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GESTÃO, QUALIDADE E SEGURANÇA DO PACIENTE Emanuel Nunes Imprimir CONHECENDO A DISCIPLINA Olá, seja bem-vindo à disciplina de Gestão da Qualidade e Segurança do Paciente. Talvez, possa parecer estranho o termo “segurança do paciente”, mas o desvendaremos ao longo deste material. Para iniciarmos a nossa caminhada rumo ao novo conhecimento, faremos algumas paradas para reflexão da importância de discutirmos este tema. Ao longo desta jornada, você terá a companhia da professora Fernanda, que é especialista no tema. Você já deve ter ouvido falar que “errar é humano”, e de fato isso é verdade, somos passíveis de erros, mas isso não significa que devemos nos ancorar nessa justificativa e não fazer mudanças necessárias de melhoria. Este é o ponto principal da nossa disciplina: compreender que podemos minimizar os erros, os quais chamaremos de incidentes, e aprender com eles principalmente, evitando, por exemplo, a repetição do mesmo erro. Ao final desta disciplina, você será capaz de conhecer e identificar o contexto histórico da segurança do paciente e sua importância até os dias atuais, além de compreender e classificar as recomendações nacionais e mundiais para o alcance das metas da segurança do paciente, possibilitando a identificação da necessidade de qualidade e segurança do paciente/cliente na sua área de atuação, bem como a melhoria contínua de todos os processos que envolvem o cuidado. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s Você aprende com seus erros? A ideia dessa pergunta é causar um movimento nos seus pensamentos e transpor isso para sua profissão. Será que o cuidado prestado ao seu paciente/cliente traz conforto e bem-estar ou leva a danos desnecessários? É muito importante que você já comece a refletir sobre isso. Talvez, você possa pensar: “ainda sou um aluno, o que posso fazer?”. Você pode fazer mais do que você imagina, mas vamos com calma. O primeiro passo é entender que você não é apenas um aluno, e sim um futuro profissional de saúde. Esse é um dos momentos mais importantes, pois, com os conceitos que você aprenderá, será possível aplicá-los ao longo da sua carreira. Sendo assim, durante o decorrer do nosso estudo, vislumbraremos o cenário mundial da qualidade e segurança do paciente/cliente em uma ótica multiprofissional, pois é um tema que interessa todas as profissões da área da saúde. Compreenderemos os tipos de incidentes e suas implicações para a saúde; aprenderemos a estruturar o Procedimento Operacional Padronizado (POP), protocolos e utilizar ferramentas de gestão, análise de indicadores e scores; sobretudo, entender que precisamos nos conectar com a noção de que podemos sempre melhorar os nossos processos de trabalho e, por conseguinte, a qualidade de assistência e a segurança dos nossos pacientes/clientes. Aproveite cada etapa desse caminhar, aprofunde as reflexões, insira os conceitos na sua área de atuação, busque sempre o melhor e não esqueça: na área da saúde, somos pessoas que cuidam de pessoas. Como você gostaria de ser cuidado? 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR CONTEXTO HISTÓRICO DA SEGURANÇA DO PACIENTE E PRINCIPAIS DEFINIÇÕES Emanuel Nunes Imprimir CONVITE AO ESTUDO Você está pronto para a nossa primeira unidade? A professora Fernanda já está, e preparou um conteúdo muito bacana para você. Então, sem delongas, vamos ao que interessa. A proposta desse primeiro contato é que você consiga compreender, de modo geral, os principais conceitos e definições de gestão da qualidade e da segurança do paciente, bem como a epidemiologia dos incidentes Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s na área da saúde no mundo e no Brasil, suas implicações para o paciente/cliente e para todo o sistema de saúde – sempre em uma abordagem multiprofissional. Então, cada conceito apreendido pode ser aplicado à sua área específica, pois ela não é isenta de riscos. Já comece a pensar nisso. Nesta unidade, você conhecerá os termos padronizados para área da saúde no âmbito da disciplina, bem como as políticas públicas para qualidade e segurança do paciente/cliente e as principais linhas de pesquisa que investigam a temática, para melhoramento contínuo dos serviços de saúde. Vale ressaltar que é uma temática relativamente nova, tendo como um grande despertar as décadas de 1990 e 2000, que foram marcadas por estudos que demonstraram a magnitude do problema de segurança dos serviços de saúde. Desse modo, estamos aprendendo com os incidentes conhecidos e aplicando os protocolos atuais, a fim de evitar incidentes e assegurar a qualidade dos nossos serviços e intervenções. Você é convidado a compor esse time de profissionais que valorizam a segurança e são comprometidos com uma atenção de qualidade e livre de danos. PRATICAR PARA APRENDER Você sabia que um em cada dez pacientes/clientes que adentram em serviço de saúde, ou recebem algum tipo de atenção à saúde, sofre algum tipo de incidente com dano à sua saúde? E tem mais um dado alarmante: a maioria são incidentes evitáveis, os quais, com simples intervenções e processos de melhoria, seriam eliminados. Sendo assim, caro formando da área da saúde, você terá um papel importantíssimo neste cenário. A partir dos conteúdos apreendidos, você será capaz de detectar os riscos inerentes à sua área e propor soluções, com o propósito de reduzir os incidentes e assegurar a qualidade do seu trabalho, bem como a concepção de melhoria contínua. 0 Ve r an ot aç õe s A questão da gestão da qualidade e segurança do paciente não deve ser uma recomendação para os profissionais de saúde, mas uma premissa fundamental para o exercício da profissão. Você já deve ter percebido o quanto uma falha de processo gera retrabalho e o quanto isso sacrifica o tempo e outras dimensões. Assim, para trabalharmos os temas desta seção em uma possível situação da vivência profissional, imagine um indivíduo que está realizando os exames admissionais para uma empresa em que foi recentemente contratado. Ao chegar ao laboratório para fazer a coleta dos seus exames, o indivíduo não percebeu nada de incomum – terminou o procedimento e foi para sua casa, feliz por ter concluído mais uma etapa do processo de contratação. Alguns dias depois, o departamento pessoal ligou para o futuro funcionário e disse que os exames ainda não chegaram e que o prazo de contratação está terminando. Preocupado, ele liga no laboratório e é informado que precisará fazer uma nova coleta. Ele questiona o motivo e explicam que houve um incidente e a amostra de sangue foi perdida por falta de identificação, sendo necessária nova coleta. Neste caso, você consegue perceber o desconforto que isso gerou na vida do indivíduo? Como isso poderia ter sido evitado? Se você fosse responsável pelo laboratório, o que poderia fazer para que isso não acontecesse mais? Sabemos que sua jornada tem sido um grande desafio, mas veja o quanto você tem progredido, portanto mantenha um passo de cada vez. Respire, relembre os seus propósitos e siga. Se você escolheu a área da saúde, significa que você tem uma grande missão, e para atender a esse chamado são necessários preparação e estudo. Parabéns, você está no caminho! CONCEITO-CHAVE GESTÃO DA QUALIDADE E DA SEGURANÇA DO PACIENTE Daremos o primeiro passo nesta jornada chamada gestão da qualidade e segurança do paciente. Aproveite cada conceito e aplique na sua profissão. O termo paciente pode ser também compreendido como cliente, desse modo, seja 0 Ve r an ot aç õe s qual for a sua área, a qualidade e a segurança de todos os processos envolvidos na sua ocupação estão diretamente ligadas ao sucesso – ou não – de suas intervenções com seu cliente ou serviço prestado. Por que precisamos falar de qualidade e segurança do cliente? Veremos a pergunta que a professora Fernanda preparou: você embarcaria em uma aeronave sem tercerteza de que ela está com a manutenção em dia e que a tripulação é bem capacitada para realizar o voo? É provável que não! Por quê? Basicamente, não existe segurança, e isso é uma necessidade humana básica, mas, frequentemente, as pessoas voam sem muita preocupação neste sentido, pois elas enxergam a qualidade do serviço prestado. Perceba que qualidade pode ser algo objetivo, ou subjetivo, por exemplo: se consideramos o número de acidentes fatais em aviões comerciais no Brasil em 2019, você verá que não houve nenhum, porém houve milhares de pousos e decolagens. Isso demonstra qualidade do ponto de vista objetivo, por outro lado, o atendimento da tripulação pode ter outro significado. O uso desse exemplo da aviação não foi ao acaso, na verdade, ele tem muita relação com a área de saúde, pois ambos possuem riscos e perigos extremos, portanto necessitam de processos bem definidos que garantam a qualidade e a segurança do cliente. Veremos a definição de cada termo que utilizamos até agora: Qualidade É um dos termos mais complexos quando analisamos sua definição. De modo geral, “qualidade é a capacidade de um produto ou serviço de corresponder ao objetivo a que se propõe” (CROSBY, 2000, p. 40). Em outras palavras, é realizar aquilo que foi proposto com excelência, sem falhas ou danos. Qualidade em saúde É um termo bastante amplo, discutido por muitos teóricos, porém adotaremos o conceito de Donabedian (1990), que define qualidade em saúde como a possibilidade de conseguir melhores resultados aos seus pacientes/clientes, ao menor risco para eles. 0 Ve r an ot aç õe s Gestão de qualidade Quando uma organização trabalha e se empenha em todas as suas esferas para assegurar a melhoria permanente do seu produto ou serviço, a fim de atender os seus pacientes/clientes de forma assertiva, com precisão e excelência. Segurança do paciente/cliente De acordo com a Classificação Internacional de Segurança do Paciente (ICPS), proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS), “é a redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde” (OMS, 2005, [s.p.]). Agora que você já conhece os conceitos iniciais, aprofundaremos nosso estudo com alguns dados importantes que a professora Fernanda nos apresentará a seguir. Fique atento, pois essas informações revelarão o motivo e a importância das discussões presentes nessa disciplina. POR QUE PRECISAMOS DISCUTIR QUALIDADE E SEGURANÇA DO PACIENTE? Estima-se que 421 milhões de pessoas são hospitalizadas por ano ao redor do mundo e que, em média, uma em cada dez internações resulta em eventos adversos (EAs), definidos como um incidente que resultou em dano ao paciente (OMS, 2011). Este dado refere-se a países desenvolvidos, visto que não há estatística análoga para países com economias emergentes, embora acredite-se que a extensão do problema pode ser maior neles. Segundo as estimativas, todos os dias, 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de uma infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS) em uma instituição de saúde. Na América Latina, um estudo realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em colaboração com os governos da Argentina, Colômbia, Costa Rica, México e Peru, mostrou uma taxa de 10,46% de EAs em hospitais de complexidade intermediária. Em outro estudo realizado em larga escala em 26 países do Mediterrâneo Oriental e africanos, os pesquisadores demonstraram 0 Ve r an ot aç õe s que, em média, os EAs afetaram oito em cada 100 pacientes. Ainda, quatro em cada cinco EAs foram considerados evitáveis. Os autores concluíram que as despesas médicas adicionais resultantes dos cuidados inseguros custaram bilhões de dólares por ano para aqueles países (OMS, 2011). No que diz respeito aos custos dispensados ao tratamento dos EAs, estima-se que, somente nos EUA, trilhões de dólares sejam gastos para tratar as consequências desses eventos. Um estudo sobre custos médicos relacionados aos cuidados inseguros mostrou que a hospitalização adicional, as IRAS, as deficiências permanentes e as despesas médicas resultaram em gastos na ordem de US$ 6 e 29 bilhões por ano (OMS, 2017). Tais resultados revelam que os EAs são dispendiosos. Globalmente, os gastos com eles foram estimados em US$ 42 bilhões por ano, o que corresponde a cerca de 1% das despesas totais com a saúde (OMS, 2017). REFLITA Há riscos nas profissões de biomédicos, biólogos, educadores físicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos? Será que, ao invés de levar cuidado e conforto, podemos também causar danos? Faça uma lista dos principais riscos potenciais que permeiam a sua ocupação e, depois, pense em modos para minimizá-los e, com isso, evitar os incidentes. No Brasil, os EAs foram analisados por Mendes et al. (2005) em estudo de coorte realizado por meio de revisão de prontuários de pacientes adultos. Os autores demonstraram uma taxa de 7,6% de EAs, sendo que 66,7% foram considerados evitavéis. Com relação ao impacto financeiro desses eventos, o volume de recursos financeiros gastos com pacientes que sofreram pelo menos um EA em hospitais brasileiros foi analisado através de informações financeiras disponíveis no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS). Concluíram que o tempo médio de permanência hospitalar dos pacientes que 0 Ve r an ot aç õe s sofreram EA foi 28,3 dias superior, em comparação aos pacientes que não sofreram EA. Também, revelaram que os EAs representaram o gasto de R$ 1.212.363,30 (MENDES et al., 2005). Em um relatório divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em 2017, observou-se que a maioria dos incidentes de segurança ocorreu nos hospitais (94%). Vamos sintetizar alguns pontos importantes para todas as profissões da área da saúde: Todas as atividades na área da saúde apresentam riscos para a integridade do paciente e para o profissional. Os incidentes podem causar danos irreparáveis nos pacientes/clientes. Os incidentes, em sua maioria, são evitáveis e aumentam muito os custos da saúde. Você, como profissional de saúde, precisa conhecer esses riscos inerentes a cada área e atuar para que não levem a incidentes com danos aos seus clientes. TAXONOMIA EM SEGURANÇA DO PACIENTE – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) Para padronização dos termos, a OMS lançou, em 2005, a Classificação Internacional de Segurança do Paciente (ICPS). Essa classificação permite a uniformidade dos conceitos, a qual assegura que os profissionais tenham uma comunicação mais assertiva sobre cada terminologia e consigam aplicar em seu cotidiano. Quadro 1.1 | Classificação Internacional de Segurança do Paciente (ICPS) Segurança do paciente Reduzir os riscos de danos desnecessários ao paciente/cliente. Dano Comprometimento da estrutura ou função do corpo humano, seja de ordem física, social ou psicológica. 0 Ve r an ot aç õe s Risco Probabilidade de um incidente acontecer. Incidente Evento ou situação que poderia ou resultou em dano desnecessário ao paciente. Circunstância notificável Incidente com potencial para causar dano ao paciente/cliente. Near miss É um “quase erro”, incidente que foi observado, mas atingiu o paciente/cliente. Incidente sem dano Incidente que atingiu o paciente/cliente, mas não foi capaz de causar dano. Evento adverso Incidente que resultou em dano ao paciente/cliente. Pode ser um dano temporário, permanente ou até mesmo o óbito. Fonte: Brasil (2014, p. 7). Os termos abordados no Quadro 1.1 são muitos importantes para sua atuação profissional, pois você perceberá, ao longo deste estudo, que existe uma gradação nos incidentes, e isso possibilita a criação de processos que minimizem os riscos e melhorem continuamente a qualidade do seu trabalho e atendimento ao paciente/cliente. Observe, na Figura 1.1, a hierarquia dos incidentes: Figura 1.1 | Gradação dos incidentes relacionados à assistência à saúde0 Ve r an ot aç õe s Fonte: elaborada pelo autor. EXEMPLIFICANDO É fundamental que você compreenda a gradação dos incidentes, pois um evento adverso acontece, geralmente, devido a uma série de fatores que foram negligenciados ao longo do tempo. Imagine a seguinte situação: 1. Paciente está em uma cama, e as grades dela estão quebradas (circunstância notificável), mas ninguém percebeu ou deu a devida importância; 2. Profissional chega ao leito do paciente quando ele ia cair e consegue ajudá-lo, e a queda não ocorre (near miss); 3. Paciente escorrega e vai ao chão, mas não apresenta nenhum dano (incidente sem dano); 4. Por fim, em nova ocasião, o paciente cai e bate a cabeça, tem perda da consciência e hemorragia (evento adverso). Se no primeiro incidente houvesse a notificação, a troca de cama do paciente e o encaminhamento da cama danificada para a manutenção, o evento adverso não aconteceria. POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA DO PACIENTE Em 1999, o Institute of Medicine (IOM) lançou o primeiro estudo sobre a temática “segurança do paciente”. Na ocasião, o estudo, denominado Errar é humano: construindo um sistema de saúde mais seguro, foi impactante no mundo todo, 0 Ve r an ot aç õe s pois evidenciou que morriam, aproximadamente, 98 mil pessoas por ano devido a erros médicos. Como você percebeu, não usamos mais o termo “erro médico”, e sim incidentes. Este estudo pioneiro inspirou iniciativas globais. Em 2004, a OMS lançou a campanha Aliança mundial pela segurança do paciente e, a partir deste ponto, a noção de que a necessidade de uma assistência segura era universal. E no Brasil? A iniciativa mais importante foi a Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013, a qual estabeleceu o Programa Nacional de Segurança do Paciente, um marco para o país, pois regulamentou e tornou compulsório que as instituições de saúde tenham uma política de segurança interna para melhoria da qualidade e segurança do paciente/cliente. Vale ressaltar que as políticas públicas são essenciais, mas é necessário que haja uma cultura de segurança em toda a instituição de saúde e que todos os colaboradores sejam capacitados para evitar incidentes. ASSIMILE De acordo com Kohn, Corrigan e Donaldson (2000) e o Institute of Medicine (IOM), em 1999, havia, aproximadamente, 98 mil mortes por erro médico nos EUA, um país emergente e com os melhores protocolos do mundo. Se transportarmos essa realidade para o Brasil, qual seria esse percentual por incidentes nos serviços de saúde? Somente no ano de 2017, foram notificados para a Anvisa mais de 50 mil incidentes, destes mais de 94% aconteceram em hospitais. Sendo assim, é necessário que você pare, reflita, inspire segurança em suas intervenções, siga os protocolos, melhore-os, faça um cuidado seguro e não cause danos ao seu paciente/cliente. PESQUISA EM SEGURANÇA DO PACIENTE A pesquisa científica é o caminho mais seguro para tornar tangíveis os conhecimentos provindos dela e transpô-la para melhoria da prática profissional. Desse modo, a OMS, em 2017, lançou um desafio aos pesquisadores de todo o 0 Ve r an ot aç õe s mundo e definiu alguns temas de investigação científica prioritários em segurança do paciente: (1) medir o dano; (2) compreender as causas; (3) identificar as soluções; (4) avaliar o impacto e (5) transpor a evidência em cuidados mais seguros. Vale enfatizar que você também pode ser um pesquisador, na verdade, o profissional de saúde é um investigador nato, pois, em seu processo de trabalho, existe muita tomada de decisão que depende de uma investigação da condição ou do fenômeno de seu paciente/cliente. Um dos exemplos da importância da pesquisa sobre este tema é o trabalho pioneiro de Mendes et al. (2005) no Brasil, o qual demonstrou que a problemática da segurança do paciente em nosso país tem reflexos nos pacientes/clientes e em todo o sistema de saúde, como aumento de custos associado ao incidente, tempo de internação e prolongamento do tratamento com antibióticos. Parabéns por ter concluído o primeiro trajeto da nossa caminhada com tanta dedicação e empenho. Este estudo é para aquisição de novos conhecimentos, então o que você aprendeu aqui ajudará no seu próximo itinerário. FAÇA VALER A PENA Questão 1 A questão da problemática da segurança do paciente/cliente no mundo é uma discussão atual e que impacta toda a sociedade, pois diz respeito também à credibilidade dos serviços de saúde, bem como aos seus profissionais. Desse modo, não é restrito apenas aos profissionais de saúde pensar em processos de melhoria, isso também é tarefa do paciente/cliente e de toda a sociedade. Hipócrates (460-377 a.C.) já dizia: “primum non nocere”, ou seja, “primeiro, não causar dano”. Apesar de tanto tempo dessa inferência de Hipócrates, qual estudo embasou todas as iniciativas sobre um cuidado mais seguro no mundo? Assinale a alternativa correta: a. “Errar é humano”, do Institute of Medicine, em 1999. 0 Ve r an ot aç õe s b. Aliança pela segurança do paciente, da OMS, em 2004. c. Desafios global, da OMS, a partir de 2005. d. Portaria nº 529, no Brasil. e. Relatório da Anvisa, em 2017. Questão 2 Para a padronização dos termos, a OMS lançou, em 2005, a Classificação Internacional de Segurança do Paciente (ICPS). Essa classificação permite a uniformidade dos conceitos, a qual assegura que os profissionais tenham uma comunicação mais assertiva sobre cada terminologia e consigam aplicar em seu cotidiano. Pense em uma situação hipotética, na qual um incidente está prestes a acontecer, mas alguém consegue perceber e impede que ele ocorra. Qual é a classificação desse incidente? a. Evento adverso. b. Incidente sem dano. c. Near miss. d. Circunstância notificável. e. Dano. Questão 3 Os incidentes na área da saúde são uma epidemia atual no mundo, e alguns pontos chamam muito atenção: primeiro, por serem evitáveis em sua maioria; segundo, pela consequência que os pacientes/clientes sofrem; por fim, o custo elevado para a saúde pública decorrente dos incidentes. Sendo assim, avalie a afirmativas a seguir, sobre o que um profissional de saúde deve fazer, primeiramente, ao presenciar um incidente: I. Reportar para seus superiores e advertir o responsável pelo erro. 0 Ve r an ot aç õe s II. Notificar o incidente e buscar compreender a causa. III. Ter uma postura ampla, com foco na solução, e não no problema. IV. Buscar uma abordagem educativa, e não punitiva, com foco no processo, e não nas pessoas. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. II e III, apenas. d. III e IV, apenas. e. II, III e IV, apenas. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3n42ImG. Acesso em: 10 set. 2020. BRASIL. 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Disponível em: https://bit.ly/3hx5SOu. Acesso em: 28 set. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232013000700018&script=sci_arttext FOCO NO MERCADO DE TRABALHO CONTEXTO HISTÓRICO DA SEGURANÇA DO PACIENTE E PRINCIPAIS DEFINIÇÕES Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR No caso apresentado, podemos ver claramente que foi um incidente relacionado à não identificação da amostra de sangue. Também, fica evidente o transtorno que isso causou para o futuro funcionário da empresa naquele momento. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s Inicialmente, você pode querer achar quem foi culpado e resolver a situação com uma advertência ou punição ao funcionário. No entanto, quando discutimos qualidade voltada para a segurança do paciente, não buscamos pessoas para culpar pelo que houve, na verdade, focamos na causa raiz do incidente, por exemplo: quais são os fatores relacionados ao incidente? Vamos supor que, neste caso, seja a ausência de padronização de identificação. Se fosse isso, seria importante que o time do laboratório trabalhasse para implantar uma padronização de identificação de amostras, para que não ocorram mais incidentes como o que houve. Então, qual é a lição deste caso? Devemos procurar soluções melhores, e não culpados, pois, às vezes, o funcionário é a vítima de um sistema ou processo mal desenhado, permeado de falhas latentes e riscos, o que aumentam as chances de um incidente ocorrer. Vale ressaltar que são muitos os caminhos e as ações que se pode tomar para conseguir alcançar os objetivos de melhoria contínua de acordo com a sua realidade de trabalho. Use também a criatividade! AVANÇANDO NA PRÁTICA FALHA DE COMUNICAÇÃO Em um determinado dia de bastante movimento em uma instituição, surgiram duas reclamações sobre entregas erradas de produtos aos clientes. O cliente A adquiriu o produto Y, e o cliente B, o produto X. Ao verificarem os seus respectivos pacotes, perceberam que não se tratava do produto comprado. Foram até o estabelecimento e solicitaram explicações ao responsável, que, naquele momento, era você. Ao fazer a primeira averiguação, você notou que os dois clientes se chamavam José, que ambos fizeram suas compras no período da manhã e os produtos adquiridos eram tecnologicamente parecidos. Ao aprofundar sua investigação, também notou que eles foram atendidos pelos mesmos funcionários, com poucos minutos de diferença. Considerando que o foco da melhoria contínua é o processo, e não o indivíduo, qual seria a sua conduta nesta situação? 0 Ve r an ot aç õe s RESOLUÇÃO Existem inúmeras “pistas” para ajudar você a chegar na causa raiz do referido incidente. Vamos ver: Dia movimentado. Clientes com o mesmo nome. Produtos comprados eram parecidos. Foram atendidos pelos mesmos funcionários. Onde ocorreu a falha? Qual lacuna precisa ser preenchida para que este incidente não aconteça novamente? As “pistas” 1, 2 e 3 não são causas, e sim fatores contribuintes. Desse modo, o que houve durante o atendimento que culminou no incidente? Seria interessante ouvir os colaboradores sobre aquele dia, como foi cada etapa do atendimento, para tentar entender onde está a lacuna e, assim, implementar ações para evitar recorrência do mesmo tipo de incidente. Vamos supor que foi uma falha de comunicação durante a entrega. Os dois pacotes estavam etiquetados como “José”, o colaborador em questão sabia disso e falou para o seu colega: “Fulano, esse pacote verde é do Senhor José F., e o azul, do Senhor José L. Eu vou pegar algo lá no almoxarifado. Se eles chegarem, você entrega para mim, ok?”. Diante dessa nova evidência, qual seria o plano de melhoria? Colocar o nome completo do cliente nos pacotes? Agora é com você. O que mais poderia ser feito? Vale lembrar que essa situação hipotética pode ser transplantada para sua área de atenção. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR A SEGURANÇA DO PACIENTE COMO QUESTÃO ESTRATÉGICA NO BRASIL E NO MUNDO Emanuel Nunes Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Parabéns por ter chegado até aqui, esperamos que você esteja compreendendo o conteúdo e aplicando-o em sua área de atuação. Lembre-se de que o problema maior ocorre em hospitais, mas isso não significa que não acontecem incidentes em outros níveis de atenção à saúde. O hospital é a ponta do iceberg, porém todo Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s e qualquer serviço de saúde tem seus riscos. Portanto, é necessário que você conheça essas lacunas e realize ações de prevenção, para proteger você, sua equipe e seus pacientes/clientes. Nesta seção, aprofundaremos as principais recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o melhoramento contínuo da qualidade e segurança do paciente no mundo. São iniciativas baseadas em estudos epidemiológicos que mensuraram a incidência e prevalência de incidentes e, a partir dessa constatação, ficou claro onde está o maior problema e o que devemos resolver de forma prioritária. Aproveite o conteúdo e lembre-se: aplique-o em sua área de atuação. Para trabalharmos os temas discutidos nesta seção, dentro das perspectivas profissionais da área da saúde, utilizaremos o contexto das situações rotineiras de trabalho enfrentadas por um gestor de um hospital de médio porte. Dessa forma, imagine que o gestor do hospital está direcionado a desenvolver formas de capacitação dos profissionais que estão sob sua responsabilidade, no intuito de melhorar os critérios dasatividades que possam estar relacionadas à qualidade e segurança do paciente. Considerando as recomendações da OMS, no lugar do gestor, quais estratégias você poderia apontar para melhorar os serviços do hospital dentro dessa visão? Cada novo aprendizado colocado em prática é como se fosse um tijolo em uma construção, parece que falta muito para chegar ao fim, mas não se preocupe, concentre-se apenas no passo em que você se encontra, um passo por vez. CONCEITO-CHAVE RECOMENDAÇÕES DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) E O DESAFIO GLOBAL DE SAÚDE Após o estudo alarmante do Institute of Medicine (IOM), em 1999, o qual trabalhamos na seção anterior, houve um aumento de pesquisas para entender o fenômeno da segurança do paciente no mundo, e isso levou à disseminação de 0 Ve r an ot aç õe s inúmeras estratégias para reduzir os riscos assistenciais ao cliente/paciente. Dentre as ações de fomento à segurança do paciente, a mais importante foi a Aliança Mundial pela Segurança do Paciente, que a OMS publicou em 2004, em diversas línguas, tornando-a acessível globalmente em forma de Desafio global para segurança do paciente. Até o momento, já foram divulgados três desafios, com temáticas específicas, tendo como base os principais problemas da segurança do paciente no mundo, conhecidos a partir de estudos epidemiológicos. 1º Desafio global (2005/2006): Cuidado limpo é um cuidado seguro. Você sabia que, ao realizar um cuidado de saúde, podemos também causar infecção no nosso paciente/cliente? Durante muito tempo, isso foi chamado de infecção hospitalar, mas era um termo muito genérico e com foco apenas em hospitais. A partir do conhecimento das causas dessas infecções, originou-se um novo termo, denominado Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (IRAS), que se deve ao fato de que existe o risco de infecção durante um procedimento ou intervenção de saúde. Onde estão esses riscos? Eles estão embutidos em todos os aspectos, desde a não higiene correta da mão até o uso incorreto de dispositivos médico-hospitalares, seja na inserção ou manutenção. Dentre as principais IRAS conhecidas, estão: Infecção Primária de Corrente Sanguínea (IPCS): acontece quando o paciente/cliente é acometido com uma infecção devido ao uso do cateter venoso central (CVC) ou qualquer outro dispositivo intravenoso. O CVC é utilizado para administração de fluidos e medicações e, se mal inserido ou manuseado de forma incorreta, pode ser uma fonte de infecção e causar danos à saúde do paciente/cliente, como a sepse (infecção generalizada) potencialmente grave, a qual pode levar a óbito. Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV): em algumas condições de saúde, é necessário fazer uma ventilação invasiva no paciente/cliente de 0 Ve r an ot aç õe s forma artificial, para que ele possa ter possibilidade de recuperação. Comumente, é inserido um tudo endotraqueal e realizadas conexões por meio de circuitos ao ventilador mecânico (VM), o qual se trata de um equipamento capaz de controlar os ciclos respiratórios e manter a oxigenação adequada dos pacientes graves. Contudo, por ser artificial, necessita de cuidados sistematizados para evitar infecção. Quando isso não acontece, ocorre a pneumonia, o que compromete a evolução clínica e o prognóstico do paciente/cliente. Infecção do Trato urinário (ITU) relacionado ao Cateter Vesical (CV): um outro dispositivo muito usado em serviços de saúde é o CV, o qual é utilizado, basicamente, para controle do débito urinário de pacientes com doenças agudas ou crônicas. É um dispositivo inserido na uretra e locado na bexiga. Por ser uma área estéril, se o profissional de saúde não seguir as recomendações de inserção e manutenção do CV, pode levar a uma ITU e ser altamente prejudicial ao paciente/cliente. Você conseguiu perceber que, independentemente do tipo de IRAS, elas são foco de preocupação mundial, pois, além de impactarem na vida dos pacientes/clientes e familiares, aumentam os custos hospitalares, uso de antibióticos e tempo de internação no serviço de saúde, ou seja, é um problema de saúde pública? Neste contexto, o 1º Desafio global vem ao encontro dessa necessidade com o objetivo de reduzir os índices de IRAS em todo o mundo, a partir de práticas mais seguras de assistência à saúde. Uma dessas propostas que tem surtido efeito é conhecida como bundles, que podemos traduzir como “pacotes de medidas”. Observe que interessante: trata-se de uma hierarquia de ações para realizar um determinado procedimento, por exemplo, para inserção de um cateter venoso central, é necessário que o profissional de saúde siga as seguintes etapas: 1. Higiene das mãos. 0 Ve r an ot aç õe s 2. Paramentação completa (touca, máscara cirúrgica, luva estéril e avental cirúrgico). 3. Antissepsia correta (aplicar clorexidina alcoólico 0,5% na região da inserção do cateter por um tempo superior a 30 segundos e deixar secar por 2 minutos). 4. Garantir barreira máxima (campos cirúrgicos no paciente/cliente). 5. Realizar o curativo estéril do CVC. Você pode estar pensando: quem garante que o profissional seguirá essas recomendações? Exatamente por isso que o bundles é um pacote de medidas. Falamos da primeira etapa, que são as orientações para inserção do CVC. Durante esta fase, um outro profissional de saúde faz uma auditoria, ou seja, ele confere se o profissional em campo está seguindo os passos dos procedimentos; caso não esteja, ele é avisado e corrige-se a falha. Chamamos isso de auditoria de inserção, a qual é muito importante, pois assegura a qualidade do procedimento. Após o procedimento, diariamente, a equipe avalia as condições do CVC e trabalha para remoção precoce, evitando a infecção. Em suma, existem bundles para todos os tipos de IRAS, sendo assim, os serviços de saúde devem monitorar e gerenciar os seus índices de IRAS, sempre mirando na redução máxima possível. Aqui, falamos do exemplo do CVC, mas, na sua profissão, seja qual for o dispositivo que você utilize em seu paciente/cliente, é necessário que haja também bundles, para que você evite uma possível infecção, sendo que o mais eficaz é sempre a higiene correta das mãos antes e após todas as suas intervenções. Você notou que, para que tenha de fato um impacto na redução das IRAS, o pacote de medidas tem auditoria e acompanhamento do processo em sua composição? Esse exemplo é muito importante para você, pois nele contém implicitamente a seguinte afirmativa: “Uma ação de melhoria sem acompanhamento não gera mudança”. O que isso significa? Você pode ter uma 0 Ve r an ot aç õe s excelente ideia para melhorar os seus processos e fazer várias ações, mas, se não haver acompanhamento e refinamento do processo, o resultado não aparecerá, e isso gerará frustação e desânimo. Para que isso não ocorra, é necessário que você pense também em formas de mensurar e acompanhar a ação implantada, o que permite correção precoce e refinamento das intervenções e traz um sentimento de que podem ocorrer mudanças, mesmo em cenários desafiadores. Às vezes, são pequenas melhorias, mas farão muita diferença. REFLITA Quer melhorar as condições de qualidade e segurança do paciente? Comece por você! Por exemplo: sempre use os equipamentos de proteção individual de forma correta, higienize as mãos em todas as oportunidades e tenha empatia pelo seu paciente/cliente. A forma mais fácil de compreender a importância e as consequências de nossas ações é se colocar do “outro lado” e se perguntar: eu gostaria de receber esse cuidado? Quais benefícios poderia trazer para o paciente? 2º Desafio global (2007/2008): “Cirurgia segura salva vidas”. Milhões de pessoas no mundo passaram ou passarão por um procedimento cirúrgico em algum momento da vida. Provavelmente, você conhece alguém que necessitou desta modalidade de tratamento. Você consegue imaginar os riscos desta intervenção? São muitos, desde uma cirurgia em local errado, na pessoa errada ou até mesmo desnecessária.Para evitar incidentes dessa natureza, bem como as suas consequências, esse 2º Desafio global alerta para a necessidade de ações para redução deste problema. Dentre as ações mais utilizadas, estão os checklists antes da cirurgia, durante e após, os quais asseguram que tudo e todos estão conferidos em cada etapa do processo, evitando os incidentes. 3º Desafio global (2017): “Segurança na utilização dos medicamentos”. 0 Ve r an ot aç õe s Uma outra problemática no mundo é a segurança no uso de medicamentos nas instituições de saúde. São inúmeros riscos, os quais vão desde a prescrição, dispensação e administração, por exemplo, administração de medicação e dose erradas no paciente/cliente. O incidente com medicação pode ser potencialmente grave e causar um evento adverso, que pode culminar em óbito. Por isso, o 3º Desafio global foi disseminado em todo o mundo, a fim de que se realizem processos mais seguros que reduzam os incidentes. Uma das ações mais conhecidas é o uso dos Protocolos Medicamentosos, ou Cadeia Medicamentosa, os quais direcionam, de forma sistematizada e padronizada, as indicações, dosagens, preparações e administração de medicamentos, fornecendo acesso rápido à informação ao profissional de saúde, para tomada de decisão com menor risco possível para o paciente/cliente. ASSIMILE Os desafios globais são iniciativas macros para alcançarem todo o mundo, porém cada país tem seus próprios problemas, assim como os serviços e as profissões. No contexto dos desafios, existe um enfoque na área hospitalar, pois é o nível de atenção à saúde que mais apresenta incidentes. Entretanto, o interessante aqui é o conceito, por exemplo, a prioridade para propor um plano de ação com metas para reduzir algum tipo de incidente sempre parte daquilo que é mais frequente ou provável de acontecer. O mesmo deve acontecer na sua realidade de atuação. METAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS PARA SEGURANÇA DO PACIENTE Quando pensamos em metas, é necessário considerar a realidade de cada instituição e país, pois existe uma variabilidade significativa de problemas, condições e tecnologia. Então, é possível que você imagine: será que os mesmos problemas com a segurança do paciente que ocorrem aqui no Brasil também acontecem no exterior? Será que somos piores ou melhores? Não se trata de comparação, mas de melhoria, ou seja, a meta de todos os serviços de saúde, 0 Ve r an ot aç õe s nacionais ou internacionais, é reduzir os incidentes e assegurar a qualidade da assistência à saúde, tornando-a cada vez mais segura, para profissionais e pacientes/clientes. Na Figura 1.2, você observará, de forma sistemática, as áreas prioritárias para intensificação de ações para melhoria contínua dos serviços de saúde e segurança do paciente (SP) propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS): Desafio global. Paciente/cliente atuando na SP. Fomentar pesquisa na área de SP. Classificar as terminologias da SP. Divulgação da aprendizagem, educação, conhecimento e soluções sobre SP. Aplicação dos 5S de boas práticas em SP. Tecnologia segura para SP. Erradicação da infecção associada ao dispositivo intravenoso. Implementação de checklist para os serviços de saúde. Premiação para os serviços de saúde com bons resultados em SP. No Brasil, uma das mais significativas vitórias para a segurança do paciente foi a Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013, que instituiu em todo o território nacional o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), o que permitiu a obrigatoriedade de todo serviço de saúde promover ações de melhoria para segurança do paciente. EXEMPLIFICANDO Uma das grandes motivações para o ser humano é o reconhecimento. A premiação é uma estratégia interessante e que ajuda na mobilização dos serviços em uma espécie de competição saudável, na qual cada um 0 Ve r an ot aç õe s buscará melhores soluções para a qualidade e segurança do paciente/cliente. Essas ações são compartilhadas e todos ganham. Um exemplo aqui no Brasil é o Prêmio Julia Lima, o qual foi idealizado após uma jovem mulher ter falecido em um hospital de São Paulo, em decorrência de um incidente evitável. Os familiares e profissionais do hospital idealizaram e implantaram protocolos para evitar novos incidentes; também, criaram o prêmio com o nome da jovem, para estimular as instituições de saúde do Brasil a realizarem boas práticas, sendo que as ações mais inovadoras concorrem a um prêmio anualmente. Em outras palavras, sempre devemos aprender com os incidentes e propor ações que visem à sua redução. Vale ressaltar, aqui, que o segundo item das prioridades em segurança do paciente – paciente atuando na SP – pode parecer algo óbvio à primeira vista, que o paciente/cliente participe das decisões assistências e ajude na sua segurança e de outros. Na verdade, isso está longe de acontecer, pois o paciente/cliente ainda é visto pelos profissionais como alguém passivo, o que não corresponde à realidade, visto que ele está cada vez mais instruído quanto à sua condição, principalmente por meio das tecnologias e do fácil acesso à informação. Por isso, deve ser orientado e inserido nas temáticas de SP, pois, assim, pode contribuir com os processos de melhoria. Isso possibilita que a organização de saúde considere, em suas ações, o ponto de vista dos usuários do sistema de saúde, o que permitirá uma tomada de decisão mais assertiva. Figura 1.2 | Áreas prioritárias para segurança do paciente 0 Ve r an ot aç õe s Fonte: elaborada pelo autor. DIREITOS DO PACIENTE/CLIENTE O paciente/cliente tem direito a uma assistência de qualidade e segura, na qual ele tenha as suas necessidades atendidas plenamente e livre de incidentes. Para a garantia da qualidade, não é preciso pensar de um modo mercadológico, no qual existe uma relação de oferta, produtos e venda. Na verdade, a qualidade e segurança devem ser algo intrínseco de qualquer serviço de saúde. Parabéns por ter concluído mais uma seção. Até a próxima! Sócrates, então, afirma que se existem “todas essas coisas que sempre citamos, como o belo, o justo e todas as essências desse tipo” (PLATÃO, 1999, p. 141) e se nos referimos a elas como a algo preexistente mesmo sem os sentidos nos conferirem acesso a elas, então, é preciso admitir que elas existem em nossa alma antes de nascermos. E Símias complementa: É muito segura a posição a que se acolhe o argumento, no que entende com a afinidade entre as essências a que te referiste, e nossa alma, antes de nascermos. Não sei de nada tão claro como dizer que todos esses conceitos existem na mais elevada acepção do termo: o belo, o bem e tudo o mais que enumeraste há pouco. — (PLATÃO, 1999, p. 141) “ 0 Ve r an ot aç õe s No Fedro, 250, Platão também fala sobre esse assunto lembrando que em função da essência da alma humana, ela contempla a verdade, pois não há como a verdade se infiltrar fisicamente no corpo, já que ela faz parte da alma. Porém, nem todas as almas conseguem se lembrar da verdade, apenas por meio da contemplação das coisas desse mundo. “Assim, poucas são as almas a quem foi dado o dom da reminiscência, e estas quando se apercebem de qualquer objeto semelhante ao reino superior, como que ficam perturbadas e perdem o poder do autodomínio!” (PLATÃO, 2011, p. 66). Ou seja, quanto menos apetitiva e irascível e quanto mais intelectualizada é a alma, maior o acesso às formas do hiperurânio. O LUGAR DO BEM NA HIERARQUIZAÇÃO DO CONHECIMENTO Por meio do mito da caverna, relatado no livro VII, d'A República, Platão apresenta a hierarquia do conhecimento no que tange à sua possibilidade de alcançar a verdade. O prisioneiro da caverna demonstra o seu conhecimento por meio do modo como enxerga as coisas. No primeiro momento, ele só vê sombras e, por isso, só pode pensar em termos de sombras, pois o seu mundo se resume a isso. Esse momento, de apreensão das imagens, é o primeiro e mais elementar grau do conhecimento ao qual todos os prisioneirostêm acesso. No segundo momento, o prisioneiro, já liberto, enxerga os objetos à luz de uma fogueira existente no interior da caverna e confia naquilo que os seus sentidos estão lhe possibilitando. Em língua grega, esse momento é chamado de pístis (crença) e pressupõe confiança naquilo que os sentidos estão lhe fornecendo. Nem todos têm acesso a esse grau de conhecimento, apenas aquele que se liberta das sombras. Esses dois primeiros momentos ocorrem ainda no interior da caverna, portanto supõe-se que estejam envoltos em penumbras e que as imagens não sejam tão nítidas, podendo, até mesmo, se apresentar de forma distorcida. Segundo Platão, 0 Ve r an ot aç õe s o interior da caverna simboliza o mundo sensível, um mundo sempre sujeito a mudanças e ilusões. Quando o prisioneiro olha as coisas à luz da fogueira seus olhos doem, em uma demonstração de que nos é doído perceber que nos enganamos, que tomamos uma ilusão (as sombras no interior da caverna) como verdade. No entanto, os seus olhos doem ainda mais quando ele sai da caverna e se depara com a luz do sol. A dor é tanta que ele protege os olhos com as mãos e, forçosamente, olha para baixo, vendo as coisas refletidas nas águas. Diferentemente do que aconteceu no interior da caverna, agora, as imagens refletidas não são de estátuas e objetos, mas de seres reais. Esse terceiro momento representa a episteme (ciência). O quarto e último momento ocorre quando a vista vai se acostumando com as coisas, o anoitecer chega permitindo que se contemple os astros celestes e o amanhecer traz lentamente a luz do sol, iluminando tudo e mostrando o mundo tal qual ele é, sem sombras, sem ilusões e sem reflexos, simbolizando “o conhecimento direto e intuitivo da Ideia pura (noésis)” (MONDIN, 1981, p. 64). As coisas situadas acima, os astros e estrelas, simbolizam “as Meta-ideias de identidade e de diversidade, [...] ao passo que o sol simboliza a Ideia do Bem- Uno” (REALE, 1994, p. 297). Helferich (2006, p. 31) nos lembra que “a ideia suprema para Platão é a ideia do bem. Sem o conhecimento do bem, nada pode ser conhecido e, consequentemente, nada pode ser corretamente praticado (um justo fanático torna-se simplesmente um injusto). Exatamente o bem, o ‘sol das ideias’, é o mais difícil de conhecer”. Portanto, o objeto derradeiro do conhecimento, “para Platão, é conhecer o Bem, a Ideia suprema que, como o sol, ilumina as demais ideias, tornando-as compreensíveis” (ABRÃO, 1999, p. 52). E como se chega ao conhecimento do bem? Pela educação! Aquele processo de saída da caverna, de dor nos olhos, de subida cansativa até a sua abertura, sempre rumo à claridade, é o que simboliza a educação no mito da caverna. Ela está sempre buscando uma luz mais forte, mais intensa. 0 Ve r an ot aç õe s Na República (518c), Platão diz que “a educação não é o que alguns apregoam que ela é. Dizem eles que introduzem a ciência numa alma em que ela não existe, como se introduzissem a vista em olhos de cegos” (PLATÃO, 2001a, p. 320). E, em seguida, ele apresenta o que entende por educação, afirmando que: Percebe-se que a educação, para Platão, tem um viés emancipatório, pois não se trata de infundir conhecimentos na mente do educando, tampouco de adestrá-lo para a realização de alguma tarefa e, nem mesmo, de abrir os seus olhos; mas de orientá-lo a usar a visão para olhar na direção correta. E essa direção é a direção do bem, representado na figura do sol contemplado pelo prisioneiro que se libertou. Não é à toa que a palavra luz em grego é φως (phós) e a palavra sábio é σοφός (sophós) significando “aquele que tem a luz”. Tendo a luz, proporcionada pela educação, o homem poderá andar no caminho correto, na direção do bem. Esse é o objetivo do conhecimento, de acordo com a visão platônica. A presente discussão indica a existência dessa faculdade na alma e de um órgão pelo qual aprende; como um olho que não fosse possível voltar das trevas para a luz, senão juntamente como todo o corpo, do mesmo modo esse órgão deve ser desviado, juntamente como toda a alma das coisas que se alteram, até ser capaz de suportar a contemplação do Ser e da parte mais brilhante do Ser. A isso chamamos bem. [...] A educação seria, por conseguinte, a arte desse desejo, a maneira mais fácil e mais eficaz de fazer dar a volta a esse órgão, não o de fazer obter a visão, pois já a tem, mas uma vez que ele não está na posição correta e não olha para onde deve, dar-lhe os meios para isso. — (PLATÃO, 2001a, p. 321) “ FAÇA VALER A PENA Questão 1 Uma das grandes iniciativas para segurança do paciente/cliente da Organização Mundial da Saúde (OMS) é a Aliança Mundial pela Segurança do Paciente, que se estabeleceu por meio dos desafios globais, os quais, até o momento, somam três desafios. Com relação ao 1º Desafio global (2005/2006): “Cuidado limpo é um cuidado seguro”, pode-se afirmar que se trata: 0 Ve r an ot aç õe s a. Exclusivamente sobre a higiene correta das mãos. b. Da prevenção das infecções hospitalares. c. Da redução das IRAS em todos os serviços de saúde. d. Da diminuição das infecções cirúrgicas apenas. e. De um projeto mais amplo, não só de infecção. Questão 2 Uma das estratégias para redução das IRAS é a implementação de um processo denominado____________. Refere-se a um ____________ de ____________ que possui várias etapas, a fim de evitar esse tipo de ____________, além de munir o profissional de saúde de condutas seguras. Analise a alternativa que completa as lacunas corretamente: a. checklist; processo; ações; infecção. b. bundles; pacote; medidas; incidente. c. protocolo; conceito; ações; erro. d. procedimento operacional; ideia; conduta; near miss. e. ação global; sugestão; atitude; evento adverso. Questão 3 As últimas duas décadas foram marcadas por iniciativas para a segurança do paciente (SP). A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi pioneira e incentivou vários países a reproduzirem ou criarem as ações a partir da sua própria realidade e necessidade. Na América Latina, o Brasil teve e tem um papel de destaque. Isso deve-se à criação: I. Da Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013. II. Do 1º Desafio global para SP. III. Da Aliança Mundial para SP. 0 Ve r an ot aç õe s IV. Das áreas prioritárias da Organização Mundial da Saúde (OMS). Considerando o contexto apresentado, está correto o que ser afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. II e III, apenas. d. III e IV, apenas. e. II, III e IV, apenas. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. FIOCRUZ. FHEMIG. Protocolo de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: https://bit.ly/34WkLFd. Acesso em: 10 set. 2020. 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No decorrer da seção, você percebeu que as prioridades para tomada de decisão, Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s como a realização de metas ou ações, nascem de uma necessidade emergente. Sendo assim, um caminho possível seria conhecer as principais lacunas dos processos e, assim, direcionar os treinamentos de forma mais assertiva. Existem outras possibilidades que você pode explorar. Lembre-se: para melhorar os processos, exige-se também criatividade. AVANÇANDO NA PRÁTICA CONHECENDO A RAIZ DO PROBLEMA Em um determinado serviço de saúde, um paciente foi internado com uma doença crônica metabólica, conhecida como Diabetes Mellitus (DM), a qual necessita de restrição da dieta para controle da glicemia (açúcar no sangue). Mesmo recebendo todos os cuidados da equipe multiprofissional, a glicemia não melhora. Ao passar visita ao paciente, você observa embalagens de guloseimas e doces que não são permitidos ou fornecidos pela instituição nas dependências do quarto. O que você faz nesta situação? RESOLUÇÃO Existem muitas possibilidades de abordagem para esta situação. Uma possível seria descobrir de onde estão vindo as guloseimas e os doces. É um familiar que traz para o paciente? Ou existe um outro esquema de envio “clandestino”? Uma vez feita a descoberta, é necessário elaborar uma estratégia para resolver a situação. Vale ressaltar que este seria um bom exemplo de inserir o paciente e a família no processo de segurança do paciente. Agora é com você! 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR QUALIDADE E SEGURANÇA DO PACIENTE E A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL Emanuel Nunes Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Bem-vindo a mais uma seção. Parabéns por sua jornada até aqui! Como estudante da área da saúde, você já percebeu a quantidade de riscos inerentes à sua área, tanto para você quanto para seus pacientes/clientes. Ficou claro, também, o quanto é importante conhecer bem os métodos, as técnicas e os Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s cuidados. Apesar de tudo isso, você não está imune à falha, pelo simples motivo de que você é um ser humano. Contudo, isso não é motivo de conformidade, pelo contrário, de transformação. Uma vez que reconhecemos a nossa susceptibilidade a erros, abrimos espaço para pensarmos em novos processos e formas diferentes que nos ajudem a evitar os danos desnecessários aos nossos pacientes/clientes. Nesta seção, você aprenderá sobre a importância da cultura de segurança e sua interface com a equipe multiprofissional, bem como sobre as equipes de alta- performance em saúde e os selos de qualidade que incentivam e ranqueiam as instituições de excelência e fomentam uma disputa saudável de qualidade, na qual todos ganham. Um spoiler para você: a cultura da segurança só pode acontecer em equipe. Uma última dica: aproveite! Como observamos no decorrer da seção, o processo é o método para se realizar um procedimento, uma operação. Ele tem uma entrada, o processo em si e, por fim, uma saída, sendo fundamental para a organização e o desempenho de uma atividade ou um procedimento. Assim, para trabalharmos esses temas junto às possíveis situações profissionais, acompanharemos a rotina de um gestor da saúde de uma unidade de pronto atendimento. Um processo bem desenhado é essencial para a fluidez de um procedimento ou uma operação. Dessa forma, imagine-se no lugar deste gestor, gerenciando a unidade de pronto atendimento (PA), junto a uma equipe multiprofissional. No seu primeiro dia, você percebe que há uma superlotação e não há critérios para priorizar os atendimentos. A sua impressão é que quem “grita mais” é atendido rapidamente, e os demais conforme o fluxo de preenchimento da ficha. Esse processo de atendimento pode ser melhorado? O que você faria se estivesse na condição de gestor deste PA? Você chegou a mais uma seção. Veja o quanto você tem se desenvolvido e valorize cada pequena vitória. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR CONCEITOS DE CULTURA DE SEGURANÇA DO PACIENTE E SEU IMPACTO NA ASSISTÊNCIA O termo “cultura” é muito amplo e pode ser aplicado em diferentes situações, contudo, nesta disciplina, o enfatizaremos como o pensamento coletivo de uma equipe ou instituição de saúde. Em outras palavras, as crenças acerca sobre o cuidado e a saúde que prestam aos seus pacientes/clientes e ao seu time de profissionais de saúde. Observe os elementos da cultura nos serviços de saúde detalhados na Figura 1.3. Perceba o quanto o modo de pensar coletivo de uma organização de saúde é importante. Imagine, por exemplo, que todos os colaboradores da instituição acreditam que não há incidentes, que a equipe não falha e que os erros são parte do processo de cuidar, tornando-se algo comum e banal. Se essa crença é a cultura do serviço, será que haverá mudanças, no sentido de melhorar os processos e reduzir os incidentes ao mínimo? É provável que não, pois a cultura deste local não acredita que haja um problema a ser solucionado, portanto não haverá mudança. Você percebe o quanto a cultura de um serviço pode influenciar no cuidado à saúde? Um dos maiores desafios dos líderes é mudá-la, e são muitos os motivos, sendo a resistência dos profissionais e seus líderes à mudança um dos mais impactantes. Há, também, uma questão histórica que reforça essa cultura: a ideia de que o profissional que “erra” o fez por não ser bom. Essa concepção desconsidera os processos e coloca o indivíduo como único responsável pelo incidente. Esse tipo de visão não avança, não muda e não melhora os processos, simplesmente porque não há o reconhecimento da necessidade de transformação. 0 Ve r an ot aç õe s CULTURA DA QUALIDADE E SEGURANÇA DO PACIENTE Os serviços de saúde devem ser organizados e estruturados em uma perspectiva de que o profissional de saúde pode errar, e isso não é nenhum demérito, pelo contrário,é libertador, pois, quando se tem essa visão, há também disposição para melhores práticas e cuidados mais seguros. Portanto, a cultura da qualidade e segurança do paciente acontece quando: 1. Profissionais e líderes preocupam-se em manter a sua própria segurança, da sua equipe, dos pacientes e dos acompanhantes. 2. A organização empenha-se em garantir a segurança, mitigando e resolvendo os problemas e disseminando a cultura da qualidade acima de outras metas, como a financeira. 3. Existe aprendizado após um incidente, e isso promove mudanças. 4. Há uma estrutura organizada e recursos para manutenção da qualidade e segurança do paciente. Os principais elementos que compõem a cultura de qualidade e segurança estão destacados na Figura 1.3. Figura 1.3 | Elementos da cultura de qualidade e segurança do paciente (SP) 0 Ve r an ot aç õe s Fonte: elaborada pelo autor. Conforme avançamos no termo cultura de segurança, observamos que ela só pode ser desenvolvida em um ambiente de sincronia entre os gestores, líderes, colaboradores e pacientes/clientes, desse modo, uma boa ideia pode apenas ficar no mundo da teoria e não se tornar prática, devido à inexistência de uma cultura de segurança e qualidade. Você, em posse desse conhecimento, poderá fomentar esses conceitos em sua equipe e ajudar a desenvolver ou mudar a cultura da sua organização ou serviço. REFLITA Quando discutimos qualidade e segurança do paciente/cliente, não podemos desconsiderar que isso depende do resultado de um processo. Sendo assim, será que é possível ter um resultado satisfatório para o paciente/cliente em uma organização na qual a cultura não está voltada para isso? É bem provável que não. Por isso, vale a seguinte reflexão: se você está em uma instituição na qual a cultura organizacional é 0 Ve r an ot aç õe s incompatível com a sua, e você não vê possibilidade de que isso mude, o que fazer? É necessário lembrar que você poderá se tornar aquilo que tanto repudia. Então, o que fazer? GOVERNANÇA CLÍNICA E EQUIPES DE ALTA PERFORMANCE Na prática, governança clínica significa gestão clínica. Pode parecer algo natural ou até mesmo óbvio, no sentido de a gestão ser algo inerente à clínica, ou seja, como é possível uma atenção clínica ao paciente/cliente sem uma boa gestão? Essa pergunta é muito importante até para fazermos um questionamento mais amplo, por exemplo: será que as organizações de saúde precisam de mais recursos, ou de mais gestão? Prosseguiremos para que você possa compreender melhor do que se trata a governança clínica. Você já teve a experiência de ir a um lugar e ter a sensação de que as pessoas que trabalham lá não se comunicam da mesma forma? Por exemplo, o setor de atendimento ao cliente não sabe sobre os produtos, e quem cuida deles não sabe sobre o atendimento aos clientes. Isso dá a impressão de que você não está na mesma empresa, mas que ela é uma junção de microempresas, em que cada departamento atua isoladamente e não se comunica com o todo. Conseguiu imaginar? Pense também o contrário: cada setor trabalha em consonância com o outro, e não importa em qual departamento vá, sempre terá a sensação de que todos estão focados em atender melhor você. Isso é governança clínica, em outras palavras, é quando o serviço de saúde busca um atendimento de excelência para seus pacientes/clientes através de processos bem definidos (Figura 1.4), implementados e gerenciados, por meio da redução de desperdícios e otimização dos recursos. Uma de suas principais funções é a integração multidisciplinar de todos os processos com enfoque no paciente/cliente. E o que significa um processo? É o método para se realizar um procedimento, uma operação. Todo processo tem uma entrada, o processo em si e, por fim, uma saída. 0 Ve r an ot aç õe s Figura 1.4 | Esquema de um processo Fonte: elaborada pelo autor. O sucesso da governança clínica está também na ideia de não haver uma hierarquia vertical, na qual a alta gestão delega as ações sem qualquer conexão com a área operacional. De outro modo, existe uma hierarquia, mas ela se apresenta de modo horizontal, ou seja, todos os colaboradores podem e devem participar das mudanças de melhoria da instituição, todos são considerados coparticipantes. Em suma, não existe governança clínica sem colaboração e integração de todo o time de gestores, líderes, colaboradores e pacientes. ASSIMILE Vamos aprofundar o processo na prática? Para que um paciente/cliente seja atendido no serviço de saúde, é necessário que haja um acesso (ENTRADA), que ele seja atendido, sua necessidade seja sanada (PROCESSO) e, por fim, que ele receba alta (SAÍDA). Este exemplo pode ser aplicado em diversas situações, por exemplo, em um procedimento da sua área. Uma ação não pode ser iniciada de qualquer forma, sendo necessário pensar no processo, o que ajuda na organização e na fluidez de cada etapa dele (procedimento). ACREDITAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE O reconhecimento de uma instituição de saúde com relação à qualidade de assistência e segurança do paciente pode ser mensurado e ranqueado, gerando inúmeros benefícios e tendo como principal beneficiário o paciente/cliente. A 0 Ve r an ot aç õe s acreditação é justamente dizer que aquele serviço é de qualidade, que possui um mínimo de processos validados, protocolos e padronização, o que garante a segurança e qualidade do serviço prestado. As acreditações são oferecidas por organizações que conferem o selo de qualidade aos serviços de saúde que conseguem comprovar os seus padrões de gestão e assistência. No Brasil, a Organização Nacional de Acreditação (ONA) é a mais presente nas instituições de saúde. Ela tem enfoque na segurança do paciente, sendo dividida em três níveis de qualidade, cada qual com seu selo, do nível inicial até a excelência. Além da ONA, existem também: Accreditation Canada; Acreditação Nacional Integrada para Organizações de Saúde (Niaho); Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS) e Joint Commission International. Vamos aprofundar e compreender melhor os níveis de acreditação da ONA: Quadro 1.2 | Níveis de acreditação da ONA CLASSIFICAÇÃO CRITÉRIOS VALIDADE NÍVEL 1 - ACREDITADO Todas as unidades e os serviços da instituição são avaliados e necessitam atingir ou superar 70% dos padrões de qualidade pré- estabelecidos pela ONA, tanto em questões assistências quanto estruturais. 2 anos. NÍVEL 2 - PLENO Todas a unidades e os serviços da instituição são avaliados e necessitam atingir ou superar em: 1. 80% os padrões pré-estabelecidos de qualidade e segurança do paciente. 2. 70% os padrões pré-estabelecidos de gestão com processos integrados e comunicação efetiva entre os setores e as unidades. 0 Ve r an ot aç õe s CLASSIFICAÇÃO CRITÉRIOS VALIDADE NÍVEL 3 - EXCELÊNCIA Todas as unidades e os serviços da instituição são avaliados e necessitam atingir ou superar em: 1. 90% os padrões pré-estabelecidos de qualidade e segurança do paciente. 2. 80% os padrões pré-estabelecidos de gestão com processos integrados e comunicação efetiva entre os setores e as unidades. 3 anos. Fonte: elaborado pelo autor. Observe, no Quadro 1.2, que os níveis de acreditação dos serviços de saúde são gradativos e contínuos, ou seja, para seguir para o próximo nível, é necessário que haja sustentabilidade do nível anterior, caso contrário, a organização de saúde perde o selo de qualidade. Isso acaba sendo um estímulo para a melhoria contínua, mas nem tudo é perfeito, pois, infelizmente, alguns serviços mostram a qualidade no dia da visita de certificação e, logo após, seguem as suas rotinas desconectadas do selo que acabaram de ganhar. Para inibir este tipo de prática, estão sendo instituídas as visitas não programadas pelas certificadoras, desse modo, observa-se o serviço real, e não o faz de conta. Em suma, a qualidade não deve ser pensada em uma data, mas ser um processo contínuo. Apesar de apenas 5% dos hospitaisdo Brasil serem acreditados, e 40% estarem no estado de São Paulo, estamos avançando no quesito qualidade. Ainda há muito a se fazer, mas estamos no caminho, e agora você também faz parte desse processo de melhoria dos serviços de saúde no Brasil. EXEMPLIFICANDO 0 Ve r an ot aç õe s A ONA é a mais reconhecida instituição de acreditação no Brasil. Para que um serviço adquira o Nível 1 de qualidade, é necessário que tenha processos primários de segurança do paciente, por exemplo, assegure a correta identificação do paciente/cliente através de pulseiras e dos dispositivos, medicamentos, validades e controles gerais. Sendo assim, a acreditação tem sido um instrumento muito importante para disseminar a qualidade nos serviços de saúde brasileiros. Nesta seção, você descobriu o impacto da cultura na qualidade e segurança dos serviços de saúde, a importância dos processos e o papel das acreditações nas organizações de saúde. Agora é com você. A sua área também precisa de processos bem desenhados e de uma cultura de qualidade. Boa sorte! FAÇA VALER A PENA Questão 1 Os serviços de saúde devem ser organizados e estruturados a partir de uma perspectiva de que o profissional de saúde pode errar, e isso é não nenhum demérito, pelo contrário, é libertador, pois, quando se tem essa visão, há também disposição para melhores práticas e cuidados mais seguros. O texto acima refere-se ao seguinte conceito de: a. Acreditação hospitalar. b. Processo. c. Governança clínica. d. Gestão. e. Cultura da qualidade e segurança. Questão 2 0 Ve r an ot aç õe s A governança é quando o serviço de saúde busca um atendimento de excelência para seus pacientes/clientes através de processos bem definidos, implementados e gerenciados, por meio da redução de desperdícios e otimização dos recursos. O processo é o método para se realizar um procedimento, uma operação. Todo processo tem a ___________, o ___________ e uma ___________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. cultura; clínica; acreditação. b. governança; equipe; gestão. c. entrada; processo; saída. d. liderança; treinamento; hospital. e. time; líder; procedimento. Questão 3 A cultura da qualidade e segurança é um fator essencial para que os processos aconteçam e as mudanças necessárias sejam implementadas, a fim de alcançar melhores resultados assistenciais. Ela acontece quando: I. Profissionais e líderes não se preocupam em manter a sua própria segurança, da sua equipe, dos pacientes e dos acompanhantes. II. A organização empenha-se em garantir a segurança, mitigando e resolvendo os problemas e disseminando a cultura da qualidade acima de outras metas, como a financeira. III. Existe aprendizado após um incidente, e isso promove mudanças. IV. Há uma estrutura organizada e recursos para manutenção da qualidade e segurança do paciente. Considerando o contexto, está correto o que se afirma em: a. I, apenas. 0 Ve r an ot aç õe s b. I e II, apenas. c. II e III, apenas. d. III e IV, apenas. e. II, III e IV, apenas. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3rKq0kV. Acesso em: 10 set. 2020. BRASIL. Boletim Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde nº 15: Incidentes Relacionados à Assistência à Saúde – 2016. Brasília, DF: ANVISA, 2016. Disponível em: https://bit.ly/352Mu73. Acesso em: 20 set. 2020. KOHN, L.; CORRIGAN, J.; DONALDSON, M. S. To Err is Human: Building a Safer Health System. Washington, DC: National Academy Press, 2000. Disponível em: https://bit.ly/3hBipAt. Acesso em: 28 set. 2020. MENDES, W.; TRAVASSOS, C.; MARTINS, M.; NORONHAS, J. C. Revisão dos estudos de avaliação da ocorrência de eventos adversos em hospitais. Rev. Bras. Epidemiol., São Paulo, v. 8, n. 4, dez. 2005. Disponível em: https://bit.ly/385syCE. Acesso em: 15 out. 2020. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. World Alliance for Patient Safety: forward programme 2005. Genebra: OMS, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3naadZg. Acesso em: 28 set. 2020. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Estrutura Concetual da Classificação Internacional sobre Segurança do Doente. Genebra: OMA, 2011. Disponível em: https://bit.ly/2KK7UiE. Acesso em: 28 set. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/documento_referencia_programa_nacional_seguranca.pdf http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/271855/Boletim+Seguran%C3%A7a+do+Paciente+e+Qualidade+em+Servi%C3%A7os+de+Sa%C3%BAde+n%C2%BA+15/bb637392-4973-4e7f-8907-a7b3af1e297b https://www.researchgate.net/publication/200656918_To_Err_is_Human_Building_a_Safer_Health_System https://www.scielosp.org/article/rbepid/2005.v8n4/393-406/ https://www.who.int/patientsafety/en/brochure_final.pdf https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70882/WHO_IER_PSP_2010.2_por.pdf;jsessionid=7DBB83897478474B6FD4CFD9320DFEA3?sequence=4 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Avaliando e tratando danos aos pacientes: um guia metodológico para hospitais carentes de dados. Genebra: OMS, 2010a. Disponível em: https://bit.ly/3b1uMou. Acesso em: 28 set. 2020. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. IBEAS: a pioneer study on patient safety in Latin America: towards safer hospital care. 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Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s interessante é conversar com todos os colaboradores envolvidos e colocar a sua impressão, discutir e buscar soluções em conjunto para melhoria do processo. Muitas vezes, já existem soluções validadas, mas não significa que darão certo no seu serviço, por isso é importante conhecer o serviço que gerencia, as lacunas, os processos mal desenhados, e assim por diante. A melhor solução é aquela que atende em plenitude o problema. Uma possibilidade para esta problemática seria a implementação de uma classificação dos pacientes/clientes, para que possam ser atendidos conforme a necessidade ou gravidade. Você consegue imaginar outra resolução para tais questionamentos? Vá em frente, a partir do que discutimos, você tem todos os subsídios para isso. AVANÇANDO NA PRÁTICA SERVIÇO ACREDITADO OU NÃO? A acreditação dos serviços de saúde é um processo pelo qual se certifica a instituição pelos serviços de qualidade prestados aos seus clientes, para tanto é necessário comprovar a sua qualidade por meio dos critérios apresentados pela certificadora. Um serviço acreditado traz uma sensação maior de segurança, pois sabe-se que aquele serviço é fiscalizado e que, se ele não cumprir com os padrões estabelecidos, perderá o selo de qualidade. Já se sabe que um serviço de saúde acreditado é capaz de comprovar a sua qualidade. Para trabalharmos essa temática, usaremos o contexto de um profissional que deveria realizar pesquisa de mercado para contratação de serviços de saúde para os colaboradores deuma microempresa. Você recebeu uma demanda para escolher convênios de saúde para os seus colaboradores e foi instruído por seu supervisor a escolher o convênio mais barato. Ao fazer a busca, você verifica que os serviços deste mais “em conta” não tem nenhum nível de acreditação. Qual argumento você levaria para o seu supervisor para não contratar um serviço sem acreditação? 0 Ve r an ot aç õe s RESOLUÇÃO Existem inúmeras abordagens possíveis, mas uma básica seria demonstrar que os colaboradores estariam em “mãos” mais seguras, pois os serviços acreditados possuem métodos seguros de assistência; em outras palavras, há uma possibilidade menor de causar danos desnecessários. Prezando pelo bem-estar dos colaboradores, um serviço acreditado seria a melhor opção, mesmo não sendo mais “em conta”. Agora que já vimos essa perspectiva de abordagem, aponte a sua. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR ESTRUTURAÇÃO PARA IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO DA QUALIDADE E SEGURANÇA DO PACIENTE Emanuel Nunes Imprimir CONVITE AO ESTUDO Olá! Você está avançando cada vez mais na temática sobre gestão, qualidade e segurança do paciente, e aqui aprofundaremos alguns novos conceitos. Uma das coisas mais comuns quando chegamos a um novo local de trabalho é observar de forma instintiva como aquele lugar funciona e pensar em algum tipo de mudança, porém nem sempre as ideias são de fato necessárias ou aceitas. O motivo não é por não serem boas, mas por não haver uma estratégia de Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s implementação delas. Desse modo, nesta seção, você aprenderá como detectar oportunidades de melhoria e implantar mudanças necessárias de forma assertiva, para, assim, alcançar o resultado esperado pelo serviço de saúde. É fundamental que você assimile os conceitos e as aplicações que discutiremos no decorrer desta seção, a fim de que possa realizar mudanças quando necessário no seu trabalho. Cada vez mais, o mercado de trabalho busca se destacar pela qualidade dos serviços prestados, e você precisa se preparar para esta realidade e correspondê-la efetivamente. Para tanto, aprofundaremos como conhecer os processos, mapeando-os; como implantar as melhorias; e, sobretudo, como auditar e controlar o andamento dessas mudanças. Aproveite e pratique no seu ambiente de trabalho. PRATICAR PARA APRENDER Nesta seção, você está convidado a descobrir métodos para conhecer como funciona a operação, os fluxos e tudo aquilo que interfere no processo de trabalho de uma organização de saúde. Conhecer é o princípio essencial da mudança de melhoria da qualidade, uma vez que, se você compreende como tudo acontece, fica mais claro onde se deve atuar e onde estão as fragilidades que precisam ser trabalhadas. Da etapa de conhecimento até a implantação de melhorias, há um caminho metodológico a seguir, e aprofundaremos isso nesta seção. Aproveite, pois você poderá gerar grandes mudanças no seu ambiente de trabalho a partir do conhecimento que adquirirá nesta seção. O sonho de todo profissional de saúde é atuar em um ambiente onde tudo fosse perfeitamente organizado, onde cada processo fosse infalível e que tudo corresse como o previsto. Isso não é impossível, mas é preciso muito trabalho para nos aproximarmos desta utopia. Para contextualizarmos esta seção, junto às 0 Ve r an ot aç õe s possíveis situações da prática profissional, adentraremos ao cotidiano de um consultor de uma empresa especializada em assessoria em gestão da qualidade para serviços de saúde. Dessa forma, imagine-se no lugar desse consultor. Você foi chamado para prestar uma assessoria de qualidade para um serviço de saúde que fornece vacinas que não são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O gestor repassou a informação de que está com muitas perdas, pois vacinas estão sendo desprezadas devido ao vencimento e por estarem estragadas pela temperatura inadequada do refrigerador. No seu ímpeto de mudança, certamente, já deve ter pensado em uma solução, mas ela será assertiva? Qual caminho você pode seguir para resolver esse problema com as vacinas? Você busca por melhorias e mudanças? Quando você estuda e se prepara, você é a própria mudança, pois transformará os outros pelo exemplo. CONCEITO-CHAVE MAPEAMENTO DE PROCESSO EM SAÚDE Como realizar uma mudança em um processo que não conhecemos? Até pode acontecer uma mudança, e não uma melhoria necessariamente. Então, antes de pensar em melhorar alguma coisa, é preciso conhecer em profundidade, pois só assim haverá a possibilidade de visualizar as falhas ou lacunas a serem preenchidas por melhores processos. Então, por onde devemos começar? Podemos começar pelo mapeamento de processo. O que isso significa? Mapeamento de processo é o método de conhecer o funcionamento da organização, ver de forma clara cada etapa dos processos e os fluxos e, assim, identificar as falhas, os problemas ou os fatores que impedem o bom desempenho de uma atividade ou de um serviço. Por exemplo, é bem comum o retrabalho, algo que não foi bem feito precisa ser refeito, isso gera custo e tempo e pode impactar nos resultados. O grande objetivo é identificar as falhas e melhorar os processos, pensando num melhor resultado e na satisfação total dos clientes. Vamos ver como se mapeia um processo? Existem muitas possibilidades, 0 Ve r an ot aç õe s mas qual é a melhor? É aquela que ajuda a alcançar o seu objetivo e atende às suas necessidades. Desse modo, deixaremos aqui algumas sugestões. Pode-se mapear o processo utilizando os seguintes métodos: 1. Entrevista com os colaboradores, a fim de compreender como eles entendem o processo. 2. Aplicação de questionários para identificar informações relevantes para a compressão do processo. 3. Promoção de reuniões com as equipes, com o objetivo de entender os processos. 4. Observar diretamente a operação de cada atividade e coletar dados e evidências. 5. Estudo dos arquivos, dos sistemas e das documentações existentes sobre os processos. Vale ressaltar que não há método mais eficaz que outro, isso depende do quanto os dados refletem a realidade do seu serviço. As perguntas colocadas na Figura 2.1 ajudarão a entender o que deve ser observado no processo e a perceber as oportunidades de melhoria. O que importa, na verdade, é verificar se o que você coletou ajudará a gerar mudanças no processo. REFLITA Você já teve aquela sensação de que a solução pensada para um determinado problema parece não ter conexão, como se a possível solução fora idealizada por alguém que desconhecia a situação? Imagine uma organização que tenha uma estrutura hierárquica vertical, na qual a alta gestão desconhece a realidade do que ocorre no operacional de sua organização. Será que é possível mapear os processos, descobrir os verdadeiros problemas e encontrar soluções assertivas? Figura 2.1 | O que deve ser identificado no mapeamento de um processo 0 Ve r an ot aç õe s Fonte: elaborada pelo autor. ETAPAS DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROCESSO DE QUALIDADE EM SAÚDE Você observou que a última pergunta da Figura 2.1 refere-se à oportunidade de melhoria? Todo o mapeamento se desenvolve para chegar à resposta desta questão: o que podemos melhorar neste processo? É justamente aqui que pode ocorrer o grande equívoco. E que erro seria este? Basicamente, tentar mudar os processos sozinho, munido de empolgação e ansiedade. Lembre-se desta advertência: toda mudança de melhoria, para ser sustentável, precisa ser implantada em conjunto, com a participação de todos que atuam direta ou indiretamente naquele processo. Após identificar a oportunidade de melhoria, é necessário colocar em prática a mudança desejada. Para tanto, usaremos a metodologia de melhoria da qualidade proposta pelo Institute for Healthcare Improvement (IHI) (2011). Para entender melhor este método de mudança de melhoria, dividiremos em algumas etapas. Primeira etapa:Consiste em responder a três perguntas fundamentais: 0 Ve r an ot aç õe s O que estamos tentando realizar? Como saber se a mudança resultou em melhoria? Qual mudança pode resultar em melhoria? Segunda etapa: Consiste na aplicação do ciclo Plan-Do-Check-Act (PDCA), também conhecido como ciclo da melhoria contínua de Deming. O ciclo PDCA significa: Plan = planejar; Do = fazer; Check = verificar; Act = agir, padronizar ou corrigir. A finalidade do ciclo é operacionalizar o processo de trabalho e permitir visualizar resultados tangíveis das intervenções de melhoria. A fase “planejar” consiste nas ações que serão realizadas para o alcance do objetivo. Serve, basicamente, para definir o que se pretende fazer. Para tanto, utilizamos estas cinco perguntas para o planejamento: O quê? Quem? Quando? Onde? Quais dados coletar? Na fase “fazer” do ciclo, propõe-se a realização de testes em escala menor, ou seja, implementar o plano de ação, segundo o planejamento realizado na fase anterior. Na fase “verificar”, almeja-se a análise dos dados e a verificação dos resultados obtidos. E, por fim, na fase “agir”, espera-se o refinamento das mudanças, tendo como norte o que foi apreendido na fase de teste. Na Figura 2.2, você verá um resumo dessas etapas do processo de melhoria da qualidade. 0 Ve r an ot aç õe s Perceba que o método adotado é o mais amplamente utilizado na área da saúde. Ele é claro e objetivo, basta seguir os passos para conseguir realizá-lo. ASSIMILE Para que haja mudança e melhoria em uma organização de saúde, é necessário, primeiramente, conhecer onde estão as falhas ou lacunas nos processos. Para isso, utilizamos a ferramenta de mapeamento de processo. Uma vez munido desses dados, é hora de escutar e compartilhar com a equipe, para compreender qual é a visão dela dos dados que você levantou. Pode-se aproveitar para esclarecer para todos que a ideia não é achar problemas, mas resolvê-los, e que a participação do time é essencial, inclusive para reportar falhas não identificadas no mapeamento. E não esqueça: um mapeamento minucioso trará dados fidedignos, e isso é fundamental para entender o funcionamento do processo e melhorá-lo. Figura 2.2 | Ciclo de melhoria, segundo IHI (2011) Fonte: elaborada pelo autor. 0 Ve r an ot aç õe s AUDITORIA DOS PROCESSOS DE QUALIDADE E SEGURANÇA DO PACIENTE Imagine se toda mudança de melhoria da qualidade implantada fosse seguida por todos e que houvesse o resultado esperado de acordo com o planejamento? Seria incrível, não é mesmo? Mas, isso não acontece? Nem sempre, pois o ser humano tem a tendência de acomodar-se com o passar do tempo e deixar de realizar o que foi determinado se não houver algum tipo de estímulo, que pode ser de qualquer ordem. No nosso contexto, utilizaremos a auditoria, que também pode ser interpretada como supervisão do processo, porque ela tem mais significado quando pensamos em mudança de melhoria. Auditoria tem a conotação de identificar “furos” no processo implementado para refinar as ações e manter o processo novo sustentável. Já supervisão é algo mais rígido, inflexível e não focado no refinamento necessariamente, além de ter mais enfoque na cobrança de que as etapas do processo sejam seguidas rigorosamente. Desse modo, a auditoria faz muito mais sentido, pois buscamos a consciência do colaborador em realizar aquilo por ser importante, e não porque existe alguém supervisionando. A auditoria de processos pode ser feita de muitas formas. Destacaremos as principais: Prospectiva: acompanhamento do processo por meio da observação direta. A principal vantagem é que você identifica a falha em tempo real e consegue propor ações de melhoria imediatamente, enquanto a desvantagem é que, se não for feita de forma adequada, pode constranger o colaborador ou induzi-lo a fazer certo só no momento da auditoria. Retrospectiva: análise de documentos, arquivos e prontuários. A vantagem desse método é que não envolve pessoas, e sim o que está registrado. Por outro lado, a desvantagem é que, se não houver registros, a auditoria não tem bons resultados. 0 Ve r an ot aç õe s Em suma, a auditoria deve ser uma ferramenta de refinamento contínuo dos processos, visto que ela faz parte de um ciclo de melhoria, conforme a Figura 2.3. EXEMPLIFICANDO Com relação à auditoria de processos, não tem como dizer qual método é o melhor, o que você pode levar em consideração é o seguinte questionamento: o que quero com essa auditoria? Saber se o processo novo está acontecendo conforme o previsto. Sendo assim, você escolherá qual método atende melhor a essa necessidade. Vale ressaltar que pode ser feito por amostragem também. Não é possível acompanhar todos os processos, mas uma amostra sim. Por exemplo, um determinado período do dia, da jornada, da escala, enfim, seja qual for o modelo que você escolher, não esqueça: o objetivo da auditoria não é cobrança pura e simples, é identificar novas oportunidades de melhoria naquele processo. Figura 2.3 | Ciclo de melhoria de processos Fonte: elaborada pelo autor. Chegamos ao fim desta seção. Desejamos que você faça muitas melhorias por onde passar, não somente munido pela vontade de mudança mas também instrumentalizado com técnica e estratégia. Na Figura 2.3, há um resumo especial 0 Ve r an ot aç õe s para você não esquecer por onde se inicia uma mudança de melhoria. Agora é com você! FAÇA A VALER A PENA Questão 1 O grande objetivo do mapeamento de processo é identificar as falhas e melhorar os processos, pensando num melhor resultado e na satisfação total dos clientes. Pode-se mapear o processo utilizando os seguintes métodos: I. Entrevista somente com os gestores, a fim de compreender como eles entendem o processo. II. Promoção de reuniões com as equipes de líderes, com o objetivo de entender os processos. III. Observar diretamente a operação de cada atividade e coletar dados e evidências. IV. Estudo dos arquivos, dos sistemas e das documentações existentes sobre os processos. Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. II e III, apenas. d. III e IV, apenas. e. II, III e IV, apenas. Questão 2 O ciclo PDCA significa: Plan = planejar; Do = fazer; Check = verificar; Act = agir, padronizar ou corrigir. A finalidade do ciclo é operacionalizar o processo de trabalho e permitir visualizar resultados tangíveis das intervenções de melhoria. 0 Ve r an ot aç õe s A partir dele, conseguimos responder a cinco perguntas: o quê? Quem? Quando? Onde? Quais dados coletar? Em qual etapa do ciclo de PDCA utilizamos as cinco perguntas citadas no texto- base? a. Plan = planejar. b. Do = fazer. c. Check = verificar. d. Act = agir. e. Agree = aceitar. Questão 3 Além de implementar um processo de mudança para melhoria da qualidade, é necessário também o acompanhamento sistemático do processo, para verificar se o que foi implementado está acontecendo e se precisa de algum refinamento. A _______________ de processos pode ser feita de muitas formas, por exemplo: 1. ______________, que é o acompanhamento do processo por meio da observação direta; 2. ______________, que é a análise de documentos, arquivos e prontuários. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. melhoria; processo; mudança. b. auditoria; prospectiva; retrospectiva. c. mudança; melhoria; processo. d. análise; antes; depois. e. auditoria; retrospectiva; prospectiva. REFERÊNCIAS 0 Ve r an ot aç õe s BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3pvp163. Acesso em: 10 set. 2020. FRANKEL, A.; HARADEN, C.; FEDERICO, F.; LENOCI-EDWARDS, J. A Framework for Safe, Reliable and Effective Care. White Paper. Cambridge, MA: Institutefor Healthcare Improvement and Safe & Reliable Healthcare, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3atA2QR. Acesso em: 5 nov. 2020. INSTITUTE FOR HEALTHCARE IMPROVEMENT. How to improve. Cambridge, MA: IHI, 2016a. Disponível em: https://bit.ly/3pCoMWZ. Acesso em: 9 nov. 2020. INSTITUTE FOR HEALTHCARE IMPROVEMENT. Plan-Do-Study-Act (PDSA) worksheet. Cambridge, MA: IHI, 2016b. Disponível em: https://bit.ly/3pAv61a. Acesso em: 9 nov. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/3pvp163 https://bit.ly/3atA2QR https://bit.ly/3pCoMWZ https://bit.ly/3pAv61a FOCO NO MERCADO DE TRABALHO ESTRUTURAÇÃO PARA IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO DA QUALIDADE E SEGURANÇA DO PACIENTE Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR Ao ser chamado para prestar assessoria de qualidade para um serviço de vacinas, você se depara com o seguinte problema: perdas de vacina por vencimento ou por falha na temperatura do refrigerador. Qual caminho seguir? Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s Poderia propor que haja um melhor rodízio entre os lotes de vacinas e comprar um novo refrigerador, mas será que este é o problema real? Será mesmo o problema primário, ou é a consequência de processos mal definidos ou seguidos? Desse modo, o primeiro caminho seria conhecer os processos a partir do mapeamento deles. Para isso, você poderia escolher o melhor método; depois, seguir as etapas de mudanças de melhorias até a sua implantação e refinamento. Agora é com você, pois, a partir do que discutimos, você tem plenas condições de propor algo. AVANÇANDO NA PRÁTICA MUDANÇA SEM MELHORIA EFETIVA NO PROCESSO Como você viu no decorrer da seção, a mudança de melhoria tem um caminho metodológico a seguir para ter mais possibilidade de se chegar ao resultado que almejamos. Para compreendermos melhor esse contexto e correlacionarmos com a sua prática profissional, imagine-se no papel de um profissional de saúde recém-chegado em uma importante organização de saúde e que busca por melhoria contínua da qualidade. Na primeira reunião que você participa, são apresentados os resultados do último semestre, assim como são reportadas as mudanças implantadas que não refletiram em melhoria. O responsável pela reunião passa todos os dados e pede que você o ajude na busca de uma solução. Você questiona como é o acompanhamento dos processos de mudança, e recebe a seguinte resposta: visualizamos a mudança pelos resultados dos indicadores ao fim do mês. Esta é uma forma assertiva de acompanhar os processos de mudanças de melhoria? O que você pode propor para que a mudança gere melhoria? RESOLUÇÃO Na presente situação, o que chama atenção é o fato de a organização ter disposição para as mudanças de melhoria, mas não gerar o resultado esperado. Existem algumas abordagens que você poderia optar, por exemplo, 0 Ve r an ot aç õe s questionar se o mapeamento foi realizado corretamente e se a solução proposta tem consonância com o problema. Outra possibilidade seria propor que se faça uma auditoria dos processos para acompanhamento, pois pode ser que eles estejam corretos, mas não aconteçam devido à ausência de gerenciamento. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR PADRONIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA MULTIPROFISSIONAL Emanuel Nunes Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Olá, profissional de saúde em formação! Iniciaremos mais uma seção. Você está indo muito bem e logo aplicará tudo isso no seu dia a dia e fará diferença no mercado de trabalho. Imaginou desenvolver soluções para os problemas no trabalho e, assim, melhorar a assistência, os fluxos e os resultados? É exatamente isso que você está aprendendo e, nesta seção, mergulharemos ainda mais e compreenderemos a relação entre qualidade e padronização da assistência. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s A qualidade e a padronização são indissociáveis. Não é possível ter qualidade sem padronização, pois a padronização confere qualidade necessariamente. Para contextualizar esta questão, imaginaremos que você trabalha em uma organização de saúde que está passando pelo processo de acreditação hospitalar. Hoje, o seu setor recebeu a primeira visita da Organização Nacional de Acreditação Hospitalar (ONA), e foi solicitado a você desenvolver um protocolo para melhoria da assistência dos pacientes que são admitidos no pronto-socorro (PS). Você realiza uma reunião com a equipe e recebe muitas ideias de protocolos interessantes, por exemplo: protocolo de reanimação cardiopulmonar (RCP), atendimento ao paciente politraumatizado, entre muitas outras indicações de todo o time multiprofissional. Você, porém, precisa refletir: o protocolo é para melhorar a assistência do paciente no PS? O que é preciso fazer antes de criar um protocolo? A equipe fez sugestões interessantes, mas elas refletem a realidade do seu PS? O profissional de saúde faz diferença quando pensa além, busca soluções para os problemas e não se acomoda. Continue, pois você está no caminho para ser um profissional desse nível, só depende de você. CONCEITO-CHAVE DESENVOLVIMENTO E IMPLANTAÇÃO DE PROTOCOLOS E PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRONIZADO (POP) Não tem como pensar em qualidade em saúde se não considerarmos a padronização dos processos. Vamos compreender melhor o que significa na prática essa padronização. Você tem ideia de quantos restaurantes da rede McDonald’s existem em todo o mundo? Existem, aproximadamente, 36.899 mil unidades em todo o mundo; no Brasil, 2,5 mil. Você deve estar pensando: qual é a relação entre isso e a nossa disciplina? Já parou para pensar que, se você for a qualquer unidade de uma grande rede de restaurantes de sanduíches, por 0 Ve r an ot aç õe s exemplo, o lanche servido é o mesmo, no mesmo tempo, com os mesmos ingredientes, sabores e aspectos? Como isso é possível? Isso se deve à padronização. Uma vez que se padroniza um serviço, um procedimento ou um fluxo de um serviço, ele acontece ciclicamente, reduzindo drasticamente a ocorrência de incidentes, aumentando a eficiência e, por conseguinte, atingindo melhores resultados. Será que podemos ter esse nível de eficiência na área da saúde? Sim, mas temos muitos desafios, por isso, discutir esse tema é tão importante, pois você fará parte da geração que ajudará neste processo de melhoria contínua dos serviços de saúde. A ideia de padronizar é relativamente nova. Ela surgiu em 1946, no Japão, com a Total Quality Control (TQC) e, posteriormente, em 1947, criou-se a International Organization for Standardization (ISO), em Genebra, Suíça, a qual, desde então, é precursora de todas as normas ISO da indústria. Um ponto curioso é que ISO deriva do grego isos, que significa “igual”. No Brasil, a ISO é representada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Na área da saúde também existem normas? Sim, e muitas, mas a maioria tem caráter e foco na orientação, e não propriamente na padronização. Temos como exemplo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 50, de 2002, que estabelece critérios e padronizações para se construir um serviço de saúde, bem como seu espaço e sua estrutura mínima. Se você entrar em um hospital que tem mais de 30 anos, perceberá inúmeras reformas, pois, antes de 2002, cada um construía conforme sua vontade, sem ter uma padronização específica. Em outras palavras, a indústria está anos-luz na nossa frente no quesito padronização dos processos e eficiência. Outro exemplo muito interessante de padronização é a aviação, sobre a qual usaremos vários exemplos no decorrer do nosso estudo. Para começar, você sabia que tudo o que o piloto, o copiloto e os comissários realizam em um voo é rigorosamente padronizado? Por esse motivo, é tão seguro voar, mesmo contra 0 Ve r an ot aç õe s as leis da física. Desde a entrada na aeronave, o taxiamento, a decolagem, o voo de cruzeiro e o pouso, existe um protocolo,um checklist para todas as ocasiões possíveis, até mesmo para as intercorrências. EXEMPLIFICANDO Imagine a seguinte situação: uma criança chega no pronto-socorro infantil (PSI) com desconforto respiratório e febril. Recebe o diagnóstico de pneumonia (PNM) pelo plantonista da manhã, que inicia com o antibiótico ampicilina. Contudo, no plantão da tarde, o outro médico não gostou do antibiótico escolhido, suspendeu a medicação e prescreveu amicacina. A falta de padronização da conduta gera diversos prejuízos, tanto para o paciente quanto para o serviço como um todo. A padronização não é só importante, mas necessária. Você ainda tem dúvidas da importância da padronização? E na área da saúde, os procedimentos são padronizados? Nem sempre. Na maioria dos casos, cada profissional e equipe realizam o mesmo procedimento de forma diferente, e isso é um risco enorme para o aumento de incidentes. No entanto, o Procedimento Operacional Padronizado (POP) e os protocolos causaram mudanças significativas na área da saúde, tornando-se uma importante ferramenta para melhoria da qualidade e segurança do paciente. Desse modo, aprenderemos como se estruturam esses importantes documentos, mas, antes, compreenderemos alguns pontos. Tanto o POP quanto os protocolos devem ser um “manual de instruções” para o profissional de saúde, a fim de ele ser direcionado a realizar um procedimento adequadamente, respeitando todas as etapas do processo. Contudo, você costuma ler o manual de instruções dos eletrônicos que adquire? Possivelmente, não. E o motivo, geralmente, é porque ele é enorme, tem letras pequenas e não é nada atraente. Com isso, você já tem a primeira lição sobre POP e protocolos: eles devem ser claros, objetivos e, se possível, atraentes. 0 Ve r an ot aç õe s Para conseguir alcançar esses critérios, podemos usar fluxogramas e cores distintas. Sem sombra de dúvidas, o maior benefício dos protocolos e do POP é aquele proveniente da padronização da assistência. Veja os requisitos fundamentais para elaboração de um POP ou protocolo no Quadro 2.1 e no Quadro 2.2. ESTRUTURA DE UM POP O POP ajuda na padronização dos procedimentos, dos fluxos e das atividades do serviço de saúde. Por exemplo, um POP de punção venosa periférica é um documento que direciona o profissional a realizar o passo a passo do procedimento e que tem como finalidade a padronização. Todo e qualquer procedimento, fluxo ou atividade, seja qual for a área, pode e deve criar um POP. Todos os serviços de saúde são obrigados, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a terem um manual de normas e rotinas, ou um manual de boas práticas. O POP é o documento que compõe este manual. Vale ressaltar que ele deve corresponder à realidade do serviço, sendo claro, objetivo e aplicável. Desse modo, é interessante que não tenha mais de duas páginas, pois não precisa ser longo, e sim preciso. Quadro 2.1 | Componentes para a construção de um POP COMPONENTES CARACTERÍSTICAS OBSERVAÇÕES NOME DO DOCUMENTO É a denominação do procedimento que contém no POP. Precisa ser claro e objetivo. OBJETIVO Para que se destina o documento? Para que ele servirá? Se o POP não tem um objetivo claro, não deve ser criado, pois será inútil. 0 Ve r an ot aç õe s COMPONENTES CARACTERÍSTICAS OBSERVAÇÕES REFERÊNCIA Existe alguma referência que embase o POP? Se sim, deve-se inserir no documento; se não, justifica-se em que está se embasando para fazer o POP. DEFINIÇÕES Há a presença de terminologias e siglas que não são comuns a todos? É muito importante definir os termos e as siglas, para facilitar a compreensão do documento. EXECUTOR Quem realizará o procedimento? Quem é o profissional? É necessário que haja um responsável por aquele processo, caso contrário, ele se perderá e ninguém fará. PROCEDIMENTO Como deve ser realizada a tarefa? Quais são os passos e as etapas? É o coração do POP, a parte mais importante, na qual os profissionais serão orientados sobre como realizar o procedimento. DISTRIBUIÇÃO Quais setores receberão e executarão o POP? Vale ressaltar aqui que o POP deve ser específico para cada setor ou unidade. ELABORADOR Quem elaborou o POP? Deve constar o nome do profissional, o conselho de classe e a data da elaboração. 0 Ve r an ot aç õe s COMPONENTES CARACTERÍSTICAS OBSERVAÇÕES ELABORADOR DA VERSÃO Quem elaborou a versão POP? Deve constar o nome do profissional, o conselho de classe e a data da elaboração da versão. Lembre-se de que o POP se atualizará conforme a necessidade. AUTORIZAÇÃO Precisa de autorização? Deve constar o nome do profissional, o conselho de classe e a data da autorização do POP. APROVAÇÃO Quem aprovou o POP? Deve constar o nome do profissional, o conselho de classe e a data da aprovação. Quem é a autoridade? Responsável técnico. Fonte: elaborado pelo autor. REFLITA Tanto o protocolo quanto o POP devem ser desenvolvidos em um contexto de coparticipação de todos os membros da equipe. Dificilmente, um novo processo funcionará se ele for criado por alguém que não conhece a realidade do serviço e, por conseguinte, não saberá suas falhas e lacunas. Sendo assim, recorra ao conhecimento da sua equipe, pois ela sabe o que acontece e onde pode melhorar, sem contar que ficará motivada a realizar a mudança proposta, já que participou da elaboração. 0 Ve r an ot aç õe s ESTRUTURA DE UM PROTOCOLO O protocolo é como se fosse um POP mais elaborado e completo. Ele é utilizado para guiar o profissional de saúde na realização de um procedimento complexo ou em um atendimento específico, por exemplo: para realizar a classificação de risco ou gravidade de um paciente no PS, utiliza-se um protocolo denominado “Protocolo de Manchester”, o qual classifica os pacientes por gravidade através de cores e, assim, o paciente mais grave é atendido mais rapidamente. Quadro 2.2 | Componentes para construção de um protocolo COMPONENTES CARACTERÍSTICAS OBSERVAÇÕES ORIGEM Em qual instituição ou serviço será criado o protocolo? Deve ser específico e direcionado. OBJETIVO A que se destina o protocolo? Qual será sua função? Um protocolo sem objetivo também não deve ser criado, pois não será útil. GRUPO DE DESENVOLVIMENTO Quem serão os profissionais que desenvolverão o protocolo? É importante que sejam especialistas e atuem na área do protocolo. CONFLITO DE INTERESSE Local destinado aos criadores do protocolo. Deixar claro que o protocolo não tem cunho comercial, religioso ou qualquer outro. O protocolo visa apenas à padronização do procedimento. 0 Ve r an ot aç õe s COMPONENTES CARACTERÍSTICAS OBSERVAÇÕES EVIDÊNCIAS Colocar as evidências científicas que embasam as ações do protocolo. Na ausência de evidência, deve-se realizar uma revisão sistemática da literatura. REVISÃO Revisão interna e externa do protocolo. É interessante que outros profissionais especialistas façam a revisão do protocolo. FLUXOGRAMA Trata-se da representação esquemática do protocolo. É de suma importância, pois facilita o entendimento do protocolo. INDICADOR DE RESULTADO Como serão mensurados os resultados do protocolo? Definir indicadores para representarem os resultados do protocolo. VALIDAÇÃO Validação interna e externa. É importante fazer uma fase de pré-teste para refinar o protocolo e, depois, realizar a validação com a equipe criadora e com outra equipe que não participou da elaboração. LIMITAÇÕES Existe evidência científica forte que embase o protocolo? Se não houver, isso é uma limitação. 0 Ve r an ot aç õe s Fonte: elaborado pelo autor. ASSIMILE Para a implementação de qualquer documento que ajude na padronização, é de suma importância que se conheça o perfil epidemiológico, os processos, a equipe de trabalho e o que se pretende alcançar. Não há como dar certo se não consideramos tudo isso. O perfil epidemiológico mostrará o tipo de atendimento mais frequenteno serviço; ver os processos permitirá enxergar as oportunidades de melhorias; por fim, conhecer a equipe dará parâmetros para uma estratégia mais assertiva de implementação da padronização. Figura 2.4 | Requisitos fundamentais para construção de um POP ou protocolo Fonte: elaborada pelo autor. Tanto o POP quanto o protocolo precisam ser ferramentas de esclarecimentos, e não fatores que podem confundir ou gerar discussões. Por isso, devem ser elaborados com critério, com a participação da equipe que executará o procedimento, pois ela sabe melhor do que ninguém o que funcionará e o que não funcionará. Veja os exemplos a seguir de um POP e de um protocolo em fluxograma. 0 Ve r an ot aç õe s 1. Exemplo de um POP. Logotipo ou logomarca da organização de saúde Procedimento Operacional Padronizado Nº 01 Data: 6/11/2020 Página: 1 Liberação de vagas na UTI Neonatal Neonatologia OBJETIVO: Padronização do processo de liberação de vagas para os leitos neonatais. REFERÊNCIAS: Rotina da unidade. DEFINIÇÕES: Padronização do processo de liberação de vagas para os leitos neonatais. PAGO – Pronto-socorro da ginecologia. CROSS – Regulação de vagas do município. C.O – Centro obstétrico. RN – Recém-nascido. EXECUTOR: Equipe multiprofissional. PROCEDIMENTO: 1. Enfermeiro: realizar censo diário da unidade e manter o sistema CROSS atualizado. 2. PAGO: recebe gestante de alto risco. 0 Ve r an ot aç õe s 3. Em casos não urgentes, as gestantes são encaminhadas para a Enfermaria de Alojamento Conjunto. 4. Em caso de urgência, a gestante é encaminhada para o C.O, e o obstetra comunica o neonatologista. 5. Neonatologista e obstetra discutem o caso e programam o nascimento. 6. Enfermagem da UTI Neonatal prepara o leito para receber o RN. 7. RN é admitido na UTI Neonatal. NOTA: em caso de ocupação acima da capacidade instalada na UTI Neonatal, além do censo, o enfermeiro ligará para o PAGO, para este informar a situação. O PAGO informará o SAMU sobre o fato. A UTI Neonatal deverá sempre manter um leito para urgência. DISTRIBUIÇÃO: UTI NEONATAL Elaborado: Emanuel Nunes COREN: 111111 Data: 6/11/2020 Autorizado: Eliane F. Cruz COREN: 222222 Data: 11/11/2020 Aprovado: Eliane F. Cruz – Diretora do Serviço de Qualidade Data: 10/11/2020 2. EXEMPLO DE PROTOCOLO Figura 2.5 | Protocolo em fluxograma 0 Ve r an ot aç õe s Fonte: acervo do autor. Esperamos que você tenha percebido, nesta seção, a grande importância do POP e dos protocolos, pois se faz necessário padronizar procedimentos para que se possa tentar garantir a segurança e a qualidade do atendimento ao paciente. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 A padronização dos processos é algo relativamente novo na sociedade moderna, porém ela tem se mostrado importante, pois impacta em melhores resultados, visto que reduz o retrabalho e melhora a eficiência operacional. Na área da saúde, além da melhoria da qualidade, qual é o principal objetivo da padronização dos processos? a. Engessar os processos. b. Reduzir o risco e a quantidade de incidentes. c. Inibir a tomada de decisão. d. Melhorar o trabalho dos líderes e. Melhorar os resultados financeiros. 0 Ve r an ot aç õe s Questão 2 Todos os serviços de saúde são obrigados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a terem um manual de normas e rotinas. Atualmente, esse manual está sendo substituído pelo POP, justamente por este ser mais claro e objetivo. O POP possui uma estrutura completa, mas existem três pontos fundamentais, são eles: ____________, ______________ e _____________, os quais são essenciais para um POP bem desenvolvido. Analise a alternativa que completa as lacunas: a. nome do documento; introdução; referências. b. referências; validação; autorização c. objetivo; procedimento; executor. d. definições; executor; objetivos. e. nota; discussão; perfil epidemiológico. Questão 3 O POP e o protocolo são ferramentas indispensáveis para que um serviço de saúde tenha fluidez de processos, eficiência e melhores resultados. É importante que o profissional de saúde compreenda onde pode utilizar cada um, a fim de alcançar o resultado desejado. Tanto o POP quanto o protocolo realizam padronização, mas qual é a indicação de cada um deles? Assinale a alternativa correta: a. O POP é usado para patologia, e o protocolo, para procedimentos. b. O protocolo e o POP têm a mesma função. c. O POP é para a equipe operacional, e o protocolo, para a equipe assistencial. d. O protocolo garante a padronização das condutas frente a uma patologia, e o POP padroniza procedimentos, atividades ou fluxos. e. O POP assegura a padronização das condutas frente a uma doença, e o protocolo padroniza procedimentos, atividades ou fluxos. 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS BARBOSA, C. M.; MAURO, M. F. Z.; CRISTÓVÃO, S. A. B; MANGIONE, J. A. A importância dos procedimentos operacionais padrão (POPs) para os centros de pesquisa clínica. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 57, n. 2, p. 134-135, 2011. Disponível em: https://bit.ly/3rUC3LY. Acesso em: 9 nov. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/2Zoi4c6. Acesso em: 10 set. 2020. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução – RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Brasília, DF: Anvisa, [2020]. Acesso em: 21 dez. 2020. OLIVEIRA, D. A. L. Práticas clínicas baseadas em evidências. São Paulo: UNIFESP, 2010. Disponível em: https://bit.ly/2NiN5fb. Acesso em: 5 nov. 2020. PIMENTA, C. A. M.; LOPES, C. T.; AMORIM, A. F.; NISHI, F. A.; SHIMODA, G. T.; JENSEN, R. Guia para construção de protocolos assistenciais enfermagem. São Paulo: Coren-SP, 2015. Disponível em: https://portal.coren- sp.gov.br/sites/default/files/Protocolo-web.pdf. Acesso em: 6 nov. 2020. RIBEIRO, R. C. Diretrizes clínicas: como avaliar a qualidade? Rev. Bras. Clin. Med., v. 8, n. 4, p. 350-5, 2010. Disponivel em: https://bit.ly/3qH6wN6. Acesso em: 5 nov. 2020. SILVA, C. S. S. L.; KOOPMANS, F. F.; DAHER, D. V. O Diagnóstico Situacional como ferramenta para o planejamento de ações na Atenção Primária à Saúde. Revista Pró-UniverSUS, v. 7, n. 2, p. 30-33, 2016. Acesso em: 3 nov. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/3rUC3LY https://bit.ly/2Zoi4c6 https://bit.ly/2NiN5fb https://bit.ly/3qH6wN6 FOCO NO MERCADO DE TRABALHO PADRONIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA MULTIPROFISSIONAL Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR Uma das coisas mais marcantes é ver um protocolo funcionado e refletindo nos resultados esperados, mas, para ser assertivo, é necessário seguir um passo importante antes de criar um protocolo assistencial. Você precisa desenvolver um protocolo no PS. Qual caminho você seguirá? Fazer uma reunião é Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s fundamental, porém é necessário também pensar na utilidade do documento, por exemplo: você acata a ideia da equipe e faz um protocolo de parada cardiorrespiratória (PCR), mas você não tem casos que exijam PCR, então para que serve este protocolo? Desse modo, uma estratégia interessante é realizar um levantamento do perfil epidemiológico da unidade, ou seja, conhecer a prevalência dos seus pacientes. Quem mais você atende? Uma vez que sabe a prevalência, você pode fazer o primeiro protocolo para o tipo de atendimento que mais realiza e, depois, evolui para outros. Você já sabe o perfil dos pacientes do seu serviço? Descubra! AVANÇANDO NA PRÁTICA ENFRENTANDO A RESISTÊNCIA À MUDANÇA E A BAIXA ADESÃO AO POP A padronização dos processostem sido uma ferramenta muito importante para o melhoramento da qualidade, porém possui diversos desafios em sua elaboração, como resistência a mudanças por parte da equipe. Para contextualizar essa situação, você estará no papel de um profissional de saúde que foi escolhido por sua liderança para implementar um POP. O objetivo desse documento é padronizar um procedimento da sua área que envolve a maior parte da sua equipe. Você já sabe o que deve ser feito e como deve ser implantado o POP, mas como você pode melhorar a adesão da sua equipe e reduzir a resistência à mudança? 0 Ve r an ot aç õe s RESOLUÇÃO Estruturar um POP não é tão difícil, mas implantá-lo é um grande desafio, então, como melhorar a adesão e reduzir a resistência? Uma boa estratégia seria incluir a equipe no processo de elaboração do documento, uma vez que o colaborador se sente parte ativa do processo e corresponsável, e isso aumentará a adesão. Existem, porém, outras possibilidades, por exemplo, mapear os processos. O importante é que faça sentido para sua realidade. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR PROTOCOLOS CLÍNICOS MULTIPROFISSIONAIS Emanuel Nunes Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, na seção anterior, aprofundamos a questão da padronização, bem como sua importância e seu impacto na qualidade e segurança do paciente. Nesta seção, caminharemos para outro aspecto do protocolo: o protocolo clínico. E por que isso é importante? Imagine o seguinte cenário: existem milhões de universidades no mundo, certo? Cada uma possui uma estrutura e um método de ensino específicos. Algumas têm enfoque prático, outras são mais teóricas e, ainda, existem aquelas que focam na carreira acadêmica. Seja qual for a sistemática de ensino, todos os profissionais se encontrarão no grande mar Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s chamado de mercado de trabalho. Cada um veio por um rio diferente e todos desembocaram no mesmo lugar. Existem muitas coisas boas nessa diversidade, pois são realidades diversas, contudo, quando pensamos em realizar uma consulta clínica ou um atendimento, podem existir conflitos, porque existe uma diferença na abordagem do aprendizado, que é natural. No entanto, isso precisa ser refinado no mercado de trabalho, para melhorar a qualidade e a harmonia da equipe multiprofissional. Para tanto, aprenderemos sobre a importância do protocolo clínico, tanto para o paciente quanto para a instituição de saúde. Os protocolos clínicos são ferramentas que permitem a padronização das condutas nas patologias ou condições do paciente/cliente. Eles apresentam benefícios inegáveis para os pacientes, profissionais de saúde e instituições de saúde. Para contextualizar este cenário, você se colocará no papel de um gestor da qualidade em um serviço de saúde, que foi solicitado para ajudar a equipe multiprofissional de um setor de internação a implementar um protocolo clínico. Ao participar da reunião, você recebe os seguintes questionamentos: por onde podemos começar? Por qual condição ou doença devemos iniciar? Munido dessas questões, como você poderia respondê-las para a equipe? Lembre-se de que aprender a trabalhar em equipe é essencial para o sucesso profissional. CONCEITO-CHAVE FUNDAMENTOS DO PROTOCOLO CLÍNICO Você consegue imaginar trabalhar em um local onde as condutas clínicas e o atendimento ao paciente/cliente não sejam padronizados, e que cada profissional faz uma intervenção diferente sem ter consonância com o colega de outra área da saúde? Essa é a realidade de muitos serviços de saúde no Brasil e no mundo. Muitos são os prejuízos dessas intervenções não padronizadas, por exemplo, o paciente/cliente não tem uma constância no tratamento, pois cada profissional 0 Ve r an ot aç õe s muda a conduta de acordo com a sua vontade, o que é nocivo para quem está sendo atendido. Existem também outros aspectos, como aumento dos custos. Um exemplo é o caso da troca de antibióticos de um paciente em tratamento sem um fundamento. Essa medicação não usada está aberta e será desprezada, isso gera desperdício e, consequentemente, aumento dos custos hospitalares. Sendo assim, faz muito sentido que as condutas sejam padronizadas. Perceba que padronizar não significa “engessar” e tirar a autonomia do profissional, pelo contrário, o protocolo clínico tem como premissa direcionar o profissional para uma conduta assertiva, mas não substitui o raciocínio clínico e a expertise profissional. Como podemos diferenciar um protocolo clínico de um protocolo e de um Procedimento Operacional Padronizado (POP)? Primeiro, é preciso entender que todos eles buscam o mesmo objetivo: a padronização. A diferença está no aspecto dessa padronização, visto que cada documento tem um enfoque específico, mas que, ao fim, se encontram, pois todos eles ajudam na melhoria da qualidade e segurança do paciente. Vale ressaltar que o entendimento pode variar de acordo com a organização de saúde, por exemplo, pode ser que haja somente POP e protocolo, e não se utilize a denominação de protocolo clínico, mas aqui colocaremos alguns pontos de diferença, conforme você verá no Quadro 2.3 e na Figura 2.6. Quadro 2.3 | Características dos documentos de padronização em saúde Tipo de documento Objetivos POP Visa à padronização de um procedimento, fluxo ou atividade. Protocolo Visa à padronização de um procedimento mais complexo ou atendimento. 0 Ve r an ot aç õe s Tipo de documento Objetivos Protocolo clínico Visa à padronização da conduta clínica frente a uma doença ou condição. Fonte: elaborado pelo autor. Figura 2.6 | Relação entre POP, protocolo e protocolo clínico Fonte: elaborada pelo autor. ASSIMILE Dentro de qualquer serviço de saúde, existe minimamente um fluxo de atendimento, no qual o paciente/cliente precisa seguir durante um atendimento. Por exemplo, em um pronto-socorro, o paciente/cliente passa por uma classificação de risco pelo enfermeiro e, após, é avaliado pelo médico ou por outros membros da equipe multiprofissional. Sendo assim, não faz muito sentido ter um protocolo clínico somente com as condutas médicas, porque isso garante a padronização entre os médicos, mas e os demais profissionais? Para tanto, é necessário que as condutas multiprofissionais estejam no protocolo clínico, pois, desse modo, há uma padronização de todo o processo de atendimento, o que gera harmonização das condutas, melhor comunicação entre a equipe e, por conseguinte, qualidade. 0 Ve r an ot aç õe s DESENVOLVIMENTO E IMPLANTAÇÃO DE PROTOCOLOS CLÍNICOS O protocolo clínico tem como objetivo normatizar e padronizar a conduta clínica de uma doença ou condição. Neste documento, constam as ações para condução do tratamento, da reabilitação, enfim, do manejo da doença ou condição. A princípio era um documento médico, no qual havia somente as condutas médicas, porém isso tem evoluído, tanto que, agora, devem constar também as ações de todos os profissionais envolvidos no contexto assistencial, afinal não é só o médico que atende o paciente. A organização de saúde deve fornecer uma estrutura que viabilize o desenvolvimento, a distribuição, a implantação e o gerenciamento de protocolos clínicos. O protocolo clínico tem como objetivos e princípios: Dar apoio à conduta clínica de determinada doença ou condição. Ajudar na organização do trabalho. Descrever as responsabilidades das ações e dos membros da equipe multiprofissional. Melhorar a qualidade, efetividade e eficiência da atenção à saúde. Não ser “engessado”, mas flexível. Ser um guia para tomada de decisão, aprendizagem e educação. Melhorar a comunicação em todos os âmbitos. Ter a ética como base. Deve ser desenvolvido pela equipe multiprofissional. Deve conter todos os setores e equipes que atuam naquele setor. Contar com a colaboração de instituições formadoras, como conselho de classe, sociedades e consensos.Deixar claro os objetivos, a metodologia e quem será beneficiado com o protocolo clínico. 0 Ve r an ot aç õe s Conter evidências científicas que sustentem a abordagem/conduta. Esclarecer como o protocolo será validado interna e externamente. Não se pode implementar um protocolo sem que haja uma real necessidade. Aliás, um dos principais erros é a implementação de um protocolo que não condiz com a realidade do serviço de saúde e que, portanto, não se aplica e não tem o resultado esperado. Antes de iniciar o protocolo clínico, é necessário responder a algumas perguntas importantes, pois o planejamento é essencial para a assertividade do documento. 1. Qual será a doença ou condição? 2. Qual será a equipe multiprofissional responsável pelo protocolo? 3. Em qual contexto (situação) será aplicado o protocolo? 4. Como será a busca de evidências científicas para embasar o protocolo? 5. Como será formalizado o protocolo? 6. Como será validado? 7. Como será revisado? 8. Como será distribuído? 9. Como será acompanhado e gerenciado? REFLITA Imagine que a sua equipe empreendeu tempo e trabalho para desenvolver um protocolo clínico de atendimento ao paciente com lombalgia (dor na região lombar). Após alguns meses, você percebe que nenhum paciente foi admitido com o diagnóstico de lombalgia. É provável que os desenvolvedores do protocolo não consideraram o perfil de pacientes atendidos no serviço e, assim, o documento foi bem feito, mas 0 Ve r an ot aç õe s não se aplica. Faz sentido ter um protocolo que não se aplica? Antes de fazer um protocolo, é necessário conhecer o perfil de atendimento do serviço. Qual será a importância disso neste contexto? Quadro 2.4 | Elementos de um protocolo clínico Componentes Características 1. Introdução Definir de forma objetiva a condição ou doença. 2. Elegibilidade Quais pacientes serão incluídos/atendidos. 3. Critérios de exclusão Critérios clínicos que excluam o paciente do protocolo. 4. Marcadores Paramentos mensuráveis para avaliar o protocolo. Por exemplo, exames laboratoriais. 5. Metas e indicadores de qualidade Critério pré-determinados para analisar a eficiência do protocolo, por exemplo, tempo de atendimento. 6. Plano terapêutico Definir as etapas do atendimento de forma geral. 7. Projeto terapêutico Descrever o planejamento diário da assistência. 8. Conduta Passo a passo da equipe multiprofissional para atendimento. 0 Ve r an ot aç õe s 9. Medidas profiláticas Medidas específicas, por exemplo, paciente deve ficar em repouso antes do procedimento. 10. Consentimento informado Quando aplicável, deve conter o Termo de Consentimento. 11. Medidas de orientação ao paciente Orientação multiprofissional para alta do paciente, para que ele possa realizar cuidados em domicílio. 12. Algoritmo/Fluxograma Representação sequencial do protocolo. 13. Referências bibliográficas Bibliografia, guidelines e diretrizes utilizadas na elaboração do protocolo. 14. Distribuição Quais setores utilizaram o protocolo? 15. Responsáveis pela elaboração, validação e aprovação. Deve conter nome completo, função, conselho profissional e data. Fonte: elaborado pelo autor. IMPACTOS DO PROTOCOLO CLÍNICO PARA O PACIENTE E A INSTITUIÇÃO Os protocolos clínicos são as ferramentas mais importantes para gestão da qualidade e segurança do paciente, uma vez que você padroniza a assistência ao paciente/cliente e assegura um determinado padrão de qualidade, que pode ser mensurado e melhorado continuamente. Os benefícios do protocolo clínico podem ser classificados considerando o paciente/cliente, o profissional de saúde e a organização de saúde. Paciente/Cliente: recebe um atendimento padronizado e embasado nas melhores evidências científicas. O tratamento segue um processo, de início, 0 Ve r an ot aç õe s meio e fim, com metas e objetivos claros. Profissional de saúde: tem em suas mãos diretrizes claras e objetivas sobre como conduzir o tratamento ou a reabilitação de uma condição ou doença. Organização de saúde: com as condutas padronizadas, tem à sua disposição indicadores de qualidade, que são analisados e ajudam na tomada de decisão em diversos âmbitos da gestão em saúde. EXEMPLIFICANDO O protocolo clínico é um guia completo de atenção a uma determinada condição ou doença, que fornece ao profissional de saúde o caminho a seguir para conduzir o processo de tratamento ou a reabilitação do paciente/cliente. Vale ressaltar que não se deve confundir o protocolo com a massificação das condutas. Por exemplo, apesar de as doenças terem o mesmo mecanismo basicamente, a sua apresentação é peculiar em cada paciente. Desse modo, o protocolo direciona a conduta, mas a assistência é individual e personalizada, já que cada paciente tem suas próprias necessidades. OPORTUNIDADES E DESAFIOS DOS PROTOCOLOS PARA A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL Existem muitos desafios na implementação dos protocolos, por exemplo, a própria resistência do profissional em segui-los e a disposição em descrever e angariar recursos para que eles sejam desenvolvidos e implementados. É necessário que haja um entendimento da importância e dos benefícios do protocolo, assim como uma crença nele, caso contrário, não surtirá os resultados esperados. Outro aspecto que descredibiliza o protocolo ocorre quando se implementa um documento que não foi desenvolvido na instituição, que não “conversa” com o serviço e não corresponde à realidade. Quem seguirá um protocolo assim? 0 Ve r an ot aç õe s Por outro lado, a ausência de padronização nos serviços de saúde é uma oportunidade para implementação dos protocolos clínicos, mas é preciso ter muita atenção. Com qual protocolo iniciaremos? Essa pergunta é muito importante, pois deve-se iniciar pela condição ou patologia mais prevalente em seu serviço. Imagine que na sua organização você percebeu que o perfil epidemiológico é composto por pacientes/clientes acometidos pelo Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). Essa é a primeira informação, então você já se sabe por onde iniciar e qual será o primeiro protocolo a ser implantado. Figura 2.7 | Exemplo de algoritmo Nota: DEA: Desfibrilador automático; RCP: Ressuscitação cardiopulmonar; SBV: Suporte Básico de Vida. PCR: Parada cardiorrespiratória. Fonte: American Heart Association (2020, p. 10). Nesta seção, vimos que o protocolo clínico pode ser desenvolvido e implementado em todas as áreas da saúde, e o seu sucesso dependerá do planejamento e da capacitação das equipes quanto aos protocolos e ao sistemático acompanhamento. Aquilo que hoje traz questionamentos (por exemplo, como será que isso pode ser melhorado?) pode virar um protocolo. Use e abuse desta grande ferramenta de melhoria da qualidade. 0 Ve r an ot aç õe s FAÇA A VALER A PENA Questão 1 Os protocolos clínicos são as ferramentas mais importantes na gestão da qualidade e segurança do paciente. Uma vez que você padroniza a assistência ao paciente/cliente, assegura-se também um determinado padrão de qualidade, que pode ser mensurado e melhorado continuamente. Os benefícios do protocolo clínico podem ser classificados considerando o ______________, o _______________ e o _________________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. serviço; problema; solução. b. processo; entrada; saída. c. paciente; profissional; serviço de saúde. d. hospital; família; equipe. e. médico; enfermeiro; outros profissionais. Questão 2 O protocolo clínico tem como objetivos e princípios: I. Dar apoio à conduta clínica de determinada doença ou condição. II. Ajudar na organização do trabalho. III. Descrever as responsabilidades das ações e dos membros da equipe multiprofissional. IV. Tirar a autonomia do profissional, pois ele pode errar, e o protocolo é perfeito. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. 0 Ve r an ot açõe s c. I, II e III, apenas. d. II, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. Questão 3 O protocolo clínico visa direcionar e trazer segurança para o profissional de saúde na tomada de decisão frente a uma condição ou doença. Para que um protocolo clínico tenha credibilidade, é fundamental que ele possua as _______________, pois elas trazem as _____________ que embasam o ______________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. referências; evidências; protocolo clínico. b. introdução; justificativa; objetivos. c. método; equipe; serviço. d. profissional; paciente; hospital. e. projeto; plano; conduta. REFERÊNCIAS AMERICAN HEART ASSOCIATION. Destaques das diretrizes de RCP e ACE de 2020 da American Heart Association. Dallas, TX: American Heart Association, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3bgbbiB. Acesso em: 22 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/37pKiaX. Acesso em: 10 set. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/3bgbbiB https://bit.ly/37pKiaX BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Guia de elaboração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas: delimitação do escopo. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3atbszw. Acesso em: 10 nov. 2020. PIMENTA, C. A. M.; LOPES. C. T.; AMORIM, A. F.; NISHI, F. A.; SHIMODA, G. T.; JENSEN, R. Guia para construção de protocolos assistenciais enfermagem. São Paulo: Coren-SP, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3ub0rem. Acesso em: 6 nov. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/3atbszw https://bit.ly/3ub0rem FOCO NO MERCADO DE TRABALHO PROTOCOLOS CLÍNICOS MULTIPROFISSIONAIS Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR Na condição de um gestor que foi convidado para contribuir com a equipe multiprofissional na definição de um protocolo clínico em uma unidade de internação, durante a reunião foram direcionados a você alguns importantes Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s questionamentos: por onde podemos começar? Por qual condição ou doença devemos iniciar? Como responder a essas duas questões? Um caminho interessante seria solicitar à equipe qual é o conhecimento dela sobre o tipo de pacientes que mais atende. Ela sabe? Isso está claro? Se estiver, é assertivo iniciar o protocolo pela condição ou doença mais prevalente no setor. Caso contrário, sugere-se o levantamento do perfil epidemiológico da unidade e, depois da análise, conhecer a prevalência e pensar no protocolo. AVANÇANDO NA PRÁTICA “COPIAR E COLAR” DE PROTOCOLOS CLÍNICOS Os protocolos clínicos devem refletir a realidade do serviço para alcance de seu objetivo. Neste contexto, imagine-se no lugar de um profissional de saúde com experiência em protocolos, o qual foi convidado por outro serviço de saúde para validar os protocolos recém-desenvolvidos. Em sua primeira análise, percebe que o protocolo em questão parece não refletir a realidade daquele serviço. Você questiona os desenvolvedores, e eles respondem que, na verdade, copiaram um protocolo que viram em um congresso recentemente, um documento que foi traduzido de uma instituição do Canadá. Diante do exposto, quais orientações você forneceria a esta organização? RESOLUÇÃO Ao ser convidado por um serviço de saúde para validar os protocolos clínicos, você observou que o protocolo em questão parece não se aplicar naquele serviço. Ao questionar, você recebe a devolutiva de que o protocolo foi traduzido para o português apenas. O que fazer? Como ajudar esta organização? 0 Ve r an ot aç õe s Valeria a pena retomar com eles, de modo construtivo e educativo, os objetivos do protocolo clínico, bem como sua aplicabilidade e seus resultados. Outra possibilidade seria se colocar à disposição para contribuir no planejamento de um protocolo que corresponda à instituição e ajude a melhorar a assistência dela, tendo como pontapé inicial o levantamento do perfil epidemiológico. Conhecer para melhorar. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR GERENCIAMENTO DE PROTOCOLO E QUALIFICAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE Emanuel Nunes Imprimir CONVITE AO ESTUDO Prezado aluno, você caminhou por duas unidades e já está desvendando os mistérios da qualidade e segurança do paciente. Nas seções anteriores, estudamos a importância do protocolo e do Procedimento Operacional Padronizado (POP) na melhoria da qualidade nos serviços de saúde. A partir de agora, aprofundaremos, contextualizaremos e aplicaremos o que você já Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s conhece, assim como conheceremos novos elementos, os quais serão apresentados nesta unidade. Compreenderemos como o gerenciamento dos protocolos, atrelado às recomendações das autoridades de saúde, ao uso scores e à análise e compreensão dos desfechos clínicos, impacta diretamente na melhoria da qualidade. Não basta criar protocolos, POP ou qualquer outra ação se não houver um acompanhamento sistemático do processo. É necessário visualizar claramente as mudanças ocorridas ou não após a implementação das mudanças de melhoria. PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, nesta seção, aprofundaremos alguns pontos da gestão da qualidade e segurança do paciente. O nosso enfoque será no acompanhamento dos processos, ou melhor, na gestão deles. Deixaremos uma reflexão desde já: um protocolo bem desenhado, implantado com maestria, mas não acompanhado, obterá os resultados esperados? Outro aspecto fundamental é a noção de continuidade da assistência, isso inclui registros da assistência e comunicação eficaz. Em outras palavras, compreenderemos o significado de linhas de cuidado. Por fim, você aplicará esse conhecimento em sua área de atuação, melhorando a qualidade e segurança da sua assistência. A linha de cuidado faz parte da gestão por processo e tem sido de grande valia para o melhoramento contínuo da qualidade nos serviços de saúde. Para contextualizar a aprendizagem, imaginaremos um cenário, no qual você está na condição de um gestor recém-contratado em um serviço de saúde que funciona 24 horas por dia. Você recebe uma ligação informando que houve um incidente envolvendo a dispensação da nutrição em um dos setores do hospital. Ao chegar ao local e fazer uma investigação prévia, você descobriu que se tratava de um paciente com dieta hipossódica (com pouco sal), para o qual foi servida uma dieta geral (quantidade de sal normal), e ele apresentou um pico de hipertensão e precisou ser medicado. O que é necessário fazer para compreender todo o 0 Ve r an ot aç õe s processo? Após conhecer todo o sistema da nutrição, você verificou que não havia registros nem fluxos específicos para a dispensação das dietas especiais, desse modo, a única comunicação era verbal entre a colaboradora e a nutricionista. Diante desta situação, o que você faria para melhorar esse processo do serviço de nutrição e dietética? Para fazer a diferença, é necessário conhecimento e habilidade, e você está no caminho. CONCEITO-CHAVE LINHAS DE CUIDADO Segundo o Ministério da Saúde (2014), as linhas de cuidado podem nos remeter a muitas dimensões, mas todas elas serão alinhavadas em algo maior, chamado gestão por processos, o que significa que a organização de saúde trabalha baseada em evidências, tem processos implantados, os quais interagem entre si e fornecem dados objetivos para que os gestores tomem decisões mais assertivas quanto ao caminho que a instituição deve seguir para alcançar a excelência da assistência em todos os indicadores de qualidade, que inclui a assistênciae a eficiência financeira da organização. A qualidade melhora todo o ecossistema da organização de saúde, não somente a qualidade de assistência ao paciente. Todos os processos são pensados com foco no paciente/cliente, ou seja, tudo é planejado para que ele tenha a melhor experiência possível, que o momento de internação ou o procedimento não cause danos desnecessários e que, ao procurar o serviço de saúde, tenha as suas necessidades sanadas de forma satisfatória. O Ministério da Saúde apresenta a linha de cuidado no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), disponibilizando diretrizes de atenção específica à saúde da mulher, da criança, do adulto e do idoso para todo o sistema de saúde. Podemos 0 Ve r an ot aç õe s compreender isso como uma diretriz macro, e cada serviço desenvolverá a sua linha de cuidado particular, considerando o seu perfil epidemiológico e sua realidade. Nas unidades anteriores, falamos sobre o mapeamento de processo. Para relembrar, trata-se de um método para conhecer os processos de uma organização ao ponto de ser capaz de visualizar as falhas e, assim, propor soluções para melhoria contínua da qualidade. Uma vez que já foi realizado o mapeamento do processo, é possível, a partir deste ponto, desenhar a linha de cuidado, que podemos conceituar como sendo uma representação dos fluxos assistenciais que serão utilizados para assegurar uma assistência de qualidade ao paciente/cliente. Outro ponto de extrema importância é que estamos falando de um plano de assistência multiprofissional estruturado e que auxilia na implementação de protocolos e diretrizes clínicas. Visualizaremos esses conceitos de forma mais prática. Ao chegar a um serviço de saúde, há uma porta de entrada. Comumente, em hospitais, é o pronto-socorro (PS) ou pronto atendimento (PA). Esses setores são importantes, pois fazem a primeira avaliação do paciente/cliente e, após isso, existem condições de definir o fluxo que ele seguirá dentro do serviço. Por exemplo, um paciente chega ao PA com sintomas de infarto agudo do miocárdio (IAM). Ele é inserido no protocolo multiprofissional de IAM, passa por procedimentos no setor e, depois, é encaminhado para a unidade coronariana (UCO), departamento onde receberá a continuidade dos cuidados recebidos no PA. Na UCO, o paciente é estabilizado e reabilitado; em seguida, conforme sua evolução clínica, poderá receber alta direto para casa ou para enfermaria de adulto, a fim de dar continuidade à sua reabilitação. Neste exemplo, podemos observar a continuidade do cuidado, apesar de o paciente passar por diferentes setores, ele está no mesmo serviço, por isso é fundamental que existam protocolos, comunicação eficaz, interação entre os setores e um cuidado continuado e sistematizado. 0 Ve r an ot aç õe s Na Figura 3.1, você verá um exemplo de linha de cuidado na atenção materna e neonatal de baixo risco. Observe atentamente que temos uma linha de cuidado completa que se inicia na atenção primária, passa por toda atenção terciária (hospital) e retorna para a atenção primária. Vale ressaltar que é um fluxo contínuo, sistematizado e integrado, no qual não há perda de informações, e sim um atendimento e um cuidado continuados. Figura 3.1 | Exemplo de linha de cuidado – Atenção materna e neonatal de baixo risco Fonte: elaborada pelo autor. PROTOCOLOS COMO FERRAMENTA DE MELHORIA DA QUALIDADE Uma das ferramentas mais importantes para assegurar a correta operação da linha de cuidado são os protocolos multiprofissionais, pois eles dão a direção e fundamentam a tomada de decisão dos profissionais no ambiente trabalho. Tomando como referência a Figura 3.1, imagine o seguinte cenário: na atenção primária ou no ambulatório, a gestante faz os cuidados pré-natais e os exames e triagens próprios dos protocolos desse período. As informações de tudo que foi realizado precisa chegar de forma eficaz ao PAGO, pois essa história pregressa ajudará na tomada de decisão até a gestante e seu bebê receberem alta do hospital. Você consegue imaginar o quão complexo seria uma gestante chegar ao PAGO sem nenhuma informação do pré-natal? E os setores não se comunicarem dentro da unidade hospitalar? Embora isso pareça absurdo, é a realidade de 0 Ve r an ot aç õe s muitos serviços de saúde em nosso país. Sendo assim, os protocolos são essenciais para que a linha de cuidado tenha o devido fluxo de atendimento, informação e cuidados específicos. Um dos mais importantes processos dentro de uma unidade de saúde é a segurança no uso de medicamentos. Usaremos como exemplo o fluxo das medicações até o seu destino, o paciente/cliente. E, por fim, o time de resposta rápida, que tem sido uma experiência importante nos serviços que possuem esse protocolo implantado. CADEIA MEDICAMENTOSA E NUTRICIONAL Quando você vai a uma farmácia comprar um medicamento, ou a uma lanchonete comprar um lanche, você paga e recebe o produto, certo? Mas, você imagina como é a cadeia de processos até o medicamento ou o lanche chegar a você? Chamamos isso de gestão por processos, e os fluxos, de linha de cuidado. Aprofundaremos, neste momento, os processos que envolvem a cadeia medicamentosa, tendo como ponto de partida a Figura 3.1, bem como os seus fluxos dentro do serviço de saúde. Em uma unidade hospitalar, todo medicamento é dispensado pela farmácia, a qual tem muitos processos internamente. Ao dispensá-lo, ele segue outros processos, até ser administrado no paciente pelo setor que o recebe. Todo esse processo precisa estar descrito e disponível em fluxo para melhor compreensão de todos. Na Figura 3.2, daremos um exemplo prático de como seria a cadeia medicamentosa na prática. REFLITA Você já deve ter ouvido falar que existe uma linha tênue entre o remédio e o veneno. Este ditado popular reflete uma realidade quando nos referimos ao uso de medicamentos para tratamentos de doenças ou condições. Grande parte das atividades das equipes multiprofissionais em um serviço de saúde está relacionada com a medicação. Existem muitos riscos, e um dos maiores índices de incidentes está relacionado com as 0 Ve r an ot aç õe s medicações. São diversos detalhes que podem ser negligenciados e levar a um incidente. Será que os nossos serviços de saúde estão devidamente preparados? Será que há uma cadeia medicamentosa bem gerenciada e com foco na prevenção dos erros? E como você, enquanto profissional, pode ajudar na melhoria deste processo? Figura 3.2 | Resumo da cadeia medicamentosa Fonte: elaborada pelo autor. Denominamos cadeia medicamentosa justamente por ser tão complexa e importante. Você consegue visualizar quantos riscos existem em cada etapa dela até chegar ao paciente? Por isso, é indiscutível o gerenciamento dos processos que envolvem os medicamentos. ASSIMILE Outro exemplo marcante para ilustrar a Figura 3.2 são os medicamentos potencialmente perigosos (MPP), os quais são medicações que podem causar danos ao paciente/cliente, seja pela sua composição, seja pelos seus efeitos colaterais. A farmácia adquire o medicamento e o identifica como MPP, normalmente com uma cor vibrante (rosa/laranja), e dispensa para o setor de internação. Nesta unidade, a equipe verifica que se trata de um MPP e segue o protocolo, que inclui dupla checagem por dois profissionais 0 Ve r an ot aç õe s do preparo até a administração e, posteriormente, acompanhamento do paciente/cliente para identificação de alguma complicação. Perceba que os processos são integrados, conectados e indissociados. Este é o caminho para a qualidade da assistência e segurança do paciente. TIME DE RESPOSTA RÁPIDA O time de resposta rápida (TRR) é uma equipe especializada em atendimento aos pacientes em parada cardiorrespiratória ou com piora do quadro clínico e que não estão internados em uma unidade crítica, como as unidades de terapia intensiva (UTI). Como isso funciona e como melhora o desfecho dos pacientes? Para exemplificar, pensaremos no seguintecenário: um paciente encontra-se estável em uma enfermaria e rapidamente sofre uma piora clínica. Será que este setor possui todos os recursos para estabilizar o paciente? Recursos, provavelmente, sim, mas é improvável que tenha uma equipe ágil para este atendimento, pois este tipo de situação não é comum em uma enfermaria, e sim em uma UTI, onde todos se preparam para isso. Desse modo, o TRR foi idealizado para atender mais eficazmente a esse tipo de paciente, porém ele atua em todas as unidades não críticas do hospital. Vale destacar que o serviço de saúde precisa levar ao conhecimento de todos a existência do TRR e como poderá ser acionado. Destacamos o resumo do fluxo do processo na Figura 3.3. Figura 3.3 | Resumo do fluxo do TRR 0 Ve r an ot aç õe s Fonte: elaborada pelo autor. EXEMPLIFICANDO Geralmente, o TRR tem um ramal e um código, por exemplo: código azul. Visualizaremos a seguinte situação: um paciente está sendo encaminhado para o serviço de radiologia e, no meio do caminho, ele tem um desmaio. O profissional que está com ele ou outro acionará o código azul via ramal ou de outra forma, e o TRR chegará ao local e fará o atendimento, com o objetivo de estabilizar o paciente e evitar complicações e o óbito. A gestão por processos e a linha de cuidado podem ser implantadas em todos os serviços de saúde ou áreas de atuação. Não é possível realizar uma assistência segura e de qualidade sem uma gestão eficiente e sem uso de protocolos e processos integrados. Embora esta seção tenha trazido mais exemplos em unidades hospitalares, os conceitos de gestão por processo e linha de cuidado podem ser replicados em qualquer área da saúde. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 0 Ve r an ot aç õe s Para se implantar a linha de cuidado, iniciamos com o mapeamento do processo, pois é possível, a partir deste ponto, desenhá-la. Podemos conceituá-la como sendo uma representação dos fluxos assistenciais que serão utilizados para assegurar uma assistência de qualidade ao paciente/cliente. Com relação à linha de cuidado, assinale a alternativa correta: a. Trata-se de um processo que auxilia os gestores na tomada de decisão. b. Trata-se de um fluxo para ser apresentado na visita de certificação de qualidade. c. Trata-se de um plano que descreve o fluxo e, depois, é armazenado. d. Trata-se de uma ação isolada em cada setor para melhorar a qualidade. e. Trata-se de um plano da gestão e que não inclui os colaboradores. Questão 2 Em uma unidade hospitalar, todo medicamento é dispensado pela farmácia, a qual tem muitos processos internamente. Ao dispensá-lo, ele segue outros processos, até ser administrado no paciente pelo setor que o recebe. A ____________ é um processo importante, pois descreve o ____________ da medicação, que vai da ______________ até o seu destino, o ____________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. cadeia nutricional; processo; enfermaria; farmácia. b. cadeia medicamentosa; fluxo; farmácia; paciente. c. gestão; processo; unidade; setor. d. time de resposta rápida; fluxo; farmácia; enfermaria. e. protocolo; POP; mapeamento de processo; medicação. Questão 3 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3tJUsfm. Acesso em: 10 set. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Guia de elaboração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas: delimitação do escopo. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3f5MEjW. Acesso em: 10 nov. 2020. Um dos desafios da melhoria da qualidade dos setores não críticos é o atendimento ágil e eficaz dos pacientes que evoluem para a parada cardiorrespiratória. O objetivo é melhorar a sobrevida desses pacientes e reduzir a mortalidade. Com relação ao time de resposta rápida, avalie as afirmativas: I. É de suma importância para atender os pacientes internados em área não crítica. II. Geralmente, é implantado em unidades de terapia intensiva. III. É acionado a partir de uma comunicação e de um código. IV. Somente um profissional de saúde pode acioná-lo. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. I e III, apenas. d. I, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/3tJUsfm https://bit.ly/3f5MEjW MARCOLINO, M. S.; BRANT, L. C. C.; ARAUJO, J. G.; NASCIMENTO, B. R.; CASTRO, L. R. A.; MARTINS, P.; LODI-JUNQUEIRA, L.; RIBEIRO, A. L. Implantação da linha de cuidado do infarto agudo do miocárdio no município de Belo Horizonte. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 100, n. 4, p. 307-314, abr. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3tL4pch. Acesso em: 24 nov. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/3tL4pch FOCO NO MERCADO DE TRABALHO GERENCIAMENTO DE PROTOCOLO E QUALIFICAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR Contextualizando a situação-problema, você está no papel de um gestor que é chamado para resolver um incidente que envolveu o serviço de nutrição e dietética (SND). Na ocasião, foi servida uma dieta geral a um paciente que Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s precisava de uma dieta hipossódica, logo ele apresentou um pico hipertensivo e precisou ser medicado. Você precisa tomar algumas decisões para ajustar esse processo e evitar este tipo de incidente. Um caminho interessante seria realizar um mapeamento de processo para compreender o funcionamento do SND e visualizar as lacunas e as oportunidades de melhoria. Na situação-problema, foi verificado que não havia registros ou fluxos específicos para dietas especiais, apenas comunicação verbal. Neste caso, uma opção seria descrever um processo considerando a linha do cuidado, um fluxo que se inicia com a solicitação da dieta especial, passa pela preparação e termina na dispensação. Vale lembrar que em cada etapa existe um processo que complementa o próximo e mantém a continuidade, então, ainda existe muito por fazer nesta situação. Agora é com você! AVANÇANDO NA PRÁTICA MELHORANDO A QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA EM ENFERMARIA DE ADULTO As pessoas procuram o serviço de saúde porque estão com algum distúrbio ou sintoma, e são internadas de acordo com sua situação clínica. Todo e qualquer paciente internado, no entanto, tem risco de sofrer uma piora clínica, que pode ser decorrente do processo natural da doença ou por outro motivo, como um incidente. Para contextualizar essa situação, você é um profissional recém- contrato para ajudar nos treinamentos dos novos profissionais de saúde e nas equipes do serviço. Para se realizar um treinamento, também é preciso ter dados que o justifiquem. Sendo assim, ao analisar um indicador, você percebe que 90% dos pacientes que sofreram parada cardiorrespiratória na enfermaria evoluíram para óbito. Diante disso, qual seria o seu plano de ação para reduzir esse tipo de mortalidade? RESOLUÇÃO 0 Ve r an ot aç õe s Na situação apresentada, você está responsável pelos treinamentos da equipe de saúde de um serviço e se depara com um indicador alarmante de mortalidade dos pacientes que sofreram parada cardiorrespiratória na enfermaria: cerca de 90% foram a óbito. Como você pode ajudar a reduzir esse número? Uma boa opção seria idealizar um time de resposta rápida (TRR) para atuar neste caso fora das áreas críticas, manter esse time sempre atualizado e capacitado e, assim, melhorar o atendimento. Outro caminho seria capacitar a própria equipe da enfermaria, considerando que se trata de uma intercorrência comumno setor. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA A SEGURANÇA DO PACIENTE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE Emanuel Nunes Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Olá! Parabéns por ter chegado até aqui. Estamos avançando cada vez mais e você está ganhando proficiência em gestão, qualidade e segurança do paciente. E qual será o nosso próximo passo? A partir de agora, iniciaremos um novo processo. Compreenderemos quais são as ações práticas que podem ser implantadas no serviço de saúde para melhoria contínua da qualidade e segurança do paciente. À Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s medida que você aprofundar o tema, visualizará como pode implantar as ações na sua área de atuação, por exemplo, como melhorar a identificação e a comunicação e como tornar os processos mais seguros para seu paciente/cliente e sua equipe. Vale ressaltar que um grande aliado da segurança do paciente e da melhora dos processos atualmente é a tecnologia. Desse modo, você, como futuro profissional de saúde, pode pensar em estratégias criativas e inovadoras para melhorar o seu serviço. Não há limites quando se tem o desejo de melhorar os processos. Um dos pontos primordiais da segurança do paciente no serviço de saúde é a identificação dele , dos dispositivos e de tudo que envolve a sua assistência direta ou indireta. Para contextualizar esse cenário, você foi chamado para o transporte de um paciente de uma instituição para outra. Ao chegar no local indicado, você recepcionou o paciente na ambulância e percebeu que não há um encaminhamento formal. O paciente encontra-se sem pulseira de identificação, assim como com cateteres, sondas e uma medicação sendo infundida, todos também sem identificação. Você questiona o serviço de saúde, e ele informa que está muito corrido e que não teve tempo de ver isso, pois a unidade está acima de sua capacidade de atendimento. Diante do exposto, quais são os riscos de realizar o transporte nessas condições? O que você poderia fazer para reduzir esses riscos e realizar um transporte mais seguro? A mudança começa a ganhar forma em nossa imaginação e se torna real a partir da nossa ação. Seja sempre a mudança que deseja. CONCEITO-CHAVE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE A identificação é um processo básico, sobre o qual não há necessidade de escrever. Contudo, apesar de básico, ele não acontece da forma que deveria, existem falhas graves, como administração de medicamento em paciente errado, caso dois homens se chamem José. É necessário que haja uma identificação 0 Ve r an ot aç õe s correta, visto que estamos falando de um serviço de saúde e devemos prezar pela integridade do paciente/cliente. É de suma importância que o paciente seja identificado no momento da sua admissão. A forma mais adotada mundialmente é a pulseira de identificação, pois é simples, efetiva e de baixo custo, no entanto existem pulseiras até com código de barras e tecnologias para rastreamento. Seja qual for, o importante é garantir o seu propósito primordial: assegurar a correta identificação do paciente/cliente e evitar uma infinidade de incidentes. PACIENTE/CLIENTE ENVOLVIDO COM A SUA PRÓPRIA SEGURANÇA Vale ressaltar que a identificação é o primeiro passo para envolver o paciente no processo de segurança. Ele precisa saber o porquê de ser identificado e ser orientado que o colaborador, antes de fazer qualquer procedimento, deve perguntar a ele o nome e conferir a identificação da pulseira. O paciente/cliente precisa ser inserido no processo de forma ativa, pois ele também é responsável pela sua segurança. Empodere-o e esclareça-o sempre sobre isso. A identificação do paciente precisa ser feita já na admissão dele e, por todo o tempo em que ele permanecer no hospital, é preciso que se mantenha adequadamente identificado com a pulseira (Figura 3.4), pois ela é segura e eficaz. Todo profissional de saúde deve confirmar o nome do paciente/cliente e conferir a identificação na pulseira. A correta identificação não se trata apenas de um processo, mas de algo muito maior, pois melhora a comunicação entre os profissionais e os pacientes e evita a ocorrência de incidentes. Outro ponto que não podemos deixar de fora é a identificação do profissional de saúde, o qual deve portar o crachá com nome e foto visível. O paciente precisa ter segurança e saber quem é o profissional que está cuidando dele. Figura 3.4 | Pulseira de identificação 0 Ve r an ot aç õe s Fonte: elaborada pelo autor. REFLITA Será que os profissionais de saúde estão preparados para serem “lembrados” pelos seus pacientes/clientes sobre uma etapa do processo de segurança que não foi seguido? Por exemplo, imagine um paciente fazer a seguinte exclamação: “Você não lavou a mão! Pare de tocar em mim!”. Qual seria a reação do profissional? Compreenderia como algo positivo ou levaria para o lado pessoal? É preciso que você reflita sobre isso. A segurança é papel de todos, inclusive do paciente/cliente. Essa emancipação dele ajuda no processo como um todo, então, compreenda desde já que seu paciente/cliente é também uma barreira para assegurar a segurança e qualidade do cuidado em saúde. A IDENTIFICAÇÃO COMO SEGURANÇA DE TODOS OS PROCESSOS Em alguns serviços de saúde, existem muitos processos que ocorrem simultaneamente, e outros, sequencialmente. Consegue imaginar como isso funcionaria sem identificação? Seria um caos total! A partir de agora, 0 Ve r an ot aç õe s ampliaremos a aplicação da identificação no âmbito dos serviços de saúde não só para as pessoas que estão neste ambiente mas também em todos os outros. Na Figura 3.5, há uma ideia geral de como o processo de identificação é integrado e interconectado. Os processos, as medicações, a nutrição, os exames enfim, tudo precisa de identificação, pois isso evita incidentes, organiza o serviço e facilita a comunicação. Figura 3.5 | Fluxo básico de identificação em serviço de saúde Fonte: elaborada pelo autor. CUIDADO LIMPO E CUIDADO SEGURO Outro ponto essencial dos serviços de saúde é manter o paciente/cliente livre de infecções associadas ao cuidado prestado. Chamamos isso de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). A ação mais simples e necessária é a higiene das mãos em todas as oportunidades, principalmente antes e depois de assistir o paciente/cliente. A princípio, podemos pensar que isso é algo inerente 0 Ve r an ot aç õe s ao profissional de saúde, o que de fato é, mas não acontece como deveria, especialmente em setores não críticos. É um grande desafio conscientizar os profissionais de saúde sobre a higiene das mãos, mas qual é a importância disso? No organismo humano, existem mais bactérias do que células, isso parece absurdo, porém é real, e nos dá a dimensão da importância da higiene das mãos, do banho e da acuidade corporal. No corpo humano, existem duas “florestas” de microrganismos, que chamamos de bioflora e microbiota. A primeira refere-se aos micróbios que fazem parte da nossa colônia corporal, ou seja, fazem parte do nosso corpo e nos ajudam, inclusive, na imunidade. Essa flora não é o foco quando pensamos em risco de transmissão de infecção, porém a segunda flora, que chamamos também de transitória, é perigosa e foco da nossa preocupação com a higiene das mãos. Durante a nossa rotina diária, seja no serviço de saúde ou não, “pegamos” os microrganismos que não fazem parte da nossa flora residente. Ao lavarmos as mãos, removemos todos eles e evitamos repassá-los para outras pessoas ou para nós mesmos, ao colocarmos a mão na boca, no nariz ou nos olhos. Sendo assim, não há discussão, precisamos lavar as mãos e incentivar a todos que fazem parte do serviço de saúde, sejam profissionais, pacientes ou colaboradores, por meio de campanhas, protocolos e incentivos constantes. Não há nada mais impactante do que o exemplo, então, lave sempre suas mãos. ASSIMILE Em tempos de pandemia,muitos falam sobre a importância do uso do álcool em gel, mas é preciso ter atenção, pois ele não substitui a lavagem das mãos. É um produto para ser usado quando não há possibilidade de higienizar as mãos, porém, na primeira oportunidade, o melhor a fazer é lavá-las com água e sabão. Agora você já sabe que somente este procedimento é capaz de remover a microbiota transitória. Então, nada o substitui. 0 Ve r an ot aç õe s Figura 3.6 | Microbiota das mãos Fonte: elaborada pelo autor. ADMINISTRAÇÃO SEGURA Um aspecto fundamental para segurança do paciente/cliente é a assistência segura na administração de medicamentos, nutrição ou procedimentos. Se você fizer uma busca simples na internet sobre erro de medicação, compreenderá o porquê de falarmos sobre isso. É alarmante! O que podemos fazer para melhorar esses processos? Conforme discutimos nas seções anteriores, os protocolos são as grandes ferramentas para alinhar e padronizar os processos de administração e evitar incidentes. No caso das medicações, é essencial que a equipe tenha uma padronização de preparo, reconstituição, diluição e administração, bem como compatibilidade, incompatibilidade, dose e via de administração e a cadeia medicamentosa. EXEMPLIFICANDO A administração de sangue e hemocomponentes em serviços de saúde é relativamente frequente e apresenta muitos riscos, por exemplo, incompatibilidade, reação inflamatória e até óbito. Para ser um procedimento seguro, é necessário o cumprimento de várias etapas, conferências e checklists antes de se chegar ao leito do paciente, no momento de administrar nele e após a realização. Por exemplo: ao chegar 0 Ve r an ot aç õe s ao hemoderivado, confere-se se o sangue corresponde à tipagem sanguínea do paciente e verificam-se os sinais vitais antes, durante e após a infusão, tudo para garantir que o procedimento tenha êxito, pois, caso ocorra uma intercorrência, esta pode ser detectada imediatamente. SEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIA Um grande aliado na consolidação da qualidade e segurança do paciente é a tecnologia, a qual ajuda de muitas formas, desde um monitor que monitora os sinais vitais, um sistema de rastreio de medicação, a prescrição eletrônica e equipamentos de última geração. A tecnologia, no entanto, não é determinante na segurança do paciente, e sim o processo bem definido. Imagine que você adquire o melhor ventilador mecânico, entretanto as suas equipes de fisioterapeutas não o sabem manejar, e isso poderá causar um incidente. Sendo assim, este tópico tem como meta fomentar a discussão de que precisamos aliar a tecnologia ao processo bem desenhado, implantado e acompanhado. A tecnologia pode ajudar a salvar vidas, mas é uma ferramenta que precisa ser utilizada com cuidado, baseada em evidência e controlada pelo servidor de engenharia clínica. Um dos grandes problemas é a queimadura em cirurgia pela placa de bisturi, colocada de forma incorreta. Esse é um exemplo de uma tecnologia importante, mas que precisa estar unida a um processo seguro, para que se tire o melhor benefício, ao menor custo. Nesta seção, exploramos aspectos mais práticos da segurança do paciente. O mais importante é você transportar esse conhecimento para sua área de atuação e ajudar a manter a melhoria contínua da sua atuação e do seu serviço de saúde. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 A identificação é o primeiro passo para envolver o paciente no processo de segurança. Ele precisa saber o porquê de ser identificado e ser orientado de que o colaborador, antes de fazer qualquer procedimento, deve perguntar o seu nome 0 Ve r an ot aç õe s e conferir a identificação. Dentre as estratégias de identificação do paciente, a mais amplamente utilizada é: a. Identificação do leito. b. Pulseira de identificação. c. Identificação no formulário de admissão. d. Identificação somente do prontuário. e. Identificação dos dispositivos. Questão 2 O paciente/cliente precisa ser inserido no processo de forma ativa, pois ele também é responsável pela sua segurança. Empodere-o e esclareça-o sempre sobre isso. A identificação do paciente precisa ser feita já na _________, com a ____________ de identificação, que deverá permanecer até a _______________do serviço de saúde. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. admissão; pulseira; alta. b. chegada; conversa; saída. c. alta; registro; admissão. d. residência; comprovante; transporte. e. casa; família; paciente. Questão 3 Em tempos de pandemia, muitos falam sobre a importância do uso do álcool em gel, o qual tem sido amplamente utilizado. Podemos dizer que o álcool em gel: Substitui a lavagens das mãos. 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3sfzlBk. Acesso em: 10 nov. 2020. TASE, T. H.; LOURENÇÃO, D. C. A.; BIANCHINI, S. M.; TRONCHIN, D. M. R. Identificação do paciente nas organizações de saúde: uma reflexão emergente. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 196-200, set. 2013. Disponível em: https://bit.ly/2P0Ar5l. Acesso em: 8 dez. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Joint Comission Resources. Joint Comission International. Patient Safety Solutions. Solution 2: patient identification. Genebra: WHO, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3tZVioz. Acesso em: 4 dez. 2020. Deve ser utilizado na impossibilidade de lavar as mãos. Com o uso de álcool em gel, não precisa lavar as mãos. É importante, mas não substitui a lavagem das mãos. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. II e III, apenas. d. II e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/3sfzlBk https://bit.ly/2P0Ar5l https://bit.ly/3tZVioz FOCO NO MERCADO DE TRABALHO PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA A SEGURANÇA DO PACIENTE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR A identificação indiscutivelmente é um processo essencial para a consolidação da segurança do paciente. Na situação-problema, você foi chamado para fazer o transporte de um paciente. Ao chegar ao local, depara-se com a seguinte situação: Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s você recepciona o paciente na ambulância e percebe que não há um encaminhamento formal. O paciente encontra-se sem pulseira de identificação e com cateteres, sondas e medicação sendo infundida, todos sem identificação também. Você questiona o serviço de saúde, e ele informa que está muito corrido e que não teve tempo de ver isso, pois a unidade está acima de sua capacidade de atendimento. Diante do exposto, quais são os riscos de realizar o transporte nessas condições? O que você poderia fazer para reduzir esses riscos e realizar um transporte mais seguro? É nítido que os riscos são diversos, desde a incerteza de quem é o paciente até qual medicação está sendo infundida. Então, qual seria a sua tomada de decisão? Um caminho a seguir seria solicitar ao serviço o encaminhamento formal e a adequada identificação do paciente, dos dispositivos e da medicação, pois, se você não fizer isso, assumirá os riscos. O que mais pode ser feito? Agora é com você! AVANÇANDO NA PRÁTICA MEDICAÇÃO COM IDENTIFICAÇÃO INCOMPLETA As medicações são fontes de cura, alívio e necessárias ao tratamento de muitas moléstias, porém, essencialmente, são drogas, possuem efeitos colaterais e são excretadas pelo sistema renal ou hepático. Para contextualizar esse momento, imagine que você, ao fazer uma visita beira leito, observa que o paciente está recebendo uma medicação, mas que o rótulo está incompleto: não tem o nome do medicamento, somente o primeiro nome do paciente, e não tem a identificaçãode quem instalou a medicação. Diante dessa situação, o que você faria? RESOLUÇÃO Como vimos anteriormente, a identificação é essencial para a segurança do paciente. No contexto da situação, você, ao fazer uma visita beira leito, observa que o paciente está recebendo uma medicação, mas que o rótulo está incompleto: não tem o nome do medicamento, somente o primeiro nome do paciente, e não tem a identificação de quem instalou a medicação. O que você 0 Ve r an ot aç õe s poderia fazer? Muitas são as possibilidades, mas o passo inicial seria resolver essa situação, ver quem estava cuidando deste paciente, investigar o que aconteceu, regularizar a situação e, num segundo momento, atuar no processo como um todo. Para isso não ocorrer, treine toda a equipe, por exemplo. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR SCORES E ANÁLISE DOS DESFECHOS CLÍNICOS Emanuel Nunes Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, seja bem-vindo a mais uma seção. Quando precisamos tomar uma decisão sobre os nossos pacientes/clientes, seremos mais assertivos conhecendo o perfil geral deles ou não? Imagine se você pensa em um protocolo para melhorar os atendimentos dos idosos no seu serviço, mas, após terminá-lo e implantá-lo, você percebe que não há idosos, apenas adultos jovens. Esse foi um exemplo extremo, porém é perfeitamente possível se desconhecermos quem são os nossos Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s pacientes/clientes. Sendo assim, nesta seção, aprenderemos juntos sobre como conhecê-los, bem como conhecer uma condição de gravidade, prognóstico e desfecho clínico. Introduziremos a ideia de que os “dados” podem se tornar conhecimento e a partir daí as nossas decisões poderão ser mais assertivas. Nos serviços de saúde, os scores são importantes instrumentos de gestão do cuidado, especialmente pelo grau de especificidade e qualidade dos dados obtidos. Para contextualizar os temas de seção dentro dos possíveis contextos profissionais, imagine que você foi chamado para coordenar um serviço de saúde referência em sua cidade, o qual foi inaugurado há poucos meses. Após assumir, você realizou um mapeamento dos processos e, aparentemente, eles estão bem definidos e funcionando. Contudo, ao checar a escala de trabalho, esta aparenta ter poucos funcionários. Ao conversar com o coordenador que te antecedeu, ele disse que existe falta no quadro de colaboradores, mas que ele não conseguiu melhorar isso e que você deveria ficar tranquilo, pois nada mudará. Em conversa com outros profissionais da equipe, você observa que eles não têm a mesma visão do coordenador anterior. Diante desta situação, o que você faria? Estude os dados, interprete-os e, assim, você verá o que os outros não conseguem ver. CONCEITO-CHAVE SCORE DE COMPLEXIDADE Você sabe o que significa score e para que serve? Etimologicamente, significa a marcação e classificação de pontos de um determinado jogo. No entanto, usamos o score para muitas coisas em nossa vida, aliás, ao nascermos, somos classificados por um score chamado Apgar, o qual, a partir de uma pontuação de 0 a 10, define as condições de nascimento, por exemplo, considera-se um score de Apgar bom acima de 7 no 1º, 5º e 10º minuto de vida. 0 Ve r an ot aç õe s E como é isso na área da saúde? Como podemos usar os scores em benefício da melhoria da qualidade e segurança do paciente? De inúmeras formas, tanto na gestão como na assistência, neste primeiro momento, daremos ênfase ao âmbito assistencial e cuidado. Para elucidar melhor, faremos a seguinte reflexão: todos os pacientes/clientes são iguais? As condições de doença têm o mesmo comportamento em todas as pessoas? A resposta é não. Como podemos melhorar o atendimento? Uma das possibilidades é a classificação dos pacientes/clientes por scores em diferentes momentos e situações. Imagine que você está em uma unidade de terapia intensiva adulta (UTIA). Quem é o paciente mais grave da UTIA? Sem um score, você usará parâmetros subjetivos, os quais, muitas vezes que não correspondem à realidade. Veremos como isso funciona. Suporemos que nós queremos saber quais são as necessidades de cuidados dos pacientes internados na UTIA, para isso podemos utilizar um score de complexidade, que avaliará dados clínicos dos pacientes e os classificará em três categorias: cuidados mínimos, intermediários e intensivos. De acordo com as condições do paciente/cliente, são atribuídas pontuações no score, e quanto maior a pontuação, maior a complexidade e necessidade do paciente. Existe uma série de scores disponíveis, porém o importante aqui não é o score em si, mas, sim, a sua aplicação e relevância na melhoria da qualidade e segurança do paciente. Segue um exemplo, utilizando apenas um critério de análise. Vale lembrar que cada score tem seu próprio critério de análise. No Quadro 3.1, utilizaremos a via de nutricional como critério. Quadro 3.1 | Exemplo de score de complexidade Terapia nutricional Score Via oral sem auxílio 0 Via oral com auxílio 1 Sonda gástrica/nasoenteral 2 0 Ve r an ot aç õe s Terapia nutricional Score Gastrostomia 3 Fonte: elaborado pelo autor. Observe, no Quadro 3.1, que no exemplo da terapia nutricional existe uma gradação do score da menor para maior complexidade. Em um score de complexidade, podemos analisar muitos parâmetros diferentes, por exemplo, se o paciente está acamado ou não, se o banho será realizado no leito ou não, se ele tem lesões, curativos, dispositivos, enfim, todos esses dados, bem analisados e interpretados, serão muito úteis para a gestão do cuidado. Seja qual for a sua área, entender essa dinâmica te ajudará a melhorar o seu processo de trabalho e a tornar a sua gestão mais eficiente. Observe um exemplo de fluxo de score de complexidade na Figura 3.7. Figura 3.7 | Fluxo de score de complexidade Fonte: elaborada pelo autor. 0 Ve r an ot aç õe s COMO O PROFISSIONAL DE SAÚDE E O SERVIÇO PODEM USAR OS DADOS OBTIDOS PELO SCORE DE COMPLEXIDADE? Este é o ponto central da nossa discussão. O desafio não é aplicar o score, mas interpretá-lo e usar os seus dados na melhoria do serviço como um todo. Vamos a um exemplo prático: estamos em um serviço de saúde e notamos que estão faltando equipamentos, como monitores multiparâmetros e ventiladores mecânicos. Como fazer a solicitação para os gestores e ter um embasamento para isso? Não é possível convencer alguém sem dados objetivos e bem fundamentados. Pensaremos em duas situações distintas: na primeira, você simplesmente diz ao seu gestor: “Eu preciso de mais monitores multiparâmetros e ventiladores”; na segunda, você fala: “Nós precisamos de novos equipamentos, pois a nossa complexidade aumentou 75% nos últimos seis meses e no nosso perfil de pacientes predominam as doenças respiratórias, sendo que 85% deles são classificados como cuidados intensivos”. Qual abordagem terá mais sucesso na aquisição dos equipamentos? Lembre-se: esteja sempre embasado em dados antes de realizar uma solicitação de recursos para o seu serviço. ASSIMILE No exemplo do Quadro 3.1, podemos ver que, quanto maior a complexidade do paciente/cliente, maior é sua pontuação no score. Por exemplo, um paciente que consegue se alimentar sozinho tem o score de 0; já o paciente que tem uma gastrostomia recebe o score de 3. Isso ocorre porque, no primeiro caso, a demanda de cuidados do profissional de saúde será menor quando comparada ao segundo caso, que faz uso de um dispositivo que precisa de inúmeros cuidados pelo profissional de saúde. Vale ressaltar que os dados obtidos pelo score de complexidade embasam o profissional de saúde e o gestor para tomada de decisão, por exemplo: será que preciso de mais equipamentos, colaboradores, ou estrutura? Desse modo, não tem sentido você trabalhar no “escuro”, use os dados, transforme-os em indicadores e faça uma gestão do cuidado mais eficiente. 0 Ve r an ot açõe s SCORE PROGNÓSTICO/PREDIÇÃO DE DESFECHO CLÍNICO Diferente do score de complexidade, que identifica a gravidade do paciente e a sua dependência de cuidados, o score prognóstico tem como objetivo compreender a evolução esperada do paciente/cliente com uma determinada doença ou condição. Veja o fluxo na Figura 3.8. Por exemplo, qual é a possibilidade de ocorrer um óbito na dada condição? Neste caso, são avaliados os paramentos clínicos, os exames laboratoriais e as condições gerais do paciente/cliente. Desse modo, chega-se a uma probabilidade ou porcentagem de chances de mortalidade. Do mesmo modo, quanto mais critérios de gravidade do paciente/cliente tiver, maior será o score indicativo de mortalidade. Existem scores de prognóstico geral, utilizados em unidades de terapia intensivas, e scores que são aplicados de acordo com a doença apresentada pelo paciente, como o score prognóstico de paciente com insuficiência cardíaca. Figura 3.8 | Fluxo do score prognóstico Fonte: elaborada pelo autor. ACOMPANHAMENTO E ANÁLISE DOS DESFECHOS CLÍNICOS Conhecer os desfechos clínicos é essencial para aferir, acompanhar e melhorar a qualidade da assistência e do serviço. Será que todos os seus pacientes apresentam boa resposta ao tratamento ou à intervenção que você realizou? Talvez possa haver uma resposta vaga: “Há, sim, eu vejo que eles melhoram”, mas no que essa afirmação está embasada? Tem algum dado que confirme isso? 0 Ve r an ot aç õe s Por isso, os scores são importantes, pois eles nos forneceram dados fidedignos que, junto aos indicadores de qualidade, serão usados para aferir a qualidade da intervenção ou serviço. REFLITA Imagine o seguinte cenário: um determinado serviço apresenta pacientes com score prognóstico com mínimo risco de mortalidade, mas apresenta alta mortalidade desses pacientes. Por que pacientes de risco baixo de óbito estão morrendo? Por outro lado, em outra organização de saúde, existem muitos pacientes com score prognóstico de alto risco de mortalidade, porém a mortalidade é baixa, considerando a complexidade e o score utilizado. Por que pacientes de alto risco de óbito estão sobrevivendo? Para aferir qualidade, precisamos analisar os indicadores, mas, se fôssemos inferir sobre qual serviço tem mais qualidade, qual seria? ANÁLISE MULTIPROFISSIONAL DE ÓBITO A compreensão do porquê de um paciente/ciente não evoluir bem ou ir a óbito é de extrema importância para se ter a certeza de que isso ocorreu devido à impossibilidade terapêutica, e não por um incidente ou situação evitável. Conforme a Figura 3.9, a equipe multiprofissional que analisa os óbitos munida de prontuários, scores e todos os registros do paciente faz a análise completa do óbito, a fim de entender se foi inevitável ou evitável. Mas, para que serve essa informação? Vamos responder com outra pergunta: é aceitável um óbito evitável no serviço de saúde? Certamente, não. Pode acontecer? Infelizmente, sim. Por isso, precisamos discutir cada vez mais a qualidade e segurança do paciente em nossa realidade. Ao analisar e descobrir que o óbito foi evitável, o próximo passo é saber o que fazer para que isso não volte a acontecer. A equipe multiprofissional desenvolve ações e melhora os processos, torna esse fato um aprendizado. Não é preciso que haja um óbito para que se pense em melhoria, e não se pode deixar de entender e saber o porquê do óbito. 0 Ve r an ot aç õe s EXEMPLIFICANDO Ao analisar um óbito, pode-se pensar que se está buscando encontrar falhas que justifiquem ou expliquem a ocorrência, mas não é isso. Na análise de um óbito, buscamos entendimento e oportunidades de melhoria, mesmo em um óbito inevitável pode ter ocorrido um procedimento que pode ser melhorado. O foco é na melhoria, e as falhas devem ser sanadas, sempre com uma visão educativa e com foco no processo. Figura 3.9 | Fluxo resumido de análise de óbito e seu impacto no serviço Fonte: elaborada pelo autor. Os scores têm o papel de nos instrumentalizar com dados para que tenhamos informações seguras para tomada de decisão e, assim, seguir a estrada rumo à qualidade e segurança do paciente. Nesta seção, fizemos uma jornada marcante sobre os scores e observamos a sua importância nos diferentes contextos e áreas. Vale ressaltar que o melhor score é aquele que atende às necessidades da sua área de atuação e ajuda na melhoria contínua da qualidade do seu serviço. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 0 Ve r an ot aç õe s Os scores são ferramentas amplamente difundidas na área da saúde que, quando aplicadas, analisadas e interpretadas, podem trazer inúmeros benefícios para o sistema de saúde e o paciente/cliente. Para compreender o grau de dependência de cuidados dos pacientes, pode-se usar o: a. Score de prognóstico. b. Score de Apgar. c. Score de complexidade. d. Score de mortalidade. e. Score de morbidade. Questão 2 Existe uma série de scores disponíveis, porém o importante aqui não é o score em si, mas, sim, a sua aplicação e relevância na melhoria da qualidade e segurança do paciente. Dentre os principais benefícios do uso do score em saúde, estão: I. Fornecimento de dados para tomada de decisão do profissional e serviço de saúde. II. Compreensão da gravidade do paciente e predição de mortalidade. III. Embasamento para solicitação de aquisição de recursos. IV. Apenas para otimizar os recursos financeiros. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. I e III, apenas. 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS BOCHNER, R.; FREIRE, M. M. Análise dos óbitos decorrentes de intoxicação ocorridos no Brasil de 2010 a 2015 com base no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 761-772, fev. 2020. Disponível em: https://bit.ly/2OSGCbU. Acesso em: 17 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: d. I, II e III, apenas. e. I, II, III e IV. Questão 3 A equipe multiprofissional que analisa os óbitos, munida de prontuários, scores e todos os registros do paciente, faz uma análise completa, a fim de entender se o óbito foi inevitável ou evitável. O propósito da análise de óbito é, principalmente: I. Esclarecer as circunstâncias do óbito. II. Encontrar falhas e punir os “culpados”. III. Identificar as possíveis falhas e propor soluções. IV. Estimular a melhoria contínua do serviço de saúde. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. I, II, e III, apenas. d. I, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/2OSGCbU https://bit.ly/2PeSoNr. Acesso em: 10 dez. 2020. KEEGAN, M. T.; SOARES, M. O que todo intensivista deveria saber sobre os sistemas de escore prognóstico e mortalidade ajustada ao risco. Rev. bras. ter. intensiva, São Paulo, v. 28, n. 3, p. 264-269, set. 2016. Disponível em: https://bit.ly/3f8DXWe. Acesso em: 11 dez. 2020. KOHN, L. et al. To Err is Human: Building a Safer Health System. Washington, DC: National Academy Press, 2000. Disponível em: https://bit.ly/3vSgwq8. Acesso em: 28 set. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://bit.ly/2PeSoNr https://bit.ly/3f8DXWe https://bit.ly/3vSgwq8 FOCO NO MERCADO DE TRABALHO SCORES E ANÁLISE DOS DESFECHOS CLÍNICOS Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR Na situação-problema desta seção, deparamo-nos com problemas relacionados à escala de trabalho e aos funcionários de um serviço de saúde. Foram apresentadas poucas perspectivas para melhorias neste sentido, logo havia a Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s necessidade de adequaçãode processos, para não acontecerem impactos no atendimento aos clientes. Consideraremos que os scores são fontes de dados que ajudam na tomada de decisão clínica e gerencial. Será que estou com o meu time completo? O número de colaboradores corresponde à demanda de pacientes no serviço? Existe uma variedade de caminhos para responder a essas perguntas e ajudar a resolver essa problemática. Um caminho possível seria mensurar a complexidade dos seus pacientes e classificá-los de acordo com a dependência de cuidados (mínimo/intermediário/intensivo). Munido desses dados, você terá o perfil de complexidade dos pacientes, e isso, junto aos demais parâmetros e indicadores, lhe dará os dados necessários para saber se sua equipe está adequada ou não à demanda dos seus serviços. Lembre-se de que este poderia ser um caminho a ser seguido, então nada impede que você indique uma nova perspectiva de resposta. AVANÇANDO NA PRÁTICA COMPREENDENDO A MORTALIDADE DO SERVIÇO DE SAÚDE Um dos mais importantes indicadores de saúde de uma população é a mortalidade, a qual nos permite entender não somente o número, mas as condições e o porquê, para, assim, criarmos medidas preventivas, a fim de diminuir ou evitar o óbito, quando possível. Considerando esse contexto, imagine que você está no papel de um profissional de saúde de um serviço e foi surpreendido pelo número de pacientes que foram a óbito por uma determinada infecção viral. Parecia que as causas mais frequentes, como doenças cardíacas, tivessem zerado e agora os pacientes só morressem da doença atual. Diante desta situação, o que você faria para descobrir não só a causa dos óbitos mas também se eles foram evitáveis ou inevitáveis? RESOLUÇÃO 0 Ve r an ot aç õe s O indicador de mortalidade traz inúmeras informação para o serviço de saúde e ajuda na melhoria dos processos. No contexto da situação-problema, você foi surpreendido pelo número de pacientes que foram a óbito por uma determinada infecção viral. Parecia que as causas mais frequentes, como doenças cardíacas, tivessem acabado e a única causa de óbito fosse a infecção viral. Nesta situação, uma via importante de atuação seria a análise dos óbitos, uma vez que, além do diagnóstico de infecção viral, o paciente pode ter outras morbidades e outras condições que possam explicar o óbito. E, sobretudo, verificar se foi uma situação evitável ou inevitável. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR EVENTOS ADVERSOS Emanuel Nunes Imprimir CONVITE AO ESTUDO Aluno, bem-vindo a mais uma unidade. Você sabe o que é um evento adverso? É um tipo de incidente que causa dano ao paciente/cliente, no entanto, existem modos de evitar e reduzir esses incidentes. Para tanto, é necessário conhecê-los, saber as suas origens e a sua epidemiologia. Nesta unidade, aprofundaremos este Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s tema e conheceremos o status do evento adverso no Brasil e no mundo. Além disso, estudaremos as consequências desse tipo de incidente para o paciente, o profissional e o sistema de saúde. Conhecer a problemática dos incidentes nos dá a possibilidade de atuar para evitá-los e, sobretudo, aprender com eles. Compreenderemos toda a dinâmica de um evento adverso, desde a sua notificação até a aferição dos seus resultados. Todo esse cenário será permeado pelos indicadores de qualidade, os quais serão ferramentas muito especiais para direcionar as ações do profissional, do serviço e do sistema de saúde como um todo. Aproveite, pois esta é a última unidade. Você caminhou bastante até aqui e está chegando ao fim da grande jornada rumo à qualidade e segurança do paciente. Bons estudos! PRATICAR PARA APRENDER Prezado aluno, chegamos a mais uma seção, na qual faremos um aprofundamento na epidemiologia e nas consequências dos eventos adversos (EA) para a paciente/cliente e o serviço de saúde. Existem muitos EA nos serviços de saúde? Infelizmente, sim. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2011), aproximadamente um em cada dez pacientes/clientes sofrerá algum tipo de evento adverso durante a sua assistência. Vale ressaltar que estamos falando de um incidente que pode ser evitado ser for conhecido. Por isso, compreender a epidemiologia do EA é importante, uma vez que, ao conhecermos e entendermos como eles acontecem, podemos realizar ações para evitá-los e realizar o que chamamos de gestão de riscos. Seja qual for a sua área de atuação na saúde, existem riscos e eventos adversos, e você pode ser o agente de mudanças deste cenário. Os eventos adversos se tornaram um problema de saúde pública e não podem ser ignorados. Contudo, são necessárias estratégias para conhecer o cenário de atuação, bem como os riscos e os eventos adversos prevalentes, por exemplo. 0 Ve r an ot aç õe s Para contextualizar essa situação, imagine que você foi contratado para realizar atendimento em uma clínica de idosos e foi informado que existem alguns casos de idosos que sofreram queda, mas não existe nenhum dado sobre isso, apenas acontece, mas todo mundo esquece e nada é feito. Não há dados para fundamentar uma discussão ou propor uma ação. Ao se deparar com essa situação, o que você poderia fazer para compreender de fato o que acontece e como funciona o serviço em que você está iniciando as suas atividades? Acredite no seu potencial e seja um agente de mudanças por onde você for. CONCEITO-CHAVE EPIDEMIOLOGIA DOS EVENTOS ADVERSOS (EA) NO BRASIL E NO MUNDO Você sabe o que é epidemiologia? É uma ciência fundamental para a saúde pública, pois, por meio de dados quantitativos, pode-se conhecer a ocorrência de doenças ou condições em uma determinada população e, assim, traçar estratégias para minimizá-las, evitá-las e controlá-las. No caso dos eventos adversos, estima-se que uma em cada dez internações resulta em eventos adversos. Nos EUA, são a terceira causa de morte; no Reino Unido, um EA é notificado a cada 35 segundos; na Austrália, mais de 33.000 mortes são causadas por EA evitáveis; no Brasil, estudos pioneiros demonstraram uma taxa 7,6% de EA. É explícito que os eventos adversos são um problema de saúde pública e precisam ser compreendidos pela sociedade, pelos profissionais de saúde e pelos serviços de saúde. Há também a necessidade imediata de traçar estratégias para evitar a ocorrência. A epidemiologia pode ser aplicada no seu cotidiano de trabalho, por exemplo: qual é a taxa de eventos adversos no meu serviço? Como posso calcular e chegar a algum resultado? Para isso, usaremos a seguinte fórmula: Número de pacientes com EA Número de pacientes da amostra ×100 0 Ve r an ot aç õe s Vamos a um exemplo prático? No seu serviço, você atende idosos, e 100% deles têm o risco de queda. Em um dado hipotético, no último trimestre, você atendeu 76 idosos no serviço, e durante os atendimentos houve a ocorrência de cinco quedas, que resultaram em lesões leves nos seus pacientes. Qual é a sua taxa de evento adverso? Na situação hipotética, a taxa de eventos adversos no seu serviço no trimestre foi de 6,5, ou seja, a cada 100 idosos atendidos, 6,5 apresentaram queda. É um dado alarmante, que reflete fragilidade nos processos do serviço e impacta negativamente na qualidade da assistência. De posse dessa informação, você pode implementar ações de melhoria para reduzir esses eventos adversos. Observe que a epidemiologia, neste caso, forneceu dois dados importantes: o primeiro é o evento adverso, e o segundo é relativo à comparação que você poderá fazer após implementar as melhorias e, assim, demonstrar de forma clara e objetiva a mudança real do seu serviço e atendimento. EXEMPLIFICANDO Imagine o seguinte cenário: em um trimestre, você detectou que a taxa de eventos adversos era de 6,5. Após implementar ações de melhoria e treinamentos da equipe, você fez um novo levantamento e verificou que a taxa está em 3,0, logo houve uma reduçãosignificativa, e isso demostra duas coisas: a primeira é que as ações de melhoria estão funcionando; a segunda é que ainda são necessárias mais ações para evitar a ocorrência de evento adverso. É um momento propício também para realizar feedback com a equipe, agradecer o empenho e parabenizar a todos pelo resultado de redução do evento adverso. A qualidade do seu serviço também é medida pela quantidade e tratativa com os eventos adversos. Não existe evento adverso zero, assumir isso é fechar os olhos para a realidade, e quem não conhece a verdade não tem elementos para obter Número de pacientes com EA (05) Número de pacientes da amostra (76) ×100 = 6,5 0 Ve r an ot aç õe s melhorias. PRINCIPAIS EA NOS SERVIÇOS DE SAÚDE DO BRASIL No Brasil, os principais EA notificados são em serviços hospitalares. Isso se deve ao fato de ser um lugar para assistência de alta complexidade, procedimentos invasivos e uso de equipamentos tecnológicos. É um tipo de serviço mais susceptível a EA, devido aos inúmeros riscos intrínsecos de uma unidade hospitalar. Na Figura 4.1, você observará isso com mais compreensão e verá que 94% dos eventos adversos notificados no ano de 2016 ocorreram em hospitais. Figura 4.1 | Principais eventos adversos notificados no Brasil Tipos de serviço Número de incidentes Percentual % Hospital 50.735 94 Serviço exclusivo de urgência/emergência 1.274 2,3 Ambulatório 525 0,9 Outros 350 0,6 Serviços ou instituições de saúde mental 282 0,5 Centro de saúde/Unidade básica de saúde 249 0,4 Serviços de hemodiálise 224 0,4 Clínicas 199 0,3 Radiologia 67 0,1 0 Ve r an ot aç õe s Tipos de serviço Número de incidentes Percentual % Laboratório de análises clínicas 52 0,09 Farmácia 34 0,06 Hemocentro ou agência transfusional 4 0,007 Medicina nuclear 2 0,003 Total 53997 100 Fonte: ANVISA (BRASIL, 2016, p. 8). É preciso ter em mente que todo serviço de saúde tem diversos riscos embutidos em si e, se esses riscos não forem corretamente gerenciados, evoluirão para um incidente, até chegar a um evento adverso (AE). Por isso, é importante que conhecer os riscos de sua atividade, seu serviço ou procedimento e pensar em estratégias para minimizá-los e evitar que se tornem um EA. REFLITA Apesar de 94% dos eventos notificados serem em hospitais, isso significa que não existem eventos adversos em outros serviços de saúde ou são apenas subnotificados. Qual sua opinião sobre isso? Como eu posso rastrear os eventos adversos no meu serviço de saúde? Existem duas possibilidades: retrospectiva, isto é, através da análise de prontuários, por exemplo; ou prospectiva, isto é, por meio de auditorias clínicas no serviço. Sobretudo, é necessário ter uma boa estratégia de notificação dos eventos adversos. Uma ferramenta interessante que ajuda na busca desses em prontuários é o trigger tool (ou gatilhos), que são elementos encontrados nos registros e que podem sinalizar um evento adverso. Por exemplo: ao ler os 0 Ve r an ot aç õe s registros, você observa que consta uma determinada lesão, isso é um gatilho para aprofundar a investigação no prontuário e determinar se é ou não um evento adverso. IMPACTO E CONSEQUÊNCIAS DOS EA As consequências de um EA vão muito além do que se imagina. Em um primeiro momento, podemos pensar somente nos prejuízos reais ocasionados ao paciente, mas existe uma cadeia inteira que é impactada pelo EA. O profissional de saúde também pode ser uma vítima (segunda vítima), pois poderia ser refém de um processo de trabalho mal desenhado, que lhe casou sobrecarga e contribuiu com o evento adverso. De modo didático, dividiremos os impactos dos eventos adversos em categorias, conforme você verá na Figura 4.2. Os eventos adversos impactam no paciente e em seus familiares, no profissional da saúde, no serviço de saúde e na sociedade como um todo. O custo econômico anual de eventos adversos, de acordo com a Pioneer Study on Patient Safety in Latin Americ (IBEA), em 2011, foi estimado em vários bilhões de dólares, além de que o aumento no número de dias de internação em uma instituição de saúde aumenta significativamente os gastos com recursos (mais medicação, intervenções cirúrgicas, testes diagnósticos e tratamento em geral). As despesas médicas adicionais resultantes de cuidados inseguros custam bilhões de dólares a alguns países a cada ano. Figura 4.2 | Consequências dos eventos adversos Fonte: elaborada pelo autor. 0 Ve r an ot aç õe s Eventos adversos são dispendiosos. Estima-se que o gasto com o dano equivale a trilhões de dólares. O aumento do período de internação, processos judiciais e infecções associadas à assistência a saúde (IRAS) custaram a alguns países entre US $ 6 bilhões e US $ 29 bilhões por ano. Globalmente, os gastos com eventos adversos são estimados em US $ 42 bilhões a cada ano, quase 1% das despesas total com a saúde. Em suma, a maior consequência do evento adverso é a perda de vidas. Nos EUA, os EA são a terceira causa de morte, após câncer e doenças cardíacas; na Austrália, mais de 33.000 mortes são causadas por EA evitáveis anualmente. No mundo, os eventos adversos já são considerados a 14ª principal causa de morte e lesão. ASSIMILE Conhecer a realidade sobre os eventos adversos parece assustador e nos leva a inúmeros questionamentos e reflexões, por exemplo: “Eu achava que não havia isso em serviços de saúde e que os profissionais de saúde não costumavam errar”. Porém, você imagina um cenário no qual esses eventos adversos não são conhecidos? O que aconteceria? Também não haveria possibilidade de mudança, sendo assim, conhecer esses EA nos fornece oportunidades de melhorias de diversas fontes e olhares, como do paciente/cliente, do profissional de saúde e do serviço de saúde. Em suma, não tenha medo de descobrir e saber a realidade e o tamanho do seu desafio nesta questão, o importante é agir e evitar que novos eventos adversos aconteçam. GESTÃO DE RISCOS CLÍNICOS E DE RISCOS NÃO CLÍNICOS Todo incidente e evento adverso têm como pano de fundo uma cadeia de riscos que subsidia a sua ocorrência, quando não são devidamente gerenciados. Sendo assim, de modo prático, gestão de riscos significa conhecer os riscos e gerenciá- los para que eles não se tornem um evento adverso. Primeiro ponto de atenção que você deve observar é: não existe serviço de saúde ou atividade que não tenha risco, em outras palavras, não é possível eliminar o risco, mas, sim, 0 Ve r an ot aç õe s controlá-lo, e essa é a sua missão como profissional de saúde. Como fazer a gestão de riscos? Você se lembra do mapeamento de processos? Este é o início. É necessário conhecer o serviço, a atividade ou o processo, para ver onde estão os famosos riscos. Outro ponto de extrema importância é conhecer os riscos do paciente/cliente, para isso existem inúmeras ferramentas que podem ser usadas para classificação de riscos, bem como diferentes scores. Vamos a um exemplo? Quais são as condições que predispõem um idoso a sofrer uma queda? Vamos citar alguns: doenças neurológicas degenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson; uso de medicamentos hipotensores (que controlam a pressão arterial); histórico de queda; entre outros. Observe que temos alguns critérios e já poderíamos classificar o paciente com risco de queda. Na Figura 4.3, mostraremos um exemplo hipotético de critérios para classificar um paciente/cliente com risco de queda, para você compreender como se aplicaria na prática e no trabalho em sua área de atuação. Figura 4.3 | Exemplo de classificação de risco – Queda Fonte: elaborada pelo autor. No exemplo da Figura 4.3, se seu paciente/cliente apresentar um ou mais critérios de queda, ele será classificado com o risco de queda e, por conseguinte, seguirá com cuidados específicos para que este risco não se torne um evento adverso. 0 Ve r an ot aç õe s A gestão de riscos nada mais é do que um cuidado ampliado e que protege o paciente/cliente de danosdesnecessários, para isso é preciso que você conheça os riscos do seu serviço ou atividade e do seu paciente também. Sabendo disso, você será capaz de desenvolver estratégias e ações para reduzir o índice de eventos adversos e, assim, melhorar significativamente a qualidade do seu serviço ou atividade. Chegamos ao final de mais uma seção. Aprofundamos novos conceitos e consolidamos outros. Vale ressaltar que, quando conhecemos nossas atividades, nossos serviços e pacientes, enxergamos lacunas e riscos e temos condições de propor melhorias e evitar os eventos adversos. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 É uma ciência fundamental para a saúde pública. Por meio de dados quantitativos, pode-se conhecer a ocorrência de doenças ou condições em uma determinada população e, assim, traçar estratégias para minimizá-las, evitá-las e controlá-las. O contexto apresentado no texto-base trata-se de: a. Anatomia humana. b. Incidentes. c. Epidemiologia. d. Evento adverso. e. Gestão de riscos. Questão 2 Conhecer os eventos adversos de um serviço de saúde é essencial para realizar as mudanças de melhoria necessárias. Em um determinado serviço de saúde, houve 2.589 atendimentos em um período de 12 meses, e 529 eventos adversos foram notificados. Qual é a taxa de evento adverso do serviço? 0 Ve r an ot aç õe s Em torno de 20,4 eventos adversos para cada 100 pacientes atendidos. Não é um dado preocupante e não precisa de intervenções. É um dado muito preocupante e necessita de ações de melhorias. É uma oportunidade de rever os processos e propor melhorias. Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. I, II e III, apenas. d. I, III e IV, apenas. e. I, II, III, e IV. Questão 3 As consequências de um EA vão muito além do que se imagina. Em um primeiro momento, podemos pensar somente nos prejuízos reais ocasionados ao paciente, mas existe uma cadeia inteira que é impactada pelo EA, incluindo o profissional de saúde, que também pode ser uma vítima (segunda vítima), pois estava refém de um processo de trabalho mal desenhado que lhe causou sobrecarga e contribuiu com o evento adverso. Os eventos adversos impactam no ____________, no _____________ da saúde, no _____________de saúde e na sociedade como um todo. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. gerenciamento; unidade; Brasil. b. família; serviço; paciente. c. vítima; enfermeiro; médico. d. erro; incidente; processo. e. paciente; profissional; serviço. 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Boletim Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde nº 15: incidentes relacionados à Assistência à Saúde – 2016. Brasília, DF: ANVISA, 2016. Disponível em: https://bit.ly/2PA6V6U. Acesso em: 20 dez. 2020. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Segurança do Paciente. Relatórios dos Estados – Eventos Adversos – Arquivos. Brasília, DF: ANVISA, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3fIUP67. Acesso em: 5 jan. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3wqWm6J. Acesso em: 10 dez. 2020. MENDES, W.; TRAVASSOS, C.; MARTINS, M.; NORONHAS, J. C. Revisão dos estudos de avaliação da ocorrência de eventos adversos em hospitais. Rev. Bras. Epidemiol., São Paulo, v. 8, n. 4, dez. 2005. Disponível em: https://bit.ly/31NcIZf. Acesso em: 15 out. 2020. KOHN, L. et al. To Err is Human: Building a Safer Health System. Washington, DC: National Academy Press, 2000. Disponível em: https://bit.ly/2R3v0mR. Acesso em: 28 set. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Alliance for Patient Safety: forward programme 2005. Genebra: WHO, 2005. Disponível em: https://bit.ly/39MxtZo. Acesso em: 28 set. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Avaliando e tratando danos aos pacientes: um guia metodológico para hospitais carentes de dados. Genebra: WHO, 2010a. Disponível em: https://bit.ly/3mmoL9n. Acesso em: 28 set. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. IBEAS: a pioneer study on patient safety in Latin America: towards safer hospital care. Genebra: WHO, 2010b. 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Genebra: WHO, 2017. Disponível em: https://bit.ly/39JtMDW. Acesso em: 28 set. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70882/WHO_IER_PSP_2010.2_por.pdf;jsessionid=7DBB83897478474B6FD4CFD9320DFEA3?sequence=4 https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/255507/WHO-HIS-SDS-2017.11-eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y FOCO NO MERCADO DE TRABALHO EVENTOS ADVERSOS Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR Na situação apresentada, você foi contratado para assumir atendimentos em uma clínica de idosos, com o histórico de que no serviço acontecem quedas de idosos, mas nenhum dado à sua disposição para fazer qualquer tipo análise. Diante disso, o que você poderia fazer? Um dos caminhos possíveis seria um Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s levantamento retrospectivo dos prontuários dos idosos da clínica em busca de evidências de queda. Após o levantamento, poderia fazer a compilação dos dados e transformá-los em números compreensíveis para análise, para comparação posterior. Um segundo momento seria pensar, junto à equipe, um plano de ação para evitar novas quedas, o qual pode incluir a classificação de riscos, cabeceiras elevadas dos leitos, e assim por diante. Não se limite aqui, pense em mais intervenções para melhorar o atendimento da clínica. Lembre-se de que esse poderia ser um caminho para resolução desta situação, mas você poderá indicar outras perspectivas, vá em frente! AVANÇANDO NA PRÁTICA COMO CALCULAR TAXA DE EVENTOS ADVERSOS? A epidemiologia é uma disciplina que nos ajuda a compreender uma doença ou um fenômeno através de sua frequência. Para contextualizar esse momento, você é convidado para ajudar um serviço de saúde a calcular a sua taxa de eventos adversos, para tanto, ele coloca à sua disposição os dados dos últimos 12 meses, os quais foram colhidos dos relatórios de notificação que são encaminhados ao serviço de qualidade pelos departamentos do serviço de saúde. No total de 1.589 pacientes, 269 apresentaram algum tipo de evento adverso. Como você faria esse cálculo? E qual seria a taxa de eventos adversos desse serviço? RESOLUÇÃO No contexto apresentado, você foi convidado para calcular a taxa de eventos adversos de uma instituição. Os seguintes dados foram deixados à sua disposição: 1.589 pacientes atendidos em 12 meses, dos quais 269 apresentaram algum tipo de evento adverso. Num primeiro momento, você poderia usar a fórmula para taxa de evento adverso e realizar o cálculo. Número de pacientes com EA Número de pacientes da amostra ×100 0 Ve r anot aç õe s No caso apresentado, a taxa de eventos adversos será de 17,9, ou seja, a cada 100 pacientes atendidos no serviço, 17,9 sofrem algum tipo de dano, o que é um dado alarmante. Você ainda tem muito por fazer. Quais são os principais eventos e como eles acontecem? Agora é com você! 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR INDICADORES DE QUALIDADE E FERRAMENTAS DA GESTÃO Emanuel Nunes Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Olá, aluno! Você está na penúltima seção do livro. Veja o quanto já progrediu. Tudo que você aprendeu até aqui será importante para entender o que será abordado nesta seção. Nas seções anteriores, observamos a importância de conhecer os processos para visualizar as lacunas, falhas ou fragilidades dos processos e, assim, propor mudanças de melhoria. Agora, compreenderemos de que forma os indicadores de qualidade podem nos ajudar nesta questão e como Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s podemos desenvolvê-los, aplicá-los e, por fim, analisá-los. Também conheceremos algumas ferramentas de gestão da qualidade, as quais são muito úteis para o profissional de saúde. Aproveite! Os indicadores de qualidade são importantes para aferição da qualidade de um serviço, atividade ou procedimento. Contudo, na área da saúde existe uma infinidade de desafios, e contorná-los é uma missão sua quanto profissional que busca qualidade e a segurança do paciente. Para contextualizar essa situação, você estará no papel de um profissional de saúde que exerce liderança, recém-chegado a uma equipe, que demostra resistência a todas as mudanças colocadas por líderes anteriores. Você já tem os dados, sabe como interpretá-los, mas precisa fazer com a sua equipe tenha adesão a esse novo modelo de gestão. O que você poderia fazer para melhorar a adesão da equipe? Qual ferramenta de gestão da qualidade você poderia usar para isso? Quanto mais você estuda, mais robusto fica seu conhecimento e mais autonomia você ganha em sua área de atuação. O conhecimento abre portas. CONCEITO-CHAVE INDICADORES DE QUALIDADE EM SAÚDE Para entender o que significa indicador, podemos iniciar a partir do próprio termo. Se você observar, vai concluir que ele tem por objetivo indicar alguma coisa, demonstrar de algum modo, revelar algo. É exatamente isto que um indicador de qualidade faz: permite-nos ver um cenário numericamente, e isso nos dá a condição de mensurar a qualidade do nosso serviço, da atividade ou do procedimento, tornando tangível a presença ou a ausência de qualidade. Seja qual for a sua área de atuação, só será possível medir a qualidade através dos indicadores de qualidade. 0 Ve r an ot aç õe s Você já notou que, quando você faz uma busca de algum produto em um site de buscas, o produto magicamente aparece anunciado em sua rede social? Como isso é possível? Quando você faz o acesso, o sistema cria um perfil de suas preferências e direciona os anúncios que te interessarão. Nesta mesma ideia, os indicadores funcionam. Temos um dado, que gera uma informação e depois se transforma em conhecimento. Para tanto, necessita-se de uma estratégia efetiva de compilação das informações que serão utilizadas para compor os indicadores. Um exemplo interessante é a saúde pública. Como saber para onde direcionar as verbas? Para a atenção primária, secundária ou terciária? Qual precisa mais? E qual é mais efetiva? Não tem como responder a essas questões sem a análise de indicadores. Desse modo, os indicadores de qualidade são de fato a forma mais efetiva de demonstrar o bom desempenho de um serviço de saúde. Contudo, o indicador revela o cenário, e isso embasa a tomada de decisão. Imagine-se na sua área: como você pode medir a qualidade? Não basta dizer que meu serviço é bom? É preciso ter evidências reais e seguras disso. DESENVOLVIMENTO, APLICAÇÃO E ANÁLISE DE INDICADORES Para desenvolver um indicador, é necessário conhecer bem o seu serviço, atividade ou procedimento antes e ter uma ideia clara do que se espera com esses indicadores. É muito importante essa reflexão, pois corre-se o risco de coletar um oceano de dados e de nada adiantar, pois nada mostram, são apenas números. Desse modo, pensaremos em alguns passos práticos para se criar um indicador de qualidade, conforme você verá na Figura 4.4. Outro ponto de atenção é ter a noção de que é impossível monitorar todos os indicadores de uma só vez em um serviço que não tem nenhum indicador. Sendo assim, pode-se pensar: por onde eu inicio? 0 Ve r an ot aç õe s Vamos recordar a epidemiologia? O que você mais atende no seu serviço? Qual é a maior prevalência de doenças ou fenômenos? Esses são alguns pontos de partida que podem te auxiliar. Sempre inicie de um ponto que tem mais necessidade e depois você ampliará para outros indicadores até ter o cenário desejado. Logo, é preciso monitorar, gerenciar, analisar e transformar os números em ações reais de mudança e melhoria contínua. Figura 4.4 | Indicador de qualidade Fonte: elaborada pelo autor. REFLITA O indicador de qualidade mostra a evolução de um cenário e nos fornece dados objetivos do desempenho. Por outro lado, existem também os itens de controle, por exemplo: a minha equipe não está entregando os 0 Ve r an ot aç õe s relatórios no prazo estipulado. Posso usar esses dados para cobrança do time? Isso é um indicador? Qual é sua perspectiva sobre isso? Vamos a um exemplo prático. Imagine o seguinte cenário: no seu serviço, você atende mulheres que estão gestantes. Você atua no pré-natal, desenvolvendo as atividades da sua área de competência em consonância com a equipe multiprofissional. Durante um ano, você realiza até 250 atendimentos, e algumas perguntas ficaram ressoando em sua mente: qual é a média do número de consultas de cada gestante? Quantas delas fizeram o pré-natal com todas as consultas? Quantas dessas gestantes fazem o acompanhemos do bebê no serviço? E por aí poderemos pensar em muitas coisas que são desconhecidas pelo serviço e que seriam de suma importância trazer à luz para melhoria do atendimento do serviço. Mas, por onde começar? Construiremos uma estrutura, tendo como base a Figura 4.4: 1. O que monitorar? No nosso exemplo, queremos monitorar a qualidade do serviço prestado às gestantes. 2. Como e quais dados coletar? É preciso ter uma estratégia de coleta de dados, neste caso, será criado um instrumento de coleta de dados que será aplicado durante as consultas; depois, os dados serão inseridos em um software para compilação e análise mensal. Para o primeiro indicado, usaremos os dados retrospectivos dos últimos 12 meses a partir dos dados dos prontuários. As demais coletas seguiram o fluxo do novo instrumento. 3. Qual indicador acompanhar? Num primeiro momento, gostaríamos de saber se as gestantes realizam todas as consultas de pré-natal conforme o recomendado pelo Ministério da Saúde. Essa informação é importante para pensarmos em melhorias no nosso 0 Ve r an ot aç õe s serviço. O nosso indicador será adesão da gestante às consultas de pré-natal. 4. Qual é a meta do indicador? Para o nosso exemplo, a nossa meta será: cada gestante deverá ter sete consultas de pré-natal. Após a coleta e compilação dos dados, chegamos à seguinte conclusão: cada gestante do nosso serviço teve, em média, três consultas de pré-natal. O que podemos fazer com essa informação? O que o indicador nos forneceu? Podemos pensar em estratégias para melhorar a adesão dessas gestantes nas consultas de pré-natal, isso inclui conhecer o perfil dessas mulheres. Por fim, realizadas as implementações, prossegue-se com o monitoramento e as análises em busca da melhoria da adesão das gestantes nas consultas de pré-natal após as mudanças. Como você pode observar, o objetivo do indicador é nos ajudar a ver aquilo que está oculto e fornecer dados que nos auxiliem a fazer as mudanças necessárias e medi-las com os própriosindicadores. Olhe com atenção para sua área de atuação e perceba quantas informações seriam úteis para a melhoria da qualidade. Comece com um indicador, logo você não conseguirá mais trabalhar sem a ajuda deles e se perguntará: como trabalhei tanto tempo sem os indicadores de qualidade? É como sair da escuridão e vislumbrar a luz. DESAFIOS DA GESTÃO DE INDICADORES PARA OS SERVIÇOS DE SAÚDE A gestão por indicadores traz consigo inúmeros desafios, contudo o maior deles é o próprio ser humano, que, muitas vezes, pode ser resistente às mudanças e tornar-se uma barreira para que se possa pensar e agir de modo diferente. Nesta questão, é essencial o papel da liderança para mostrar que os indicadores não serão mais trabalho, mas, sim, fonte das futuras mudanças, inclusive para melhorias do trabalho. Veremos, no Quadro 4.1, três exemplos de desafios que você poderá encontrar na implantação da gestão por indicadores. Quadro 4.1 | Desafios da gestão por indicadores 0 Ve r an ot aç õe s Desafios Características O que pode ser feito? Resistência à mudança A equipe pode entender como “mais trabalho” e não aderir o processo, ou achar que será exposta de algum modo. Você, como líder, deve manter um ambiente no qual os colaboradores participem das decisões. Uma vez que eles compreendam a importância do indicador e fazem parte dele, terão adesão. Dados incompletos Falha na estratégia de coleta de dados. O método precisar ser claro e objetivo. O líder deve definir, junto à equipe, quem será o dono do processo e como será o método de coleta. Fragilidade na interpretação dos dados Compreender somente o número bruto. Olhar apenas pelo aspecto negativo e considerar apenas os dados “bons” para o momento. O indicador não é um número apenas; ele é uma representação numérica do cenário e precisa ser analisado de forma ampla, considerando todos os pontos possíveis e de forma contínua para, assim, poder ver a sua evolução gradativa. Fonte: elaborado pelo autor. Observe que o termo utilizado aqui é desafio, isso também é estratégico, pois dá um sentido que pode ser superado, diferente de dificuldade, que é um termo mais pessimista. Desse modo, entenda que você terá muitos desafios para realizar uma mudança, mas esse desejo é possível e tangível. EXEMPLIFICANDO 0 Ve r an ot aç õe s Ao analisar um indicador de qualidade, você precisa olhar além dos números e de forma imparcial, ou seja, analise o que representa aquele dado, no que ele pode ter contribuído. O dado é real ou fruto de uma coleta falha? Qual processo está envolvido no indicador? Essa análise ampla é fundamental, pois nem sempre um dado considerado “ruim” é necessariamente “ruim”. Vamos a um exemplo: no seu serviço, a taxa de mortalidade dos pacientes da Unidade de Terapia Intensiva é maior do que em outro hospital do município. Se você olhar apenas o número, pode concluir que existe algo errado no seu serviço, porém, se olhar de modo mais amplo, considerará o perfil do paciente, o tipo de patologia e os scores de complexidade e gravidade. Em suma, a análise precisa ser ampla, não para justificar o dado, mas para compreendê-lo em plenitude. PRINCIPAIS FERRAMENTAS DE GESTÃO DA QUALIDADE E SEGURANÇA DO PACIENTE Vamos conhecer algumas ferramentas que ajudam na gestão da qualidade. Existem muitas, por isso, discutiremos sobre aquelas que são mais usadas na área da saúde. Ciclo do PDCA foi abordado em seções anteriores, portanto não será tratado nesta seção. Vale ressaltar que, na área da saúde, quanto ao aspecto da qualidade e segurança do paciente, usamos muitos processos já consagrados na aviação e na indústria. Começaremos com o mais simples e fácil de se aplicar, conhecido como brainstorming, que pode ser traduzido como “chuva ou tempestade de ideias”. É uma ferramenta incrível para integrar a equipe na compreensão de um fenômeno que se busca descobrir ou melhorar. Observe a Figura 4.5, a qual mostra que a situação fica no centro do instrumento, e ao seu redor se encontram vários círculos, nos quais podem ser colocadas as ideias, as sugestões ou o que foi solicitado pelo facilitador que está conduzindo a reunião. O facilitador coloca a situação para a equipe e solicita que ela contribua, por exemplo: se for um evento adverso, pode solicitar à equipe que coloque quais foram os fatores que contribuíram com o evento; se for uma mudança de 0 Ve r an ot aç õe s melhoria, pode solicitar o que se pode fazer para melhorar a situação. Após esse processo, o líder produz um súmula, analisa os dados e dá um feedback para a equipe com as conclusões. O brainstorming é uma ferramenta que, além de ampliar a visão da situação, permite algo fundamental na melhoria de qualquer processo: a integração e a participação de todos os membros da equipe. Visualize uma situação na sua área de atuação, na qual que você poderia aplicar. Visualizou? Agora é com você! Figura 4.5 | Brainstorming Fonte: elaborada pelo autor. Outra ferramenta indispensável para a gestão de processos é o 5W2H, a qual se originou na indústria e foi “adotada” pela área de saúde. Primeiramente, entenderemos que significa 5W2H. 5: refere-se aos cinco questionamentos: What? (O quê?); Why? (Por quê); Who? (Quem?); When? (Quando?); Where? (Onde?). 0 Ve r an ot aç õe s 2: Refere-se aos dois questionamentos: How? (Como?) e How much? (Quanto custa?). Desse modo, organizamos o instrumento de acordo com a Figura 4.6. Esta ferramenta é melhor quando se busca fazer um plano de ação. Por exemplo, você usou o brainstorming para saber as origens de uma situação e pode usar o 5W2H para planejar a ação que melhorará a situação do serviço, da atividade ou do procedimento. ASSIMILE Quando se pretende melhorar a qualidade de um serviço, atividade ou procedimento, não precisa “reinventar a roda”, visto que já existem ferramentas consagradas que poderão auxiliar nesta questão. Familiarize- se com essas ferramentas, aplique-as na sua área de atuação e acompanhe a evolução dos resultados. E lembre-se: sempre assegure a participação da sua equipe no processo e dê feedback constante da situação. O que mais desanima uma equipe não são os resultados ruins, mas a ausência de feedbacks. Figura 4.6 | 5W2H Fonte: elaborada pelo autor. 0 Ve r an ot aç õe s O 5W2H é fácil e prático, e você pode fazer adaptações, por exemplo, inserir um item de status, para saber o andamento da ação, se está como iniciado, em andamento ou concluído. Na sua área de atuação, muito pode ser melhorado. Aproveite o conteúdo aprendido até aqui e coloque em prática. Faça um brainstorming na própria Figura 4.5, e o 5W2H na Figura 4.6. Parabéns por ter concluído a penúltima seção de livro. Na próxima seção, conheceremos novas ferramentas aplicadas ao evento adverso. FAÇA VALER A PENA Questão 1 Os indicadores de qualidade são de fato a forma efetiva de demonstrar o bom desempenho de um serviço de saúde. Dentre os benefícios, permite ao gestor fortalecer o seu estilo de liderança. Um líder em posse dos resultados dos indicadores poderá usar esses dados para: Fortalecer a cobrança dos seus liderados com mais ênfase. Analisar os dados com atenção e imparcialidade. Valorizar somente os dados considerados “bons”. Usar os dados como fonte de melhoria dos processos. Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. II e III, apenas. d. II e IV, apenas e. I, II, III e IV. Questão 2 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS A avaliação de serviços de saúde é necessária como elemento do cotidiano de trabalho em saúde, de modo a permitir a identificação de fragilidades e a visualização de oportunidades de melhoria. O ____________ de ____________ mostra a evolução de um cenário e nos fornece dados objetivos do desempenho. Por outro lado, existem também os____________, que não são considerados indicadores, pois fornecem apenas informações de controle,ou seja, se algo foi realizado no tempo previsto ou não. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. processo; qualidade; indicadores. b. indicador; qualidade; itens de controle. c. líder; setor; indicadores. d. índice; qualidade; colaboradores. e. indicativo; trabalho; gestores. Questão 3 A gestão por indicadores traz consigo inúmeros desafios, contudo o maior deles é o próprio ser humano, o qual, muitas vezes, pode ser resistente às mudanças e se tornar uma barreira para que se possa pensar e agir de modo diferente. Qual é o papel do profissional de saúde na liderança para melhoria desse cenário? a. O profissional na liderança deve impor as mudanças e os indicadores. b. O profissional na liderança deve compartilhar as mudanças e os indicadores. c. O profissional na liderança deve trocar a sua equipe por uma que colabore. d. O profissional na liderança deve desistir das mudanças e dos indicadores. e. O profissional na liderança deve sair e ir para outro setor mais receptivo. 0 Ve r an ot aç õe s BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Boletim Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde nº 15: incidentes relacionados à assistência à saúde – 2016. Brasília, DF: ANVISA, 2016. Disponível em: https://bit.ly/39IvXHZ. Acesso em: 20 dez. 2020. BRASIL. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3rRtCR9. Acesso em: 10 dez. 2020. PROQUALIS. Segurança do paciente. 2021. Disponível em: https://bit.ly/2QZVq94. Acesso em: 11 jan. 2021. WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Alliance for Patient Safety: forward programme 2005. Genebra: WHO, 2005. Disponível em: https://bit.ly/31NwcwT. Acesso em: 28 set. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Avaliando e tratando danos aos pacientes: um guia metodológico para hospitais carentes de dados. Genebra: WHO, 2010a. Disponível em: https://bit.ly/3fFNqVf. Acesso em: 28 set. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. IBEAS: a pioneer study on patient safety in Latin America: towards safer hospital care. Genebra: WHO, 2010b. Disponível em: https://bit.ly/2PAObnO. Acesso em: 28 set. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Estrutura Conceitual da Classificação Internacional sobre Segurança do Doente. Genebra: WHO, 2011. Disponível em: https://bit.ly/31UyWbH. Acesso em: 28 set. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Patient Safety: making health care safer. Genebra: WHO, 2017. Disponível em: https://bit.ly/39JddIq. Acesso em: 28 set. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/271855/Boletim+Seguran%C3%A7a+do+Paciente+e+Qualidade+em+Servi%C3%A7os+de+Sa%C3%BAde+n%C2%BA+15/bb637392-4973-4e7f-8907-a7b3af1e297b http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/documento_referencia_programa_nacional_seguranca.pdf https://proqualis.net/seguran%C3%A7a-do-paciente https://www.who.int/patientsafety/en/brochure_final.pdf https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/77100/9789241500388_por.pdf?sequence=3&isAllowed=y https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/330055/WHO-IER-PSP-2010.3-eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70882/WHO_IER_PSP_2010.2_por.pdf;jsessionid=7DBB83897478474B6FD4CFD9320DFEA3?sequence=4 https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/255507/WHO-HIS-SDS-2017.11-eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y FOCO NO MERCADO DE TRABALHO INDICADORES DE QUALIDADE E FERRAMENTAS DA GESTÃO Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR Na situação-problema, você vive o papel de um profissional que está à frente de uma equipe com histórico de resistência às mudanças. O que você faria para melhorar a adesão desta equipe no contexto da gestão por indicadores? Uma das possibilidades seria você integrar a equipe, fazer com que todos se sintam parte Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s de um time e mostrar que suas opiniões têm muito valor para os gestores. Para tanto, poderia utilizar o brainstorming, por se tratar de uma ferramenta de fácil aplicação e resultados imediatos. Essa seria uma alternativa, pois os colaboradores podem participar e se sentirem mais valorizados e, por conseguinte, haveria maior adesão ao novo processo. Este é só um caminho, existem outros que você pode adotar. Não pare, porque, às vezes, a mudança não ocorreu ainda porque estava faltando alguém como você para fazer acontecer. AVANÇANDO NA PRÁTICA PRECISO FAZER UM INDICADOR DE QUALIDADE. E AGORA? Todas as organizações de sucesso possuem indicadores bem pensados e acompanhados que fornecem as informações necessárias para alterar o curso, refinar os processos e inovar sempre que necessário. Para contextualizarmos a situação-problema, você é chamado pelo seu coordenador, o qual solicita a sua ajuda para criar indicadores de qualidade para o serviço no qual vocês atuam. Por onde começar esse processo? Qual caminho você poderia seguir? RESOLUÇÃO Nesta situação, você precisa ajudar o seu gestor a criar indicadores de qualidade para o serviço em que vocês atuam. Então, por onde iniciar esse processo? Uma possibilidade assertiva seria responder às quatro perguntas básicas: o que monitorar? Como e quais dados coletar? Qual indicador acompanhar? Qual é a meta do indicador? Respondendo a essas questões você já tem um grande ponto de partida para desenvolver um bom indicador de qualidade. Agora é com você. 0 Ve r an ot aç õe s NÃO PODE FALTAR NOTIFICAÇÃO, MITIGAÇÃO, INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE DE EVENTOS ADVERSOS (EA) Emanuel Nunes Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Estamos na última seção do livro. Parabéns a você que chegou até aqui! Você já sabe o que é um evento adverso (EA), então, nesta etapa, falaremos mais sobre ele, especialmente sobre como manejá-lo adequadamente. Espera-se que você compreenda que olhamos o evento adverso do ponto de vista do processo, e não da pessoa. Ninguém erra de propósito, por isso, precisamos fazer uma análise ampla do evento adverso, a fim de encontrar a sua causa raiz e entender os seus fatores contribuintes. Aproveite a última fase dessa jornada. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s A tratativa de um evento adverso é o que define se será um processo transformador ou não. Se for compreendida como uma oportunidade de melhoria, haverá resultado; se for entendida como “erro” ou exposição, nada muda e os incidentes acontecem. Assim, para contextualizar a problemática desta seção, coloque-se no papel de um profissional de saúde que se depara com um evento adverso em curso. Você foi chamado por um colega de equipe, o qual relatou que um dos pacientes/clientes apresentou uma broncoaspiração enquanto recebia dieta por via oral. O que você faria nesta situação? Quando você iniciou este estudo, parecia muito longo, mas de seção em seção você conseguiu. CONCEITO-CHAVE Como saber se existe evento adverso no meu serviço, atividade ou procedimento? Pode ser de forma espontânea e escandalosa, o que acaba colocando em evidência apenas a pessoa que estava envolvida no incidente, a qual será advertida e tudo voltará ao normal. Será que isso ajuda na melhoria do processo? Não, pois outros eventos podem ocorrer, visto que nada foi feito. Então, como deve ser o processo de notificação de eventos adversos? Deve ser estruturado, sistematizado, simplificado e disponível a todos os colaboradores. Pode ser digital ou impresso, o importante é que ele funcione e traga à luz o que precisa ser melhorado no serviço de saúde. O sistema de notificação adotado precisa ser independente, confidencial e não punitivo, além de ser visto como uma oportunidade de melhoria e sempre focado na solução dos problemas. Essa reflexão é importante, pois é comum o foco ser o problema, e não as soluções. O processode notificação deve conter as informações necessárias para que se dê prosseguimento à investigação do incidente até chegar à sua causa raiz. Quais são as informações básicas que precisam compor um instrumento de 0 Ve r an ot aç õe s notificação? Existem vários modelos, porém, aqui, usaremos o modelo mínimo de informação para notificação. As informações básicas são: 1. Informações do paciente/cliente (idade, sexo, etc.). 2. Temporalidade do incidente (linha do tempo do incidente, quando aconteceu). 3. Local onde ocorreu incidente (unidade ou setor). 4. Quais são os agentes envolvidos (fatores que contribuíram; possíveis causas e mitigação). 5. Classificação do incidente (tipo de incidente). 6. Resultados do incidente (quais foram as consequências do incidente). 7. Ações resultantes do incidente (o que pode ser feito como plano de ação?). 8. Notificador (como foi feita a coleta dos dados). Observe que são informações essenciais, as quais serão o ponto de partida para a investigação do incidente, e que qualquer profissional pode fazer a notificação. Dentro deste contexto, é importante que haja também um fluxo de encaminhamento dessas notificações para um local que poderá seguir com os procedimentos posteriores. Existem serviços que têm um departamento de qualidade, e os gestores fazem esse controle. O importante é que o processo funcione e traga dados para a melhoria do serviço. REFLITA Um aspecto importante da notificação é a imparcialidade. Muitas vezes, pode acontecer de haver uma seletividade das notificações por parte dos responsáveis pelo setor ou pela unidade envolvida no evento. Por exemplo, apenas notificam-se os incidentes não graves, assim, passa-se a 0 Ve r an ot aç õe s impressão que não se tem um problema na unidade, mas, na verdade, ele existe e está sendo ocultado. Em sua opinião, quem sofre com isso e por quais motivos? MITIGAÇÃO DO EVENTO ADVERSO (EA) O evento adverso (EA) é um tipo de incidente que pode ocasionar danos ao paciente, e isso reflete no ambiente profissional e no serviço de saúde. Não tem como voltar no tempo e reverter um EA, mas podemos diminuir as suas consequências, ou seja, podemos mitigar os resultados dele para tentar ao menos reduzir os danos ao paciente/cliente. Mitigação é a atitude tomada imediatamente após a ocorrência de um evento adverso. Vamos a um exemplo prático. Imagine o seguinte cenário: um idoso de 75 anos caiu de seu leito ao virar-se na cama, a qual estava com as grades abaixadas. Como poderíamos mitigar esse incidente? Poderíamos realizar um exame físico rápido em busca de lesões ou sangramentos, encaminhar o paciente para a radiografia ou tomografia, caso necessário, e dar todo o suporte a ele. Atente-se ao fato de que é preciso uma ação imediata. O foco é o nosso paciente/cliente e, depois que ele estiver estabilizado, partiremos para a investigação do EA. EXEMPLIFICANDO Mitigar significa aliviar, reduzir e suavizar. É um tipo de ação que você pode aplicar em todas os âmbitos da sua profissão, inclusive no relacionamento interpessoal. Você consegue imaginar quantos conflitos podem ocorrer em uma equipe multiprofissional? Você será o combustível para aumentar o incêndio, ou será o fator mitigador? Podemos mitigar os incidentes e problemas, melhorar a “saúde” e o bem-estar profissional e seguir com os nosso desejo de melhoria e transformação. 0 Ve r an ot aç õe s INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE DE EA Para investigação (Figura 4.7) do EA, o documento base para início do processo é o relatório da notificação, no qual estão as informações necessárias para compreender de forma geral o incidente, inclusive considerar todos os fatores contribuintes. Mas, quais são os principais fatores contribuintes? Eles estão relacionados ao(s): Recursos humanos: comportamento, comunicação e desempenho da equipe. Sistema ou ambiente de trabalho: cultura e clima organizacional, condições de trabalho e escalas de trabalho, por exemplo. Externos: situações fora do escopo da organização, mas que influenciam no processo. Paciente: condições do paciente que influenciam no incidente. Uma investigação de incidente que não considera os fatores contribuintes é incompleta e não cumpre seu papel, o qual, em suma, é descobrir a causa raiz. Figura 4.7 | Fluxo de análise e investigação de um incidente Fonte: Brasil (2017, p. 35). De modo geral, após a notificação, faz-se a análise do incidente e busca-se um plano de ação para evitar que ele ocorra novamente. Para analisar um incidente também utilizamos algumas estratégias, com o uso de algumas ferramentas importantes, como o diagrama Ishikawa (Figura 4.8), conhecido também como “espinha de peixe” ou causa-efeito. Esse diagrama ajuda os investigadores a verem todos os fatores contribuintes que culminaram no incidente. 0 Ve r an ot aç õe s https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/GESTAO_QUALIDADE_E_SEGURANCA_DO_PACIENTE/LIVRO_DIGITAL/assets/img/figura-4.7.jpg Figura 4.8 | Diagrama de Ishikawa Fonte: Brasil (2017, p. 39). No diagrama, podemos “destrinchar” o incidente e visualizar o cenário como um todo. Vamos a um exemplo prático. Imagine que você trabalha em um serviço de qualidade de uma importante organização de saúde e recebeu um relatório de notificação com os seguintes dados: 1. Informações do paciente/cliente: 76 anos; masculino. 2. Temporalidade do incidente: aconteceu no plantão da manhã, por volta das 11h50min. 3. Local onde ocorreu incidente: enfermaria de adulto. 4. Quais são os agentes envolvidos: paciente agitado, sem acompanhante. 5. Classificação do incidente: evento adverso. 6. Resultados do incidente: queda da própria altura. 7. Ações resultantes do incidente: evento encontra-se em análise. 8. Notificador: coletados dados no prontuário do paciente. 0 Ve r an ot aç õe s A partir desses dados, você, como investigador, pode seguir o processo utilizando o diagrama de Ishikawa para compreender o contexto do incidente. Cada “espinha” do diagrama é uma possível causa raiz ou fator contribuinte. No evento em questão, poderíamos preencher os espaços com as informações disponíveis e as complementares. Veja, na Figura 4.9, como fica a disposição das informações e como é prático e visual. O mais marcante desse método é a amplitude, ou seja, nem sempre o óbvio foi a causa raiz, pode ter sido outro fator, ou a combinação deles. Figura 4.9 | Exemplo da aplicação do diagrama de Ishikawa Fonte: Brasil (2017, p. 43). ASSIMILE Cada “espinha” do diagrama se refere a um fator contribuinte ou até mesmo a uma causa raiz. É muito importante essa análise, porque, por exemplo, a sobrecarga de trabalho pode não ser a causa principal do incidente, mas é um fator contribuinte, visto que o cansaço diminui as nossas respostas, e isso impacta nas nossas decisões. Veja a importância 0 Ve r an ot aç õe s disso! Não adianta fazermos um plano de ação e desconsiderarmos a sobrecarga. É preciso resolver isso também, ou não haverá melhoria e redução dos incidentes. O QUE APRENDEMOS COM O EA? O que podemos aprender com os EA? Na verdade, é uma infinidade coisas, mas destacaremos cinco aprendizados primordiais: Somos susceptíveis a cometer erros. Os incidentes não possuem uma única causa, são multifatoriais. Devemos melhorar os processos continuamente. Realizar educação permanente dos profissionais de saúde. Incentivar uma cultura de qualidade e segurança do paciente. Não tenha dúvidas de que o aprendizado que temos com os EA vão muito além desses cinco pontos. Contudo, vale ressaltar que o maior deles deve ser: evitar que o mesmo tipo de EA aconteça novamente. Se você tiver curiosidade sobre a aviação civil, perceberá que dificilmente um acidente aéreo ocorre pela mesma causa de um anterior. Isso acontece porque os responsáveis investigam e implantam um plano de ação, a fim de evitar o mesmo tipo de incidente e poupar vidas. Devemos ter o mesmo raciocínio. Quando realizamosuma notificação, investigamos, analisamos e implantamos um plano de ação, também estamos poupando vidas e danos desnecessários. Na sua área também existem riscos e condições latentes prontos para eclodir em um incidente, por isso é fundamental você aplicar e adaptar todo esse conhecimento adquirido nas seções na sua área de atuação. A partir desse momento, considere-se um agente transformador. FAÇA VALER A PENA Questão 1 0 Ve r an ot aç õe s O evento adverso é um tipo de incidente que causa inúmeros danos ao paciente, e isso reflete no profissional e no serviço de saúde. Não tem como voltar no tempo e reverter um EA, mas podemos diminuir as suas consequências. Para tanto, realizamos a _____________do ___________ imediatamente após a sua ocorrência, pois o foco sempre é estabilizar o ___________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a. intervenção; evento; serviço. b. ação; serviço; profissional. c. situação; incidente; caso. d. mitigação; incidente; paciente. e. criação; protocolo; hospital. Questão 2 Para investigação do EA, o documento base para início do processo é o relatório da notificação, no qual estão as informações necessárias para compreender o incidente de forma geral, inclusive considerar todos os fatores contribuintes, dentre eles: I. Recursos humanos: comportamento, comunicação e desempenho da equipe. II. Sistema ou ambiente de trabalho: cultura e clima organizacional, condições de trabalho e escalas de trabalho, por exemplo. III. Externos: situações fora do escopo da organização, mas que influenciam no processo. IV. Paciente: condições do paciente que influenciam no incidente. Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em: a. I, apenas. 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS BRASIL. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3fGNVhB. Acesso em: 10 dez. 2020. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Gestão de riscos e investigação de eventos adversos relacionados à assistência à saúde. Brasília, DF: Anvisa, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3mnMYfm. Acesso em: 5 jan. 2021. b. I e II, apenas. c. I, II e III, apenas. d. II, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. Questão 3 De modo geral, após a notificação, faz-se a análise do incidente e busca-se um plano de ação para evitar que ele ocorra novamente. Para analisar um incidente, também utilizamos algumas estratégias com o uso de algumas ferramentas importantes, como o diagrama Ishikawa. O diagrama de Ishikawa tem como objetivo ajudar o investigador a: a. Analisar o processo de modo fragmentado em busca da causa provável. b. Analisar o processo de modo sistemático em busca da causa raiz. c. Analisar o processo de modo parcial em busca da causa eventual. d. Analisar o processo de modo imparcial em busca da causa esperada. e. Analisar o processo de modo improvisado em busca da causa e efeito. 0 Ve r an ot aç õe s http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/documento_referencia_programa_nacional_seguranca.pdf https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/publicacoes/item/caderno-7-gestao-de-riscos-e-investigacao-de-eventos-adversos-relacionados-a-assistencia-a-saude ORTEGA, D. B. et al. Análise de eventos adversos em pacientes internados em unidade de terapia intensiva. Acta paul. enferm., São Paulo, v. 30, n. 2, p. 168-173, abr. 2017. Disponível em: https://bit.ly/3dCKGoJ. Acesso em: 22 jan. 2021. WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Alliance for Patient Safety: forward programme 2005. Genebra: WHO, 2005. Disponível em: https://bit.ly/2PW0IC3. Acesso em: 28 set. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Estrutura Conceitual da Classificação Internacional sobre Segurança do Doente. Genebra: WHO, 2011. Disponível em: https://bit.ly/39JLXsZ. Acesso em: 28 set. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Avaliando e tratando danos aos pacientes: um guia metodológico para hospitais carentes de dados. Genebra: WHO, 2010. Disponível em: https://bit.ly/2Q2eJxZ. Acesso em: 28 set. 2020. 0 Ve r an ot aç õe s https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-21002017000200168&script=sci_arttext https://www.who.int/patientsafety/en/brochure_final.pdf https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70882/WHO_IER_PSP_2010.2_por.pdf;jsessionid=7DBB83897478474B6FD4CFD9320DFEA3?sequence=4 https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/77100/9789241500388_por.pdf?sequence=3&isAllowed=y FOCO NO MERCADO DE TRABALHO NOTIFICAÇÃO, MITIGAÇÃO, INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE DE EVENTOS ADVERSOS (EA) Emanuel Nunes Imprimir SEM MEDO DE ERRAR Na presente situação-problema, você se depara com um evento adverso em curso: um paciente acaba de sofrer uma broncoaspiração enquanto era alimentado. O que você faria? A primeira possibilidade é mitigar o evento adverso. Como estão as condições do paciente? Houve piora do quadro clínico? O que será preciso fazer? Portanto, é necessário assegurar que o paciente se encontra estabilizado e livre de outros riscos. Num segundo momento, você pode realizar a notificação do incidente e seguir até o fim com o plano de ação e melhoria do seu serviço. Lembre-se de que essa é uma perspectiva para resolver o problema apresentado, agora indique a sua. AVANÇANDO NA PRÁTICA Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s RECEBI UMA NOTIFICAÇÃO DE INCIDENTE NO MEU SERVIÇO. E AGORA? Aprender com os incidentes não é um privilégio, mas, sim, uma necessidade de todos os serviços de saúde. É preciso uma mudança de cultura para que os incidentes não se tornem parte da “normalidade”, pois eles não são. Eles precisam ser entendidos e sanados. Para contextualizar esse cenário, imagine que você acaba de assumir o plantão e recebe um relatório de que houve um incidente no seu plantão anterior. O que você faria? Levaria para o lado pessoal, ou tomaria outra atitude? RESOLUÇÃO No contexto da situação-problema, você foi surpreendido com uma notificação de incidente que aconteceu no seu plantão anterior. O que você faria? Levaria para o lado pessoal, ou tomaria outra atitude? Um caminho esperado seria compreender que se trata de uma oportunidade de melhoria, logo é necessário entender como isso aconteceu, quais foram os fatores contribuintes, achar a causa raiz e traçar um plano de ação, a fim de evitar que este mesmo incidente ocorra novamente. Você poderia imaginar outra saída? Vá em frente e discuta com seus amigos e professores sobre essa possibilidade. 0 Ve r an ot aç õe s