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HISTÓRIAS QUE NINGUÉM CONTA: A Lesbofobia Presente no 
Cotidiano de Mulheres Lésbicas na Cidade de Iguatu/CE 
 
GT 5: RELAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO, RAÇA/ETNIA, 
GERAÇÕES E SEXUALIDADES 
 
Gracielly Paulino de Souza 
(1)
; Instituto Federal de Educação, Ciência 
e tecnologia do Ceará- IFCE; campus Iguatu; 
graci.iguatu@gmail.com. 
Moíza Sibéria Silva de Medeiros 
(2)
; Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia - IFCE 
campus Iguatu; moizasiberia@gmail.com. 
 
 
1. RESUMO 
 
No presente estudo trazemos como proposta o debate sobre a violência invisibilizada que atua 
constantemente no cotidiano de mulheres lésbicas. Procurando entender os conceitos de gênero, 
patriarcado, heteronormatividade e lesbofobia são postos na vida cotidiana dessas sujeitas. Fazendo 
uso da técnica de grupo focal, como método de pesquisa, sendo considerada a que traria as respostas 
buscadas da melhor maneira, dando voz e vez a essas mulheres. Trabalhando essas categorias e 
trazendo dados da pesquisa de campo, objetivamos entender, debater e expor sobre a dupla forma 
de opressão presente nas relações homoafetivas entre mulheres lésbicas. 
PALAVRAS-CHAVE: Gênero. Lesbofobia. Heteronormatividade. Lesbofobia. 
 
2. INTRODUÇÃO 
 
No presente estudo partiremos da compreensão que, essa sociabilidade capitalista está baseada 
e fundamentada em três contradições centrais - classe, raça e sexo – o que dá base ao nosso estudo, 
pois é preciso, assim como afirma Saffioti (2015), analisar essas relações como fundidas e enoveladas 
em um nó. Traremos aqui o recorte de sexualidade, compreendendo que, as mulheres lésbicas passam 
por situações de opressão em seu cotidiano, dificilmente reconhecidas e debatidas. 
Ultilizaremos aqui o conceito e gênero de acordo com Saffioti (2004) que, é um conceito 
aberto, repleto de interpretações e significados, pois se tratar de uma categoria histórica fruto do 
esforço de diversas pessoas engajadas nos estudos que lhes são próprios. Nesse sentido, 
Enquanto categoria histórica, o gênero pode ser concebido em várias instâncias: como 
aparelho simiótico (LAURETIS, 1987); como símbolos culturais evocadores de 
representações, conceitos normativos como grade de interpretação de significados, 
organizações e instituições sociais, identidade subjetiva (SCOTT, 1998); 
(SAFFIOTI, 2004, p. 45 apud OLIVEIRA, 2016, p. 51). 
 
Ao analisar a categoria patriarcado, o direito patriarcal perpassa não apenas a sociedade civil, 
mas impregna também o Estado. Saffioti (2004, p. 104) define patriarcado como sendo, 
[...] patriarcado como um pacto masculino para garantir a opressão de mulheres. As relações 
hierárquicas entre os homens, assim como a solidariedade entre eles existentes, capacitam a 
categoria constituída por homens a estabelecer e a manter sobre as mulheres. (SAFFIOTI, 
2004, p. 104). 
 
Rich (2010, p. 17-44), salienta que a heterossexualidade é politicamente compulsória, o que 
significa um intenso processo de convencimento cultural em políticas familiares e educacionais. 
 
Caracterizando-se como uma política de invisibilidade da mulher e na exclusão de um feminino. Para 
(Swain 2010, p.45). 
“Diferença de sexos” é uma categoria fundadora da heterossexualidade compulsória, 
carregando a ideia de que os corpos sexuados são determinantes do papel e status no social e 
de que a “natureza” define a importância dos seres humanos de acordo com a sua biologia. 
 
Atuando em relação as mulheres lésbicas, acaba por excluir ou ter um olhar desviante 
socialmente as que ousam contra a ideolegia heterosexista, sendo marginalizadas e até mesmo 
invizibilizadas socialmente e ainda pelo Estado quando não existem dados sobre essa dupla opressão 
da mulher lésbica. Atuando de forma tão naturalizada a heterossexualidade, se torna uma estratégia 
para manutenção da opressão como base de exploração do feminino. Para Tânia Navarro Swain, 
O compulsório “natural” da heterossexualidade […] abre espaço para todas as violências, 
transformando seres humanos em corpos sexuados: os disponíveis (o feminino) para outrem (o 
masculino). SWAIN (2010, p. 50). 
 
A análise sobre a realidade desse contingente populacional na sociedade de classe – as 
mulheres lésbicas constroem sua identidade no gênero feminino, ou seja, gênero esse que tem toda 
uma carga histórica perpassada de desigualdades sociais, necessitando de mecanismos para pensar em 
estratégias de romper com as dimensões da exploração e opressão que sofrem na sociedade capitalista, 
a fim de “perceber o sujeito da classe trabalhadora em sua totalidade, o que exige desvelar suas 
particularidades e singularidades” (CISNE, 2014, p. 30). 
Por isso, entendemos que a relevância social desse trabalho se coloca a partir da perspectiva de 
que produzir sobre as opressões e aprofundar os conhecimentos sobre elas é parte fundamental no seu 
processo de desconstrução, tendo em vista que, como nos traz Heller (1989), a saída do âmbito da vida 
cotidiana alienada para a dimensão humano-genérica exige conhecimento crítico sobre a realidade. 
Acreditamos, com isso, estar contribuindo para o (a) leitor (a) desvelar criticamente as opressões 
cotidianas e contribuir com a sua superação objetivando contribuir para o (a) leitor (a) desvelar 
criticamente as opressões cotidianas e contribuir com a sua superação. 
Diante do exposto, pretendemos analisar quais as expressões de violência presentes no 
cotidiano de mulheres lésbicas na cidade de Iguatu/CE. De que forma os padrões heteronormtivos 
estão postos no cotidiano dessas mulheres. 
 
3 METODOLOGIA 
 
Como técnica de investigação, utilizamos o Grupo Focal. Para (Gatti 2005 apud Powel e 
Single 1996 p. 449), se caracteriza como um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por 
pesquisadores para discutir comentar um tema, que é o objeto e pesquisa, a partir de sua experiência 
pessoal. 
Segundo Bernadeti Gatti (2005, p.11), os grupos focais possibilitam, 
 
Compreender práticas cotidianas ações e reações, a fatos e eventos, comportamentos e 
atitudes, (...) importantes para o reconhecimento das representações, percepções, crenças, 
hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagem e simbologia. 
 
Esses processos foram percebidos durante a participação como observadora durante os grupos 
focais. Os encontros foram captados em áudio e vídeo. Como instrumento, utilizamos o diário de 
campo que foi essencial em todas as fases, com anotações sobre os momentos presenciados. 
 
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
 Identificamos através das análises de entrevistas muitos depoimentos que permeiam as 
categorias expostas inicialmente. Com a técnica de grupo focal concluímos a pesquisa com quase 
4:30h de áudio e 3h de gravações em vídeos. 
 Resolvemos então, utilizar a fala de apenas uma das participantes da pesquisa, onde podemos 
observar a presença de como as opressões de gênero e sexualidade estão postas no cotidiano dessa 
mulher e aqueles que estão próximos da vida pessoal e particular. 
 Ao ser realizada a pergunta de “Como a Heteronormatividade está posta no cotidiano de 
vocês?”, Angela davis (24) relata: 
Eu tenho uma filha de quatro anos [...] casei muito nova com um rapaz e fui embora pra São 
Paulo. Lá engravidei e ela nasceu! Mas eu não imaginava o que iria acontecer [CHORO] [...] 
uma violência por parte do pai dela, sabe [...] brigas, agressões e tudo o que vocês possam 
imaginar. Mas isso porque eu tinha deixado ele um pouco mais de lado. Eu percebi que a 
minha vontade de adolescência em “tá” com uma mulher tinha voltado. Coisa que eu neguei a 
vida inteira e até casei pra ver se resolvia! 
 
A lesbofobia se expressa de diferentes maneiras, apesar de existirem dados ainda rasos sobre 
essa forma de violência específica, as maiores expressões acontecem no ambiente familiar, na forma 
de xingamentos, humilhações e ainda em alguns outros ambientes da sociedade civil, como no 
trabalho. Comportamentosque degradam e invisibilizam direitos e cidadania. Para Alejandra Sardá e 
Cláudia Hinojosa (2002, p. 5), 
 
Em nenhum dos países da região (e nenhum caso no mundo as lesbianas, assim como 
homossexuais, bissexuais e transexuais) gozam de plena igualdade perante a lei e respeito das 
pessoas hoterossexuais. Esta situação de disparidade constitui, por si, um dos principais 
obstáculos para a plena realização de seus direitos e desenvolvimento. A discriminação, a 
exclusão e a violência, da qual são objetos, são outros obstáculos significativos. 
 O medo da violencia e da exclusão, estava sempre ali pesente. Ainda Segundo a participante, o 
momento de decider pela separação veio a partir do momento em que, pela pressão cotidiana 
vivenciada com a culpa, o medo e a rejeição antes do pai sob a mãe, recai de mãe para filha. Segundo 
Angela, “eu fiquei louca. Olhava pra minha filha e culpava ela por aquela situação. Queria me livrar. 
E estava doendo olhar pra pessoa que eu amo e pensar aquilo. Nesse momento decidi vir embora pra 
minha cidade.”. 
 
Mesmo sendo o primeiro país que mais mata LGBT’s, ainda não possuímos dados oficiais 
destes crimes, apenas os Relatórios de Violência a níveis Federais, mas estes negam uma boa parte das 
violências, já que não há um sistema de denúncias que especifiquem a violência sofrida com o recorte 
de sexualidade, como exemplo os Boletins de Ocorrência (BO’s). Para Alejandra Sardá (2002, p. 01- 
02), a construção da identidade lésbica implica em uma consciência da história da discriminação das 
lésbicas; na medida em que esta palavra tem uma conotação negativa na sociedade, a maioria das 
mulheres que amam outras mulheres. 
A violencia contra as mulheres acontecem das mais variadas formas. Segundo o mapa da 
violencia de 2016, cerca de quase 5 mil mulheres foram assassinadas no Brasil em 2016, o que 
reresenta um índice de 4,5 homicídios para cada 100 mil brasileiras. Se pensarmos em números reais 
essa estatística tende a aumentar. Quando observamos a realidade de mulheres lésbicas levando em 
conta toda a estrutura fundante da sociedade do modelo patriarcal e heteronormativeo, as 
discriminações contra as mulheres lésbicas são ainda maiores, fomentadas pela duplaa opressão que 
carregam. 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Procuramos no presente estudo contribuir para a discussão da dupla violência vivenciada por 
mulheres lésbicas. Utilizando-se de métodos de pesquisa que deram vez e voz, as opressões e as 
diversas violências já vivenciadas. 
 Concordamos em dizer que, se faz necessário uma plataforma que busque quantificar os dados 
de lesbocídio que acontecem na sociedade como crimes motivados por LGBTfobia. Já que as 
violências se expressam de formas diferentes em cada grupo que ousa ir contra o sistema 
heteronormativo. 
 
5. REFERÊNCIAS 
 
CISNE, Mirla. Feminismo e Consciência de Classe no Brasil. São Paulo: Cortez, 2014. 
GATI, Bernadete Angelina. Grupo Focal nas Ciências Sociais e Humanas. Brasília, Ed. Líber Livro, 
2005 
RICH, Adrienne. Heterossexualidade compulsória e a existência lésbica. Revista Bagoas, n.5, 
[1980] 2010. Disponível em:<http://www.cchla.ufrn.br/bagoas/v04n05art01_rich.pdf> Acesso em 
janeiro, 2018. 
SAFFIOTI, H. Gênero, Patriarcado e Violência. São Paulo: Perseu Abramo,2004. 
Senalle VI Relatório final Seminário Nacional de Lésbicas . Recife, 2016. p. 13. 
SWAIN, Tania Navarro Desfazendo o “natural”: a heterossexualidade compulsória e o continuum 
lesbiano. 2010.