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A idade escolar: latência (6 a 12 anos) Professor: Gustavo Carvalho Coutinho Rosa Introdução O período de latência é um dos menos estudados na psicanálise, entendido como precursor da adolescência. O termo latência se refere ao controle repressivo dos impulsos e pulsões sexuais. Mas, atualmente entende-se que há uma reorganização dinâmica e estrutural dessas pulsões. Forte maturação cerebral e de mielinização. A memória se organiza, cai a predominância do pensamento mágico. 2 3 Condições para a entrada na latência Antes, ligação, controle e identificação e ligação simbiótica com os pais. Agora, manejo da frustração, perda da onipotência e interesse pelo mundo e por seus iguais. Início da construção da identidade, controle da impulsividade e aquisição crescente da capacidade de socialização. 4 5 Características da fase Estado de latência torna a criança mais calma, manejável e educável. Desenvolvimento da função simbólica, repressão, re e s t r u t u ra ção da memór i a e co n s t ânc i a comportamental. Reestruturação das defesas: mecanismos obsessivos. Cognição: operações concretas. 6 Desligamento progressivo dos pais, “clube do Bolinha e da Luluzinha”. Erikson: atividade/industriosidade x inferioridade. Ganho de competência. Evolução da capacidade de diferenciar fantasia/ sonho e realidade (idade da razão). Corpo x mente e internalização da orientação dos pais. Uso de intelectualização, culpa superegóica. 7 Cebolinha: “a gente não é turma da Mônica. É turma do Cebolinha.” Magali: “pronto, vai começar...” 8 Na latência, as pulsões devem ser desviadas de suas necessidades de satisfação imediata para abrir espaço de interesse pelo mundo e pelo conhecimento. A imitação de adolescentes e adultos pode gerar um comportamento pseudomaduro. Favorece as relações simbióticas com uma das figuras parentais, uma vez que a triangulação com o outro do casal permanece à distância. O mundo da imagem e do virtual deveria focar mais na percepção do que para a representação e símbolo. Incentivar a pensar as emoções e não apenas descarregá-las. Ser x Ter. 9 Desenvolvimento afetivo e sexual Início da resolução do complexo de Édipo. Relacionamento com os pais em um grau ótimo de neutralidade: imagem não tão idealizada e mais passível de identificação. Proibição do superego recai sobre os desejos incestuosos e sobre a masturbação. Isso aliado à função motora leva o latente a se ocupar. Sublimação por meio da Ação: atividades manuais, esportes, competições, melhor convivência social. 10 Conflito edípicos é dramatizado por uma conduta ora submissa, ora rebelde, luta entre o proibido e o permitido. A renúncia edípica pode levar a uma perda de referência e a um rechaço da figura materna e deslocamento da agressão para a figura paterna e há a dificuldade de relatar-lhes suas experiências. O movimento em direção ao mundo é fundamental para a elaboração da ansiedade de castração. O interesse pelo próprio corpo dirige-se aos poucos pelo corpo alheio. Pensamento concreto é substituído aos poucos pelo abstrato. 11 Organização defensiva e conflitos Ego e superego passam a ser mais capazes de estabelecer um controle. Atitudes sublimatórias. Autoestima derivada das realizações. Há maior resistência à regressão. Evolução de defesas graças ao desenvolvimento do pensamento simbólico: intelectualização e racionalização. Medos noturnos de monstros passam a figuras humanóides. Pode haver intensificação dos sintomas obsessivos (controle) e fantasias persecutórias ligadas ao desejo de fazer coisas proibidas. Além de somatizações e formação reativa. 12 13 Desenvolvimento cognitivo 3 etapas: início da latência, maturação e transição final. Início: 6-7 anos. Marcado pela capacidade de diferenciar fantasia e realidade. A introdução do pescoço no desenho da figura humana evidencia a distinção mente/corpo. Maturação: 7 anos e meio e 8 anos e meio. Início do pensamento operacional concreto. Memória. Concentração em objetos reais e não fantásticos. Individuação ética. Transição final: 10-12 anos. Percepção real do mundo e busca de pessoas na realidade para a expressão de seus impulsos. 14 Estabelecimento da noção de reversibilidade (1 + 2 = 3, logo, 3 - 2 = 1) Operações de seriação e classificação Noção de invariância e conservação de substância, peso e volume. 15 16 Expressão gráfica 1) domínio do traço oblíquo (surge o x, o losango) 2) detalhamento no desenho da figura humana: mãos, olhos, posicionamento adequado do pescoço. 3) aparecimento no desenho do movimento e de interações 4) noção de profundidade e do s o m b r e a d o : a q u i s i ç ã o d a perspectiva tridimensional. 17 Pensamento simbólico 1) Capacidade de produção de sua própria simbologia inconsciente. O símbolo transforma a ideia ou o afeto inicial em outro elemento. A simbolização passiva inicia a fase. Diminui a culpa na produção de um símbolo não aceito socialmente. 2) instalação do pensamento operacional concreto. 7 anos. Se ancora nas características concretas da experiência. A generalização surge ao final com a ausência da representação concreta. 18 3) a linguagem não é mais afetivo-motora e se baseia no conceito verbal 4) a memória reorganiza-se com a inclusão da representação com palavras em seu arsenal. Ainda desenha mais do que relata com palavras. A mudança da forma não verbal de recordação para organização verbal, provoca perda de conteúdo, mas ganho em eficiência. Capacidade de perceber a natureza abstrata intrínseca do objeto. 5) planejamento e programação - produção dos símbolos pela criança não demanda tanto os porquês. Há possibilidade de tolerar a ignorância temporária (pensa antes de formular). 19 Estranho: “Cuido de vocês depois do almoço”. Magali: “O que vai ter pro almoço?” 20 Socialização Aceitação de direção por um líder, regras e leis ditados pelo grupo. Sentido de competência aumenta quando há congruência entre as expectativas do grupo e as aptidões. O envolvimento e a influência dos iguais são também potentes reguladores da competência acadêmica. A escola vai além de uma necessidade dos pais e responde a uma necessidade própria e real da criança. Formação efetiva de laços de amizades e avaliação de seu self em relação aos outros. 21 Incremento do superego, sua moralidade é mais severa do que a dos pais pois projeta neles seus instintos. Vai da constância objetal para a constância comportamental. Retém não só a imagem dos pais em sua ausência, mas as repreensões parentais mesmo quando eles estão ausentes. Abandono do brinquedo paralelo ou do brinquedo recíproco e surge a parceria bilateral. 22 23 Aparece o melhor amigo. E a entrada de terceiros e formação de equipes. Estes são escolhidos pela capacidade de brincar ou por brincar de acordo com os próprios desejos, afinidades e ligação. Evolui a consideração pelas pessoas, do “gosto dela porque me dão coisas” para um reconhecimento das habilidades e atributos pessoais. Valorização de atributos sociais - senso de justiça. Medo de desapontar e não ser aceito pelo grupo em vez de medo de perder o amor dos pais caso não lhes obedecessem. 24 Aceitação do comportamento aprovado pelo grupo. O grupo começa a assumir importância à medida em que seus membros se distinguem e rotulam cada vez mais uns aos outros. Há uma subordinação social que permite aceitar a autoridade observar como os pares são vistos por essa mesma autoridade. Acomodação social: da intolerância ao respeito. Juízo moral que envolve consenso e negociação social. Início do processo de ter empatia. Sentimentos múltiplos não são ainda reconhecidos, se são da mesma família ou do mesmo grupo, têm que ter o mesmo ponto de vista. 25 Sexualidade e gênero A formação da identidade de gênero se iniciadesde os 3 anos (ou menos um pouco) e é muito influenciado pelas escolhas de papéis, modelos, amigos e socialização. Os hormônios retomam de forma progressiva sua atividade a partir dos 7/8 anos nas meninas e 9/10 anos nos meninos. A maior consciência da sexualidade aparece com um aumento da modéstia, na vergonha e incômodo com os temas ligados a ela. Para Freud, são os “diques da sexualidade infantil”: asco, vergonha e moralidade. 26 27 A criança na família Na terceira infância ocorre uma fase de transição, a corregulação, quando pais e filhos dividem o poder. As crianças são mais aptas a seguir os desejos dos pais quando reconhecem que eles são justos e se preocupam com o bem-estar delas. técnicas indutivas. “Se você bater no joão, vai machucá-lo e ele vai se sentir mal.””Não admira que você tenha perdido o ônibus escolar - você ficou acordado até tarde ontem à noite! Agora terá que ir andando até a escola.” Quando as crianças são menores são mais comuns essas afirmações: “o que aconteceu com aquele menino prestativo que estava aqui ontem?” Ou “Um menino grande e forte como você deveria dar seu lugar para uma pessoa mais velha no ônibus.” 28 O divórcio dos pais é estressante para os filhos. Um novo casamento de um dos pais ou um segundo divórcio após um segundo casamento poderá aumentar o estresse da criança, reforçando sentimentos de perda. Se a discórdia parental que antecede o divórcio é crônica, explícita ou destrutiva, as crianças podem sentir-se bem ou melhor após o divórcio. (Amato, 2003,2005; Amato e Booth, 1997). Os filhos ficarão melhor após o divórcio se o genitor da custódia for afetuoso, apoiador, democrático... se o conflito entre os pais diminuir e se o genitor não residente, manter contato próximo. 29 Ansiedade associada ao divórcio dos pais pode surgir quando a criança chega a idade adulta e tenta estabelecer suas próprias relações íntimas (Amato, 2003; Wallerstein, Lewis e Blakeslee, 2000). As crianças em famílias de pais ou mães solteiros se saem razoavelmente bem de um modo geral, mas tendem a ficar social e educativamente atrás de seus pares que vivem em famílias com ambos os pais (Amato, 2005). Entretanto, essas consequências não são inevitáveis. Não há nenhuma diferença consistente entre pais homossexuais e heterossexuais em termos de saúde emocional ou de aptidões e atitudes para a parentalidade; e onde existem diferenças, elas tendem a ser favoráveis aos pais homossexuais (Brewaeys et al., 1997; Meezan e Rachel, 2005; Pawelski et al., 2006; Perrin e APP Commitee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health, 2002; Wainright, Russell e Patterson, 2004). 30 Comentários finais O ambiente não deve acelerar, pressionar, forçar ou invadir o desenvolvimento. Deixar as crianças serem crianças. Tarefas da fase: organização crescente de self; aprimoramento da interação interpessoal; motivação para eficiência e competência; desenvolvimento de valores: afetivos, morais e sociais que levam à civilização. 31 32 Bibliografia Capítulo 10 Capítulos 9 e 10 33