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Dinâmica de Transmissão e Distribuição de Doenças - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 1 Dinâmica de Transmissão e Distribuição de Doenças - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO CONCEITOS EPIDEMIOLOGIA Estudo da distribuição, determinantes e padrões de ocorrência de doenças e problemas de saúde em populações humanas, e a aplicação deste estudo na prevenção e controle dos problemas de saúde DISTRIBUIÇÃO Refere-se à maneira como a ocorrência de doenças, lesões, condições de saúde e outros eventos relacionados à saúde estão distribuídos em uma população em termos de tempo, lugar e características das pessoas afetadas. Os princípios para o estudo desta se refere ao uso das 3 variáveis clássicas da epidemiologia: tempo, lugar e pessoa DOENÇA TRANSMISSÍVEL Também conhecida como doença infecciosa, é uma condição causada por agentes patogênicos, como vírus, bactérias, fungos, parasitas ou príons, que podem ser transmitidos de uma pessoa (ou animal) para outra através de diversas vias, como contato direto, gotículas respiratórias, alimentos, água contaminada, vetores (como mosquitos) e outras formas de exposição. Exemplos incluem gripe, tuberculose, malária, HIV/AIDS e COVID-19 DOENÇA EMERGENTE Doença que aparece repentinamente em uma população ou região e cuja incidência está aumentando, representando uma ameaça à saúde pública. Essas doenças podem ser completamente novas (causadas por um agente previamente desconhecido) ou podem ser doenças existentes que se tornam mais prevalentes ou graves DOENÇA REEMERGENTE Condição que já existia em uma população, mas que havia diminuído em incidência ou sido controlada, e posteriormente ressurge com um aumento de casos CONCEITOS RELACIONADOS COM A PROGRESSÃO DA DOENÇA PERÍODO DE COLONIZAÇÃO O agente persiste na superfície do hospedeiro, sem invasão tissular PERÍODO DE INFECÇÃO O agente está presente nos tecidos do hospedeiro, sem sinais, sintomas ou evidência laboratorial de dano tissular PERÍODO DE INCUBAÇÃO Intervalo de tempo que transcorre entre a exposição a um agente infeccioso e o surgimento do primeiro sinal ou sintoma da doença PERÍODO PRODRÔMICO Dinâmica de Transmissão e Distribuição de Doenças - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 2 Período que abrange o intervalo entre os primeiros sintomas da doença e o início dos sinais ou sintomas que lhe são característicos e, com os quais o diagnóstico pode ser estabelecido PERÍODO DE LATÊNCIA Intervalo de tempo que transcorre desde que se produz a infecção até que a pessoa se torne infecciosa PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE Intervalo de tempo durante o qual o agente infeccioso pode ser transferido direta ou indiretamente de uma pessoa infectada a outra pessoa, de um animal infectado ao ser humano ou de um ser humano infectado a um animal, inclusive artrópodes ENFOQUE EPIDEMIOLÓGICO CONSIDERA QUE A DOENÇA NA POPULAÇÃO 1. Fenômeno dinâmico 2. Propagação depende da interação entre a exposição e a suscetibilidade dos indivíduos e grupos constituintes 3. Não ocorre por acaso 4. Não está distribuída de forma homogênea 5. Têm fatores associados que, para serem causais, cumprem alguns critérios: a. Temporalidade (toda causa precede a seu efeito, o chamado princípio do determinismo causal) b. Força de associação c. Consistência da observação d. Especificidade da causa e. Gradiente biológico (efeito dose-resposta) f. Plausibilidade biológica CAUSALIDADE TRÍADE EPIDEMIOLÓGICA Modelo tradicional de causalidade das doenças transmissíveis AGENTE Refere-se ao microrganismo, substância ou fator que causa o processo patológico no corpo humano. Pode ser um vírus, bactéria, parasita, fungo, toxina ou qualquer outra causa que leva à manifestação da doença HOSPEDEIRO Dinâmica de Transmissão e Distribuição de Doenças - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 3 Organismo vivo que abriga o agente causador da doença. Pode ser um ser humano, animal ou planta. A suscetibilidade, imunidade e estado de saúde do hospedeiro desempenham um papel importante na determinação de como a doença se desenvolve e se espalha AMBIENTE Refere-se ao contexto físico, biológico e social em que o agente e o hospedeiro interagem. Fatores como condições climáticas, qualidade da água, densidade populacional, higiene, nutrição e comportamentos humanos influenciam a transmissão e propagação das doenças. O ambiente pode facilitar ou impedir a exposição do hospedeiro ao agente causador CAUSAS SUFICIENTES Conjunto mínimo de condições que age em sintonia e causa a doença CAUSAS COMPONENTES Um dos fatores individuais que, quando combinados com outros fatores, contribui para a ocorrência de um evento ou resultado, como uma doença. Ou seja, uma causa componente é uma parte dos vários elementos que, quando presentes em conjunto, constituem a causa suficiente para o desenvolvimento da doença CADEIA EPIDEMIOLÓGICA AGENTE CAUSAL BIOLÓGICO Organismos vivos capazes de causar uma infecção ou doença no ser humano e nos animais NÃO BIOLÓGICO Agentes químicos: pesticidas, aditivos de alimentos, fármacos e industriais Agentes físicos: força mecânica, calor, luz, radiações e ruído RESERVATÓRIO Qualquer ser humano, animal, artrópode, planta, solo ou matéria inanimada, onde normalmente vive e se multiplica um agente infeccioso e do qual depende para sua sobrevivência, reproduzindo-se de forma que possa ser transmitido a um hospedeiro suscetível TIPOS Humanos Extra-humanos/animais PORTA DE SAÍDA DO AGENTE Dinâmica de Transmissão e Distribuição de Doenças - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 4 Caminho pelo qual um agente infeccioso sai do seu hospedeiro Respiratória: tuberculose, influenza, sarampo, etc Geniturinárias: leptospirose, sífilis, AIDS, gonorréia Digestivas: próprias da febre tifóide, hepatite A e E, cólera e amebíase Pele: varicela, herpes zoster, sífilis, doença de Chagas, malária, leishmaniose, febre amarela, hepatite B Placentária: sífilis, rubéola, toxoplasmose, AIDS e doença de Chagas MODO DE TRANSMISSÃO DO AGENTE TRANSMISSÃO DIRETA Transferência direta do agente infeccioso por uma porta de entrada para que se possa efetuar a infecção Dispersão de gotículas Contato direto TRANSMISSÃO INDIRETA Mediante veículos de transmissão ou fômioes: através de objetos ou materiais contaminados, tais como brinquedos, lenços, instrumentos cirúrgicos, água, alimentos, leite, produtos biológicos, incluindo soro e plasma Mecânico: é o simples traslado mecânico do agente infeccioso por meio de um inseto terrestre ou voador, seja por contaminação de suas patas ou tromba ou pela passagem em seu trato intestinal, sem multiplicação ou desenvolvimento cíclico do micro-organismo Biológico: o agente necessariamente deve propagar-se (multiplicar-se), desenvolver-se ciclicamente ou ambos (ciclopropagação) no artrópode-vetor antes que possa transmitir a forma infectante ao ser humano Núcleos goticulares: são os pequenos resíduos da evaporação de gotículas de flugge ou perdigotos emitidas por um hospedeiro infectado PORTA DE ENTRADA NO NOVO HOSPEDEIRO As portas de entrada de um germe no novo hospedeiro são basicamente as mesmas usadas para a saída do hospedeiro prévio SUSCETIBILIDADE DO HOSPEDEIRO ASPECTOS ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS Pele intacta Membranas mucosas Tosse e espirro (reflexos) Secreções gástricas Idade Grupo familiar Grupo étnico Estado nutricional RESISTÊNCIA Conjunto de mecanismos corporais que servem de defesa contra a invasão ou multiplicação de agentes infecciosos, ou contra os efeitos nocivos de seus produtos tóxicos Imunidade genética: “memória celular” herdada através de gerações Dinâmica de Transmissão e Distribuição de Doenças - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 5 Imunidade ativa: adquirida naturalmente como consequência de uma infecção, clínica ou subclínica, ou artificialmente por inoculação de frações ou produtos de um agente infeccioso, ou do mesmo agente, morto, atenuado ou recombinado a partir de técnicas da engenharia genética Imunidade passiva: obtida naturalmente por transmissão materna(através da placenta) ou artificialmente por inoculação de anticorpos protetores específicos (soro de convalescente ou de pessoa imune ou soroglobulina imune humana, soro antitetânico, soro antidiftérico, gamaglobulina, etc) ANÁLISE ESPACIAL DEFINIÇÃO Abordagem na qual dados geográficos são examinados para identificar padrões, relações e tendências em relação à localização geográfica SAÚDE Na área da saúde pública e epidemiologia, é usada para investigar a relação entre a localização geográfica e a ocorrência de eventos de saúde, como doenças, lesões e outros resultados de saúde OBJETIVOS 1. Identificar Clusters (Agrupamentos): identificar áreas geográficas onde a ocorrência de um evento de saúde é maior do que seria esperado ao acaso 2. Analisar Dispersões e Disparidades: avaliar se os eventos de saúde estão distribuídos uniformemente no espaço ou se há diferenças significativas entre áreas geográficas 3. Mapear Tendências Temporais: ao combinar a análise espacial com a análise temporal, é possível visualizar como os eventos de saúde se distribuem ao longo do tempo e identificar possíveis padrões sazonais, variações cíclicas e tendências de longo prazo 4. Identificar Fatores de Risco Geográficos: determinar se certos fatores geográficos, como proximidade a fontes de poluição, acesso a serviços de saúde ou características do ambiente construído, estão associados à ocorrência de doenças 5. Apoiar Tomadas de Decisão: a análise espacial pode auxiliar na identificação de áreas prioritárias para intervenções de saúde pública, bem como no planejamento e alocação de recursos ETAPAS 1. Definição do Problema ou Questão de Pesquisa: pode incluir a identificação de padrões, relações espaciais ou variações geográficas em eventos de interesse 2. Aquisição de Dados Geográficos: pode incluir mapas, informações de localização (coordenadas geográficas), informações socioeconômicas, dados de saúde, dados ambientais e outros dados pertinentes 3. Preparação de Dados: pode envolver a conversão de formatos de dados, correção de erros e padronização de unidades 4. Exploração de Dados: pode ser feito por meio de mapas temáticos, gráficos e análises descritivas 5. Análise Estatística Espacial: aplique técnicas estatísticas específicas para a análise espacial, como análise de clusters (identificação de agrupamentos), análise de dispersão (identificação de padrões de dispersão) e teste de autocorrelação espacial (para avaliar a dependência espacial) 6. Modelagem Espacial: pode incluir modelagem de regressão espacial, modelos de suavização espacial ou análises de redes Dinâmica de Transmissão e Distribuição de Doenças - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 6 7. Interpretação dos Resultados: identifique padrões significativos, outliers, tendências ou clusters, e interprete o que esses padrões podem significar em termos de fatores subjacentes ou influências geográficas 8. Visualização e Comunicação: crie mapas e visualizações claras e informativas para comunicar os resultados da análise espacial 9. Tomada de Decisão: utilize os insights obtidos por meio da análise espacial para apoiar a tomada de decisão em saúde pública, planejamento urbano, gestão de recursos naturais, entre outras áreas DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL A análise da distribuição espacial envolve a identificação de clusters (agrupamentos) de eventos de saúde em locais específicos e a investigação de variações regionais nas taxas de doenças DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL A análise da distribuição temporal envolve a identificação de tendências, padrões sazonais, variações cíclicas e outras flutuações nos eventos de saúde ao longo de períodos de tempo REGULARES Obedecem a um padrão Tendências de longo período (10 anos) e variações periódicas (cíclicas e sazonais) IRREGULARES Não obedecem padrões Epidemias TENDÊNCIA HISTÓRICA OU SECULAR Variações na incidência/prevalência ou mortalidade/letalidade de doenças observadas por um longo período de tempo (10 anos ou +) VARIAÇÕES REGULARES SAZONAL Ocorre quando a incidência das doenças aumenta sempre, periodicamente, em algumas épocas ou estações do ano, meses do ano, dias da semana, ou em horas do dia CÍCLICA Refere-se a flutuações regulares e previsíveis nos eventos de saúde que ocorrem em um padrão repetitivo de ciclos, mas esses ciclos não precisam necessariamente seguir um padrão sazonal. Os ciclos podem ser de diferentes durações e não estão restritos às estações do ano. Podem ser influenciados por fatores econômicos, sociais, comportamentais ou outros que se repetem periodicamente VARIAÇÕES IRREGULARES Dinâmica de Transmissão e Distribuição de Doenças - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 7 ENDEMIA Ocorrência de determinada doença, que no decorrer de um largo período histórico, acometendo sistematicamente grupos humanos distribuídos em espaços delimitados e caracterizados, mantém a sua incidência constante, permitindo as flutuações de valores, tais como as variações sazonais Chagas Malária EPIDEMIA Elevação brusca, temporária e acima do esperado para a incidência de uma determinada doença SURTO EPIDÊMICO É uma ocorrência de casos de uma doença que é maior do que o esperado para uma área ou população específica. Pode ser considerado um evento limitado e pode ou não se espalhar para outras áreas. Embora possa ser usado como sinônimo de epidemia, em alguns contextos, um surto é geralmente associado a uma área geográfica menor ou uma população específica. Um exemplo pode ser um surto de intoxicação alimentar em um restaurante. PANDEMIA Processo epidêmico caracterizado por uma ampla distribuição espacial da doença, atingindo diversas nações ou continentes REFERÊNCIAS GORDIS, Leon. Epidemiologia. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. Organização Pan-Americana da Saúde. Módulos de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades. Módulo 2: Saúde e doença na população. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; Ministério da Saúde, 2010.