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Revista de Arqueologia Pública

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número 7 | 2013 
 
 
 
 
EDITORES 
Aline Carvalho (LAP/NEPAM/UNICAMP) 
Pedro Paulo A. Funari (LAP/NEPAM/UNICAMP) 
 
COMISSÃO EDITORIAL 
Ana Piñon (Universidad Complutense de Madrid, Espanha) 
Andrés Zarankin (UFMG) 
Erika Marion Robrahn-González (Documento - Patrimônio Cultural, Arqueologia e 
Antropologia Ltda) 
Gilson Rambelli (LAAA / NAR / UFS) 
Lourdes Dominguez (Oficina del Historiador, Havana, Cuba) 
Lúcio Menezes Ferreira (UFPel) 
Nanci Vieira Oliveira (UERJ) 
Charles Orser (Illinois State University, EUA) 
 
CONSELHO EDITORIAL 
Bernd Fahmel Bayer (Universidad Nacional Autónoma de México, México) 
Gilson Martins (UFMS) 
José Luiz de Morais (MAE/USP) 
Laurent Olivier (Université de Paris, França) 
Martin Hall (Cape Town University, África do Sul) 
Sian Jones (University of Manchester, Inglaterra) 
 
COMISSÃO TÉCNICA 
Rafael Augusto Nakayama Rufino 
Franciely da Luz Oliveira 
Marcos Rogério Pereira 
Derivaldo Reis de Sousa 
 
ESTÁGIO – REVISÃO TEXTUAL 
Camila Secolin 
 
PROJETO GRÁFICO 
Luiza de Carvalho 
 
DIAGRAMAÇÃO 
Rafael Augusto Nakayama Rufino 
Franciely da Luz Oliveira 
Laboratório TERRAMÃE 
 
 
 
 
 
  	
 
 
 
 
 
5 EDITORIAL 
Aline Carvalho 
 
 
ARTIGOS 
 
7 O REI MAIA KUKULCÁN E SEUS DISCURSOS DE PROPAGANDA POLÍTICA EM 
CHICHÉN ITZÁ 
Alexandre Guida Navarro 
 
20 PRÁTICA ARQUEOLÓGICA E MEMÓRIA SOCIAL: REDES DE SABER E PODER 
NAS PESQUISAS EM ÁREAS DE EXPANSÃO DE CULTIVO NO INTERIOR 
PAULISTA 
Camila Wichers 
 
39 ARQUEOLOGIA E PODER: A LEGITIMAÇÃO DO ESTADO 
Cláudio Umpierre Carlan 
 
48 A ARQUEOLOGIA AMAZÔNICA E O CONTEÚDO IDEOLÓGICO DE SUAS 
INTERPRETAÇÕES 
Denise Maria Cavalcante Gomes 
 
60 PROJETOS EDUCACIONAIS E POLÍTICAS INTERVENTIVAS NO CAMPO DO 
PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CULTURAL E ARQUEOLÓGICO NA REGIÃO DE 
ARARAQUARA (SP) 
Robson Rodrigues e Dulcelaine L. Lopes Nishikawa 
 
75 AÇÕES DO PROJETO ARQUEOLOGIA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA – 
DIÁLOGOS E SABERES: SITE E DOCUMENTÁRIO 
Glória Tega, Vera Regina Toledo Camargo, Maria Beatriz Rocha Ferreira, 
Pedro Paulo Funari e Aline Vieira de Carvalho 
 
87 ESSAS COISAS NÃO LHES PERTENCEM: RELAÇÕES ENTRE LEGISLAÇÃO 
ARQUEOLÓGICA, CULTURA MATERIAL E COMUNIDADES 
Lúcio Menezes Ferreira 
 
107 OS SENTIDOS CONTEMPORÂNEOS DAS COISAS DO PASSADO: REFLEXÕES A 
PARTIR DA AMAZÔNIA 
Marcia Bezerra 
 
SUMÁRI O 
  	
123 PORTOS, PORTAS E PRODUÇÃO: ARQUEOLOGIA DO PODER EM CANANÉIA 
(SP), SÉCULOS XIX e XX 
Paulo F. Bava de Camargo 
 
138 PROJETO ARQUEOLOGIA E EDUCAÇÃO: UM OLHAR PARA O PASSADO DA 
REGIÃO DE POÇOS DE CALDAS 
Solange Schiavetto, Ana Paula Gilaverte e Diego dos Santos de Andrade 
 
 
RESENHA 
 
153 NAVARRO, Alexandre Guida. Kakupacal e Kukulcán: iconografia e contexto 
espacial de dois reis-guerreiros maias em Chichén Itzá. São Luís: Café & Lápis; 
EDUFMA, 2012, 96 p. 
Luis Estevam de Oliveira Fernandes e Luis Guilherme Kalil 
 
 
ENTREVISTA 
 
157 JOSÉ REMESAL RODRÍGUEZ (História Antiga - Universidade de Barcelona) 
Por: Pedro Fermín Maguire e Isabela Soraia Backx Sanabria 
 
 
ERRATA 
164 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  	
 
 
Julho de 2 0 1 3 
 
Caríssimos colegas, 
 
É com um imenso prazer que a equipe do Laboratório de Arqueologia Pública Paulo 
Duarte (LAP/NEPAM/UNICAMP) apresenta e disponibiliza a sétima edição da Revista de 
Arqueologia Pública. Este número têm sentidos muito especiais para nós: 1) os textos 
passaram a ser configurados em um novo formato, iniciando, desta forma, nossa transição 
para o Sistema Open Journal System (OJS); que permite o gerenciamento de periódicos 
gratuitos na internet. 2) Para além disso, mantivemos a publicação periódica, gratuita, 
acessível e com artigos de qualidade. E, por fim, 3) essa edição traz uma seleção de textos que 
nos remetem diretamente às discussões realizadas na “Primeira Semana de Arqueologia 
Pública – Arqueologia e Poder”, organizada pelo LAP nos dias 19, 20 e 21 de março deste 
ano. 
Sem dúvida alguma, a Semana de Arqueologia foi uma grande experiência para nós: 
contamos com um público que se deslocou de diferentes regiões do país para participar do 
evento; e, podemos destacar que cada uma dessas pessoas que nos prestigiaram trouxeram 
experiências variadas, relacionadas ao conhecimento arqueológico, que se configuraram como 
cruciais para pensarmos questões teóricas, metodológicas e éticas de nosso próprio campo de 
atuação. Junto a esse movimento, contamos com palestrantes que com suas exposições e 
provocações nos permitiram a construção de reflexões acerca de temas plurais, que iam desde 
os aspectos vinculados à própria noção de Estado, Poder e Arqueologia, chegando ao 
território das sensibilidades e dos limites de nossa atuação. O evento foi para nós uma 
conquista. 
Os artigos que se seguem são, portanto, uma pequena amostra destes três dias 
intensos e criativos da “Semana de Arqueologia”. Com a leitura das produções dos 
professores Alexandre Guida Navarro, Camila Wichers, Cláudio Umpierre Carlan, Denise 
Maria Cavalcante Gomes, Robson Rodrigues, Dulcelaine L. Lopes Nishikawa, Glória Tega, 
Vera Regina Toledo Camargo, Maria Beatriz Rocha Ferreira, Pedro Paulo Funari, Aline 
Vieira de Carvalho, Lúcio Menezes Ferreira, Marcia Bezerra, Paulo Bava, Solange 
EDI TORI AL 
  	
Schiavetto, Ana Paula Gilaverte e Diego dos Santos de Andrade, nosso leitor poderá ter um 
pouco da Semana de Arqueologia em suas mãos! 
Completamos o leque de artigos com a publicação de uma resenha produzida pelos 
americanistas Luiz E. de Oliveira Fernandes e Luís Guilherme Kalil sobre o livro Kakupacal 
e Kukulcán: iconografia e contexto espacial de dois reis-guerreiros maias em Chichén Itzá, 
de Alexandre Guida Navarro, lançado na “Semana de Arqueologia”. E, uma entrevista 
realizada por Pedro Fermín e Isabela Backx, nossos alunos de pós-graduação, com o professor 
da Universidade de Barcelona e conferencista da Semana de Arqueologia José Remesal 
Rodríguez. 
Aproveito para indicar os “Anais da Primeira Semana de Arqueologia da Unicamp”, 
também disponibilizado na internet, como um caminho para acessar os textos completos das 
apresentações feitas no Evento e que não estão presentes nesta edição da Revista. Por fim, 
desejamos uma boa leitura dos artigos que se seguem e reforçamos os votos para que 
possamos reunir um número ainda maior de pessoas e debates na “Segunda Semana de 
Arqueologia da Unicamp”. Esforçaremo-nos para isso! 
 
 
Boa leitura! 
 
Aline Carvalho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O REI MAIA KUKULCÁN E SEUS DISCURSOS DE PROPAGANDA POLÍTICA EM 
CHICHÉN ITZÁ 
 
The Mayan King Kukulcan and his Speeches of Political Propaganda in Chichen Itza 
 
 
Alexandre Guida Navarro1 
 
RESUMO 
 
Chichén Itzá foi um populoso centro urbano maia responsável por tributar centenas de 
cidades, organizar um exército eficaz para os empreendimentos guerreiros e realizar comércio 
de longa distância com outras cidades maias e de outras etnias. Durante seu auge, no século 
IX, a cidade foi governada por um rei chamado Kukulcán, que foi responsável pela maioria 
das construções arquitetônicas da cidade. Tal governo foi marcado por uma eficiente 
propaganda política que foi planejada segundo um processo cognitivo de representação 
imagética do governante, cuja principal manifestação deu-se em forma de uma serpente 
emplumada. Estas imagens serviram de propaganda política para perpetuar a soberania deste 
rei, além de ser um registro imagético de sua importância na memória coletiva desta cidade 
maia. 
 
Palavras-chave: civilização maia, propaganda política, cultura material 
 
 
ABSTRACT 
 
Chichén Itzá was a populated urban center Mayan responsible for taxing hundreds of cities, to 
organize an army effective for warriors and perform long-distance trade with other Mayan 
cities and other ethnicities. During its heyday in the ninth century, the city was ruled by a kingnamed Kukulcan, which was responsible for most of the city's architectural constructions. 
This ruler was marked by an efficient propaganda that was planned according to a cognitive 
process of his imagery representation, whose main manifestation came in the form of a 
feathered serpent. These images were used as propaganda to perpetuate the sovereignty of the 
king, besides being a record imagery of its importance in the collective memory of this Mayan 
city. 
 
Keywords: Mayan Civilization, Political Propaganda, Material Culture 
 
 
RESUMEN 
 
Chichén Itzá fue un gran centro urbano maya responsable por tributar cientos de ciudades, 
organizar un ejército eficaz para y realizar comercio a larga distancia con otras ciudades 
mayas y otros grupos étnicos. Durante su apogeo en el siglo IX, la ciudad fue gobernada por 
un rey llamado Kukulcán, que construyó la mayoría de los edificios arquitectónicos de la 
ciudad. Este gobierno fue marcado por una propaganda eficaz que fue planeada de acuerdo 
                                                            
1 Doutor em Arqueologia pela Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). Professor Adjunto II da 
Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: altardesacrificios@yahoo.com.br 
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con un proceso cognitivo bajo la representación de las imágenes del gobernante, cuya 
principal manifestación era la serpiente emplumada. Estas imágenes fueron utilizadas como 
propaganda para perpetuar la soberanía del rey, además de ser un registro importante de las 
imágenes como memoria colectiva de esta ciudad maya. 
 
Palabras clave: civilización maya, propaganda política, cultura material 
 
 
Introdução: As crônicas 
 
As crônicas escritas pelos missionários espanhóis no século XVI são um conjunto 
documental etnográfico acerca das comunidades maias que viviam na Península do Iucatã 
quando do período do contato. Por outro lado, por associação etnológica, muitos costumes 
indígenas relatados na época da Conquista foram utilizados para explicar o cotidiano maia de 
períodos anteriores, como o Clássico (300-900 d.C.), sobretudo os aspectos religiosos, muitos 
dos quais, teriam sobrevivido à época da chegada dos conquistadores. 
O personagem Kukulcán aparece em várias destas crônicas, como o relato do bispo 
Diego de Landa em sua célebre obra Relación de las cosas de Yucatán (1566). A etimologia 
da palavra revela que kuk é “pluma de ave geral” e can, “serpente, cobra” (Dicionário maia 
Cordemex, p. 420, 1980). Portanto, este personagem está associado à serpente emplumada, 
um importante símbolo religioso pré-hispânico, que, na versão religiosa do altiplano recebeu 
o nome de Quetzalcóatl. 
Qual o seu significado segundo as crônicas? Nestes documentos, uma das 
associações de Kukulcán refere-se aos assuntos governamentais, e sua relação com a cultura 
material apareceu pela primeira vez na importante obra do primeiro bispo de Iucatán, frei 
Diego de Landa, intitulada “Relaciones de las Cosas de Yucatán”, quem em 1566 escreveu 
que “… é opinião que entre os itzaes que povoaram Chicheniza, reinou um grande senhor 
chamado Cuculcan, e que mostra ser isso verdade que o edifício principal se chama 
Cuculcan…” (LANDA, 2003: 94). Fica evidente, deste modo, que na obra de Landa, 
Kukulcán é um soberano maia. 
Por outro lado, outros cronistas, como Diego López de Cogolludo (1688) e Bernardo 
de Lizana (1633) registraram a existência histórica de Kukulcán como um personagem 
associado à guerra na península do Iucatã. Cogolludo (1688) documenta que “...os itzás de 
Chichén Itzá veneravam um ídolo que havia sido grande capitão [guerreiro] entre eles, 
chamando-o de Kukulcan ou serpente emplumada…” (LÓPEZ DE COGOLLUDO, 1971 I: 
352). 
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Já nas Relaciones Histórico-Geográficas de la Gobernación de Yucatán (1984a) 
[1560], o nome de Kukulcán aparece citado seis vezes, todas elas apontando o personagem 
como o introdutor da idolatria no Iucatã. A Relación de Motul (1984: 269-70) narra que: 
 
No que toca às adorações tinham conhecimentos de um Deus que criou o céu e a 
terra e todas as coisas… ao qual tinham edificado templo com sacerdotes, que 
levavam presentes e esmolas para que eles os oferecessem a Deus, e esta maneira de 
adoração teve até que veio de fora desta terra um grande senhor com gente chamado 
Kukulcan, e daqui começaram os da terra idolatrar. 
 
Chichén Itzá e Kukulcán 
 
Chichén Itzá foi centro hegemônico que conquistou militarmente grande parte da 
Península do Iucatã, foi produtor e distribuidor exclusivo de sal em toda Mesoamérica, 
controlou grande parte das rotas marítimas maias através da construção de portos, além de ter 
sido uma cidade responsável por tributar várias cidades maias, além de outras no altiplano 
mexicano. O seu principal conjunto de edifícios chama-se Grande Nivelação, uma grande área 
de construção arquitetônica localizada ao norte da cidade (PIÑA CHÁN, 1980; RINGLE et al. 
1998; LÓPEZ AUSTIN e LÓPEZ LUJÁN, 1999; COBOS, 2003; SHARER, 2003; BAUDEZ, 
2004; RINGLE, 2004; NAVARRO, 2007). 
Embora a escrita de Chichén Itzá não faça alusão direta ao personagem Kukulcán, 
por analogia etnológica e iconográfica, é possível perceber que este indivíduo foi representado 
em alguns edifícios da Grande Nivelação (KROCHOCK, 1988, 1989). Levando em 
consideração a iconografia com temas associados ao poder real na área maia, além de sua 
associação com a serpente emplumada, o principal componente simbólico de Kukulcán, 
alguns pesquisadores têm postulado que este personagem foi plasmado na memória coletiva 
de Chichén Itzá (COBOS, 2003; NAVARRO, 2007; NAVARRO e FUNARI, 2009). 
Já que a serpente emplumada é o principal componente iconográfico do personagem, 
realizamos, através de pesquisa doutoral, um catálogo com a representação destas imagens. 
Observamos uma considerável variação nos tipos plumários. Em princípio, pensamos que se 
isso devia ao estilo aplicado pelo pintor, no entanto, essas plumas parecem ser um signo que 
identifica diferentes conjuntos arquitetônicos dentro da Grande Nivelação. Os exemplares 
podem ser classificados em: sem plumas, com plumas em forma de gancho, com plumas 
longas, plumas em forma de espinho e plumas com forma de triângulo isósceles (figuras 1a, 
1b, 1c, 1d e 1e; todas desenhadas pelo autor). 
 
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Figura 1a. Serpente sem plumas na serpe Figura 1b. Serpente com plumas longas. 
 
 
 
 
 
Figura 1c. Serpente com pluma em forma de gancho. Figura 1d. Serpente com 
plumas em forma de 
espinho. 
 
 
 
 
 
Figura 1e. Serpente com plumas em forma de triângulo isósceles. 
 
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Catalogado um total de 147 imagens de serpentes com e sem plumas, apenas 10 não 
estão na Grande Nivelação. Isso significa que 93,19% das imagens de serpente catalogadas 
aparece nesta esplanada (figura 2). 
 
Figura 2. Distribuição espacial de serpentes emplumadas em Chichén Itzá. 
 
 Podemos observar que a Grande Nivelação divide-se em dois setores: a Plaza do 
Castillo é mais aberto, caracterizado principalmente pela presença de estruturas piramidais. Já 
o Conjunto das Mil Colunas é um espaço caracterizado pela presença de pórticos e colunatas, 
inexistentes na Plaza anterior. As serpentes emplumadas também são diferentes em cada uma 
dessas áreas. 
Na Plaza do Castillo são serpentes com plumas longas, e em forma de gancho penas 
que estão associadas com o poder do governante, pois aparecem em cenas de nitronização 
(ver figuras 1b e 1c). Esta imagética está associada ao prestígio de personagensindividuais e 
imbuídas de cenas de propaganda política. Neste sentido, acompanham sempre a imagem de 
um personagem conhecido como Capitão Serpente, que consideramos ser Kukulcán 
(MILLER, 1978; NAVARRO e FUNARI 2009). Como salientamos anteriormente, estas 
cenas são caracterizadas por uma parafernália de objetos usados em cerimônias de 
entronização do governante. 
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Kukulcán aparece com traços guerreiros na Pirâmide El Castillo, sendo que atrás dele 
aparece uma serpente com plumas longas e barba (figuras 3 e 4). Esta representação possui 
algumas peculiaridades que nos fazem inferir a importância deste personagem: está registrada 
no espaço mais exclusivo da pirâmide perto de duas colunas em forma de serpente 
emplumada que sustentam esta câmara. Além disso, as escadarias norte do edifício foram 
edificadas à maneira de grandes serpentes emplumadas, cujo efeito ótico que se dá nos 
equinócios de primavera e outono faz o espectador contemplar uma sombra em forma de 
corpo de serpente que se projeta em um dos costados do edifício. 
 
Figura 3. El Castillo. Fotografia tirada pelo autor. 
 
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Figura 4. Kukulcán (à esquerda) aparece de frente para outro governante de Chichén Itzá. Em 
Taube 1992. 
 
Já no Templo Norte, há três representações de um personagem associado à serpente 
emplumada (figura 4). As imagens dão conta de cenas que retratam um personagem que está 
sofrendo o processo de entronização. Este indivíduo leva uma serpente emplumada atrás de si. 
É provável que se trate, portanto, de Kukulcán sendo entronizado; o Templo Norte pôde ter 
isso o local deste processo ritualístico. 
 
Figura 5. Templo do Norte. Fotografia tirada pelo autor. 
No Templo Superior dos Jaguares, Kukulcán possivelmente é o destaque na 
iconografia. Os murais do edifício estão profusamente decorados e existem várias imagens de 
serpentes emplumadas. O destaque das cenas são as aparições de Kukulcán junto com um 
personagem associado a um Disco Solar, que, na literatura é conhecido como Kakupacal, 
outro governante da cidade de Chichén Itzá. Parece que estes dois indivíduos estão fazendo 
negociações de poder ou estão em rituais que passagem de poder de um soberano para o 
sucessor (NAVARRO e FUNARI, 2009). Além disso, há que ressaltar que colunas em forma 
de serpente emplumada também aparecem no vestíbulo do edifício (figuras 6). 
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Figura 6. Kukulcán, à esquerda da imagem. Coggins, 1989: 162 
Já no Grande Jogo de Pelota de Chichén, o maior da Mesoamérica, com 168 metrps 
de comprimento por 70 de largura, as serpentes têm plumas longas e são recorrentes na 
escultura, onde aparecem rematando todo o edifício. No Tzompantli e na Plataforma das 
Águias e Jaguares as serpentes com plumas longas aparecem nas molduras superiores e 
alfardas dos edifícios. No primeiro, a iconografia aparece assocaida à cenas de prisioneiros 
decapitados e cabeças troféu. 
Além da iconografia, existem algumas evidências arqueológicas que nos levam a 
inferir que estes personagens que aparecem associados com as serpentes emplumadas fazem 
alusão direta a Kukulcán. Há que considerar a distribuição espacial dos edifícios onde a 
imagem está representada: são espaços destinados à elite, são fechados, com acesso exclusivo, 
e têm alto status social já que são profusamente decorados. Além disso, estão associados a 
espaços sagrados, como é a quadra do jogo de bola que se localiza em suas proximidades. Ou 
seja, são espaços destinados à atividade administrativa e rituais em Chichén Itzá. 
Outro aspecto que deve ser explorado é a natureza destas construções piramidais. 
Considerando que a iconografia destes edifícios exploram a entronização dos governantes, e, 
neste caso específico, a de Kukulcán, isso poderia explicar a alta proporção de serpentes de 
plumas longas e de gancho representadas nestas estruturas. 
Agora nos reportemos ao outro espaço adjacente, o Grupo das Mil Colunas. Este 
espaço também foi construído durante a época da Plaza do Castillo, mas se distingue daquela 
por ser espacial e arquitetonicamnete organizada de forma diferente. Este espaço é 
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caracterizado pela construção de conjuntos de colunas, que não existem na Plaza del Castillo, 
e as imagens da serpente possuem forma de espinho, associados a uma procissão de 
guerreiros que caminham em fila indiana em direção a uma oferenda no centro da imagem. 
No Templo dos Guerreiros, por exemplo, a imagem de serpente com plumas em forma de 
espinho é caracterizada por cenas de guerreiros que navegam no mar e capturam prisioneiros. 
Estas serpentes aparecem associadas à cenas de sacrifício, onde o sacrificador retira o coração 
da vítima que está sobre uma pedra sacrificial. 
A Serpente Emplumada da Subestrutura do Templo dos Guerreiros é notável por 
duas razões (Figura 1e). Primeiro, por causa do seu tamanho: tinha oito metros de 
comprimento e foi pintada de amarelo sobre um fundo vermelho na parede leste do edifício. 
Segundo, a imagem possui uma pata com garras de aves. Estas serpentes também podem ser 
encontrados nas páginas 3 e 10 do Códice mixteco Nuttall (Figura 7). Segundo Fähmel Beyer 
(2001: 191), estas serpentes estão relacionadas com o aparecimento de um cometa e estão 
associadas a maus presságios. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7. A Serpente Emplumada no Códice Nuttal Em Fähmel Beyer 2001, p. 206. 
 
Segundo Fähmel Beyer (2001: 192-193), para muitos povos mesoamericanos a visão 
de um cometa foi vista como uma previsão da morte de um príncipe ou rei. 
De acordo com este investigador, no túmulo 2 de Mitla foi enterrada uma pessoa importante, 
em cuja antecâmara havia a imagem de um cometa. Embora na Subestrutura do Templo dos 
Guerrerios não haver nenhuma sepultura, a imagem da serpente com pluma em forma de 
triângulo isósceles pode estar indicando que a construção original do prédio foi relacionada a 
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qualquer evento ou ocorrência relacionada com o presságio de um cometa. Contudo, não há 
nenhum estudo publicado sobre este tema em Chichén Itzá. 
De acordo com os estudos de Fähmel Beyer (2001), a representação do Códice 
Nuttal refere-se à passagem do cometa Halley, no ano de 912 d.C. Se esse fenômeno foi visto 
por vários grupos na Mesoamérica nesta data e relacionado a maus presságios, faz sentido que 
a serpente emplumada retratada na parede leste da Subestrutura do Templo dos Guerreiros 
poderia, também, estar associada a tais eventos. Dado a cronologia da construção da Grande 
Nivelação, é mais provável que tal evento estivesse assoaciado a uma passagem anterior do 
cometa, ou seja, 76 anos antes, em 836 AD. Assim, o início da construção desta Subestrutura 
pode ser datada para esta época, provavelmente. 
Ainda com relação ao complexo do Templo dos Guerreiros há que se pontuar algo 
importante. É uma representação de uma serpente emplumada com cornos ou chifres, dando a 
forma a duas colunas que davam sustentação ao teto do edifício (figura 8). Embora associada 
a seres míticos, a observação biológica da espécime, faz considerar que é uma cascavel da 
espécie Crotalus Cerastes, que não existe na península do Iucatã. Esta espécie habita os atuais 
Estados da Baja Califórnia e Sonora, no México e no sudoeste dos Estados Unidos, nos 
Estados da Califórnia, Arizona e Nevada (CAMPBELL e LAMAR, 2004 e comunicação 
pessoal com o Dr. Oscar Flores Villela) (Figura 9). É uma cascavel bastante venenosa. Pode 
ser que Kukulcántenha utilizado toda essa variedade de cascavéis como metáfora de poder. 
Aqui vale ressaltar que a espécie Crotalus Cerastes procede do mesmo lugar onde se obtinha 
a turquesa, encontrada em oferendas em forma de disco no interior dos Templos dos 
Guerreiros. Sabemos, por exemplo, que várias cidades da Mesoamérica importaram diversos 
materiais para fins rituais, como as conchas importadas encontradas no Templo de 
Quetzalcoatl em Teotihuacan, associadas às atividades rituais (SUGIYAMA et al., 1991). 
Teria que se investigar a possível relação destes produtos importados, bem como o seu 
significado, com a obtenção de espécies como Crotalus Cerastes, ou outros animais, em 
Chichén Itzá. 
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Figura 8. Serpente emplumada com chifres. Templos dos Guerreiros. Fotografia autor. 
 
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Figura 9. As Crotalus Cerastes Espécies. Foto tirada www.ontdekkingsreis.org.jpg 
 
Considerações Finais 
 
Uma das conclusões da nossa tese é que o nivelamento Grande não é um espaço 
"monolítico", como geralmente interpretado na literatura. A esplanada é dividida em dois 
setores principais, com uma diferença óbvia na organização do espaço e também vários 
elementos arquitetônicos que caracterizam cada um desses setores, que deverá corresponder a 
diferentes atividades sociais (NAVARRO, 2007). 
A existência de uma grande quantidade de serpentes emplumadas na Grande 
Nivelação e sua quase ausência em outros grupos arquitetônicos, como o Complexo das 
Monjas e Série Inicial, indica que as imagens de serpente emplumada eram um elemento 
simbólico na construção da Plaza do Castillo e Grupo das Mil Colunas. São a maneira como 
Kukulcán metaforiza seu poder, o seno da casa real. 
 
Referências bibliográficas 
 
BAUDEZ, C. Una historia de la religión de los antiguos mayas, UNAM, México, 2004. 
 
COBOS, R. The Settlement Patterns of Chichen Itza, Yucatan, Mexico. Ph.D. disertación. 
Department of Anthropology, Tulane University, 2003. 
 
DE LA GARZA, M. Relaciones histórico-geográficas de la Gobernación de Yucatán. 
México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1984a. 
 
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PRÁTICA ARQUEOLÓGICA E MEMÓRIA SOCIAL: REDES DE SABER E PODER 
NAS PESQUISAS EM ÁREAS DE EXPANSÃO DE CULTIVO NO INTERIOR 
PAULISTA 
 
Archaeological Practice and Social Memory: networks of knowledge and power in the 
research of cultivation expansion areas in interior of São Paulo state 
 
 
Camila A. de Moraes Wichers1 
 
 
RESUMO 
Nesse artigo apresento algumas reflexões acerca do cenário atual das pesquisas arqueológicas 
em áreas de expansão de cultivo de cana de açúcar no Estado de São Paulo. Destaco o número 
reduzido de pesquisas nessas áreas, sobretudo, aquelas que envolvem etapas de resgate 
arqueológico e processos de socialização. Como contraponto, apresento o Programa Guarani 
de Gestão dos Recursos Arqueológicos, que já cadastrou 62 sítios arqueológicos, alguns 
datados entre os séculos XV e XVII, os quais remetem a discussões sobre a colonização 
europeia da região e o extermínio dos grupos indígenas, a partir da problematização dos 
conceitos de memória coletiva, memórias exiladas e passados excluídos. Nesse sentido, a 
escolha de determinadas posturas teóricas e práticas metodológicas tem possibilitado o 
questionamento acerca da história “oficial” que excluiu as populações indígenas das 
memórias locais. 
Palavras-chave: Arqueologia Preventiva, Musealização da Arqueologia, Memória Social 
 
ABSTRACT 
In this article I present some reflections on the current scenario of archaeological research in 
sugarcane expansion areas in São Paulo state. I highlight the small number of research in 
these areas, especially those that involve rescue and socialization processes. As a counterpoint, 
I present the Guarani Program of Archaeological Resources Management, which has 
registered 62 archaeological sites, some dating between the fifteenth and seventeenth 
centuries, referring to discussions about the colonization of the region and the extermination 
of indigenous groups, problematizating concepts of collective memory, exiled memories and 
excluded pasts. The choice of certain theoretical positions and methodological practices has 
made it possible to question the “official” history, which excluded indigenous peoples from 
local memories. 
Keywords: Preventive Archaeology, Archaeological Musealization, Social Memory 
 
 
 
                                                            
1 Doutora em Museologia pela ULHT/Lisboa e em Arqueologia pelo MAE/USP. Diretoria Técnica da Zanettini 
Arqueologia. Contato: camila@zanettiniarqueologia.com.br 
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RESUMEN 
En este artículo presento algunas reflexiones sobre la situación actual de la investigación 
arqueológica en las áreas de expansión del cultivo de la caña en São Paulo. Hago hincapié en 
el pequeño número de estudios en este ámbito, especialmente los que implican las 
excavaciones y la socialización de los bienes patrimoniales. Como contrapunto, presento el 
programa de Gestión de Recursos Arqueológicos Guaraní, que cuenta con 62 sitios 
arqueológicos registrados, algunos que datan entre los siglos XV y XVII, que se refieren a las 
discusiones sobre la colonización europea de la región y el exterminio de los grupos 
indígenas. Presento desde la problematizaciónlos conceptos de la memoria colectiva, 
memorias exiladas y pasados excluidos. En este sentido, la elección de ciertas posiciones 
teóricas y prácticas metodológicas han permitido cuestionar sobre la historia "oficial" que 
excluía a los pueblos indígenas de las memorias locales. 
Palabras clave: Arqueología Preventiva, Musealización de la Arqueología, Memoria Social 
 
Introdução 
A pesquisa arqueológica é um processo seletivo, orientado a partir de posturas 
teóricas e colocado em prática a partir de metodologias, configurando práticas de 
colecionamento (MORAES WICHERS, 2010). Tais práticas, além de gerar coleções, também 
produzem narrativas, colocando os arqueólogos como construtores e intérpretes do passado 
(SHANKS & TILLEY, 1988; 1987/1992). Assim, ao trabalhar com questões relacionadas às 
identidades, memórias, sistemas de dominação (ou ocultamento) de relações sociais e 
políticas, entre outros, a Arqueologia está inscrita em uma rede de saberes e poderes 
(BARROS, 2011). 
Nesse artigo, proponho algumas reflexões acerca das pesquisas em curso no âmbito 
das áreas de expansão de cultivo de cana de açúcar no Estado de São Paulo, enfatizando a 
relação entre prática arqueológica e memória social. 
Mais de 96% da Arqueologia Paulista é desenvolvida no âmbito do licenciamento de 
empreendimentos e o setor sucroalcooleiro desponta como uma das atividades produtivas que 
mais crescem no Estado. Contudo, um número reduzido de pesquisas tem sido realizado 
nessas áreas, sobretudo, no que tange às pesquisas que abrangem etapas de resgate 
arqueológico e correspondentes processos de socialização. 
Trago, como exemplo, o Programa Guarani de Gestão dos Recursos Arqueológicos, 
desenvolvido desde 2007, pela equipe da Zanettini Arqueologia, no norte do Estado. Como 
contraponto, esse programa já cadastrou 62 sítios arqueológicos, destacando-se a construção 
de histórias indígenas para essa porção do território paulista. Os processos de musealização 
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dessas coleções e narrativas têm possibilitado o questionamento acerca da história “oficial” 
que excluiu as ocupações indígenas das memórias locais, tendo como embasamento a 
realidade arqueológica. Nesse sentido, tem sido enfatizado, tanto na pesquisa arqueológica, 
como nos processos educativos, o conceito de diversidade cultural. 
 
Arqueologia Paulista no século XXI: o lugar das pesquisas em áreas de expansão de 
cultivo de cana de açúcar 
 
Os processos de seleção, estudo e preservação do patrimônio arqueológico no Estado 
de São Paulo têm sido marcados por continuidades e rupturas, avanços e retrocessos. Esses 
binômios não estão, obviamente, presentes apenas nesse Estado. Contudo, ao retomar a 
trajetória das pesquisas arqueológicas realizadas em São Paulo, assim como seus respectivos 
processos de musealização, foi possível identificar uma tensão constante entre os conceitos de 
desenvolvimento e preservação (MORAES WICHERS, 2011). Esses conceitos entraram, 
muitas vezes, em rotas irreconciliáveis, marcando a realidade paulista até os dias atuais. 
Ainda na transição entre os séculos XIX e XX, esse Estado se afirmou como 
“locomotiva do país”, engendrando um novo modelo de desenvolvimento, pautado tanto na 
economia cafeeira quanto na industrialização (movimento que também imprimiu marcas nas 
mentalidades paulistas). No momento atual, o modelo desenvolvimentista adotado no país 
seguiu fortalecido no Estado de São Paulo. Cabe indagarmos como a prática arqueológica tem 
lidado com esse contexto. 
Entre 2003 e 2012, 6.543 portarias de pesquisa arqueológica foram publicadas no 
Diário Oficial da União2. Destas 1.029 estavam inseridas no Estado de São Paulo, ou seja, 
cerca de 16% das pesquisas realizadas no Brasil no período abordado. Contudo, entre as 
portarias emitidas para o referido Estado, apenas 17% mencionam o resgate arqueológico. 
Embora outras abordagens venham assumindo uma importância crescente nas 
práticas arqueológicas, visto que fornecem indicadores de observação para conjunto de 
paisagens e seus elementos, no âmbito do licenciamento ambiental a escavação sistemática, 
inserida na etapa de resgate arqueológico, ocupa papel de destaque por ser, muitas vezes, a 
última intervenção possível em um bem arqueológico inserido em uma área a ser diretamente 
afetada por um empreendimento. Ou seja, no escopo da Arqueologia Preventiva o 
denominado resgate arqueológico é imperativo. O baixo percentual de portarias que 
mencionam essa atividade pode estar relacionado a dois fatores: 1) Não estão sendo 
                                                            
2 Excetuando-se as portarias de renovação ou prorrogação de pesquisa. 
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detectados sítios arqueológicos; 2) Os sítios detectados não estão sendo resgatados em 
compasso com o licenciamento. Se esse cenário é preocupante, quando analisada a totalidade 
de pesquisas no recorte cronológico adotado, o quadro trazido pelas áreas de expansão de 
cultivo de cana de açúcar é ainda mais desolador. 
Em 2011, a indústria sucroalcooleira paulista produziu 21 milhões de toneladas de 
açúcar e 11 milhões de metros cúbicos de etanol, que representam, respectivamente, 58% e 
51% do total produzido no Brasil. Entre 2001 e 2011, a produção paulista de açúcar cresceu 
121% e a de álcool 82%, impulsionada pelo mercado de biocombustíveis3. Algumas questões 
se colocam: se cresceu a produção, tivemos um aumento no número de pesquisas relacionadas 
aos licenciamentos no setor? Como a prática arqueológica tem se dado nessas áreas? 
 
 
Gráfico 01. Produção de cana de açúcar e pesquisas arqueológicas associadas ao licenciamento de áreas de 
expansão de cultivo em São Paulo (Fonte: Diário Oficial da União e Unicadata4) 
 
No período analisado, foram emitidas 82 portarias de pesquisa arqueológica para as 
áreas de expansão de plantio de cana de açúcar no Estado de São Paulo (cerca de 8% das 
portarias emitidas para o Estado entre 2003 e 2012), sendo que destas, apenas 10 envolviam 
resgate arqueológico (Gráfico 01). Essas 82 portarias de pesquisa foram emitidas para apenas 
nove pesquisadores coordenadores, sendo que o primeiro e o segundo lugar no ranking detém 
42% e 21% das portarias, respectivamente, evidenciando uma concentração em alguns 
arqueólogos/equipes, o que também pode significar o predomínio de determinadas posturas 
teóricas. 
                                                            
3 Dados presentes em http://www.investe.sp.gov.br/setores/cana. Acessado em 18 de Março de 2013. 
4 Dados presentes em http://www.unicadata.com.br/historico-de-producao-e-
moagem.php?idMn=31&tipoHistorico=2. Acessado em 18 de Março de 2013. 
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Os contextos arqueológicos inseridos em áreas de expansão de cana de açúcar 
apresentam configurações específicas, demandando metodologias adequadas de detecção e 
resgate das evidências. Isso porque, na maior parte das vezes, estamos diante de terrenos que 
vêm sendo utilizados para o plantio há décadas, resultando em um registro arqueológico de 
baixa visibilidade. Para Araújo (2001), a definição de sítios alterados ou destruídos passa pelo 
fato dos mesmos estarem próximos à superfície, partindo de uma ideia errônea de que apenas 
sítios enterrados apresentam potencial interpretativo. No entanto, todo sítio enterrado já 
esteve exposto em superfície e sabe-se que “o princípio de funcionamento do arado e 
implementos agrícolas consiste basicamente em revolver a terra, não em transportá-la” 
(ARAÚJO, 2001:118). Obviamente, o avanço da mecanização desses processos, no contexto 
atual, traz sérios riscos ao patrimônio arqueológico. Mas, no que concerne aosmétodos 
anteriormente empregados, os processos de plantio dificultaram, mas não impossibilitaram a 
prática arqueológica nas extensas áreas atualmente utilizadas para o plantio de cana de açúcar, 
conforme exemplo a seguir. 
 
Programa Guarani de Gestão dos Recursos Arqueológicos: alguns resultados 
 
Bruno (1995, 2005) aponta que, no cenário brasileiro, o abandono das fontes 
arqueológicas resultou em uma estratigrafia do abandono e na circunscrição de tais vestígios 
no âmbito das memórias exiladas. Nesse sentido a autora reflete que: 
 
Sobre esses vestígios pré-coloniais acumulam-se várias camadas de interpretações 
sobre mais de 500 anos de ocupação estrangeira deste território e, apesar de mais de 
um século de institucionalização da pesquisa e dos acervos, ainda são raras as 
abordagens que vinculam esses vestígios às nossas tradições e rupturas. Consolidou-
se uma estratigrafia do abandono que isolou as fontes arqueológicas e as 
circunscreveu ao terreno das memórias exiladas (BRUNO, 2005: 237-238). 
 
Parto da hipótese de que no norte de São Paulo, mais que esquecidas ou 
abandonadas, as fontes arqueológicas foram reiteradamente desprezadas, resultando em um 
cenário onde a reflexão elaborada por Bruno (1995, 2005) torna-se crucial. No cenário 
contemporâneo, o número reduzido de pesquisas, a despeito da expansão das áreas de cultivo, 
e o número ainda menor de resgates, mascarados por uma visão pretensamente científica de 
que essas áreas são de baixo potencial arqueológico e com sítios “destruídos”, reforçam 
visões estereotipadas das histórias desse território. 
O Programa Guarani de Gestão dos Recursos Arqueológicos (ZANETTINI 
ARQUEOLOGIA, 2007, 2008, 2009, 2011), está associado ao licenciamento de áreas de 
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expansão de cultivo de cana de açúcar, no norte do Estado de São Paulo, envolvendo os 
municípios indicados na Figura 1. Quando começamos a desenvolver o Programa 5 nos 
pautamos na hipótese de que essas extensas áreas poderiam trazer informações inéditas para a 
realidade arqueológica paulista, desde que aplicadas metodologias adequadas, tanto no que 
concerne à identificação dos sítios quanto ao seu resgate. Ademais, essas áreas estavam 
inseridas em porções do Estado pouquíssimo conhecidas do ponto de vista da Arqueologia, o 
que só aumentava a relevância científica e social do programa. 
Por outro lado, da minha parte, esse programa surgia como oportunidade para a 
construção de um trabalho que, associado às estratégias de musealização, colaborasse para a 
reversibilidade dos olhares acerca dos passados excluídos da região, tomando o conceito de 
Mackenzie & Stone (1990), já aplicado ao interior paulista por Rodrigues & Schiavetto 
(1999). Para tanto, os contextos arqueológicos tinham que ser identificados, analisados, 
interpretados e socializados com as comunidades envolvidas. 
 
 
Figura 1. Mapa dos sítios arqueológicos cadastrados no Estado de São Paulo (MORAES WICHERS, 2011). As 
cores mais fortes significam um maior número de sítios registrados. Os municípios do programa Guarani estão 
indicados pelos círculos vermelhos. 
 
A partir da integração de abordagens oportunísticas e probabilísticas nas 
consecutivas etapas de campo, efetuadas entre os anos de 2007 e 2010, foram identificados 62 
sítios arqueológicos.6 Esses sítios estão inseridos em 12 municípios do norte paulista, sendo 
                                                            
5 Uso a terceira pessoa do plural, enfatizando o trabalho em equipe realizado no âmbito desse Programa. 
6 Dentre os 62 sítios arqueológicos, temos: 14 sítios líticos, quiçá, relacionados aos contextos cronológicos 
mais recuados; 43 sítios lito-cerâmicos, dentre os quais, àqueles datados revelam o predomínio de sítios 
situados entre os séculos XV e XVII; 01 sítio arqueológico histórico associado ao século XX e 04 sítios 
onde temos contextos líticos e cerâmicos indígenas e vestígios posteriores, relacionados ao século XX. No 
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que, dentre esses, apenas dois municípios possuíam um patrimônio arqueológico detectado 
anteriormente: Olímpia e Guaíra, com dois e seis sítios cadastrados, respectivamente. Dessa 
forma, esse programa representou um incremento de 700% no patrimônio arqueológico 
reconhecido para a região. Convém explicitar que, dentre os 62 sítios, 35 foram resgatados até 
o momento 7 . A detecção de uma estrutura funerária 8 no sítio Olímpia IV apontou, 
efetivamente, o potencial das pesquisas em áreas de cana. 
No que concerne à interpretação desses contextos, essa imensa região, delimitada 
ao norte pelo rio Grande, ao sul pelo rio Tietê, a oeste pelo rio Paraná e a leste pelo rio 
Pardo, é compreendida como um extenso corredor de influências de grupos indígenas 
diversificados, Tupis do Interior, Guaranis vindos do Sul, Jês Centrais e Meridionais, 
segundo dados etnográficos apresentados por Marcel Mano (2006). 
 
Gráfico 02. Cronologia dos sítios arqueológicos pesquisados no programa (Marinheiro, Olímpia IV, Olímpia 
VII, Colina I, Ribeirão das Pitangueiras, Rio Grande, Guaraci, Rio Cachoeirinha II, Fazenda da Mata), 
comparados aos sítios datados no norte paulista (Organização: Marcel Lopes). 
 
As reflexões aqui pontuadas estão baseadas, sobretudo, na análise dos sítios 
arqueológicos resgatados até o momento, sobretudo, aqueles associados aos grupos 
                                                                                                                                                                                          
presente texto são enfatizados os resultados associados às ocupações situadas cronologicamente entre os 
séculos XV e XVII. 
7 As etapas de resgate arqueológico foram desenvolvidas entre os anos de 2008 e 2012 e deverão ter 
continuidade no ano de 2013. 
8 O tipo de enterramento não foi identificado, embora o crânio articulado à mandíbula e a clavícula em posição 
anatômica indiquem a presença de conexão e de uma possível deposição funerária primária. O NMI (número 
mínimo de indivíduos) é 1 (um), tratando-se de enterramento possivelmente simples. A face estava voltada para 
o norte e a orientação do eixo crânio-bacia não foi determinada. A estrutura funerária como um todo – materiais 
ósseos e dentários, recipiente cerâmico e tembetá – encontrava-se inserida na Unidade de Escavação 7. Os 
remanescentes ósseos e dentários, com adorno associado, encontravam-se distribuídos numa área de 60x10cm, 
com cota crânio de 53cm. Foi enviado para datação por AMS, no Laboratório Beta Analytic (Flórida, USA), 1 
molar desarticulado do maxilar superior, coletado em campo, junto ao crânio. O resultado da datação foi de 390 
+/- 40 BP (Beta – 241017/ A.M.S.), apontando para uma ocupação Tupi recente da região em estudo (PIEDADE 
& SILVA, 2008 Apud ZANETTINI ARQUEOLOGIA, 2008: 151). 
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indígenas que ocuparam essa região entre os séculos XV e XVII. As pesquisas realizadas 
evidenciaram contextos extremamente híbridos que podem ser agrupados, de forma geral, 
em três conjuntos: 1) Contextos Tupi que podem de forma genérica ser associados à tradição 
arqueológica Tupiguarani, mas que revelam características diferenciadas que não os 
enquadram nas subtradições apontadas por Brochado (1984), apontando para estilos regionais 
específicos de grupos Tupi do interior (MORAES, 2007: 2) Contextos Jê que se assemelham 
a sítios da tradição Aratu, mas que não se enquadram nas características apontadas pela 
literatura (ROBRAHN-GONZÁLEZ, 1996; FERNANDES, 2001) e ainda 3) Contextos Jê que 
mesclam características das Tradições Aratu/Uru. 
A compreensão dessas ocupações, demanda a caracterização da variabilidadeartefatual em tela, dos estilos tecnológicos e das redes de interação cultural subjacentes. 
Defendo que a classificação desses contextos a partir de uma visão normativa de cultura 
acaba perpetuando uma visão estática e empobrecedora das populações indígenas, com 
resultados diretos nos processos de comunicação museológica. Como apresento a seguir, 
essa tarefa é árdua, mas extremamente significativa para uma descolonização da 
Arqueologia Paulista. 
 
Pesquisa arqueológica e memória social: o Programa de Educação Patrimonial 
 
A concepção do programa partiu de uma articulação constante entre pesquisa 
arqueológica e musealização, integrando a dupla antropofagia do patrimônio arqueológico e 
assumindo as seguintes premissas: 
Primeira premissa: acredito que os processos de socialização do patrimônio 
arqueológico devem articulá-lo a outros segmentos patrimoniais. Lembro que o patrimônio 
cultural é uma seleção de bens e valores de uma cultura, que formam parte da propriedade 
simbólica de determinados grupos (MERILLAS, 2003: 20). Ao ampliarmos o leque de 
referências patrimoniais estamos objetivando a construção de um diálogo efetivo com a 
sociedade, favorecendo processos de apropriação/construção/desconstrução do conhecimento 
gerado pela pesquisa arqueológica. 
Segunda premissa: tomo a disciplina Museológica (BRUNO, 2000), em particular os 
princípios da Sociomuseologia (MORAES WICHERS, 2010), como aporte teórico e 
metodológico no desenvolvimento das ações, dialogando também com a metodologia da 
Educação Patrimonial. Ao abordar a metodologia da Educação Patrimonial busquei, em 
trabalho anterior (MORAES WICHERS, 2011), compreender a estratigrafia da relação entre 
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patrimônio, educação e museus retrocedendo à primeira metade do século XX. Entendo essa 
abordagem histórica como fundamental para compreensão de como essa metodologia foi 
antropofagizada (CHAGAS, 2004), transformando-se em um campo autônomo, repleto de 
possibilidades no cenário contemporâneo. 
A concepção do programa partiu da compreensão de que processos museológicos 
potencializam a relação entre homem (sociedade) e objeto (patrimônio) para além dos 
cenários museológicos institucionalizados. Ainda que o programa não esteja sendo 
desenvolvido no seio de uma instituição museológica, a ação educativa centrada no 
patrimônio é um processo de natureza museológica. Ademais, me situo no âmbito da teoria 
construtivista que associa uma visão idealista do conhecimento ao papel ativo do indivíduo na 
aprendizagem, afirmando ainda a educação como prática política, aspecto particular ao 
pensamento freireano (FREIRE, 1987). 
O programa foi organizado em três etapas: levantamento das realidades locais, 
multiplicação do conhecimento e avaliação do processo, inseridas em uma engrenagem 
metodológica na qual os processos de avaliação ocupam lugar de destaque, posto que esses 
processos possibilitam a retroalimentação do programa, de caráter continuado.9 
O levantamento das realidades locais foi realizado sempre de forma concomitante ao 
próprio trabalho de Arqueologia. Nesse sentido, a coordenação integrada do programa de 
gestão e de educação patrimonial possibilitou uma visão integral do processo, permitindo uma 
reflexão profunda acerca da interface Arqueologia - Museologia. 
O programa foi direcionado, prioritariamente à educação formal, 10 por meio do 
trabalho com educadores, compreendidos como “agentes da educação da memória” (BRUNO, 
2006) e multiplicadores por excelência do programa. 
Najjar (2011), a respeito das críticas dirigidas aos programas de Educação 
Patrimonial que atuam apenas com a educação formal, salienta que dialogar somente com a 
                                                            
9 As ações aqui descritas foram desenvolvidas entre 2008 e 2010. A partir de então, ocorreram apenas ações 
pontuais na região, sendo que o programa deverá ser retomado, em maior profundidade, ao longo de 2013. 
10 Além das ações voltadas para o público escolar aqui abordado, foram realizadas: palestras em cursos técnicos, 
sinalização de sítios arqueológicos, participações na Feira do Folclore de Olímpia e ações preliminares com 
trabalhadores do corte de cana. No que concerne ao último público mencionado, entendo que um espaço próprio 
de diálogo deve ser criado com esses sujeitos, para além, por exemplo, de palestras inseridas nos diálogos de 
saúde e segurança, ou ainda, conversas realizadas nos ônibus que fazem o transporte desses trabalhadores – 
caminhos que nos recusamos a percorrer. O que vemos é a inserção da Arqueologia nas ‘brechas’ de um dia já 
bastante cansativo. Outra questão de suma importância é como estabelecer uma ponte com o cotidiano desses 
sujeitos. Nesse sentido, partir do cotidiano de trabalho é um caminho. Do contrário: qual o significado de 
despejarmos “nosso conhecimento” sobre essas pessoas? Temos esse direito? Um programa de levantamento de 
histórias de vida, pautado nas memórias individuais, foi concebido para o trabalho com esse público, tendo sido 
realizadas as primeiras oficinas no ano de 2011, as quais foram conduzidas por Louise Prado Alfonso. 
Pretendemos dar continuidade a essa proposta ao longo desse ano. 
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escola é uma perspectiva estreita, mas não dialogar é mais estreito ainda. O educador aponta a 
relação Arqueologia, Cidadania e Escola como uma “trama a ser tecida”, onde a Educação 
Patrimonial pode alargar os processos de cidadania social. 
Ainda na etapa de levantamento, foi realizada a concepção do material didático de 
apoio, composto por caderno de apoio ao multiplicador, caderno para público infanto juvenil 
e kit de réplicas arqueológicas. 
Por sua vez, a etapa de multiplicação envolveu a realização de oficinas organizadas 
em dois eixos estruturantes: 1) O método científico da Arqueologia possibilita o entendimento 
de como se dá a construção do conhecimento científico, tornando-se uma poderosa ferramenta 
pedagógica; 2) O conhecimento que a Arqueologia constrói pode possibilitar uma melhor 
compreensão do passado regional, enfatizando a diversidade cultural do território. 
Durantes as etapas de 2009 e 2010, aqui analisadas, foram envolvidos 324 
educadores nas oficinas realizadas, conforme demonstra a Tabela 1. 
 
 
Tabela 1. Educadores envolvidos no programa 
Município Ano Nº de Oficinas Total de educadores 
Olímpia 2009 2 77 
Colina 2010 2 47 
Tanabi 2010 4 63 
Pedranópolis 2010 1 20 
Barretos 2010 4 127 
 
Nas oficinas foi recorrente a negação das diversas ocupações indígenas desse 
território, e o desconhecimento do fato do Estado de São Paulo apresentar diversas terras 
indígenas, prevalecendo uma visão de um “índio homogêneo que pertence ao passado”. Uma 
simples consulta aos sites de prefeituras dos municípios abordados deixa clara essa visão: 
 
Em meados do século passado, entre os aventureiros da exploração e conquista das 
terras virgens e incultas, estava o mineiro Antônio Joaquim Miguel dos Santos, que 
perpetrou o devassamento pioneiro da terra que hoje habitamos[...]
11
 
Os intrépidos exploradores deste sertão até então desconhecido foram, dentre outros, 
os companheiros do célebre Anhanguera e alguns outros aventureiros [...], à procura 
das terras devolutas, vieram os criadores de gado buscando melhores condições para 
a criação e desenvolvimento de seus rebanhos
12
. 
 
                                                            
11 Dados presentes em http://www.olimpia.sp.gov.br/index.php?abre=olimpia=sp=historia=de=olimpia Acessado 
em 18 de Março de 2013. 
12 Dados presentes em http://www.barretos.sp.gov.br/site-migracaodafamiliabarreto Acessado em 18 de Março 
de 2013. 
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A figura do colonizador é correntemente destacada como alguém que imbuído de 
coragem chega a uma região com “terras devolutas”, sem menção aos grupos indígenas que 
ocupavam essas terras, resultando em uma idealização de um passado sem conflitos. 
 Não estou advogando aqui a existência de uma memória coletiva homogênea, uma 
vez que a substância da memória é tanto individual quanto social, como adverte Marilena 
Chauí: “o grupo retém e reforça as lembranças, mas o recordador, ao trabalhá-las, vai 
paulatinamente individualizando a memória comunitária” (CHAUÍ, 1987: XXX). A mesma 
autora, dialogando ainda com a obra seminal de Ecléa Bosi (1987), fala da opressão da 
memória, cuja ação mais sinistra seria a da “história oficial celebrativa cujo triunfalismo é a 
vitória do vencedor a pisotear a tradição dos vencidos” (CHAUÍ, 1987: XIX). Ora, a história 
do interior paulista tem sido contada a partir da apologia dos bandeirantes e cafeicultores, 
revelando a permanência secular do discurso da exclusão (FUNARI, 2006). Marly 
Rodrigues, ao analisar a instituição do patrimônio em São Paulo, aponta: 
 
Do conjunto de bens tombados no Estado de São Paulo, fazem parte poucas 
memórias de negros, de imigrantes e de trabalhadores. Os remanescentes de sedes de 
fazenda e ricas mansões urbanas sombreiam os de senzala, dos cortiços e dos bairros 
operários. Desse modo o patrimônio paulista se apresenta não apenas como 
perpetuador da memória, mas também do esquecimento oficial. A exclusão atinge 
não apenas os excluídos, mas remete toda a sociedade à idealização do passado 
como um tempo desprovido de contradições e diferenças. Além disso, não permite a 
reflexão sobre as relações hoje vigentes na sociedade, dessa forma reafirmando 
igualdades idealizadas e camuflando conflitos [...] (RODRIGUES, 1999: 151). 
 
Incluímos ainda a essa assertiva, as memórias relativas aos grupos indígenas. Funari 
(2006), ao analisar a obra de Marly Rodrigues (1999), aponta que neste modelo normativo, a 
diferença aparece como desvio de norma, uma idealização do passado, cujos trechos 
apresentados das prefeituras de Olímpia e Barretos continuam a perpetuar. Para Santos 
(2003/2012), as representações coletivas podem ser responsáveis por processos de inclusão ou 
exclusão social. Assim, “a memória também é responsável pela imposição de coerções, 
exclusões e toda a sorte de controle social” (SANTOS, 2003/2012: 35). A mesma autora 
evidencia que é necessário aceitarmos que existem diversas formas de lidar com o passado e 
que todas elas envolvem interesses, poder e exclusões. 
Essa breve digressão sobre a questão da memória social teve como objetivo pontuar 
um momento importante do Programa de Educação Patrimonial, quando optamos por 
problematizar as memórias em tela, enfatizando alguns dentre os resultados das pesquisas. 
Assim, os sítios arqueológicos estudados, datados entre os séculos XV e XVII, foram 
utilizados como mote para discussões acerca da colonização da região e extermínio dos 
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grupos indígenas, a partir da problematização dos conceitos de memória coletiva, memórias 
subterrâneas, memórias exiladas e passados excluídos (HALBWACHS, 1968/2006; 
POLLACK, 1989, 1992; BRUNO, 1995, 2000; SCHIAVETTO & RODRIGUES, 1999; 
SANTOS, 2003/2012). 
Essa discussão só se tornou possível devido à prática arqueológica que, desde o 
início das pesquisas, se pautou na construção de um discurso a privilegiar o conceito de 
diversidade cultural, no qual o passado é projetado como diferença, conflito e resistência. 
Postura diametralmente oposta àquela que classifica as áreas em questão como destituídas de 
interesse arqueológico, ou ainda, àquela que classifica a cultura material sob o manto de 
tradições arqueológicas homogêneas. 
Não detalharei aqui cada uma das oficinas realizadas13, me atendo a um aspecto de 
importância fulcral, pouco abordado nos programas de educação patrimonial: a avaliação. O 
que significou o envolvimento dos educadores? Quais os efetivos resultados quando falamos 
de memória e esquecimento? 
A avaliação constitui-se em atividade essencial a qualquer ação educativa, contudo, 
ainda é pouco praticada em programas de educação patrimonial. Para Almeida (2006) a meta 
principal da avaliação é produzir informações de qualidade para a tomada de decisões, seja 
em um museu ou em outras instituições culturais e educacionais. Acredito que a avaliação da 
ação educativa em epígrafe poderá ser inspiradora de mudanças nas próximas etapas do 
programa, assim como a retroalimentação da prática arqueológica e museológica da equipe 
envolvida. O programa envolveu três eixos de avaliação: 
1) Avaliação durante as oficinas - as primeiras impressões dos agentes multiplicadores: ao 
final das oficinas foi apresentada para os professores uma “Ficha de Avaliação da Oficina”, 
formada por quatro indicadores quantitativos e quatro qualitativos; 
2) Depois da multiplicação - encontro de avaliação do processo educativo: a “Oficina de 
Formação de Multiplicadores” foi seguida do desenvolvimento de projetos pedagógicos em 
sala de aula e de um último encontro, com o objetivo de trocar experiências a respeito do 
processo. Nesse encontro, os professores apresentaram os projetos desenvolvidos, discutiram 
as potencialidades e fragilidades do programa e entregaram um relatório com o projeto 
realizado. Os projetos pedagógicos foram desenvolvidos de forma individual, em grupo ou 
por escola, totalizando 98 projetos. Nesse sentido optamos por deixar que cada educador 
escolhesse se desenvolveria sozinho ou em grupo a proposta. Da mesma forma, não houve 
                                                            
13 Cf. MORAES WICHERS, 2011; ZANETTINI ARQUEOLOGIA, 2011. 
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uma especificação sobre a forma de entrega do relatório mencionado, uma vez que optamos 
por conduzir o processo de forma mais aberta, plural e democrática. Em Olímpia, merece 
destaque o fato de que uma exposição dos trabalhos realizados foi montada na Secretaria de 
Educação, sendo uma ação desenvolvida a partir dos cartazes, réplicas de objetos 
arqueológicos, maquetes, enfim, produtos das atividades realizadas em sala de aula. Por meio 
dos relatórios entregues pudemos analisar as metodologias empregadas14 e as temáticas mais 
frequentes nos projetos desenvolvidos, expressas no gráfico a seguir: 
 
 
Gráfico 03. Porcentagem das temáticas abordadas pelos educadores nos projetos pedagógicos 
 
3) Para além dos agentes multiplicadores - os trabalhos produzidos pelos alunos: uma terceira 
análise efetuada refere-se aos trabalhos realizados pelos alunos, os quais foram anexados aos 
relatórios encaminhados pelos educadores. Foi possível ter acesso a mais de 400 trabalhos, 
envolvendo linguagem visual e escrita. Essa análise possibilitou o acesso aos conteúdos e 
mensagens que chegaram do outro lado do eixo de comunicação, uma vez que tivemos 
contato direto apenas com os educadores e não com os alunos. Diante da lacuna observada na 
bibliografia pertinente, o método apresentado pelo projeto do Conselho de Museus, Arquivos 
e Bibliotecas da Grã-Bretanha, denominado Learning Impact Research Project foi utilizado, a 
partir de cinco resultados: conhecimento e compreensão; habilidades; atitudes e valores; 
prazer, inspiração, criatividade; ação, comportamento, progresso (ver Figura 2). 
 
                                                            
14 Leitura do material com os alunos, realização das atividades propostas no material, produção de textos, 
produção de cartazes, atividades com artes plásticas, atividades com música, atividades com materiais 
audiovisuais, pesquisas na Internet, entrevistas com familiares e membros da comunidade, visitaa bens 
patrimoniais, visita a museus, confecção de maquetes, oficinas de produção cerâmica, sítio arqueológico 
simulado, montagem de exposições e teatralização. Destacamos que grande parte das abordagens mencionadas 
não estava presentes no material de apoio didático, tendo sido concebidas pelos próprios educadores. 
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Figura 2. Produção de aluno, imagem da atividade desenvolvida (visita ao Museu do Folclore de Olímpia) e 
Ficha de análise correspondente aos GLO - Resultados Genéricos de Aprendizagem. 
 
 
Considerações finais 
 
O Estado de São Paulo ocupa lugar de destaque no mercado sucroalcooleiro, sendo 
responsável por metade da produção nacional. Contudo, as pesquisas arqueológicas não têm 
“acompanhado” o avanço das safras. Dentre as pesquisas realizadas, pouquíssimas têm 
envolvido a escavação sistemática desses contextos (resgate), sendo necessário averiguar essa 
situação. Vemos que tais contextos continuam sendo pontuados como áreas de baixo 
potencial arqueológico e/ou como sítios arqueológicos destruídos. Amarras teórico-
metodológicas e ideológicas, via de regra, tem empobrecido o potencial dessas áreas para a 
pesquisa, bem como a função política e social do discurso arqueológico nesses contextos. 
Conforme mencionado, os contextos sociais em tela são marcados pela negação das 
ocupações indígenas desse território e/ou por sua homogeneização em visões estereotipadas. 
Trazer à tona discussões arqueológicas contemporâneas, como por exemplo, o 
questionamento da ideia de que as tradições arqueológicas encerram culturas homogêneas, 
torna-se extremamente difícil em contextos onde essas populações foram desprezadas, 
excluídas e apagadas da memória social. Mas, esse é um esforço urgente. Os resultados do 
programa de pesquisa trouxeram à tona dados bastante concretos com relação à ocupação 
indígena desse território, sobretudo, entre os séculos XV e XVII. Esse foi o principal dado 
arqueológico utilizado no processo de musealização e nesse sentido a Arqueologia foi 
utilizada como uma ferramenta política poderosa. 
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O principal elemento para o efetivo desenvolvimento do Programa de Educação 
Patrimonial, aqui entendido como processo de musealização, tem sido o protagonismo dos 
educadores, aqui entendidos como multiplicadores e agentes da educação da memória. Foram 
envolvidos 334 educadores, os quais possibilitaram o desenvolvimento do programa para um 
público escolar de mais de 6000 alunos. A efetiva parceria estabelecida na Oficina foi à mola 
propulsora para que os projetos pedagógicos fossem desenvolvidos, tendo como pano de 
fundo os conteúdos debatidos, mas indo além. As estratégias metodológicas foram bastante 
ampliadas em relação às sugestões e propostas do programa. Foram esses protagonistas que 
potencializaram o uso do patrimônio arqueológico de forma que o ‘trabalho morto’ que nele 
foi investido fosse transformado em suporte de novos investimentos simbólicos (DURHAM, 
1984: 34) 
Como afirma Grazzi (2009), a escola ainda apresenta conteúdos estagnados e 
estereotipados referentes à imagem-identidade do indígena brasileiro. Defendo que a temática 
indígena, trabalhada pelo viés da Arqueologia coloca-se como ponto fundamental para a 
formação de cidadãos e para a inclusão social. Acredito que o programa colaborou para um 
primeiro movimento de mudança em relação a esses passados excluídos, atuando para a 
reversibilidade dos olhares acerca dessas populações. Não obstante, foram apenas os 
primeiros passos de uma longa caminhada, dados os desafios evidenciados. 
É importante salientar que todo o tempo atuamos como mediadores e tivemos que 
certamente negociar com nossos interlocutores. Por um lado, objetivávamos trabalhar com as 
memórias exiladas e com os passados indígenas excluídos. Por outro lado, a premissa de que 
temos que inserir nos discursos patrimoniais as diferentes visões dos sujeitos envolvidos 
trazia desafios constantes. O exemplo da Festa do Peão de Barretos, trabalhado de forma 
notável nos projetos pedagógicos mostra essa negociação. Há que se incluir as diferentes 
visões acerca do patrimônio, mas sem esquecer que essas visões por vezes excluíram 
importantes partes da história, como o extermínio das sociedades indígenas. 
No programa trazido à baila, o fazer museológico esteve organicamente integrado ao 
fazer arqueológico, partindo dos mesmos posicionamentos teóricos, políticos e éticos. Tais 
proposições englobam as construções de histórias indígenas para o interior paulista, 
problematizando os passados excluídos e inserindo na agenda da Arqueologia Paulista 
questões concernentes à memória social. 
 
 
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Agradecimentos 
 
À equipe da Zanettini Arqueologia que atua nesse projeto, em especial: Paulo 
Zanettini, pelas observações ao trabalho; Luana Antoneto Alberto pelas pesquisas de campo; 
Marcel Lopes pelas análises e discussões acerca dos artefatos; Louise Prado Alfonso, pela 
atuação no programa de Educação Patrimonial. À equipe do Grupo de Estudos 
Arqueológicos (GEA)/ Museu de Arqueologia e Paleontologia de Araraquara (MAPA) que 
tem realizado os procedimentos curatoriais e analíticos dos acervos. Por fim, às comunidades 
de Olímpia, Barretos, Colina, Tanabi e Pedranópolis por terem recebido o Programa de 
Educação Patrimonial e me possibilitado uma leitura crítica do mesmo. 
 
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ARQUEOLOGIA E PODER: A LEGITIMAÇÃO DO ESTADO 
 
Archaeology and Power: the state legitimation 
 
 
Cláudio Umpierre Carlan1 
 
 
RESUMO 
 
O artigo começa por discutir questões políticas relacionadas com o mundo romano nos 
séculos III e IV d.C. O trabalho enfatiza a importância de usar uma variedade de fontes 
históricas, como iconográfica, arqueológica e artística. 
 
Palavras-chave: Arqueologia, Moeda, Roma 
 
 
ABSTRACT 
 
The paper begins by discussing political issues relating to the Roman world in the 3rd. c. AD 
and in the beginning of the 4th c. The paper emphasizes the importance of using a variety of 
historical sources, such as iconographic, archaeological, and art historical. 
 
Keywords: Archaeology, Coin, Rome 
 
 
RESUMEN 
 
El artículo comienza por discutir cuestiones de política relacionadas con el mundo romano en 
los siglos III y IV d.C. El trabajo hace hincapié en la importancia del uso de una variedad de 
fuentes históricas, como iconográfica, arqueológica, histórica y artística. 
 
Palabras clave: Arqueología, Moneda, Roma 
 
Introdução 
 
Em Roma, a propaganda estava intimamente ligada às cunhagens monetárias. As 
moedas não apenas são instrumentos importantes para estabelecer a datação dos documentos 
que chegaram até nós sem seu contexto original, como são de grande valia na compreensão 
dessas mensagens simbólicas descritas no corpo monetário. 
O reverso monetário dessas peças, conhecido vulgarmente como coroa, mostra 
determinada imagem, representando uma divindade (Virtude, Júpiter, Hércules, a própria 
                                                            
1 Pós Doutorando em Arqueologia do NEPAM/UNICAMP, professor adjunto 3 de História Antiga da 
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), pesquisador associado ao grupo de pesquisa Arqueologia 
Histórica da UNICAMP. E-mail: claudiocarlan@yahoo.com.br 
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cidade de Roma, a VRBS...), uma construção (campo militar, portões de uma fortaleza), o 
exército (dois legionários montando guarda), cenas de batalha (imperador derrotando seus 
inimigos), casamentos, uniões dinásticas, tentativa de legitimar um determinado poder. 
Podendo vir acompanhado de legendas que podem identificar, ou não, a imagem. 
Já nos anversos monetários (cara), temos em destaque o busto do imperador 
diademado (com diadema imperial), laureado (coroa de louros) ou encouraçado (com 
armadura, couraça, uniformes militares). 
A perfeição dos detalhes nos mostra a importância e o cuidado do artesão em 
confeccionar essas imagens. Pois, num mundo no qual não existiam meios de informação 
comparáveis aos nossos, o analfabetismo se