de um determinado jogo. No entanto, usamos o score para muitas coisas em nossa vida, aliás, ao nascermos, somos classificados por um score chamado Apgar, o qual, a partir de uma pontuação de 0 a 10, define as condições de nascimento, por exemplo, considera-se um score de Apgar bom acima de 7 no 1º, 5º e 10º minuto de vida. 0 Ve r an ot aç õe s E como é isso na área da saúde? Como podemos usar os scores em benefício da melhoria da qualidade e segurança do paciente? De inúmeras formas, tanto na gestão como na assistência, neste primeiro momento, daremos ênfase ao âmbito assistencial e cuidado. Para elucidar melhor, faremos a seguinte reflexão: todos os pacientes/clientes são iguais? As condições de doença têm o mesmo comportamento em todas as pessoas? A resposta é não. Como podemos melhorar o atendimento? Uma das possibilidades é a classificação dos pacientes/clientes por scores em diferentes momentos e situações. Imagine que você está em uma unidade de terapia intensiva adulta (UTIA). Quem é o paciente mais grave da UTIA? Sem um score, você usará parâmetros subjetivos, os quais, muitas vezes que não correspondem à realidade. Veremos como isso funciona. Suporemos que nós queremos saber quais são as necessidades de cuidados dos pacientes internados na UTIA, para isso podemos utilizar um score de complexidade, que avaliará dados clínicos dos pacientese os classificará em três categorias: cuidados mínimos, intermediários e intensivos. De acordo com as condições do paciente/cliente, são atribuídas pontuações no score, e quanto maior a pontuação, maior a complexidade e necessidade do paciente. Existe uma série de scores disponíveis, porém o importante aqui não é o score em si, mas, sim, a sua aplicação e relevância na melhoria da qualidade e segurança do paciente. Segue um exemplo, utilizando apenas um critério de análise. Vale lembrar que cada score tem seu próprio critério de análise. No Quadro 3.1, utilizaremos a via de nutricional como critério. Quadro 3.1 | Exemplo de score de complexidade Terapia nutricional Score Via oral sem auxílio 0 Via oral com auxílio 1 Sonda gástrica/nasoenteral 2 0 Ve r an ot aç õe s Terapia nutricional Score Gastrostomia 3 Fonte: elaborado pelo autor. Observe, no Quadro 3.1, que no exemplo da terapia nutricional existe uma gradação do score da menor para maior complexidade. Em um score de complexidade, podemos analisar muitos parâmetros diferentes, por exemplo, se o paciente está acamado ou não, se o banho será realizado no leito ou não, se ele tem lesões, curativos, dispositivos, enfim, todos esses dados, bem analisados e interpretados, serão muito úteis para a gestão do cuidado. Seja qual for a sua área, entender essa dinâmica te ajudará a melhorar o seu processo de trabalho e a tornar a sua gestão mais eficiente. Observe um exemplo de fluxo de score de complexidade na Figura 3.7. Figura 3.7 | Fluxo de score de complexidade Fonte: elaborada pelo autor. 0 Ve r an ot aç õe s COMO O PROFISSIONAL DE SAÚDE E O SERVIÇO PODEM USAR OS DADOS OBTIDOS PELO SCORE DE COMPLEXIDADE? Este é o ponto central da nossa discussão. O desafio não é aplicar o score, mas interpretá-lo e usar os seus dados na melhoria do serviço como um todo. Vamos a um exemplo prático: estamos em um serviço de saúde e notamos que estão faltando equipamentos, como monitores multiparâmetros e ventiladores mecânicos. Como fazer a solicitação para os gestores e ter um embasamento para isso? Não é possível convencer alguém sem dados objetivos e bem fundamentados. Pensaremos em duas situações distintas: na primeira, você simplesmente diz ao seu gestor: “Eu preciso de mais monitores multiparâmetros e ventiladores”; na segunda, você fala: “Nós precisamos de novos equipamentos, pois a nossa complexidade aumentou 75% nos últimos seis meses e no nosso perfil de pacientes predominam as doenças respiratórias, sendo que 85% deles são classificados como cuidados intensivos”. Qual abordagem terá mais sucesso na aquisição dos equipamentos? Lembre-se: esteja sempre embasado em dados antes de realizar uma solicitação de recursos para o seu serviço. ASSIMILE No exemplo do Quadro 3.1, podemos ver que, quanto maior a complexidade do paciente/cliente, maior é sua pontuação no score. Por exemplo, um paciente que consegue se alimentar sozinho tem o score de 0; já o paciente que tem uma gastrostomia recebe o score de 3. Isso ocorre porque, no primeiro caso, a demanda de cuidados do profissional de saúde será menor quando comparada ao segundo caso, que faz uso de um dispositivo que precisa de inúmeros cuidados pelo profissional de saúde. Vale ressaltar que os dados obtidos pelo score de complexidade embasam o profissional de saúde e o gestor para tomada de decisão, por exemplo: será que preciso de mais equipamentos, colaboradores, ou estrutura? Desse modo, não tem sentido você trabalhar no “escuro”, use os dados, transforme-os em indicadores e faça uma gestão do cuidado mais eficiente. 0 Ve r an ot aç õe s SCORE PROGNÓSTICO/PREDIÇÃO DE DESFECHO CLÍNICO Diferente do score de complexidade, que identifica a gravidade do paciente e a sua dependência de cuidados, o score prognóstico tem como objetivo compreender a evolução esperada do paciente/cliente com uma determinada doença ou condição. Veja o fluxo na Figura 3.8. Por exemplo, qual é a possibilidade de ocorrer um óbito na dada condição? Neste caso, são avaliados os paramentos clínicos, os exames laboratoriais e as condições gerais do paciente/cliente. Desse modo, chega-se a uma probabilidade ou porcentagem de chances de mortalidade. Do mesmo modo, quanto mais critérios de gravidade do paciente/cliente tiver, maior será o score indicativo de mortalidade. Existem scores de prognóstico geral, utilizados em unidades de terapia intensivas, e scores que são aplicados de acordo com a doença apresentada pelo paciente, como o score prognóstico de paciente com insuficiência cardíaca. Figura 3.8 | Fluxo do score prognóstico Fonte: elaborada pelo autor. ACOMPANHAMENTO E ANÁLISE DOS DESFECHOS CLÍNICOS Conhecer os desfechos clínicos é essencial para aferir, acompanhar e melhorar a qualidade da assistência e do serviço. Será que todos os seus pacientes apresentam boa resposta ao tratamento ou à intervenção que você realizou? Talvez possa haver uma resposta vaga: “Há, sim, eu vejo que eles melhoram”, mas no que essa afirmação está embasada? Tem algum dado que confirme isso? 0 Ve r an ot aç õe s Por isso, os scores são importantes, pois eles nos forneceram dados fidedignos que, junto aos indicadores de qualidade, serão usados para aferir a qualidade da intervenção ou serviço. REFLITA Imagine o seguinte cenário: um determinado serviço apresenta pacientes com score prognóstico com mínimo risco de mortalidade, mas apresenta alta mortalidade desses pacientes. Por que pacientes de risco baixo de óbito estão morrendo? Por outro lado, em outra organização de saúde, existem muitos pacientes com score prognóstico de alto risco de mortalidade, porém a mortalidade é baixa, considerando a complexidade e o score utilizado. Por que pacientes de alto risco de óbito estão sobrevivendo? Para aferir qualidade, precisamos analisar os indicadores, mas, se fôssemos inferir sobre qual serviço tem mais qualidade, qual seria? ANÁLISE MULTIPROFISSIONAL DE ÓBITO A compreensão do porquê de um paciente/ciente não evoluir bem ou ir a óbito é de extrema importância para se ter a certeza de que isso ocorreu devido à impossibilidade terapêutica, e não por um incidente ou situação evitável. Conforme a Figura 3.9, a equipe multiprofissional que analisa os óbitos munida de prontuários, scores e todos os registros do paciente faz a análise completa do óbito, a fim de entender se foi inevitável ou evitável. Mas, para que serve essa informação? Vamos responder com outra pergunta: é aceitável um óbito evitável no serviço de saúde? Certamente, não. Pode acontecer? Infelizmente, sim. Por isso, precisamos discutir cada vez mais a qualidade e segurança do paciente em nossa realidade. Ao analisar e descobrir que o óbito foi evitável, o próximo passo é saber o que fazer para que isso não volte a acontecer. A equipe multiprofissional desenvolve ações e melhora os processos, torna esse fato um aprendizado. Não é preciso que haja um óbito para que se pense em melhoria, e não se pode deixar de entender e saber o porquê do óbito. 0 Ve r an ot aç õe s EXEMPLIFICANDO Ao analisar um óbito, pode-se pensar que se está buscando encontrar falhas que justifiquem ou expliquem a ocorrência, mas não é isso. Na análise de um óbito, buscamos entendimento e oportunidades de melhoria, mesmo em um óbito inevitável pode ter ocorrido um procedimento que pode ser melhorado. O foco é na melhoria, e as falhas devem ser sanadas, sempre com uma visão educativa e com foco no processo. Figura 3.9 | Fluxo resumido de análise de óbito e seu impacto no serviço Fonte: elaborada pelo autor. Os scores têm o papel de nos instrumentalizar com dados para que tenhamos informações seguras para tomada de decisão e, assim, seguir a estrada rumo à qualidade e segurança do paciente. Nesta seção, fizemos uma jornada marcante sobre os scores e observamos a sua importância nos diferentes contextos e áreas. Vale ressaltar que o melhor score é aquele que atende às necessidades da sua áreade atuação e ajuda na melhoria contínua da qualidade do seu serviço. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 0 Ve r an ot aç õe s Os scores são ferramentas amplamente difundidas na área da saúde que, quando aplicadas, analisadas e interpretadas, podem trazer inúmeros benefícios para o sistema de saúde e o paciente/cliente. Para compreender o grau de dependência de cuidados dos pacientes, pode-se usar o: a. Score de prognóstico. b. Score de Apgar. c. Score de complexidade. d. Score de mortalidade. e. Score de morbidade. Questão 2 Existe uma série de scores disponíveis, porém o importante aqui não é o score em si, mas, sim, a sua aplicação e relevância na melhoria da qualidade e segurança do paciente. Dentre os principais benefícios do uso do score em saúde, estão: I. Fornecimento de dados para tomada de decisão do profissional e serviço de saúde. II. Compreensão da gravidade do paciente e predição de mortalidade. III. Embasamento para solicitação de aquisição de recursos. IV. Apenas para otimizar os recursos financeiros. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. I e III, apenas. 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS BOCHNER, R.; FREIRE, M. M. Análise dos óbitos decorrentes de intoxicação ocorridos no Brasil de 2010 a 2015 com base no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 761-772, fev. 2020. Disponível em: https://bit.ly/2OSGCbU. Acesso em: 17 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: d. I, II e III, apenas. e. I, II, III e IV. Questão 3 A equipe multiprofissional que analisa os óbitos, munida de prontuários, scores e todos os registros do paciente, faz uma análise completa, a fim de entender se o óbito foi inevitável ou evitável. O propósito da análise de óbito é, principalmente: I. Esclarecer as circunstâncias do óbito. II. Encontrar falhas e punir os “culpados”. III. Identificar as possíveis falhas e propor soluções. IV. Estimular a melhoria contínua do serviço de saúde. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. I, II, e III, apenas. d. I, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/2OSGCbU https://bit.ly/2PeSoNr. Acesso em: 10 dez. 2020. KEEGAN, M. T.; SOARES, M. O que todo intensivista deveria saber sobre os sistemas de escore prognóstico e mortalidade ajustada ao risco. Rev. bras. ter. intensiva, São Paulo, v. 28, n. 3, p. 264-269, set. 2016. Disponível em: https://bit.ly/3f8DXWe. Acesso em: 11 dez. 2020. KOHN, L. et al. To Err is Human: Building a Safer Health System. Washington, DC: National Academy Press, 2000. Disponível em: https://bit.ly/3vSgwq8. Acesso em: 28 set. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/2PeSoNr https://bit.ly/3f8DXWe https://bit.ly/3vSgwq8 FOCO NO MERCADO DE TRABALHO SCORES E ANÁLISE DOS DESFECHOS CLÍNICOS Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR Na situação-problema desta seção, deparamo-nos com problemas relacionados à escala de trabalho e aos funcionários de um serviço de saúde. Foram apresentadas poucas perspectivas para melhorias neste sentido, logo havia a Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s necessidade de adequação de processos, para não acontecerem impactos no atendimento aos clientes. Consideraremos que os scores são fontes de dados que ajudam na tomada de decisão clínica e gerencial. Será que estou com o meu time completo? O número de colaboradores corresponde à demanda de pacientes no serviço? Existe uma variedade de caminhos para responder a essas perguntas e ajudar a resolver essa problemática. Um caminho possível seria mensurar a complexidade dos seus pacientes e classificá-los de acordo com a dependência de cuidados (mínimo/intermediário/intensivo). Munido desses dados, você terá o perfil de complexidade dos pacientes, e isso, junto aos demais parâmetros e indicadores, lhe dará os dados necessários para saber se sua equipe está adequada ou não à demanda dos seus serviços. Lembre-se de que este poderia ser um caminho a ser seguido, então nada impede que você indique uma nova perspectiva de resposta. AVANÇANDO NA PRÁTICA COMPREENDENDO A MORTALIDADE DO SERVIÇO DE SAÚDE Um dos mais importantes indicadores de saúde de uma população é a mortalidade, a qual nos permite entender não somente o número, mas as condições e o porquê, para, assim, criarmos medidas preventivas, a fim de diminuir ou evitar o óbito, quando possível. Considerando esse contexto, imagine que você está no papel de um profissional de saúde de um serviço e foi surpreendido pelo número de pacientes que foram a óbito por uma determinada infecção viral. Parecia que as causas mais frequentes, como doenças cardíacas, tivessem zerado e agora os pacientes só morressem da doença atual. Diante desta situação, o que você faria para descobrir não só a causa dos óbitos mas também se eles foram evitáveis ou inevitáveis? RESOLUÇÃO 0 Ve r an ot aç õe s O indicador de mortalidade traz inúmeras informação para o serviço de saúde e ajuda na melhoria dos processos. No contexto da situação-problema, você foi surpreendido pelo número de pacientes que foram a óbito por uma determinada infecção viral. Parecia que as causas mais frequentes, como doenças cardíacas, tivessem acabado e a única causa de óbito fosse a infecção viral. Nesta situação, uma via importante de atuação seria a análise dos óbitos, uma vez que, além do diagnóstico de infecção viral, o paciente pode ter outras morbidades e outras condições que possam explicar o óbito. E, sobretudo, verificar se foi uma situação evitável ou inevitável. 0 Ve r an ot aç õe s
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