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AULA 5 PSICOPATOLOGIA Prof. Alisson Siqueira 2 TEMA 1 – TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade é descrito pelo DSM-5 como um transtorno do neurodesenvolvimento com níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade. Ao apresentar essa distinção sintomática, o DSM-5 descreve a desatenção e desorganização como aquelas que envolvem a incapacidade do sujeito de permanecer em uma tarefa, aparência de não ouvir e perda de materiais em níveis inconsistentes com a idade ou o nível de desenvolvimento. Já a hiperatividade- impulsividade implica na condição de o sujeito apresentar características de atividade excessiva, inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão em atividades de outros e incapacidade de aguardar. Um ponto muito importante no TDAH é a condição de diferenciação da apresentação normal desses comportamentos. Isso significa que essa sintomática se apresenta excessiva para a idade ou o nível de desenvolvimento do indivíduo, trazendo-lhe prejuízos. É importante compreendermos que o TDAH não é uma doença, e, portanto, não possui cura. O que temos são tratamentos que proporcionam uma condição de vida melhor para o sujeito. 1.1 Diagnóstico O diagnóstico do TDAH começa pela apresentação dos sintomas, os quais devem ter início na infância. Normalmente são percebidos quando a criança começa a frequentar a escola. A Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) descreve que a prevalência do TDAH gira em torno de 3 a 5% da população infantil do Brasil e entre os adultos estima-se prevalência em aproximadamente 4%. E, mundialmente, em cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos. O DSM-5 apresenta a condição de que o TDAH é mais frequente em meninos do que em meninas na população geral, na proporção de 2:1. Quanto aos adultos, essa proporção é de 1,6:1 para os homens. Quando verificados os tipos de apresentação do TDAH, o sexo feminino se apresenta primariamente com características de desatenção. Utilizando os critérios diagnósticos do DSM-5, o TDAH pode se apresentar de três formas, desde que os sintomas sejam verificados em mais de um ambiente e com a apresentação nos últimos seis meses: 3 a) Apresentação combinada – os critérios de desatenção e hiperatividade- impulsividade deverão ser preenchidos. b) Apresentação predominantemente desatento – quando seis ou mais critérios de desatenção são preenchidos (DSM-5): o frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (ex.: negligência ou deixa passar detalhes, o trabalho é impreciso); o frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas; o frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente; o frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho; o frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades; o frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado; o frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades; o com frequência é facilmente distraído por estímulos externos; o com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas. c) Apresentação predominantemente hiperativo-impulsivo – quando seis ou mais critérios de hiperatividade-impulsividade são preenchidos: o frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira; o frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado o frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado; o com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente; o com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado”; o frequentemente fala demais; o frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída; 4 o frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez; o frequentemente interrompe ou se intromete. É importante considerarmos que a manifestação do TDAH na vida adulta é consequente de sua apresentação na infância. Isso significa que obrigatoriamente os sinais do TDAH devem estar presentes na infância. Os critérios diagnósticos para maiores de 17 anos são apenas cinco para cada apresentação. E a manifestação do TDAH está relacionada à intensidade e quantidade dos sintomas, podendo ser classificados como leves, moderados ou graves. 1.2 Tratamento O TDAH é considerado um transtorno com causas neurobiológicas (que incluem genética e anormalidades cerebrais) e ambientais. Dessa forma, é considerado um transtorno heterogêneo e dimensional, pois os sintomas se combinam nos mais variados graus de intensidade. Os fatores genéticos parecem ter um papel bastante relevante na origem do TDAH. Por isso, é importante considerarmos algumas observações de pesquisas já realizadas: A prevalência de TDAH é bem maior em filhos e familiares de pessoas com TDAH em relação a pessoas sem o problema. A herdabilidade média do TDAH é estimada em 76%. 60% das crianças com TDAH tinham um dos pais com o transtorno. A probabilidade de a criança ter o TDAH aumenta em até oito vezes se os pais também tiverem o problema. O sujeito que possui entre familiares de pessoas com TDAH o risco de se ter o transtorno era cinco vezes maior. Há padrão familiar de TDAH entre os pais e irmãos biológicos de crianças com TDAH. Quando verificadas as possibilidade de anormalidades cerebrais, os estudos com imagem feitos no cérebro mostraram evidências de disfunção em pessoas com TDAH (no córtex pré-frontal, núcleos da base, cerebelo). Considerando os fatores ambientais, é possível destacar como fatores de risco: 5 baixo peso ao nascer (menos de 1.500g), que confere um risco 2 a 3 vezes maior para TDAH; tabagismo na gestação; uma minoria relacionada à dieta alimentar; pode haver história de abuso infantil, negligência, múltiplos lares adotivos, exposição a neurotoxinas (chumbo), infecções (ex.: encefalite) ou exposição ao álcool durante a gestação. exposição a toxinas ambientais (foi correlacionada com o TDAH subsequente, embora ainda não se saiba se tais associações são causais). Todo tratamento começa com um diagnóstico bem feito. Isso significa que a partir da apresentação dos sintomas é necessário levar ao médico – psiquiatra, neuropsiquiatra, neuropediatra ou neurologista. O diagnóstico do TDAH é inteiramente clínico. Não há, ainda, exames laboratoriais que possam identificar o TDAH, mas existem testes psicológicos e neuropsicológicos que podem ser utilizados para rastrear o TDAH e identificar seus prejuízos. O tratamento de crianças e adolescentes com TDAH é multidisciplinar, ou seja, se baseia na intervenção com profissionais de várias áreas, como os da área médica, de saúde mental e pedagógica. Segundo Vinocur (2019), a medição à base de psicoestimulantes é o que pode ser definido como padrão-ouro no tratamento do TDAH até os dias atuais. Sua ação possui um alto poder de eficácia e melhora no funcionamento das áreas cerebrais relacionadas aos sintomas do TDAH. No Brasil, a medicação mais utilizada é à base de metilfenidato e um derivado de anfetamina, que possuem outros nomes comerciais. TEMA 2 – TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO O DSM-5, dentro do item sobre transtornos do neurodesenvolvimento, apresenta uma nova configuração sobre o autismo. Agora ele o define como o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Esse transtorno é caracterizado por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidadesocial, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, além da presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. 6 É importante salientar que alguns transtornos presentes no DSM-4 foram inseridos no conceito do TEA, entre eles a síndrome de Asperge, o autismo clássico e transtornos invasivos do desenvolvimento. Com isso foi alterada também a condição indicativa de gravidade, que agora passa a ser caracterizada pela exigência de apoio, podendo ser: Nível 1 – exigindo apoio; Nível 2 – exigindo apoio substancial; Nível 3 – exigindo apoio muito substancial. 2.1 Diagnóstico O TEA geralmente tem sinais possíveis de rastreamento a partir dos dois anos de vida. Todavia já é possível perceber alterações no bebê a partir de 18 meses. As verificações mais comuns para o diagnóstico de TEA em crianças são as dificuldades em brincar de faz de conta, manter interações sociais e na comunicação verbal e não verbal. É possível que crianças apresentem um desenvolvimento típico até os dois e a partir desse momento venham a ter uma regressão comportamental e linguística. O DSM-5 apresenta uma condição diagnóstica na qual deve-se atender a dois critérios: A. Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia: o déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais; o déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. o déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar 7 brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia: o movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos; o insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal; o interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco; o hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente. O diagnóstico do TEA considera que os sintomas devem ser característicos na infância. O DSM-5 descreve também que muitos adultos com transtorno do espectro autista sem deficiência intelectual ou linguística aprendem a suprimir comportamentos repetitivos em público. Interesses especiais podem constituir fonte de prazer e motivação, propiciando vias de educação e emprego mais tarde na vida. A prevalência do TEA é de 1% da população. Já é observado que o autismo afeta quatro a cinco vezes mais meninos do que meninas. As causas do autismo ainda são desconhecidas, mas há um interesse e trabalho científico mundial para encontrar essas causas. Segundo o DSM-5, há uma combinação de fatores que podem vir a ocorrer o autismo. Dentre eles podemos descrever a genética e agentes externos. De acordo com a APA (Associação Médica Americana), as chances de uma criança desenvolver autismo por causa da herança genética são de 50%. Outra linha de pesquisa é o fator gênico, na qual verifica-se o envolvimento de muitos genes nas causas do autismo. Esses genes permitem uma condição mais suscetível ao transtorno, ao passo que outros afetam o desenvolvimento do cérebro e a comunicação entre neurônios. Outros, ainda, determinam a gravidade dos sintomas. Outra linha de pesquisa considera como fatores causadores do TEA a poluição do ar, complicações durante a gravidez, infecções causadas por vírus, 8 alterações no trato digestório, contaminação por mercúrio e sensibilidade a vacinas. Um outro fator que deve ser considerado é a idade dos pais. Quanto mais avançada a idade, maior a chance do desenvolvimento do autismo na criança. Para ser realizado um diagnóstico, é importante considerar os marcadores específicos do autismo. E juntamente a eles verificar os fatores que podem estar presentes na descrição dos sintomas e no desenvolvimento da criança. Como já dito, o diagnóstico do TEA é clínico e realizado com base nos critérios do DSM. Há no apoio ao diagnóstico médico uma série de ferramentas que permitem orientar de forma mais precisa o diagnóstico do TEA, entre elas: entrevista diagnóstica para autismo revisada (ADIR); programa de observação diagnóstica do autismo (ADOS); escala de classificação do autismo em crianças (CARS); escala de classificação do autismo de Gilliam; teste de triagem para transtornos invasivos do desenvolvimento. 2.2 Tratamento Já sabemos que os transtornos do neurodesenvolvimento não têm cura, dessa forma, o TEA também não tem. Sendo assim, seu tratamento visa reduzir os efeitos do espectro e qualificar a vida do sujeito. O tratamento é sempre específico e direcionado a cada indivíduo e pode envolver: terapias de comunicação e comportamento, medicamentos, terapia ocupacional, fisioterapia e terapia do discurso/linguagem. Alguns modelos de tratamento têm muita eficácia na redução de problemas comportamentais e na aprendizagem de novas habilidade. Destaca-se o modelo ABA, análise aplicada do comportamento e o TEACCH, tratamento e educação para autistas e crianças com déficits relacionados à comunicação. Quando nos voltamos à condição medicamentosa verificamos que não há medicamentos para o autismo, mas sim para os problemas comportamentais e emocionais dos sujeitos com o TEA. TEMA 3 – TRANSTORNOS ALIMENTARES O DSM-5 apresenta os transtornos alimentares como perturbações persistentes na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resultam no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que comprometem 9 significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial. Os tipos de transtornos alimentares são: pica, transtorno de ruminação, transtorno alimentar restritivo/evitativo, anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar. Nesta aula nos atentaremos aos dois transtornos mais comuns na sociedade e a uma condição de vida que pode ser acumuladora consequente de transtornos mentais: anorexia nervosa, bulimia nervosa e a obesidade. Falaremos de obesidade por ser uma causa de saúde pública e ser a porta de entrada para transtornos mentais. 3.1 Anorexia nervosa É um transtorno alimentar que tem como características essenciais: restrição persistente da ingestão calórica; medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso; perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma. Na anorexia nervosa, o indivíduo mantém um peso corporal abaixo daquele minimamente normal para idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física. Faz parte do processo uma perda de peso significativa que vem a ocasionar desregulação no desenvolvimento. Isso significa uma relação peso não proporcional à altura obtida com base no IMC. Ocorre no sujeito com esse transtorno uma alteração psíquica sobre o equilíbrio, e ele possui um medo intenso de ganhar peso ou de engordar. Avivência e a significância do peso e da forma corporal são distorcidas, condição dismórfica na percepção do indivíduo em relação ao seu próprio corpo. É um sofrimento por uma percepção errada. A pessoa com anorexia nervosa apresenta comportamentos com sinais de obsessão que levam a uma condução de pesagem frequente, mensuração de partes do corpo e uso persistente de um espelho para checar áreas percebidas de “gordura”. A autoestima depende de suas percepções da forma e do peso corporal. A prevalência de anorexia nervosa no sexo feminino é de 10:1 em relação aos homens, e essa porcentagem de ocorrência em 12 meses é de aproximadamente 0,4%. 10 A anorexia nervosa é típica da adolescência e se estende até a idade adulta jovem. A manifestação do início dos casos tende a estar atrelada a um evento de vida estressante. É possível a recuperação após um episódio de anorexia. Todavia, verifica- se que há dificuldade em ganhar peso. Os fatores de risco da anorexia nervosa estão relacionados: a indivíduos que desenvolvem transtornos de ansiedade ou exibem traços obsessivos na infância; a condições culturais e contextos que valorizam a magreza – incluindo ambientes de trabalho; à condição de ter parentes em primeiro grau com o transtorno. É importante salientar que o risco de suicídio no quadro de anorexia nervosa é muito elevado, com taxas de 12 por 100.000 por ano. A avaliação abrangente de indivíduos com anorexia nervosa deve incluir a determinação de ideação e comportamentos suicidas, bem como de outros fatores de risco para suicídio, incluindo história de tentativa(s) de suicídio. 3.2 Bulimia nervosa Segundo o DSM-5, a bulimia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por: episódios recorrentes de compulsão alimentar; comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes para impedir o ganho de peso; autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e peso corporal. O DSM-5 faz uma descrição pormenorizada sobre a bulimia nervosa: As características apresentadas devem ocorrer pelo menos uma vez por semana por três meses. Um “episódio de compulsão alimentar” é definido como a ingestão, em um período de tempo determinado, em média de duas horas, de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos indivíduos comeria em um mesmo período de tempo em circunstâncias semelhantes. 11 Uso recorrente de comportamentos compensatórios inapropriados para impedir o ganho de peso, conhecidos coletivamente como comportamentos purgativos, ou purgação. Utilização de métodos compensatórios, como vomitar – que é o comportamento compensatório inapropriado mais comum – e o uso indevido de laxantes e diuréticos. Ênfase excessiva na forma ou peso do corpo em sua autoavaliação, fatores extremamente importantes para determinar sua autoestima. A prevalência de 12 meses de bulimia nervosa entre jovens do sexo feminino é de 1 a 1,5%. A prevalência-ponto é maior entre adultos, já que o transtorno atinge seu pico no fim da adolescência e início da idade adulta. Ao analisar a anorexia nervosa e a bulimia nervosa, o DSM-5 descreve que ocorrem fatores parecidos entre elas: preocupações com o peso, baixa autoestima, sintomas depressivos, transtorno de ansiedade social e de ansiedade excessiva da infância; internalização de um ideal corporal magro que aumenta o risco de desenvolver preocupações com o peso; presença de abuso sexual ou físico na infância; ocorrência de obesidade infantil e maturação puberal precoce. Como na anorexia nervosa, o risco de suicídio na bulimia nervosa é alto. 3.3 Obesidade Definimos a obesidade (excesso de gordura corporal) como resultado do excesso prolongado de ingestão energética em relação ao gasto energético. Quando é feita a descrição etiológica da obesidade, verifica-se que há uma gama de fatores genéticos, fisiológicos, comportamentais e ambientais que variam entre os indivíduos que são agentes contribuintes. É comum verificar na obesidade comorbidades, como o diabetes tipo 2, doenças do coração, pressão alta, artrite, apneia e derrame. Quando a discussão é a perda de peso, deve-se considerar principalmente que a melhor possibilidade da perda de peso está atrelada a mudanças de hábitos alimentares e práticas de atividades físicas. Segundo a descrição do DSM-5, não podemos classificar a obesidade como transtorno mental. No entanto, a literatura faz referência associativa muito 12 forte entre a obesidade e uma série de transtornos mentais, por exemplo: o transtorno de compulsão alimentar, transtornos depressivos e bipolares, e esquizofrenia. Os efeitos colaterais de alguns medicamentos psicotrópicos contribuem de maneira importante para o desenvolvimento da obesidade, que podem ser um fator de risco para o desenvolvimento de alguns transtornos mentais (p. ex., transtornos depressivos). A forma mais simples de diagnóstico da obesidade é o cálculo pelo Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado dividindo-se o peso (em kg) pelo quadrado da altura (em metros). O resultado revela se o peso está dentro da faixa ideal, abaixo ou acima do desejado – revelando sobrepeso ou obesidade. TEMA 4 – TRANSTORNOS RELACIONADOS A SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS O DSM-5 apresenta com muita ênfase a condição de que os transtornos relacionados a psicoativos são extremamente danosos à saúde pelo fato de serem condições adquiridas. A classificação dessas substâncias abrange 10 classes distintas de drogas: álcool; cafeína; Cannabis; alucinógenos; inalantes; opioides; sedativos, hipnóticos e ansiolíticos; estimulantes; e tabaco. O funcionamento dessas drogas considera a condição do seu uso em excesso. Isso leva a uma ativação direta do sistema de recompensa do cérebro, o qual está envolvido no reforço de comportamentos e na produção de memórias. Essa ativação do sistema de recompensa gera uma condição de anormalidade funcional, fazendo com que o cérebro trabalhe de forma negligente em comportamentos que deveriam ser normais. O sistema de recompensa deveria funcionar com acessos indiretos que proporcionariam a sua ativação por intermédio de comportamentos adaptativos. Isso significa que um comportamento ativaria o cérebro, o qual acionaria o sistema de recompensa, e este liberaria a substância necessária ao fator recompensa, por exemplo, o prazer. Os transtornos relacionados a substâncias dividem-se em dois grupos: transtornos por uso de substância e transtornos induzidos por substância. Quanto a este último, temos: intoxicação, abstinência e outros transtornos mentais induzidos por substância/medicamento. 13 Segundo o DSM-5, é necessário fazer uma caracterização dos transtornos relacionados a substâncias, considerando: a presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos, que são indicativos do uso contínuo. alteração básica nos circuitos cerebrais que pode persistir após a desintoxicação, especialmente em indivíduos com transtornos graves. Quando se trabalha o critério diagnóstico, o DSM-5 orienta que devem ser verificadas as condições dos critérios: baixo controle sobre o uso da substância; prejuízo social ; uso arriscado da substância; critérios farmacológicos. Quanto aos critérios D, o DSM-5 conceitua os itens da seguinte forma: A tolerância é sinalizada quando uma dose acentuadamente maior da substância é necessária para obter o efeito desejado ou quando um efeito acentuadamente reduzido é obtido após o consumo da dose habitual. O grau em que a tolerância se desenvolve apresenta grande variação de um indivíduo para outro, assim como de uma substância para outra, e pode envolver uma variedade de efeitos sobre o sistema nervoso central. A tolerância pode ser difícil de determinar apenas pela história, e testes de laboratório podemser úteis. A tolerância também deve ser diferenciada da variação individual na sensibilidade inicial aos efeitos de substâncias específicas. Abstinência é uma síndrome que ocorre quando as concentrações de uma substância no sangue ou nos tecidos diminuem em um indivíduo que manteve uso intenso prolongado. Após desenvolver sintomas de abstinência, o indivíduo tende a consumir a substância para aliviá-los. Os sintomas de abstinência apresentam grande variação de uma classe de substâncias para outra, e conjuntos distintos de critérios para abstinência são fornecidos para as classes de drogas. Para um diagnóstico de transtorno por uso de substância, é importante considerar que não são necessárias nem tolerância nem abstinência. Todavia é importante o curso clínico do uso da substância. 14 Os transtornos por uso de substâncias ocorrem em uma ampla gama de gravidade, de leve até grave, que se baseia na quantidade de critérios de sintomas confirmados. A mudança da gravidade ao longo do tempo também reflete a redução ou o aumento na dose e/ou na frequência do uso da substância, conforme avaliação do relato do próprio indivíduo, do relato de outras pessoas cientes do caso, de observações do clínico e exames biológicos. Dos grupos diagnósticos estabelecidos pelo DSM-5, temos: 1. Transtornos induzidos por substâncias: a. intoxicação; b. abstinência; c. outros transtornos. 2. Transtornos relacionados por uso de substâncias: a. álcool; b. cafeína; c. Cannabis; d. alucinógenos; e. inalantes; f. opioides; g. sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos; h. estimulantes; i. tabaco. TEMA 5 – TRANSTORNOS DE ANSIEDADE Quando falamos de ansiedade precisamos esclarecer que ansiedade faz parte do processo de homeostase do organismo; ela desorganiza o organismo para este se reorganize em defesa. É a resposta natural do medo, que pertence às condições de defesa do nosso corpo. O tema a ser abordado aqui não é a ansiedade comum, mas sim a sua condição anormal, ou seja, aquela que está fora do controle do organismo, gerando os transtornos. Os transtornos de ansiedade possuem sintomas de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionadas. Quando a sintomática está em uma condição aguda, temos os ataques de pânico, que são uma resposta direta ao medo. 15 Segundo o DSM-5, os transtornos de ansiedade se diferenciam do medo ou da ansiedade adaptativos por serem excessivos ou persistirem além de períodos apropriados ao nível de desenvolvimento. Cada transtorno de ansiedade é diagnosticado somente quando os sintomas não são consequência dos efeitos fisiológicos do uso de uma substância/medicamento ou de outra condição médica, ou não são mais bem explicados por outro transtorno mental. 5.1 Transtorno de ansiedade de separação O DSM-5 descreve o transtorno de ansiedade de separação (TAS) com uma característica essencial: medo ou ansiedade excessivos envolvendo a separação de casa ou de figuras de apego. A ansiedade excede o esperado com relação ao estágio de desenvolvimento do indivíduo. No TAS, o quadro sintomático pode durar por um período de pelo menos quatro semanas em crianças e adolescentes com menos de 18 anos e geralmente dura seis meses ou mais em adultos. Isso significa que o sujeito pode ter a presença de sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo nas áreas de funcionamento social, acadêmico ou profissional. 5.2 Mutismo seletivo O mutismo seletivo, descrito pelo DSM-5, ocorre principalmente na infância. As crianças com mutismo seletivo falarão em suas casas na presença de membros da família imediata. O ato de falar não se repete na presença de amigos próximos ou parentes de segundo grau, como avós ou primos. O ato determinante do mutismo é a frequência com que ocorre a ausência da fala. Os sintomas do mutismo são: intensa ansiedade social, descrita como recusa a falar na escola; interferência na comunicação social. A descrição da literatura frente ao mutismo seletivo é o fato de que possui uma condição de raridade. Utiliza-se como padrão de desenvolvimento ou marcador biológico o início do mutismo seletivo antes dos 5 anos de idade. Todavia, é comum que o seu diagnóstico seja fechado normalmente na fase escolar, em virtude da condição de interação social e atividades desenvolvidas nesse ambiente. 16 5.3 Fobia específica Segundo o DSM-5, a fobia específica possui as seguintes características: o medo ou ansiedade relacionado à presença de uma situação ou objeto particular; o medo ou ansiedade é evocado quase todas as vezes em que o indivíduo entra em contato com o estímulo fóbico; o medo ou ansiedade é desproporcional em relação ao perigo real apresentado pelo objeto ou situação, ou mais intenso do que é considerado necessário. Os fatores concorrentes para que a fobia venha a ocorrer são o fato de que a fobia específica se desenvolve após um evento traumático, ou por observação de outras pessoas que passam por um evento traumático, ou por um ataque de pânico inesperado na situação a ser temida, ou por transmissão de informações. 5.4 Transtorno de ansiedade social (fobia social) A característica essencial do transtorno de ansiedade social é o medo ou ansiedade acentuados ou intensos de situações sociais nas quais o indivíduo pode ser avaliado pelos outros. Em crianças, o medo ou ansiedade deve ocorrer em contextos com os pares, e não apenas durante interações com adultos. Nessa descrição, considera-se que o sujeito teme agir ou aparecer de certa forma ou demonstrar sintomas de ansiedade. Esses sintomas são: ruborizar, tremer, transpirar, tropeçar nas palavras, que serão avaliados negativamente pelos demais. Nesse transtorno, qualquer situação social é um agente potencial para manifestação dos sintomas de medo ou ansiedade. 5.5 Transtorno de pânico O transtorno de pânico se refere a ataques de pânico inesperados recorrentes. Dessa forma, precisamos compreender que ataque de pânico é um surto abrupto de medo ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro ou mais de uma lista de 13 sintomas físicos e cognitivos. 17 Segundo o DSM-5, a frequência e a gravidade dos ataques de pânico variam de forma considerável. Desta forma, são estabelecidos especificadores de ataque de pânico: palpitações, coração acelerado ou taquicardia; sudorese; tremores ou abalos; sensações de falta de ar ou sufocamento; sensações de asfixia; dor ou desconforto torácico; náusea ou desconforto abdominal; sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio; calafrios ou ondas de calor; parestesias (anestesia ou sensações de formigamento); desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo); medo de perder o controle ou “enlouquecer”; medo de morrer. 5.6 Agorafobia A característica essencial da agorafobia é o medo ou ansiedade acentuado ou intenso desencadeado pela exposição real ou prevista a diversas situações. Quando experimentam medo e ansiedade acionada por essas situações, os indivíduos geralmente têm pensamentos de que algo terrível possa acontecer. O DSM-5 especifica que a quantidade de medo experimentada pode variar com a proximidade da situação temida e pode ocorrer em antecipação ou na presença real da situação agorafóbica. O medo ou ansiedade é evocado quase todas as vezes em que o indivíduo entra em contato com essa situação. Um condição muito importante dentro do quadro agorafóbica é o fato de que o indivíduo evita ativamente a situação. Quando isso não ocorre, o sujeito é tomado por uma condição de medo ou ansiedade intensa. Cabe ressaltar que na agorafobia, o medo, ansiedade ou esquiva são desproporcionais ao perigo real. Isso significa que há uma condição desorganizadano juízo das situações que estão produzindo. 18 5.7 Transtorno de ansiedade generalizada Segundo o DSM-5, o transtorno de ansiedade generalizada apresenta entre suas principais características a condição de ansiedade e preocupação excessivas acerca de diversos eventos ou atividades. Desta forma, o sujeito tem enorme dificuldade de controlar a preocupação e de evitar que pensamentos preocupantes interfiram na atenção às tarefas em questão. Na vida adulta, o transtorno de ansiedade generalizada pode ser percebido quando são observados comportamentos como: preocupação com circunstâncias diárias da rotina de vida; responsabilidades no trabalho, saúde e finanças; saúde dos membros da família; fatos com os filhos ou questões menores. Já na infância, essa condição tem mais um caráter voltado à preocupação excessiva de suas competências ou condição da qualidade de seu desempenho. Isso está relacionado diretamente ao que os outros podem observar. 5.8 Transtorno de ansiedade induzido por substância/medicamento Segundo o DSM-5, as características essenciais do transtorno de ansiedade induzido por substância/medicamento são sintomas de pânico ou ansiedade diretamente relacionados ao efeito do uso de uma substância, que pode ser psicoativa, medicamento ou toxina. A condição descritiva desse transtorno deve considerar que os sintomas de pânico ou ansiedade devem ter-se desenvolvido durante ou logo após a intoxicação ou abstinência da substância ou após a exposição a um medicamento, e as substâncias ou medicamentos devem ser capazes de produzir os sintomas. 19 REFERÊNCIAS APA. DSM-5 – manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. BERCHERIE, P. Os fundamentos da clínica: história e estrutura do saber psiquiátrico. Rio de Janeiro: Zahar, 1989. DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Rio de Janeiro: Artes Médicas, 2000. GUTMAN, G. William James & Henry James: filosofia, literatura e vida. Rio de Janeiro: Subversos, 2015. SUDAK, D. M. Combinando terapia cognitivo-comportamental e medicamentos: uma abordagem baseada em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2012. VINOCUR, E. TDAH: o que é, sintomas e tratamento. Disponível em: <https://www.minhavida.com.br/saude/temas/tdah>. Acesso em: 12 mar. 2019.