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Queimaduras: Classificação e Tratamento

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Clínica Cirúrgica I 
Queimaduras 
❖ A pele é o maior órgão do corpo humano, atuando na hemo e termorregulação, 
eliminação de toxinas, proteção e estética. É um órgão que apresenta, como camadas, 
a epiderme, derme e hipoderme. 
❖ Uma queimadura consiste em uma lesão de tecidos orgânicos em decorrência de um 
trauma de origem termina, elétrica ou radiativa. Ocorre mais em idosos e sexo masculino. 
CLASSIFICAÇÃO 
DE ACORDO COM A ETIOLOGIA: 
❖ Térmicas: causadas pelo calor de qualquer fonte, como água quente, óleo quente, 
superfícies (cada uma com uma gravidade diferente, pois cada substancia perde calor 
de forma e velocidades diferentes). 
❖ Química: provocadas por ácidos e bases. 
❖ Elétricas: provocadas por correntes elétricas intensas. Nesse caso, deve-se atentar ao 
risco de rabdomiólise (pois a corrente elétrica lesiona os músculos do corpo) e arritmias. 
❖ Por radiação: provocada por radiação nuclear ou ultravioleta (solar). 
QUANTO A PROFUNDIDADE: 
❖ Primeiro grau: atinge apenas a epiderme, causando um eritema. Tratado com analgesia 
e hidratação tópica. 
❖ Segundo grau: atinge a derme, causando uma hiperemia bolhosa (pelo descolamento 
da epiderme da derme). Pode ser superficial ou profunda, diferenciado pelo tempo de 
cicatrização (variam de 14 a 28 dias). Tratadas com curativos, com muita atenção no uso 
de pomadas e evitando infecções (alto risco de complicarem em terceiro grau). 
❖ Terceiro grau: atinge a hipoderme, causando uma lesão na cor branco-nacarado ou 
segmentos necróticos. Essa pele não é mais viável, logo, deve-se fazer o debridamento 
da área queimada (retira a área inviável) e faz-se um enxerto local, em centro cirúrgico. 
DE ACORDO COM A EXTENSÃO: (AVALIA PROGNÓSTICO) 
❖ Pode-se usar os mapas de Lund e Browder (porcentagens pré-determinadas por local e 
idade) ou a regra dos nove: 
✓ Cabeça: 9% (metade na frente e 
metade atrás) 
✓ Tórax: 18% (metade na frente e 
metade atrás) 
✓ Abdome: 18% (metade na frente e 
metade atrás) 
✓ Membro superior: 9% cada (metade 
na frente e metade atrás) 
✓ Membro inferior: 18% cada (metade 
na frente e metade atrás) 
✓ Mão: 1% cada face 
Esse cálculo é importante pois determina como será feito a hidratação EV de cada paciente. 
FISIOPATOLOGIA DAS QUEIMADURAS 
❖ A queimadura induz uma lesão direta dos capilares que libera LPC (complexo proteico) 
que libera substâncias vasoativas. Essas substâncias atuam aumentando a 
permeabilidade capilar e extravasamento de líquidos e proteínas, fazendo com que a 
pressão hidrostática do vaso fique reduzida. Esse processo pode evoluir com edema, 
insuficiência renal e choque hipovolêmico, o que justifica a necessidade de reposição 
volêmica. 
COMPLICAÇÕES 
❖ Como todo politraumatizado, o paciente queimado sofrerá uma resposta metabólica 
exacerbada, com aumento do catabolismo, imunossupressão, acidose metabólica, 
hipotermia, distúrbios hidroeletrolíticos, lesões de vias aéreas (na presença de edema 
oral, compreende-se que há elevado risco de ocorrer edema e compressão de vias 
aéreas, sugerindo que é necessária uma intubação emergencial). 
❖ Na primeira semana, pode ocorrer infecções de pele ou generalizada (sepse), íleo 
paralítico (ausência de peristaltismo, nesse caso, pelo edema decorrente da inflamação 
sistêmica), pancreatite e disfunção hepática 
❖ De forma mais tardia, tem-se uma desnutrição, broncopneumonia e complicações 
cicatriciais (queloides, contraturas e despigmentação). 
CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO 
✓ Queimaduras de face; 
✓ Queimadura de dedos (pelo risco de contraturas sequelares); 
✓ Queimadura de períneo (pelo risco de infecção); 
✓ Idade < 1 ano e idosos; 
✓ Queimaduras de 2° grau em 15% a 20% de área atingida; 
✓ Queimaduras de 3° grau de 10% de superfície queimada. 
TRATAMENTO 
❖ Incialmente, faz-se o ABCDE do trauma, investigar traumas associados (pelo risco iminente 
de complicações), determinar se o acidente ocorreu em local fechado (haverá risco de 
aspiração de fumaça) e determinar a causa da queimadura. 
❖ Em sequência, deve-se garantia uma via aérea definitiva, oferecer oxigênio (uma 
dispneia suspeita pode indicar inalação de gás carbônico). Ainda, deve-se hidratar o 
paciente de forma endovenosa pela Regra de Parkland, isto é, utilizar de 2 a 4 ml/kg de 
solução cristaloide (ringer lactato é o melhor) multiplicado pela Superfície Corpórea 
Queimada (se a SQC for 20%, multiplica-se o valor por 20), sendo, do total encontrado, 
50% nas primeiras 8h e os outros 50% nas próximas 16h. 
❖ O sucesso da hidratação é garantido pela monitorização do débito urinário a um valor 
de 0,5 a 1 ml/kg/h. Caso não haja melhora após 1 hora, deve-se aumentar a dose de 
infusão, ou seja, a monitorização é feita com monitorização horária do DU via sondagem 
vesical. 
❖ No mais, deve-se fazer medidas de suporte nutricional (via SNE ou SNG), protetor gástrico 
(pelo risco de úlcera de Curling), analgesia com opioide forte (morfina 2ml em 10ml de água destilada EV a cada 1ml – não são indicadas medicações IM pelo edema muscular 
presente), indicar imunização para tétano (se esquema incompleto → imunoglobulina + 
vacina ; se completo por mais de 5 anos → vacina de reforço), retirar adornos, ATB em 
internação (nunca no PS, pois a pele queimada já é colonizada por bactérias não 
patogênicas, logo o uso precoce pode acabar com essa bactérias protetoras e facilitar 
infecções graves) e suporte psicológico. 
TRATAMENTO ESPECÍFICO 
❖ A pele queimada deve ser tratada com sulfadiazina de prata 1% (penetra melhor na pele 
queimada, evitando infecções mais graves) em curativos consecutivos e diários até a 
cicatrização total. Desbridamentos podem ser realizados se necessário. 
❖ Queimaduras circulares, pela limitação de movimento que acarretam, devem ser 
conduzidas com uma escarotomia. 
❖ Para evitar sequelas, deve-se fazer enxertia precocemente nas áreas de dobras e indicar 
malhas compressivas (feitas sob medida para cada paciente) por até 9 meses, além de 
fisioterapia motora.

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