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Arqueologia Preventiva: Origens e Impacto

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Arqueologia Preventiva: uma disciplina na confluência da Arqueologia Pública 
e da Avaliação Ambiental 
Solange Bezerra Caldarelli1 
Resumo 
A Arqueologia Preventiva, nascida no início da segunda metade do século XX da 
preocupação com as crescentes alterações socioambientais decorrentes da expansão dos 
empreendimentos de infra-estrutura num mundo com densidade populacional crescente, 
expandindo-se em progressão geométrica sobre a superfície terrestre, é a que mais 
recursos materiais e humanos passou a mobilizar, em especial a partir do último quartel 
daquele século. A reflexão sobre como tem se dado sua atuação, na confluência entre a 
Arqueologia Pública e a Avaliação Ambiental, numa perspectiva internacional, com amplos 
reflexos em sua prática no Brasil, é o que pretende discutir criticamente o presente artigo, 
sempre que possível com exemplos concretos desta atuação. 
Palavras-chave: arqueologia preventiva; arqueologia pública; avaliação ambiental 
 
 
1. Histórico e fundamentos legais 
A Arqueologia Preventiva tem suas origens na então denominada 
“Arqueologia de Salvamento” (“Rescue Archaeology”)2, tanto internacionalmente, 
como no Brasil (Lei 3.924/1961). Sua evolução e fortalecimento, no entanto, se deu 
com o movimento ambientalista, o qual resultou na institucionalização do 
instrumento da “Avaliação de Impacto Ambiental”3 de Planos, Programas e Projetos 
Governamentais, em especial por se ter tornado exigência dos órgãos financiadores 
mundiais para Projetos de infra-estrutura, em respeito às recomendações da 
UNESCO sobre o patrimônio arqueológico mundialmente ameaçado, conforme o 
Artigo 3 da Carta para a Proteção e Gestão do Patrimônio Arqueológico 
(ICOMOS/UNESCO, 1990). 
Sua denominação, nos Estados Unidos e nos órgãos financiadores 
mundiais, popularizou-se no escopo da “Cultural Heritage Management” (Gestão de 
Recursos Culturais), embora, em ambos os casos, seu maior peso repousasse 
sobre os bens arqueológicos, sendo que na Europa, em especial na França, a 
terminologia “Arqueologia Preventiva” tenha tido maior aceitação, tendo sido este o 
termo mais adotado pelo IPHAN, no Brasil. Posteriormente, o Banco Mundial passou 
a usar também o termo “Arqueologia Consultiva” (“Consulting Archaeology”), sendo 
que seu exercício pode ser feito tanto por profissionais ligados a instituições 
privadas quanto públicas. 
Testemunhos materiais da diversidade cultural do passado humano, os 
vestígios arqueológicos, que permitem reconstituir e interpretar a diversidade cultural 
dos meios e modos desenvolvidos e empregados pela espécie humana em seu 
processo de ocupação dos mais diversos ambientes do planeta Terra, em períodos 
longos e com soluções culturais que permitiram seu processo de expansão territorial 
e temporal, a arqueologia interessa a todas as sociedades humanas hoje presentes 
no planeta Terra, sendo, por isso, uma disciplina de interesse público. Essa é a 
razão pela qual a pesquisa arqueológica preventiva, embora inserida entre as 
demais disciplinas que se preocupam com a destruição do meio ambiente ocupado 
pelo homem, a nível local, regional ou multi-regional, onde a memória e a 
recuperação das soluções culturais implementadas na transformação do meio 
ambiente em paisagem dependem da investigação arqueológica, é parte integrante 
do amplo escopo que define a Arqueologia Pública4. 
Inserida nos modernos instrumentos de planejamento governamental, 
adotamos aqui, para essa parcela da Arqueologia Aplicada à recuperação dos 
vestígios das soluções culturalmente adaptativas aos diversos ambientes que 
tendem a ser drasticamente alterados por projetos de infra-estutura 
desenvolvimentista, a denominação Arqueologia Preventiva5, por considerar ser esta 
a mais fiel a todos os campos em que sua inserção se faz presente, como se 
pretende demonstrar. 
A arqueologia preventiva, além de ter intensificado no mundo inteiro as 
pesquisas arqueológicas, trouxe, quando feita com parâmetros reconhecidos de 
qualidade científica, resultados importantes não só para o conhecimento do passado 
de regiões muitas vezes inexploradas pela pesquisa acadêmica, como também 
incrementou e permitiu a revisão de resultados das pesquisas acadêmicas. Também 
deu uma grande contribuição ao desenvolvimento de métodos e técnicas adequados 
à pesquisa arqueológica em grandes extensões, em territórios muitas vezes sem 
referencial histórico ou teórico fundamentado em pesquisas prévias, sob a pressão 
de projetos desenvolvimentistas considerados estratégicos pelos governos dos 
países em que pesquisas arqueológicas preventivas foram legalmente exigidas. 
Essa consequência foi tão importante para o crescimento do 
conhecimento sobre o passado dos países onde a legislação que regulamenta 
processos desenvolvimentistas exige que se leve em consideração o patrimônio 
cultural, que revolucionou o ritmo e o acervo documental sobre o passado da 
humanidade, em todos os países e regiões em que a arqueologia preventiva foi 
implementada. 
Os resultados obtidos por essas pesquisas, cuja necessidade num mundo 
em constante e rápida transformação ambiental, permitiram que a falsa polêmica 
sobre as diferenças de qualidade entre arqueologia acadêmica e arqueologia 
preventiva fosse substituída pela preocupação com a qualidade da pesquisa 
arqueológica, em qualquer contexto (acadêmica ou preventiva), o que implica em 
elaboração e desenvolvimento de bons projetos (STEPHEN, B. L.; JOLLY, K,. 2003; 
CALDARELLI, 2008; 2009; SENE, 2014)6. O que realmente difere uma arqueologia 
de outra é o fato de que a arqueologia preventiva só atua quando os recursos 
culturais da humanidade estão em perigo (por obras planejadas por políticas 
desenvolvimentistas e não por desastres naturais) e não apenas por problemáticas 
científicas previamente definidas, embora se exija de seus praticantes formação 
teórica e metodológica de qualidade cientificamente reconhecida (DIRECTION 
REGIONALE DES AFFAIRES CULTURELLE RHÔNE-ALPES, France, 2001). 
Tratando especificamente da situação brasileira, gostaríamos de ressaltar 
a importância da Portaria 07/1988 do IPHAN, em que o órgão, preocupado com as 
pesquisas extra-acadêmicas que certamente adviriam da implementação da alínea c 
da Resolução CONAMA 01/1986, exigiu que os projetos de pesquisa submetidos à 
aprovação do órgão previssem a divulgação do conhecimento científico produzido. A 
geração de conhecimento sobre o passado constitui, de fato, a nosso ver, conforme 
já exposto em artigo anterior (CALDARELLI, 2007), o único meio de compensar o 
prejuízo causado aos bens culturais do passado da população brasileira, qualquer 
que seja sua ascendência étnica. 
Em publicação anterior (CALDARELLI; SANTOS, 2000), também 
comentamos a importância da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), 
regulamentada pelo Decreto 3179/99, que, ao impor sanções penais e 
administrativas a condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, trata, no Capítulo 
5, Seção 4, especificamente dos crimes contra o patrimônio cultural, obrigando à 
reparação dos danos causados a este, com base na Lei 6.938/81. 
Esta visão do patrimônio cultural em geral, e arqueológico 
especificamente, permitiu a publicação da Portaria IPHAN 230/2002 que, definindo 
os passos a serem seguidos em cada etapa do licenciamento ambiental de projetos 
de infra-estrutura potencialmente lesivos aos bens arqueológicos nacionais, tornou 
mais claros aos empreendedores os procedimentos esperados pelo IPHAN dos 
projetos associados a pesquisas de arqueologia preventiva a ele submetidos. À 
clareza dos procedimentos, a citada portaria teve o mérito de manter a necessidade 
de submeter um projeto de pesquisas ao IPHAN, reconhecendo implicitamente a 
arqueologia preventiva como uma disciplina científica, deixando ao coordenador do 
projeto que pleiteia uma portaria de permissão/autorização de pesquisas a liberdade 
(e o dever) de apresentaros objetivos científicos e os métodos adequados à 
consecução desses objetivos, assegurando a geração do necessário conhecimento 
científico já mencionado ao falarmos da Portaria 07/1988, que justifica a execução 
de pesquisas que interferem no registro arqueológico nacional. Também obriga à 
realização de ações de Educação Patrimonial e ações que garantam a conservação 
do acervo produzido, em instituições aprovadas pelo IPHAN. 
Na busca de normatizar as pesquisas arqueológicas preventivas 
associadas ao licenciamento ambiental de empreendimentos potencialmente lesivos 
ao patrimônio cultural nacional, foi publicada a Portaria Interministerial 419/2011, 
que em seu Anexo III-D mencionava que: “Tendo em vista os eventuais impactos 
detectados sobre os bens e manifestações culturais localizados na área de 
influência direta da atividade ou empreendimento, deverão ser indicadas as medidas 
de mitigação e corretivas a serem adotadas pelos responsáveis pelas atividades ou 
empreendimentos, bem como, devem ser previstos programas de acompanhamento 
e monitoramento das mesmas. Deverão ser elaborados programas de proteção, 
prospecção e de resgate arqueológico, compatíveis com os cronogramas das 
obras”. Reforçava, ainda, a obrigatoriedade da Educação Patrimonial durante todo o 
processo de licenciamento ambiental, mas se omitia quanto à geração de 
conhecimento científico, grande mérito da Portaria 07/1988 que, ao exigir a 
divulgação científica dos resultados das pesquisas, pressionou para que o 
conhecimento científico sobre os bens arqueológicos pesquisados fosse uma meta 
dos projetos arqueológicos submetidos ao IPHAN. Com a recém-publicada IN 
IPHAN 01-2015, associada à nova Portaria Interministerial 60-2015, já citadas 
acima, essa lacuna foi resolvida, com destaque à divulgação científica dos 
resultados das pesquisas, indicando que o IPHAN entende que o conhecimento 
científico seja um produto esperado das pesquisas arqueológicas preventivas. 
2. Desafios atuais da Arqueologia Preventiva 
Os grandes desafios colocados internacionalmente para todos os 
profissionais e instâncias que atuam na gestão dos bens arqueológicos ameaçados 
por projetos que alteram a matriz dos bens arqueológicos são: 
a) A gestão e divulgação da imensa quantidade de dados gerados pela arqueologia 
preventiva, o que vem sendo palco de sérias discussões e propostas conforme pode 
ser visto, por exemplo, em TALADOIRE, 2000; MCMANAMON, 2010; HUNGER, 
2012 e LUO; VESA, 2014. Portanto, o destaque a essa necessidade, por parte da 
Portaria Interministerial 419/2011, Anexo III-D, teria revelado, por parte do Brasil, 
consonância com as preocupações internacionais sobre o patrimônio cultural como 
um todo, e arqueológico em particular, o que foi mantido pela recém publicada 
Portaria Interministerial 60-2014, Anexo II-C e respectiva Instrução Normativa (IN 
IPHAN 01-2015). 
No caso brasileiro, especificamente, uma situação muito favorável se coloca para a 
divulgação do conhecimento científico gerado pelas pesquisas, que é o fato de que a 
legislação ambiental obriga à renovação das Licenças de Operação de 
empreendimentos de infra-estrutura (que são os que contratam as pesquisas 
arqueológicas) de cinco em cinco anos. Portanto, projetos arqueológicos de grandes 
dimensões, com recuperação de grandes acervos de cultura material e que exigem 
tempo considerável para as análises e interpretações necessárias à geração de 
conhecimento a ser divulgado, podem (e devem) ser utilizados pelos 
empreendedores que financiam os projetos de arqueologia preventiva, para 
comprovar seu comprometimento com o objetivo maior da Arqueologia Preventiva, 
que é o de não deixar que o passado humano seja apagado sem registro e análise. 
b) A gestão do imenso acervo material gerado pela Arqueologia Preventiva, por sua 
vez, é desafio de tal relevância, que exige uma discussão específica sobre o tema7. 
c) Outro grande desafio da Arqueologia Preventiva é o da conservação in situ de 
estruturas e sítios arqueológicos, recomendada pelo Artigo 6 da Carta para a 
Proteção e Gestão do Patrimônio Arqueológico (ICOMOS/UNESCO, 1990). Em 
decorrência da importância desse tema, num mundo onde o registro arqueológico 
tende a desaparecer rapidamente em função das alterações ambientais, o 
ICOMOS/UNESCO também promoveu, em 2011, a IV Conferência Internacional 
sobre a Preservação de Sítios Arqueológicos in Situ, em Kopenhagen, Dinamarca. 
Dentre as questões debatidas, o tema 4, especificamente, denominava-se: 
Preserving archaeological remains in situ — can we document it works?. 
Ora, assegurar que este instrumento minimamente produza efeito na preservação de 
bens arqueológicos evidenciados em função do licenciamento ambiental de 
empreendimentos de infra-estrutura implica na verificação periódica da efetividade 
das medidas preservacionistas recomendadas nos relatórios das diversas etapas 
das pesquisas arqueológicas preventivas propostas pelos permissionários das 
pesquisas pelo IPHAN. 
O monitoramento ambiental é sempre um monitoramento das medidas 
implementadas nos programas propostos no PBA (Plano Básico Ambiental) e 
reafirmadas, revistas ou complementadas na execução dos projetos a elas 
associados. Em artigo publicado na Revista do Patrimônio (CALDARELLI, 2007), foi 
ressaltada a importância de manter preservadas porções significativas dos sítios 
arqueológicos pesquisados, em especial em projetos lineares, onde não há 
necessidade de se esgotar o sítio, muito embora seja importante que pesquisas 
sejam feitas além do traçado desses projetos, para não prejudicar a geração de 
conhecimento que não se concentra no traçado, mas no espaço ocupado pelo sítio 
arqueológico. No sentido de privilegiar a preservação in situ, é extremamente 
importante estimular empreendedores a alterar, sempre que possível, traçados de 
empreendimentos lineares ou mesmo mudar de local estruturas/sítios importantes 
identificados em empreendimentos amplos. No entanto, para aferir a eficácia dessas 
medidas, seria importante o IPHAN exigir em seus pareceres técnicos o 
monitoramento dos sítios deixados total ou parcialmente preservados in situ, com 
relatórios apresentados periodicamente, quando da solicitação da renovação das 
Licenças de Operação pelos responsáveis pelos empreendimentos. Não há 
necessidade de ser o mesmo arqueólogo permissionário da Portaria de Pesquisas 
Arqueológicas a realizar o monitoramento, já que a localização dos sítios sempre é 
registrada por suas coordenadas geográficas, mas tais monitoramentos poderiam 
gerar massa crítica sobre a efetividade de se manter preservados sítios 
arqueológicos em processos de licenciamento ambiental, contribuindo para a 
discussão que se faz a respeito internacionalmente. 
Um exemplo feliz do bom combate pela preservação, certamente facilitado pela 
localização e alta exposição dos resultados das pesquisas, é a publicação de 
PRESTES FILHO; LIMA, 2011, em que a importância da preservação de um bem 
arqueológico de grande valor histórico e simbólico foi veiculada por um periódico não 
voltado às ciências sociais e, por isso, atingindo e ampliando os horizontes de um 
público não habituado às disciplinas históricas e arqueológicas. 
d) Finalmente, uma preocupação sempre presente é com a qualidade dos trabalhos 
de Arqueologia Preventiva, devido à sua crescente expansão no mundo 
contemporâneo, embora raramente seja colocado em pauta, como atrás 
mencionado, se esses trabalhos são feitos no âmbito acadêmico ou aplicado. À 
Academia compete qualificar profissionais e contribuir com o crescimento teórico da 
disciplina, fazendo pesquisas principalmente orientadas para a resolução de 
problemas pré-colocados, inclusive na formulação de métodos e técnicas mais 
afinados com o progresso da pesquisa arqueológica, mas não há nenhum 
impedimento para seu envolvimento com a pesquisa arqueológica de cunho 
preventivo. À arqueologiapreventiva, por sua vez, compete estar atualizada com as 
descobertas e inovações trazidas pela arqueologia acadêmica, embora nada a 
desautorize a contribuir com o desenvolvimento teórico e metodológico da disciplina 
maior, a Arqueologia, o que na realidade acaba acontecendo. 
A qualidade da pesquisa arqueológica preventiva que se faz deve ser controlada 
pelos órgãos públicos que regulamentam e julgam as atividades associadas tanto à 
avaliação ambiental quanto à pesquisa arqueológica. 
 
3. As contribuições da Arqueologia Preventiva à elucidação do passado no 
Brasil 
Várias são as pesquisas arqueológicas que tem contribuído para o 
conhecimento de qualidade do passado brasileiro, tanto a nível nacional, quanto 
regional ou local. E essas contribuições têm vindo à luz pela divulgação em 
periódicos de referência de resultados inovadores de pesquisas de alto valor 
científico e social, tal como, apenas para citar um trabalho recente, o artigo 
publicado por LIMA (2013), a partir dos resultados de um trabalho de arqueologia 
com todos os requisitos de excelência esperados de uma pesquisa arqueológica 
preventiva socialmente comprometida com seu objeto de trabalho. 
DEMOULE; STIEGLER (2008) ressaltam que a prática arqueológica só 
tem sentido se enriquece os trabalhos de outros pesquisadores, esclarece a ação 
dos homens políticos e nutre a reflexão dos cidadãos. 
Apenas para discutir o alcance da arqueologia preventiva na produção de 
conhecimentos novos sobre locais e regiões do território brasileiro, vamos 
apresentar algumas descobertas provindas de projetos desenvolvidos pela Scientia, 
mas ainda não publicados. 
a) Projeto de Salvamento Arqueológico na LT 69 kV Rio Branco 1 / Sena 
Madureira, Acre 
Antes de serem iniciados os trabalhos de campo, buscou-se uma 
contextualização arqueológica e etno-histórica da área atravessada pela Linha de 
Transmissão, de forma a obter um quadro referencial preliminar de conhecimentos e 
problemáticas encerradas pela área a ser pesquisada. Os dados levantados nas 
fontes consultadas são sumarizados nas figuras 1 e 2. 
 
Figura 1 - Distribuição quantitativa das categorias de sítios do Acre pelas áreas 
arqueológicas definidas pelo PRONAPABA. 
32 7
31 2
1 5
35 6
1 2 1
18 1
10
13 3
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
IQUIRIRI
RIO BRANCO
SENA MADUREIRA
XAPURI
PURUS
CRUZEIRO DO SUL
PORTO VALTER
TARAUACÁ
GEOGLIFOS CERÂMICOS PC ETNOHISTÓRICOS
 
Figura 2 – Superposição das áreas arqueológicas do Acre sobre o mapa etnohistórico 
de Nimendaju (1944). 
Em campo, a equipe se deparou com um sítio arqueológico cerâmico em 
boas condições de preservação, que foi escavado em quadrículas distribuídas 
uniformemente pelo espaço do sítio, previamente delimitado, com os resultados 
apresentados na Figura 3. 
 
 
Figura 3 - Distribuição das estruturas habitacionais e das 
vasilhas cerâmicas recuperadas e reconstituídas pela 
superfície do Sítio Rio Branco 1, AC. 
Na análise da documentação e do material recuperado em campo, 
observou-se que os dados não correspondiam a nenhuma das fases propostas pelo 
PRONAPABA e nem coincidia com o que se sabia sobre as tribos indígenas que 
ocuparam historicamente a região. 
Procurando documentação suplementar à levantada e utilizada antes do 
início das pesquisas de campo, verificou-se que recentemente haviam sido 
identificado no Acre, pela FUNAI, um grupo de índios Kashinawa, isolados, com 
assentamento em aldeia tradicional, no Norte do Estado do Acre e, portanto, fora da 
área de estudo do projeto. Superpôs-se, então, a aldeia reconstituída a partir das 
pesquisas arqueológicas sobre a aldeia registrada pela FUNAI, com os resultados 
espaciais das pesquisas arqueológicas, o que demonstrou uma similitude espantosa 
(figura 4). 
 
Figura 4 – Superposição da aldeia arqueologicamente reconstituída à aldeia 
Kashinawa atual, registrada pela FUNAI no Norte do Acre em 2009. 
A hipótese esboçada para o fato verificado foi de que as tribos indígenas 
historicamente registradas no Mapa de Nimuendaju levaram à retirada dos 
Kashinawa (ou de seus antepassados) da região em tempos anteriores à 
colonização européia desse território, o que poderá ser um ponto de partida para 
outras pesquisas arqueológicas que se façam na região8. A localização das etnias 
indígenas atualmente encontradas no Acre pode ser vista na figura 5 demonstra a 
distância dos Ashaninka atuais em relação à área pesquisada (uma linha entre Rio 
Branco e Porto Velho). 
Aliás, nenhuma etnia indígena se encontra próxima ao traçado da Linha 
de Transmissão que ensejou a pesquisa relatada. 
 
Figura 5 – Localização da Linha de Transmissão, em relação às etnias indígenas hoje 
presentes no Acre. Fonte: http://www.albedimare.org/atlas/map/indios_Br_aC.jpg. 
 
b) Projeto de Prospecção Arqueológica nas áreas de intervenção da Linha 
de Transmissão 500 kV Interligação Norte-Sul III – Trecho 2 - Goiás e 
Tocantins. 
A linha de transmissão compunha-se de quatro trechos, abrangendo um 
total de 695 km, sendo que o trecho que gostaríamos de destacar aqui é o trecho 3, 
com 398 praças de torres, acessos diversos e duas subestações novas, abrangendo 
territórios dos municípios de Gurupi, Peixe, Jaú do Tocantins, São Salvador do 
Tocantins, Palmeirópolis, Minaçu e Colinas do Sul, no qual foram registrados 24 sítios 
arqueológicos, sendo 14 em praças de torres, dois no vão entre as torres, cinco em 
acessos e um, de grandes dimensões, que ocupava parte da praça de uma torre, o 
vão entre duas torres e parte de dois acessos. 
A etapa posterior do projeto, concernente ao resgate dos sítios 
arqueológicos identificados, ficou a cargo do IGPA-UCG, entre os anos de 2008 e 
2010. 
Um único pequeno sítio foi resgatado pela Scientia (CALDARELLI, 2007), 
já que, sendo de difícil acesso e pequenas dimensões, seria menos oneroso 
resgatá-lo imediatamente. Trata-se do sítio Minaçu 14, um sítio cerâmico a céu 
aberto localizado no município homônimo, no entorno das coordenadas 807.882 / 
8.490.287 (Sad 69), a 400 m de um córrego de nome não identificado, no acesso à 
Torre 177/1. O sítio estava implantado em uma crista de serra com 4m de largura e 
fortes desníveis para os dois lados, usada como caminho natural para o trânsito 
entre as serras, especialmente por bovinos. O solo no local, de onde se avistava o 
lago da UHE Cana Brava (rio Maranhão), situado a pouco mais de 1 km, 
apresentava cascalho aflorado, sendo a vegetação composta por gramíneas, 
arbustos e algumas árvores de cerrado (foto 1)9. 
 
Foto 1 – Implantação do sítio arqueológico Minaçu 14. Ao fundo, o lago da UHE Cana 
Brava. Foto: Scientia, 2007. 
O sítio, superficial e de pequenas dimensões (12 m² de área), foi objeto de 
resgate total. Após o levantamento topográfico da área, esta foi quadriculada, em 
quadras de 1m², e procedeu-se à coleta mapeada do material, com o auxílio de 
estação total. Fora da área de concentração cerâmica (de 3m x 4m), havia sete 
fragmentos, que também foram coletados com estação total. Foi recuperado no sítio 
um total de 340 fragmentos cerâmicos, sendo seis durante o levantamento, 327 nas 
quadras delimitadas para o resgate e sete fora destas (fotos 2 e 3). 
 
Fotos 2 e 3 – Base e borda de vasilhas cerâmicas recuperadas no Sítio Minaçu 14, sobre solo de 
cascalho. Foto: Scientia, 2007. 
Descartando-se os fragmentos inferiores a 2cm, foram analisados 235 
fragmentos do total recuperado no sítio, todos simples, distribuídos nas seguintes 
classes: paredes (216), bordas (18) e base (01). 
A pesquisa, cuja continuidade, como já dito, ficou a cargo de uma outra 
equipe, terminou com uma indagação a respeito desse sítio tão singular: de 
dimensão diminuta (menos de 20 m² de área), com material claramente utilitário, 
correspondia certamente a um acampamento de curta duração, de onde se possuía 
uma visão privilegiada dos arredores. Tratar-se-ia de um assentamento defensivo?De um bando em fuga? 
c) Projeto de Resgate do Sítio Arqueológico Topo do Guararema – LT 500kV 
Tijuco Preto – Cachoeira Paulista II, SP. 
Único sítio a ser encontrado em toda a extensão da Linha de 
Transmissão, o Sítio Topo do Guararema foi encontrado na última praça de torre a 
ser prospectada (CALDARELLI, 2010b), implantado em topo de morro, distando 
cerca de 100 m da margem esquerda do Rio Paraíba do Sul e a cerca de 3 km da 
sede do Município de Guararema (Figuras 6 e 7), numa área de reflorestamento de 
eucalipto. Análises preliminares do material coletado durante a prospecção 
apontaram para vasilhas de contorno simples, não decoradas, com presença de 
antiplástico exclusivamente mineral. Tais características confrontaram-se, a 
princípio, com o material cerâmico até então registrado no Vale do Paraíba Paulista 
(Scientia, 2003), considerando que não apresentava atributos nem da Tradição 
Tupiguarani, nem da Tradição Aratu (CALDARELLI, 2005). 
 
 
 
 
Figuras 6 e 7 – Localização (Fonte: Google Earth) e implantação topográfica do sítio 
arqueológico Topo do Guararema, nas proximidades do Rio Paraíba do Sul e da sede 
do Município de Guararema, SP. 
 
Em alguns pontos, durante a prospecção, foram identificados conjuntos 
de fragmentos cerâmicos passíveis de reconstituição, indicando, deste modo, a 
ocorrência de áreas relativamente preservadas do ponto de vista do potencial 
informativo, tendo o sítio sido considerado de alta relevância científica, ameaçado 
pela implantação da Torre 42/2 da LT (não passível de deslocamento) e a 
necessidade de seu resgate apresentada ao IPHAN. 
As escavações demonstraram que o sítio ocupava uma área de 
aproximadamente 5.700 m², com uma extensão de 100m no eixo N-S por 68m no 
eixo E-W (figura 8), em posição privilegiada para visão dos arredores. 
 
Figura 8 – Área escavada do sítio em relação à área ocupada preteritamente. 
 
As análises do material arqueológico recuperado em campo indicaram 
uma cerâmica claramente assemelhada à produzida por populações Jê, geralmente 
atribuídas em sítios arqueológicos do Sul do Brasil à Tradição Itararé: manufatura 
por acordelamento; antiplastico predominantemente mineral, mas com presença de 
cariapé; queima totalmente redutora na maioria dos casos, indicando a utilização de 
fornos fechados; espessura das vasilhas pequena e pouco variada; lábios em sua 
maioria apontados, em bordas extrovertidas e reforçadas externamente; brunidura 
como tratamento de superfície preferencial, seguida de alisamento fino, em ambas 
as faces; bases geralmente planas, seguidas por bases convexas (figura 9). 
 
 
 
 
 
Figura 9 – Formas reconstituídas de vasilhas cerâmicas recuperadas no Sítio Topo do 
Guararema. 
As datações obtidas indicam uma ocupação do sítio por um intervalo de cerca de 
400 anos, entre 920 e 1.340 AD (Tabela 1). 
Amostra Resultado Data Inicial (AD) Data Final (AD) 
CCV13 670+/-60 BP 1.220 1340 
CCV33 680+/-50 BP 1.220 1.320 
CCV25 690+/-60 BP 1.200 1.320 
CCV7 860+/-60 BP 1.030 1.150 
CCV20 890+/-70 BP 990 1.130 
CCV36 970+/-60 BP 920 1.040 
Tabela 1 – Datações radio-carbônicas (calibradas) inferidas por Beta Analytic para o 
Sítio Topo do Guararema. 
As características da cultura material, associadas às datações obtidas, apontam 
para uma ocupação pré-colonial mais complexa do Vale do Paraíba do que os dados 
etnohistóricos e arqueológicos anteriormente disponíveis sugeriam. Os dados 
obtidos em campo e laboratório alteram a correlação que há décadas se tem feito 
entre Tradição Itararé/Antepassados da etnia Kaingang, suscitando novas questões 
sobre o povoamento pré-colonial do Sudeste brasileiro, a saber: 
 A cultura material recuperada no sítio Topo do Guararema seria associável à 
Tradição Itararé, como todos os dados levam a crer? 
 Tendo em vista a associação feita entre a Tradição Itararé e os índios 
Kaingang, jamais mencionados no Vale do Paraíba, estaríamos frente a um 
testemunho arqueológico de uma ocupação indígena também Jê, mas 
relacionada a outra etnia? 
 Seria o Topo do Guararema um sítio dos famosos Guaianás, tantas vezes 
mencionados, desaparecidos ainda durante o período colonial e jamais 
anteriormente identificados pela arqueologia? 
São inúmeras as menções das fontes coloniais, no Vale do Paraíba, a 
índios guaianás, denominação ora atribuída aos tupis, ora aos maramomis, ora aos 
puris. Segundo Prezia (2000), em seu estudo sobre os indígenas do planalto 
paulista nos séculos XVI e XVII, a partir de aspectos lingüísticos e da cultura 
material, os Guaianá não falavam língua do tronco tupi. Do ponto de vista 
lingüístico, aproximavam-se mais dos maramomis (ou guarulhos). Entretanto, 
compartilhavam com os puris traços significativos da cultura material, como o uso 
de redes para dormir. 
Ora, os portadores da Tradição Itararé (que, no caso, seriam 
representados pelos Guaianá), pelos relatos etno-históricos, teriam sido registrados 
no vale até o século XVII, quando desaparecem, provavelmente pelas 
consequências advindas da penetração do Vale do Paraíba pelo colonizador 
português: segundo Staden, estariam localizados na altura da Serra do Mar; de 
acordo com Knivet, algum grupos viviam no litoral, perto da Ilha Grande e da Ilhas 
de São Sebastião, e outros ainda na mata, na Serra do Mar; para Soares de 
Sousa, eram encontrados no litoral de São Vicente. De acordo com Prezia (2.000), 
há relatos de cronistas que mencionam que essas populações mantinham-se 
afastadas dos núcleos portugueses. Monteiro (1994) informa que os Guaianá 
desaparecem dos registros históricos no início do século XVII. O etnônimo 
existente para os Guaianá do Sul os associa aos índios Kaingang, devido às 
semelhanças entre suas culturas (Saint-Hilaire [1851], 1976). Montoya considera 
que os Guaianá que habitavam o atual Estado do Paraná e que vieram para São 
Paulo estão muito próximos aos atuais Kaingang (Mabilde [1866], 1983); Borba 
(1909, apud Prezia, 2000), por praticarem a coleta de pinhão, o cultivo de milho, a 
fabricação de um tecido com fibra de urtiga para as mulheres se cobrirem e dormir 
no chão sobre capim, além de habitarem casas pequenas e redondas. Esta 
identidade Kaingang/Guaianá também já havia sido apontada por Monteiro (1994). 
Sobre os Guaianases do Vale do Paraíba, diz Prezia (2000): 
“... eram andarilhos, vagando pelas montanhas, vivendo de frutas 
silvestres que o mato dá, de caça e peixe. Alguns já haviam se 
sedentarizado, possuindo aldeias e comercializado com os franceses e 
portugueses. Plantavam algumas roças de milho, com o qual fabricavam 
o cauim, bebida fermentada que muito apreciavam e com a qual se 
embebedavam. Usavam o tabaco, que fumavam sempre, seja em 
companhia de outros, seja na própria casa, utilizando-o também para 
curar ferimentos. (...) Construíam casas simples, compridas e cobertas de 
folhas de palmeira ou de casca de árvores. Dormiam em redes feitas de 
casca de árvore presas com algodão, fiadas pelas mulheres. Fabricavam 
cordas com as quais amarravam os prisioneiros e cestos para levar 
utensílios e flechas”. 
Toda esta complexa problemática apresentou indícios arqueológicos 
fortes pela primeira vez no Vale do Paraíba do Sul, em decorrência de uma pesquisa 
de arqueologia preventiva, num local íngreme, objeto de reflorestamento de 
eucalipto, onde se pensaria que nenhum registro arqueológico, se tivesse havido, 
ter-se-ia conservado em condições tão propícias à reinterpretação da ocupação pré-
colonial deste importante eixo de circulação entre o litoral e o interior, onde a Serra 
do Mar funciona como um limite natural importante. 
Em trabalho apresentado no Encontro da SAB Sudeste (não publicado), 
em 2011, aventamos uma hipótese das rotas migratórias de grupos filiados ao 
tronco linguístico Macro-Jê em duração ao Vale do Paraíba Paulista, utilizando os 
dados também referentes à comprovada presença da Tradição Aratu nestaregião 
(figura 10). 
 
 
Figura 10 – Hipóteses de rotas migratórias de grupos filiados ao tronco linguístico 
Macro-Jê em direção ao Vale do Paraíba Paulista (CALDARELLI, 2011). 
 
 
4. As possibilidades inexploradas ou pouco exploradas da Arqueologia 
Preventiva em curso no Brasil 
Infelizmente, no Brasil, pouco se utiliza dos instrumentos da Avaliação 
Ambiental para levantar as áreas críticas das diversas regiões que constituem o 
território nacional, antecipando aquelas que apresentam importantes lacunas de 
conhecimento e aquelas que apresentam maiores fragilidades para a conservação 
do registro arqueológico. Em nossa opinião, o problema está no fato de que se 
confunde Avaliação Ambiental com Estudo de Impacto Ambiental, que é só a ponta 
do iceberg, no qual os empreendimentos já se encontram em fase de projeto e mais 
difícil é a definição do melhor tratamento a ser dados a eles, no que tange ao nosso 
patrimônio arqueológico. Não existem normas para a participação de arqueólogos 
nas etapas anteriores ao Estudo de Impacto Ambiental de Projetos, quando a 
Avaliação Ambiental se centra em Planos e Programas Governamentais, que 
antecipam os projetos que estão sendo pensados para períodos que chegam a trinta 
anos. 
São os planos governamentais que definem diretrizes para “ações 
programáticas” e os programas a serem implementados para alcançar os objetivos 
do plano, os quais, por sua vez, darão origem a diversos projetos. A figura 11, 
adaptada de Sanchez (2008), demonstra o que ocorre no País: 
 
 LEGENDA: 
 Esfera em que mais de 90% dos arqueólogos estão atuando 
 Esfera em que menos de 1% dos arqueólogos está atuando 
 Esfera em que nenhum arqueólogo está atuando 
Figura 11 - Concepção teórica da articulação entre PPPs e projetos dominante na 
literatura sobre AAE, com indicação da participação da arqueologia no processo. 
São os Planos propostos na escala mais alta do governo que definem as 
diretrizes para “ações programáticas”, de onde saem os programas governamentais 
para alcançar os objetivos do Plano, dando origem aos diversos projetos que, no 
final do processo, passarão pela necessidade de Licenciamento Ambiental: 
EIA/RIMA, para obtenção de Licença Prévia; PBA (Plano Básico Ambiental), para 
aplicação das medidas propostas no EIA e as demandadas pelos órgãos que se 
pronunciam sobre a LP aos empreendimentos (dentre eles, o IPHAN). Divulgados na 
Internet, tais planos constam abertamente dos sites mantidos, entre outros, pelos 
Ministérios do Planejamento, de Minas e Energia (que chega a apresentar planos 
num horizonte até 2030, no que concerne à Mineração, por exemplo) e dos 
Transportes (até 2023), conforme figuras 12 a 15, a seguir. 
 
Figura 12: Localização dos empreendimentos de Geração de Energia Elétrica em 
território brasileiro previstos nos PACs 1 e 2 (Fonte: MME). 
 
 
Figura 13: Localização dos empreendimentos de Transmissão de Energia Elétrica em 
território brasileiro previstos nos PACs 1 e 2 (Fonte: MME). 
 
 
Figura 14: Localização dos empreendimentos rodoviários em território brasileiro 
previstos nos PACs 1 e 2 (Fonte: Ministério dos Transportes). 
 
Figura 15: Localização dos empreendimentos ferroviários em território brasileiro 
previstos nos PACs 1 e 2 (Fonte: Ministério dos Transportes). 
 
Os programas propostos em alguns casos constam de instrumentos de 
Avaliação de Impacto Ambiental aplicáveis ao estágio de Programas 
Governamentais, tanto a nível federal quanto estadual. É nesse nível que a 
participação da arqueologia tem modestamente participado, através dos 
instrumentos da Avaliação Ambiental Estratégica e da Avaliação Ambiental de 
Bacias Hidrográficas. 
Segundo SANCHEZ (1995), o processo de AIA não se encerra com a 
finalização do projeto em estudo, mas prossegue por tempo indeterminado, até 
mesmo, no caso de alguns empreendimentos, acompanhando-os do “berço” ao 
“túmulo”. É ainda o mesmo autor (2008) quem esclarece que “A avaliação ambiental 
estratégica (AAE) é o nome que se dá a todas as formas de avaliação de impacto de 
ações mais amplas que projetos individuais. Tipicamente, a AAE refere-se à 
avaliação das conseqüências ambientais de políticas, planos e programas (PPPs), 
em geral no âmbito de iniciativas governamentais” (SANCHEZ, 2008). Para 
PARTIDÁRIO (2003: 11), a AAE consiste num “Sistemático e contínuo procedimento 
de avaliação da qualidade do meio ambiente e das consequências ambientais 
decorrentes de visões e alternativas diferentes de desenvolvimento, incorporadas 
em iniciativas de formulação de políticas, planos e programas, de modo a assegurar 
a integração efetiva dos aspectos biofísicos, econômicos, sociais e políticos, o mais 
cedo possível nos processos públicos de planejamento e tomada de decisão”. 
A Avaliação Ambiental de Bacias Hidrográficas (AAI) corresponde à AAE 
direcionada a bacias hidrográficas onde estejam previstas a implantação de Usinas 
Hidrelétricas (UHEs) e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). 
Nos instrumentos acima, em que a participação dos arqueólogos tem sido 
ainda bastante restrita (CALDARELLI, 2006; 2012), reside a chave para identificar, 
anos antes de serem definidos, os projetos a serem submetidos a licenciamento 
ambiental (EIAs/RIMAs), propiciando à comunidade arqueológica um melhor tempo 
para avaliar as fragilidades das áreas aonde tais projetos estão sendo pensados. 
Nesse momento, uma ação integrada dos arqueólogos ligados à academia com o 
CNA e com as Superintendências Estaduais do IPHAN, poderia levantar os 
conhecimentos existentes nessas áreas e avaliando seu potencial arqueológico 
através de projetos com problemas cientificamente orientados, com apoio dos 
órgãos financiadores de pesquisa científica, tanto a nível nacional (CNPq) quanto a 
nível dos estados onde tais projetos estão previstos (FAPEAM, FAPES, FAPEMIG, 
FAPERG, FAPERJ, FAPESB, FAPESP,etc.). Assim, a atuação da comunidade 
arqueológica poderia ser muito mais decisiva do que a grita geral quando um projeto 
já se encontra indicado para Licenciamento Ambiental Prévio, com verbas e pessoal 
alocado, inclusive gerando conhecimento teórico importante tanto para o instrumento 
em si, quanto para as regiões estudadas, até mesmo com aproveitamento desses 
estudos para obter bolsas para qualificação acadêmica (Iniciações Científicas, 
Especializações, Mestrados e Doutorados). 
 
5. Considerações finais 
Esposando a idéia de ser a arqueologia uma disciplina contextual 
(HODDER, 1999), entender com antecedência o contexto em que os projetos de 
infra-estrutura se inserem espacialmente, inclusive de uma maneira co-localizada, 
sinérgica e cumulativa (analisar, numa mesma região, projetos associados a 
programas distintos, como transportes, mineração e geração/transmissão de 
energia) pode permitir uma melhor contribuição da disciplina arqueológica nesse 
amplo instrumento que é a Avaliação de Impactos. Inegavelmente, a AIA pode (e 
deve) ser vista como produto de uma conquista social cuja história vem de longos 
anos, tendo partido da luta pública para evitar que os bens naturais e socioculturais 
fossem ignorados no processo de implantação de projetos econômicos. Isto poderia 
contribuir para que não fosse deixada apenas à Arqueologia Preventiva descobertas 
inéditas, nem sempre previsíveis, conforme casos relatados brevemente no item 3 
do presente artigo. Informações contextualizadas em escalas geográficas amplas 
são de importância estrutural para ações preventivas em áreas para onde estão 
previstos empreendimentos potencialmente lesivos ao patrimônio arqueológico: 
colaboram com a tomada de decisões num processo em que se está consciente de 
que é impossível tudo estudar ou tudo preservar (ICOMOS, 1990, article 5). A 
tomada de decisões exige a geração de conhecimento para sobre o que pesquisar e 
o que preservar, para o que a pesquisa em escala regional (SALISBURY, 2009)certamente pode trazer importantes subsídios. BURNOUF; CHOUQUER (2008) 
também reforçam a importância da perspectiva “geográfica” da arqueologia, ao 
dizerem que é importante “situar” o futuro do nosso passado, restaurando a 
dimensão geográfica de nossos laços com o mundo, através da recuperação 
científica das diversas heranças e da construção de espacio-temporalidades novas. 
Gostaríamos de terminar este artigo citando as sábias palavras abaixo, 
com as quais concordamos inteiramente, as quais enfatizam a importância do 
planejamento regional e da aplicação de instrumentos com ele compatíveis. Seu 
objetivo maior é anteceder problemáticas arqueológicas antes que os esforços da 
comunidade arqueológica na preservação do patrimônio cultural, em geral de todos, 
mas muitas vezes, com particular interesse para comunidades específicas, 
notadamente as tradicionais, ocorram tarde demais: 
“Regional planning is an essential element of comprehensive 
archaeological management programs. Most regional planning efforts in 
archaeology focus on predictive modeling to distinguish areas based on 
the likelihood of encountering archaeological resources. We discuss a 
complementary approach that uses known sites and expert opinion to 
identify spatially explicit cultural resource preservation priorities. Loosely 
analogous to biodiversity conservation planning, priority cultural resource 
assessments provide an evolving vision of an archaeological reserve 
network which, if managed appropriately, could protect a significant part of 
our cultural heritage. (...) By establishing priorities, this information can 
also enhance cultural resource considerations in local, state, and federal 
land use planning. While our consideration of significance is based on the 
potential information content of the resource, we argue that this planning 
process can easily incorporate other cultural resource values and help to 
address preservation actions in support of this broader set of values” 
(LAURENZI; PEEPLE; DOELLE, 2013). 
 
Abstract 
Archaeological Resources Management that arose in the second half of the 20th Century 
from worries with growing social and environmental changes due to the expansion of 
infrastructure developments in an increasing population density world, geometrically 
expanding over earth’s surface, is the branch of Public Archaeology that has mobilized the 
most important amount of human and material resources, particularly from the last quarter of 
the 20th Century on. This paper consists on critical reflections on how Archaeological 
Resources Management, at the crossroads of Public Archaeology and Environmental 
Assessment, has performed worldwide, with important consequences in Brazilian practice, 
advancing concrete examples of that practice whenever possible. 
Keywords: Archaeological Resources Management; Public Archaeology; Environmental 
Assessment 
 
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setembro/2014). 
 
1 Doutora em Ciências Humanas – FFLCH-USP/1984; Pesquisadora em RDIDP do Instituto 
de Pré-História da USP – 1977/1985; Coordenadora, do lado brasileiro, pelo Acordo de 
Cooperação Internacional CNPq/CNRS – 1986/1988; Pesquisadora de Desenvolvimento 
Científico Regional/CNPq, junto ao Museu Paraense Emílio Goeldi – 1986/1988; Diretora – 
Scientia Consultoria Científica Ltda., desde 1989. E-mail: 
solange@scientiaconsultoria.com.br. 
2 Termo ainda empregado, como outros mencionados no presente artigo, mas superado por 
uma terminologia mais adequada aos princípios que norteiam a atual Arqueologia 
Preventiva. 
3 Não confundir o instrumento “Avaliação de Impactos Ambientais” com a “Avaliação de 
Impactos” feita como parte do Estudo Prévio de Impacto Ambiental de um projeto em etapa 
de licenciamento ambiental, no Brasil, conforme definido pela Resolução CONAMA 
001/1986. 
4 A respeito do amplo campo da Arqueologia Pública, ver, entre outros, os artigos e estudos 
de caso publicados desde 2000 no periódico Public Archaeology e desde 2010 no On 
Line Public Archaeology (http://www.arqueologiapublica.es/); FUNARI; OLIVEIRA; 
TAMANINI 2008; CARVALHO; FUNARI, 2009 e OKAMURA; MATSUDA, 2012. 
5 Consideramos que a denominação “Arqueologia de Contrato”, também já utilizada por nós 
(CALDARELLI; SANTOS, 2000), advinda de terminologia amplamente empregada em 
língua inglesa, tem-se mostrado inadequada para a designação de um instrumento muito 
mais abrangente do que essa conotação dá a entender e que envolve atores ligados tanto 
à esfera pública quanto privada. Sobre as contestáveis diferenças entre as arqueologias 
ditas “acadêmica” e de “contrato”, como se uma se opusesse à outra, nada melhor do que 
consultar LOOSE, J. C., 2014. 
6 As instituições acadêmicas também tem crescido exponencialmente, como decorrência do 
aumento da população jovem que requer formação de nível superior, inclusive com o 
incremento de programas de educação à distância (possibilitados pela cada vez mais 
eficiente comunicação digital entre instituições e pessoas fisicamente distantes entre si). 
7 O assunto será objeto de um artigo específico ainda em preparação, pela autora do 
presente artigo em co-autoria com a museóloga Dra. Manuelina Duarte Cândido. 
8 Este caso, embora nunca publicado, foi apresentado oralmente no escopo de uma 
apresentação mais ampla no 2º Encontro Internacional de Arqueologia da Amazônia 
(CALDARELLI, 2010a). 
http://www.cnrs.fr/Cnrspresse/Archeo2000/pdf/archeo14.pdf
 
9 O sítio, no topo de área muito íngreme, só foi localizado graças à perseverança do 
arqueólogo Claidvon de Paula Moraes que, embora duvidoso de que tivesse havido 
assentamento humano em local tão inóspito, optou, por conta própria, em subir a serra, 
encontrando o sítio. A carreira, bruscamente interrompida, de um arqueólogo jovem e 
profundamente comprometido com a ética profissional, certamente deixou uma lacuna na 
arqueologia brasileira,

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