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Conteudista: Prof. Dr. Tercius Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dra. Selma Aparecida Cesarin Objetivo da Unidade: Conhecer e compreender os Princípios Gerais do Direito Penal e sua aplicabilidade específica às Infrações Penais de Trânsito, bem como as características quanto à aplicação da pena. ˨ Material Teórico ˨ Material Complementar ˨ Referências Princípios Gerais do Direito Penal, seu Emprego Junto aos Crimes de Trânsito e a Aplicabilidade das Penas Princípios O Direito, num aspecto geral, tem origens que denominamos “fontes”. Essa titulação foi dada pela melhor doutrina do Direito, que estabeleceu de onde ele provém, ou seja, onde nasce ou brota. Embora existam diversas formas de abordar o assunto, aqui, optamos por definir que o Direito é formado por duas fontes, ou por dois caminhos, que levam ao mesmo destino, que é a sua formação. Essas fontes ou caminhos são conhecidos como primários e secundários. 1 / 3 ˨ Material Teórico Figura 1 Fonte: Pixabay O primário, que é a “Lei”, é a fonte ou o caminho de maior repercussão, ainda mais em Estados de Direito ou Democráticos, como o Brasil. Desse modo, podemos inferir que, sem um Sistema Legal, não existirá Estado Democrático de Direito, que adota como matriz de todo o Sistema Jurídico a Constituição. O Artigo 5º, Inciso II, de nossa “Lei Maior”, aborda o Direito Fundamental à legalidade como aquele cabível a qualquer pessoa, nacional ou estrangeira, dentro do território brasileiro: Nesse sentido, será a “Lei”, a partir de sua maior representação, que é a Constituição Federal, encarregada por comandar o comportamento social desejado, bem como o comportamento adstrito ao próprio ente estatal. Já que enquanto qualquer um de nós somente pode fazer ou deixar de fazer alguma coisa em virtude de Lei, o Estado, por intermédio de seus representantes, os Agentes Públicos, somente pode fazer o que a Lei determina, sendo cabível em qualquer desvio o emprego de mecanismos legais instituídos para a defesa de direitos. Quando falamos de Direito Penal, o direito à liberdade merece destaque. Desse modo, prevê a nossa atual Constituição Federal, em seu Artigo 5º Inciso LXI: “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) II – Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;” Aqui, percebemos que o direito à liberdade, como direito de cada brasileiro ou estrangeiro residente no país, não é absoluto, e nem poderia, pois, vivemos em uma Sociedade na qual o crime está presente há milênios, fazendo parte da própria natureza humana, em que, na busca da almejada “paz social”, a prevenção e a repressão às condutas criminosas devem se fazer presentes. Assim, associando o direito relativo à liberdade ao Princípio da Legalidade, no âmbito criminal, nós nos deparamos com duas únicas hipóteses de cerceamento da liberdade no Brasil, que são: a prisão em flagrante delito, ou quando exista uma “ordem de prisão”, por intermédio de um mandado judicial fundamentado, em aspectos fáticos e de direito. Entretanto, o Estado Democrático de Direito, ao mesmo tempo em que delibera quanto aos direitos inerentes a cada um ou da coletividade, cria mecanismos de defesa dos direitos frente a alguma postura de seus agentes, se contaminada por ilegalidade ou por abuso de poder. Com relação à ilegalidade, o conceito é de fácil percepção, pois ilegal é o antônimo de legal, ou seja, se legal é na forma da Lei, ilegal será a conduta em desacordo com a Lei. “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LXI – Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; (grifo nosso).” No tocante ao abuso de poder, este se dá na prática de ato que extrapola a competência legal de determinado Agente Público, podendo se apresentar em dois segmentos: o desvio de finalidade, que decorre do comportamento do agente que, mesmo praticando determinada postura aparentemente legal, promove-a não movido pelo interesse público, mas sim movido por um interesse pessoal ou de terceiros e pelo chamado excesso de poder, no qual o Agente extrapola os limites legais de sua competência ou pratica conduta para a qual sequer teria competência. Contra a arbitrariedade e o confronto com o direito à liberdade, a Constituição criou mecanismos de controle e limitação do Poder Estatal. No caso, quando a ilegalidade ou o abuso de poder cerceia ou pretende restringir a liberdade de alguém, a Constituição definiu como mecanismo de garantia a esse direito o denominado habeas corpus, conforme descrição do já mencionado Artigo 5º, em seu Inciso LXVIII: No tocante às fontes ou caminhos secundários do Direito, que o complementam ou ampliam sua aplicação, temos: a analogia, a doutrina, a jurisprudência, os costumes e os Princípios Gerais do Direito. Fontes do Direito Fonte Primária: “Art. 5º. (...) LXVIII – Conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder” Quanto a analogia, nos diz Guilherme Nucci: No Direito Penal, a analogia somente é admitida na hipótese de beneficiar o acusado (analogia in bonam partem), não sendo, em contraponto, admissível a analogia que o prejudique (in malam partem) Lei Fonte Secundária: Analogia; Doutrina; Jurisprudência; Costumes; Princípios Gerais do Direito. - NUCCI, 2021 “Trata-se de um processo de integração da norma, visando à supressão da lacuna. Utiliza-se um ponto comum entre coisas diversas, com o fim de eliminar o vácuo existente na lei, permitindo, então, a sua aplicação ao caso concreto. Em Direito Penal, como Regra, é inaplicável, pois ofende o princípio da legalidade.” Como exemplo, vamos apreciar a aplicação dos Artigos 217-A e 218-A do Código Penal: Nesse caso, entende Nucci: - NUCCI, 2021 “Estupro de Vulnerável Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena – Reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (...) Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi- lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.” “Art. 218-B do Código Penal utiliza o termo induzir à prostituição ou outra forma de exploração sexual o menor de dezoito anos. Ora, se alguém instigar o menor à prostituição também deve responder, por analogia, pelo delito do art. 218-B do Código Penal. Evita-se, com isso, uma acusação mais grave – e injusta – de participação em estupro de vulnerável (art. 217-A, CP), caso o menor seja menor de 14 anos.” Com relação à doutrina, podemos afirmar que ela é uma fonte do direito que revela seu estudo como Ciência, mais especificamente, uma Ciência Social, de vínculo efetivo e permanente, em qualquer forma que uma Sociedade se apresente. São sábias as palavras de Silvio de Salvo Venosa com relação à importância da doutrina em qualquer Sistema Jurídico: Conhecendo o Direito sob o aspecto doutrinário, e o uso frequente da jurisdição por parte do Estado-Juiz, uma importante fonte secundária do Direito, que reforça e, na maior parte das vezes, nasce dos estudos doutrinários e da análise científica das Leis, é denominada jurisprudência. Seguindo os ensinamentos de Venosa: - VENOSA, 2022, p. 140 “Na realidade, no nosso sistema, a doutrina forma a base dos conhecimentos jurídicos de nossos profissionais, pois é ela quem os instrui nas escolas de Direito. A doutrina atua diretamente sobre as mentes dos operadores jurídicos por meio de construções teóricas que atuam sobre a legislação e a jurisprudência.” Com relação aos costumes, fonte secundária do Direito, observemos as palavras de Venosa, sobre eles: Por fim, nós nos deparamos com a última fonte secundária do Direito, que são os princípios. A expressão princípio retém consigo diversos significados, e o Dicionário Michaelis, ao desvendá-los, assim se expressa: - VENOSA, 2022, p. 135 - VENOSA, 2022, p. 131 “A jurisprudência pode ser vista sob um sentido amplo, como a coletânea de decisões proferidas por juízes e tribunais sobre determinada matéria, fenômeno ou instituto jurídico, podendo, dessa forma, agasalhar decisões contraditórias. Em sentido estrito, costuma-se referir à jurisprudência como o conjunto de decisões uniformes, isto é, no mesmo sentido, acerca de determinada questão.” “Sem que possamos precisar exatamente a origem ou seus autores, o uso reiterado de uma conduta ou atividade ganha status de costume. O uso transforma-se em costume quando a prática reiterada torna-se obrigatória na consciência social.” Princípio pode indicar o início de algo, como sua origem, como, por exemplo, podemos ver na tradução do Evangelho Segundo João, que assim se inicia: Um princípio também pode ser considerado sobre determinados valores, de caráter moral, religioso e econômico, dentre outros. Glossário Princípio: momento em que uma coisa tem origem; aquilo do qual alguma coisa procede na ordem do conhecimento ou da existência; característica determinante de alguma coisa; regras ou código de (boa) conduta pelos quais alguém governa a sua vida e as suas ações; lei, doutrina ou acepção fundamental em que outras são baseadas ou de que outras são derivadas. Fonte: https://bit.ly/3ACYJWA - João 1:1-3 “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” https://bit.ly/3ACYJWA Mas para o Direito, os princípios são de fundamental importância para a interpretação e o emprego do Sistema Jurídico como um todo, pois eles carregam consigo uma carga referencial, composta por questões históricas, filosóficas e culturais, cujo emprego e conhecimento deve ser sabido por todo aquele que opera em um ordenamento jurídico. Uma excelente concepção do valor de um princípio, que carrega um elevado grau elucidativo de seu significado e alcance, pode ser retirada das palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello, que assim nos esclarece: Dentre os mais variados conceitos sobre “princípios”, evidenciamos o de Miguel Reale, que muito bem conclui tudo que foi explanado até aqui: - MELLO, 2009, p. 882 “Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e sentido servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.” “[...] princípios gerais de direito são enunciações normativas de valor genérico que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas. Cobrem, desse Princípios do Direito Penal Aplicáveis aos Crimes de Trânsito Agora que conhecemos o real alcance dos princípios no âmbito do próprio Direito, partiremos para o estudo deles, especificamente quanto à sua aplicabilidade junto aos crimes de trânsito. Em virtude de os crimes de trânsito integrarem o Sistema Jurídico Penal Brasileiro, grande parte dos princípios que analisaremos tem aplicabilidade no Direito Penal como um todo, entretanto, iremos voltar nossa apreciação ao objeto de nosso estudo. Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal Iniciamos o estudo dos Princípios com aquele que inaugura a Parte Geral de nosso Código Penal que, além de tudo, encontra consonância com uma das garantias constitucionais ao direito de liberdade, previsto em nossa Constituição Federal, em seu Artigo 5º, Inciso XXXIX: - REALE, 1981, p. 300 modo, tanto o campo da pesquisa pura do Direito quanto o de sua atualização prática.” “Anterioridade da Lei Art. 1º – Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” Com relação ao Princípio da Legalidade, podemos dizer que somente a “Lei”, fruto de um Processo Legislativo no Congresso Nacional poderá definir determinada conduta como crime. No Brasil, a Lei Penal é uma competência legislativa privativa da União, conforme dita o Artigo 22, Inciso primeiro de nossa Lei Maior: O Código de Trânsito Brasileiro traz em seu “corpo” um capítulo próprio que trata dos crimes de trânsito: “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I – Direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.” Figura 2 Fonte: planalto.gov.br Princípio da Anterioridade da Lei Os mesmos dispositivos legais empregados no destaque ao Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal, são essenciais para abordarmos o Princípio da Anterioridade da Lei Penal, pois alguém somente poderá ser responsabilizado pela prática de um crime se a previsão in abstrato desse crime for anterior ao fato, bem como a pena a ser cominada pela conduta também seja prévia a ele. Exemplo Imaginemos que “X”, em um dia do mês de janeiro de 1997, pratica a conduta descrita no atual Código de Trânsito Brasileiro, em seu Artigo 309: “Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano: Ele poderia ser punido nos termos deste dispositivo? Não, em razão expressa do Princípio da Anterioridade, vez que a Lei nº 9.503 é de 23 de setembro de 1997, e somente entrou em vigor 120 dias após sua publicação, ou seja, no dia 22 de janeiro de 1998, conforme seu Artigo 340: Nesse caso, “X” não estaria sujeito nem ao crime, quanto mais à pena a ele cominada. Princípio da Proibição da Analogia in Malam Partem Com relação a esse princípio, podemos dizer que ele foi abordado quando tratamos da analogia como uma das fontes do Direito, inclusive do Direito Penal. Assim, é vedado, no Direito Penal, o emprego de Lei que trata de caso semelhante, por omissão legislativa, quando tal interpretação for desfavorável ao acusado ou réu. Princípio da Irretroatividade da Lei Penal Mais Severa Penas – Detenção, de seis meses a um ano, ou multa.” “Art. 340. Este Código entra em vigor cento e vinte dias após a data de sua publicação.” Podemos tratar de tal princípio no Inciso XL do Artigo 5º de nossa Constituição, como sendo uma garantia ao direito fundamental à liberdade: Este princípio também está estatuído no Parágrafo Único de Artigo 2º da Parte Geral do Código Penal vigente: Por exemplo, temos o crime previsto no Artigo 302 do CTB, que trata do homicídio culposo no trânsito, e que tinha em seu texto primário um parágrafo 2º que assim qualificava a conduta do homicídio culposo de trânsito e lhe atribuía pena: “Art. 5º. [...] XL – A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.” “Lei Penal no Tempo Art. 2º. (...) Parágrafo único – A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica- se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.” Entretanto, uma alteração legislativa promovida pela Lei nº 13.281, de 4 de maio de 2016, revogou tal dispositivo, mas a conduta qualificada foi novamente inserida no Código de Trânsito Brasileiro pela Lei nº 13.546, de 19 de dezembro de 2017, já na condição de um Parágrafo, o Parágrafo 3º, com uma pena superior à cominada anteriormente: “Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: (...) § 2º. Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente: Penas – Reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.” “Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: (...) § 3º. Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Penas – reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.” Nesse caso, não se pode aplicar a regra da nova Lei aos fatos anteriores a ela. Princípio da Fragmentariedade Não seria conveniente e nem possível o Direito Penal e, mais precisamente, a Parte Específica dele, aplicada pela nossa Legislação de Trânsito, regular todos os interesses jurídicos. Por isso, o legislador destaca aqueles que mais agridem e os tipifica como infração penal. Por exemplo, o legislador preferiu regular por punição, no campo do Direito Administrativo de Trânsito, o comportamento do condutor de um veículo que, em movimento, deixar durante a noite de acender a luz baixa, ao invés de tipificá-la como crime, ainda que tal prática possa ser considerada uma postura de perigo: Princípio da Intervenção Mínima Como visto, o Direito Penal carrega consigo a possibilidade da aplicação da pena mais severa do Sistema Jurídico brasileiro, que é a pena privativa de liberdade. Por tal fato, e mesmo para que a capacidade de resposta do Estado na persecução penal seja efetiva, cabe ao legislador buscar alternativas entre os demais ramos do Direito para solucionar “Art. 250. Quando o veículo estiver em movimento: I – Deixar de manter acesa a luz baixa: a) durante a noite (...) Penalidade – multa.” certos conflitos, somente fazendo uso da criminalização de condutas como uma última alternativa. A aplicabilidade de tal princípio pode ser vista na Legislação de Trânsito, na qual o CTB enquadra como infração administrativa – e não penal – a conduta do agente que: Princípio da Lesividade Também conhecido como Princípio da Ofensividade, tem relação muito próxima ao que vimos no princípio anterior, pois preconiza que somente cabe ao Estado intervir no âmbito penal, quando uma conduta hipotética exponha a perigo certo bem jurídico que careça de proteção normativa, com o fulcro de ser preventiva e repressivamente preservada. Resumindo, deve existir equilíbrio entre a conduta do legislador ao editar uma Norma Penal e a real necessidade dela para a proteção de determinado bem ou interesse jurídico. Princípio da Insignificância Tal princípio, em consonância com outros abordados, leva em consideração que ação da Norma Penal somente merece apreço quando exista mínima lesividade ao bem jurídico tutelado pela “Art. 253-A. Usar qualquer veículo para, deliberadamente, interromper, restringir ou perturbar a circulação na via sem autorização do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre ela Infração – Gravíssima; Penalidade – Multa (vinte vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses.” Legislação Penal, podendo ser considerados atípicos “pequenos aranhões” a determinados bens jurídicos. Sobre esse princípio, vale mencionar a citação honrosa feita pelo relator Ministro Gilmar Mendes à Damásio Evangelista de Jesus no julgamento do Habeas Corpus nº 115.383, Rio Grande do Sul, em 25 de junho de 2013: Princípio da Culpabilidade Com relação à culpabilidade, devemos nos lembrar que ela é um dos elementos que integram o conceito tripartite de crime. Sendo assim, ela é essencial para sua existência. A culpabilidade trata-se do juízo de reprovação da conduta, essencial para a imposição e o cálculo da pena, como muito bem enfatiza Damásio de Jesus: - JESUS, D. E. Direito Penal, Parte Geral. 27ª. ed., p. 10. São Paulo: Saraiva, 2003 “Ligado aos chamados “crimes de bagatela” (ou “delitos de lesão mínima”), recomenda que o Direito Penal, pela adequação típica, somente intervenha nos casos de lesão jurídica de certa gravidade, reconhecendo a atipicidade do fato nas hipóteses de perturbações jurídicas mais leves (pequeníssima relevância material). Esse princípio tem sido adotado pela nossa jurisprudência nos casos de furto de objeto material insignificante, lesão insignificante ao Fisco, maus-tratos de importância mínima, descaminho e dano de pequena monta, lesão corporal de extrema singeleza etc. Hoje, adotada a teoria da imputação objetiva, que concede relevância à afetação jurídica como resultado normativo do crime, esse princípio apresenta enorme importância, permitindo que não ingressem no campo penal fatos de ofensividade mínima.” Desse modo, podemos perceber que a culpabilidade é cabível somente ao autor da conduta descrita no tipo penal previsto em Lei, com, por exemplo, o delito previsto no Artigo 308 do CTB: Nesse caso, ao avaliar a culpabilidade, o juiz leva em conta aquele que praticou a conduta prescrita no mencionado tipo penal: - DAMÁSIO, 2020, p. 485 “Assim, a imposição da pena depende da culpabilidade do agente. Além disso, a culpabilidade limita a quantidade da pena: quanto mais culpável o sujeito, maior deverá ser a quantidade da sanção penal.” “Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada: Penas – Detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.” Princípio de Humanidade O Princípio de Humanidade deriva do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, cuja previsibilidade constitucional, deve influenciar todo o ordenamento jurídico pátrio. Cabe mencionar as palavras do constitucionalista português Jorge Miranda, citadas por Flávia Piovesan, a respeito da importância da dignidade da pessoa humana, ou seja, do Princípio de Humanidade, aplicado ao Direito Penal: - MIRANDA, apud PIOVESAN, 2018, p. 105 “Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)” “A Constituição confere uma unidade de sentido, de valor e de concordância prática ao sistema dos direitos fundamentais. E ela repousa na dignidade da pessoa humana, ou seja, na concepção que faz a pessoa fundamento e fim da sociedade e do Estado.” Como garantia a esse princípio penal e constitucional, podemos mencionar alguns dispositivos constitucionais garantidores: Princípio da Proporcionalidade da Pena Conhecido também como Princípio da Proibição do Excesso, trata-se de um verdadeiro indicativo de aplicabilidade do Direito, levando em consideração que a pena deve ser correspondente à conduta do autor e associada à sua culpabilidade. Por isso, a culpabilidade é utilizada pelo juiz na definição da pena-base da Sentença Penal Condenatória, orbitando entre o mínimo e o máximo aplicável à conduta. “Art. 5º. (...) LIII – Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; LIV – Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; LV – Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; LVI – São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; LVII – Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.” Pensando nisso é que o legislador, ao prever a pena in abstrato de um crime, leva em consideração a pena mínima e a máxima, atribuída ao crime, de modo abstrato, bem como leva em consideração o bem ou interesse lesado pela hipotética conduta. Como exemplo, temos o delito do Artigo 306 do CTB, que criminaliza a conduta daquele que conduz veículo automotor embriagado, atribuindo uma previsão abstrata da pena mínima e da máxima. Fazendo uma comparação com o delito do Artigo 307 do CTB, percebemos que ele também apresenta uma pena, mas menor que a prevista no Artigo 306, pois leva em consideração o bem jurídico ou material a ser ofendido pelo autor da conduta: “Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: Penas – Detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.” “Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código: Penas – Detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.” Princípio do Estado de Inocência Com relação ao Princípio do Estado de Inocência, podemos dizer que ele faz “parceria” com o Princípio da Humanidade. Trata-se de uma garantia ao direito fundamental de liberdade e de propriedade e está transcrito no Artigo 5º, Inciso LVII, da Constituição: Princípio de Igualdade Um dos direitos fundamentais transcritos em nossa Constituição Federal é o Princípio de Igualdade. “Art. 5º. (...) LVII – Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; ” “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a Este princípio é muito importante, a ponto de inaugurar o Artigo que abre, em nossa Constituição, os Direitos e Garantias Fundamentais. Esse princípio está inserido em todo o Sistema Jurídico e, por conta disso, também no Direito Penal. E é assim descrito por Damásio de Jesus: Princípio do Ne Bis in Idem Este princípio é uma garantia em todo Sistema Jurídico, entretanto, para sua aplicabilidade, duas questões devem ser levadas em conta: a primeira, de ordem material, e a segunda, relativa ao ramo específico do Direito. Assim, ninguém pode ser punido pelo mesmo fato, pelo mesmo ramo específico do Direito. Exemplo - DAMÁSIO, 2020, p. 55 inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.” “Todos são iguais perante a lei penal (CF, art. 5º, caput), não podendo o delinquente ser discriminado em razão de cor, sexo, religião, raça, procedência, etnia etc.” Imaginemos que “X”, conduzindo um veículo, fez uma manobra perigosa, em desrespeito às normas de trânsito. Interceptado por uma Equipe da Polícia, esta constatou que o ele não portava, tinha permissão ou autorização para conduzir veículo automotor. Nessa hipótese, “X” cometeu tanto uma infração administrativa, prevista no Artigo 232 do CTB, quanto uma infração penal, descrita no Artigo 309 do mesmo Código. Dessa forma, “X” poderá ser punido, administrativa e penalmente, por sua única conduta. “Art. 232. Conduzir veículo sem os documentos de porte obrigatório referidos neste Código: Infração – Leve. Penalidade – Multa.” “Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano: Penas – Detenção, de seis meses a um ano, ou multa. Medida administrativa – Retenção do veículo até a apresentação do documento.” Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura O Código de Trânsito Brasileiro à Luz dos Princípios do Direito Sancionador Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE O Princípio Ne Bis in Idem no Direito de Trânsito Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Código de Trânsito Brasileiro – CTB O Código de Trânsito Brasileiro traz em seu “corpo” um capítulo próprio que trata dos crimes de trânsito. 2 / 3 ˨ Material Complementar https://jus.com.br/artigos/12974/o-codigo-de-transito-brasileiro-a-luz-dos-principios-do-direito-sancionador https://advocaciavagneroliveira.jusbrasil.com.br/artigos/648409049/o-principio-ne-bis-in-idem-no-direito-de-transito Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Código Penal Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE https://bit.ly/3G5WQ6B https://bit.ly/3qW2AJY BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. ________. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 dez. 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-Lei/del2848compilado.htm>. ________. Lei nº 9.099, de 26 set. 1995. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9099.htm>. ________. Lei nº 9.503, de 23 de set. 1997. Código de Trânsito Brasileiro – CTB. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9503compilado.htm>. CAPEZ, F.; GONÇALVES, V. E. R. Aspectos Criminais do Código de Trânsito Brasileiro. 3ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2015 (e-book). ESTEFAM, A.; GONÇALVES, V. E. R. Direito Penal Esquematizado. Coleção Esquematizado. 9ª. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020 (e-book). GONÇALVES, V. E. R.; BALTAZAR JUNIOR, J. P. Legislação Penal Especial Esquematizada. 7ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2021 (e-book). GONZAGA, C. Manual de Criminologia. 2ª. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020 (e-book). 3 / 3 ˨ Referências JESUS, D. Crimes de trânsito: Anotações à Parte criminal do Código de Trânsito (Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997). 8ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. ________. Direito penal, volume 1: Parte Geral. 32ª. ed. São Paulo : Saraiva, 2011. ________. At: ESTEFAM, A. Direito penal. Volume 1. 37º. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020 (e-book). LIMA, M. P. Crimes de trânsito: Aspectos Penais e Processuais. 2ª. ed. São Paulo: Atlas, 2015 (e- book). MEIRELLES, H. L. Direito Municipal Brasileiro. 5ª. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1985. MELO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo. 26ª. ed. São Paulo: Malheiros. 2009. MORAES, A. Direito Constitucional. 35ª. ed. São Paulo: Atlas, 2019 (e-book). NUCCI, G. S. Direito Penal: partes geral e especial. 7ª. ed. Rio de Janeiro: Forense: Método, 2021 (e-Book). PACELLI, E. Manual de Direito Penal: parte geral. 6ª. ed. São Paulo: Atlas, 2020 (e-book). PIOVESAN. F. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 8ª. ed. rev. amp. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. RÁO, V. O direito e a vida dos direitos. São Paulo: Max Limonad, 1952. SILVA, P. Vocabulário jurídico. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991. VENOSA, S. S. Introdução ao estudo do direito. 7ª. ed. 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