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Legislação Penal Relacionada Ao Trânsito 5

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Conteudista: Prof. Dr. Tercius Zychan de Moraes
Revisão Textual: Maiara Stéfani Costa Brandão
 
Objetivos da Unidade:
Conhecer e compreender quais são as penas cabíveis aos crimes de trânsito;
Como se dá a persecução penal em relação a estes crimes.
˨ Material Teórico
˨ Material Complementar
˨ Referências
Crimes de Trânsito: das Penas e da Ação Penal
Das Penas dos Crimes de Trânsito
Antes de iniciarmos a análise sobre os crimes de trânsito, é importante abordarmos o disposto
no artigo 291 do nosso Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que trata:
Diante da leitura e interpretação desse artigo, podemos perceber que o CTB trouxe em seu bojo
condutas específicas, criando os chamados “tipos penais de trânsito”, bem como as situações
que qualificam tais delitos e suas causas de aumento de pena, tudo, em consonância à
objetividade jurídica pretendida pelo legislador ao disciplinar o tema. Em suma, trouxe à norma
objetiva, prevenção e repressão às condutas delituosas, cuja origem seria uma “relação social de
trânsito”.
1 / 3
˨ Material Teórico
-  BRASIL, 1997
“Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos
neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de
Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº
9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.”
Assim, o mesmo legislador, reconhecendo a maturidade e a necessidade de uniformidade nos
aspectos gerais do direito penal brasileiro, aplica um de seus princípios que é denominado de
“especialidade”, no sentido de prevenir e reprimir condutas relacionadas especificamente às
relações sociais oriundas do “trânsito”.
O princípio da especialidade deriva de um princípio do direito romano, expresso da seguinte
forma: Lex specialis derogat legi generali. A tradução mais próxima desta expressão escrita em
latim seria: a norma especial afasta a aplicabilidade da norma geral.
Quanto aos crimes de trânsito, o CTB, no artigo em comento, nos deixa claro que na ausência de
norma específica, deve-se fazer o emprego da norma geral, seja ela disposta no Código Penal,
Código de Processo Penal ou na Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995 (Juizados Especiais Cíveis
e Criminais).
No tocante à questão que envolve a materialização da pena, em virtude de ser esta imputada, para
aquele que tenha responsabilidade penal diante da prática de um ato ilícito, apurado sob o manto
do “devido processo legal”, a cominação da sanção estatal deverá considerar o emprego do
princípio da especialidade, ou seja, aplica-se a norma especial e, nas questões indefinidas por
esta, emprega-se a norma geral.
As penas cabíveis aos crimes de trânsito, embora possam variar diante da aplicação do princípio
da especialidade, são as mesmas previstas no Código Penal:
Figura 1 – Penas aos crimes de trânsito
Pena Privativa de Liberdade
Já para as penas privativas de liberdade, o CBT adotou as regras de sua definição material,
seguindo o critério adotado na parte geral do atual Código Penal, como delibera o parágrafo 4º do
artigo 291 do CTB, ao positivar que para dimensionar a pena para os crimes de trânsito, o juiz
adotará na definição da pena base “as diretrizes” do artigo 59 daquele código.
 Deste modo, fica claro que o CTB adotou o “Método Trifásico”, estabelecido pelo Professor
Nelson Hungria, ao interpretar o artigo 68 do Código Penal:
-  BRASIL, 1997
“Art. 291. [...]
§ 4º. O juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes previstas no art. 59 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), dando especial
atenção à culpabilidade do agente e às circunstâncias e consequências do crime.”
“Cálculo da Pena
Relembrando, para o estabelecimento da pena base, o juiz da sentença aplica as denominadas
circunstâncias judiciais, descritas no artigo 59 do Código Penal, devendo ater-se na pena
prevista para o crime in abstrato, de modo que não poderá atribuir uma pena inferior à mínima
prevista pelo legislador, nem superar a máxima.
Na sequência, para a definição da denominada “pena intermediária”, observam-se as
circunstâncias agravantes, descritas nos artigos 61 e 62 do Código Penal, bem como as
circunstâncias atenuantes, estas descritas nos artigos 65 e 66 do mesmo código.
Cabe observar que o CTB prevê circunstâncias agravantes a serem consideradas de forma
especial no caso dos crimes de trânsito:
-  BRASIL, 1940
Art. 68. A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código;
em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por
último, as causas de diminuição e de aumento”
“Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de
trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:
I – Com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave
dano patrimonial a terceiros;
II – Utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;
III – Sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
O entendimento, tanto do Supremo Tribunal Federal (STF), quanto do Superior Tribunal de
Justiça, é que diante de uma agravante, a pena base deve ser aumentada de 1/6 e cada atenuante
diminuída em 1/6.
Assim, no confronto entre agravantes e atenuantes, uma anularia a outra, a não ser na hipótese
de estarem presentes as chamadas agravantes, conhecidas como “preponderantes”, as quais
prevalecem sobre qualquer atenuante.
As agravantes preponderantes estão mencionadas no artigo 67 do Código Penal:
-  BRASIL, 1997
IV – Com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente
da do veículo;
V – Quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte
de passageiros ou de carga;
VI – Utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou
características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com
os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante;
VII – Sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a
pedestres.”
“Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes
De tal sorte, podemos concluir que as agravantes voltadas à reincidência, à idade do autor, sua
personalidade e à motivação do crime devem prevalecer sobre as atenuantes.
Com relação às agravantes preponderantes, cabe destacar a reincidência, pois, ela demonstra
que o sistema jurídico penal de prevenção ou de repressão ao crime não tem sido eficiente,
fazendo com que o apenado tenha um aumento na penalidade a ser aplicada.
Quanto a reincidência, cabe observar o que mencionam dois dispositivos do nosso Código Penal,
sendo respectivamente seus artigos 63 e 64:
- BRASIL, 1940
Art. 67. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do
limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as
que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e
da reincidência.”
“Reincidência
Art. 63. Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de
transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado
por crime anterior. 
Art. 64. Para efeito de reincidência: 
I – Não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou
extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a
Em uma interpretação sumária dos dispositivos, fica entendido que ocorrerá a reincidência
quando o réu for condenado pela prática de um crime, existindo condenação anterior transitada
em julgado e que não tenha ultrapassado o prazo de cinco anos a contar do cumprimento
daquela pena ou de sua extinção.
Destacando que não sendo cometido qualquer delito após o prazo abordado, o indivíduo será
considerado tecnicamente primário. Nesta fase, não poderá existir a deliberação por parte do
magistrado de pena inferior à prevista in abstrato para o crime, nem superior.
Por fim, entramos na última fase, conhecida como aquela que estabelecerá a “pena definitiva”,
ou “pena em concreto”. Nesta fase, aplicam-se as causas de aumento e diminuição da pena,
descritas nos crimes propriamente ditos, bem como na parte geral de nosso Código Penal.
Importante destacar que, aqui, a pena poderá ser inferior à estabelecida no tipo penal, bem como
ser superior à previsão também nele estabelecida.
Um exemplo de uma causa de aumento de pena descrita para o crime de homicídio culposo de
trânsito, encontra-se no parágrafo 1° do artigo 302 do CTB:
- BRASIL, 1940
5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento
condicional, se não ocorrer revogação;
 II – Não se consideram os crimes militares próprios e políticos.”
“Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Em uma situação hipotética, imaginemos que determinado autor da conduta descrita neste tipo
penal fora condenado pela prática de um homicídio culposo de trânsito. O juiz da sentença ao
calcular a pena, a definiu após a aplicação do método trifásico, nas suas duas primeiras fases,
sendo a pena intermediária definida em quatro anos. Contudo, o infrator da lei cometera o crime
sobre a faixa de pedestre.
No caso específico, o magistrado poderá aplicar uma pena de até 6 anos, diante do previsto no
parágrafo 1º, inciso II do artigo 302 do CTB.
Neste caso, a pena definitiva poderá ultrapassar a pena máxima prevista para o crime in abstrato,
que nos termos do caput do artigo 302 é de 4 anos.
- BRASIL, 1997
Penas – Detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente:       
I – Não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;         
II – Praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;         
III – Deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
vítima do acidente.”
Figura 2 
Fonte: Adaptada de Getty Images 
Pena Restritiva de Direitos
Para tratarmos das penas restritivas de direitos, devemos pontuar algumas questões
fundamentais para a apresentação do tema.
A primeira questão é o imperativo colocado no caput do artigo 44 do nosso Código Penal:
- BRASIL, 1940
“Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas
de liberdade.”
Deste modo, podemos entender que embora a pena restritiva de direitos substitua a pena
privativa de liberdade, atendido aos requisitos legais, será ela uma pena autônoma.
Outra questão relevante, em relação à aplicação das penas restritivas de direitos, já que substitui
a pena privativa de liberdade, é que o juiz da sentença, adotando os critérios já comentados,
deverá estabelecer a pena privativa de liberdade, para que, atendendo os requisitos legais, seja
estabelecida a pena restritiva de direitos.
São estas condições:
Mesmo havendo o óbice da reincidência, prevê, o artigo 44 do Código Penal, a possibilidade de
aplicação da conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos, desde que
atendida a regra do parágrafo 3º do mesmo dispositivo:
A pena aplicada não for superior a 4 anos, desde que o crime
doloso não tenha sido praticado com violência ou grave ameaça
à pessoa ou tratando-se de crime culposo, qualquer que tenha
sido a pena aplicada;
O réu não pode ser reincidente na prática de crime doloso;
A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado,
bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja
suficiente.
“Art. 44. [...]:
Sendo assim, podemos perceber que mesmo sendo reincidente, a substituição da pena privativa
de liberdade em restritiva de direitos será pertinente quando:
O Código Penal no artigo 43 anuncia quais são as penas restritivas de direito:
- BRASIL, 1940
A medida seja adequada sob o ponto de vista social;
Não estiver presente a hipótese da denominada “reincidência específica”, a qual se
dá quando existe condenação anterior pelo mesmo crime que se deu a nova
condenação.
§ 3º. Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde
que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a
reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.”
“Art. 43. As penas restritivas de direitos são:
I – Prestação pecuniária;
II – Perda de bens e valores;
III – (VETADO)
IV – Prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
Com relação aos crimes de trânsito, nosso CTB apresenta algumas questões específicas sobre a
aplicação da pena restritiva de direitos.
Preliminarmente, o dispositivo do artigo 312-A indica que sendo cabível a substituição da pena
privativa de liberdade por uma pena restritiva de direitos, deve-se preferir que seja aplicada a
prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas, sendo indicado o rol dos serviços:
- BRASIL, 1940
V – Interdição temporária de direitos;
VI – Limitação de fim de semana.”
“Art. 312-A.  Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código, nas
situações em que o juiz aplicar a substituição de pena privativa de liberdade por
pena restritiva de direitos, esta deverá ser de prestação de serviço à comunidade ou
a entidades públicas, em uma das seguintes atividades:   
I – Trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos corpos de bombeiros e
em outras unidades móveis especializadas no atendimento a vítimas de trânsito; 
II – Trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais da rede pública que
recebem vítimas de acidente de trânsito e politraumatizados;
III – Trabalho em clínicas ou instituições especializadas na recuperação de
acidentados de trânsito;
A segunda observação está insculpida na Lei 14.071, de 13 de outubro de 2020, que, entre diversas
alterações no CTB, inseriu na legislação o artigo 312-B, impedindo a conversão da pena privativa
de liberdade em pena restritiva de direitos para os crimes de homicídio culposo e lesão corporal
nos crimes de trânsito quando:
- BRASIL, 1997
Homicídio culposo na condução de veículo automotor quando o
agente estava sob a influência de álcool ou de qualquer outra
substância psicoativa que determine dependência – art. 302, §
3º, do CTB;
Lesao corporal na condução de veículo automotor se o agente conduz o veículo com
capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra
substância psicoativa que determine dependência ou se do crime resultar lesão
corporal de natureza grave ou gravíssima – art. 303, § 2º, do CTB.
- BRASIL, 1940
IV – Outras atividades relacionadas ao resgate, atendimento e recuperação de
vítimas de acidentes de trânsito.”
“Art. 312-B. Aos crimes previstos no § 3º do art. 302 e no § 2º do art. 303 deste
Código não se aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 do Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940.”
A Suspensão ou a Proibição de se obter a Permissão ou a Habilitação
para Dirigir Veículo Automotor
Uma medida de extrema relevância inserida no CTB é a que trata da medida cautelar, a ser
aplicada de forma isolada ou cumulativa na sentença condenatória, a possibilidade de:
Quanto à medida cautelar, nos termos do artigo 294 do CTB, esta poderá ser aplicada durante a
persecução penal, seja na fase do inquérito policial, ou na propositura da ação penal, ou ainda,
durante o percurso desta.
Suspensão da permissão ou habilitação;
Proibição de se obter a permissão ou habilitação.
- BRASIL, 1997
“Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade
para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou
a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da
autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou
da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar,
ou da
que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido
estrito, sem efeito suspensivo.”
O presente dispositivo deixa claro que a aplicação da medida cautelar em comento dependerá da
decisão do juiz, sendo cabível contra esta, por se tratar de uma decisão interlocutória, o Recurso
em Sentido Estrito (RSE). Este recurso poderá ser aplicado na decisão do magistrado que
conceder a medida a pedido do Ministério Público ou, ainda, poderá ser proposta a medida de
súplica se houver o indeferimento do pleito do parquet (Ministério Público).
A propositura da medida cautelar é de extrema importância, quando o resultado do crime
praticado demonstrar um elevado grau de perigo daquele condutor investigado ou denunciado
na ação penal.
Em sendo cautelar, a medida imposta terá duração até a sentença condenatória ou, em havendo
recurso contrário à sua imposição, até o julgamento deste. Na hipótese da condenação, a
penalidade do artigo 294 será aplicada como pena restritiva de direitos. 
Com relação a essa situação, vejamos algumas observações importantes:
Na hipótese do réu sentenciado ser reincidente de qualquer crime previsto no CTB, o
magistrado irá aplicar a penalidade, sem que exista qualquer prejuízo às outras
sanções pertinentes. Esta condição é que torna a adoção dessa medida legal como
cumulativa às demais penas restritivas de direito;
O prazo de cumprimento dessa penalidade poderá variar entre dois meses a cinco
anos, conforme preconizar à sentença condenatória;
Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, o sentenciado deverá ser
intimado para proceder à entrega de sua carteira nacional de habilitação, ou de sua
permissão para conduzir veículo automotor, devendo fazê-lo no prazo de 48 horas,
a contar do recebimento desta intimação;
Uma questão relevante com relação ao prazo de cumprimento dessa medida é que
em havendo condenação a pena privativa de liberdade, a contagem da suspensão
somente se iniciará após o cumprimento do mandado de prisão e o recolhimento do
condenado em estabelecimento prisional.
Cabe como observação, a respeito da suspensão, que sendo esta aplicada como medida cautelar,
ou como pena restritiva de direitos, caberá uma comunicação, a ser feita pelo magistrado da
decisão ou da sentença, ao Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), além do órgão de
trânsito estadual de domicílio ou residência do sentenciado.
Com relação à aplicação da medida cautelar ou da pena restritiva, a prevenção e a repressão para
o cumprimento da conduta são fundamentais, visto o que dispõe o caput do artigo 307, para
aquele que violar a suspensão da permissão ou da habilitação, conduzindo veículo automotor,
bem como a figura equiparada do parágrafo único do mesmo artigo, referente àquele que
intimado à suspensão deixar de entregar a permissão ou a carteira nacional de habilitação.
- BRASIL, 1997
“Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter a
permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela autoridade judiciária ao
Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Estado em
que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente.”
“Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código:
Penas – Detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional
de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.
A Multa Reparatória
A previsibilidade da multa reparatória está disposta no artigo 297 do nosso CTB:
Ou seja, o dispositivo em comento indica que para fixação da pena de “multa reparatória”, o juiz
seguirá as regras estampadas no parágrafo 1º do artigo 49 do Código Penal:
- BRASIL, 1997
- BRASIL, 1997
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no
prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de
Habilitação.”
“Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante
depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com
base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo
material resultante do crime.
§ 1º. A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado
no processo.
§ 2º. Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código Penal.
§ 3º. Na indenização civil do dano, o valor da multa reparatória será descontado.”
Ocorre que nos crimes de trânsito, a aplicabilidade da pena de multa reparatória não integra
nenhum tipo penal específico, nem substitui uma pena restritiva de direitos ou privativa de
liberdade, ou seja, é discrepante em relação à pena de multa descrita no Código Penal, tendo
como ponto tangente, tão somente a mesma regra de cálculo, isto é, as regras do artigo 49 que
citamos. 
No Código Penal, a pena de multa é descrita na parte geral, em dois dispositivos. O primeiro no
artigo 44, § 2º, como uma medida substitutiva à pena restritiva de direitos:
- BRASIL, 1940
“Art. 49. A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia
fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no
máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. 
§ 1º. O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um
trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior
a 5 (cinco) vezes esse salário (BRASIL, 1940)”
“Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas
de liberdade, quando:
[...]
A outra previsão, encontra-se no parágrafo 2º do artigo 60, que prevê a possibilidade de
aplicação da pena de multa em substituição à pena privativa de liberdade quando esta não for
superior a seis meses:
Diversos tipos penais, na parte especial do Código, tratam da pena de multa, ora como
acumulativa, ora como alternativa.
- BRASIL, 1940
- BRASIL, 1940
§ 2º. Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por
multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa
de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por
duas restritivas de direitos.”
“Art. 60. Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à
situação econômica do réu.
[...]
Multa substitutiva
§ 2º. A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis) meses, pode ser
substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44
deste Código.”
Neste caso, destaquemos o descrito no artigo 58 do Código Penal:
Deste modo, a crítica é que o dispositivo do caput do artigo 297 é enfático em tratar da multa
reparatória como uma verdadeira antecipação de responsabilidade civil, a qual deveria fazer
parte de uma deliberação mais específica em uma ação civil, atendendo os dispositivos
pertinentes do Código Civil, artigo 186 e do artigo 927.
- BRASIL, 1940
- BRASIL, 2002
“Art. 58. A multa, prevista em cada tipo legal de crime, tem os limites fixados no
art. 49 e seus parágrafos deste Código.
Parágrafo único. A multa prevista no parágrafo único do art. 44 e no § 2º do art. 60
deste Código aplica-se independentemente de cominação na parte especial.”
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.”
Sob este prisma, a aplicação de uma sanção civil em um processo penal, seguindo o deliberativo
para seu cálculo as regras do Código Penal, entretanto não sendo esta abordada em juízo
competente que seria o juízo civil, fere o preceito do devido processo legal, bem como de seus
subjacentes como os princípios do contraditório e da ampla defesa, todos dispostos no artigo 5º
da Constituição Federal:
Ação Penal nos Crimes
de Trânsito
No tocante à “ação penal”, antes de abordá-la, especificamente com relação aos crimes de
trânsito, faremos uma pequena introdução ao tema.
Para Guilherme Nucci (2021), a ação penal deve ser assim compreendida:
- BRASIL, 1988
“Art. 5º. [...]
LIII – Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;
[...]
LV – Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes.”
Figura 5
Com relação aos crimes de trânsito, a ação penal é pública incondicionada, ou seja, a persecução
penal e a proposta pelo Ministério Público da denúncia junto ao juízo criminal competente dar-
se-ão sem interferência direta da vítima ou de seu representante legal.
Uma questão importante sobre a ação penal pública incondicionada é que tanto a apuração da
infração penal, por intermédio do inquérito policial, bem como o oferecimento da denúncia pelo
parquet se submetem ao chamado princípio da obrigatoriedade. O princípio da obrigatoriedade
- NUCCI, 2021
“É o direito do Estado-acusação ou da vítima de pedir a prestação jurisdicional, na
esfera criminal, aplicando-se o direito ao caso concreto. Conforme a iniciativa, a
ação pode ser pública (ajuizada pelo Ministério Público) ou privada (proposta pelo
ofendido ou seu representante legal). Como regra, é pública, salvo quando a lei
expressamente mencionar ser de iniciativa particular (art. 100, CP).”
impõe ao Ministério Público o poder/dever de propor a ação penal, inspirado tão somente no
interesse da sociedade.
Quanto à obrigatoriedade da Ação Penal Pública Incondicionada, no tocante aos crimes de
trânsito e ao crime de lesão corporal previsto no artigo 303 do CTB, será proposta mediante ação
penal pública condicionada, por intermédio de representação da vítima ou de seu representante
legal:
Tal distinção, decorre do que preconiza o artigo 291 do CTB, combinado com o artigo 88 da Lei
9.099/95:
- BRASIL, 1997
“Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas – Detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.”
“Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos
neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de
Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº
9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.
- BRASIL, 1997
- BRASIL, 1995
§ 1º.  Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos
arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente
estiver:     
I – Sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência;         
II – Participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição
automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo
automotor, não autorizada pela autoridade competente;         
III – Transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50
km/h (cinquenta quilômetros por hora).”
“Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas.”
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
  Leitura  
A Aplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais
sobre os Onze Crimes Previstos no CTB
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
O Cabimento do Acordo de não Persecução Penal em Casos
de Homicídios na Direção de Veículo Automotor
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
2 / 3
˨ Material Complementar
https://jus.com.br/artigos/2045/a-aplicabilidade-da-lei-dos-juizados-especiais-criminais-sobre-os-onze-crimes-previstos-no-ctb
https://jus.com.br/artigos/91420/o-cabimento-do-acordo-de-nao-persecucao-penal-em-casos-de-homicidios-na-direcao-de-veiculo-automotor/3
Código de Trânsito Brasileiro (CTB)
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
Código Penal
Clique no botão para conferir o conteúdo.
ACESSE
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da
República, 2020. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituiçao.htm.>. Acesso em: 10/11/2021.
BRASIL. Decreto-lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF: Presidência
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