Buscar

Arqueologia da Repressão

Prévia do material em texto

ANDRÉS ALARCÓN-JIMÉNEZ
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, Dezembro de 2014, pp. 004 - 0241 | 
Dossiê:
Arqueologia 
da Repressão
 Revista de
Arqueologia Pública
No. 10
ISSN 2237-8294 
dezembro de 2014
 Revista de
Arqueologia Pública
No. 10
ISSN 2237-8294 
dezembro de 2014
Dossiê:
Arqueologia 
da Repressão
EDITOR RESPONSÁVEL
Pedro Paulo A. Funari (LAP/NEPAM/UNICAMP)
EDITOR DO DOSSIÊ
Rita Juliana S. Poloni (LAP/NEPAM/UNICAMP)
CONSELHO EDITORIAL
Alfredo Gonzalez Ruibal (Consejo Superior de Investigaciones Cientíicas, Espanha)
Andrés Zarankin (UFMG)
Bernd Fahmel Bayer (Universidad Nacional Autónoma de México, México)
Carlos Fabião (Universidade de Lisboa, Portugal)
Carol McDavid (Community Archaeology Research Institute, EUA)
Charles Orser (Illinois State University, EUA)
Cláudio Umpierre Carlan (UNIFAL)
Erika Robrahn-González (Documento Patrimônio Cultural, Arqueologia e Antropologia Ltda.)
Gilson Rambelli (LAAA / NAR / UFS)
Glaydson José da Silva (Unifesp)
Laurent Olivier (Université de Paris, França)
Lourdes Dominguez (Oicina del Historiador, Cuba) 
Lourdes Madalena Gazarini Conde Feitosa (USC) 
Lúcio Menezes Ferreira (UFPel) 
Marina Regis Cavicchioli (UFBA)
Martin Hall (Cape Town University, África do Sul) 
Nanci Vieira Oliveira (UERJ)
Neil Asher Silberman (ICOMOS International Advisory Committee and Scientiic Council)
Renata Senna Garrafoni (UFPR)
 Sian Jones (University of Manchester, Inglaterra)
 Tim Schadla-Hall(Institute of Archaeology at University College London, Inglaterra)
COMISSÃO TÉCNICA 
Daniel Grecco Pacheco 
Murilo Souza dos Santos
Rita Juliana S. Poloni
Tobias Vilhena de Moraes
 
REVISÃO TEXTUAL 
 Camila Secolin
PROJETO GRÁFICO 
Murilo Souza dos Santos
 
 DIAGRAMAÇÃO
Murilo Souza dos Santos
Laboratório de Arqueologia Pública “Paulo Duarte”
 (LAP/NEPAM/UNICAMP)
Rua dos Flamboyants, 155, 
Cidade Universitária “Zeferino Vaz”
Campinas-SP, Brasil
13083-867
Contato:
Tel: 55 19 3521 - 7690
E-mail: arqueologiapublica.revista@gmail.com
Editorial 
Pedro Paulo A. Funari 
Artigos diversos
O LEGADO DO PE. JOÃO ALFREDO ROHR S. J.: REFLEXÕES 
SOBRE SUA TRAJETÓRIA NA ARQUEOLOGIA BRASILEIRA. 
Fabiana Comerlato
UNA EXPERIENCIA DE ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y 
COLABORACIÓN INTERCULTURAL EN EL SECTOR 
SEPTENTRIONAL DE ARGENTINA
Mónica Montenegro
Artigos do Dossiê Arqueologia da Repressão
ANTROPOLOGIA, ARQUEOLOGIA E USOS DO PASSADO DURANTE 
A GUERRA FRIA - OS REGIMES AUTOCRÁTICOS, MILITARES 
E PSEUDODEMOCRÁTICOS, O INSTITUTO COLOMBIANO DE 
ANTROPOLOGIA E SEUS MODELOS DE COLOMBIANO 1950-1966. 
Andrés Alarcón-Jiménez
ARQUEOLOGIA DA REPRESSÃO E DA RESISTÊNCIA E SUAS 
CONTRIBUIÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE MEMÓRIAS
Jocyane R. Baretta
O VERMELHO E O NEGRO: RAÍZES COLONIAIS DO UNIVERSO 
CONCENTRACIONÁRIO DO GENERAL FRANCO
Pedro Pablo Fermín Maguire
ARQUEOLOGIA EM CONTEXTOS DE REPRESSÃO E RESISTÊNCIA: 
A GUERRILHA DO ARAGUAIA
Patricia Sposito Mechi e Michel Justamand
A PRESERVAÇÃO ARQUEOLÓGICA E A REDEMOCRATIZAÇÃO: 
UM BREVE ESTUDO DE CASO LUSO-BRASILEIRO
Tobias Vilhena de Moraes
No. 10
ISSN 2237-8294 
dezembro de 2014
 Revista de
Arqueologia Pública
6 |
8 |
25 |
44 |
75 |
90 |
107 |
121 |
CAMINHOS E DESCAMINHOS NO ATLÂNTICO CIENTÍFICO: 
ARQUEOLOGIA E ESTADO NOVO EM CONTEXTO LUSO-
BRASILEIRO
Rita Juliana Soares Poloni
COLÔNIA CORRECIONAL DE DOIS UNIDOS: COMUNIDADE E 
REPRESSÃO EM PERNAMBUCO. 
Elaine Michelly da Silva e Matheus Amilton Martins
NOVAS PERSPECTIVAS PARA A ARQUEOLOGIA DA REPRESSÃO E 
DA RESISTÊNCIA NO BRASIL DEPOIS DA COMISSÃO NACIONAL 
DA VERDADE
Inês Virgínia Prado Soares
MEMÓRIA, OBJETOS E EDIFÍCIOS – UMA ANÁLISE 
ARQUEOLÓGICA SOBRE O EDIFÍCIO QUE SEDIOU O DEOPS/SP
Príscila Paula de Sousa
ARQUEOLOGIA E A GUERRILHA DO ARAGUAIA OU A 
MATERIALIDADE CONTRA A NÃO NARRATIVA
Rafael de Abreu e Souza
VESTÍGIOS DE UMA AUSÊNCIA: UMA ARQUEOLOGIA DA 
REPRESSÃO
Beatriz Valladão Thiesen, Célia Maria Pereira, Eduarda Rippel, Gabriel 
Rodrigues Vespasiano, Ingrend Guimarães Cornaquini, Júlio Toledo, Mariana 
Fernandez
Entrevista
A ARQUEOLOGIA DA REPRESSÃO E DA RESISTÊNCIA – UMA 
CONVERSA COM ANDRÉS ZARANKIN 
Entrevistadores: Victor Henrique da Silva Menezes
 Júlia Negov de Oliveira 
Foto da capa:
Escavações no Centro Clandes-
tino de Detenção Clube Atlético, 
Buenos Aires - Argentina. 
Andrés Zarankin, 2003.
144 |
160 |
176 |
195 |
212 |
231 |
251 |
A ARQUEOLOGIA NA 
UNICAMP E A 
REVISTA DE ARQUEOLOGIA 
PÚBLICA: 
TRAJETÓRIA E PERSPECTIVAS
 Laboratório de Arqueologia Pública da Universidade Estadual de Campinas 
resulta de longa trajetória de engajamento da Universidade com a Arqueologia, em uma 
perspectiva cientíica fundada na excelência acadêmica, na inserção internacional e no 
engajamento social. A Unicamp surgiu em meio a um regime de força, inspirado no 
MIT e voltada para os saberes técnicos que pudessem transcender os questionamentos 
políticos que advinham das universidades de referência à época e cujos quadros foram 
golpeados de forma mais dura: a Universidade de São Paulo e a Universidade Federal 
do Rio de Janeiro. A Universidade Estadual de Campinas, fundada em 1966, no entanto, 
logo teve no desaio de produzir ciência de relevância internacional não um obstáculo, 
mas um meio de contrapor-se às exações políticas que grassavam alhures na academia, 
ao acolher cientistas notáveis perseguidos tanto no Brasil, como em outros países latino
-americanos sob o jugo ditatorial. Em pouco tempo, a Unicamp despontava não apenas 
no âmbito cientíico, stricto sensu, como na originalidade de adotar perspectivas trans-
disciplinares, na busca por inserção mundial, na ênfase em ciência aplicada e políticas 
públicas e na atuação voltada para a sociedade, em sua diversidade. 
 Tudo isto se reletiu no surgimento precoce do interesse da Universidade por 
uma Arqueologia relevante para a sociedade. Enquanto práticas e abordagens reacioná-
rias e conservadoras eram predominantes e espíritos críticos eram silenciados, como no 
caso notável do fundador da USP e pioneiro da Arqueologia humanista Paulo Duarte 
(1899 – 1984), expulso da Universidade de São Paulo, em 1969, a Unicamp abria-se 
para práticas e abordagens libertárias. Acolheu o acervo de Paulo Duarte e trouxe a 
Professora Niède Guidon, a quem Duarte havia aberto as portas para aprender com os 
arqueólogos pré-historiadores mais renomados e amantes da liberdade, para atuar no 
Núcleo de Pesquisas Arqueológicas – Nipar (1986 – 1991). Aberta essa seara, a Ar-
EDITORIAL
queologia na Unicamp desenvolveu-se nos aspectos constitutivos tanto da Universida-
de, como da disciplina, em termos mundiais: em interação com a ciência mundial, em 
perspectiva transdisciplinar, engajada com a sociedade e em luta pela liberdade e pelo 
respeito à diversidade. 
 Pesquisas arqueológicas de variado gênero foram levadas a cabo, diversas de-
las de expressão social, acadêmica e de repercussão internacional. O Laboratório de 
Arqueologia Pública e a Revista Arqueologia Pública, surgidos em 2006, resultam de 
um esforço continuado e de parcerias com estudiosos e instituições no Brasil e no es-
trangeiro, como destaque para o World Archaeological Congress. Desde seu primeiro 
número, os editores à época Pedro Paulo A. Funari e Erika Robrahn-González enfatiza-
vam que “do nosso ponto de vista – e esta revista serve a este propósito – a ciência não 
deve alhear-se da sociedade, sob o manto diáfano do empirismo”. 
Este décimo número mostra bem todas essas características. A partir desta edição, o 
conselho editorial da revista amplia-se, com a participação adicional de estudiosos no-
táveis no campo da Arqueologia engajada em temas sociais e políticos, todos eles com 
larga trajetória de cooperação com a equipe de Arqueologia da Unicamp. Em seguida, 
e no mesmo sentido, tendo em vista o aprofundamento da inserção internacional da re-
vista e sua busca por abordagens referenciais, a publicação passa a contar com dossiêstemáticos. Com isto, será possível congregar artigos sobre aspectos de alta relevância 
social e política, no âmbito da Arqueologia, de modo a servirem para uma abordagem 
integrada. Neste volume, a doutora Rita Juliana Soares Poloni, pós-doutoranda no La-
boratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte com apoio da Fundação de Amparo à 
Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP – líder de Grupo de Pesquisa cadastrado 
no CNPq e sediado na Unicamp (Arqueologia da Repressão e da Resistência) organiza 
dossiê sobre o estudo arqueológico em contextos políticos autoritários e ditatoriais e de 
transição democrática. O tema adquiriu contornos mais deinidos na disciplina no início 
deste século, como atesta a publicação de volume com apoio da Secretaria de Direitos 
Humanos da República Argentina, Arqueología de la represión y la resistencia en Amé-
rica Latina 1960-1980 (Catamarca: Universidad Nacional de Catamarca, 2006), orga-
nizado por Pedro Paulo A. Funari e Andrés Zarankin, em seguida publicado no Brasil, 
em português, com apoio da FAPESP (2008) e em inglês, em 2009 (Memories from 
Darkness, Nova Iorque, Springer). O dossiê demonstra o lorescimento desse campo e 
conta com a participação de diversos estudiosos que se têm dedicado a tais questões. 
Artigos sobre outros temas e uma entrevista com Andrés Zarankin, estudioso da Ar-
queologia da Repressão e da Resistência, tema do dossiê, completam o décimo volume. 
Pedro Paulo A. Funari
Editor-Responsável
ARTIGO
O LEGADO DO PE. JOÃO 
ALFREDO ROHR S. J.: 
REFLEXÕES SOBRE SUA TRAJETÓRIA NA 
ARQUEOLOGIA BRASILEIRA
 Fabiana Comerlato
No. 10
ISSN 2237-8294
dezembro de 2014
 Revista de
Arqueologia Pública
O LEGADO DO PE. JOÃO 
ALFREDO ROHR S. J.: 
REFLEXÕES SOBRE SUA TRAJETÓRIA NA ARQUEOLO-
GIA BRASILEIRA
Fabiana Comerlato1
RESUMO
No cômputo de arqueólogos que se destacaram na década de 60 do século XX na pes-
quisa e na luta pela preservação dos sítios arqueológicos brasileiros, surge à igura 
de João Alfredo Rohr que exerceu papel fundamental na consolidação da arqueologia 
catarinense, deixando um importante legado cientíico para as futuras gerações. O ob-
jetivo deste artigo é fazer um retrospecto da trajetória proissional do arqueólogo Rohr 
e avaliar o seu contributo para a arqueologia brasileira, em especial do Estado de Santa 
Catarina.
Palavras-chaves: Arqueologia brasileira; Patrimônio Cultural; Museu; João Alfredo 
Rohr.
ABSTRACT
On investigating archaeologists who were prominent in research on and the struggle to 
preserve Brazilian archaeological sites during the 1960s, João Alfredo Rohr emerges. 
He performed a fundamental role in consolidating archaeology in Santa Catarina, leav-
ing an important scientiic legacy for future generations. The aim of this article is to 
take a retrospective look at the archaeologist, Rohr’s professional trajectory and evalu-
ate his contribution to Brazilian archaeology, particularly in the State of Santa Catarina.
Keywords: Brazilian archaeology; Cultural Heritage; Museum; João Alfredo Rohr.
1 Doutora em História, área de concentração Arqueologia, professora da UFRB. Contato: fa-
bilato@gmail.com
ARTIGO
FABIANA COMERLATO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
RESUMEN
En el recuento de arqueólogos que se destacaron en la década de 60 del siglo XX en la 
investigación y en la lucha por la preservación de los sitios arqueológicos brasileños, 
surge la igura de João Alfredo Rohr quien ejerció un papel fundamental en la conso-
lidación de la arqueología catarinense, dejando un importante legado cientíico para 
las futuras generaciones. El objetivo de este artículo es realizar una retrospectiva de la 
trayectoria profesional del arqueólogo Rohr e evaluar su contribución para la arqueolo-
gía brasileña, en especial la del Estado de Santa Catarina.
Palabras-clave: Arqueología brasileña; Patrimonio Cultural; Museo; João Alfredo 
Rohr.
INTRODUÇÃO
A memória é uma ferramenta que usamos para lembrar o que nos faz sentido. Por-
tanto, nos parece importante o exercício de rememorar pessoas, objetos, coleções e 
museus, pois a construção do conhecimento arqueológico está alicerçada nestas ba-
ses de referência. No Estado de Santa Catarina, atribuímos ao Pe. João Alfredo Rohr 
(1908-1984) o título de “Pai da Arqueologia Catarinense”, justamente pela dimensão de 
seus feitos e o signiicado deles até hoje. Em 2014, três datas convergem e podem ser 
lembradas por nós: os 30 anos de falecimento de Pe. Alfredo Rohr, mesmo ano em que 
foi tombada sua coleção pela Fundação Catarinense de Cultura, e, principalmente, os 
50 anos de criação do Museu do Homem do Sambaqui. As lembranças destes marcos 
cronológicos nos abrem caminho para a relexão da importância do legado cientíico de 
Rohr e a extensão de sua obra, que continua ainda a provocar interjeições e expressões 
de admiração nos jovens em visita ao museu.
Fig. 1: Pe. João Alfredo Rohr. Extraído de: Revista Manchete, 
nº505, ano 9, Rio de Janeiro, 23 de janeiro de 1961, p. 120.
10
O LEGADO DO PE. JOÃO ALFREDO ROHR S. J.
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
ROHR E SUA ATUAÇÃO NA ARQUEOLOGIA
A comunidade arqueológica contemporânea tende a perceber mais a igura do 
“Rohr arqueólogo”. Porém, seria limitante enquadrá-lo em um único adjetivo. Através 
de revisão bibliográica, podemos encontrar diversas biograias sobre o Pe. Rohr, escri-
tas em geral por pessoas que tiveram uma convivência próxima, a exemplo de jesuítas 
(ETGES, 1984; SCHMITZ, 2009), intelectuais catarinenses (PÍTSICA, 1984), pessoas 
da comunidade (NUNES, 2000) e arqueólogos (REIS & FOSSARI, 2009). Podemos 
dizer que o Pe. Rohr embutiu seu espírito e modo de fazer em muitas comunidades e 
instituições, seja no fazer espiritual, na ação em prol da cultura, em especial da arqueo-
logia. 
Nos anos 50 do século XX, Rohr destacava-se como um excelente gestor educa-
cional na direção do Colégio Catarinense e um hábil articulador na criação de novas 
instituições de ensino em Santa Catarina – a exemplo da Faculdade Catarinense de 
Filosoia (CARMINATI, 2009: 7). Rohr nunca abdicou de sua missão educadora, acu-
mulando décadas de experiência no ensino das Ciências da Natureza (Física, Química 
e Biologia). Podemos dizer que seria injusto lhe atribuir à alcunha de autodidata em 
arqueologia, pois além de sua formação humanística sempre esteve atualizado no que 
era de mais moderno na arqueologia, transpondo conhecimentos e criando novas meto-
dologias2. Dado este reconhecimento de sua importância, a Sociedade de Arqueologia 
Brasileira conferiu em suas reuniões bianuais o Prêmio Padre João Alfredo Rohr aos 
arqueólogos de destaque.
Rohr, após uma aproximação com a arqueologia, faz sua primeira escavação, em 
1958, no sítio arqueológico de Caiacanga Mirim junto à Base Aérea de Florianópolis. 
A partir daí, sucessivas campanhas somaram-se, num total de 18 projetos executados: 
nos sambaquis da Ilha de Santa Catarina, entre 1959 a 1961; nos sítios arqueológicos 
do Vale do Rio D’Una em Imbituba, 1961; nos sítios arqueológicos da Praia da Tapera 
e Ribeirão na Ilha de Santa Catarina, 1962 a 1967; nos sítios arqueológicos do municí-
pio de Itapiranga, 1966-67/1970-71; nos sítios arqueológicos do Planalto Catarinense 
(municípios de Petrolândia, Atalanta, Imbúia, Alfredo Wagner, Rancho Queimado e 
Angelina), 1966-67/1970-71, nas inscrições rupestres em Urubici e municípios vizi-
nhos, 1967; no sítio arqueológico de Alfredo Wagner, SC-VI-13, 1967-1969; nos sítios 
arqueológicos do município de Jaguaruna, 1968; nos petróglifos da Ilha de Santa Ca-
tarina e ilhas adjacentes, 1969-1974; no sítio da Armação do Pântano do Sul - Ilha de 
2 A criação do método de cimentação de esqueletos arqueológicos (ROHR, 1970). 
11
FABIANA COMERLATO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
Santa Catarina, 1971; no sítio arqueológico no Balneário deCabeçudas, Itajaí, 1975; 
no sítio arqueológico do Pântano do Sul - Ilha de Santa Catarina, 1977-78; no sítio 
arqueológico da Praia das Laranjeiras, Balneário Camboriú, 1982; no sambaqui da Bal-
sinha I, Imbituba, 1982; nos sítios arqueológicos no município de Urussanga, 1982. As 
campanhas de campo totalizaram o registro de 430 sítios arqueológicos no Estado de 
Santa Catarina (SANTA CATARINA, 1984: 22). Segundo Pe. Pedro Ignacio Schmitz, 
podemos conferir mais uma indicação superlativa, seguramente, ainda hoje, de que 
Rohr foi um dos arqueólogos que mais escavou no Brasil (CARBONERA, 2006: 378).
Apesar de ser uma “equipe de um homem só”, como denomina Pe. Schmitz, ofe-
receu para muitos estagiários e estudantes uma escola prática em suas escavações, em 
uma época extremamente difícil no Brasil de se obter formação em Arqueologia (SCH-
MITZ, 2009: 18). Nos trabalhos de campo, os participantes eram compostos de estagiá-
rios, estudantes, professores, arqueólogos e operários − a maioria destes últimos cedi-
dos pelas prefeituras. A equipe geralmente icava alojada em casas alugadas próximas 
ao sítio. Veriicamos nos relatórios datilografados por Rohr, o predomínio dos meses 
das férias de verão e inverno como períodos para as escavações, exceto os trabalhos de 
salvamento. Em campo, a rotina de trabalho era árdua. As escavações eram feitas em 
níveis artiiciais de dez centímetros, elaboravam-se plantas de topo, peris estratigrái-
cos verticais e horizontais das trincheiras abertas e eram anotadas todas as informações 
relevantes no diário de campo. Além de ter realizado o registro fotográico das etapas 
da escavação.
Durante toda a sua carreira na Arqueologia, de 1950 a 1982, publicou suas desco-
bertas e resultados em 92 revistas, jornais e outros periódicos, além de divulgar suas 
pesquisas e ações preservacionistas em entrevistas para rádio e televisão (SANTA CA-
TARINA, 1984). Este caráter polivalente de transpor a ciência arqueológica em diver-
sos meios e linguagens lhe garantiu mais um título: o de arqueólogo mais lido no Brasil 
(SCHMITZ, 2009: 18).
12
O LEGADO DO PE. JOÃO ALFREDO ROHR S. J.
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
Fig. 2: João Alfredo Rohr em escavações em um samba-
qui. Referência: Revista Manchete, nº505, ano 9, Rio de 
Janeiro, 23 de janeiro de 1961.
Fig. 3: João Alfredo Rohr durante o processo 
de documentação das gravuras do Letreiro 
do Arvoredo. Data: 1968. Acervo: Museu do 
Homem do Sambaqui Padre João Alfredo 
Rohr, S.J.
ROHR E A FORMAÇÃO DE ACERVOS E MUSEUS
Desde sua fundação, o Colégio Catarinense abriga um museu e laboratórios que 
faziam parte do curso cientíico: “O Museu de Historia Natural, criado no início do 
século XX, tinha coleções de mamíferos, aves e ovos, anfíbios, moluscos, botânica e 
mineralogia, sendo enriquecido por doações de entidades e pessoas mormente alunos 
egressos do colégio e suas famílias” (DALLABRIDA, 2012: 158). O museu dentro de 
uma instituição educacional jesuítica cumpria um papel de cartão de visitas da institui-
ção, um espaço de atividades empíricas para seus alunos e de pesquisa para Rohr onde 
passava grande parte do seu tempo, em conciliação com sua vocação religiosa.
Pe. Rohr começa a se interessar por arqueologia em suas saídas de campo em bus-
ca de orquídeas, quando encontra sítios arqueológicos pela Ilha de Santa Catarina. O 
redirecionamento em suas pesquisas em parte se deve ao Padre Balduíno Rambo e, 
posteriormente, ao apoio do Pe. Ignacio Schmitz. Em 1948, Rohr compra a Coleção 
Carlos Berenhäuser3, dando início ao acervo arqueológico (SANTA CATARINA, 1985: 
3 A coleção Berenhäuser apresenta quase que exclusivamente cerâmica guarani, contando com 
13
FABIANA COMERLATO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
20-21). 
Em sua construção diária da história das populações indígenas pré-coloniais, Rohr 
começa a formar e catalogar o acervo que denominará de Museu do Homem do Sam-
baqui – a primeira instituição especializada em pesquisas arqueológicas no Estado. 
Com nova coniguração, o museu foi fundado em 03 de outubro de 1964, tendo como 
entidade mantenedora a Sociedade Literária Antônio Vieira. Inicialmente, o museu era 
denominado “Museu do Homem Americano”, sendo mudado para Museu do Homem 
do Sambaqui em 1965 (SCHMITZ, 2009: 18).
O modo de aquisição deste diversiicado acervo deu-se de diversas formas: compra, 
doação e, principalmente, através das pesquisas arqueológicas efetuadas por Pe. Rohr. 
No Cadastro dos Museus Catarinenses da Fundação Catarinense de Cultura, segundo 
informações de 1979, o depósito do museu contava com 130.000 peças antropológicas 
e 12.000 arqueológicas. O acervo conta com exemplares arqueológicos, eclesiásticos, 
etnográicos, malacológicos, numismáticos paleontológicos e animais taxidermizados. 
O acervo exposto reúne peças de várias escavações, destacando-se as vitrines com 
os esqueletos, aos com zoólitos e as urnas funerárias. Era objeto de orgulho especial dos 
sepultamentos da Tapera, uma vértebra transpassada por uma ponta em osso (NUNES 
apud CRUZ, 2005: 136; SANTA CATARINA, 1984: 28). Os animais taxidermizados se 
prestam a abordagem biográica por terem se transformado em cultura material (LOU-
REIRO, 2012: 100). O peixe lua e a onça pintada chamam a atenção: o primeiro pela 
sua raridade e a segunda pela história de sua aquisição, que nos presta a uma abordagem 
biográica do objeto: 
A região de Urubici, em tempos pré-históricos, era habitada por povos trogloditas, que mo-
ravam em galerias subterrâneas, cavadas na rocha mole de arenito. Algumas destas galerias 
alcançam cem metros de comprimento, tendo, em média, metro e meio de diâmetro. Pene-
tramos em muitas daquelas galerias, completamente desarmados, munidos, apenas, de um 
lampião de pressão Colemann, para iluminar o interior das mesmas. Não raro, encontramos 
no interior das mesmas, sinais evidentes do trabalho de tatús, tamanduás, gatos do mato e 
graxains. Sabíamos, que, na região, ainda, havia onças pardas, chamadas também, pumas, 
sussuaranas ou “leão brasileiro”. Não imaginávamos, porém, que poderiam aparecer, ainda 
onças pintadas ou jaguares. Ficamos, por isto, surpreendidos, quando retornamos ao pla-
nalto, em princípios de fevereiro, para prosseguir as pesquisas nas galerias subterrâneas e 
apresentaram-nos a pele de enorme, onça pintada, morta dois dias antes. Era animal extre-
mamente gordo. Andava cevando-se de ovelhas, novilhos, pôtros e, por certo, também, de 
veados e outra caça, ainda frequente na região.
Na madrugada de 29/01/72, matara e devorara um burro, triturando até os ossos do mesmo. 
Perseguida pelo capataz da Fazenda da Pedra Branca e mais um peão, enfrentou os cachor-
dezenas de objetos inteiros e aproximadamente 80.000 fragmentos. O material lítico consta 
aproximadamente de 8.000 peças de origem sambaquiana. A coleção formou-se com artefatos 
coletados por amadores, principalmente por Carlos Berenhäuser e pela população (SCHMITZ, 
1959: 268-269).
14
O LEGADO DO PE. JOÃO ALFREDO ROHR S. J.
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
ros, juntos, a uma árvore caída. Os dois caçadores imaginavam estarem no encalço de um 
puma ou “leãozinho”, bastante inofensivo. Qual não foi o seu espanto, quando toparam 
enorme onça pintada, pronta para o bote? O capataz, Ermelindo Pedro Ribeiro, quando 
se deu conta, já se encontrava, quase, nas faces da fera e não teve tempo para recuar. Por 
isto, descarregou a sua armazinha, calibre 32, a queima-roupa no “bicharedo”. Teve sorte, 
atingindo-o direto no coração. Assim mesmo, mortalmente ferida, a onça saltou sobre ele, 
cravando-lhe os dentes e as garras, causando-lhe ferimentos profundos, no rosto no peito e 
nos braços. Socorrido pelo companheiro, este descarregou segundo tiro na vista da onça, que 
acabou, imobilizando-a.
Imagine só, se dentro de uma galeria subterrânea, armados tão somente,com um foco de 
luz, topassemos um “bichão” destes! Já pensou! por certo esta onça não é a única na região 
de Urubici, onde existem campos imensos, perdidos em mata baixa, cavernas e grotões sem 
conta. Compramos a pele e o esqueleto da onça, que será montada para o Museu do Homem 
do Sambaqui, como atração turística e instrução da mocidade estudiosa, que poderá admirá
-la, sem correr risco de vida. (ROHR, s/d.)
 
A partir de meados do século XX, o cenário cultural catarinense teve uma expansão 
no campo museológico. O historiador e arqueólogo Walter Piazza traz uma listagem 
de coleções arqueológicas e seus locais de guarda no Estado de Santa Catarina em 
1965: o Museu Nacional de Imigração e Colonização, Museu Anita Garibaldi, Museu 
do Homem do Sambaqui, Museu Arquidiocesano “Dom Joaquim”, Museu do Colégio 
Dehon, Museu do Ginásio “São João Batista”, Coleção Teodoro Saade, Coleção Kurt 
Braunsburger, Coleção Jacob Andersen (PIAZZA, 1966: 460-461).
 Durante a década de 60, surgem várias instituições voltadas à preservação dos 
acervos arqueológicos, além do Museu do Homem do Sambaqui, foram fundados o 
Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville e o Museu Universitário da Univer-
sidade Federal de Santa Catarina (SOUZA, 2007: 16). A atuação de Rohr no campo 
dos museus de arqueologia também acontecia através do fortalecimento das relações 
institucionais.
No âmbito da Universidade Federal de Santa Catarina, com o desenvolvimento das 
pesquisas arqueológicas, foi criado o Instituto de Antropologia, em 30 de dezembro 
de 1965, sob a direção de Oswaldo Rodrigues Cabral. A instalação oicial do Instituto 
ocorre em 29 de maio de 1968. Com a reforma universitária de 1970, o mesmo passou 
a denominar-se Museu de Antropologia e em 1978 passou a ser chamado Museu Uni-
versitário. 
Logo quando o Museu do Homem do Sambaqui de Joinville (MASJ) foi criado em 
1969, Rohr acompanha o convenio entre MASJ e IPHAN. Em 1972, quando o museu 
é oicialmente inaugurado dentre as solenidades presentes, estava o Pe. João Alfredo 
Rohr como presidente do Conselho Estadual de Cultura (TAMANINI, 1994: 91). 
Ainda neste cenário museológico, Rohr pôde atuar na preservação no oeste de San-
ta Catarina, em visitas a diversas localidades do Estado, como ocorreu em Itapiranga, 
em 1966, com o mapeamento de 53 sítios arqueológicos às margens do rio Uruguai, 
15
FABIANA COMERLATO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
sendo a maioria sítios cerâmicos Guarani (CARBONERA, 2011: 29). Na época, Rohr 
estimulou a preservação e a guarda dos acervos nas regiões de origem, como depois irá 
preconizar a Carta de Lausanne:
Os sitiantes recolhiam as peças mais expressivas e davam-nas de presente à primeira pessoa 
que nelas mostrasse algum interesse. Muitas vêzes, quebravam as igaçabas e partiam os 
artefatos, para ver se continha ouro. Em vista disto e da grande abundância e variedade de 
material arqueológico que, aparecendo por tôda a parte, estava sendo destruido, delapidado 
e disperso, sem utilidade alguma, izemos uma intensa campanha de esclarecimento, atravez 
de conferências e palestras radiofônicas e convencemos o povo e a Prefeitura Municipal da 
necessidade urgente de fundarem um Museu Arqueológico, ao qual fôsse recolhido todo 
o material encontrado nas roças, nos matos e nos pastos, para assim defenderem e con-
servarem o patrimônio cultural do município. Atravez do rádio instruímos o povo, sôbre a 
maneira mais segura de escavar uma igaçaba, atingida por um arado numa roça, sem partí-la 
(ROHR, 27/04/1966 a 01/06/1966).
Em uma época que a arqueologia ainda se recolhia aos museus e centros de pes-
quisa e caminhava muito timidamente nas ações de educação patrimonial, percebemos 
neste trecho de seu relatório de viagem, sua consciência do papel dinamizador que as 
comunidades poderiam agir em prol de seu patrimônio arqueológico. O Museu Comu-
nitário de Itapiranga tornou-se realidade em nove de agosto de 1978, quando é registra-
do em cartório pelos membros do Conselho Comunitário de Itapiranga, com a presença 
de Rohr como representante do IPHAN4. Segundo Denise Argenta, este museu é o 
segundo mais antigo na região oeste de Santa Catarina. Em 1990, a instituição recebe 
ediicação própria e em 2007 tem seu nome alterado para Museu Comunitário Almiro 
Theobaldo Muller (ARGENTA, 2011: 9). Atualmente, este museu é mantido pela mu-
nicipalidade com um acervo bastante variado, agrega várias coleções dentre elas, ganha 
destaque de arqueologia (PIOVESAN, 2008: 58). 
Já no litoral, em 1977, as escavações do sítio Laranjeiras procedidas por Rohr com-
puseram o acervo do museu de Balneário Camboriú, localizado no Centro de Promo-
ções e Informações Turísticas S/A – CITUR. Atualmente, dada às alterações de no-
menclatura que se sucedeu durante sua existência, o museu arqueológico faz parte do 
Complexo Ambiental Cyro Gevaerd, pertencente ao Instituto Catarinense de Conserva-
ção da Fauna e Flora.
Rohr continua a ocupar grande parte de seu tempo com o Museu do Homem do 
Sambaqui. Logo após o seu falecimento, houve um temor que o acervo de toda sua 
trajetória fosse deslocado para outro local. Sendo assim, a coleção foi tombada pelo 
Estado e União. O tombamento da Coleção Arqueológica Padre João Alfredo Rohr5 
4 http://www.itapiranga.sc.gov.br/conteudo/?item=23628&fa=5001
5 A Coleção Arqueológica João Alfredo Rohr está assim distribuída: as peças depositadas nas 
16
O LEGADO DO PE. JOÃO ALFREDO ROHR S. J.
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
data de 1984 pelo Estado e pelo IPHAN foi efetivado em 1986 (SOUZA, 1992: 25). A 
coleção passa a ter como responsável outro arqueólogo da mesma congregação: o Pe. 
Pedro Ignácio Schmitz. Decorridos anos fechado ao público e alvo de diversas mani-
festações da imprensa local, inalmente, o museu foi reinaugurado em 29 de agosto de 
1998, passando a incorporar o nome seu mentor: Museu do Homem do Sambaqui Padre 
João Alfredo Rohr, S.J. (foto 4).
Fig. 4: Interior do Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr, S.J.”. Foto: Fabiana Co-
merlato, 2008.
 
ROHR COMO DEFENSOR DO PATRIMÔNIO 
Concomitante às suas pesquisas, Rohr participou de um grupo de intelectuais mili-
tantes que, articulados em cada Estado, puderam atuar em prol ao patrimônio e preser-
vação dos sambaquis, junto com José Ascenção Loureiro Fernandes6, Paulo Duarte7 e 
dependências particulares do Colégio Catarinense, em Florianópolis, Santa Catarina; as peças 
em exposição no Museu do Homem do Sambaqui (Colégio Catarinense), em Florianópolis, 
Santa Catarina; as peças em exposição no Museu Arqueológico e Oceanográico do Balneário 
de Camboriú, Santa Catarina; e as peças em exposição na Academia Nacional da Policia Fed-
eral em Brasília (Processo 1.129-T-84) (IPHAN, 2013).
6 José Loureiro (1908-2003) foi médico, indigenista, diretor do Museu Paranaense, fundador e 
diretor do Departamento de Antropologia da UFPR, fundador do Museu de Arqueologia e Artes 
populares em Paranaguá. Enim, um precursor na arqueologia, etnologia indígena e cultura 
popular do Estado do Paraná (CHMYZ, 2005).
7 Paulo Duarte (1899-1984) foi um humanista, professor e arqueólogo, criou a Comissão de 
17
FABIANA COMERLATO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
Luiz Castro Faria8 (CRUZ, 2012: 139). A ação articulada e contínua desta geração de 
intelectuais propiciou o fortalecimento da arqueologia através da criação de cursos de 
formação especíicos, unidades museológicas e na concepção de uma legislação que ga-
rantisse a salvaguarda dos sítios arqueológicos pré-históricos (BARRETO, 1999-2000: 
40). 
A comissão do projeto de Lei nº3537 de 29 de novembro de 1957 incluía os nomes 
de Rodrigo de Melo Franco Andrade, Diretor do Patrimônio Histórico e Artístico Na-
cional; José Candido Melo Carvalho, diretor do Museu Nacional; Loureiro Fernandes, 
da Faculdade de Filosoiada UFPR e Paulo Duarte da Comissão de Pré-história da USP 
(ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, 1959). Este projeto de lei com pequenas altera-
ções, posteriormente, se transformou na Lei nº3924/61, que confere ao Estado Nacional 
a proteção dos sítios arqueológicos em território brasileiro.
Nos anos 70, Pe. Rohr tornou-se representante do IPHAN para a área de arqueolo-
gia no Estado de Santa Catarina, vistoriou os sítios do litoral e interior, conscientizando 
autoridades e denunciando à justiça federal as depredações e vandalismos veriicados. 
Prestou depoimento em inquérito policial contra a Prefeitura de Laguna, contra os de-
predadores em Jaguaruna e de outras localidades. 
Segundo relatório de Rohr ao MEC/SPHAN, durante os anos de 1972 a 1977 so-
freu muitas ameaças, por parte de exploradores clandestinos de sambaquis quando rea-
lizara inspeções rotineiras. As ações do Pe. João Alfredo Rohr em sua função como re-
presentante do SPHAN teve amplo reconhecimento da comunidade cientíica da época. 
O combate contínuo contra interesses econômicos e políticos em prol da preservação 
dos sambaquis foi reconhecido e apoiado em moção assinada por 237 antropólogos na 
9ª Reunião da Sociedade Brasileira de Antropologia em 1974 (SANTA CATARINA, 
1985: 38).
Pe. Rohr constatou que algumas prefeituras municipais do Estado nos anos 60 e 70 
praticaram ações contra diversos sítios arqueológicos. Em 29 de janeiro de 1974, foram 
interrompidas as escavações na Armação do Pântano do Sul:
Constatamos que a Prefeitura Municipal de Laguna, havia compactado quatro quilômetros 
da estrada do Farol de Santa Maria com conchas de sambaquis. Em Jaguaruna surpreen-
demos dois indivíduos, ocupados em peneirar conchas do sambaqui da Garoupaba. Nos 
sambaquis da Carniça II, em Laguna; do Siqueiro e da Samambaia, em Imaruí, as obras 
Pré-História da USP em 1952 (FUNARI, 1994).
8 Luiz Castro Faria (1913-2004) foi professor de Antropologia da UFRJ e diretor do Museu 
Nacional. A mais relevante pesquisa arqueológica que realizou foi no sambaqui da Cabeçuda 
em Laguna (CRUZ, 2012). Em 1963, Castro Faria colaborou durante uma semana com Rohr 
nas escavações da Tapera, lhe aconselhando a solicitar bolsa do Conselho Nacional de Pesqui-
sas (PISANI, c. 1982). 
18
O LEGADO DO PE. JOÃO ALFREDO ROHR S. J.
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
de demolição estavam prosseguindo.(...) Em ins de março recebemos novas denúncias de 
destruição de sambaquis, vindas do Município de Garuva, divisa com o Paraná.(...) Exten-
sos trechos de estradas municipais, haviam sido, recentemente, compactadas com material 
retirado dos sambaquis (ROHR, 1° de janeiro a 30 de junho de 1974).
Nesta época, as comunidades que viviam da exploração dos sambaquis em Laguna 
o respeitavam mais pelo fato de ser padre do que iscal do SPHAN (FILETI, 2004: 26). 
Os moradores da comunidade de Campos Verdes, onde ica o complexo de sambaquis 
da Carniça, viam Rohr como o homem que “fechou” o Carniça, sendo assim, o res-
ponsável por tirar o sustento dos moradores (FILETI, 2004: 52). Lembremos que era 
consenso entre as comunidades a explicação da origem do sambaqui como testemunho 
do dilúvio; o conhecimento cientíico dos sambaquis ainda começava a ser difundido 
de forma mais ampla. 
Além de sambaquis mutilados e em constante ameaça, em março de 1979, Rohr 
veriicou a destruição de uma laje com mais de 100 amoladores na Barra da Lagoa, 
em Florianópolis. A destruição foi causada pela construção de uma ponte pênsil que dá 
acesso à Prainha da Barra, uma obra da Prefeitura Municipal. Esta oicina lítica, deno-
minada atualmente de Oicina Lítica Rio da Lagoa I, icou embaixo de um dos pilares 
da referida ponte (foto 5; AMARAL, 1995). 
Fig. 5: Foto da Oicina Lítica Rio da Lagoa I. Foto: Fabiana Comerlato.
Segundo Rohr, os principais inimigos na preservação dos sítios são:
(...)a lavoura mecanizada, a abertura de novas estradas, os loteamentos, particularmente no 
litoral, e as represas hidro-elétricas, que vão submergindo sítios arqueológicos às centenas. 
19
FABIANA COMERLATO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
Outra ameaça constante são os turistas, diiceis de iscalizar o que, permanentemente, conti-
nuam fazendo pequenas depredações nos sítios arqueológicos (ROHR, s/d.). 
O eminente antropólogo Sílvio Coelho dos Santos9, de maneira muito crítica, nos 
brinda com suas indagações perturbadoras, ainda nos parece muito contemporâneas, no 
sentido da ausência na aplicação de ferramentas de gestão do patrimônio arqueológico 
pelas esferas governamentais:
A campanha encetada pelo Pe. Rohr não somente deve merecer todo apoio dos homens lúci-
dos e responsáveis desta terra. É necessário, e urgente, que medidas efetivas sejam tomadas. 
Em São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul os governos lograram coibir a destruição 
dos sítios pré-históricos. Por que não será possível aniquilar com as aspirações destrutivas 
de uns poucos interessados em lucros fáceis, aqui em Santa Catarina? Por que não será pos-
sível às Prefeituras Municipais onde se concentram importantes monumentos pré-históricos 
criar parques locais, visando o resguardo dos sítios e à criação de ambientes públicos de 
futura importância paisagística e turística? Por que o Governo Estadual não pode organizar 
um setor destinado ao tombamento e preservação desse patrimônio? (SANTOS, 1972: 119)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta tentativa de avaliar o legado cientíico de Pe. Rohr, podemos perceber a mag-
nitude de seu trabalho em prol da cultura catarinense. No que tange à arqueologia, sua 
obra pode ser considerada como fonte básica no entendimento da pré-história na região 
sul do Brasil. O seu caráter pioneiro propiciou novos delineamentos para a arqueologia 
do século XXI, Pe. Rohr foi um “(...) desbravador de um território inculto, preparando
-o para uma nova etapa e buscando garantir os sítios e o material para as gerações que 
o sucederiam” (SCHMITZ, 2009: 20).
9 “Natural de Florianópolis, Sílvio Coelho dos Santos nasceu em 1938. Cursou a graduação 
em História na UFSC (1960), Especialização em Antropologia Cultural e Sociologia na UFRJ 
(1963) e Doutorado em Antropologia na USP (1972). Professor da UFSC desde 1962, foi chefe 
do Departamento de Ciências Sociais, coordenador da Pós-graduação em Ciências Sociais, Pró-
Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Pró-Reitor de Ensino. Sua participação foi fundamental 
para a consolidação de Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social e para a criação 
do Departamento de Antropologia da UFSC.Teve participação ativa em instituições cientíicas 
e literárias, foi sócio emérito do IHG-SC e secretário regional da Sociedade Brasileira para 
o Progresso da Ciência (SBPC), destacando-se como Presidente da Associação Brasileira de 
Antropologia (1992-1994), membro da Academia Catarinense de Letras e pesquisador emérito 
do CNPq. Faleceu aos 70 anos em 2008” Disponível em http://nepi.ufsc.historico/fundador/ 
Acessado: 21 set. 2014.
20
O LEGADO DO PE. JOÃO ALFREDO ROHR S. J.
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Documentos do Arquivo do SPHAN/ Pró-Memória – 11ªSR/IPHAN/SC
BASTOS, Rossano. Relação das informações contidas sobre material arqueológico em 
relatórios do Pe. João Alfredo Rohr. 11a CR - SPHAN Pró-Memória - Serviço Público 
Federal. 29/01/1996.
Orçamento e Quadro de Informações Básicas sobre o cadastramento e Proteção aos 
Sítios Arqueológicos de Santa Catarina, do Pe. João Alfredo Rohr ao MEC-SPHAN. 
(sem data- datilografado)
ROHR, João Alfredo. Relatório da Viagem de Prospeção de Sítios Arqueológicos 
no Município de Itapiranga, Oeste Catarinense (Fronteira com a Argentina). De 
27/04/1966 a 01/06/1966. 
ROHR, João Alfredo. Prospecção de Sítios Arqueológicos nos Municípios de Petrolân-
dia, Atalanta, Imbúia, Alfredo Wagner, Rancho Queimado e Angelina. 23 de novembro 
de 1966.
ROHR, JoãoAlfredo. O Sítio Arqueológico da Praia das Laranjeiras - Balneário de 
Camboriú - SC II. (sem data - datilografado).
ROHR, João Alfredo. Caçada de Onça 1972. Novo Inquilino nas Casas Subterrâneas 
Pré-Históricas de Urubici. (sem data- datilografado).
Relatório do arqueólogo Pe. João Alfredo Rohr do dia 1° de janeiro a 30 de junho de 
1974.
Entrevista feita pelo prof. Osmar Pisani ao arqueólogo João Alfredo Rohr. c. 1982.
AMARAL, Maria Madalena Velho do. As Oicinas Líticas da Ilha de Santa Catarina. 
1995. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em História, área de concentração Ar-
queologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1995.
ARGENTA, Denise. O ideal de museu e o museu real: uma análise dos museus do 
Oeste Catarinense. 2011. Dissertação. Programa de Pós-Graduação Mestrado Proissio-
nalizante em Patrimônio Cultural, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 
2011. 
BARRETO, Cristina. “A construção de um passado pré-colonial: uma breve história 
da arqueologia no Brasil”. Revista USP, São Paulo, n.44, p. 32-51, dezembro/fevereiro 
21
FABIANA COMERLATO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
1999-2000.
BECK, Anamaria. “Pesquisas de Antropologia em andamento em Santa Catarina (Pe-
ríodo: 1965/72)”. Anais do Museu de Antropologia da UFSC, ano V. Florianópolis, 
1972. 131-153 pp.
CARBONERA, Miriam. “As pesquisas arqueológicas entre o inal do século XIX e o 
início do século XXI”. In: CARBONERA, Miriam; SCHMITZ, Pedro Ignacio (Orgs.). 
Antes do oeste catarinense: arqueologia dos povos indígenas. Chapecó: Argos, 2011. 
17-45 pp.
CARBONERA, Miriam. “Assim se fazia arqueologia: entrevista com o arqueólogo 
Pedro Ignacio Schmitz”. Cadernos do CEOM-Chapecó: Argos, vol. 19, nº24, p. 369-
393, 2006.
CARMINATI, Celso João. “Intelectuais e políticos na expansão do ensino superior 
catarinense na década de 1950”. ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História, 
Fortaleza, 2009.
CHMYZ, Igor. Anais do Seminário Comemorativo do centenário de nascimento do 
prof. Dr. José Loureiro Ascenção Fernandes (1903-2003). v. 3. Curitiba: CEPA, 2005
CRUZ, Alfredo Bronzato da Costa. “O cotidiano e a prática arqueológica do Pe. João 
Alfredo Rohr em um conjunto de cartas com o antropólogo Luiz de Castro Faria”. Re-
vista Mosaico, v. 5, n. 2, p. 137-157, jul./dez. 2012.
CRUZ, Alfredo Bronzato da Costa. Concha sobre concha: o estudo e a conservação 
dos sambaquis na correspondência entre Luiz de Castro Faria e Pe. João Alfredo Rohr 
(1960-1971). 2013. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em História, Universida-
de Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. 
DALLABRIDA, Norberto. “Os incluídos do exterior: trajetórias sociais de ex-alunos 
bolsistas de um colégio de elite (1952-1961)”. In: LOPES, Sonia de Castro; CHAVES, 
Miriam Waidenfeld (orgs.). A história da educação em debate: estudos comparados, 
proissão docente, infância, família e Igreja. Rio de Janeiro: Mauad X, 2012. 155-169 
pp.
ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. Projeto n.3.537-A, de 1957. Diário do Congresso 
Nacional, Brasília, DF, ano XIV, nº189, 28 nov. 1959. Seção I, p. 8994-8998.
FILETI, Milton Knabben. A destruição do sambaqui da Carniça visto através de re-
latos e imagens: um estudo de caso. 2004. Trabalho de Conclusão de Curso. Departa-
mento de História, Centro de Filosoia e Ciências Humanas, Universidade Federal de 
Santa Catarina, 2004.
22
O LEGADO DO PE. JOÃO ALFREDO ROHR S. J.
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
FUNARI, Pedro Paulo. “Paulo Duarte e o Instituto de Pré-História: documentos inédi-
tos”. Idéias, Campinas, 1(1): 155-179, jan./jun. 1994.
IPHAN. Lista de Bens Culturais Inscritos nos Livros de Tombo (1938-2012). Rio de 
Janeiro: IPHAN, 2013. Disponível em <http://www.iphan.gov.br/baixaFcdAnexo.
do?id=3263>. Acessado em 25 nov. 2013.
LOUREIRO, Maria Lucia de Niemeyer Matheus. Notas sobre a construção do obje-
to musealizado como documento”. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, 
v. 44, p. 91-106, 2012.
MARTINS, Maria Cristina Bohn; ROGGE, Jairo. “Por cerrados, matos e pantanais. As 
experiências de um pioneiro da arqueologia brasileira”. Entrevista com Pedro Ignácio 
Schmitz. História Unisinos 16(2):256-268, Maio/Agosto 2012.
NUNES, Sebastião Manoel. João Alfredo Rohr – SJ: O padre motoqueiro. Florianópo-
lis: Papa-Livro, 2000.
O Homem nasceu no Brasil? Revista Manchete, Nº505, Rio de Janeiro, p. 120-121, 23 
de dezembro de 1961. 
PIAZZA, Walter Fernando. “As fontes primárias da história: fontes arqueológicas cata-
rinenses”. Anais do III Simpósio dos Professores Universitários de História – ANPUH, 
Franca, p. 439-482, 1966.
PIOVESAN, Greyce Kely. Guia de Museus de Santa Catarina. Florianópolis: Funda-
ção Catarinense de Cultura, 2008.
PÍTSICA, Paschoal Apostolo. P. João Alfredo Rohr S.J. Revista do Instituto Histórico 
e Geográico de Santa Catarina, nº5, 1984, p. 297-299. 
REIS, Maria José; FOSSARI, Teresa Domitila. “Arqueologia e preservação do patri-
mônio cultural: a contribuição do Pe. João Alfredo Rohr”. Cadernos do CEOM – Ano 
22, n. 30 – Políticas públicas: memórias e experiências, 2009, p. 265-293. 
ROHR, João Alfredo. Normas para a cimentação de enterramentos arqueológicos e 
montagem de blocos-testemunha. Curitiba: Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológi-
cas, 1970. Manuais de Arqueologia, nº3.
SANTA CATARINA. Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo. Conselho Estadual de 
Cultura. Aspectos da Vida e da Obra de João Alfredo Rohr, S. J. Florianópolis: Conse-
lho Estadual de Cultura; Instituto Histórico e Geográico; Colégio Catarinense, 1984.
SANTOS, Sílvio Coelho dos Santos. “Sobre o patrimônio pré-histórico em Santa Cata-
rina”. Anais do Museu de Antropologia da UFSC, ano V, nº5, 1972, p. 117-119.
23
FABIANA COMERLATO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 9-24, Dezembro de 2014 | 
SCHMITZ, Pedro Ignácio. “A Cerâmica Guarani da Ilha de Santa Catarina”. Pesqui-
sas, n° 3. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas, 1959.
SCHMITZ, Pedro Ignácio. “João Alfredo Rohr: Um jesuíta em tempos de transição”. 
Pesquisas, Antropologia N° 67: 09-22 São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas, 
2009.
SOUZA, Alcídio Mafra de. Guia dos Bens Tombados, Santa Catarina. Rio de Janeiro: 
Expressão e Cultura, 1992.
SOUZA, Flávia Cristina Antunes de. A preservação do patrimônio arqueológico em 
Joinville/SC: desamontoando conchas e evidenciando memórias. 2007. Dissertação. 
Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 
2007.
TAMANINI, Elizabete. Museu Arqueológico de Sambaqui: um olhar necessário. 1994. 
Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de 
Campinas. Campinas, 1994.
24
ARTIGO
UNA EXPERIENCIA DE 
ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y 
COLABORACIÓN 
INTERCULTURAL EN EL 
SECTOR SEPTENTRIONAL DE 
ARGENTINA
 Mónica Montenegro
No. 10
ISSN 2237-8294
dezembro de 2014
 Revista de
Arqueologia Pública
UNA EXPERIENCIA DE 
ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y 
COLABORACIÓN 
INTERCULTURAL EN EL 
SECTOR SEPTENTRIONAL DE 
ARGENTINA
Mónica Montenegro1 
RESUMEN
 
La arqueología pública puede vislumbrarse como un espacio para desarrollar propu-
estas didácticas que contribuyan a generar conocimientos sobre el pasado desde una 
perspectiva multivocal. En este trabajo compartimos una experiencia de arqueología 
pública y colaboración intercultural desarrollada en una comunidad educativa del 
Noroeste Argentino2. Se trata de una actividad relacionada con la elaboración de un 
material didáctico para trabajar contenidos sobre el pasado prehispánico en el contexto 
áulico, que buscó integrar conocimientos ancestrales y cientíicos, y tecnologías de la 
información y la comunicación (TICs). A partir de la misma, relexionamos acerca del 
rol de la arqueología en la construcción de discursos sobre el pasado, en un complejo 
contexto donde se imbrican activaciones patrimoniales, mediación cientíica, emergen-
ciade identidades étnicas, y re-coniguración de territorios.
Palabras clave: Arqueología Pública, Colaboración Intercultural, Noroeste Argentino.
1 Dra. en Antropología. Programa de Estudios Postdoctorales de la Universidad Nacional de 
Tres de Febrero. Instituto Interdisciplinario Tilcara, Universidad de Buenos Aires y Centro Re-
gional de Estudios Arqueológicos, Universidad Nacional de Jujuy, República Argentina. moni-
carudy@yahoo.com.ar 
2 La misma se realizó durante el año 2013, en el marco del Proyecto de Investigación y For-
mación Posdoctoral: “Arqueología pública y colaboración intercultural en la construcción de 
discursos sobre el pasado local desde la escuela. Un estudio de caso en el sector septentrional 
del noroeste argentino”, bajo la dirección del Dr. Daniel Mato –CONICET /Universidad Nacio-
nal de Tres de Febrero, Argentina. 
ARTIGO
MÓNICA MONTENEGRO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
ABSTRACT
Public Archaeology can be glimpse as a space to develop didactical proposals that con-
tribute to create knowledge about the past from a multivocal perspective. In this work 
we want to share an experience of public Archaeology and intercultural collaboration 
developed with an educational community in the Norwest of Argentine Republic. This 
work is focused about a related activity with the elaboration of didactical material to 
work contents about pre-Hispanic past on classroom context, looking for integrate an-
cient and scientiic knowledge and the information and communication technologies 
(TICs). From it, they started to shedding questions and relections about the role of 
archaeology on the construction of discourses about the past, in a complex context 
where heritage’s activations, scientiic’s mediation, emergence of ethnic identities and 
reconiguration of territories, overlap.
Keywords: Public Archaeology; Intercultural collaboration; Noroeste Argentino.
RESUMO 
Pode-se entender a Arqueologia Pública como espaço de desenvolvimento de propostas 
educacionais que contribuem para a geração de conhecimento sobre o passado, a partir 
de uma perspectiva multivocal. Neste trabalho, compartilhamos uma experiência de Ar-
queologia Pública e colaboração intercultural, realizado numa comunidade do Noroeste 
da Argentina. Trata-se de uma atividade pedagógica, voltada à produção de material de 
ensino para trabalhar o passado pré-hispânico no espaço escolar. Tal proposta integrou 
conhecimentos ancestrais e cientíicos, e as tecnologias da informação e comunicação 
(TICs). A partir dessa experiência, foram formuladas perguntas e relexões sobre o pa-
pel da arqueologia na construção de discursos sobre o passado em um contexto comple-
xo, no qual estão entrelaçadas ativações patrimoniais, mediação cientíica, surgimento 
de identidades étnicas e reconiguração de territórios.
Palavras-chave: Arqueologia Pública; Colaboração Intercultural; Noroeste da Argen-
tina.
REFLEXIONES ACERCA DE LOS DISCURSOS ARQUEOLÓGICOS DES-
DE UN ESPACIO PERIFÉRICO DE ARGENTINA
Cómo arqueóloga mi interés fundamental radica en acceder a la comprensión del 
pasado, deiniendo problemáticas desde el presente para interrogar en forma sistemáti-
ca y rigurosa el registro arqueológico y poder construir discursos cientíicos. De cierto 
modo, vida y muerte, voces y silencios, pasado y presente, se entrelazan en los trabajos 
27
UNA EXPERIENCIA DE ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y COLABORACIÓN...
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
arqueológicos intentando hacer presente el pasado, a través de un discurso cientíico. 
Podríamos pensar, citando a David Lowenthal que “por lo general, la gente es consci-
ente de que el pasado real es irrecuperable. Sin embargo, la memoria y la historia, la 
reliquia y la réplica dejan unas impresiones tan vivas, tan tentadoramente concretas…” 
(LOWENTHAL, 1985: 68). Para la arqueología resulta crucial deinir una estructura 
teórico-metodológica que permita interpretar esas impresiones y construir discursos 
legítimos, para ello debe además, contextualizar las investigaciones en un eje espacio-
temporal que les otorgue signiicación y sentido.
El discurso arqueológico opera simultáneamente en un doble nivel temporal: por 
una parte, el tiempo de enunciación, fuertemente marcado por los enfoques teóricos 
dominantes (presente), y por la otra, el tiempo en que acontecieron los hechos sociales 
que quedaron evidenciados a través de la cultura material (pasado). De cierto modo, la 
práctica arqueológica se debate en un juego temporal que contribuye a la legitimación 
de discursos acerca del pasado y, en ese punto es necesario hacer consciente el presente 
en el cual se desarrollan las investigaciones. 
En mi caso, se trata de un presente enmarcado en un contexto donde la arqueología 
hace tiempo que ha dejado de ser “la ciencia de los cacharros”3, y la misión de los ar-
queólogos está muy lejos de exhumar “las culturas aborígenes de entre las cenizas de 
un pueblo muerto”4. Por el contrario, el tiempo de mi praxis se deine en el marco de 
perspectivas desarrolladas a partir de dos fuerzas que han conluido para cambiar esto: 
por una parte la creciente organización y proactividad de organizaciones y dirigentes 
indígenas con tal propósito, y por otra, las autocríticas y re-posicionamientos ideológi-
cos relacionados con arqueología y comunidades (LAYTON, 1989; TRIGGER, 1996; 
UCKO, 1989) que trascienden el espacio de la excavación y el laboratorio5, revisando la 
3 El arqueólogo argentino Juan Bautista Ambrosetti hace más de un siglo sostenía la impor-
tancia de los estudios arqueológicos para conocer las culturas prehistóricas, y esperaba “que la 
Arqueología en este continente deje de ser la ciencia de los cacharros y estos no tengan otro 
objeto que proporcionar bellas láminas ó adornar con sus formas curiosas e interesantes orna-
mentos los estantes de los museos” (AMBROSETTI, 1908: 987).
4 Fragmento de la leyenda que contiene la placa recordatoria ubicada en la pirámide funeraria 
del Pucara de Tilcara, construida en homenaje a los primeros arqueólogos que trabajaron ese 
sitio, uno de los más importantes del Noroeste Argentino.
5 Si bien ya venían desarrollándose algunas investigaciones al respecto, un antecedente fun-
damental fue el World Archaeological Congress celebrado en 1986, que congregó arqueólogos, 
antropólogos, académicos de diversas disciplinas y miembros de comunidades originarias, y 
generó una apertura en el horizonte de los estudios arqueológicos, al considerar central para 
esta ciencia, la participación de dichas comunidades, muchas de las cuales, estaban acostum-
bradas a ser tratadas como “materia” de observaciones arqueológicas y antropológicas, pero 
nunca antes habían sido admitidos como participantes en igualdad de condición para discutir su 
propio pasado o presente cultural (UCKO, 1989).
28
MÓNICA MONTENEGRO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
relación entre las dimensiones epistemológica y ética de la investigación arqueológica 
(BLAKEY, 2008), y sosteniendo la importancia de interactuar “con” las comunidades 
locales para co-construir relatos del pasado que resulten signiicativos (MENEZES 
FERREIRA y MACHADO SÁNCHEZ, 2011).
En este devenir, también surgen interrogantes relacionados con la situación es-
pacial que ocupo en el ejercicio de enunciación y re-surgen en mí, viejas dicotomías 
tales como: centro/periferia, local/global, autóctono/foráneo, que me ayudan a situar 
los relatos. Ante todo, reconozco que mis discursos acerca del pasado son parte de una 
práctica institucionalizada de investigación cientíica, y de cierto modo siguiendo a 
Foucault (1970), entiendo que en tanto discursos cientíicos no son entidades absolutas, 
sino extensiones moldeadas como instrumentos de poder que conforman convenciones 
lingüísticas y representaciones sobre los grupos sociales y, al circular en la sociedad, se 
articulana la producción regulada de otras instituciones locales, nacionales y transna-
cionales; en este caso se trata de discursos elaborados desde dos instituciones universi-
tarias: la Universidad Nacional de Jujuy y la Universidad de Buenos Aires. 
Mi espacio de enunciación es la provincia de Jujuy, ubicada en una región de triple 
frontera6, aproximadamente a dos mil kilómetros al norte de la Ciudad de Buenos Aires 
(capital del país). Mi práctica arqueológica se enmarca en un espacio muy particular y 
polisémico del Noroeste Argentino: La quebrada de Humahuaca, que es a la vez una 
región geográica de la Provincia de Jujuy, un corredor natural de tránsito en los Andes 
Centro Sur, un destino de interés turístico, un marcador de límites del Estado Nacio-
nal, una de las áreas con mayor densidad de sitios arqueológicos del país, y un paisaje 
cultural declarado Patrimonio Mundial por UNESCO. Precisamente las activaciones 
patrimoniales relacionadas con esta declaratoria junto a nuevos planteamientos de in-
telectuales e interpelaciones de dirigentes indígenas, promovieron instancias de activ-
ismo que obligaron a re-deinir las relaciones entre comunidades locales y arqueólogos, 
contribuyendo a la re-formulación de discursos acerca del pasado en este espacio peri-
férico de Argentina.
NUEVOS ESCENARIOS SOCIOPOLÍTICOS PARA LA PRÁCTICA AR-
QUEOLÓGICA EN SUDAMÉRICA
Durante las últimas décadas del siglo XX, las investigaciones cientíicas se han 
desarrollado en nuevos escenarios sociopolíticos; la complejidad de los desarrollos en-
6 Emplazada geopolíticamente en un área de Triple frontera entre la República Argentina, el 
Estado Plurinacional de Bolivia y la República de Chile.
29
UNA EXPERIENCIA DE ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y COLABORACIÓN...
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
marcados en el neoliberalismo multicultural7 ha producido profundos impactos en el 
plano cultural; uno de ellos está asociado a la confrontación de conocimientos cientíi-
cos versus ancestrales (MONTENEGRO y RIVOLTA, 2012). Las ciencias sociales se 
han visto interpeladas por su objeto de estudio, que en un nuevo contexto de derechos 
se convierte en sujeto empoderado, exigido a participar en los procesos de construcción 
de conocimiento que se realizan sobre sí y, sobre su grupo de pertenencia (AYALA, 
2008; BOLADOS GARCÍA, 2010; MONTENEGRO, 2012). Esto ha conllevado una 
re-deinición de objetos/sujetos, relaciones y campos de investigación, y como sugiere 
la antropóloga chilena Paola Bolados García (2010), el campo cientíico, el burocrático 
y el etnopolítico, se han convertido en escenario telúrico de las luchas por adjudicarse 
la administración de las diferencias.
La arqueología sudamericana por su parte, ha generado interesantes revisiones y 
autocríticas en torno a la relación hegemónica que históricamente mantuvo esta cien-
cia con las comunidades originarias, que fue materializándose de cierto modo, en la 
producción de discursos colonialistas sobre el pasado de la región (AYALA, 2008; 
GNECCO, 2002; VERDESIO, 2010). En Argentina, también han tenido una intensidad 
creciente los estudios que apuntan a descentrar el discurso hegemónico de la arque-
ología (ENDERE y CURTONI, 2007; LAGUENS 2008; entre otros) abriendo espacios 
para el debate sobre arqueología y comunidades, que han promovido acciones como la 
Declaración de Río Cuarto (2005)8. 
En el ámbito local, las relexiones sobre la práctica arqueológica se han acentuado, 
a partir de activaciones patrimoniales implementadas en el marco de complejos trans-
nacionales de producción cultural9, que han desencadenado redeiniciones en torno 
a identidades culturales y territorios. En este escenario, las evidencias materiales del 
pasado han adquirido un rol protagónico en los mecanismos de memoria social de las 
7 Bolados García (2010) denomina así a una versión extendida del neoliberalismo a campos 
socioculturales antes ignorados, donde las prácticas de gobierno tienden a la sujeción y subje-
tivación de los individuos a través de formas de auto-mejoramiento.
8 En el marco del Primer Foro Pueblos originarios-Arqueólogos, respondiendo al mandato 
de la Asamblea Plenaria del XV Congreso Nacional de Arqueología Argentina que entendió la 
necesidad de establecer un diálogo sobre la base del respeto mutuo entre pueblos originarios 
y arqueólogos; reconociendo, por una parte, la contribución de la arqueología al conocimiento 
del pasado indígena, y por otra, el interés legítimo de las comunidades indígenas actuales por 
el patrimonio que les pertenece y que es sustento del conocimiento, sabiduría y cosmovisión 
ancestrales.
9Concepto acuñado por Daniel Mato (2004), para deinir articulaciones transnacionales de tipo 
global-local resultantes de prácticas individuales y de organizaciones en el contexto de re-
laciones sociales, políticas y económicas más amplias, atravesadas por relaciones de poder y 
conlictos de intereses.
30
MÓNICA MONTENEGRO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
comunidades locales, quienes les otorgan nuevas valoraciones, y las re-signiican por 
una parte, como elementos de su paisaje cultural que contribuyen a demarcar territorios 
ancestrales; y por la otra, como patrimonio cultural y potencial recurso de desarrollo 
económico asociado a proyectos turísticos. La complejidad de estos procesos provoca 
conlictos y negociaciones entre los diversos actores sociales que pugnan por la ap-
ropiación de sitios y bienes arqueológicos; en relación a la arqueología se presentan 
situaciones diversas: en algunos casos, las comunidades han impedido el desarrollo 
de investigaciones arqueológicas, pero en otros, han acudido a los arqueólogos para 
que les acerquen conocimientos sobre las sociedades que habitaron en tiempos prehis-
pánicos esta geografía (MONTENEGRO, 2010; MONTENEGRO y APARICIO, 2013; 
RIVOLTA, MONTENEGRO y ARGAÑARAZ, 2011). 
Este complejo escenario, nos obligó a relexionar sobre el posicionamiento de nues-
tra praxis en un contexto de diversidad cultural, y nos desaió a diseñar acciones para 
actualizar los vínculos entre arqueología y comunidades locales. Para ello fue necesario 
reconocer que los procesos de reconiguración de identidades y territorios que están 
produciéndose al interior del territorio provincial otorgan a los bienes arqueológicos 
nuevas valoraciones deinidas desde la multiculturalidad10, integrándolos al campo del 
patrimonio local. De esta manera, sitios y objetos arqueológicos son entendidos como 
mecanismos de activación de la memoria social y dinamizadores de procesos identi-
tarios, considerando que “la constitución de una identidad cultural se lleva a cabo a 
través de la preservación de la memoria dentro de una determinada visión de mundo” 
(CARVALHO y FUNARI, 2012: 106).
En consecuencia nuestras propuestas se basaron en acciones de arqueología pública 
relacionadas con patrimonio como espacio de participación social11; así, durante la últi-
ma década hemos generado propuestas que favorecieran los procesos de construcción 
de patrimonio arqueológico en la escuela. De cierto modo, patrimonio fue una “excusa” 
para promover la comunicación intercultural y re-conocer a partir de múltiples voces, 
el pasado local, compartiendo con Carvalho y Funari (2012), la necesidad de trascender 
el espacio académico para dialogar con la comunidad valorando los diversos puntos 
de vista y respetando las distintas visiones de mundo, destacando a su vez los espacios 
10 Entendiendo que “la multiculturalidad da cuenta de la presencia de culturas diferentes y de 
la necesidad de atender las demandas de los distintos grupos minoritarios, pero dentro de estos 
grupos existen dinámicas y relaciones de poder” (DIETZ y MATEOS 2011: 24).
11 Compartimos con colegas brasileños que “... la apertura de nuevas posibilidades para los en-
foques participativos es un desafío importante para todos los que seinteresan por el patrimonio 
como instrumento para la justicia social” (CARVALHO y FUNARI, 2012: 109). 
31
UNA EXPERIENCIA DE ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y COLABORACIÓN...
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
para relexionar y elegir. 
ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y COLABORACIÓN INTERCULTURAL: 
NUEVAS VOCES EN LOS DISCURSOS DEL PASADO
La enseñanza del pasado local en contextos impactados por el neoliberalismo 
multicultural conlleva interesantes desafíos, fundamentalmente, si el propósito es de-
construir antiguas políticas educativas que promovieron un ejercicio de colonialidad 
en ciertos espacios de producción de conocimientos. La arqueología, ha participado 
de estos procesos promoviendo re-consideraciones acerca del alcance de la “transfer-
encia” de conocimientos cientíicos a la comunidad (LAYTON, 1989; UCKO, 1989; 
TRIGGER, 1996). Precisamente uno de los abordajes más interesantes que propone 
está vinculado al concepto de multivocalidad, que permite que sectores, otrora margi-
nados, puedan efectuar interpretaciones acerca del pasado en sus propios términos a in 
de construir signiicados diferentes a los modelos dominantes (HODDER, 2008). 
En nuestro caso, hemos operacionalizado el concepto de multivocalidad como su-
giere Blakey (2008), recuperando el valor de la pluralidad de perspectivas acerca del 
pasado, a in de lograr una práctica arqueológica más ética y comprometida con la 
comunidad. Siguiendo a ese autor, entendemos que nuestras elecciones epistémicas en 
relación al pasado pueden afectar a las comunidades con quienes trabajamos, por ello 
es necesario reconocer el potencial que tiene la práctica arqueológica como espacio 
para democratizar el conocimiento. Nos parecía que uno de los espacios más intere-
santes para desarrollar nuestras acciones era el ámbito educativo formal, en el que ya 
veníamos interactuando a partir de propuestas pedagógicas relacionadas con patrimo-
nio arqueológico. Decidimos que la multivocalidad fuera el eje de las actividades de 
arqueología pública que proponíamos (MC. DAVID, 2002; MERRIMAN, 2004), de 
modo tal que los distintos actores escolares pudieran ser partícipes de la construcción 
de discursos acerca del pasado de forma más equitativa, y esta experiencia resultara 
signiicativa para la comunidad educativa.
Consideramos además los planes rectores que propone UNESCO para lograr cam-
bios sostenibles en los sistemas educativos de todo el mundo, uno de cuyos objetivos 
es lograr una Educación para Todos; por ello, desarrollamos un proceso dialógico que 
permitiera incorporar en los discursos del pasado, nociones nativas acerca de la histo-
ria, el pasado y el tiempo. En nuestro caso, entendiendo que no hay un saber universal 
(MATO, 2008), deinimos la praxis disciplinar arqueológica a la luz de nuevas cat-
egorías como la de comunicación intercultural (MATO, 2012), que abre la posibilidad 
de comprender los vínculos sociales entre diversos actores educativos, que producen, 
32
MÓNICA MONTENEGRO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
negocian y disputan formulaciones de sentido acerca del pasado y del presente; no solo 
entre sí, sino dentro de sí. 
Diseñamos las propuestas de arqueología pública, partiendo de prácticas pedagógi-
cas que promueven una descolonización del conocimiento, al decir de Catherine Walsh 
(2009) sustentadas en el re-existir y re-vivir como procesos de re-creación. Adherimos 
a la posibilidad de imaginar a la pedagogía como un “pensar con los otros sectores de la 
sociedad”, en un proceso inclusivo, dirigido a la transformación y a la creación de nue-
vas propuestas educativas, que apuesten a desarrollar un proyecto político, epistémico, 
social y ético de la interculturalidad (WALSH, 2009). Por lo demás, consideramos que 
en el ámbito del multiculturalismo, el Estado nacional re-deine sus relaciones con los 
diversos actores locales, quienes no están exentos de interferencias discursivas trans-
nacionales (MATO, 2004). Aquí se pone de maniiesto, como sugieren Dietz y Mateo 
Cortez (2011), la necesidad de transversalizar un enfoque intercultural que visibilice la 
diversidad, celebre la interacción y promueva actitudes positivas ante la heterogenei-
dad. 
ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y COLABORACIÓN INTERCULTURAL EN 
LA QUEBRADA DE HUMAHUACA: ENTRE SABERES ANCESTRALES E 
INFORMÁTICA
La experiencia de arqueología pública que presentamos fue resultado de una inves-
tigación cualitativa, sincrónica, de corte exploratorio, realizada en el ámbito educativo 
desde una perspectiva dialógica, empleando métodos de arqueología pública (HÖG-
BERG, 2007; FERNÁNDEZ MURILLO, 2003; FUNARI y VIEIRA DE CARVALHO, 
2012; ZABALA y FABRA, 2012). El objetivo fue promover un espacio dialógico para 
construir conocimientos desde una perspectiva intercultural. Aspiramos a mejorar la 
calidad del proceso de enseñanza, a partir de la elaboración conjunta de material didác-
tico sobre el pasado y el patrimonio de la región, empleando TICs12. 
La unidad de estudio fue la Escuela Primaria N° 44 “José Ignacio Gorriti” de la lo-
calidad de León, Provincia de Jujuy. Esta institución educativa se encuentra emplazada 
en el sector meridional de la Quebrada de Humahuaca, en un espacio de transición con 
valles templados, a una altitud aproximada de 1.620 m.s.n.m. Cuenta con Nivel Inicial 
y Primario y posee un albergue anexado que le permite hospedar alumnos de áreas 
12 Las tecnologías de la información y la comunicación (TIC) incluyen técnicas y elementos 
empleados en el tratamiento y la transmisión de las informaciones, principalmente de infor-
mática, internet y telecomunicaciones.
33
UNA EXPERIENCIA DE ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y COLABORACIÓN...
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
rurales próximas. La población está compuesta por 138 alumnos (115 externos y 23 
albergados) y 33 personas que forman parte del personal de la escuela, entre las que se 
incluyen directivos, docentes y empleados de maestranza. A partir de sugerencias de 
la Supervisora de región y de la Directora se trabajó especíicamente con docentes y 
alumnos de 4°y 5° grado. 
La investigación se conformó en base a observación participante, indagación de 
documentación institucional, y rescate de discursos de los diversos actores educativos y 
miembros de la comunidad local. Asumiendo que ningún saber es universal, la colabo-
ración intercultural se vuelve imprescindible (MATO, 2008) a la hora de generar apren-
dizajes signiicativos; por ello, nuestra investigación se consolidó a través de una doble 
vía: a) la transferencia de resultados de investigaciones arqueológicas al entramado 
socioeducativo local a través de estrategias de mediación cientíica; b) la recuperación 
de conocimientos de la comunidad a través de acciones de colaboración intercultural. 
Nuestro interés se centró en recuperar –con la mayor idelidad posible- el lenguaje de 
los actores, en sus propios términos y signiicaciones, transformando el contexto áulico 
en un espacio multivocal.
Fig. 1: Instancia de trabajo durante el taller
La dinámica incluyó el dictado un taller escolar denominado “Arqueología y Pasado 
local”, que se desarrolló en cinco encuentros. Trabajamos con docentes de grado y de 
materias especiales (actividades prácticas, expresión plástica y técnicas agropecuarias), 
lo que nos permitió desplegar una mayor cantidad de estrategias didácticas. Durante los 
dos primeros encuentros desarrollamos una actividad para conocer las representaciones 
de los niños acerca de la arqueología y sobre el pasado prehispánico regional. Nos inte-
resaba indagar y activar los conocimientos previos de los niños para promover cambios 
34
MÓNICA MONTENEGRO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
conceptuales y lograr aprendizajes signiicativos.
En relación con la arqueología, el 88% de los niños no conocía que erala arque-
ología, del 12 % restante, sólo el 4 % poseían una idea correcta acerca de esta ciencia, 
el resto la confundía con la paleontología (particularmente el estudio de los dinosau-
rios). Quienes entregaron una idea correcta acerca de la arqueología, la relacionaron 
únicamente con la excavación de restos óseos humanos y “ollitas” de cerámica. No 
hubo asociación con otras evidencias materiales del pasado como corrales, campos 
de cultivo, viviendas, arte rupestre, ni textiles. La metodología de trabajo se relacionó 
fundamentalmente con la excavación (utilizando pala y pico) y la recuperación del ma-
terial para “llevarlo a los museos”. Una gran mayoría (87%) expresó no conocer sitios 
arqueológicos; del 13% restante, el 9% mencionó algunos materiales (puntas de lecha, 
ollitas de barro), solo el 4% se reirió a los mismos como “pucaras”. Esa fue la única 
denominación que pudimos registrar, en ningún momento nos hablaron de “antigales”, 
término que si hemos registrado en trabajos anteriores en otros sectores de Quebrada 
de Humahuaca.
Fig. 2: Representaciones acerca de la arqueología
El pasado prehispánico estaba poco representado en los discursos de los niños: solo 
un 18% reirió en sus discursos al “tiempo de los indios”; para el 82% restante, hablar 
del pasado era referirse únicamente a la “historia”, y el lapso cronológico al que aludi-
eron correspondió al Siglo XIX, especíicamente al período de Guerras de Independen-
35
UNA EXPERIENCIA DE ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y COLABORACIÓN...
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
cia de Argentina, en particular al “Día Grande de Jujuy13”. En diálogo con las docentes 
una de ellas manifestó que los alumnos de 5° estaban trabajando una línea temporal en 
relación a las primeras ocupaciones de la Quebrada de Humahuaca, pero no lograban 
establecer correlaciones entre los procesos culturales prehispánicos de las diferentes 
regiones de la provincia, fundamentalmente en torno a continuidad y cambios en los 
patrones de movilidad y asentamiento de los grupos, producción y distribución de bi-
enes materiales. Los niños de 4° todavía no habían estudiado temas relacionados con el 
pasado prehispánico. 
En cuanto a patrimonio, no se evidenció entre los actores educativos apropiación 
de los sitios arqueológicos como parte del patrimonio. Las referencias a patrimonio de 
la región se vincularon a dos temas principales: a) Patrimonio Natural: las diferentes 
regiones geográicas como espacios de articulación de prácticas de la vida cotidiana; y 
b) Patrimonio cultural: la identidad gaucha, como discurso emergente sobre el tópico 
identitario. En dable destacar que en reiteradas oportunidades (82%), al hablar de patri-
monio se hizo alusión a la Quebrada de Humahuaca, aunque se asoció en forma directa 
a “Patrimonio de la Humanidad”, no con el “Patrimonio local”.
A partir del diagnóstico, realizamos una selección de contenidos que comprendió 
dos temáticas: a) la arqueología como ciencia, sus objetivos y metodología; y b) los 
desarrollos culturales prehispánicos de la región. Utilizando una metodología de tipo 
taller, propusimos actividades relacionadas a diferentes períodos cronológicos, invitán-
dolos asimismo a abordar el eje espacial como otra dimensión relevante y complemen-
taria para el estudio del pasado, que permitiera integrar los procesos socioculturales 
con las regiones geográicas y sus recursos. Como resultado de los mismos cada grupo 
elaboró una producción plástica que serviría como base para elaborar posteriormente 
entre todos los participantes un material didáctico para la escuela.
Planteamos la posibilidad de realizar ese material utilizando tecnologías de la co-
municación y de la información (TICs) para procesar los contenidos a partir de un 
programa informático con formato de presentación. Entendíamos que el mismo podía 
ser utilizado como estrategia visual para la transposición didáctica de contenidos al 
contexto áulico, despertando en los alumnos un mayor grado de interés. Asimismo, 
consideramos que dicho formato permitiría realizar actualizaciones cuando los docen-
tes lo consideraran necesario, enriqueciendo con sus aportes el documento inicial.
13 Fecha en la cual se celebra una de las victorias más destacadas del proceso independentista: 
la Batalla de León (27 de abril de 1821) cuando las tropas realistas fueron derrotadas por las 
tropas jujeñas comandadas por el coronel José Ignacio Gorriti. 
36
MÓNICA MONTENEGRO
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
Fig. 3: Portada del Material Didáctico elaborado
El nombre elegido para la presentación fue: «Las tierras de León tiempo antes de 
la conquista española» se trata de un material didáctico para estudio del pasado pre-
hispánico del sur de la Quebrada de Humahuaca en escuelas primarias. El mismo fue 
elaborado a partir de discursos y expresiones grafo-plásticas de los niños, a los que 
se integraron contenidos arqueológicos, información proveniente de textos escolares, 
y conocimientos que acercaron otros miembros de la comunidad. Los contenidos se 
estructuraron siguiendo un eje temporal que muestran diversos aspectos de la vida de 
las comunidades que habitaron en el pasado esta región de los Andes Centro Sur. Para 
ello abordamos las siguientes temáticas: primeras ocupaciones del territorio, grupos 
cazadores y recolectores, pueblos agricultores, los habitantes de los pucaras, la llegada 
de los Inkas y la formación del Collasuyu, culminando en el momento de la conquista 
española. 
Durante los talleres observamos un gran interés por parte de los niños por conocer 
más acerca de los métodos y técnicas de la arqueología; en relación a esto, surgió como 
inquietud la visita a algunos sitios arqueológicos próximos a la institución educativa, 
que se planii caron para el año lectivo 2014. De todos modos, aunque el pasado prehis-
pánico les interesó, privilegiaron los conocimientos relacionados al período colonial, 
especialmente los tiempos de la revolución. Numerosos miembros de la comunidad 
educativa, nos hicieron saber en reiteradas oportunidades, que el pasado de la localidad 
de León está relacionado principalmente al tiempo de las Guerras de Independencia, 
donde León tuvo un rol protagónico como espacio de defensa de la frontera norte del 
país, y por ello les gustaría que los arqueólogos estudien la zona para ver si pueden 
encontrar “huellas” de esas batallas. 
Los procesos de construcción de patrimonio e identidades están asociados funda-
mentalmente a la música, las danzas, la indumentaria, las celebraciones religiosas, y 
37
UNA EXPERIENCIA DE ARQUEOLOGÍA PÚBLICA Y COLABORACIÓN...
Revista de Arqueologia Pública, No. 10, pp. 26-43, Dezembro de 2014 | 
otras tradiciones vinculadas a la vida de los gauchos. No hemos registrado identiica-
ciones identitarias relacionadas con comunidades indígenas, por el contrario, en esta 
comunidad el referente identitario son “los gauchos”; estos resultados reairman inves-
tigaciones anteriores (Montenegro, Cremonte y Peralta 2013) que ponían de maniiesto 
que las comunidades de la región de los Valles templados de Jujuy, se identiican con 
esa construcción identitaria propia del Estado Nacional Argentino. Por ello, consid-
eramos que la comunidad educativa de León se encuentra emplazada en un área de 
frontera a nivel geográico: valles/quebrada, que también delimitaría coniguraciones 
identitarias: gauchos/indígenas, y construcciones patrimoniales arqueológicas de dife-
rentes períodos: colonial/prehispánico. Sin duda estos planteos despiertan nuevos inter-
rogantes que serán objeto de futuras investigaciones. 
Esta investigación logró descentrar, una vez más, a la arqueóloga de sus representa-
ciones acerca del pasado local; fundamentalmente porque al diseñar este proyecto pens-
amos en aportar desde nuestras investigaciones arqueológicas, elementos para ampliar

Continue navegando